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FORTALEZA - CEARÁ
2022
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FORTALEZA - CEARÁ
2022
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AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
will occur differently in each context. The elements brought by the policy become
resources of power for individuals who were dissatisfied with the current institutional
logic, and when they appropriate the resources and organize themselves collectively,
gaining narrative strength and convincing others, the processes of institutional change
are triggered. In the interviewees' assessment, adherence to NCS resulted in an
improvement in cultural policies, even in those in which the MCSs were not considered
effective. The researcher identified the increase in the institutionalization of cultural
policies at the municipal level as a result of the NCS, but underlines the absence of
important elements of federative induction that would compose great resources of
power for those seeking more democratic forms of cultural management at the local
level. In order to expand the power and reach of the NCS in the municipalities, it is
essential to make it happen: the regulation law to the policy, regular transfers of funds,
the promotion of qualification courses, the functioning of the Inter-management
Commissions and of the National Cultural System Indicators that integrates the
federated entities.
LISTA DE QUADROS
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................... 19
2 NEOINTITUCIONALISMO COMO APORTE TEÓRICO................ 29
2.1 As principais vertentes do Neoinstitucionalismo ..................... 30
2.2 A delimitação de instituição ........................................................ 37
2.3 As mudanças institucionais ........................................................ 41
3 O SNC e os SMCs à luz do neoinstitucionalismo...................... 50
3.1 As instituições do Sistema Nacional de Cultura ....................... 50
3.2 As instituições dos Sistemas Municipais de Cultura ............... 61
4 O SISTEMA NACIONAL DE CULTURA NO CONTEXTO DO
BRASIL E NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.......................... 69
4.1 Histórico do SNC.......................................................................... 69
4.1.1 Precedentes: a origem da proposta do SNC .................................. 69
4.1.2 Primeiro momento: estruturação e primeiras ações ....................... 72
4.1.3 Segundo momento: aprimoramento conceitual e ações mais
consistentes ................................................................................... 74
4.1.4 Terceiro momento: desafios e mudanças conceituais ................... 78
4.1.5 Quarto momento: instabilidades .................................................... 80
4.1.6 Momento atual: resistência e expectativas .................................... 86
4.2 O SNC no Estado do Rio de Janeiro ......................................... 90
4.2.1 Os desdobramentos do SNC no Estado do Rio de Janeiro .......... 92
5 A INDUÇÃO FEDERATIVA NA CRIAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES
MUNICIPAIS .................................................................................. 103
5.1 Órgãos Gestores de Cultura ....................................................... 107
5.2 Conselhos Municipais de Política Cultural ................................ 117
5.3 Planos Municipais de Cultura ..................................................... 126
5.4 Fundos Municipais de Cultura .................................................... 140
5.5 Análise sobre os CPF .................................................................. 145
5.6 Síntese da análise quantitativa da institucionalização dos
SMCs ............................................................................................. 151
6 PERSPECTIVAS DE GESTORES E CONSELHEIROS SOBRE
OS SISTEMAS MUNICIPAIS DE CULTURA ................................ 155
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1 INTRODUÇÃO
do Rio de Janeiro (SEC/RJ). Todas elas tiveram relação direta com a temática do SNC
e Sistemas Municipais de Cultura (SMC) e possibilitaram o exercício tanto de pesquisa
na temática quanto de gestão e implementação da política.
Na SEC/RJ, em particular, atuei em duas frentes importantes relacionadas
ao Sistema Estadual de Cultura: a primeira delas na assessoria e coordenação da
Dinamização de planos municipais de cultura. O trabalho compreendeu a
coordenação da equipe que auxiliou 34 municípios fluminenses na implantação de
seus planos municipais de cultura. A segunda se referiu à organização das eleições,
posse e primeiro ano de funcionamento do Conselho Estadual de Políticas Culturais
do Rio de Janeiro, o que incluiu a realização de conferências regionais de cultura,
vários encontros com sociedade civil para esclarecimento do Sistema e do Conselho
estaduais de cultura e a assessoria na elaboração do regimento interno.
Essas experiências possibilitaram vislumbrar o fenômeno do SNC em
muitos aspectos, em especial, seus impactos nas políticas municipais de cultura. Era
interessante observar que os processos de indução decorrentes das conferências de
cultura, das ações do Ministério da Cultura e da SEC/RJ desencadeavam iniciativas
nos municípios em direção à valorização da cultura e da institucionalização da gestão
cultural. Entretanto, esses processos tomavam rumos e resultados diferentes em
cada município e entender como isso funcionava passou a ser uma das minhas metas.
Minha trajetória de formação e atuação profissional está, portanto,
intrinsecamente ligada à criação e implementação do SNC, acompanhando-o desde
seu início, reunindo vivências e registros de informações, que foram se transformando
em dados e material de pesquisa. Originou-se assim o projeto de pesquisa de
doutorado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da
Universidade Estadual do Ceará (UECE), com a proposta de analisar o processo de
institucionalização das políticas culturais brasileiras acarretado pela implantação do
SNC; especificamente os Sistemas Municipais de Cultura (SMC) que foram
implementados ou estão em fase de implementação nas municipalidades brasileiras
e fluminenses.
A criação do SNC tem raízes no programa de governo do Partido dos
Trabalhadores (PT) apresentado ao pleito eleitoral de 2002, publicada em A
imaginação a serviço do Brasil (PT, 2002), que tinha como propósito garantir políticas
mais democráticas, participativas e descentralizadas para a cultura, organizadas de
21
1 O SUS rompeu com um legado de centralização das políticas de saúde no país. As bases para sua
estrutura compartilhada entre os entes federados já tinham sido estabelecidas na CF88 e
posteriormente foram definidas as divisões de competências pelas leis 8.080/90 e 8.142/90 e por
Normas Operacionais Básicas (NOBs) ao longo da década de 1990. Em termos federativos, o SUS
se orienta por princípios organizacionais que compõem uma rede hierarquizada entre os entes
federados, quais sejam, a regionalização, a descentralização e a participação da comunidade, tendo
em vista a o equilíbrio das políticas públicas de saúde na redução das desigualdades regionais
(COSTA, 2012).
2 O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) tem como marcos a própria CF88, a Lei Orgânica da
Assistência Social, de 1993 e as NOBs de 1997, 1998, 2005 e 2012 (BEZERRA, 2015).
3 Incluído na CF88 pela Emenda Constitucional 85, em 2015.
22
5 Dado de setembro de 2022. Disponíveis em: http://ver.snc.cultura.gov.br/. Acesso em: 30 set. 2022
24
das Ostras e São Fidélis. Para essa tanto, recorri a alguns indicadores
socioeconômicos, às legislações locais que instituem os SMC e, principalmente, a
entrevistas com agentes que atuaram diretamente na institucionalização e
implementação do SMC, compreendendo dois perfis: um vinculado à gestão pública
de cultura (funcionários/ex-funcionários da gestão municipal), outro vinculado ao
Conselho de Política Cultural (conselheiros/ex-conselheiros).
Por fim, apresento a conclusão, onde são sintetizados os resultados das
análises quantitativas e qualitativas a respeito da indução do SNC na
institucionalização das políticas culturais municipais, e ressaltadas as principais
percepções geradas pela pesquisa.
29
elas são alteradas. Para entender como as instituições afetam os indivíduos, e como
elas se mantêm, o tipo histórico subdivide-se em duas perspectivas. A primeira,
chamada “calculadora”, entende que o comportamento humano é orientado pelo
cálculo estratégico dos indivíduos ou grupos, que diante das regras do jogo examinam
todas as escolhas possíveis para selecionar aquelas que oferecem benefício máximo.
As instituições afetam os comportamentos ao oferecerem aos atores maior ou menor
certeza sobre a realidade, ao fornecer informações dos comportamentos dos outros
atores, ofertar mecanismos de acordos e penalidades caso os comportamentos não
sejam correspondidos. E, nessa perspectiva, as instituições se mantêm porque os
indivíduos aderem aos modelos na medida em que tendem mais a ganhar do que a
perder com eles.
A segunda perspectiva é a “cultural”, que diferentemente da anterior não
entende o comportamento como algo inteiramente estratégico, uma vez que os atores
estão limitados em suas visões de mundo. E é por essa limitação que eles recorrem
com frequência a protocolos estabelecidos ou modelos de comportamento. Assim, as
instituições afetam o comportamento ao fornecerem modelos morais e cognitivos que
permitem a interpretação e a ação. O indivíduo é compreendido como imerso num
mundo de instituições (símbolos, cenários, protocolos), que fornecem as informações
úteis do ponto de vista estratégico, mas também afetam a sua identidade, a sua
autoimagem, e as preferências que guiam a sua ação. Nesse caso, as instituições se
mantêm porque estão tão arraigadas na coletividade que escapam ao questionamento
individual, e não podem ser facilmente transformadas a partir de ações individuais.
Ainda sob o tipo histórico, é interessante destacar que ele concebe uma
concepção de desenvolvimento histórico particular de cada sociedade, e por isso
forças (institucionais) semelhantes não produzem os mesmos resultados em
diferentes locais, uma vez que cada contexto traz propriedades herdadas do passado.
O segundo tipo de neoinstitucionalismo, o da escolha racional, teve origem
nos estudos sobre comportamentos no interior do congresso norte-americano. Os
teóricos buscavam explicar como os regulamentos do congresso afetavam o
comportamento dos legisladores e porque foram adotados. A partir dos anos 1990
esses teóricos interessaram-se também pela explicação de outros fenômenos
políticos, como o comportamento das coalizões, o desenvolvimento histórico das
instituições políticas e os conflitos étnicos. Embora existam muitas diferenças entre os
35
teóricos dessa mesma vertente é possível apontar similitudes: postulam que os atores
compartilham um conjunto determinado de preferências ou de gostos e comportam-
se de modo inteiramente utilitário para satisfazerem suas preferências, lançando mão
de estratégias de ação calculadas com base no provável comportamento dos outros
atores. A vida política é considerada como uma série de dilemas de ação coletiva, em
que os indivíduos agem escolhendo sempre o que maximiza suas satisfações. A
origem das instituições é explicada a partir das funções por elas desempenhadas e
do valor atribuído a estas funções pelos atores que estão sob a influência de tais
instituições. Assim, os atores criam essa estrutura, em um acordo voluntário, de modo
a realizar esse valor. Quando há algum processo de seleção competitiva entre
instituições, a permanência de uma delas está ligada ao fato dela oferecer mais
benefícios aos atores interessados do que as outras formas institucionais
concorrentes.
O terceiro tipo de neoinstitucionalismo, na classificação de Hall e Taylor
(2003), é o sociológico, que tem origem na Teoria das Organizações. Nesta visão, as
formas e procedimentos das instituições não são adotados simplesmente porque são
mais eficazes, ou por outras razões racionais; e sim, em decorrência de práticas
culturais, comparáveis aos mitos e cerimônias. Para essa vertente, a prática
aparentemente burocrática ganha explicação em termos culturalistas e as instituições
são entendidas de maneira muito mais abrangente, incluindo regras, procedimentos,
normas formais, mas também os sistemas de símbolos, os esquemas cognitivos e
modelos morais que fornecem padrões de significação e guiam a ação humana. É um
enfoque que tende a redefinir “cultura” como sinônimo de “instituições”, o que amplia
a capacidade de entendimento, mas traz problemas metodológicos caros aos
cientistas políticos, na análise da relação entre instituições e ação individual. Uma
forma de resolver essa questão é entender que às instituições formais atribuem-se
“papéis” aos quais se vinculam “normas” prescritivas. Essas “normas” seriam o sentido
ampliado de instituições, ao qual estes teóricos se referem. Os indivíduos, através da
socialização, internalizam esses papeis e são levados a desempenhá-los, e desse
modo as instituições afetariam os seus comportamentos.
Outra forma de influenciar o comportamento é pela compreensão cognitiva,
em que as instituições fornecem esquemas, categorias e modelos cognitivos sem os
quais seria impossível os indivíduos interpretarem e interagirem com mundo e com o
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comportamento dos outros atores. Assim, para estabelecer sua ação, o indivíduo
utiliza os modelos disponíveis, mas ao mesmo tempo os confecciona, não de modo
intencional (como a perspectiva da escolha racional), ou irracional; mas considerando
que sua intencionalidade é socialmente construída.
