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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Pranchetti, Paulo
Estudos deliteratura brasileira e portuguesa/
Paulo Franchetti, - Cotia, SP: Ateliê Editorial,
2007.

3ibliografia.
ISBN: 978-85-7480-353-1
1. Literatura brasileira — Estudoe ensino
a. Literatura portuguesa — Estudoe ensino L. Título

CDD-869.907
07-3655
-369.8707

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5
A NOVELA CAMILIANA

Cemito CA VELO SELIC

Camilofoioprimeiroescritorportuguês a viver do seu ofícioNuma so-


ciedade que não dispunha de um número expressivo deleitores,|num tempo
reconhecidos(aleidos
em queosdireitos autorais estavam começando a ser
1)[Camilo teve de escrever
direitos de autor, proposta por Garrett, é de 185
as: poeta, teatrólogo, novelista,
muito. Suas obras contam-se em centen
or de grande atividade!
crítico literário, editorliterário e tradut
pus moderno da novelística
Ao procedermos a um levantamento do cor
estudos mais conceituados de
camiliana- isto é: os livros que são citados nos
do século XX - veremos
história e de crítica aparecidos na segunda metade e-
número enorme: só de nov
que o cruzamento das informações produz um
renta títulos.
las e contos, ainda se referem usualmente cerca de qua
distribuído basicamen-
São textos muito variados, mas a crítica os tem
vela satírica de
te em duas categorias principais: a novela passional e a no
costumes. o o
(1862).
Da primeira, a obra-prima é, sem dúvida, o Amor de Perdição
acinto do
Da segunda, doislivros têm sido muito valorizados desde que)
194 6, ch am oupa ra ele s a ate nçã o, distinguindo-os, por
Prado Coelho,“em lexivo, que a srin até Ea
não Soaai humorismo fino, sereno, ref
novelas satíricas de as o
Esses livros sá ' mente valorizardas outras
cortante

o: Cor açã o, Ca be ça e Est ôma go (1862) e À Queda dum4 njo


(1866).

1. Jacinto Coimbra, Atlântida, 1946,


Baia, do oPd rado Coelho, Introdução ao Estudo da Novela Camiliana,

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88 ESTUDO S DE LITERATURA BRASILEIRA EPPORTUGUESA

se afirmarmos que “novela camiliana” é


» E «

Não errar emosuamuito


l o
at um term que recobre, na interpretaç 9 vo.
“ cabulário critico E uvas - ão Canôni
csscar Lopes € AntónioJosé Saraiva, a produçãodoautor dividida ca de
gt a 2 mas
funcionam como Pólosé WE
1
: cc2 Tinhas, cristalizadas nessas obras-primas, que d E id
CRS mensais , . eten.
da sua obra romanesca,
E mm

são entre os quais oscila o restante


Esses pólos, para usar as palavras severas de Óscar Lopes CA
e [...] o grotesco materiatiç” ?
José Saraiva, são )“o idealismo sentimental
como dizem em outra fórmula menos dura: a obra de Camilo se dese, Ou,
por meio da tensão entre “duas ten, envol.
«oscilação pendular”,
veria numa dências
resolver numasíntese ficand é
que o novelista raro conseguiu o
alternativas, ,

terialismo (nosentido moral m 0“


assim ao nível da oposição idealismo-ma
pe ”
ais +

vulgar)> e quelculminam, respectivamente em Amor de Perdição e À Qued


eda »
-
dum Anjo”.]
as acrescentar um outro mou
Para sermos mais exatos, é preciso apen
mação progressiva de Camilo K
mento, detectadopela crítica, que éa aproxi
estética realista, seja por meio do pastiche ostensivo queele realiza do naty.
ralismo nosromances A Corja e Eusébio Macário, seja por meiodaconstru. :
ção das suas Novelas do Minho.que são posteriores aoslivros de Júlio Dinis :
e contemporâneas da primeira versão de O Crime do PadreAmaro, deEça
deQueirós.
” Nessa descrição, que é a de Prado Coelho e também a de Lopes Sarai.
va, o pontoalto da produção literária camiliana é Amorde Perdição.
Nesse quadro, as Novelas do Minho acabam sendo obras de menorim.
portância, pois não se operaria nelas a síntese das duas tendências básicas da
ficção camilianaÍSeu valor residiria em que elas demonstrariam o influxo da
nova escola realista sobre o velho romancista romântico.|
Isso é claramente indicado em Prado Coelho,e é já explícito em Lopes
& Saraiva, que assim as avaliam: “nenhuma[...] é perfeitamente homogênea,
s
solidamente carpinteirada. O que interessa é que nelas se engastam longa
cenas de antologia realista”.
Se essa é a descrição geral da obra,falta ver agora de que modo ela é
posta em função do seu tempo e,assim, justificada.
liano
Para isso, vamos recorrer a um outro renomado especialis ta cami
que é Alexandre Cabral.

es (1973)
23 A.]. Saraiva, & Ó, Lopes, História da LiteraturaPortuguesa, 7. ed.Santos, M artins Font 830
maia qi vIsPOm) 880). Essas formulações permanecem as opes
E 876 (o “grotesco materialão” está na p.
se pode constatar na última, a 17% de 1990
ongo das várias edições da 1 listória, conforme esc
3. Saraiva & Lopes, op. cit., p. 876.

