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Luís de Camões, Rimas

Rúben Inocêncio
Janeiro 2021

Luís Vaz de Camões nasceu provavelmente em Lisboa por volta de 1524. Devido a contactos
familiares que se encontravam em Coimbra, conseguiu estudar na Universidade de Coimbra.
Frequentava as cortes de D. João III onde, frequentemente, demonstrava as suas habilidades
poéticas ganhando a fama de poeta. No entanto, devido à vida boémia que este levava esteve
envolvido em várias rixas, mesmo no seio da corte, e foi condenado a prisão.

Camões esteve também na Índia e Moçambique, entre 1552 e 1569, o que lhe permitiu vivenciar
e conhecer culturas diferentes. Camões durante a sua vida escreveu diversas obras poéticas e
em 1572 foi publicada a primeira edição da epopeia “Os Lusíadas” dedicada a D. Sebastião, no
entanto, não lhe foi dado o devido reconhecimento e acabou por levar uma vida medíocre.
Morreu em 1580 “pobre e miseravelmente”.

1. Linguagem e Estilo

Nos poemas de Camões é bastante visível o período culturalmente ativo que foi o século XVI,
não só pelos ideias ressuscitados pelo Renascentismo (transição da Idade Média para a Idade
Moderna) mas também pelo Humanismo e Classicismo. Assim, nas suas obras, Camões
evidencia vários aspetos ligados a estas correntes filosóficas e culturais.

As transições ideológicas ficaram gravadas nos poemas de Camões, não só na sua temática, mas
especialmente na sua estrutura. Existem 2 principais formas de poesia – uma de caráter
tradicional, outra de caráter clássico (proveniente do Renascentismo).

❖ Forma Tradicional

Composições escritas de forma tradicional, seguindo um mote sobre o qual são desenvolvidas
voltas/glosas.

Mote: Verso ou conjunto de versos que direcionam a temática do poema apresentando a ideia,
lançando a problemática.

Voltas/Glosas: Versos que sucedem o mote, são agrupados em grupos formando estrofes,
recuperam a ideia imposta pelo mote, podendo até repeti-lo e desenvolvê-lo.

Estas formas poéticas tradicionais assumem a forma da redondilha - poemas de versos de cinco
ou sete sílabas métricas, redigidas segundo a medida velha e que podem ainda assumir as
seguintes formas:
Luís de Camões, Rimas| Rúben Inocêncio

Cantigas – Composições geralmente com um mote de quatro ou cinco versos e


glosas/voltas de oito, nove ou dez versos.

Esparsas – Composições sem mote, com apenas uma estrofe com oito ou mais versos.

Trovas – Composições sem mote, com número variável de estrofes.

Vilancetes – Composições com mote (de 2 ou 3 versos) e voltas (uma ou mais estrofes)
de sete versos.

❖ Forma Clássica (moderna)

No que toca ao retomar das vertentes clássicas,


podemos identificar várias formas poéticas, no
entanto serão os Sonetos aquelas que terão maior
relevância no estudo Camoniano.

O Soneto é uma composição poética constituída por


14 versos distribuídos por 2 quadras iniciais e 2
tercetos decassilábicos com variados esquemas
rimáticos (rima emparelhada, cruzada,
interpolada…). Geralmente o assunto é
apresentado nas quadras e concluído nos tercetos.
O soneto segue uma busca pela perfeição na sua
estrutura, seguindo a filosofia clássica.

