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As transformações

técnico-científicas,
econômicas e políticas

Prof.ª Dr.ª Áurea Peniche Martins

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1. Revolução tecnológica:
impactos e perspectivas

• Os estudiosos do assunto mencionam essas


transformações com diferentes denominações,
tais como
• terceira Revolução Industrial, revolução
científica e técnica, revolução informacional,
revolução informática, era digital, sociedade
técnico-informacional, sociedade do
conhecimento ou, simplesmente, revolução
tecnológica.
1. Revolução tecnológica: impactos e
perspectivas

• Boa parte dos autores levam a crer que as mudanças econômicas,


sociais, políticas, culturais e educacionais decorrem, sobretudo, da
aceleração das transformações técnico-científicas.
• Em outras palavras, os acontecimentos no campo da economia e da
política — como a globalização dos mercados, a produção flexível, o
desemprego estrutural, também chamado de desemprego
tecnológico, a necessidade de elevação da qualificação dos
trabalhadores, a centralidade do conhecimento e da educação -
teriam como elemento desencadeador as transformações técnico-
científicas.

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1. Revolução tecnológica:
impactos e perspectivas

• A ciência e a técnica estariam, portanto, assumindo o papel


de força produtiva em lugar dos trabalhadores, já que seu uso,
cada vez mais intenso, faria crescer a produção e diminuiria
significativamente o trabalho humano.

• Verifica-se, nessa compreensão, um determinismo


tecnológico que não corresponde inteiramente à realidade.
• É preciso considerar que as transformações técnico- -
científicas resultam da ação humana concreta, ou seja, de
interesses econômicos conflitantes que se manifestam no
Estado e no mercado, polos complementares do jogo
capitalista.
• Essas transformações refletem a diversidade e os contrastes
da sociedade e, em decorrência, o empreendimento do capital
para controlar e explorar as capacidades materiais e humanas
de produção da riqueza, tendo em vista sua autovalorização.
1. Revolução tecnológica:
impactos e perspectivas

• Embora existam algumas diferenças na


compreensão do fenômeno da acelerada
transformação técnico-científica,
percebe-se que todos os termos utilizados
para definir a realidade atual apontam
para o fato de estar em curso radical
revolução da técnica e da ciência e de
essa revolução ser responsável por amplas
modificações da produção, dos serviços,
do consumo e das relações sociais.

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1.1. Uma tríade revolucionária:
a energia termonuclear, a
microbiologia e a microeletrônica

• Para compreender mais concretamente as


transformações técnico-científicas, é preciso
considerar os aspectos ou pilares fundamentais
da revolução tecnológica. Tal revolução está
assentada em uma tríade revolucionária: a
microeletrônica, a microbiologia e a energia
termonuclear (Shaff, 1990). Essa tríade aponta,
em grande parte, os caminhos do conhecimento
e as perspectivas do desenvolvimento da
humanidade.

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Revolução tecnológica ou terceira
Revolução Industrial

• revolução tecnológica ou terceira Revolução Industrial é


marcada, entre outras, pela energia termonuclear, assim como
a primeira Revolução Industrial é lembrada pela descoberta e
utilização da energia a vapor e a segunda Revolução
Industrial, pela energia elétrica, como mostra o quadro
“Revoluções científicas e tecnológicas da modernidade” , a
seguir. A energia termonuclear é responsável pelos avanços da
conquista espacial, além de constituir potencialmente
importante fonte alternativa de energia. Seu uso no século
XX, no entanto, esteve em grande parte a serviço da moderna
técnica de guerra, trazendo graves consequências e grandes
riscos para a vida humana e do planeta.

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A revolução da
microbiologia

• A revolução da microbiologia é responsável, também, por


grandes avanços e perigos para a vida humana e do planeta.
• De um lado, o conhecimento genético dos seres vivos
permite a produção de plantas e animais melhorados para o
combate à fome e à desnutrição, o desenvolvimento de
meios contraceptivos no auxílio ao planejamento familiar e
ao combate da explosão demográfica e a luta pela eliminação
de doenças congênitas (síndrome de Down, esclerose
múltipla, diabetes, doenças mentais etc.).
• De outro lado, há a produção artificial de seres humanos, a
clonagem, bem como a criação de vírus artificiais e a
possibilidade de guerras bacteriológicas.
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A revolução da microeletrônica,