Na perspectiva sociológica, o surgimento das instituições, diferente da
perspectiva racional na qual elas surgem como estratégias intencionais, reside nas
organizações que têm valor largamente reconhecido em um ambiente cultural, e
adotam formas e práticas institucionais. Nesse âmbito, alguns institucionalistas
sociológicos enfatizam o Estado regulador como autoridade importante para o
reconhecimento de determinadas instituições, outros destacam a profissionalização
de algumas esferas de atividade, nas quais estes atores conseguem uma autoridade
cultural suficiente para impor a outros membros normas e práticas. Já outros
defendem que práticas institucionais comuns tem origem em processos de discussão
interpretativo de atores de uma dada rede.
O potencial analítico e as fragilidades de cada uma das três vertentes do
neoinstitucionalismo são detalhadas com maior profundidade por Hall e Taylor (2003).
Os autores sustentam que os três tipos estão à disposição das Ciências Políticas, que
pode fazer uso desses aportes, inclusive com o intercâmbio entre si – e no caso desta
tese, como ficará mais claro adiante, haverá maior proximidade com o tipo histórico.
Afinal, embora partam de alguns princípios bastante díspares, cada uma dessas
vertentes parece revelar aspectos importantes do comportamento humano e do
impacto que as instituições podem ter sobre ele.
Em comum, as vertentes têm a retomada das instituições (para além dos
indivíduos e de grupos de interesse) como instâncias importantes na
conformação/dinâmica da sociedade, e a tentativa de explicar como indivíduos e
grupos perseguem seus projetos em um contexto coletivamente constrangido. Admite-
se que o ambiente é constrangido por normas e papéis socialmente construídos, mas
acredita-se que esse ambiente pode ser criado e recriado continuamente, devendo
considerar que neste processo, as restrições favorecem alguns indivíduos a partir de
uma distribuição desigual de recursos de poder a indivíduos/grupos que fazem parte
das instituições (NASCIMENTO, 2009).
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ela, embora os dois fenômenos tendam reforçar um ao outro, tratá-los como se fossem
iguais ofusca algumas questões analíticas cruciais. A linha que divide uma instituição
e uma norma se torna extremamente tênue se somente a natureza da regra for
considerada. Logicamente as normas existem e surtem efeitos práticos, pois há uma
tendência à existência de sanções contra aqueles que as descumprem. Mas, em sua
maioria o cumprimento das normas se dá por importantes incentivos e desincentivos
de natureza cognitiva e social.
As instituições, por outro lado, mais do que normas, contêm um aspecto
legal e assentam-se em uma estrutura relativamente clara de implementação de
decisões. Em tais estruturas, nota-se também uma equipe de pessoas, com uma
divisão de trabalho entre elas, sendo algumas delas responsáveis pelo monitoramento
do comportamento institucional, e outras (ou as mesmas) responsáveis pela sanção
aos que as desobedecem. Assim, a autora enfatiza que não só as estruturas devam
ser consideradas, mas também as normas e regras produzidas por elas, criticando as
análises nas quais prevalecem as regras, pois estas tendem a obscurecer variações
observáveis entre diferentes tipos de instituições.
A autora reforça a importância de considerar que existem diferentes
instituições e cada qual deve ser observada em seu lugar como produtoras de
normativas e poder decisório. O termo instituições pode referir-se a uma gama de
estruturas e procedimentos, tais como famílias, empresas, escolas, hospitais, prisões,
cortes, legislaturas, mercados e ao Estado como um todo. Mas se a todas essas
formas de organização social são tratadas com o mesmo nome, pode dar a entender
que são todas exemplos do mesmo fenômeno e tratá-las como algo similar torna
qualquer análise imprecisa.
Em seus estudos sobre mudanças institucionais Margaret Levi frisa a
extrema necessidade de estabelecer um critério de definição claro, ou ao menos de
tipologias de instituições, que considerem aspectos tais como: o número de pessoas
que são abarcadas pelas regras institucionais, pelos comportamentos definidos pelas
regras e pela extensão em que a implementação das regras internas de uma
instituição é dependente do poder de uma outra. Ela chama a atenção para o fato de
que instituições similares vão dispor de diferentes arranjos para monitoração e
implementação de decisões dependendo de seu âmbito e propósito. Por exemplo,
uma família pode exigir que suas crianças estejam em casa a uma determinada hora,
40
mas isso não se compara ao toque de recolher para uma população inteira. Isto não
quer dizer que falte poder substantivo à família perante seus membros, mas sim que
suas prerrogativas são qualitativamente e quantitativamente diferentes das do Estado.
As instituições do Estado, demandam mecanismos mais elaborados de coordenação,
entrega de serviços e implementação e mais recursos.
Em seu estudo Levi focaliza o subconjunto de instituições formais, como o
Estado, hospitais, instalações educacionais, empresas e as caracteriza por arranjos
formais de agregação de indivíduos e de regulação comportamental, que mediante o
uso de regras explícitas e de processos decisórios, são implementados por um ator
ou um conjunto de atores formalmente reconhecidos como portadores deste poder.
As regras podem ser escritas e tidas como lei, ou representar acordos verbais ou
costumeiros, a depender de cada instituição. De todo modo, são explícitas,
publicizadas, estáveis e possuem mecanismos internos de implementação.
A disposição sobre as regras, além de uma hierarquização de pessoal na
instituição, é o elemento que distingue as instituições formais de outros arranjos
organizacionais e de normas, que também regulam comportamentos através do uso
de incentivos e desincentivos, mas não como as instituições enfocadas pela autora.
Desse modo, essa definição exclui os costumes e a cultura, ainda que estes possam
regular "interações repetitivas entre indivíduos" (LEVI, 1991, p. 82). Grupos de
interesse e pressão e movimentos de protesto, nos limites propostos, não podem ser
denominados de instituições, ainda que possam afetar o curso de certos
acontecimentos. Isso porque, no âmbito desta definição, eles não possuem meios
para determinar as decisões daqueles que lhes interessam influenciar, e dispõem,
muitas vezes, de uma natureza transitória, ao invés de estável ou durável. Claro, não
é excluída a possibilidade de que algumas organizações de ação coletiva possam ser
institucionalizadas, refletindo assim, o desenvolvimento de uma hierarquia e de uma
permanência relativa.
Outro elemento para definição de instituições utilizado pela autora é o
aspecto da distribuição de poder. As instituições formais, além de possuírem
hierarquias internas de implementação e de tomadas de decisões, são capazes
também de estabelecer e ratificar o poder coercitivo de certos membros da sociedade
em relação a outros. Este poder é exercido na distribuição de serviços, na
coordenação das ações de indivíduos com interesses comuns, na manutenção de
41
Como será explicitado adiante, o SNC, para além de uma ação estatal que
tinha como atrativos elementos indutores (como a promessa de repasse de fundos –
e, vale pontuar, que nunca foram efetivados de fato), ou seja, elementos de barganha
entre as diferentes unidades de governo, constituiu-se também por um grande
47
6 O federalismo pode ter diversas tendências. Em suma, ele pode concentrar mais poder na esfera da
União (modelo centralizado), ou conceder muita independência às unidades federativas (modelo
dual), ou ainda, pode se organizar em ações colaborativas entre unidade central e unidades
51
descentralizadas (modelo cooperativo), numa disposição em que há algum grau intervenção do poder
central nas demais instâncias de governo, mas estas detêm significativa autonomia decisória e
capacidade própria de financiamento. Este último modelo seria a concepção adotada no Brasil após
a CF88. (ALMEIDA, 1995).
52
Portanto, o SNC é uma política que espelha a lógica federativa, mas ainda
não dispõe de firmes mecanismos regulatórios e de indução, pois falta a peça de
regulamentação, o mecanismo de repasse de fundos e a criação da CIT – fundamental
para integração dos entes e por tecer parâmetros e regramentos operacionais
atribuições pelos agentes locais – num processo que Barbalho (2019) chamou de
hegemonização da proposta do SNC. O autor, identificou recorrentes discursos, tanto
de gestores como de agentes da sociedade civil, em defesa da política, associando-
a com as ideias de participação/democracia, institucionalização e financiamento. A
produção desse consenso se faz importante, uma vez que o cenário que se desenha
na implantação dos sistemas é a disputa entre as novas instituições propostas pelo
SNC, com outras já arraigadas, que não parecem ser amplamente associadas a tais
valores identificados pelo autor. Esse embate ocorre, inclusive, entre membros do
próprio Estado (não somente entre membros da sociedade civil e Estado), quando
alguns preferem a lógica institucional vigente, e outros optam pelas mudanças.
Essa argumentação faz muito sentido ao observarmos as constatações de
Rocha (2018), em seu relato sobre as dificuldades da implantação do SNC dentro do
próprio Ministério da Cultura, no enfrentamento de resistências político-institucionais
que não compactuavam com a criação de estruturas que visam a descentralização ou
o partilhamento de poder com a sociedade civil. Para além do Ministério, outras
instituições do executivo, como a Casa Civil, ou o Legislativo, lidaram e ainda lidam
de forma bastante conturbada com a criação das novas instituições propostas.
Se essa disputa ocorre na esfera da União, mais estruturada, supõe-se que
nos municípios os processos sejam ainda mais complexos. Isso porque o modelo de
gestão é uma proposta exógena (embora muitos dos munícipes tenham internalizado
o discurso do SNC, em períodos posteriores), que desestrutura as instituições
arraigadas no campo da cultura nas localidades. Não raro, historicamente, as
instituições responsáveis pelas políticas de cultura são utilizadas como estratégia
personalista de elites políticas locais, direcionada a determinados atores dos quais se
espera uma contrapartida de favores. Ou ainda, grandes shows públicos que
funcionam praticamente como comícios. Os processos de criação e manutenção de
novas instituições da política cultural nesses contextos locais e se e como elas
passam a afetar as dinâmicas sociais é um dos pontos importantes desta pesquisa.
A complexidade do fenômeno está no fato de que o SNC, ao estabelecer
estruturas para institucionalização de políticas culturais municipais, tenta conduzir
comportamentos locais, alterando-os em direção, ao menos em tese, à garantia de
políticas culturais mais democráticas. Alguns agentes orientam seus comportamentos
nessa proposta, e tentam criar e manter estas instituições, mas em um ambiente
61
geral. As definições das instituições, suas competências e orientações para sua instauração estão
estabelecidas em cartilhas e outros documentos oficiais, que por sua vez conduzem ao
estabelecimento de SMCs através de leis municipais, estas sim, normativas formais.
62
12O modelo de lei deve ser adaptado pelo ente federado, tendo em vista suas demandas institucionais.
Por exemplo, alguns municípios já dispõem de conselhos ou fundos em lei. Neste caso, a lei de
criação do sistema pode apenas fazer referência a elas, e mencionar as articulações institucionais
que agora farão parte dessas instâncias. Pode também aproveitar para revogar e reformular algum
dispositivo que contrarie a proposta do SNC. Em outros casos, os municípios já dispõem de um
conjunto de legislação sobre algum segmento da cultural, como patrimônio cultural, e isso pode ser
incluído em seu sistema de cultura se assim o desejarem. Os municípios também podem diversificar
as fontes de recursos do sistema de financiamento, desde que disponham sobre o fundo e sua
articulação com o conselho e plano.
68
14 Só instituído em 2007.
74
15
Informações disponíveis em: http://portalsnc.cultura.gov.br/capacitacao. Acesso em: 15 maio 2019.
16Os cursos ocorreram frequentemente, até o ano de 2018, segundo relatório de monitoramento do
PNC, meta 36 (http://pnc.cultura.gov.br/).
76
traziam conteúdos conceituais sobre cultura e políticas culturais, mas também sobre
sistemas de cultura, suas instituições integrantes e atribuições. O público, formado
preferencialmente por gestores, era estimulado a conduzir a implementação em suas
esferas de atuação municipais e estaduais.
