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デート・ア・ライブ

五河ペアレンツ

Date A Live Volume 11.5 – Pais dos Itsuka

Autor: Koushi Tachibana


Ilustradora: Tsunako
Tradutor e Editor: Myturn
Revisor: Fallen-kun
Date A Live Volume 11.5 - Pais dos Itsuka
— ...Uau, está realmente lotado aqui.

Em um certo dia de inverno, Shidou foi a uma loja de departamentos


localizada dentro da própria cidade. A seção promocional do décimo primeiro
andar, onde Shidou estava nesse momento, estava contendo uma exclusiva
exibição por tempo limitado de vários produtos importados de Hokkaido.
Ingredientes de comidas locais frescos, que constituíam uma visão rara e doces
com aparência deliciosa que estavam ordenadamente arranjados juntos, prontos
para a venda.

Sem dúvidas, o objetivo de Shidou também era esse evento. Ter descoberto
a existência desse evento recentemente, que estava começando a parecer um
Super Saldão, fez Shidou viajar até a loja de departamentos a pé para comprar os
materiais do jantar daquela noite.

— Não é como se eu pudesse colocar minhas mãos em tantos tipos de


peixes e crustáceos a qualquer momento... Eu vou fazer um especial de frutos do
mar, eu acho. E todos os presentes aqui também.

Shidou pensou alto enquanto contava o número de porções necessárias


com os dedos.

Era como ele disse. Devido a aquele dia ser um dia de descanso, os
Espíritos que atualmente estão residindo na residência dos Itsuka, pacientemente
esperavam o retorno de Shidou.

Haviam atualmente sete pessoas em sua casa: Tohka, Yoshino, Kaguya,


Yuzuru, Miku, Natsumi e Origami. Já a Kotori, por ser a comandante da
Ratatoskr, ela teve que sair por motivos relacionados ao trabalho, mas deve voltar
antes da hora do jantar mais tarde.

— Essa quantidade deve ser o suficiente se eu contar dessa forma. Nove


porções... não, Tohka facilmente pode comer por três pessoas, então devem ser
onze porções.

No final, o que de começo era uma quantidade que ele poderia carregar
tranquilamente se tornou pesado demais para as mãos de Shidou. Se ele pelo
menos tivesse alguém para lhe dar uma ajuda naquele momento. Bem, pedir por
ajuda sem dar o seu melhor antes seria completamente exagerado. Algumas
coisas ficam melhores se as deixarem como elas são.

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Shidou levemente forçou um sorriso e avançou para a seção de peixes
frescos enquanto carregava sua cesta de compras.

Naquele momento...

— Eh?

O toque inesperado do celular de Shidou em seu bolso foi reproduzido, o


fazendo parar no meio do caminho. Ele pensou que essa chamada que devia ser
de um dos Espíritos que estavam em casa.

Porém, a verdade descaradamente refutou a suposição de Shidou. A tela


mostrava a seguinte mensagem:

『Número Desconhecido. 』

— ...Quem poderia ser?

Embora a coisa toda pareça ser bem suspeita, Shidou pressionou o ícone
de aceitação e recebeu uma chamada anônima.

— Alô?

Uma voz vaga e pouco clara ressoou do outro lado da linha.

『 Sua filha caiu em minhas mãos. Se a quiser de volta, prepare cem


milhões de Ienes1 até amanhã. 』

Shidou ficou momentaneamente paralisado devido a essa declaração


imprevista.

— Q-Quê?

『Isso não é uma brincadeira. Vou deixar você ouvir a voz dela agora. 』

『Hyaaaa~! Me salva, papai! 』

Pelo dispositivo, pôde ser ouvido um lamento rígido que parecia ser falso
a uma primeira vista.

— .....

Depois de ouvir aquela voz, Shidou não pôde deixar de dar um grande
suspiro de alívio.

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100 milhões de ienes é equivalente a cerca de 3,8 milhões de reais.

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— Vocês até usaram um número estrangeiro para me ligar... O que foi,
Mãe, Pai?