• A revolução da microeletrônica, por sua vez, é a que mais facilmente pode ser
sentida e percebida. Estamos rodeados de suas manifestações no cotidiano,
mediante:
• a) objetos de uso pessoal, como agendas eletrônicas, calculadoras, relógios de
quartzo etc.;
• b) utensílios domésticos, como geladeiras, televisores, vídeos, aparelhos de som,
máquinas de lavar roupa e louça, forno micro-ondas, fax, telefone celular, entre
outros;
• c) serviços gerais, como terminais bancários de autoatendi- mento, jogos
eletrônicos, virtuais ou tridimensionais, balanças digitais, caixas eletrônicos e
outros. Já é possível perceber, também, que essas manifestações, bem como a
permanente introdução de artefatos tecnológicos no cotidiano de vida das
pessoas, vêm promovendo alterações nas necessidades, nos hábitos, nos
costumes, na formação de habilidades cognitivas e até na compreensão da
realidade (realidade virtual).

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o

computador
A vedete dessa revolução é, certamente, o computador. Para
muitos, ele constitui a maior invenção do século, já que seu
fascínio, aperfeiçoamento e utilização (diferentemente do
automóvel, da televisão, do telefone, do avião) não parecem
ter limites.
• São potencialmente infindáveis as aplicações do computador
em diferentes campos da atividade humana: lazer, educação,
saúde, agricultura, indústria, comércio, pesquisa, transporte,
telecomunicação, informação etc. Em todos esses campos,
começa a fluir uma cultura digital pela qual todos se sentem
fascinados ou pressionados a dela participar e adquirir seus
produtos, sob pena de tornarem-se obsoletos ou serem
excluídos das atividades que realizam.
• O computador tem, ainda, em seu favor o fato de ter-se
tornado sinônimo de modernização, eficiência e aumento da
produtividade em um mundo cada vez mais competitivo e
globalizado, fazendo existir a compreensão de que é
imperioso informatizar.
a • Todavia, os campos atingidos com
agricultura, maior intensidade pela revolução da
microeletrônica (especialmente pela
a indústria e informatização), com grandes
reflexos econômicos, sociais e
o comércio culturais, são três: a agricultura, a
indústria e o comércio, com destaque
para o setor de serviços.
• No mundo inteiro, vem decrescendo o trabalho humano na
agricultura, em razão do processo de “tec- nologização” e da
modernização da produção. A agricultura conta cada vez mais
com diferentes formas de energia, de maquinário (tratores,
colheitadeiras etc.), com aviões, telefonia rural, computadores,
informações meteorológicas, estudos do solo e de mercado,
sementes selecionadas, acompanhamento técnico-científico da
produção, entre outros. Por isso, os trabalhadores do campo
tornam-se, em grande parte, desnecessários ao processo de
na agricultura
produção capitalista, sendo substituídos pela ciência e pela
técnica. Assim, enquanto a revolução tecnológica cria as
condições para o aumento da produção de alimentos e para
grande diminuição do trabalho manual-assalariado, agrava-se o
problema do desemprego no campo, como demonstra o
Movimento dos Sem-Terra (MST) no Brasil.
na agricultura

• A liberação do trabalho humano na agricultura, portanto, não tem


servido, em geral, para a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos, ou
seja, para a eliminação da fome e para o aproveitamento do tempo livre
em atividades humanizadoras, e sim para a exclusão e a expulsão dos
trabalhadores do campo. Em muitos casos, ampliam-se os focos de tensão
em razão das ocupações de terra (demandas por reforma agrária) e da
intensificação do processo de marginalização, pelo aviltamento dos
salários e pelas precárias condições de trabalho e de vida urbana (que têm
produzido anomalias no campo, como furtos, suicídios, abandono da
família, prostituição, banalização da violência etc.).
No âmbito da
indústria
• No âmbito da indústria, as modificações do
processo de produção são ainda mais intensas. A
microeletrônica é responsável pela informatização
e automação das fábricas, especialmente da
indústria automobilística. Com as novas formas e
técnicas de gestão, de produção, de venda e de
organização do trabalho (como o toyotismo, os
métodos just in time e kan ban), a microeletrônica
permite:
No âmbito da indústria

a) o aumento da produção em tempo menor; b) a eliminação de postos de trabalho;