Com vistas à realização da II CNC em março de 2010, foram realizadas
previamente as etapas de conferências municipais e estaduais. Segundo o Relatório
da II CNC, o evento:
[...] eu queria dizer uma coisa aqui que pode surpreender: na minha
administração foi aprovado o atual Sistema Nacional de Cultura, mas eu não
sou um defensor do projeto que foi aprovado. O problema de gestão
compartilhada é que às vezes você tem que engolir aracnídeos e sapos... é
simples compreender de que é preciso avançar muito, que o projeto foi
mistificado e não tem eficiência. Vocês viram que muita gente reclamou,
principalmente na reunião com os secretários, fizeram o dever de casa e não
aconteceu nada...fizeram o conselho, fizeram não sei o quê... porque, o
79
Rocha (2018) relata o conjunto de iniciativas adotadas pela SAI para incutir
as novas perspectivas que se pretendia para o SNC. Elas se dividiam em três frentes
de ações: o Programa Nacional de Qualificação da Gestão e Fortalecimento do
Sistema Nacional de Cultura; a Consolidação do Sistema de Participação Social do
Ministério da Cultura; e a Política de incentivo a ações sistêmicas.
A despeito do desconforto do ministro em relação à política, da tentativa de
reformulação conceitual e do esvaziamento de servidores da SAI, as ações referentes
ao SNC foram continuadas. Como exemplos, é possível mencionar o processo
eleitoral do CNPC em 2015 e em 2016, o debate de um novo PL de regulamentação
do SNC pelo Legislativo. Tratava-se do PL 4271/2016, apresentado em fevereiro pelo
deputado João Derly (Rede/RS). Apesar de algumas diferenças daquele que estava
sendo elaborado pelo Ministério da Cultura, a peça foi embasada, dentre outras
fontes, no documento básico Estruturação, Institucionalização e Implementação do
SNC. Mais efetivo que o anterior na proposta de regulamentar o Sistema, o PL
inclusive apontava a saída para a regulamentação do fundo, através de decreto
(ROCHA, 2018).
Também estava sendo planejado um novo Ciclo de Oficinas de
Implementação de Sistemas Municipais de Cultura, num projeto que previa a
promoção de 16 oficinas entre os meses de março e dezembro de 2016 (BEZERRA,
2017). Entretanto, essa ação, assim como toda a condução de Juca Ferreira e Vinícius
Wu relacionadas ao SNC, foi interrompida com o afastamento da então presidente
Dilma Rousseff, pelo Congresso Nacional.
políticos da pasta. Isso porque, sob o discurso de crise financeira e excesso de gastos
públicos, a cultura foi uma das primeiras agendas vistas como dispensáveis pelo
Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), partido do então presidente
interino, Michel Temer. É possível notar em suas propostas de governo “Uma ponte
para o futuro” (FUNDAÇÃO ULYSSES GUIMARÃES, 2105) e “A travessia social”
(FUNDAÇÃO ULYSSES GUIMARÃES, 2016), a ausência de propostas para as
políticas culturais e para processos participativos e de cogestão, os quais compunham
o cerne da política do SNC.
Ainda na condição de presidente interino, Temer exonerou os secretários e
o próprio ministro da cultura (BEZERRA, 2017). Por meio da Medida Provisória (MP)
nº 726, em 12 de maio de 2016, que reformulava a organização dos ministérios,
extinguiu o Ministério da Cultura, transformando-o em uma Secretaria do Ministério da
Educação – passou a ser Ministério da Educação e Cultura. À frente desse ministério
foi designado o ex-deputado do José Mendonça Filho (DEM-PE), que não possuía
nem um vínculo anterior com a área das políticas ou gestão culturais.
A medida causou imensa insatisfação da classe cultural e artística que
protestou por todo o território, com movimentos de ocupação de prédios da
administração do Ministério da Cultura em vários estados. Gestores Públicos também
demonstraram seu descontentamento em duas cartas manifestos, uma do Fórum
Nacional de Secretários e Dirigentes Municipais de Cultura das Capitais e Regiões
Metropolitanas e outra do Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais de
Cultura; expondo preocupações relacionadas à descontinuidade das políticas,
inclusive as relativas ao SNC.
Diante da pressão, o governo começou a sinalizar que a área da cultura,
ainda que pertencente ao Ministério da Educação, seria uma Secretaria vinculada
diretamente à presidência, tornando-se uma Secretaria Nacional de Cultura e teria a
frente uma representação feminina, em resposta às críticas que vinha recebendo por
um governo composto maciçamente por homens. Cogitou-se também vinculá-la à
Casa Civil. Tais propostas não detiveram o avanço das contestações e mais prédios
ligados ao Ministério da Cultural foram ocupados.
Como medida estratégica para amenizar as insatisfações de gestões e
agentes culturais na área, Michel Temer convidou Marcelo Calero – na época
secretário municipal de cultura do Rio de Janeiro – para secretário. Calero aceitou o
82
Especial da Cultura passou para o Ministério do Turismo, algo que só veio a ser
regulamentado tempos depois, pelo Decreto nº10.359 de 20 de maio de 2020, que
estruturava o órgão dentro desse Ministério. Nesse novo ato normativo o
Departamento do Sistema Nacional de Cultura ficou alocado na Secretaria Nacional
da Economia Criativa e Diversidade Cultural, uma das cinco secretarias que passaram
a compor a Secretaria Especial da Cultura.
Nesse período de transição é difícil encontrar informações sobre os
responsáveis pelo setor, o que foi feito na busca pelas nomeações e exonerações
constantes no Diário Oficial da União. Foi possível traçar o quadro abaixo, com
gestores advogados, com nenhuma atuação anterior na área da cultura, políticas
culturais ou no SNC:
Fonte: Elaboração da autora com base no Sistema de Informações e Indicadores Culturais 2009-2020.
17
18
A Articulação Nacional de Emergência Cultura reuniu gestores culturais e assessorias parlamentares.
O movimento resultou na organização da Escola de Políticas Culturais e no Observatório Emergência
Cultural, com uma série de conferências e reuniões virtuais em prol da aplicação da LAB. (ESCOLA
DE POLÍTICAS CULTURAIS, sd).
87
Paulo Gustavo19. E ainda, a própria LAB, que teve seus prazos ampliados pela Lei nº
14.150/2021.
Tanto a LAB quanto a movimentação em torno do PL Paulo Gustavo
reanimaram os esforços para continuidade e regulamentação do SNC. Inclusive, estes
episódios lançaram luz a quatro projetos de leis que tramitavam no legislativo tendo
em seu conteúdo políticas de cultura e o SNC. Trata-se dos PLs nº 9.474/2018, nº
1.801/2019, nº 1.971/2019; nº 4.884/2020. O primeiro destes, proposto pelo deputado
Chico D’Angelo (PDT/RJ), visava estabelecer as diretrizes para a política cultural e
para a garantia dos direitos culturais. Foi apresentado em 06/05/2018, e tinha parte
de seu conteúdo, não muito extensa, dedicada ao SNC. Em 15/04/2019, foi
apensando a ele o PL nº 1.801/2019 de autoria de Luiz Lima (PSL/RJ) apresentado
em 27/03/2019, objetivando especificamente regulamentar o §3º do art. 216-A da
CF88, ou seja, o SNC.
Em 21/11/2019, ao primeiro PL do deputado Chico D’Angelo foi apensado
o PL nº 1.971/2019, também de sua autoria, que visava especificamente
“Regulamentar o §3º do art. 216-A da Constituição Federal, para dispor sobre o
Sistema Nacional de Cultura” e foi apresentado à Câmara em 02/04/2019. Por último
foi apensado também o PL nº 4.884/2020, que dispunha sobre a ampliação do prazo
de vigência do Plano Nacional de Cultura, apresentado em 09/10/2020 pelo próprio
Poder Executivo. Este último foi despachado em 22/12/2020 pela Mesa Diretora da
Câmara dos Deputados: “Apense-se à (ao) PL-9474/2018". Em decorrência dessa
apensação, a matéria passou a tramitar em regime de prioridade: “Proposição Sujeita
à Apreciação Conclusiva pelas Comissões - Art. 24 II. Regime de Tramitação:
Prioridade (Art. 151, II, RICD)”.
O PL nº 9.474/2018, de Chico D’Angelo, tendo em si apensados os PL nº
1801/2019, 1.971/2019 e nº 4.884/2020 continua tramitando, com relatoria da
19O PL Paulo Gustavo sancionado em julho de 2022, quase ao final da redação deste trabalho, e vale
destacar o trecho de sua redação que reforça o SNC: “As ações executadas por meio desta Lei
Complementar serão realizadas em consonância com o Sistema Nacional de Cultura, organizado em
regime de colaboração, de forma descentralizada e participativa, conforme disposto no art. 216-A da
Constituição Federal, notadamente em relação à pactuação entre os entes da Federação e a
sociedade civil no processo de gestão dos recursos oriundos desta Lei Complementar” (parágrafo
único, art.1º, LC 195/2022) e “Art. 4º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que receberem
recursos oriundos desta Lei Complementar deverão comprometer-se a fortalecer os sistemas
estaduais, distrital e municipais de cultura existentes ou, se inexistentes, implantá-los, com a
instituição dos conselhos, dos planos e dos fundos estaduais, distrital e municipais de cultura, nos
termos do art. 216-A da Constituição Federal” (parágrafo 4º, LC 195/2022).
90
deputada Benedita da Silva, que também foi autora (junto com outros 24 deputados
federais que tiveram suas iniciativas apensadas ao mesmo PL) da LAB. Sua última
movimentação foi em 27/04/2022, após ter sido remetido para análise da Comissão
de Constituição e Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados dos deputados em
23/06/2021. Na última manifestação ele teve designação de relatora dentro desta
comissão. A matéria segue recebendo contribuições de gestores e agentes culturais,
inclusive tendo já recebido texto substitutivo, e na expectativa de aprovação pelo
Congresso Nacional.
complexidade econômica, concentrando suas atividades nesse ramo, que tal como
demais commodities, fica sujeito a fatores do mercado econômico externo – e em
2015 observou-se queda do preço dos barris de petróleo, impactando os
investimentos desse setor.
O documento demonstra em números que, de forma isolada, a trajetória
fluminense apresenta um padrão de crescimento até 2014, e isso pode aparentar um
processo de “bonança”. Porém, esse desempenho é muito pior que a média nacional.
Além disso, o declive econômico que atingiu todo o país a partir desse período, ocorre
em maior grau no estado do Rio de Janeiro. Assim, de um modo geral, “quando o
Brasil vai bem, o ERJ vai menos bem; e quando Brasil vai mal, o ERJ vai pior” (ERJ,
2021, p.19).
Torna-se claro o argumento de que o declínio econômico sobre a região
impacta diretamente na arrecadação fiscal pelos governos em ambos os níveis.
Embora não caiba entrar em detalhes nesta tese, outros estudos acrescentam
elementos a esse argumento, dizendo que o cálculo fiscal entre receitas e despesas
apresenta déficit de ordem estrutural, para além da queda das receitas decorrente da
recessão econômica (MERCÊS; FREIRE, 2017).
O impacto orçamentário no estado do Rio de Janeiro e nos municípios
fluminenses é especialmente afetado pela redução das participações governamentais
(como royalties e participações especiais) relacionadas à atividade de exploração do
petróleo. De 2009 a 2013 as receitas governamentais brasileiras foram
crescentemente encorpadas por esses recursos, mas a partir de 2014, notou-se
acentuado decréscimo (ICC/TCU, 2019). No âmbito dos governos fluminenses –
estadual e municipais, há uma grande dependência das participações governamentais
na composição do orçamento público e a queda dessas receitas põe as gestões
públicas em situação de crise (CENPE/MPRJ, 2020).
Embora o cenário econômico das gestões públicas não seja objeto de
análise nesta tese é importante considerá-lo como pano de fundo para observar a
criação das instituições públicas de cultura vinculadas ao SNC. A política do SNC
perpassa os anos da aparente bonança da arrecadação no estado fluminense,
seguidos dos anos de crise fiscal. As políticas setoriais, sobretudo as menos visadas
e sem a obrigatoriedade constitucional de terem mecanismos de incentivos federais –
92
Foi a partir das mobilizações para II CEC que a SEC/RJ deu início ao
processo de construção participativa do seu Plano Estadual de Cultura. Mesmo que o
processo tenha sido permeado por percalços e com outras políticas contrárias às
práticas democráticas, como descrevem Amorim e Borges (2019), as ações para
elaboração de um plano estadual, iniciadas em 2009, foram vagarosamente
continuadas. Encontros e debates em vários municípios fluminenses ocorreram para
a elaboração de um diagnóstico estadual da cultura. As demandas foram registradas
e sistematizadas, nas publicações “Notas para um diagnóstico preliminar”, com um
caderno para cada região fluminense (SEC/RJ, 2010).