『Ora, fomos descobertos. 』

Quando Shidou terminou de falar, uma voz mais nítida que a anterior
podia ser claramente ouvida do outro lado da linha.

Do outro lado estavam seus queridos pais, que estavam atualmente em


um cruzeiro, Itsuka Tatsuo e Itsuka Haruko. Incidentalmente, Haruko tinha feito
o papel de sequestrador enquanto Tatsuo tinha atuado como a filha: uma
designação terrível de papeis.

— Vocês não têm entrado em contato por um longo tempo, e quando tem
a oportunidade fazem isso...

『Desculpa, desculpa, estamos tão ocupados com tanto trabalho. Aah,


esse realmente é o Shii-kun, nos descobrindo em segundos. 』

— Por favor, parem de me chamar de Shii-kun... de qualquer forma, por


que me ligaram?

『O quê, eu preciso de motivos para ligar pro meu filho?]

『Triste, muito triste. O pai está a ponto de chorar. Huhuhu~.]

— ... Eu estou desligando.

『Ah... espera um pouco. Você não mudou nada, né? Sempre tão sério. 』

『Exatamente. Se fosse a Kotori, ela ficaria inocentemente surpresa. 』

Mesmo depois de falar, eles estavam coletivamente colocando suas bocas


próximas ao microfone e adicionando um “Niii”. Esse casal estava cheio de
energia rejuvenescedora como sempre.

— É por isso que...

『Oh, isso mesmo. Eu quase me esqueci. Onde você acha que estamos
agora? 』

— Mesmo que me perguntem... Nos Estados unidos? No escritório da


sede...

『Hehe, errado! Direito de resposta revogado! Aqui, Tatsu-kun. 』

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『Cidade de Tengu da Kyoto Oriental! Em frente à porta da nossa amada
e nostálgica casa! 』

『*pinpon* Correto! Tatsu-kun ganhou cem milhões de pontos! 』

『Legal! Você me permite comprar um laptop com esses cem milhões de


pontos!? 』

『Para isso você vai precisar de dez bilhões de pontos. 』

『Malvada! 』

— Ha...?

Todos os tipos de informação turbulenta surgiram como ondas furiosas, e


os olhos de Shidou foram reduzidos a pequenos pontos. Porém, os dois do outro
lado da linha não perceberam suas circunstâncias e continuaram a conversar
sobre o tópico anterior aleatoriamente.

『Em outras palavras, estamos de volta! Bem, somente pelo feriado. Nós
temos que voltar correndo para o trabalho em breve. 』

『Ah, já faz um bom tempo desde que vi a Kotori e você. Tudo bem com
vocês? 』

— E-Espera um minuto!

Shidou abruptamente soltou um lamento alto, fazendo com que as pessoas


que estavam passando por ele o olhassem com olhares atônitos. Ainda assim,
Shidou não se importou com os olhares alheios.

Resumindo, seus pais tinham acabado de dizer que estavam em frente à


porta da residência dos Itsuka. Em frente do local onde os Espíritos estavam
morando e cuidando das coisas; a residência dos Itsuka.

『Hã? O que foi? 』

— N-Nada... É só que eu fui fazer compras, então não estou em casa! E a


Kotori também não...

『Ara, Entendi. Mas que hora boa, você comprou o suficiente para nós
comermos também? Comida feita pelo Shii-kun, não posso esperar! 』

— E-Eu não estava falando disso! De qualquer forma, vocês podem passar
o tempo em algum lugar fora até eu voltar?

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『Ué, por que? Por nós tudo bem esperarmos em casa. 』

— Kuh... H-Há alguns motivos, então por favor!

Ouvindo aos pedidos de Shidou, Haruko soltou uma gargalhada maligna


inconvincente.

『Tatsu-kun, Shii-kun parece estar escondendo algo suspeito em casa


enquanto estávamos fora. Vamos fazer uma busca cuidadosa em casa. 』

『Concordo! 』

— N-NÃÃÃÃÃO!!!

O estado das coisas piorou ainda mais, fazendo Shidou imediatamente


reagir com um grito agudo.

