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jornal das miudezas

o presente é um recém-nascido com séculos de vida

desde 2018 edição 2

coragem reportagem
urgente
o interesse
este jornal só
é fermento
existe porque
vivemos num ontem
planeta com encontrei
condições uma pessoa
climáticas que, com olhos
por enquanto, distantes.
permitem a a quantas
vida...
página2 quadras
pulsava seu
extra! extra! sangue?
p o e s i a é a t a l h o p r a t e a t r eve r a o a t r i t o página3

opinião
mel e pólvora
favo de mel,
nítido e doce
no meio de
uma guerra,
se alguém
tivesse o poder
de ordenar
uma pausa,
e entregar
para cada
mão suja
de pólvora
um favo de mel,
classificados as mãos viagem em volta
fariam em
perdão aos seguida da coisa que não para
desconhecidos página3 o quê? página3

breve entrevista previsão medíocre reinvenção ordinária

o rebuliço que vale a pena, a gente guarda-chuva complô para como lidar com
a reconciliação com tudo gasta tempo é confundido um trote poético o clima do país
página2 ou o contrário com fuzil página3 página4
página2 página3
2 miudezí edição 2 jornal das miudezas

q u a d r i n h a

o presente é um recém-nascido com séculos de vida

publicado desde 2018 - criação de sorver versos


desenterrar
www.sorverversos.com
prosa@sorverversos.com das cinzas
diretor de redação: andré gravatá a fogueira
diretora de arte: serena labate
conselho editorial e revisão: aline oliveira, elidia novaes e luis ludmer
correspondentes desta edição: ágatha alves, ana baird, fabiane vitiello,
que nos une
graziela kunsch, gustavo gitti, isabella ianelli, joão melo, jout jout, olivia
de lucas e telma holanda desenterrar
uma homenagem: dedicamos este jornal para maria vilani, cleon
monteiro e criolo, agradecemos a vocês por suas vozes de tanta do asfalto
amorosidade, firmeza e sabedoria calorosa

agradecemos pelo apoio da “diálogos – viagens pedagógicas”, por


a quentura
confiar na força das miudezas (www.dialogosviagenspedagogicas.com.br)
que nos
levanta
desenterrar
emaranhado no emaranhado da raiva
o papel do jornal das miudezas um dia já foi árvore. entre ser árvore e
ser papel, se tornou número na planilha de alguma empresa. antes de ser
o sangue
árvore, era água e semente e nutrientes. e a água, antes de mergulhar na
terra, era nuvem, tempestade. este jornal só existe agora porque existem que nos afia
as árvores, as águas e as terras, e tem uma gráfica no interior de são
paulo onde os exemplares são impressos. os jornais chegam até nós,
na cidade de são paulo, com a ajuda de duas pessoas queridas. este desenterrar
jornal só existe porque vivemos num planeta com condições climáticas
que, por enquanto, permitem a vida, e porque aprendemos a nos das paredes
comunicar num idioma. é preciso que exista a comida que alimenta as
bactérias, árvores e pessoas que fazem este jornal. tudo que é pequeno
é emaranhado em inumerável quantidade. emaranhado é uma palavra
os ouvidos
para nos acompanhar. urgente é a coragem de se perceber emaranhado
no emaranhado.
que nos
povoam
previsão do tempo

breve entrevista sobre o que vale a pena


descobrimos que nossa amada clarice lispector, hoje tão presente nas
redes sociais ao lado de frases que nunca disse, está encantada com a
leitura do livro “grande sertão: veredas”, de guimarães rosa.

jornal das miudezas: conta pra gente o rebuliço que o grande sertão
causou em você?
clarice lispector: o livro está me dando uma reconciliação com tudo,
me explicando coisas adivinhadas, enriquecendo tudo. como tudo vale
a pena! a menor tentativa vale a pena. a gente gasta tempo
[essas palavras de clarice fazem parte de uma carta que ela escreveu ao fernando no celular
sabino, presente no livro “cartas perto do coração: dois jovens escritores unidos ou o celular gasta a gente
ante o mistério da criação”] no tempo?
jornal das miudezas edição 2 firmamento 3