Apesar de períodos de interrupção, a partir de abril de 2012, foram
realizadas audiências e consultas públicas para definir as diretrizes prioritárias que
orientariam a construção de planos setoriais de cultura. A escuta se deu com a equipe
percorrendo novamente de forma presencial os 92 municípios do estado, bem como
através de consulta on-line, para composição de um diagnóstico da cultura
fluminense. Com base nesse material foi produzido o texto-base da Lei do Plano
Estadual de Cultura, compondo a minuta para consulta pública apresentada e
distribuída em janeiro de 2013, para segunda rodada de discussões. Em dezembro
daquele ano, a minuta da Lei do Sistema Estadual de Cultura, tendo como anexo o
Plano Estadual de Cultura foi encaminhada à Casa Civil do Governo do estado do Rio
de Janeiro, onde permaneceu por um período de um ano e meio, até meados de 2015.
A paralisia (ou “engavetamento") da lei por este longo período decorreu por
consequência dos trechos que tratavam sobre incentivos fiscais para a cultura, algo
que era objeto de disputa pela Casa Civil. De acordo com Amorim e Borges (2019),
esse fato ilustra a falta de força política da pasta.
Em meio ao histórico fluminense também é importante destacar o
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Cultural do Estado do Rio de Janeiro
(PADEC), fruto de um convênio entre a SEC/RJ e o Ministério da Cultura, celebrado
em 2010. Foi criado a partir do diagnóstico preliminar iniciado em 2009, com a
proposta de apoiar projetos de qualificação da gestão pública de cultura. Dentre eles
estavam o fomento de infraestrutura e patrimônio cultural para os municípios e
95
(conclusão)
21A exemplo da inserção de Emendas Modificativas (nº 5.184 e nº 5.185) e Emenda nº5.179 à Lei
Orçamentária Anual de 2022, que visam apoiar e fortalecer o Sistema Estadual de Cultura, inclusive
prevendo repasse do Fundo Estadual aos municípios fluminenses.
100
possível observar que o Rio de Janeiro é um dos que mais se destacam na quantidade
de instituições municipais relacionadas ao SMC, como conselhos, planos e fundos,
conforme ilustrado no quadro abaixo:
(continua)
Quadro 4 - Grupos investigados nesta pesquisa
Grupo Descrição
Composto pelos municípios com publicação do ACF até março de 2015,
que é o período em que se encerrou a coleta de dados da MUNIC 2014.
Neste caso, a MUNIC 2006 viabiliza a análise “antes” e a MUNIC 2014,
o “depois”, auferindo a quantidade de municípios deste grupo que se
comportou em conformidade com as diretrizes do SNC ao criarem as
Grupo A (GA)
instituições de um SMC. O parâmetro de comparação é o Grupo Controle
A (GCA), composto pelos municípios que não aderiram ao SNC até
março de 2015. Observa-se em que medida o comportamento destes
municípios sem indução da política se aproximam dos mesmos
resultados alcançados pelos municípios que receberam a indução.
Composto pelos municípios que aderiram ao SNC entre abril de 2015 e
setembro de 2018, período em que foi encerrada a coleta de dados da
MUNIC 2018. Desse modo, a MUNIC 2014 viabiliza a análise “antes” da
Grupo B (GB)
adesão e a MUNIC 2018 viabiliza a análise “depois”. O Grupo Controle
de B (GCB) é composto pelos municípios que não aderiram ao SNC até
setembro de 2018
(conclusão)
Composta pelos mesmos municípios do GA, mas de forma a estender a
análise do comportamento destes até a MUNIC 2018. É importante frisar
Análise
que, neste caso, o Grupo Controle não é o GCA, pois este perdeu
longitudinal do
municípios que aderiram à política a partir de abril de 2015. Este Grupo
GA (GA long)
Controle é composto pelos municípios que não aderiram ao SNC até
setembro de 2018 (período do fim da coleta da MUNIC 2018)
Fonte: Elaborada da autora. .
24 Lei nº 11.304/1995.
25 São Luís Gonzaga do Maranhão (MA) e São João da Ponte (MG).
26 Mojuí dos Campos (PA), Nazária (PI), Pescaria Brava (SC), Balneário Rincão (SC), Pinto Bandeira
setor subordinado a outra secretaria, ou, setor subordinado à chefia do executivo. Se não há no
município nenhuma dessas estruturas, considera-se que não há estrutura para a cultura.
108
(conclusão)
não exclusivo -20,1 -16,3 -17,6 -28,6 -22,2 -26,1
não há 1,3 4,0 3,1 1,8 2,8 2,2
Atendimento à expectativa
(aumento de estruturas
17,6 8,2 11,5 25,0 16,7 21,7
exclusivas + redução de
inexistência)
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015) e SNC (2021).
-20,0
-17,6 -16,3
-20,1 -22,2
-30,0 -26,1
-28,6
-40,0
Fonte: Elaboração a autora , com base em IBGE (2007, 2015) e SNC (2021).
5,0
0,0
Brasil (total) GA Brasil GCA Brasil Rio (total) GA Rio GCA Rio
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015) e SNC (2021).
estruturas exclusivas, embora também haja pequena diminuição nos municípios que
declaravam a inexistência de qualquer estrutura para área da cultura.
A tabela abaixo demonstra que na situação inicial (2014) da política, tal
como no período anterior, é maior a existência de estruturas exclusivas nos municípios
que aderem ao SNC em comparação aos que não aderem, seja no Brasil, seja no Rio
de Janeiro. Porém ao longo do tempo, em números relativos, é maior a extinção desse
tipo de estrutura entre os municípios que aderiram, quando comparado aos Grupos
Controle.
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2015, 2019) e SNC (2021).
10,0 8,7
5,9 6,3 7,0 5,6
5,0
0,0
0,0
exclusivo não exclusivo não há
-1,5 -1,8 -1,9
-5,0 -2,2
-4,8 -5,3 -3,7 -5,9 -5,3
-10,0 -6,5
-10,5
-15,0
Brasil (total) GB Brasil GCB Brasil Rio (total) GB Rio GCB Rio
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2015, 2019) e SNC (2021).
O gráfico abaixo demonstra que os grupos que optaram pela adesão não
se comportaram de modo a atender à expectativa da política, qual era a de criar
estruturas exclusivas e reduzir a inexistência. O mesmo comportamento é observado
no GC. No caso dos municípios fluminenses que não aderiram, houve um
comportamento atípico em relação aos demais, de atendimento à expectativa.
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2015, 2019) e SNC (2021).
112
(conclusão)
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
114
Gráfico 8- Tipo de órgão gestor dos municípios brasileiros que não aderiram
ao SNC, 2006-2014-2018 (%)
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
Gráfico 10- Tipo de órgão gestor dos municípios brasileiros que não aderiram
ao SNC, 2006-2014-2018 (%)
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
Brasil (total) GA Brasil long GCA Brasil long Rio (total) GA Rio long GCA Rio long
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
Brasil (total) GA Brasil long GCA Brasil long Rio GA Rio long GCA Rio long
(total)
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
31Os conselhos anteriores a 2002, em geral, apresentavam formato não paritário e/ou de conselheiros
representantes da sociedade civil não eleitos e sim indicados pela gestão. A esse respeito ver, entre
outros, Rubim, Fernandes e Rubim (2010).
119
0,0 -0,9
anterior a 2002
-2,2 entre 2003 e 2010 posterior a 2011 não há
-10,0 -4,5
-7,6-8,9-5,6
-20,0 -14,3
-21,6
-30,0
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015) e SNC (2021).
Gráfico 14- Atendimento à expectativa gerada pela política, de 2006 a 2014 (%)
– conselhos de cultura
30,0 23,8
20,0 15,2
10,0
0,0
Brasil (total) GA Brasil GCA Brasil Rio (total) GA Rio GCA Rio
Fonte: Elaboração do autora, com base em IBGE (2007, 2015) e SNC (2021).
120
conselhos em todos os grupos, é notável que entre os que aderiram à política é maior
o crescimento de conselhos posteriores a 2011.
20 18,1
15,8
15
9,8 10,5
10 7,8
5,9 5,9
4,1
5
0 -0,4
anterior
-0,9 a 2002 entre 2003 e 2010 posterior a 2011 não-1,1
há
-5 -1,6 -2,0-1,1 -1,4
-3,2 -3,6
-5,9 -6,2 -5,9
-10
-8,7 -9,7
-10,5
-15
-20
-21,1
-25
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2015, 2019) e SNC (2021).
Gráfico 16- Atendimento à expectativa gerada pela política, de 2014 a 2018 (%)
– conselhos de cultura
6
4,5
4
1,8
2
0,0
0
Brasil (total) GB Brasil GCB Brasil Rio (total) GB Rio GCB Rio
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2015; 2019) e SNC (2021).
(conclusão)
anterior a 2002 8,2 6,0 7,1 16,1 17,6 19,6
entre 2003 e 2010 25,2 13,5 18,3 30,4 29,4 32,6
posterior a 2011 24,5 5,2 12,6 30,4 5,9 21,7
não informa ano 0,4 0,5 0,5 0,0 0,0 0,0
não há 41,7 74,8 61,4 23,2 47,1 26,1
Período final (MUNIC 2018)
anterior a 2002 6,9 5,5 6,2 10,7 11,8 10,9
entre 2003 e 2010 21,0 11,6 15,2 33,9 23,5 31,5
posterior a 2011 34,4 9,3 20,4 39,3 11,8 31,5
não informa ano 0,9 0,1 0,4 0,0 0,0 1,1
não há 36,8 73,5 57,8 16,1 52,9 25,0
Desempenho 1º período
(2014-2006)
anterior a 2002 -4,5 -0,4 -2,2 -8,9 0,0 -7,6
entre 2003 e 2010 15,0 7,8 10,8 16,1 29,4 22,8
posterior a 2011 24,5 5,2 12,6 30,4 5,9 21,7
não informa ano 0,2 0,3 0,4 0,0 -5,9 -1,1
não há -35,1 -12,8 -21,6 -37,5 -29,4 -35,9
expectativa 1º período 39,6 13,3 23,8 46,4 29,4 43,5
Desempenho 2º período
(2018-2014)
anterior a 2002 -1,3 -0,5 -0,9 -5,4 -5,9 -8,7
entre 2003 e 2010 -4,2 -1,9 -3,2 3,6 -5,9 -1,1
posterior a 2011 9,9 4,1 7,8 8,9 5,9 9,8
não informa ano 0,5 -0,3 -0,1 0,0 0,0 1,1
não há -4,9 -1,4 -3,6 -7,1 5,9 -1,1
expectativa 2º período 6,2 1,9 4,5 12,5 0,0 9,8
Desempenho total (2018-2006)
anterior a 2002 -5,8 -1,0 -3,1 -14,3 -5,9 -16,3
entre 2003 e 2010 10,8 5,9 7,6 19,6 23,5 21,7
posterior a 2011 34,4 9,3 20,4 39,3 11,8 31,5
não informa ano 0,7 0,0 0,3 0,0 -5,9 0,0
não há -40,0 -14,2 -25,2 -44,6 -23,5 -37,0
expectativa total 45,8 15,2 28,3 58,9 29,4 53,3
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
Gráfico 17- Existência de conselhos nos municípios brasileiros que aderiram ao SNC,
2006-2014-2018 (%)
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
40% 0,0
14,3 30,4 33,9
20%
25,0
16,1 10,7
0%
2006 2014 2018
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
Gráfico 20- Existência de conselhos nos municípios fluminenses que não aderiram ao
SNC, 2006-2014-2018 (%)
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
do SNC estavam mais consolidadas. Nota-se que entre os grupos que aderiram à
política os crescimentos são mais acentuados.
Por último, o gráfico abaixo demonstra que a expectativa gerada pela
política, medida pela redução de conselhos antigos e inexistentes, também se
apresenta como tendência em todos, inclusive entre os municípios que não aderiram.
Porém, é bastante válido destacar que, em longo prazo, GA Brasil supera seu GC em
30,6%, e que GA Rio supera seu Grupo Controle em 29,5%. É um diferencial
relevante, supondo que, de fato, há indução do SNC na criação de conselhos
municipais de cultura.