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& NOVELA CAMILIANA

Ter até. is à ni q
Numtexto de 1961, que serviu de introducão à
FEIOdUÇãO à republ;
gália, das novelas de Camilo, lemos logo de
into
HCO & aí
nos textos sobre O autor: a de que a compreensã
blemática da novela camiliana tem de ser precedid
da biografia.
É claro que a vida de Camilo, conjugada à eleição da nove
como o ponto alto da sua obra,facilita essa leitura E eis, ta -
Cabral, a justificativa usual:

Detal maneira o comportamento dos heróis se assemelha.


ta à desconcertante personalidade do seu criador, m
coincidentes são as dramáticas situações da vida real, qu

(Aqui temosa leitura biográfica e romântica no seu esplendor: até o diabo


mostra o rabo.
O que é preciso, do meu ponto de vista, é observar o que estã em jogo
aqui. De fato,a coincidência entre vida e obra era uma parte da estética con-
fessional romântica. Assim,é certo que a obra de Camilo e a sua vida foram
lidas uma em função da outra, como reforço mútuo. E essa conjunção pro-
duzia um determinado sentido, tinha uma consequência estética. A maneira
como Camilo, que era um homem quevivia da pena, fez render esse ponto,
com a legenda quecriava em torno de si mesmo, é, de fato, uma questão his-
tórica interessante.
Mais interessante ainda é observar que, culturalmente, essa fusão se reali-
zou, e isso agiu também sobrea recepção da obra. O testemunho da eficácia do
procedimento é que, cem anos depois, um dos maiores especialistas na obra de
Camilo Castelo Branco continue pensando a questão do mesmo ponto devista
instaurado pelo romancista.
Mas há mais do que isso. Alexandre Cabral, na sequência, justifica tam-
bém biograficamente os dois pólos do estilo camiliano, descritos por Prado
Coelhoe por Lopese Saraiva. Assim:a novela passional seria originada pelo
“clima emocional da época [que] foi absorvido pelo mundo novelístico de
Camilo, e nessa atmosfera saturada de paixão e lágrimas, de grandezas e mi-
sérias, as personagens movem-se, tal como acontece com o seu criador, não

4. Alexandre Cabral, “Introdução” em As Novelas de Camilo, Lisboa, Portugália, 1961, P- 9-

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A E PORTUGUESA
so ESTUDOS DE LITERATURA BRASILEIR

só pelos impulsos próprios, mas tambémpela estimulação, digamos, do me;ato


mórbido emque vivem”.
humor grosso e a virulênc ja da sátira camiliana se explicam Pe
já o E
e em Cabral se vê Cristalizada
A
de larga fortu na, qu
tese do ressentimento, e

modo modelar:

os sof ism as, à ver dad eé ape nas esta: as almas eleitas con
Pondode lado todos
o s benefícios e honrarias da sociedade, Real
sideravam-se espo liadas na repartiçã do
avam, viam-se na «y
mente, os gênios, os talentos, OS indivíduos inteligentes veget
balte rna e caissem das suas meça,
vexatória situação de arrebanhar as migalhas que zando
opulentas. Porisso, eles se vingavam dos nababos, ridiculari -os na gazeta e no

livro [...].

toda a obra de Camilo, Cabral vê.


Mas ao mesmo tempo, como repassou
a a insistência com que Camilo
se obrigado a anotar que “chega a ser doenti
emosconsiderar
se refere à sua má fortuna”. E a reconhecer que às vezes dev
exageros algumas delas.
ido,estratégia de
Isto é, reconhece, de alguma forma, como efeito de sent
eito estético, o quevinha
conquista de público ou de atendimento a um prec
sta e biográfica.
lendo numa clave exclusivamente determini
o texto, porquea biogra-
Mas a falácia biográfica se revela no seu própri
ral resume, nos mostra uma
fia de Camilo e dos seus antepassados, que Cab
ma espécie de brigões e
coisa curiosa: que a família de Camilo era da mes
rer do século passado,
cobiçosos que encontramos à rodo em Portugal no cor
il.
nacrise quese seguiu à independência do Bras
mais geral: um
Quanto à família da qual proveio Camilo,eis o apanhado
ssino — o tema de
avó magistrado reconhecidamente corrupto; UM tio assa
ânticas, acabou
Amor de Perdição - que, depois de mil tropelias pouco rom
um ricaço, cuja
degredado para a Índia; umatia de má fama, concubina de
meiro casa-
fortuna esbanjou depois de espoliar a herança dafilha de seu pri
que viveu
mento e também a dos seus sobrinhos (Camilo, entre eles); o pai,
amancebado sucessivamente com três criadas.
casamento
Já quanto à descendência, eis o que nos diz Cabral: a filha do
cinco anos;
com Joaquinafoi exposta na roda dos enjeitados e morreu com
a quê
a do namoro que teve com Patrícia Emília (nasceu em 1848) foi a únic
viveu bem, casada, sem a aprovação do pai, com um rico “brasileiro”; Jorge
e, erà sem
filho com AnaPlácido, era louco e incendiário; Nuno,irmão de Jorg

