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reportagem
editorial
o dom do
arrepio e escândalo na
uma s o r ve t e r i a d o u r a d a
revelação tudo que é uma f i r me
a f ronta à per f ei ç ã o merec e
um inseto
o envol vi mento dos
nunca sabe
nossos senti dos página2
em qual
esquina
errata
ou escuro se
esconde uma as palavras não precisam
teia de aranha de medula, mas sim de
página3 medusa página3
correspondentes
as pedras, as pausas, as perdas, os farelos,
as folhas e os filhotes página4
gabriela escreve poesia para não o tempo ainda esquecer o gelo uma bebida
desobedecer o impulso é possível de propósito derrete de alvoroço
página2 página2 página2 página3 página4
2 miudezí edição 5 jornal das miudezas
q u a d r i n h a
jornal das miudezas: por que você escreve poesia? porque o tempo
gabriela mistral: escrevo poesia porque não posso desobedecer o ainda é possível
impulso, seria como cegar uma nascente que brota na garganta. para quem ficou
sem ar
[as palavras da gabriela mistral estão no livro bendita mi lengua sea – diario íntimo] diante do trovão
jornal das miudezas edição 5 firmamento 3
ato poético
um ponto belo de memórias
errata
fui escrever “as palavras
precisam de medula”
diga a alguém: “tem um lugar muito importante na sua vida onde você sem querer veio a frase
poderia me levar, um ponto belo de memórias na geografia dos seus “as palavras precisam de medusa”
passos?”. caminhem até o lugar sem que você saiba o itinerário – a
confiança é a poesia que prolifera da intimidade. chegando lá, pergunte o erro talvez revele mais que o acerto:
o porquê da relação com o tal específico canto de mundo. as palavras mais vivas são fatais
jornal das miudezas edição 5 tramas 4
correspondentes
sentada na mureta, eu a via pela metade
o corpinho magricelo, o cabelo de nuvem, plantão miudezas
os olhinhos inquietos a boca do corpo
eu acho que herdei derrama
a vontade
a minha vó tem 83 anos de ser é encher
67 de casada, 64 de mãe garrafas
mas pra mim tem só 20 ou talvez menos e mais garrafas
que é o tempo que a minha memória alcança de indignação
a minha vó aprendeu a ler sozinha e entregar aos
pedestres
a minha vó cuidava das irmãs menores e depois
de um marido e depois de oito filhos e depois confio no alvoroço
de umas tantas pontes daquelas que se fazem da indignação
no coração quando a alma quer viver alguém reclamava das folhas caídas na calçada. na garganta
e o corpo já tá meio cansado dizia não aguentar mais a varrição sem fim. se
eu imagino qual a cor preferida da minha vó auto-consolava: “é a natureza”.
ela cozinha no mesmo fogão de lenha em que e eu... estou cansada de ver corpos negros que tal se tornar
eu me sentava pra ganhar abóbora na boca, sendo abatidos e varridos nas ruas do nosso correspondente na
os pés sem alcançar o chão, país. não há natureza que aguente. próxima edição?
naquela foto de que eu gosto tanto porque é feita a necropolítica e o genocídio da população envie fotos
e versos para
de alguma coisa subjetiva muito maior que os negra deveriam importar mais pessoas. prosa@sorverversos.com
resíduos de prata (nanda carneiro) (bel santos mayer)
numa manhã de sexta-feira, uma miudeza teve seu fim pela boca de uma
só não posso me confundir com pombos e
vira-lata filhote num ímpeto de energia canina. tentaram reunir as partes,
começar a alimentar meu espírito antigo com
mas a vida é breve e a poesia se esvaiu de cada pedaço do jornal. agora,
migalhas dos outros e do mundo.
tal miudeza descansa em paz em seu trajeto para a reciclagem – e em
farelos fazem mal à saúde. (letícia leão)
breve será folha em branco para a poesia de outro alguém.
(verônica batista)
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o jornal das miudezas
intimidade com o presente
qual foi seu último pensamento? com as pedras do caminho eu faço arte
www.sorverversos.com
(eric pereira andrade) (renata stort)