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Dezembro de 2011
MST
índice
Editorial
O PERIGO
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Olá Sem Terrinha!
o
pg.
i
veio recheada de novidades para nós!
B al a
A nossa revista, desde sua primeira edição, vem
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ficando cada vez mais bonita e colorida, nos detalhes que
os desenhos mostram, na nossa organização coletiva,
nas brincadeiras, nos jogos que todo mundo gosta! As pg .
historinhas têm contado sobre nossa vida, a realidade do
nosso país, a organização dos nossos assentamentos e
acampamentos...
CANTINHO DA
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Nesta edição vamos fazer um passeio com Flora e Vital, conhecendo a
LEITURA
Agroecologia e sua importância para a nossa agricultura. No nosso
J
assentamento quais são os tipos de produção que existem? E como pg.
plantamos e cuidamos das nossas produções? Vamos conhecer
13 do Mico
ogo
também a cartinha que o Nonno (é como chamam avô, nos estados do
sul) enviou para nós sobre o perigo dos venenos para nossa vida e para
o planeta. pg.
E sabe o que tem mais? Um jogo de cartas! Vamos aproveitar o momento
de leitura da Revista para marcar um encontro! Também tem ditos populares, “Caranguejo
r
quadrinhas, adivinhas, que também podemos criar brincando e enviar para o Jornal e a ou , po AGRO + não é peixe,
r
Revista Sem Terrinha - que são nosso espaço nacional de comunicação no MST. n oa vi
a ” ECOLOGIA caranguejo peixe é...”
“A c virar...
ela
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ar
Sabia que esse ano o nosso movimento organizou muitas atividades culturais deix
com as crianças Sem Terrinha? Você participou de alguma atividade de teatro,
de musica, de arte e brincadeiras? As meninas e meninos Sem Terrinha cantam e pg.
encantam nos assentamentos e acampamentos, temos nossas músicas, brincadeiras
e poesias que as outras crianças do Brasil precisam conhecer! Escrevam pra gente
contando o que anda acontecendo.
Cartinha do Nonno:
O PERIGO
Acontece que esse veneno é feito numa fábrica, e é um produto que não
desaparece na natureza. E, mesmo depois de matar algum inseto ou alguma
plantinha, ele fica lá. Os venenos ficam dentro dos
dos venenos
alimentos, escondidos: no óleo de soja, na polenta, no mingau
do milho... Até no leite das vacas! Se no pasto tinha
veneno, a vaca come o pasto, leva o veneno pra
dentro de si, e depois despeja junto com o leite.
Quando vamos tomar o leite, tem lá um
pouquinho de veneno. Nas frutas, então...
Amiguinhos e amiguinhas, Cada vez que colocam veneno para
espantar mosca, o veneno mata
a mosca, mas fica lá dentro da
Cada um de nós, nas nossas casas ou na escola, já viu alguma formiguinha e
maçã, da uva, do pêssego, do
teve vontade de matá-la, não é? Uma mosca ou um mosquito que nos azucrina,
tomate. Tudo isso vai pra
logo queremos dar um tapa. Uma barata, então, deus me livre! Claro, sempre
dentro do nosso estômago,
que, em um ambiente, tem muitos insetos, eles podem ser prejudiciais e até
lá dentro de nosso
afetar a higiene de nossos alimentos. Mas, a existência deles faz parte do
organismo mata nossas
grande mundo dos seres vivos que habitam, nossa casa comum: a Terra.
células e provoca doenças,
que podem até matar as
Cada ser vivo, uma plantinha, uma flor, uma abelha, uma mosca, uma
pessoas também! Algumas
formiguinha, tem sua função. Um ajuda ao outro. Mesmo quando um come
doenças aparecem logo; o
o outro, está contribuindo para o equilíbrio entre todas as espécies. Mas,
sujeito começa a ter dor
o danado do ser humano, em muitas regiões, resolveu viver sozinho. Não
de cabeça, se sentir tonto.