s. A. Cabral, op. cit. p. 13. Os trechoscitados anteriormente são das pp. 10 € 11.

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A NOVELA CAMILIANA
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escrúpulos, devasso e “batoteiro”, e de ambosdizia Camilo numa
crita por Cabral: “O Jorge e o Nuno poraqui andam: o primeir Da
desordeiro, O 2º bastante manco; masquanto cérebro manqu ciano o
Depois de nos dar essa história, e de acrescentar que Camilo dese bri
ou imaginara que Ana o traíra com cinco ou seis
homens, incluindo nE eu
melhor amigo, Vie de Castro, é que tenta explicar a sua veia satírica
ira
seu idealismo, dizendo queeles se devem a um “desajustamento entre o seu
caráterea sociedade e os homens da sua época”s.
É difícil entender o que quer dizer exatamente, e como se sustentaria
aquia tese do homem superioridealista, ressentido com o sucesso dosgros-
seiros e semcaráter. O quadro quetraça de Camilo não o faz nem um pouco
ele
diferente dos oportunistas e devassos, portugueses ou “brasileiros” que
retrata comtanto azedume.
Amancebar-se, envolver-se em negociatas e raptos, mendigar benesses e
empregos, lutar por títulos nobiliárquicos comprados com dinheiro ou com
Camilo, se-
a influência dos poderosos — em queisso é diferente do que fez
a tese biografista
gundo Cabral? Se não é diferente, como é possível defender
complicadas
do ressentimento e da idealização, a menos que se mergulhe em
verificação?
considerações psicológicas sem qualquer garantia de
da postu-
De modo que, se quisermos continuar sustentando a validade
pólos em tensão, deve-
lação das duas tendências da novela camiliana como
mos buscar apoio em outra parte que não na biografia.
bio
Masos termos que descrevem esses pólos, revelando umaextração -
Idealismo
gráfica tão clara, fazem sentido em outro contexto explicativo?
para nós?
sentimental, ressentimento satírico etc.? São ainda operacionais
da obra de
Descrevem adequadamente a experiência de leitura moderna
Camilo? -
Aqui temos de responder que não. Que, pelo contrário, obliteram muito
do que há de vivo nessa obra, aquilo que,dela, foi assimilado por outros es-
critores e que ainda hoje garante o interesse maior daleitura.
Quer isso dizer que não consideramos válida a descrição vigente sobre a
polarização da obra de Camilo? Não necessariamente. Como também não se
conclui daqui que não possamos continuar julgando Amor de Perdição uma
obra-prima da novela passional, ou continuar considerando A Queda dum
Anjo um dos pontos mais altos da novela satírica camiliana.

6. A. Cabral, op. cit., p.21.

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92 ESTUDOS DE LITERATURA BRASILEIRA E PORTUGUESA

Trata-se apenas de observar que aquilo que vem sendo descrito como
mais vivo, o mais importante e o mais característico da obra de Camilo Cas.
telo Brancotalvez não o seja. Ou, pelo menos, que não é exclusivo em relação
a outras questões e problemas igualmente e
,
Essa descrição, que é a tradição atual dos estudos camilianos, enfatiza
sentação dos
coerentemente, os aspectos narrativos. junto com eles, a repre
ambientes, que é tanto melhor quanto mais integrada à narração. Amor de
Perdição, nesse discurso, é valorizada porque aí tudo está a serviço da uni.
dade de ação, que se estrutura toda em torno do conflito entre o real co
Lopes &
ideal, Essa novela é o modelo,e tanto em Prado Coelho, quanto em
Saraiva, várias vezes percebemos que é ela o texto ideal para o qual converge
Anjo nãoé objeto de
o restante da obra e o olhar do crítico. Já A Queda dum
grandes considerações. Jacinto do Prado Coelho apenas avalia assim, man-
tendoa clave biográfica: Camilo experimentava em si mesmo o conflito entre
a “magia da civilização e a sedução da vida natural”, “Daí o terfeito nmA Queda
dum Anjo uma obra relativamente profunda: só é profundo, na verdade,
quese elaborou nas próprias entranhas. Mais uma vez, fez auto-ironia”
Mas como se descrevem, tipicamente, as qualidades de Amor de Perdi.
ção? Eis, novamente, a descrição canônica, no livro de Prado Coelho:

