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ESTADO, DESCENTRALIZAÇÃO

E MUNICIPALIZAÇÃO
José Eustáquio Romão
JOSÉ EUSTÁQUIO ROMÃO

Graduado em História, pela Universidade Federal de Juiz


de Fora (UFJF), em 1970 e Doutor em Educação, pela
Universidade de São Paulo (USP), em 1996. Diretor
Fundador do Instituto Paulo Freire do Brasil. Secretário
Geral do Conselho Mundial dos Institutos Paulo Freire.
Diretor e Professor do Programa de Pós-Graduação em
Educação (Doutorado e Mestrado), na Universidade Nove
de Julho (Uninove), São Paulo
JOSÉ EUSTÁQUIO ROMÃO

.Coordenador do Grupo de Pesquisas Freirianas em


Educação (GRUPEFREI). Professor Visitante nas
Universidades: Lusófona de Humanidades e Tecnologias
(Ulht), de Portugal; Universidad de la República de Uruguai;
Universidad del Cauca, Colômbia, e Universidade California
de Los Angeles (UCLA), Estados Unidos.
JOSÉ EUSTÁQUIO ROMÃO

Coordenador e professor dos programas de mestrado em Educação,


Letras e Psicologia, do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora
(1999-2006).
. Coordenador e pesquisador de projetos de redes internacionais de:
1. Educating the Global Citizen: Globalization, Educational Reform
and the Politics of Equity and Inclusion; 2. Supporting International
Networking and Cooperation in Educational Research (SINCERe); 3.
Rede Ibero-americana de Investigação de Políticas Educativas I
(Riaipe I) e 4. Rede Ibero-americana de Investigação em Políticas
Educativas (Riaipe III), financiado pela Comissão Europeia.
JOSÉ EUSTÁQUIO ROMÃO

Coordenador do Projeto Editorial Educadores, da UNESCO


e MEC (Brasil). Tem vasta experiência na gestão escolar:
Secretário Municipal de Educação (1983-1988) e Secretário
Municipal de Governo (1997-2000) de Juiz de Fora; Pró-
Reitor de Ensino e Pesquisa da Universidade Federal de
Juiz de Fora (1994-1997); Coordenador Local das
Licenciaturas em Tefé, Amazonas (1970 e 1980).
JOSÉ EUSTÁQUIO ROMÃO

Pesquisa o pensamento de Paulo Freire, Avaliação e


Educação Municipal. É autor de vários livros, dentre os
quais se destacam: Poder local e educação (1992),
Avaliação dialógica (1998); Dialética da diferença (2000);
Pedagogia dialógica (2002) e Sistemas Municipais de
Educação: A Lei de Diretrizes e Bases e a Educação no
Município (2010). É autor de cerca de mais de duas
dezenas de capítulos de livros e mais de 50 artigos
publicados em periódicos científicos nacionais e
estrangeiros.
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MUNICIPALIZAÇÃO
No final do século 20, como resposta a uma
necessidade,ou como astúcia de interesses ocultos,
a descentralização das políticas sociais e, no caso
específico, a da Educação Básica provocou muita
polêmica.
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E MUNICIPALIZAÇÃO
De um lado, levantaram-se os advogados ex-officio da
causa pública - diga-se de passagem, na maioria das
vezes, confundida com a causa estatal-, negando,
veementemente, a iniciativa privada; de outro, postaram-
se os arautos da iniciativa e da apropriação privadas sem
limites, confundindo, astutamente, descentralização com
privatização.
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Nenhuma das duas posições ajudou o aprofundamento da
necessária discussão sobre a descentralização da Educação Básica,
na medida em que o tom apaixonado de seus contendores impediu
a abertura de espaço para as reflexões racionais que, mesmo em
sendo radicais, não se caracterizassem pelos sectarismos de parte a
parte.
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MUNICIPALIZAÇÃO
No caso da educação brasileira, a descentralização
foi identificada como "municipalização" e, em certo
sentido, este vocábulo se tornou maldito entre nós,
porque a intelligentsia tupiniquim entendeu que o
processo era mais uma bandeira do Neoliberalísmo
e, por isto, deveria ser combatida a todo custo.
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Seus componentes esqueciam-se de que o espaço
municipal no Brasil, mormente, durante os 21 anos
da ditadura militar (1964-1985), acabara por se
tornar uma espécie de respiradouro ideológico dos
que tinham compromisso com a luta pelo Estado de
Direito e pela construção de uma sociedade mais
democrática.
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Durante os governos militares, os
municípios passaram a ter maior
densidade política do que as demais
unidades da Federação. E por que isso
aconteceu?
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Porque o regime militar distanciou o Estado da
sociedade e o fez de modo mais radical no âmbito
da União e dos Estados, já que a população não
mais elegia seus mandatários nesses níveis de poder
público.
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E MUNICIPALIZAÇÃO
Nas capitais, nos municípios sede de estâncias
hidrominerais e nos de "área de segurança
nacional", os cidadãos tampouco votavam
diretamente para seus governantes. Contudo, na
maioria das municipalidades brasileiras continuou
havendo eleições diretas para as prefeituras e para
as câmaras municipais.
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Ou seja, mesmo que nos estreitos limites da
"oposição consentida", no âmbito local, a vida
política continuou sendo alimentada pelo oxigênio
da democracia, pois os embates eleitorais sempre
abriam espaço para uma relativa manifestação das
diferentes convicções políticas.
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Além disso, nos duros anos da ditadura, os
prefeitos e os vereadores eleitos,
especialmente os de oposição, tinham de "dar
tratos à bola" para manterem o equilíbrio entre
suas aspirações governamentais