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007,2015, 2019) e SNC (2021).
inexistência de planos – esse dado acaba por englobar tanto a criação de planos, com
e sem lei, quanto os processos de elaboração.
A análise sobre planos possui limitadores, em decorrência de diferenças
das bases de dados: a de 2006 é mais simplificada que as de 2014 e 2018 32. A
primeira não distingue se os planos de cultura existentes constam em lei, ou não;
nem aborda os processos de elaboração. Em decorrência das diferenças, a análise
do período 2006-2014, teve as variáveis de 2014 primeiramente contabilizadas em
separado, mas em seguida, na avaliação do desempenho, foram simplificadas,
equiparando-se a existência de planos com e sem lei, assim como a ausência de
planos e planos em elaboração.
A análise do período 2006-2014, disposta na tabela abaixo demonstra,
tanto nos dados detalhados de 2014, quanto no desempenho, uma redução de planos
na maioria dos grupos, se comparada à existência de planos de 2006 (exceto no
Grupo Controle do Rio de Janeiro, em que houve um aumento de planos de 2,8%).
32Ao questionarem o gestor sobre a existência de planos municipais, as MUNICs de 2014 e 2018 dão
como alternativas de resposta: a) plano com lei; b) plano sem lei; c) plano em elaboração; d) não há.
As alternativas são excludentes, e por isso a medição da expectativa da política se dará pela a
alternativa “d” diminuída da quantidade de planos declarados inexistentes em 2006. Assim, os grupos
que demonstrarem atendimento à expectativa estarão com planos ou em processo de elaboração,
em 2014.
128
0,0
existência (com ou sem lei)
-2,0 -1,1
-3,2 -1,8
-4,0
-3,9 -3,6
-6,0
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015) e SNC (2021).
33Sobre o papel dos planos de cultura para a política cultural implementada pelo Governo Federal no
período em análise nesta tese ver, entre outros, Rubim (2019).
129
0,0
Brasil (total) GA Brasil GCA Brasil Rio (total) GA Rio GCA Rio
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015) e SNC (2021).
0,0
Brasil (total) GA Brasil GCA Brasil Rio (total) GA Rio GCA Rio
Fonte: Elaboração da autora com base em IBGE (2007, 2015) e SNC (2021).
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2015, 2019) e SNC (2021).
Gráfico 26- Atendimento à expectativa gerada pela política, de 2014 a 2018 (%) -
planos de cultura
Brasil (total) GB Brasil GCB Brasil Rio (total) GB Rio GCB Rio
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2015, 2019) e SNC (2021).
132
Gráfico 27- Acompanhamento dos municípios que declararam plano de cultura "em
elaboração", 2014 a 2018 (%)
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2015, 2019) e SNC (2021).
O gráfico acima demonstra que 75% dos municípios de GB Rio que tinham
plano em elaboração em 2015, concluíram seus processos em 2018. Outros 25%
continuaram em processo de elaboração. De modo contrário, no GC fluminense,
somente 16,7% dos que tinham plano em elaboração conseguiram concluí-lo. Outros
33,3% não concluíram, mas continuaram em processo de elaboração, e 50% regride
a ponto de não declarar nem processo de elaboração, nem plano em 2018.
Comportamento semelhante é identificado no Brasil, em proporções diferentes.
133
(conclusão)
inexistência (em elaboração/não
-5,6 2,7 -0,1 -30,4 5,9 -26,1
há)
expectativa total (redução da
inexistência de planos de 2006 28,9 7,5 17,6 50,0 17,6 46,7
a 2018)
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
20,0
8,1
10,0 5,9
1,1
0,0
Brasil (total) GA Brasil long GCA Brasil long Rio GA Rio long GCA Rio long
(total)
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
Gráfico 29- Comportamento dos planos de cultura (com e sem lei) Brasil e no
Estado do Rio de Janeiro, 2006-2014-2018 (%)
20
10 7,4 5,6
0,7 0,0
-1,8 -3,3 -2,7
0
desempenho 1º período desempenho 2º período desempenho total
-10 -3,6
-5,9 -5,9
Brasil (total) GA Brasil long GCA Brasil long Rio (total) GA Rio long GCA Rio long
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007,2015, 2019) e SNC (2021).
Brasil (total) GA Brasil long GCA Brasil long Rio GA Rio long GCA Rio long
(total)
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
136
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
137
60%
92,3 95,7 95,0
40%
20%
0%
2006 2014 2018
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
20% 48,2
0%
2006 2014 2018
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
leva a crer que a indução do SNC representa sim impacto nas municipalidades no que
se refere a instituição de planos, principalmente em longo prazo, com ainda mais
ênfase no estado do Rio de Janeiro.
Como fica claro no gráfico abaixo, o fenômeno ocorreu com muito mais
intensidade nos grupos que aderiram ao SNC.
141
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
(conclusão)
não possui 64,5 79,2 67,8 57,9 58,8 48,9
Desempenho (2018-2014)
criação de fundos
18,5 9,4 12,3 21,1 17,6 20,7
(expectativa da política)
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
Gráfico 37- Aumento dos fundos de cultura nos municípios brasileiros que
aderiram ao SNC, 2006-2014-2018 (%)
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
Gráfico 38- Aumento dos fundos de cultura nos municípios brasileiros que
não aderiram ao SNC, 2006-2014-2018 (%)
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
Gráfico 39- Aumento dos fundos de cultura nos municípios fluminenses que
aderiram ao SNC, 2006-2014-2018 (%)
80%
60%
40%
53,6
20% 35,7
0% 3,6
2006 2014 2018
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
Gráfico 40- Aumento dos fundos de cultura nos municípios fluminenses que
não aderiram ao SNC, 2006-2014-2018 (%)
80%
60%
40%
20% 41,2
23,5
11,8
0%
2006 2014 2018
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
de 21,8% a mais de criação em relação aos que não aderiram. E entre os municípios
fluminenses que aderiram, houve um percentual maior de 20,6% de criação, se
comparado aos que não aderiram.
Brasil (total) GA Brasil long GCA Brasil long Rio (total) GA Rio long GCA Rio long
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
8,0
6,5
6,0
4,4
4,0 2,8
1,9
2,0
0,5
0,0
Brasil (total) GA Brasil GCA Brasil Rio (total) GA Rio GCA Rio
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015) e SNC (2021).
15,0
11,8
10,0
Brasil (total) GB Brasil GCB Brasil Rio (total) GB Rio GCB Rio
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2015, 2019) e SNC (2021).
148
80%
60%
40%
20%
7,2 14,6
0% 2,8
2006 2014 2018
Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
80%
60%
40%
20%
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007,2015, 2019) e SNC (2021).
Gráfico 46- Comportamento dos CPFs da cultura nos municípios fluminenses que
aderiam ao SNC, 2006-2014-2018 (%)
80%
60%
40%
20% 33,9
10,7
0% 1,8
2006 2014 2018
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
80%
60%
40%
20%
11,8
0% 5,9 0,0
2006 2014 2018
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
Fonte: Elaboração da autora , com base em IBGE (2007, 2015, 2019) e SNC (2021).
34A primeira meta do Plano Nacional de Cultura previa que 60% dos municípios tivessem os sistemas
de cultura institucionalizados e implementados até 2020.
152
cada período e em cada instituição aqui investigada. Assim é possível observar não
só que na grande maioria das ocorrências os municípios que aderiram superam os
GCs, mas também em que medida isso ocorre.
No Brasil os municípios que aderiram sempre superam o Grupo Controle
na instituição de órgãos gestores exclusivos, à exceção do período 2014-2018, em
que GCB teve desempenho superior em 1,7% no atendimento à expectativa da
política. Há que se ressaltar, entretanto, que nessa instituição, os percentuais de
diferença do grupo que apresentou melhor desempenho são baixos, indicando que a
adesão ao SNC exerce pouca influência para indução de criação de órgãos gestores
exclusivos. E, se isso ocorreu num primeiro momento, não se sustentou nos períodos
seguintes.
(conclusão)
35Ressalta-se que para esse levantamento foram consideradas as leis disponíveis na internet, e
comprovadamente publicadas em Diários Oficiais. A indisponibilidade das leis nas redes virtuais não
significa sua inexistência.
156
que declararam o CNPJ dos seus fundos de cultura. Restaram 13 municípios, cuja
escolha se deu aleatoriamente por dois deles: Macaé e São Fidélis.
Compuseram os estudos de caso os municípios destacados no mapa
abaixo:
A seguir serão detalhados cada estudo de caso, com foco nas entrevistas,
e logo após, apresento uma síntese de todos eles, na qual é também abordada a
percepção avaliativa dos impactos ocasionados pela adesão ao SNC.
Fonte: Elaborado pela autora a partir de informações do TSE e do Diário Oficial do município de Barra
Mansa.
38A única escrita equivocada em relação às orientações é o artigo 1º que diz: “O Sistema Municipal de
Cultura norteará as políticas culturais de Barra Mansa por dez anos”; uma confusão de conceitos ou
termos, já que pelas orientações é o Plano que deve ter dez anos.
161
Aspectos conceituais
Para análise dos aspectos conceituais, foi solicitado que os entrevistados
definissem os termos da política, onde foi constatada a proximidade das falas com a
cartilha distribuída pelo Ministério da Cultura. Ambos demonstraram grande domínio
conceitual sobre o SNC e SMC e as instituições que o compõem (órgão gestor,
conselho, conferência, plano e fundo), com apropriação e uso do aparato trazido pela
política, e contido na publicação de governo.
A respeito do SNC e SMC, ambos se associam à ideia de federalismo e
descentralização e ao alinhamento de políticas federal/estadual/nacional, sendo que
G1 sublinha em sua fala, termos como “institucionalização”, “estruturação” e
“desenvolvimento do setor cultural”. Já C1 sublinha a importância da sociedade civil,
e se associa à distribuição justa de recursos para fomento de artistas que não têm
tanta expressão para angariarem recursos da iniciativa privada. Em relação ao órgão
gestor, G1 ressalta a competência de execução das metas do plano, monitoramento,
produção de indicadores e mapeamentos e publicização dessa informação. C1 frisa
a importância do órgão gestor em coordenar o SMC, e dar condições para
funcionamento dos conselhos, conferências e fóruns, tornando mais viável a
participação social.
162
apropriou da lei para fazê-la funcionar, tensionando outras instituições, ainda que esse
tensionamento não tenha sido conflitivo, pois foi criado um contexto favorável
principalmente porque o prefeito da época abraçou a proposta e a transformou em
agenda de governo.
C1, embora tenha se informado sobre o processo de criação, não o
vivenciou, e por isso não quis entrar em detalhes sobre aquilo que não presenciou
diretamente. Mas, de sua fala é importante destacar que “o sistema municipal de
cultura só foi realmente implementado [...] em função de todo esse desdobramento da
galera que veio antes de mim”. Ele afirmou que sua atual conduta de conselheiro só
é possível pela continuidade de uma trajetória anterior.
dos trabalhos, mas por outro, essa ausência crítica deixa de imprimir uma leitura
específica de sua área sobre algo que poderia contribuir. C1 parece confirmar isso
quando diz que não vê enfrentamento com os membros do poder público, apenas que
eles são “mais distantes”. Já entre os membros da sociedade civil, G1 relata que no
passado as relações foram bem conflituosas, mas recentemente passaram a ficar
harmoniosas, sentindo que os conselheiros mesmo nas circunstâncias em que
discordam, se unem para as deliberações finais sempre contribuindo com o outro. De
fato, C1 confirma esse apoio mútuo e relata que eles têm articulados grupos para que
o órgão seja mais representativo e que atentam para as pautas urgentes da
população: “E assim a gente vai caminhando, dando a mão para o outro, cada um traz
a sua demanda, a sua necessidade, e tem funcionado dessa maneira”. Em sua opinião
a relação entre os membros da sociedade civil é de cumplicidade, mesmo que haja
margem para ser ainda melhor.
C1 narrou que no funcionamento do Conselho, os membros se articulam,
buscam o contato com os gestores, convocam reuniões extraordinárias, levam as
questões ao conhecimento público, e tentam chegar a um consenso; e que têm feito
essa mobilização com autonomia:
Eu acredito que nem todos devam gostar de ver a sociedade civil ali ditando
tantas regras, mas dentro do conselho municipal de cultura, em Barra Mansa,
quem manda são os conselheiros, o gestor está ali para direcionar, para
orientar de acordo com as necessidades, dogmas e preceitos da instituição.