A vida aparece nela severamente selecionada, reduzida aos elementos dramáti-


cos, aos instantes de crise e ao esqueleto de fatos em quetais instantesse integram.A
“rapidez das peripécias”, a “derivação concisa do diálogo para os pontosessenciais do
enredo” (qualidades que o novelista era o primeiro a apontar no Amor de Perdição)
caracterizam, dum modo geral, a novela camiliana. A sua técnica aproxima-se, por
isso, da técnica teatral, que “abstrai e fixa momentos privilegiados, momentos de
crise”,

Esse parágrafo atribui, com a única ressalva de ser uma formulação ge-
neralizante, a toda a novela camiliana qualidades que não são dominantes
na maior parte dos seus textos, nem talvez nos mais conhecidos deles. Ou
seja, ela subsume no tipo do Amor de Perdição toda a produção novelística
do autor. Uma das consegiiências críticas dessa operação é a brutal redução
do corpus canônico da novela camiliana, porque são de fato poucosos textos
em que essascaracterísticas são as dominantes. Outra é que ela é construída
por meio de um obscurecimento de um outro aspecto do texto novelístico de
Camilo, queestava presente no mesmotexto citado por Prado Coelho. Veja-

7- J.P. Coelho, op. cit, pp. 522-523.

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A NOVELA CAMILIANA
93
)
mos, para p rceber isso, o texto todo do prefácio de ond
e q

€O crítico retirou as
citações entre aspas:

Este livro, cujo êxito se me antolhava mau, quandoeuo ia e


recepção de primazia sobre todos os seus irmãos. [...] Não a erevendo, teve uma
a qualificação;
com a opinião da maioria queam
mas à crítica escrita conformou-se o Amor de
ao Romance de um Homem Rico e às Estrelas Propícias ntepõe
Perdição
É grande parte neste favorável, embora insustentável juízo, a rapidez d :
essenciais do enredo o peripé-
do diálogo para os pontos
cias, à derivação concisa da linguagem desartifício de locuções od
a lhaneza
de divagações filosóficas,
que não esa
quanto à mim, não pode ser um merecimento absoluto. O romance,
mui pouco duradouras.
em outras recomendações mais sólidas, deve ter uma voga

lidades destacadas pelo


Como ressalta da leitura, para Camilo, as qua
não são qua lid ade s que ele julg a que possam, sozinhas, sustentar um
crít ico ta
m insuficientes, e é clar a a sua apos
romance. Pelo contrário, elas lhe parece
ne ce s sid ade das diva gaçõ es filo sóficas, na linguagem apurada e noartifi-
na dez das
o da s lo cu çõe s - ele men tos cuja ausência é a condição para a rapi
ci
cisa do diálogo.
peripécias e para a derivação con
de m as si m nav alo riz açã o de Am or de Perdição não apenas os lei-
Coinci
ic a co nt em po râ ne a do au t or, ma s a posterior tradição crítica,
tores e a crít
os di as . A su bs un çã o da no ve la camiliana nesse texto específico,
até os noss
moderna.
entretanto, é já uma descrição bem
os ago ra ao po nt o qu e int ere ssa sublinhar, porque é a última e
Chegam
ia con seg iiê nci a crí tic a des se pr ocedimento de análise: como é na
mais sér onheceram e
da representação que se rec
economia do enredo e na eficácia tou até
hipostasiaram as qualidades danovela típica camiliana, pouco se tra
e - a nã o ser co mo def eit o ou exc rescências — tanto das divagações fi-
hoj
ica ou do artifício das suas lo-
losóficas, quanto da sua escrita metalingiíst
da uti liz açã o esp ecí fic a qu e ele faz da língua e das formas
cuções, ou seja,
narrativas.
de Que irós, cujo
| Defato, muito diferentemente do que ocorre com Eça
nífico d e Guerra
estilo tem sido-bastante bem estudado desde o livro mag
minucioso e amplo da linguagem
da Cal, não temos até agora um estudo
d Or ar Lop es, por exe mpl o, res salta apenas 0 aspecto castiço do
apu
algumasintaxe. Prado Coelho, nem isso.

o) Obras Completas de Camilo Castelo Bran-


cio da Segunda Edição” de Amorde Perdição, em
8. “Prefáci
vol. JL P- 378.
co, ed. d e Justino
1 Mendes de Almeida, Porto, Lello & Irmão, 1984,