『Un, está decidido então, nós vamos deixar o jantar por sua conta. Em
relação ao menu, será que ele irá aumentar quando descobrirmos o precioso
tesouro do Shii-kun? Mamãe vai querer caranguejos Sichuan. 』

『Ah, papai quer ouriços do mar.』

Depois de fazerem seus respectivos pedidos como se já soubessem que


Shidou tinha ido atrás da feira de produtos de Hokkaido, a chamada foi
encerrada.

Shidou, cujo rosto está pálido como o de um fantasma, rapidamente


operou seu celular para fazer uma ligação para Tohka e os outros. No entanto,
provavelmente devido ao fato dele ter esquecido de carregar a bateria durante a
noite anterior, a tela do celular escureceu justamente quando Shidou pressionou
o ícone "chamar". Na pior hora possível.

— Por que logo agora!?

A terrível situação em que Shidou se encontrava só iria piorar se as coisas


continuarem assim. Seria a Deterioração extrema; eles não poderiam mais confiar
sua casa ao seu filho, que trouxe para casa várias garotas desconhecidas sem a
permissão deles. Chegaria ao ponto de eles decidirem ter uma reunião familiar.
Não importa o quanto despreocupados os pais de Shidou fossem, não havia
como ele obter seu perdão por fazer eles comerem sozinhos.

Mas excluindo a utilização de caranguejos e ouriços do mar, Shidou só


poderia pensar em confiar em motivos particulares para oprimir suas bocas.

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— Eu tenho que voltar logo para casa...!

Quanto mais ele demorasse, pior as condições ficariam. Talvez já fosse


tarde demais para impedir que seu pai e sua mãe entrassem em contato com os
Espíritos, mesmo assim Shidou tinha que chegar em casa o mais rápido possível
antes que o confronto deles se torna uma situação de vida ou morte. Ele exerceu
uma determinação renovada em seu corpo e empurrou todos os outros clientes
no seu caminho enquanto corria em direção a saída.

Apesar de saber que seus esforços seriam totalmente inúteis, Shidou não
se esqueceu de colocar os caranguejos e os ouriços do mar diligentemente na
cesta de compras para estar preparado para qualquer eventualidade imaginável.

◇◇◇◇

— Uuuu... Mais uma vez, Origami.

Sentada na sala de estar dos Itsuka com um controle de videogame nas


mãos, Tohka falou alto entusiasticamente. Ela era uma jovem garota que possuía
características únicas, incluindo um longo cabelo preto e pupilas cristalinas.

No entanto, seu rosto comum tem sido distorcido e retorcido ultimamente


devido a uma profunda queixa.

O motivo era simples. No monitor diante dos olhos de Tohka estava um


personagem caído e os caracteres “K.O.!” brilhavam intermitentemente.

— O resultado será o mesmo não importa quantas vezes você tentar.

A pessoa que a respondeu era a garota sentada ao lado de Tohka, Tobiichi


Origami. No momento, ela estava olhando atentamente para a tela com uma
expressão relaxada que era o completo oposto do comportamento de Tohka.

Placar geral: cinco derrotas em cinco partidas. Originalmente, Tohka só


tinha decidido trocas de lugar com as irmãs Yamai depois de testemunhar elas
jogando e pensou que seria divertido experimentar. Porém, desde quando
começou a jogar, Tohka tem sido repetidamente derrotada e manipulada por
Origami que usou suas técnicas incríveis seguidamente, fazendo com que ela não
consiga conquistar nenhuma vitória sequer.

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Vendo as duas competindo entre si estimulantemente em uma batalha
unilateral, Kaguya disse por de trás de suas costas.

— Kaka, de fato você é digna de sua posição, origami. Realmente, eu não


devo deixar de lado o sofrimento de meus parentes. Chegou a hora de eu ser sua
adversária.

— Criticismo. Kaguya não pode sequer vencer uma batalha contra


Yuzuru.

Sentada perto de sua irmã gêmea, Yuzuru disse isso em forma de


baforada. Em resposta, Kaguya então gritou em um tom de insatisfação.

