Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
reportagem editorial
correspondentes flagrante
pedido em forma de manifesto:
me ensina a força do furacão página4 sem
luvas nas
a lenta
exaltação
mãos e no
do bailado paladar
silencioso para
alcançar o
o mundo diamante
como um na terra
extenso página3
q u a d r i n h a
flagrante
hoje, o amendoim. classificados
um ramo de amendoim recém-colhido. rev e l o :
abri uma casca e dentro eram brancas as duas
os horários dos
bolinhas. brancas com manchas rosadas.
raramente notados
na boca, as bolinhas se partiam num sabor
eclipses
vago, como uma água sólida e antiga. abrir uma
que acontecem
casca de amendoim é invadi-la de sol – aquele
todos os dias
amendoim nunca tinha visto a luz. mastigar um
todos dispersos
amendoim é agir uma alquimia para que sua
no pensamento
espessura faça parte da nossa carne. o sabor
do amendoim recém-colhido: bruto, como um
diamante é bruto, como um prato de arroz int e rrompo:
e feijão é bruto na boca de quem tem fome. seu cotidiano
aquele amendoim é bruto como o tronco de com palavras e
árvore em que talharam um coração. era de um imagens
gosto antigo e recente, como pode? tinha um repentinas
sabor sem sal, sem açúcar, uma crueza sincera. como um leão
o amendoim queria de mim mais nitidez dos que boceja
sentidos para que eu pudesse alcançá-lo. depois
aquele amendoim me pedia: seja bruto como de um cochilo
um torrão úmido de terra.
jornal das miudezas edição 4 tramas 4
correspondentes
criatura voadora pousa para banquete três fases de um ciclo reunidas mulher se encanta e presenteia
pompons agitam-se (ana paula navarro) lagartixa com a liberdade
(ray monteiro e elcy lopes da silva)
– assim, há milênios, existe
(liliane oraggio)
manifesto ao vento
querido vento
eu posso dar o primeiro salto
se você prometer
me encontrar lá embaixo
vento
permita-me ser levada por ti
e assim tudo vai passar,
pois eu passarei por tudo (paula ferreira) tudo é casa para poesia (andreza sousa) vozes e línguas,
algumas incompreensíveis aos ouvidos nus.
abro o forno e em ondas quentes o alecrim, o vulto branco, esfumaçado, todo desfocado –
manjericão e o alho, aquecidos pelo azeite, invadem neblina, vapor d’água, tudo embaralhado.
meu corpo e me trazem uma memória ancestral. os
um dia, assim, parado.
bosques verde-escuros, as casas de pedra, o fogo. me
lembram do frio e do aquecimento, do acolhimento as coisas também tiram um tempo de
que o odor da comida dá à minha fome ancestral. e é descanso, e repousam no flutuar do ar
verdade. eu como hoje as mesmas plantas que meus gelado. (tatiana vilarinho franco)
ancestrais comiam. o alecrim, o alho… é o mesmo
alho! ou quase? é o mesmo fogo, a mesma batata,
o mesmo ser humano que come, no entanto, está
tudo diferente. na estrutura das células mora nossa
memória ancestral. no cheiro do alecrim eu percebo
que minhas células são antigas, tão antigas quanto a
humanidade. (mariana mattar)