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EIRA E PORTUGUESA
94 ESTUDOS DE LITERATURA BRASIL

E entretanto, quando lemos hoje Camilo de uma maneira extensiva, é 3

siona,É q
justamente o seuestilo e a sua construção textual o que mais impres
consideração da sualin guageme da estrutura
da sua novela enquanto objeto
mensionara sua
verbal que nos permite ver os limites da descrição atual e redi
interpretação geral.
Para maior clareza desta primeira aproximação ao problema quenos
em apenas dois níveis de organiza-
interessa, concentraremos a atenção
produção de
ção textual. O primeiro é o nível da construção da frase e da
do manejo dos
efeitos de sentido irônicos ou inesperados. O segundo, o
elementos macroestruturais do romance e da apresentação física dolivro;
es, disposição
voz narrativa, foco narrativo, narratário, ordenação das part
tipográfica, etc.
o,
Tomemos, como primeiro exercício de consideração do estilo camilian
eremospri-
umadas Novelas do Minho. Chama-se “O Filho Natural”. Consid
s
meiro o enredo: umfidalgo seduz a filha de um farmacêutico; os amante fo-
na para seguir a
gem, vivem algum tempo juntos e têm um filho; ele a abando
evive
carreira política e fazer um bom casamento; abandonada, a mulher sobr
ho tem 12 anos,
com dificuldades, dando aulas; a certa altura, quando fil
go é rico, morre €
manda-o para o Brasil, aos cuidados de um amigo; o ami
muito dinhei-
deixa uma fortunapara O rapaz; o rapaz volta a Portugal, com
seguindo sustentar
ro; o pai fidalgo está arruinado financeiramente, mal con
digo; uma desuas
a mulhere os filhos; o rapaz se apresenta ao pai como men
taram dos bons
meio-irmãstenta ajudá-lo, oferecendo-lheas jóias que lhe res
doa dinheiro à meio-
tempos; o filho ilegítimo se revela um homem rico e
mãe.
irmã para salvar a reputação do pai e assim vingar moralmente sua
gem é muito cuidada
É um enredo simples e sentimental. Mas a lingua
er outro texto da
e muito nova. Mais nova, parece-me, do que a de qualqu
Eça até então publicara,
época,incluindo aí as Farpas e o único romance que
O Crime do Padre Amaro.
eiro
Para poder avaliara afirmação da novidade, considerem-se, em prim ata,
, uma concreta € outra abstr
lugar, estes exemplos de dupla determinação uma far
eir a de pro duz ir efei to côm ico : ao descrever a morada de
como man paços senhoriais pesava um silênco
mília nobre,diz que “em redor daqueles
triste e torvo”; ao traçara história da família faz referência aos “citaristas pr
cruzadas que morriam [...] entre duas rimas três cutiladas”; de UM inooo
trado quese atrapalha numafrase vai dizer: “comolhe faltasse à ”espiraçeao
a gramática, o procurador tomoufôlego”; umas senhoritas da socie ir
assim apresentadas: “eram as cinco jóias do Porto em delicadeza de esp

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A NOVELA CAMILIANA 95

e de cintura”; mais além, uma “patrulha vem chegando com a Moral e com
a baioneta”.
Alémdesses efeitos irônicos, há outros, ainda mais notáveis. Co
a mo, , por

exemplo, uma frase que apresenta o local de um namoro como “umterceiro


andar — altura onde os suspiros exalados desde a rua chegam em temperatu-
ra honesta? Ou como esta, na qual, por ocasião de umas eleições, diz-nos o
trinta e nove
narrador que umfidalgo “saiu eleito... por novecentos mil-réis,
que
cabritos, e 2% pipas de vinho verde” Ao que ainda acrescenta: “ — vinho
s dos ci-
devia ser um exagerado castigo daquelas consciências corrompida
do pai da heroína,
dadãos”. Ou, finalmente, esta, que descreve a perturbação
desceu ele à
quando percebe que ela fugiu de casa para viver com o amante:
ro
sala “tão insuficientemente vestido, como o poderia estar o nosso primei
avô, se fugisse do Paraíso depois de inventar o lençol?"º,
Já para caracterizar a antiga linhagem do sedutor, o narrador começa
abandona
seriamente a retroceder na árvore genealógica da família, até que
macaco de
a tarefa e conclui: “indo na pegada da família depararia com o
”.
Darwin; e talvez seja anterior aos macacos; e desmente o dilúvio
mas não
Todos esses exemplos, que são apenas os mais interessantes,
s e de tom
os únicos, foram colhidos numa narrativa breve, de trinta página
a pergunta que
dominante não-jocoso. E são tantos e de tal qualidade, que
que essas carac-
imediatamente se apresenta ao espírito é: como foi possível
terísticas ficassem assim obscurecidas?
sem aten-
Mas não foram apenas essas construções frasais que ficaram
importantes, por-
ção. Outras questões igualmente notáveis, e talvez até mais
ém perma-
que dizem respeito ao nível de estruturação macrotextual, tamb
neceram sem a devida atençãocrítica.
de escre-
Umadas principais é a constante referência de Camilo ao fato
comprar. E as
ver paraviver, e deter, assim, de dar ao público o que ele quer
tão reiterada.
consegiiências, no plano da construção textual, dessa fala
alinhar
Vejamosalguns exemplos, dentre os inúmeros que poderíamos
aqui.
diz que
No prefácio da segunda edição de À Doida do Candal, Camilo
mas que ele
pensou em pôrno livro umas palavras filosóficas contra o duelo,
comparando
tinha vendido mais do que A Bruxa de Monte Córdova. Ora,