— E-esse meio de subjugação é inaceitável! Nem sequer é elegante!

— Negação. Uma vitória é uma vitória. Kaguya só pôde observar si


mesmo sendo abatida até ficar furiosa e irritada.

— U-Uguuu...

Kaguya gemeu amargamente com remorso. Na realidade, mesmo sendo


no xadrez, onde ela é uma grande mestra, as vezes onde ela teve o jogo virado
contra si mesma através de contra-ataques magníficos eram a grande maioria.

— P-Pessoal... Por favor, se deem melhor umas com as outras...

— Jogos supostamente eram para serem divertidos!

De trás das irmãs Yamai, a voz fraca de Yoshino pôde ser ouvida junto
com a do fantoche de ventriloquia em forma de coelho, Yoshinon, que Yoshino
carregava em sua mão esquerda. Na parte de trás da sala de estar estavam
Yoshino, Natsumi e Miku, que assistiam as partidas intensas do grupo que estava
jogando enquanto graciosamente tomavam chá preto.

— Certo, relacionamentos vem primeiro. Assim como a Natsumi-chan e


eu!

— ...Não há nada entre nós. Falando nisso, por que está se aproximando
de mim aos poucos? Isso é assustador.

— Hã? Eu não estou diminuindo a distância nem nada disso. Se está


sentindo algo assim, deve ser somente uma ilusão. No coração da Natsumi-chan,
minha existência está ficando mais e mais significante!

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— ...Uh, isso, de qualquer forma, pode tirar sua mão do meu joelho? Além
disso pare de apertar seus dedos nele.

Miku e Natsumi então começaram uma guerra de ataque contra defesa


entre elas.

Embora ela tenha percebido o combate ocorrendo do outro lado, sua


própria batalha ganhou prioridade em sua linha de pensamento. Tohka balançou
sua cabeça e declarou em voz alta.

— Muito bem, eu não vou parar até aniquilar você! Hora do desempate,
Ori-

Porém, o grito de guerra de Tohka parou pela metade. Seus ouvidos


detectaram um som suspeito.

— ...?

Com Origami liderando na frente, todos gradualmente perceberam algo


estranho e suspenderam seus diálogos enquanto aguçavam seus ouvidos.

— Esse som é...

— Ele vem da porta da frente... Eu acho. Será que o Shidou ou a Kotori


voltaram...?

— Não, esses passos não batem com os deles.

— Un. Então, será que é um convidado?

— Hmph, eles teriam tocado a campainha se fosse esse o caso.

— Assentimento. Em outras palavras...

— ...Ladrões.

A declaração de Origami fez com que todos os espíritos prendessem sua


respiração.

— N-Não pode ser, alguém fazendo isso em plena luz do dia...

— Podem ser bandidos também. Resumindo, alguém que não é o Shidou


ou a Kotori está entrando nessa casa sem apertar a campainha. Isso é um fato.

— O-O que devemos fazer...?

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Yoshino perguntou suavemente, sua voz estava perturbada de medo. Mas
Origami somente permaneceu em silêncio e olhou para a porta que conectava a
entrada com a sala de estar.

— ......

◇◇◇◇

— Não tenho certeza do porquê, mas eu tenho um sentimento de


reminiscência, mesmo que esse lugar seja nosso.

— Ah, sim.

De pé em frente à residência dos Itsuka, Haruko e Tatsuo disseram isso


enquanto suspiravam com emoção considerável.

Cabelos curtos, sobrancelhas pontudas de aparência poderosa e um par de


pupilas vermelhas. Sempre discordando das classificações etárias e tendo uma
postura ereta, a esposa Haruko era a contraparte do seu marido Tatsuo, a pessoa
que sempre estava rindo por trás de seus óculos verde-escuro e tinha uma
postura distintamente corcunda.

Tendo vivido juntos por muito tempo, a aparência de um casal poderia


ficar cada vez mais parecida. Isso pode servir para outros casais, mas não se
aplica aos Itsuka. Quando eles ficam lado-a-lado, eles se parecem mais com uma
heroína feminina e um oficial civil; uma jovem mulher indulgente e um
atendente; ou uma dama de honra e um padrinho que foram convidados para
um casamento.