2. Temáticas Presentes nas Obras

De uma forma sucinta existem 6 temáticas abordadas nos variados poemas de Camões, que
embora sejam distintas, interligam-se e complementam-se nas ideias que o poeta pretende
transmitir, a saber:

❖ Representação da Amada: O amor é um tópico incontornável na lírica camoniana, a


fonte de amor do sujeito poético é a sua amada. Existem 2 abordagens que Camões
toma na representação da amada em função das 2 correntes filosóficas que coexistem
no século XVI. Por um lado, Camões faz o retrato físico e psicológico de uma mulher
perfeitamente renascentista, ou seja, uma figura angelical, inacessível e individualizada.
Do ponto de vista físico é uma figura de cabelo louro, olhos azuis, pele branca, etc… Por
outro lado, existe também, muitas vezes, a presença de uma mulher exótica que apesar
de se distinguir radicalmente do ideal renascentista apresenta uma beleza ímpar: uma
pele negra, cabelos escuros, olhos pretos e que transmite uma graciosidade que o poeta
considera “uma doce figura” (presente no poema “Aquela Cativa”).

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❖ Experiência Amorosa e Reflexão sobre o Amor: Dominado pelo amor e pelas suas
amadas, Luís de Camões vive num eterno sofrimento que passa pela autotortura e pela
saudade que a sua amada lhe causa. Camões é uma figura completamente dominada
pelo amor. Novamente existe aqui uma descrição distinta do mesmo: o Amor platónico1,
contemplativo, distante, frio e pouco afetuoso; e ainda um Amor-paixão, que embora
muito intenso, revela pouca consistência e acaba invariavelmente por deixar o poeta
num conflito interior constante.

❖ Representação da Natureza: Desde o início de literatura portuguesa que a Natureza é


o cenário fértil para as relações amorosas, assim não pode deixar de ter a sua
representação na poesia Camoniana. À semelhança do papel que teve em outras obras,
a Natureza surge como confidente, providenciando ao autor um panorama de
contemplação e de reflexão para enfrentar o seu dia a dia.

❖ Reflexão sobre a Vida Pessoal: A vida de Camões, embora incrivelmente romântica, é


também assombrada por um fantasma de revolta. Para além da sua experiência infeliz
em relação ao amor, a recordação de um passado, que o poeta considera feliz, acende
uma revolta devido à miséria que o presente lhe traz. Assim, o poeta vive com
recorrentes desejos de vingança, remorso e mesmo tentação de morte.

Os próximos temas têm uma ligação bastante evidente e podem até por vezes confundirem-
se, no entanto, irei fazer uma tentativa de distinção:

❖ Tema do Desconcerto: Este tema tem como origem a vida infortuna do autor.
Camões considera-se um homem azarento e que sofre de uma desordem na
humanidade e injustiças sociais, onde os mais afortunados são cada vez mais
beneficiados e os desventurados2 ficam cada vez mais angustiados, como seria o seu
caso. A acrescentar, existe ainda algo que perturba o autor, a desarmonia interior
do ser humano. A limitação do Homem, por ser impotente perante a passagem do
tempo, perante a morte e o destino.

❖ Tema da Mudança: Este tema relaciona-se com o anterior devido à forma cíclica e
renovador com que a Natureza revela os seus processos, a mudança natural é
completamente independente da vida humana, o ser humano nasce, cresce e morre
sem qualquer exceção. A mudança que o Homem experiência leva-o a cenários de
desesperança, fragilidade e instabilidade, o que torna este ato de reflexão crítica,
por parte de Camões, um ato frustrante.

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3. Poemas Sugeridos

Tal como referido, as temáticas complementam-se nos vários poemas que Luís de Camões
escreveu. Aqui ficam algumas sugestões e exemplos de poemas que são mais representativos
de cada temática:

Representação da Amada: “Aquela Cativa”

Experiência Amorosa e Reflexão sobre o Amor: “Tanto de meu estado me acho incerto”

Representação da Natureza: “ De quantas graças tinha, a Natureza ”

Reflexão sobre a Vida Pessoal: “De que me serve fugir”

Tema do Desconcerto: “Verdade, Amor, Rezão, Merecimento”

Tema da Mudança: “Mudam-se os tempos mudam-se as vontades”

4. Glossário

(1)”Amor Platónico” – Ligação afetiva espiritual e sem desejo sexual ou sensual.

(2)”desventura” – Infelicidade; infortúnio.

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