quer companhia de mais ninguém... E por isso inventou o veneno agrícola,
Mas, as piores doenças são
que também é chamado de agrotóxico, que mata a vida na agricultura.
aquelas que vão se acumulando
No início, usávamos o veneno apenas para acabar com alguns insetos
na pessoa e, depois, viram
mais chatos. Mas, de uns tempos para cá, estamos usando veneno
um câncer. Você conhece algum
para matar muita coisa; tudo o que não queremos perto: matamos
parente, vizinho que já teve câncer?
ervinhas, matamos bactérias e outros seres vivos que não
Pergunte a eles. No fundo, podem
enxergamos, mas que vivem na Terra. Matamos até as
crer que isso pode ter ligação com o uso de
abelhas! Tudo isso para que só fiquem vivos o homem
veneno na plantação, ou com o consumo de comida
e alguma planta com a qual queira ganhar dinheiro,
tratada com veneno.
como por exemplo,
a soja, o milho etc.
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MST
Ficar atento se, em casa, os pais estão usando veneno agrícola e avisálos do
perigo. Nós sobrevivemos mais de 10 mil de anos nesse planeta sem venenos.
Apenas de 50 anos para cá as empresas, para ganhar dinheiro, inventaram
o veneno. Mas a gente pode e deve produzir alimentos sem isso! Mesmo que
a fruta não fique tão grande, nem tão lisinha, será muito melhor para nossa
saúde.
Vamos JOGAR?
CANTINHO DA
Jogo do Mico
Uma pessoa começa embaralhando
e distribuindo as cartas, uma por
LEITURA uma, da direita para a esquerda
até acabar. Inicia o jogo quem
está do lado esquerdo de quem
SEMENTE distribuiu as cartas. Ela vê se
(MST – Fazendo história nº 6) tem algum par. Se tiver,
Este livrinho traz poesias lindas, para
gente pequena e gente grande. Falam das põe na sua frente,
sementes, das plantas, dos bichos, da vida e passa uma carta
ao nosso redor. Foi um presente do nosso para a esquerda. A próxima
amigo, o escritor Carlos Rodrigues Bran- pessoa faz a mesma coisa, e
dão, para as crianças Sem Terrinha.
assim por diante. Quando
“Você já pensou alguém tiver abaixado todas as
(e pensou por que) suas cartas, termina a partida.
Que uma semente Quem estiver com a carta do
Algum dia
Já foi...você?” agrotóxico na mão terá que
pagar uma prenda!
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MST
AGROECOLOGIA COMO
ALTERNATIVA
(ANCA/AIN)
Nesta cartilha vamos entender através
dos versos de Fabio de Carvalho e dos
desenhos de Wilsom Gomes como foi que
algumas tecnologias, que foram avançando
com a promessa de melhorar a produção
dos alimentos e a vida das pessoas, acaba-
ram contribuindo para a destruição da na-
tureza e o envenenamento dos alimentos.
Dona Irene observava Flora e Vital, que olhavam pela janela do ônibus, com a ansiedade Ao chegar na casa de seus tios, parecia tudo muito bonito e organizado: tinha muitas árvores,
estampada nos rostos. Era grande a expectativa das crianças, pois já fazia algum tempo que sombra, clima agradável; pássaros e insetos que vinham buscar a doçura das frutas e flores.
não visitavam seus tios. Assim como eles, tio Zeca e tia Clara moravam num assentamento, mas Se escutava ao longe o barulhinho das águas de um pequeno rio, que não se podia ver dali,
em outro estado; por isso não iam visitá-los mais vezes, como porque tinha suas margens protegidas por uma bonita floresta.
gostariam.
Tio Zeca e tia Clara os esperavam na frente da casa.