Os trechos citados neste parágrafo se


9. O Filho Natural, em ]. M. de Almeida (ed.), op.cit. vol VII.
encontram, respectivamente, nas páginas 182, 184, 230, 1850 188.
10. Idem,p. 187.

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A
vo pur DS DATA TUNA MILA NELHIA DE POULAMRh

os dois, achou quefora a filo:sofia queWe estragara A Brisa, Dat quetenh


que, como logo val afirmar, ole é um
resolvido deixar o livro como estava E
para o leitor do presente ,
escritor que escreve para viver, e por luso escreve
m tem negaro o que comer,
pois só pode escrever para a postei lelade que
No prólogo de Onde fistá a Pelicidade? (1N56) livro todo permeado de
lidades do seu texto por apo
digressões filosofantes + propap andela uu qua
que n bora de cenas de tempestades, elo,
sição ao romance romântico típico,
comoforma de atrair o leitor Mas Já env O que Pazem MulheresantRomana
es apre.
tar as duas qualidades que nete anor
Filosófico (1863), tenta jun
sentava como antagônicas, é num prólogo Intitulado “A todon 08 quelereny,
escreve:

fi uma bistória que faz avriplar ou cabelon,


idos e berros, anjos e de.
Há aqui bacamartes e pistolas, Ligia e tango gem
mônios,
fi um arsenal, umasarvabulhada, e tum diade Juízo!
Isto sim que é romance!
Não é romance: é um soalheiro, man trágica, mas horrível, soalhelro em queo
sol esconde a cara [.) Tencbroso e medonho! Puma dança macabral Um tripúdio
m editor, e se
infernal! Coisa só similhante a uma novela pavorosa daque aterra um
perpetuam nas estantes, como espectros Imóvel,
Há af almas de pedra, corações de zinco, olhos devidro, peitos deasfalto?
Que venham para cá,
Aqui há cebola para todosos olhos; troca para todas ar almas
Cadinhosde fundição metaltrgica para todosos peitos,
Não sc resiste a isto, Hásde chorar toda a gente, ou eu vou contar nos peixes,
como o padre Vieira, este miserando conto",

Nãosatisfeito com esse discurso destinado, apesar da ironia, a atrair o


leitor romântico, o autor apresenta a seguir um segundo prólogo, dirigido
aos possíveis interessados no “romance filosófico" Intitulado “A algum dos
que leren”, é umtexto que fala seriamente dasvirtudes da herofna, e se de-
fende antecipadamente da acusação deinverossimilhança.
Finalmente, como uma espécie de termo conciliatório, dá-nos um ter-
ceiro prólogo, que se apresenta como um “Capítulo Avulso / para ser colo-
cado onde o leitor quiser”, fo mais divertido É tanto pode ser valorizado
peloJeitor afeito aos dramas sentimentais, que o lerá num clave de crítica do
romance de pendornaturalista, quanto pelo leitor adepto deste último, que