Porque também nós temos algumas regras, algumas leis que nós temos que
seguir e isso não dá para fugir. Agora, o que a gente pode fazer através de
mobilização é modificar aquilo que não estiver de acordo com as nossas
necessidades e demonstrar e deixar bem claro que o poder civil está ali e
para se fazer representar e principalmente para ser ouvido, porque não
adianta a gente só falar e ninguém ouvir. Mas a gente tem sido escutado. (C1,
Barra Mansa).
167
por exemplo), para evitar problemas. Ressalto que o C1 demostrou muita seriedade
no que tange às responsabilidades e comprometimentos estabelecidos em um edital,
tanto no que tange à gestão pública, como também com os beneficiários
contemplados.
96,9%, dando-lhe a 68ª posição entre os municípios fluminenses e o IDEB, de 6,3 lhe
concede a 5ª posição40.
Atualmente o município é governado por Welberth Rezende (CIDADANIA),
candidato que foi indicado por Aluízio dos Santos, prefeito anterior. É importante
observar também a enorme troca de gestores na pasta da cultura, que de 2013 a 2022
já contabiliza 8. Ou seja, quase um por ano.
Fonte: Elaborado pela autora, a partir de informações do TSE e do Diário Oficial do município de
Macaé.
Foi no último ano do primeiro governo Aluízio dos Santos Júnior que o
órgão gestor, até então Fundação de Cultura, passou a ser uma Secretaria de Cultura,
sendo Tânia Jardim, anteriormente presidente da Fundação, alçada à secretária de
cultura, em 2016. Esse modelo de órgão gestor se mantem até o momento.
Macaé aderiu ao SNC em 14/12/2012, mas a instauração formal do SMC
só foi efetivada com a aprovação da Lei nº 4.447 de 23/03/2018. O Conselho, no novo
formato, foi instituído pela Lei nº 4.446 de 23/03/2018; o Plano pela Lei nº 4.448 de
28/03/2018 e o Fundo existe desde 2012, com a Lei nº 3.818 de 31/05/2012, mas
nunca foi regulamentado. A lei do SMC é bastante semelhante ao modelo fornecido
40
Informações disponíveis em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rj/macae/panorama. Acesso em: 16
mar. 2022.
171
Aspectos conceituais:
No que tange aos conceitos, os entrevistados mostraram domínio daquilo
que é proposto na política. C2 compara SNC e SMC ao SUS, sublinhando o termo:
organização do planejamento com escuta e diálogo. C1 associa a um grande guarda-
chuva que compreende mecanismos e práticas para se pensar, propor, implementar
e avaliar políticas públicas de cultura e sabe que deveria haver uma articulação com
sistema estadual e nacional, mas nem sempre funciona assim.
Em relação ao órgão gestor, ambos os entrevistados mencionam a
responsabilidade de formular e organizar recursos humanos e financeiros para
executá-las e avaliá-las. C1 também frisa a importância do órgão em se articular tanto
com outras instâncias do poder público como da sociedade civil.
C2 define o conselho como um lugar em que a sociedade civil está junto
com o poder público, em paridade, através de representações eleitas, para construção
conjunta de política pública. C1, responde no mesmo sentido, acrescentando que
também cabe ao órgão acompanhar e avaliar as políticas propostas. As Conferências
são tradas por C2 como a instância de encontro entre municípios, estados e União,
nos quais estão presentes poder público e sociedade civil para debater, dialogar e
construir propostas. E mencionou também a eleição de delegados de representação
(do poder público e da sociedade civil) nas conferências estadual e nacional. C1 diz
que é uma instância de escuta ampliada, o que a diferencia do conselho, que é menor.
Por isso, é uma oportunidade para toda a sociedade civil, de todos os segmentos,
participar, discutir, levantar demandas coletivamente, e não somente de forma
individual.
Em relação aos instrumentos de gestão, C2 associa o plano a diretrizes e
estruturação em longo prazo, com fins a pensar políticas mais perenes e mais
seguras, com projeção para o futuro. C1 o compara a um projeto cultural, que se
coloca no papel para realizar, com descrição das metas que se quer alcançar. Já o
Fundo é explicitado por C2 como uma forma de se ter recursos específicos para a
política cultural, de forma mais independente do Poder Executivo e do orçamento da
173
pasta da cultura, sendo um recurso que não pode ser gasto com qualquer despesa,
demandando aprovação do conselho. Acrescenta que deve receber recursos do
próprio município, mas também de outras instâncias. C1 responde no mesmo sentido,
acrescentando que o órgão também demanda quase uma gestão à parte, com
contador e presidente, e que isso dá mais liberdade no atendimento à subjetividade
da cultura.
41As leis de 2012 referem-se apenas ao Conselho paritário e ao Fundo. Curiosamente, ambos os
entrevistados associaram todo o Sistema a essas leis, como se elas o tivesse instituído e o processo
de 2018 fosse uma atualização/adequação.
174
42Estranhando o relato sobre Fundos municipais sem funcionamento por falta de estrutura, averiguei o
fato, constatando sua veracidade. E mais, identifiquei que o reparo dessa falha foi feito pela
administração pública na mais recente reforma administrativa (Lei Complementar nº 309/2022,
publicada no Diário Oficial em 01/04/2022), que dispõe os vários Fundos Municipais e cria seus cargos
vinculados. Curiosamente, o Fundo Municipal de Cultura não está entre eles, o que corrobora em
muito com o relato dos entrevistados, e leva a crer que o Fundo Municipal de Cultura é
deliberadamente mantido sem efetividade pela gestão pública.
176
43
No momento dessa entrevista, a Secretaria Especial de Cultura havia feito uma recente convocatória
para a Conferência Nacional de Cultura, com prazo para que os municípios realizassem os eventos
em seu âmbito, mas Macaé não chegou a adotar qualquer iniciativa para realizar sua Conferência.
Tempos depois esse cronograma foi estendido para o ano de 2023, pelo Governo Federal.
180
Rio das Ostras, localizada na Região das Baixadas Litorâneas, foi alçada
ao status de município recentemente, em 1993, com o desmembramento do município
de Casimiro de Abreu. Seu passado esteve ligado, inicialmente, às atividades dos
jesuítas, responsáveis pelas primeiras construções na região, e depois, já no século
XIX, se tornou rota de tropeiros e comerciantes, fazendo prosperar diversas atividades
econômicas e a pesca. A construção da Rodovia Amaral Peixoto (década de 1950), a
expansão turística da Região dos Lagos e a instalação da indústria do petróleo (a
partir da década de 1970) na região, acarretaram profundas transformações
socioeconômicas, incluindo um rápido crescimento populacional, que se mantém até
hoje44.
Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados do TSE e do Diário Oficial do município.
não enfrentaram trânsito fácil tanto no Executivo, quanto no Legislativo, como será
relatado adiante pelos entrevistados.
Neste município foram entrevistados 2 agentes ligados ao perfil Gestão (G1
e G2), e 1 do perfil relacionado ao perfil Conselho (C1). É interessante observar que
ambos os agentes do primeiro perfil estiveram fortemente envolvidos nos primórdios
da implementação do Sistema, ainda na condição de sociedade civil. O entrevistado
do perfil Conselho também esteve atuante no mesmo processo, na condição de
sociedade civil, e anos depois veio a assumir o cargo de conselheiro. Todos
demonstraram extremo envolvimento com a causa, profundo domínio conceitual da
política (inclusive com bastante segurança para problematizar os conceitos da
cartilha), como também dispostos a fornecerem minuciosos detalhes sobre os
desafios do processo de implementação e funcionamento das instituições. Diferente
de Barra Mansa, os entrevistados nem sempre mostram concordância em seus pontos
de vista, e isso independe do local institucional de fala. A seguir serão apontados as
informações mais relevantes das entrevistas.
Aspectos conceituais:
No que tange ao entendimento conceitual da política todos demonstraram
pleno alinhamento ao conteúdo das cartilhas, destacadas algumas ênfases: G1
sublinha a noção de federalismo, comparando com o SUS, na ideia da articulação
entre os entes federados, e no funcionamento desse modelo em âmbito municipal. Já
a ênfase de G2 é na ideia de democratização da gestão e do planejamento, de modo
compartilhado com a sociedade civil, e destaca que isso deve ser feito de forma a
priorizar o município, independentemente da conduta dos governos estadual e
federal. C1 frisa a necessidade de traduzir os conceitos da política tornando-os mais
acessível às bases, que não entendem a linguagem burocrática. Então ele faz a
associação com o SUS, mas prefere comparar o desenho da política a um
condomínio, que tem um posto de gerenciamento e unidades as quais os agentes
culturais devem ocupar. O entrevistado também mostrou clareza da necessidade das
três instituições funcionando ao mesmo tempo: conselho, plano e fundo.
A respeito do órgão gestor, G1 o associa à sua competência fazer os
componentes do sistema funcionarem, tal como G2, mas este vai mais além do que
a própria descrição da cartilha, detalhando que o Sistema demanda do órgão gestor
184
sua opinião, o plano deveria ser algo mais sucinto do que o recomendado pela cartilha,
para que seu entendimento seja mais acessível à população e que os temas sejam
mais amplos em atendimento ao dinamismo da sociedade num horizonte de 10 anos.
Disse criticamente que são documentos filosoficamente lindos, com vocabulário
admirável, completos, mas um discurso que as vezes fica longe da prática.
Em relação ao Fundo, G1 pontua a diferença entre esse mecanismo e o
orçamento do órgão gestor, com a importância de legitimá-lo em uma lei própria que
institua a destinação de seu recurso à projetos culturais, enquanto a destinação do
orçamento vai depender do gestor que assume o órgão gestor. Frisa que o fundo é
mais democrático, pois utiliza como meios de distribuição editais em que todos podem
participar. G2 lembra que o Fundo deve se atrelar às metas do plano, que por sua vez
vinculam-se às conferências. E acrescenta que é também um mecanismo de
recebimento de receitas, como de arrecadação de origem do Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), para que se tenha uma
retroalimentação desse recurso.
Antes de encerrar a parte conceitual ressalto que G2, fez uma análise
crítica às orientações do SNC dizendo que as cartilhas são muito filosóficas e não têm
um capítulo prático. Exemplifica a dificuldade que é lidar com as questões do fundo,
que é um tema tangente às áreas de orçamento e contabilidade e não se faz essa
abordagem nas orientações. A organização desse instrumento demandará um PPA,
uma Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), uma Lei Orçamentária Anual (LOA) para
o Fundo, e sua inserção na organização financeira do município, mas o gestor não
tem o entendimento do que é isso e nem de como fazer. Sem esse aparato
institucional, ter a lei do fundo significa somente ter um papel, quando na verdade,
para efetivá-lo, é necessária uma série de outros procedimentos que não são
esclarecidos.
a gente teve reuniões de quatro horas, eu levei meu computador e mais duas
pessoas do fórum [..] durante quatro horas com procurador, todo mundo na
minha frente e o prefeito falando: ‘não’. E a gente com a cartilha do Ministério
– aquela cartilha que dizia que o conselho tinha que ter que ser paritário, tinha
que ser... – aí eu falava: ‘mas tá aqui’, aí o procurador: ‘mas minha jovem, eu
tenho mais de vinte anos de experiência com conselho de saúde, com
conselhos ‘de não sei o que’, com conselhos ‘de não sei o que lá’’. E eu falava
‘meu senhor, eu não tenho nenhuma experiência com conselho, mas não sou
eu que estou dizendo. A cartilha está dizendo. Se a gente mudar isso na lei
[no projeto de lei], o conselho não vai não vai servir pro sistema, moço. (G1,
Rio das Ostras).
da sessão de votação dizendo que reuniram cerca de 150 pessoas para participar
dessa manifestação e da sessão extraordinária que foi convocada.
A elaboração do Plano de Cultura, de acordo com G1, foi uma iniciativa
interna do órgão gestor já no novo governo, de 2017, pois a gestão teve a
incumbência de elaborar o PPA e optaram por fazê-lo de forma atrelada ao Plano de
Cultura. O entrevistado ressaltou que nas gestões anteriores não se fazia um PPA,
apenas replicava-se um documento modelo que por fim não servia como ferramenta
de planejamento. A gestão reuniu as demandas das conferências anteriores e demais
pleitos para elaborar o Plano, mas que mesmo assim a minuta foi apreciada e
aprovada em conferência. G2 admite que o Plano poderia ter sido melhor construído,
tecnicamente, considerando um diagnóstico, mas que optaram por aproveitar o
período favorável à aprovação das leis da cultura para institucionalizarem a peça o
quanto antes.