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Sistemas Municipais de Educação progressistas e
democráticas e os obstáculos interpostos por uma
"legislação" de exceção, arbitrária e autoritária. A título
de exemplo, vale rememorar a burla da então famosa
"Lei Falcão”
A Lei Falcão é uma lei brasileira criada em 1976 durante
o Regime Militar de 1964, no governo de Ernesto Geisel e tem
este nome por causa do seu criador Armando Falcão, que tinha
como objetivo principal evitar o fortalecimento de uma oposição.
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O crescimento das oposições levara o governo
a editar uma norma eleitoral ridícula, que
proibia a veiculação de imagens animadas dos
candidatos na televisão. Contudo, a indigitada
lei não mencionava o cinema.
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Então, nas eleições municipais de Juiz de
Fora(MG), a coordenação eleitoral do
candidato de oposição elaborou pequenos
filmes (em super 8) e os projetava nos bairros,
apesar da restrição à veiculação de imagens
em movimento.
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MUNICIPALIZAÇÃO
Faturava, ainda, a vantagem de multiplicar a
presença do candidato que, simultaneamente às
projeções, realizava comícios em outros bairros da
cidade. Em suma, o que se quer fixar, aqui, é a ideia
de que, embora o País estivesse afundado nas
sombras da ditadura, continuava adensando-se a
vida política nos municípios.
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MUNICIPALIZAÇÃO
Mesmo em tempos de democracia, é no espaço
municipal que se aprende a fazer política e
administração, dado que a população cobra, direta e
objetivamente, de suas lideranças e de seus
governantes locais, posições e soluções imediatas e
concretas para os problemas da vida pessoal e
coletiva.
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A partir da década de 1950, a intenção de
articular as políticas de educação e as de
desenvolvimento levou quase todos os países
a destacarem a importância do planejamento
educacional.
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Ao mesmo tempo, a educação passou a ser
considerada como um direito, um canal de ascensão
social, um mecanismo de integração moral da
sociedade, um bem de produção -na medida em que
era visto como um instrumento para aumento da
produtividade - e um bem de consumo para a
elevação do nível de vida
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E MUNICIPALIZAÇÃO
O insucesso constatado nos pífios resultados
das políticas educacionais conduziu a, dentre
outras conclusões, debitar tal fracasso ao
centralismo, com suas implicações de
burocratismo e rigidez. administrativa.
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Particularmente na América Latina, nas décadas
subsequentes, os regimes autoritários assumiram
essa articulação, condicionando a política
desenvolvimentista à educacional, chegando, no
limite, ao “messianismo pedagogico" - a educação
pode tudo e, por isso, é a mola mestra do
desenvolvimento-, mas fazendo-o do modo o mais
centralizado possível.
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Seu fracasso gerou um raciocínio de oposição,
construído por meio de um sorites até certo
ponto simplório: as ditaduras centralizaram as
políticas educacionais e fracassaram; logo, é
necessário democratizar, porque somente as
democracia"; descentralizar por isso, podem
ser bem sucedidas nas políticas educacionais.
Em suma, chegou-se a confundir
descentralização com
democratização.
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Para não se cair neste exagero – porque tanto
governos ditatoriais quanto as democracias podem
centralizar ou descentralizar a administração -,
convém desenvolver a reflexão em duas direções:
primeiramente, distinguir, com rigor, o que se
entende por democratização e, em segundo lugar,
minar as relações da democracia com os processos
de descentralização e desconcentração. ·

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