d) o barateamento e a melhoria da qualidade dos


produtos e serviços. Provavelmente, o maior efeito
dessa revolução seja a crescente eliminação do
trabalho humano na produção e nos serviços pelo
uso da robótica e da informatização, o qual leva ao
c) maior flexibilidade e, ao mesmo tempo, maior
aumento do desemprego estrutural, à dualização
controle do processo de produção e do trabalho;
crescente do mercado de trabalho
(incluídos/excluídos) e à intensificação da
desintegração social e da demanda por talento e
capacidades para o desenvolvimento de atividades
que exigem maior qualificação.
• Por sua vez, o impacto da revolução da
microeletrônica no setor de serviços (comércio,
corretoras de valores, hospitais, profissões
liberais e outros) é um tanto singular. Por meio
da informatização e da adoção de novas
tecnologias e formas de gerenciamento, o setor
está modernizando-se.
no setor de
• Na realidade, está em curso uma tendência
serviços mundial (nos países desenvolvidos ou em fase de
desenvolvimento) de crescimento do setor de
serviços ou de aumento da geração de riqueza,
em detrimento da agricultura e da indústria, que
passam por um processo de enxugamento e
retração.

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no setor de serviços
• O crescimento do setor de serviços associa-se:
• a) à transferência da riqueza gerada com ganhos de
produtividade na agricultura e na indústria;
• b) ao aumento do consumo, especialmente em períodos
de estabilização da inflação e ampliação do poder de
compra;
• c) à generalização da competição;
• d) à terceirização patrocinada pelas empresas, ou
melhor, à contratação de serviços de terceiros para áreas
como faxina, vigilância, advocacia, contabilidade etc.;
• e) à diminuição do emprego na agricultura e na
indústria, o que leva muitas pessoas a tentar um negócio
próprio na economia formal ou informal;
• f) ao aumento da demanda por serviços em áreas como
lazer e educação.
• A tendência mundial de crescimento do setor,
no entanto, não significa uma absorção total
dos desempregados da agricultura e da
indústria.
no setor de • Os postos de trabalho reorganizados ou criados
nesse setor não conseguem atender ao
serviços contingente de desempregados gerado pelos
outros setores.
• É preciso considerar, ainda, que no setor de
serviços também se vem alterando o perfil de
qualificação dos trabalhadores, em razão das
reformulações das atividades e da incorporação
das novas tecnologias, formas e técnicas de
organização do trabalho.
• Além da tríade revolucionária apontada, é
1.2. Um destaque: a preciso destacar as características e as
implicações da revolução informacional
revolução informacional emergente.
• Essa revolução tem por base um espantoso e
contínuo avanço das telecomunicações, dos
meios de comunicação (mídias) e das novas
tecnologias da informação.
• Tais avanços tornam o mundo pequeno e
interconectado por vários meios, sugerindo-nos
a ideia de que se vive em uma aldeia global.
• As informações circulam de maneira a encurtar
distâncias e reduzir o tempo, o que se deve à
multiplicação dos meios, dos modos e da
velocidade com que são propagadas ou
acessadas atualmente.
• A internet (a super-rede mundial de
computadores) é uma das estrelas principais
desta fase da revolução informacional, pois
interliga milhões de computadores, ou melhor,
de usuários a um imenso e crescente banco de
informações, permitindo-lhes navegar pelo
A internet mundo por meio do microcomputador.
• As informações disponíveis dizem respeito a
praticamente todos os temas de interesse, o que
fascina cada vez mais pessoas.
• O uso da internet no Brasil, apesar da
permanente expansão, ainda é bastante
restrito, o que tem gerado ampla exclusão
digital.
• Com maior ou menor acesso, no entanto,
as novas tecnologias da informação e os
diferentes meios de comunicação — por
exemplo, o rádio, o jornal, a revista, a
televisão, o computador, o telefone, o fax e
as novas outros — estão presentes nos espaços
sociais ou incorporados ao cotidiano de
tecnologias da vida das pessoas, de maneira a modificar
informação e os hábitos, costumes e necessidades.
• Os meios de comunicação, melhor
diferentes meios dizendo, as mídias exercem cada vez mais
de comunicação um papel de mediação e de tradução da
realidade social. A seu modo - um modo
editado e, por vezes, manejado —, elas
contam o que acontece no mundo,
fazendo que grande parte da realidade seja
percebida de modo virtual.
• As mídias também vêm sentindo o impacto da
As mídias revolução da microeletrônica e do processo de
informatização.
• As alternativas eletrônicas de comunicação e as versões
eletrônicas dos antigos meios promoveram, no final do
século XX, uma revolução no interior da revolução dos
meios de comunicação; dito de outro modo, houve
verdadeira revolução informacional nas mídias.
• A televisão é, nesse sentido, um dos veículos mais
ágeis. Além de tratar as notícias e as informações no
momento em que se dão, conseguiu alargar suas opções
na área de transmissão a cabo ou por assinatura. Ensaia,
ainda, experimentos de interatividade, em que é
possível obter um feedback dos telespectadores
mediante enquetes, respostas, debates, conversas,
registro, recebimento de informações via computador
doméstico, telefone etc.
As mídias
• De maneira geral, os veículos jornalísticos informatizam-se e
distribuem as informações por diferentes meios (telefone, fibras
ópticas, satélites etc.), criando redes de informação on-line
(comunicação instantânea) que conseguem juntar texto, som e
imagem.
• Dando sequência ao que foi começado pela televisão a cabo, a
informatização das mídias tende a diversificar e diferenciar os
leitores/usuários como um universo segmentado e complexo, em
razão das demandas específicas e da tendência à individualização,
indicativas de um período de afirmação das singularidades e de
florescimento das diferenças ou, ainda, de intensificação do processo
de individualização.
Caracterizam ainda a revolução informacional:

a) o surgimento de nova linguagem comunicacional, uma vez que circulam e se tornam comuns termos como realidade virtual,
ciberespaço, hipermídia, correio eletrônico, Orkut, Facebook, Twitter e outros, expressando as novas realidades e possibilidades
informacionais. Já é comum também a utilização de uma linguagem digital, sobretudo entre os jovens, para expressar sentimentos e
situações de vida;

b) os diferentes mecanismos de informação digital (comunicação instantânea), de acesso à informação, de


pesquisa e de ligação entre matérias sempre atualizadas e qualificadas;

c) as novas possibilidades de entretenimento e de educação (TV educativa, educação a distância, vídeos,


softwares etc.);

d) o acúmulo de informações e as infindáveis condições de armazenamento .


Papel central da informação na sociedade pós-mercantil ou pós-
industrial
• Uma característica importante da revolução informacional diz respeito ao papel central da
informação na sociedade pós-mercantil ou pós-industrial e a seu tratamento (Lojkine,
1995).
• Essa nova sociedade tem como aspectos marcantes a organização eficaz da produção e o
tratamento da informação. São características já claramente observadas, por exemplo, nos
países desenvolvidos, nos quais é crescente a interpenetração entre a informação e o
mundo da produção e do mercado.
• Novos laços estão sendo tecidos entre produção material e serviços, saberes e habilidades.
• A informação, do ponto de vista capitalista, constitui um bem econômico (uma
mercadoria). Sua produção, tratamento, circulação e mesmo aquisição tornaram-se
fundamentais para a ampliação do poder e da competitividade no mundo globalizado.
• Investir em informação ou adquirir informação qualificada passou a ser, então, condição
determinante para o aumento da eficácia e da eficiência no mundo dos negócios.
A revolução informacional

A revolução informacional está, portanto, na base de nova


forma de divisão social e exclusão: de um lado, os que têm
o monopólio do pensamento, ou melhor, da informação;
de outro, os excluídos desse exercício. Por isso, o acesso ao
mundo informacional consiste cada vez mais em uma troca
entre proprietários privados que acessam a informação
atual, verdadeira e criadora de modo flexível (Lojkine,
1995), a fim de se capacitarem para a tomada de decisões.
A informação de livre circulação
• A informação de livre circulação, isto é, a que
circula no espaço público, é, em geral, tratada
e midiatizada pelos mass media, que exercem,
em grande parte, um papel de entretenimento
e doutrinação das massas.
• Essa informação de massa é, portanto,
dominada pelo mercado capitalista, que a
torna insignificante e pobre de conteúdo, mas
determinante na criação das condições
objetivas atuais de formação de uma cultura de
massa mundial e de globalização do capital,
como veremos adiante.
• A globalização só se tornou possível graças
exatamente a um sistema global, muito
integrado pelas telecomunicações
2. Globalização e exclusão social

• A palavra globalização está na moda. No entanto, diferentemente da


moda passageira, ela parece ter vindo para ficaf.
• Tem sido usada para designar uma gama de fatores econômicos, sociais,
políticos e culturais que expressam o espírito e a etapa de
desenvolvimento do capitalismo em que o mundo se encontra
atualmente.
• Trata-se, portanto, de palavra de difícil conceituação, em razão da
amplitude e complexidade da realidade que tenta definir.

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