Na sequência, o trâmite seguiu tranquilamente, ao que G1 atribui o fato de
o novo prefeito não dar muita atenção ao setor, minimizando a sua importância, e
passou o documento adiante. Relatou que a fácil aprovação por parte da Câmara
Municipal foi fruto de desentendimento e desinteresse pelo tema, e em boa medida
pelas boas relações com o prefeito (lobby). Processo semelhante ocorreu com a lei
do Fundo, que vale destacar, enfrentou dificuldades, ainda no governo anterior [antes
de 2016], pois não queriam ter Comitê Gestor, nem qualquer órgão participativo
paritário, e sim sempre maior representação do poder público. O argumento utilizado
naquela época não se vinculava à perda de poder, e sim ao engessamento das
decisões, travando a utilização do recurso. G2 complementou dizendo que depois de
aprovada a lei do fundo, também houve alguma morosidade para publicar a
regulamentação, já que aquele governo de 2016 não dava abertura.
Destaco que todos os entrevistados corroboram com a importância da
sociedade civil na implantação do Sistema em Rio das Ostras. Sublinho o depoimento
de G2, quando defende as redes geradas na mobilização da sociedade civil e seu
aprendizado. Disse que as pessoas que estavam ocupando os cargos da gestão em
2013 não se mexeram para aprender, naquele momento, e nem sem mexeram depois,
o que é comprovado pelo espaçamento dos eventos: a conferência ocorreu em 2013,
o acordo de adesão em 2014 e a lei somente em 2016 e a conferência para eleger o
primeiro Conselho somente em 2017, já em outro governo. Na opinião do entrevistado,
189
então foi uma trajetória muito curiosa. Porque aquela galera que é da
sociedade civil que estava brigando com a gestão, se mobiliza, cria o fórum,
traz pra si o dever de casa de implantar o sistema, trabalha isso enquanto
sociedade civil, porque nós tivemos vários seminários, construímos minutas,
que o prefeito da época destruiu, e enfim foi, voltou, foi, voltou, foi, voltou...
Mas essa galera, em 2017, entra pro poder público (G2, Rio das Ostras).
Menciona que o diálogo com a sociedade civil não está dos melhores, nunca foi
perfeito, mas vinha se aprofundando e após a Lei Aldir Blanc e as eleições municipais
as relações ficaram um pouco estremecidas.
Ao falar do funcionamento do conselho, C1 teceu críticas cobre como o
atual grupo tem tratado o órgão. Em seu entendimento, o prefeito não considera o
conselho como importante, já que ignora algumas demandas urgentes para o bom
funcionamento do Sistema. Ações como a morosidade para dar posse aos
conselheiros, para publicar alguma alteração necessária ao regimento interno, são
tomadas pelo entrevistado como um movimento intencional de desmobilizar o órgão,
que estava muito forte no período anterior – durante a aplicação da Lei Aldir Blanc.
Na sua avaliação, a gestão pública ainda tem muito receio da gestão compartilhada,
e justamente por isso, faltam com a publicidade das informações e das ações. G2, de
fato, relata que tem percebido atritos no diálogo entre poder público e sociedade civil,
até por impactos do período eleitoral para a prefeitura. Nesse sentido G1 sublinha ser
frequente, em muitos municípios e não só em Rio das Ostras, que pessoas tomem as
instituições para levar anseios e causas particulares, a exemplo dos atritos partidários
por consequência de posicionamento de oposição ao prefeito no período eleitoral, o
que dificulta o diálogo de ambas as partes, mesmo após as eleições.
O entrevistado manifestou decepção dizendo que comportamentos como
esse acabam enfraquecendo tanto a gestão quanto o Conselho, institucionalmente,
pois esses conflitos dificultam ainda mais seu entendimento por parte das outras
instâncias da prefeitura, cabendo ao gestor o papel de mediar essas questões.
Ressalta que é preciso muito cuidado tal questão, para que não se caia no deslize de
atribuir comportamento inapropriado ao Conselho [como instituição] e não a
determinado conselheiro, seja ele da sociedade civil ou do poder público. Em sua fala:
“a gente tem que proteger o Conselho, como instituição”. Esse mesmo
posicionamento foi defendido por G2: “quando alguém fala assim: ‘o Conselho é muito
chato, porque aquele conselheiro é intragável’, eu já falo: o Conselho não é chato. O
conselheiro que é chato. Mude a fala, por favor, porque você está manchando e
carimbando o Conselho de uma situação que ele nem nasceu para isso”.
Quando questionados se o poder público compreende as competências do
Conselho, G1 e G2 afirmam que sim, embora isso parta mais de um entendimento
pessoal do gestor. Ou seja, institucionalmente – na estrutura do poder público – esse
192
papel ainda não foi internalizado. Assim, G2 diz que, com frequência, o órgão é visto
como algo que atrapalha, e não como colaborador e como parceiro, e chamou atenção
para o fato de que o Conselho conseguiu “sobreviver” à transição da gestão, pois
pensou que isso não seria possível.
Na opinião dos entrevistados o Conselho tem funcionado. As reuniões
continuam acontecendo mesmo com as dificuldades da pandemia e apesar do quórum
esvaziado – muito mais pela ausência dos representantes do poder público, inclusive.
Para C1, os membros do poder do poder público não comparecem às reuniões, exceto
quando há na pauta alguma votação importante para o poder público, o que causa
desconforto e desmobilização no órgão. Criticou os integrantes do poder público, que
não sua concepção, não entendem de cultura. Além disso, a relação entre os
membros da sociedade civil não chega a ser tão harmoniosa, embora não sejam
apontados graves desentendimentos. C1 atribui esse comportamento ao
favorecimento de algumas cadeiras da sociedade civil pelo poder público (seja por
afinidade, seja por estratégia de desmobilização do poder público), o que gera atritos
com os demais membros. Já G1 diz que pequenos conflitos ocorrem por que o órgão
é um espaço político também e alguns tentam se colocar mais em evidência que
outros.
G1 relatou o abandono de cargo pelos conselheiros da sociedade civil ao
longo da gestão, atribuindo a essa desmobilização uma possível frustração com um
trabalho que às vezes não os atinge diretamente (porque com frequência a pauta
refere-se a outro segmento, que não o daquele conselheiro) e demoram a serem
vistos, já que os resultados produzidos pelo Conselho não são imediatos e demandam
muitas horas de reuniões e trabalho voluntário. Também sobre a participação no
órgão, C1 menciona a dificuldade em manter a participação ampliada, uma vez que
após elegerem seus representantes, as bases deixam de participar e cobrar,
delegando toda a função ao conselheiro, e essa falta de contato dos representantes
com a base traz prejuízos à função de representação. Apesar disso, todos os
entrevistados consideram que o formato do Conselho atende à representação da
diversidade do município.
Os entrevistados também foram unânimes ao afirmar que os conselheiros
veem que seus trabalhos impactam na formulação e implementação de políticas
públicas, mas com diferentes ênfases. G1, por exemplo, mencionou que isso ocorre,
193
mas que nas ações do Fundo isso vai muito pela vontade da gestão, pois a obrigação
legal é que os processos decisórios passem somente pelo Comitê Gestor, mas nessa
gestão isso acabou se estendendo ao Conselho, o que inclusive produz resultados
melhores.
C1, entretanto, pondera que se há algum espaço para atuar nas temáticas
de formulação de políticas, há pouco para o cumprimento do papel de fiscalização,
até mesmo por falta maturidade e qualificação dos conselheiros, que não têm
conhecimento sobre os procedimentos burocráticos para fiscalizá-los, ou ainda não
sabem as instâncias às quais recorrerem em cada situação de reclamação. E assim
ela enfatiza a necessidade de formação do conselheiro, e ressalta que ele não precisa
chegar ao cargo sabendo, mas o modelo de gestão do SNC precisa estabelecer
melhores estratégias para qualificação deste agente, que já faz um trabalho voluntário
e não pode arcar também com sua própria qualificação. G2 considera que o impacto
do Conselho nas políticas não alcançou o ideal, mas reconhece, por exemplo, a
influente atuação do órgão na elaboração da lei do fomento, de seu decreto
regulamentador e na implementação da Lei Aldir Blanc. E em total alinhamento com
C1 diz não haver fiscalização por parte dos Conselho, por faltar maturidade, tanto da
gestão pública, quanto dos conselheiros.
Por último sublinho a fala de C1, de que nos últimos tempos foi se
construindo uma forte relação entre o Conselho Municipal e o Conselho Estadual de
Política Cultural, assim como com o Fórum Regional de Cultura da Baixada Litorânea,
e isso tem ajudado bastante no funcionamento do órgão de Rio das Ostras. Essas
relações tem dado suporte aos conselheiros, sobretudo para os da sociedade civil,
com aportes mais técnicos, para que cobrem certas demandas do poder público. E
mencionou, negativamente, o fato de conselheiros da sociedade civil serem chamados
a trabalhar no órgão gestor, deslegitimando a representação do órgão.
Em relação à Conferência, os entrevistados narraram ela tem ocorrido com
a periodicidade determinada, embora, na visão de C1, seja necessário haver alguma
pressão da sociedade civil para que ocorra a convocatória e G2 também diz ter a
impressão de que o poder público realiza o evento mais por obrigatoriedade da lei do
que por motivação real. C1 reclamou da ausência do Poder Legislativo no evento,
aproveitando para criticá-lo pelo fato de nada entender o que é cultura e o que é o
Sistema.
194
encaixe “são feitas mesmo assim”. Ele pensa que o Plano deveria ser algo construído
coletivamente e criticou que no SNC, em geral, depois de construídos, os planos se
tornam um documento legal (lei), mas deixam de ser publicizados, sendo que aí o
momento em que mais deveria ser divulgado às demais instâncias do governo e à
sociedade civil. Mas ao invés disso, ele é engavetado.
Por fim ainda cabem registrar algumas críticas ao funcionamento do Plano:
C1 aponta a falta de monitoramento e ferramentas de diagnóstico (menciona inclusive
que o cadastro de artistas feito para a Lei Aldir Blanc precisa ser continuado e
aprimorado). G1 ressalta que gostaria que algumas temáticas fossem mais
aprofundadas, mas a população tem dificuldade em identificar algumas demandas
para que elas sejam alocadas no Plano, como por exemplo, a formação de plateia.
Em relação ao funcionamento do Fundo, C1 relatou conflitos graves,
quando da morosidade para a posse do Comitê Gestor, o mecanismo estava sendo
manipulado, situação que o Conselho conseguiu reverter depois. Em sua opinião, o
Fundo é subutilizado, seja pela falta de destinação de recursos do orçamento, seja
porque não foram acionados todos os mecanismos de arrecadação. Disse que ele
possui autonomia apesar de ter havido alguma tentativa de outros setores de
impedirem determinadas deliberações, o que ao final não ocorreu. Em sua opinião
acha que a atuação do Comitê Gestor é precária, em semelhança às falas de G1 e
G2 que admitem que o Comitê não se reúne muito, e acaba sendo um órgão mais
burocrático, somente para assinatura. Ambos justificam isso dizendo que as
deliberações acabam sendo tomadas pelo Conselho (que compreende o Comitê
Gestor).