14. Na edição de Justino Mendes de Almeida, 6 trecho esttcuas pp, 1233-1282 do volume dl

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A NOVELA CAMILIADA 97
4

o poderá ler como sátira dos procedimentosde construção da personagem


romântica exaltada, À composição do “Capítulo Avulso" é, por si só, nofá
vel; começa com uma implicância gratuita do narrador com o sobrenome
do escritor/personagem Prancisco Nunes; com um tal sobrenome ninguém
pode, na sum opinião, ser escritor; há sobrenomes, sentencia, que “parecen)
os epitáliosdostalentos%, Atormentado sem muita razão, talvez apenas em
função dos comentários do narrador, o Nunes caminha pela rua fazendo um
enorme e empoladodiscurso contra o charuto quevai fumando, Composto
como um herói romântico, cevoltado sem causa, Nunes profere, entretanto,
um discurso misto de oratória parlamentare digressão didática e cientificis-
ta, De qualquerforma, ninguém o ouve, exceto o narrador, que diz segui-lo
“com subtis sapatos de borracha e faz as vezes do leitor, avaliando lhe 08
gestos, a figura e o estilo, Assim, quando 0 herói narra a história do fumo e
sua chegada na Buropa como cuidado de precisar o ano de introdução do
tabaco em Portugal, Camilo põe uma nota; “é para espantar a memóriade
Rrancisco Nunes, em crise de tamanha angústia”; e quando, em certo ponto,
o tam declamatóriodo solilóquio de Nunes triunfa sobre a situação concre-
ta em quefala e ele dirige incongruentemente umaapóstrofe aos “senhores
deputados” o narrador põe outra nota, criticando-lhe duramenteo estilo e
a distração. Essa oscilação do narradorentre as expectativas de diferentes
tipos de leitores doseu “romance filosófico” tem várias outras atualizações
textuais, de que referiremos apenas a mais espetacular; entre 0 capítulo XIV e
0 XV, deparamos com umnão-numerado,intituladoapenas “Cinco páginas
que é melhornãose lerem” nas quais a meta do narradoré “umalvo trans-
cendental, Nem mais nem menos, |...) provar que o Código do Imperador
Justiniano[...] traz umalei de tamanhoabsurdoe insensatez, quanta é a in-
dignação comque para aqui a traslado”.
Podiamos continuarindefinidamente comentando, nas muitas novelas ca-
milianas, um número realmente espantosode procedimentos metalingúísticos
semelhantes, mas vamos nos restringir a apenas mais um texto; a novela A
Filha do Arcediago(1856), em queo enredo se dissolve em duzentas páginas
muito digressivas, nas quais a reflexão jocosa sobreas técnicas e a formado
romance ocupaolugarcentral. Tudoaf é objetodeironia, mas o principal alvo
do narradoré ele mesmo, a sua função na narrativa, os recursos técnicos de
que lança mão, as convenções de apresentação textual do romanceetc, Dentre
o leque muito vasto das opções de exemplos que essa novela nos oferece, desta-
caremosa seguir, apenas alguns poucos: aqueles momentos em que as questões
para as quais chamamosa atençãose vêemde modomuis evidente,

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ILEIRA E PORTUGUESA
98 ESTUDOS DE LITERATURA PRAS

Nesta drástica seleção, comecemos por€ notar que, nocapítulo XIx, o «


, CS “te à.
duas person agens é aprese ntado em forma de teatro; um “dram
sament ode ama
o de cena. Vem assim o Casamen
em um ato” com direito a apartes € descriçã
oocapityy,
to um destaque textual bastante grande. Talvez por isso mesm
sião do narrador, acusandoa quedade nível
seguinte comece com uma digres É
o meu roman ce está caind
e
eiro à €« nfess ar que a 0
do seu romance: “Souoprim dous casa .,
mentos!. T;
amento.. . pass e! Mas
muito! [...] Ainda um cas , . . abusar

romantizar o | ato mais prosaico desta vida! Isto enn


dos dons da igreja, ou de ma siado servilismo à verdade!
a de im ag in aç ão , Ou
mimcreio que é falt haver já pro
ois « le muito d iscr
etear sobre o fato de
]”. Fin alm ent e, dep
de prometer novos desenvolvimentos do
[...
casamentos e
movido ostais dois es pe itável público que suspenda q
qu an to , pe ço ao «
enredo, anota: “por en
q

acidade inventiva” ,
juízo a respeito da minhacap contra no capítulo XXI, quando
teressante se en
Outrasituação textual in .
, de j so is de de sc re ve r um a se nhora apanhada em situação cons
o narrador
do ra , di z à o le it or o qu e el e fa ri a se fosse mulher, e paraisso abre dois
trange
subtítulos “solteira” e “c asada”, em que assume a primeira pessoa e descreve
as ações possíveis.
ape-
Finalmente, p ara não alongar muito estes exemplos, comentemos
nas mais duas passagens notáveis.
final da novela
A primeira se localiza no final do capítulo XXVII, já no
Ali deparamos como seguinte quadro, cuja ironia dispensa comentários:

Relação das pessoas que já morreram neste romance


iidêia 1
O mestre de Latim.....ceeaeemensenearereensenareass ccnsanaoeavanonsresensvi
1
A Senhora Escolástica.......esmenenmeecmearrerreneesarcersasensenseness cononado
O arcediago ........ rececnenaaossemsensibisino cererereneneaseaeaseastesasvereacensenncanes 1
Uma velha da Viela do Cirne, cujo nome me não lembro....... 1
O Senhor António José da Silva .................
Antónia Brites, amante de Augusto Leite
Doussoldadosde cavalaria...
Somatotal..
Continuarão a morrer convenientemente.