— Saa, vamos entrar.

— Un, tá bom...... Ahh! Ai!

Naquele momento, Tatsuo acidentalmente deu um passo e tropeçou em


Haruko.

— Ahh... Yaa!

Como resultado, a cabeça de Tatsuo foi levada diretamente ao seio de


Haruko, que se virou depois de se assustar. Foi uma cena cliché típica de animes
e mangás. Haruko encolheu os ombros e suspirou deliberadamente.

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— ...Sério, você continua sendo como costumava ser.

— D-Desculpa...

— Não se pode fazer mais nada. Eu também já me acostumei a isso. Se


fosse a antiga eu, eu teria acabado com você em um instante.

— Uuuu... as memórias de ser loucamente atacado no passado.

Tatsuo então se desculpou conforme arrumava sua postura. Ele sempre foi
assim no passado. Haruko deu um sorriso torto e prontamente estendeu sua mão
em direção à maçaneta da porta.

— Muito bem. Quanto mais cedo nós... Hm, ara?

Naquele instante, Haruko subconscientemente inclinou sua cabeça.

— O que foi?

— A casa era supostamente para estar vazia. Mas a fechadura está aberta.

— Heh... Isso é excepcionalmente raro, considerando que é do diligente


Shidou que estamos falando.

— Un... Mesmo que a segurança pública do Japão seja muito boa, isso é
desleixo demais. Cuidados apropriados devem ser tomados.

Os dois conversaram entre si e descuidadamente passaram pela porta da


frente. Porém, ao contrário de suas expectativas, Haruko descobriu outro aspecto
questionável e franziu as sobrancelhas. Na varanda estavam largados um
considerável número de sapatos femininos organizados apertadamente juntos.

— Fala sério, todos eles são da Koto-chan? Ela comprou tantos enquanto
não estávamos aqui... E nós nunca vimos todos esses estilos...

— Ahaha, será que é por isso que Shidou não queria permitir que nós
entrássemos?

— Ah-, talvez. Afinal, Shii-kun sempre teve sentimentos por sua adorável
irmãzinha.

Haruko simultaneamente expressou sua irritação e encolheu seus ombros


enquanto tirava seus sapatos e entrava na casa. Atrás dela, Tatsuo imitava suas
ações e estendia seu corpo.

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— Fiiiu, lar doce lar. Os quartos onde ficávamos no trabalho não eram
ruins, mas eu prefiro ficar em casa mais do que qualquer coisa.

— Eu entendo o que quer dizer com isso. Nós somos pessoas japonesas.

O casal riu vividamente como nos velhos tempos e abriu a porta que
levava à sala de estar.

-- E Então.

— Hã?

— Quê?

Haruko e Tatsuo exclamaram ao mesmo tempo.

Essa poderia ser considerada uma reação normal. Durante a pequena


fração de segundo em que o casal pisou na sala de estar, eles perceberam tarde
demais que haviam várias silhuetas que rapidamente pularam das sombras em
cima deles, subjugando o casal enquanto os jogavam no chão.

— O-O qu-!? Mas o que está acontecendo aqui!?

— H-Haru! Tudo bem com você!?

Apesar dos seus esforços desesperados para moverem suas pernas, as


mãos de ambos haviam sido firmemente presas, fazendo com que o casal não
pudesse se mover livremente. Os dois tentaram meticulosamente se virar para
ver a identidade de quem tinha os atacado. Logo depois disso, porém, Haruko
teve outro choque. Os culpados por apreenderem Tatsuo e ela eram duas jovens
garotas; não somente isso, mas os seus rostos eram exatamente idênticos, eram
gêmeas.

— Humph. Resistir é inútil.

— Aviso. Por favor, cooperem.

— O-Oque......

O desenvolvimento repentino do estado das coisas fez com que os olhos


de Haruko tremeluzissem em rajadas de preto e branco. Inteligentemente
escondidas sob a sombra do sofá, várias garotas adolescentes apareceram uma
atrás da outra rapidamente. Além disso, elas estavam olhando para os dois de
forma suspeita.