Como já não se lembravam da última viagem que haviam feito para lá, eram muitas as no-
vidades que percebiam na paisagem, no jeito das pessoas, nas cidades pequenas e grandes - Nossa! Como vocês cresceram! - comentou a tia.
pelas quais passavam. Quando chegaram ao assentamento em que viviam seus tios, repararam
no entorno da agrovila, com árvores frutíferas nas entradas. - Sejam bem vindos! - falou Zeca, abraçando sua irmã
e depois seus sobrinhos. Estávamos com saudades.
Apenas acomodaram sua bagagem e já foram recebi-
dos com um belo café da manhã, com muitas frutas.
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a agroecologia mes que gostamos, para termos diversidade o ano todo. - contou tia Clara.
- Mas parece que está tudo meio misturado! - se admirou Vital, vendo que nos canteiros haviam
também flores e outras ervas para temperos e chás.
Saíram então para conhecer o assentamento. Zeca levou-os até pertinho da floresta, e começou
a comentar: - Na natureza, meu querido, não tem cultivos separados como nós costumamos fazer; pelo con-
trário, quanto maior a diversidade de vida (que chamamos biodiversidade) mais tem interação
- De modo bem simples, a própria palavra nos ajuda a responder tua pergunta, Vital. Agroe- entre as espécies das plantas, animais e microorganismos. Aí estão os seres vivos que se alimen-
cologia vem de AGRO + ECO + LOGIA tam das plantas, mas também outros que se alimentam deles, então tem condições de haver um
maior equilíbrio.
As duas crianças franziram as sobrancelhas, com aquela expressão de “entendi... mas não com-
preendi”. - Este é um bom exemplo, interveio tio Zeca, daquilo que nós falávamos antes. A biodiversidade
que existe nos ambientes naturais é uma lição que podemos aprender da natureza, e deve ser
- Agro ou agri, continuou o tio, vem da palavra agricultura ou agropecuária, que quer dizer um princípio para utilizarmos na horta e em qualquer cultivo.
cultivo dos campos, isto é, trabalho humano para cultivar a terra e produzir aquilo que as pes-
soas necessitam. Eco + logia significa o estudo dos seres vivos e as relações deles com o am- - Bacana! E fica mesmo até mais bonito. Pelo menos eu acho! - comentou Flora.
biente. Então juntando isto, podemos dizer que seria o estudo das formas de como organizamos
as relações entre as pessoas e a natureza, para produzir aquilo que necessitamos. Ou de forma
mais simples, Agroecologia é um jeito de pensar e de produzir alimentos e o que mais precisa-
mos para viver, mas respeitando a natureza, sem destrui-la.
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Seguiram para ver a lavoura, que o tio mostrava com entusiasmo. - Ah...Mas o que são esses tais venenos químicos, tio? - quis saber Vital.
- Aqui temos plantado feijão, mandioca e abóbora... - continuava tio Zeca. - São os produtos químicos industrializados que se usa na agricultura, como os agrotóxicos
e adubos químicos. Esses produtos contaminam e matam a vida da terra, as águas, os
- Tio, eu não me lembrava destas coisas aqui... Vocês já faziam agroecologia antes? - Flora, animais e as pessoas. Além do mais, são caros para comprar, fazendo com que se preci-
curiosa, perguntou. se pegar financiamento no banco, e depois é difícil sair das dívidas.
- Nós podemos dizer que começamos já faz uns quatro anos. Mas de certo modo, muitas práti-
cas já fazíamos antes, desde o tempo dos seus avós e bisavós, quando se vivia sem achar que - Mas se são tão ruins, porque as empresas usam tanto veneno químico para produzir? -
havia necessidade de venenos químicos. Aliás, nem sabíamos o que era isso! Também ajudaram perguntou Flora.
muito o incentivo da nossa coordenação do MST, e dos companheiros e companheiras que já
faziam produção agroecológica no assentamento. - Quando se faz monocultura, ou seja, se cultiva em uma grande área uma única espécie,
se destrói todo equilíbrio que a biodiversidade oferecia. Geralmente,
quem faz isso não é um pequeno produtor, mas uma ou mais em-
presas que só vêem na terra a chance de ganhar muito dinheiro,
o que chamamos de agronegócio. O agronegócio precisa de gran-
des extensões de monocultura, e um campo vazio de gente, para
ter lucro.