A segunda se encontrajá quase aofinal da novela, quando o narrador se


demite da função queaté ali exercera com extremos de cabotinismo: dá por
encerrada a suatarefa, transformando o texto em romanceepistolare dando
livre curso à intriga sentimental: “Agora, leitores, o meu trabalho termina

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A NOVELA CAMILIANA
99

aqui. As cartas, que ides ler, confiou-as a pessoa, que


Podem ver-se em minha casa desde me contou esta história.
são textuais. O meio-dia até às quatro
horas da tarde”.
Fi
prado Coelho, comentando essa última novela, diz que “A
de Camilo nm qa do Ar
cediago constitui, na verdade, a primeira novela to ele foca a
portuense. O seu principal
vida familiar no seio da burguesia
s pela caricatu Êo
fidelidade ao real; a sua intenção era combater o burguê
do du
O que Prado Coelho não percebe é que muito mais notável
caricatura é O
jogo com as expectativas de leitura do público burguês. Sai
Fazem Mulheres?, que comentamos
nessa novela, como também em O Que
outros livros de Camilo.
há pouco, e na esmagadora maioria dos
deixa no escuro a única re-
Não perceber esse jogo com as expectativas
el qu e vi go ra emto da s as narrati vas camilianas, por mais digres-
gra inflexív
.
sivas que elas se apresentem -se indefinidamente. Em
vo não pode manter
Essa regra é: 0 tom digressi
ce ss am as dig res sõe s, ou ra reiam muito, e a novela
algum momento, sempre ártico. Mas não por-
segue até o seu final cat
sentimental se expande e pros Camilo] o chamapara lá”.
Mas
ado Co el ho ,“ a vo ca çã o [de
que, como quer Pr que, no caso de Camilo,
es se é O jo go ; ess a é a expectativa do leitor
porque ra possa
al , te m de se r sa ti sf ei ta no nível da narrativa, embo
escritor profission
nível da narração.
ser discutida e negada no lo tr ab al ha , todo o tempo, com
re ss al ta r: Ca mi
É esse ponto que é preciso screveu frequen-
crítica de
iv as de le it ur a. Os procedimentos que à
as ex pe ct at
o ta lv ez me lh or de sc ri to s como agressão a uma
temente como mau gosto sã ct er ís ticas que se valorizaram
te xt o co m às ca ra
expectativa que exi ge dele um e nã o perca ocasião de, em
Pe rd iç ão . Da í qu
tão acentuadamente e m Amor de da s novelas, espezinhar
sõ es in te rn as 0 te xt o
prólogos, dedicatórias e di gres al gum momento, sabe
iv a de le it ur a qu e, em
o gosto dominante e a expectat

— escreve prefé--
estar condenadoa satisfazer.
É assim que,ano após ano — ou, melhor, mês apósnamês
ol og ia do Ca sa me nt o” , s Cenas Contempo
ça “Pat
cios como o queabre a pe la na , pr og ri de ra pidamente da ironia
leitora d. Fu
râneasLAli, dirigindo-se à leituras român ticas típicas,

oferece-lhe
ao sarcasmo, e ao atribuir-lhe gostos muita
á n| , j
dizen do: sei que “ em na cabeça
a peça como conce ssão desde nhosa
ã sereii eu a vassoura de limpe
i za”.
i de aranha, e não
som a de teias

vol. 1, p: 1136.
12. Na edição de Justino Mendes de Almeida,

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100 ESTUDOS DE LITERATURA BRASILEIRA E PORTUGUESA

E é assim que, mês após mês, vai produzindo a novela passional ou a


novela de enredo rocambolesco e comentandoqual vendeu mais ou menos e
o porquê dos favores do público.
Nestaleitura, Camilo nos aparecerá estilisticamente, num nível macroes-
trutural, como um homempróximode Garrett. E, como este, muito próximo
de escritores do século anterior, comoStern ou De Maistre, que viam texto
romanesco não como sendo basicamente o desenvolvimento de uma intriga,
nos moldes mais propriamente românticos, mas como umaprática narrativa
emque o comentário filosófico ou simplesmente digressivo e espirituoso era
o ponto distintivo.do gosto.
Mas Camilo não é um homem doséculo XVIII, Está submetido à prática
| da literatura como profissão, e, portanto, condenado ao público que tem.Por
“isso, a leitura que aqui ensaiamos aponta para um quadro descritivo em que a
|genialidade de Camilo está em utilizar criticamente as expectativas de leitura e
as formas em queelas se cristalizam, sejam elas anovelasentimental,anovela
picaresca, ou a narrativa naturalista. O que quer dizer que a matéria princi-
pal dosseustextos são as imagens da narrativa e da sua função na sociedade
burguesa) º
É no trabalho com as formas, agindo por contraposição, exercendo a
literatura como prática polêmica que vamos encontrar o Camilo que melhor
corresponde ao desejo do nosso próprio tempo.
Aí podemos reconhecer a sua modernidade, o seu interesse para nós. E
desse esforço por uma nova descrição resultará um escritor que situaremos
numaoutra família espiritual, diferente da que tem sido a sua. Nessa nova
família, como já deve ter ficado claro pela exposição, estará também, Rom
alguns degraus de parentesco que ainda cumpre determinar, entre outros
Machadode Assis.
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