— Uhm... então esses são os ladrões?

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— E-Eles não se parecem com ladrões...

— Você é muito inocente, Yoshino. Pessoas más não têm a palavra "mal"
escrita em suas testas.

Assim como as frases acima, as garotas discutiram a cerca de detalhes com


pouca clareza e sem sentido.

A palavra "ladrões" apareceu na mente de Haruko em frações de segundo.


Porém, conforme ela observava a aparência das novas garotas que foram
aparecendo, ela não foi capaz de tirar nenhuma conclusão a cerca disso. Bem,
talvez fosse como a garota da esquerda que carregava uma expressão furiosa
tinha dito: pessoas más não carregam a palavra "mal" escritas na testa.

Naquele momento.

— --Guah!

Assim que Haruko começou a ficar atolada em confusão, um fio de sangue


do Tatsuo apareceu por de trás dela.

Se virando, somente a figura de outra garota pôde ser vista saindo das
sombras. Uma delas estava balançando o pescoço de Tatsuo, e a outra estava
segurando uma pequena faca e apontava ela contra a cabeça de Tatsuo.

— Tatsuo-kun!

— --Quem são vocês?

A garota, cuja expressão permanecia inflexível, interrogou eles em um tom


de voz frio e sem emoções. Sua personalidade inabalável e estoica fez com que
Haruko tivesse calafrios, sentindo por instinto um terror ameaçador que
emanava da garota. Julgando pelos seus movimentos naturais, a garota parecia
já estar acostumada a usar o canivete para fazer coisas além de "ameaças".

— Se você se recusar a responder, eu vou maltratar os dedos desse homem


um a um.

— Hiii...!?

— E-Ei, Origami...

A companheira da garota franziu suas sobrancelhas melancolicamente.

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— Não tem problema. Embora seja puro exagero, o resultado ainda assim
será excelente. A dor pura é uma coisa, mas a possibilidade de perder órgãos
vitais como os dedos incita mais medo quando se tortura alguém.

— O-Origami...?

— Além do mais, a efetividade é aumentada quando há duas pessoas. Se


há uma relação de intimidade entre elas, uma vítima pode ser incapaz de ver o
sofrimento da outra e vai confessar tudo. Por outro lado, se os dois não tiverem
confiança um no outro e a vítima ouvir o outro lamentando seu destino, ele vai
deduzir que o mesmo tormento irá cair sobre ele, produzindo o mesmo efeito.

— H-Hiiiii--

Enquanto a garota explicava isso apaticamente, sua simples vociferação


pareceu ser extremamente eficiente em Tatsuo, que estava emitindo
tremulamente uma voz tímida.

— E-Eu não quis isso dessa forma! Eu só estou te dizendo para não
exagerar!

Depois de ouvir as palavras da garota de cabelos roxo, a garota que estava


segurando a faca em sua mão soltou uma bufada, começando a refletir
profundamente.

— O que você disse faz um pouco de sentido.

— E-Entendeu agora?

— Verdade, comparado a cortar os dedos, eu devo arrancar suas unhas


primeiro. Fui uma tola.

— Você não entendeu nada, né!?

A garota de cabelos roxo gritou com a garota que segurava a faca, fazendo
com que ela inclinasse a cabeça inconcebivelmente.

— Que tal um soro da verdade?

As outras garotas balançaram seus olhos com descrença, colocando suas


mãos em suas cabeças.

Parecia que as outras garotas queriam adotar métodos mais humanitários


e legais. Pelo menos elas não pretendiam matar Haruko se ela não falasse, ou
forçar ela a passar sua conta bancária ou coisa do tipo. Haruko forçou

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completamente seu corpo e tentou o máximo que pôde fazer sua voz sair do
fundo de sua garganta.

— E-Eu gostaria de perguntar quem são vocês...! E o que fazem na casa


dos outros?!

— O que estamos fazendo... cuidando do lugar?