- Mas eles não vão mesmo prejudicar? Tem algum outro jei-
to? - Vital quis saber.
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MST
Agroecologia vai ganhar força junto com Reforma Agrária! Bom, o principal vocês já têm, que é
a terra e a capacidade de trabalhar. Mas tem outra coisa fundamental. A agente faz agroeco-
Fome de logia quando tem conhecimento. Por isso é preciso aprender (ou reaprender) a observar a natu-
reza e tirar aprendizados, resgatar os conhecimentos tradicionais, das gerações passadas, porque
elas também aprenderam muito com a natureza e já fizeram muitos testes de coisas que deram
aprender certo e outras não.
ploração do trabalho dos outros! lá do assentamento onde eu moro”? - Flora começava a imaginar.
- Como assim, exploração do trabalho dos
outros? - Vital quis saber. - É, além de trabalhar junto, também necessita organi-
- Quer dizer que agroecologia de verdade zação... - começava a falar tio Zeca, quando viram
também não tem patrão? - Flora se espan- chegar alguém.
tava cada vez mais.
- Isso mesmo. Vocês estão ligeiros, hein? Era Joel, o coordenador do Núcleo de Base de
Nós seres humanos às vezes nos es- que tia Clara e tio Zeca faziam parte. Ele veio
quecemos que também somos parte da chamar as famílias para uma reunião
natureza. Você por acaso já viram no dia seguinte: o fazendeiro vizi-
por acaso um animal mandando o nho estava pulverizando agro-
outro trabalhar para ele? Claro que tóxicos de avião sobre
não. O equilíbrio também vem da suas lavouras, atingin-
gente viver e trabalhar em co- do as plantações no
letivo. Cada pessoa fazendo uma assentamento.
parte, ensinando aquilo que sabe,
aprendendo com o outro, todo - É, como vocês po-
mundo ajudando na construção: dem ver, a luta não
de uma horta, de uma casa, uma para nunca! Essa
escola, uma festa... e assim por construção precisa,
diante. Ninguém é mais do que além de tudo, de
ninguém; todo mundo tem sua persistência. -
função. - tia Clara explicou. comentou Irene.
- Isso é mesmo... são Sem Terrinha muito organizados, esses daí - brincou, orgulhosa, dona Ire- Naquela noite, Vital e Flora foram se deitar, mas demoraram um pouco para dormir. Pensavam
ne. Mas digam, vocês estão já conseguindo viver dessa produção? no dia seguinte, em como seria gostoso tomar banho de rio e brincar com as outras crianças
que iriam com suas famílias para a reunião. Pensavam também em como fazer Agroecologia
- Veja, a gente teve muita dificuldade no começo. Porque vocês sabem, tem muito mais recurso quando voltassem para casa...
que vai para os grandes produtores do que para os pequenos, e além disso não tem apoio para
quem produz sem veneno... os próprios técnicos às vezes duvidam que é possível! Esse ano o que
nós conseguimos, que foi muito bom, foi firmar a venda da produção para as escolas aqui da A Revista Sem Terrinha foi elaborada coletivamente Endereço: Alameda Barão de Limeira, 1232 - Campos
região. - contou tio Zeca. pelos Setores de Educação, Comunicação e Cultura. Elíseos - São Paulo /SP
Os desenhos foram feitos por crianças CEP: 012020-002 - Tel/Fax: 11 3362.3866
- Nossa! Que legal! - comemorou Vital. Sem Terrinha de todo o Brasil. Correio eletrônico: revistasemterra@mst.org.br
Agradecemos a todas as pessoas que de alguma forma con-
tribuíram para este trabalho! 2011
- Já pensou, a gente almoçar na escola e poder dizer assim “esse alimento é sem veneno, vem
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