Todos confirmaram que a destinação de recursos do Fundo é feita por
editais e seleções públicas, e G1 sublinha que é impossível burlar essa conduta, já
que existe um sistema de Tecnologia de Informação (TI) que impede a alteração de
notas nos processos seletivos, que inclusive são atribuídas por pareceristas externos
ao município. G2 defendeu que as propostas de editais acabam sempre saindo do
poder público e sem muita relação com as metas do Plano, quando gostaria que
partissem também dos conselheiros da sociedade civil, mas que ainda falta
maturidade e qualificação para tal. Por último todos afirmam a existência da prestação
de contas, mas C1 e G2 gostariam que elas fossem mais inteligíveis para
entendimento ampliado da população. G2 menciona, com positividade, o portal virtual
196
Quadro 13- Indicadores sócio econômicos de Barra Mansa, Macaé, Rio das
Ostras e São Fidelis. Na gradação em cores: verde indica melhores
indicadores, e vermelho, piores
Rio das
Barra Mansa Macaé São Fidélis
Ostras
Ano de criação 1833 1814 1993 1855
48O trecho da obra de Rodrigues (2020) ilustra bem o poderio econômico e político das tradicionais
elites aqui mencionados: “A partir de meados do século XIX, a difusão do vapor como força motriz de
engenhos e embarcações que faziam o transporte da produção do açúcar pelo rio Paraíba do Sul e a
introdução de novas técnicas produtivas possibilitaram o enriquecimento dos senhores de engenho
da região de Campos, de São Fidélis, de Macaé e de São João da Barra, e o surgimento dos “barões
do açúcar” em todo o Norte Fluminense. Títulos nobiliárquicos foram concedidos pelo governo
imperial a fazendeiros da região, a pretexto dos serviços prestados à economia nacional, dada a
aplicação de seus recursos na ampliação de seus estabelecimentos, como foi o caso de José Carneiro
da Silva, o Visconde de Araruama, e de Domingos Alves Barcelos Cordeiro, o Barão de Barcelos”.
(2020, p. 81).
205
gestão do SMC não teve força e nem encontrou espaço para modificá-las, mesmo
que a sociedade civil tenha exercido alguma pressão e se dotado de argumentos –
contidos nas publicações do Ministério da Cultura e na ação de Dinamização do
governo Estadual, e até mesmo dos discursos de representantes da SEC/RJ e do
Ministério da Cultura que estiveram presentes em diversas ocasiões. Nesses dois
municípios, o aparato conceitual e a pressão social foram suficientes apenas para a
institucionalização da política em Lei, mas não o bastante para implementá-la e alterar
efetivamente as condutas institucionais e individuais daqueles contextos.
O mesmo não ocorreu em Barra Mansa e Rio das Ostras, nos quais o
suporte da Dinamização e as cartilhas foram essenciais, tendo sido apropriadas pela
sociedade civil e utilizadas para exercer pressão na institucionalização e
implementação das leis ligadas ao SMC. Em ambos os municípios havia uma
sociedade civil insatisfeita com a conduta das políticas de cultura e organizada a ponto
de buscar, coletivamente, caminhos alternativos para a mudança de cenário. Em dado
momento um dos entrevistados menciona que “é na crise que a gente se reinventa”.
O contexto de crise, pode ser relacionado ao estado em que as instituições não mais
suprem a demanda dos implicados, e estes não as veem mais como produtoras de
relações justas (ruptura da norma fairness), e com isso não encontram mais razões
para prestar obediência àquele sistema de valores e normas. Relembrando Levi
(1991), a mudança institucional ocorre quando há um colapso dos fatores subjacentes
ao caráter contingente da obediência. Se para um número substancial de indivíduos
não houver ganho derivado da barganha, não haverá obediência, e não há justificativa
para que a instituição exista, e assim começam as ações para que ela mude.
A autora comenta que o abandono do consenso/obediência origina-se das
insatisfações decorrentes da queda no grau de aprovação de uma barganha social,
por uma mudança de consciência de um grupo que passa a perceber que aquilo não
é mais justo, pela queda de confiança na obediência dos demais partícipes, ou quando
os que possuem poder institucional são flagrados abusando desse poder. E é assim
que indivíduos insatisfeitos começam a buscar meios para a redistribuição de poderes.
Em Rio das Ostras foi relatado que o contexto anterior, embora falho –
pautado nas relações pessoais – atendia os agentes, mas com as mudanças de
contexto (crescimento do município, crise dos royalties e diminuição dos recursos para
a cultura, e a entrada de um gestor que não conhece nem dialoga com a classe
206
artística) desencadearam uma crise, percebida e partilhada por muitos indivíduos, que
se organizaram para buscar novos recursos e para mudar o cenário tido como
insatisfatório. Essa organização se dá com a conscientização e aquisição de novos
recursos de poder que fazem com que eles questionem uma barganha que até então
era aceitável (LEVI, 1991).
Tanto em Rio das Ostras quanto em Barra Mansa, os recursos de poder
foram ofertados pelo modelo de gestão oferecido pelo Ministério da Cultura, nas
publicações distribuídas, na Dinamização, no contato com pessoas de outros entes
federados nas Conferências Estaduais e Nacional, e Levi (1991) também menciona
que fatores exógenos podem servir de indutores de mudanças institucionais locais.
Além de todo esse recurso exógeno, também parece ter sido fundamental a
organização coletiva em torno desse material, em um contexto de sociedade civil
organizada, que se apropriou dos argumentos contidos no modelo de gestão proposto
de forma comungada e convincente, e todos passaram a partilhar das mesmas
narrativas:
*à exceção de São Fidelis, pois seria uma constante amarela, já que o entrevistado generalizou as
respostas dizendo que nada do sistema foi implementado e, portanto, não causou qualquer impacto. O
conselho já existia antes da adesão, então não pode ser considerado para fins de avaliação do SMC.
210
7 CONCLUSÃO
conjunção de fatores que parece ter ocorrido em maior medida em Barra Mansa e Rio
das Ostras, mas que não se deu em Macaé e São Fidélis.
Em todos os casos, a organização, qualificação e coletividade de agentes
em prol da proposta foi essencial para a criação, mas destaca-se que para o manter
o funcionamento, essa mobilização precisa ser continuada, a partir das instâncias de
negociação (sobretudo os conselhos). O Sistema irá perdurar quando percebido como
algo justo pela maioria de seus participantes, ser apropriado por essa maioria, e de
mudança de comportamento em direção ao que se propõe. A análises levam a crer
que os Sistemas que mantêm boa articulação entre órgão Gestor – Conselho –
Sociedade Civil, provocam a qualificação dos agentes, e um processo de
autoaprendizagem institucional, que levam a aprimorar o modelo de gestão, inclusive
inserindo inovações para além daquilo que foi descrito nos materiais de divulgação e
orientação dos SMCs.
Na avaliação dos entrevistados a adesão acarretou impactos de melhoria
nas políticas culturais, mesmo naqueles em que os SMCs não foram considerado
efetivos ou ainda recebem duras críticas. A recorrente menção à Lei Aldir Blanc como
impulsionadora do funcionamento dos SMCs deixou claro o quanto faz falta processos
indutores mais contundentes por parte da União. Até nos municípios em que o SMC
foi considerado como mais exitoso, houve manifestação de decepção pela falta de
contrapartidas, de apoio ao aprimoramento de seus Sistemas, ou mesmo pela
ausência de coordenação articulada entre os entes federados.
Embora esta pesquisa tenha apontado para ocorrência do aumento de
instituições em âmbito municipal por consequência do SNC, não se furta em ressaltar
o enorme prejuízo decorrente da inexistência: da lei de regulamentação, de
transferências regulares de fundos, das Comissões Intergestores, de um Sistema
Nacional de Indicadores Culturais que integre os entes federados; e redução dos
cursos de qualificação para gestores, conselheiros e agentes culturais. Todos esses
são elementos de indução federativa que comporiam grandes recursos de poder tanto
para aqueles que querem implementar um modelo de gestão que seja mais justo,
quanto para aqueles que querem consolidar e aprimorar os processos de
implementação em andamento, tornando viável o alcance dos objetivos e princípios
da política, quais seja, sobretudo, a garantia do pleno exercício dos direitos culturais.
216
REFERÊNCIAS
BRASIL. Sistema Nacional de Cultura tem mais de 2,4 mil adesões. 2017.
Disponível em: http://www.brasil.gov.br/cultura/2017/08/sistema-nacional-de-cultura-
tem-mais-de-2-4-mil-adesoes. Acesso em 03 fev. 2018
CALABRE, Lia. Arte e a cultura em tempos de pandemia: os vários vírus que nos
assolam. Extraprensa, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 7 – 21, jan./jun. 2020.
MEDEIROS, Anny Karine de; ALVES, Mário Aquino; FARAH, Marta Ferreira Santos.
Programa Cultura Viva e o campo organizacional da cultura: análise de políticas
públicas pela perspectiva institucionalista. Programa Cultura Viva e o campo
organizacional da cultura: análise de políticas públicas pela perspectiva
institucionalista. Revista De Administração Pública, v. 49, n. 5, p. 1215-1235,
2015.
MERCÊS, Guilherme; FREIRE, Nayara. Crise Fiscal dos Estados e o Caso do Rio
de Janeiro. Geo UERJ, n. 31, jul/dez 2017.
REIS, Paula Felix dos. Políticas culturais do governo Lula: análise do Sistema e
do Plano Nacional de Cultura. 2008. 145f. Dissertação (Mestrado em Cultura e
Sociedade) - Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008.
INSTÂNCIA DE COORDENAÇÃO
4- Como você pode resumir a função do órgão gestor de Cultura num SMC?
5- Sabemos que a cultura, em sua forma ampla e profunda não é reconhecida por
muitos agentes do poder público. Como é o diálogo da Secretaria de Cultura
com as outras estruturas do poder público. Acha que a partir do SMC esse
trânsito foi facilitado? Nas outras instâncias há um entendimento de que cultura
(e política cultural) é importante? Que é mais do que evento?
6- Como é a participação do órgão gestor de cultura no planejamento do
orçamento público municipal?
7- Como é o diálogo do poder público com a sociedade civil?
8- A Secretaria consegue executar e agir com tranquilidade as atividades da
cultura, frente às outras instâncias (subjetividade da cultura)?
INSTÂNCIAS DE PARTICIPAÇÃO
Conselho de Políticas Culturais
9- Como você pode resumir a função de um Conselho de Cultura?
10- Como foi o processo de criação/reestruturação do Conselho Municipal de
Cultura nesse formato (paritário, eleito, deliberativo)?
11- Como foram as últimas eleições dos conselheiros?
12- Acha que o poder público entende o papel do Conselho?
13- O conselho atual se reúne periodicamente? Há frequência dos conselheiros?
14- Os conselheiros se sentem motivados a participar e assumirem o
protagonismo?
Conferência de Cultura
20- Como você descreveria, em poucas palavras uma Conferência de Cultura?
21- A periodicidade das conferências ocorre conforme a lei do SMC?
22- O Poder público apoia a realização de conferências? E a sociedade civil...
adere ao evento?
23- Ela consegue abarcar pessoas dos vários segmentos culturais do município e
das diversas regiões?
24- Vocês conseguem fazer algum tipo de relatório final? Ele é divulgado?
25- Acha que os conselheiros se pautam pelo resultado das conferências na sua
função de conselheiro?
26- A escuta do poder público pelos anseios da sociedade civil melhorou depois da
instauração das conferências? Ou isso já existia de algum modo? (atenção:
preocupação)
INSTRUMENTOS DE GESTÃO
Plano de Cultura
27- Como você pode resumir a função de um Plano de Cultura?
28- No seu município plano de cultura foi feito com a participação do conselho?
Orientou-se pelo acúmulo das demandas feitas em conferência?
29- Para além de conselho e conferência, o plano de cultura foi feito a partir de um
diagnóstico?
30- O processo de elaboração e aprovação (em lei) do Plano de Cultura enfrentou
dificuldades?
31- Acha que o Plano de Cultura orienta as ações do órgão gestor e do fundo de
cultura?
32- Acha que o Plano de Cultura contempla as demandas da população?
33- De fato ele consegue se estender em um planejamento de longo prazo?
34- Acha que o Plano de Cultura é realmente um documento de gestão, capaz de
orientar a gestão e a fiscalização do Conselho? Ou, na prática, há dificuldade
de se concretizar?
35- O Plano de Cultura, aprovado em lei, tem força para se inserir nas Leis
Orçamentárias do Município?
36- Acha que a organização/planejamento de políticas culturais melhorou nos
últimos anos, com a implantação do SMC? Ou antes de um jeito ou de outro,
isso já ocorria bem, com outros modelos de gestão?
Fundo de Cultura
37- Como você pode resumir a função de um Fundo de Cultura?
38- A criação do Fundo enfrentou algum tipo dificuldade ou resistência?
39- Como é a participação do conselho nas decisões do Fundo?
40- A gestão do fundo é orientada pelo Plano de Cultura?
41- O órgão gestor de cultura consegue deliberar com autonomia na gestão do
fundo? Ou fica submisso à normativas e regras de outros setores da
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