reportagem em quatro atos


indignação, perplexidade, rebeldia e fermento situação
trote poético
1. 3.
guarda-chuva ontem encontrei uma pessoa com olhos
é confundido com fuzil distantes. a quantas quadras pulsava seu
sangue?
pessoa tem distâncias que não devem ser avançadas,
é confundida com resto mas incontáveis são os casos em que cortar
quilômetros é bem-vindo – e com que tesoura a
medíocre gente encurta asfalto?
é confundido com vasto viva a rebeldia dos atalhos até as pessoas.
(poesia é atalho pra te atrever ao atrito)
lâmpada de poste
é confundida com astro 4.
marcamos um encontro depois de mais de
país cinco anos de relação, com um combinado:
é confundido com pasto devíamos nos comportar como se estivéssemos
nos vendo pela primeira vez.
2. (o interesse pela vida é fermento)
a primeira pessoa
de frente para o sol flagrante
às seis da tarde
vendo o amarelo escapar [foto de jout jout]
sentiu medo combine com um amigo ou amiga que você pode
da luz não voltar nunca
ligar para alguém importante na vida desta
pessoa para fazer um trote poético – ou seja,
fez uma prece
para o sol a reinvenção da saudosa telemensagem, agora
que na época sem custos adicionais. escolha um poema com
nem tinha nome palavras vivas e ligue para a pessoa.
abra a conversa com ânimo – ternura e
ela queria saber se
o sol sabe de nós, se intensidade destrancam as portas por onde
uma parte dele tem a entra a poesia. e o que importa é ler atentamente
perplexidade de que o poema com sua voz desconhecida para quem
seu brilho permite estiver no outro lado da linha. dizer ou não
que eu escreva este quem ofereceu o trote poético é uma decisão
poema e também sob para definir antes de ligar. que esse gesto seja
a luz do mesmo sol um feito especialmente por causa da poesia. e a
policial de dentro de poesia existe por causa da vida.
quanto mais peperto mais pepita
um blindado atira num
jovem de 14 anos com
nome marcos vinícius viagem em volta
da coisa que não para
classificados subi em montanhas da panela e da sua
p e ç o com mais de 33 boca. tem uma coisa
p e r d ã o : milhões de anos, no mundo que não
erguidas pelas para nem quando se
a todas as pessoas mãos do estrondo, dorme, nem quando
que eu esqueci testemunhas de que se entra em coma,
imediatamente as placas da base do nem quando se morre.
depois de mundo não param.
esbarrar uma tem uma coisa no vivem milhares de
única vez
mundo que não para e espécies de animais
não são os mercados nas profundezas da
e n t r e g o 24 horas, nem os terra, até aqueles que
e s c o m b r o s : caixas de banco de suportam um escuro
para quem autoatendimento. tem sem fundo, sem início.
escava uma uma coisa no mundo
escrita que se que não para, que tem uma coisa que
esgueira e se move fibras em todas não para, e não é
embrenha em as carnes, pó em todas o atendimento do
espaços as pedras. empurra o pronto-socorro nem
esquecidos sol, o cabelo, seus pés. seu aplicativo de
faz evaporar a água pedir comida.
jornal das miudezas edição 2 tramas 4

correspondentes
manual de
instruções
para ler
jornal
abrir ou ligar
procurar ou esperar
encontrar ou se
atentar
ler ou assistir
se chocar ou sorrir
dar de ombros ou
sentir
após isso, reações,
reunião ordinária de guarda-chuvas da pró- quando os pés tocam a água do mar, é possível reflexões
reitoria e procuradoria geral. sentir que tudo faz parte de você. a água salgada e sensações
pauta: os tempos loucos: como lidar com o clima é que completa, a areia é que transborda a gosto
do país (olivia de lucas) (ágatha alves) (joão melo)

todos podem ser carteiros na o besouro coloriu


entrega do afeto (telma holanda a parede branca calada
e fabiane vitiello, parceiras da virou gargalhada
diálogos viagens pedagógicas) (ana baird)

a s s i n e o j o r n a l d a s m i u d e z a s
intimidade com o presente e comprometimento com nosso tempo
*
amar é não caber (graziela kunsch) w w w. s o r v e r v e r s o s . c o m

nota sobre
plantão miudezas
tragédia
raio de sol entra em esses dias no caixa
ônibus lotado e
pula a catraca da padaria:
— bom dia! tudo
bem?
— não, não tá tudo
que tal se tornar bem.
[anúncio publicitário]

correspondente na — crédito ou débito,


próxima edição? senhor?
envie fotos (gustavo gitti e
e versos para
prosa@sorverversos.com
isabella ianelli, de
ouvidos abertos num
café da manhã)

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