A garota de cabelos roxo inclinou cuidadosamente sua cabeça e a


respondeu como se a resposta fosse plenamente óbvia.

Haruko sentiu como se ela tivesse sendo tratada como uma idiota. Porém,
isso logo provou-se ser incorreto. No momento que ela viu suas expressões
genuínas, ela pôde dizer que elas não estavam mentindo.

Mas se esse fosse o caso, o que era tudo aquilo afinal? Será que ela entrou
na casa errada?

Esse pensamento paradoxal passou pela mente de Haruko


instantaneamente, somente para ser negado logo depois. A sala de estar em seu
campo de visão era, sem dúvidas, parte de sua casa, a casa que Haruko e Tatsuo
tinham comprado usando um empréstimo de 30 anos, seu amado "Lar".

É claro, seria uma questão diferente se seus vizinhos tivessem renovado o


interior de sua casa para se parecer exatamente com o da casa deles. Mas levando
em consideração que esse não é um tipo de jogo, uma coincidência dessas seria
muito improvável.

— Cuidar do lugar... Eu não lembro de pedir para alguém fazer isso.

— Hm? Uma expressão conciliatória.

— Espanto. Nós também não lembramos de ter sido solicitados por você.

As gêmeas, que estavam detendo Haruko e Tatsuo, deram suas respostas.


Ouvindo suas presunções e discursos desconexos, Haruko caiu em um excesso
de fúria.

— O que vocês estavam discutindo agora a pouco!? Entrando na casa dos


outros sem permissão...

Quando Haruko declarou isso, a garota que estava pressionando a faca


contra Tatsuo de repente afiou seu olhar como se ela finalmente tivesse percebido
algo crucial.

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— Muuu... O que foi, Origami?

— Será que eles são...?

A garota chamada Origami guardou a sua faca e pegou o celular em seu


bolso e começou a operar o dispositivo.

Subsequentemente, ela procedeu para ficar de frente com Haruko e Tatsuo


e rapidamente sua linha de visão entre seus rostos e a tela do telefone. Depois de
confirma algo, Origami se levantou e abriu as mãos das gêmeas, liberando-os.

— Q-Qual é a sua?

— Dúvida. O que aconteceu, Mestra Origami?

As gêmeas indagaram em surpresa, mas Origami não deu a mínima


atenção e ao invés disso, começou a cumprimentar Haruko e Tatsuo gentilmente.

— Tudo bem com vocês? Podem relaxar agora, Otou-sama, Okaa-sama.

— Hah...?

— O que foi... que disse...?

Os olhos de Haruko e Tetsuo se tornaram um ponto. Do nada, a garota


que estava diante deles não tinha absolutamente nada a ver com aquela que agora
pouco estava dizendo coisas desagradáveis como cortar dedos, arrancar unhar e
etc...

Haruko não foi a única. As outras garotas também exibiram expressões de


que não estavam entendendo nada semelhantes às do casal.

— Hã? Eles são os pais da Origami?

— Mas... os pais da Origami não...

— Não.

Origami suavemente balançou sua cabeça.

— Esses dois... são Itsuka Tatsuo e Itsuka Haruko. Eles são os pais do
Shidou e da Kotori.

『......!? 』

Ao ouvir a verificação de Origami, os rostos estupefatos das garotas se


tornaram totalmente brancos.

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◇◇◇◇

— Ahh! Droga! Por que um acidente de trânsito teve que acontecer justo
agora!?

Shidou puxou resignadamente a sacola pesada de compras conforme ele


se arrastava pelo caminho de casa.

Ele anteriormente planejou pegar o transporte público para voltar mais


rápido, mas como estava sem sorte, um acidente de trânsito aconteceu em algum
lugar durante sua jornada e bloqueou todas as rotas de ônibus, deixando Shidou
de mãos atadas sem ter o que fazer. Se ele continuasse esperando que essa
obstrução cessasse, ele acabaria perdendo uma quantidade valiosa de tempo
antes de eventualmente chegar em casa. Shidou não teve escolha a não ser
depender de suas próprias pernas.

Um encontro entre os Espíritos e seus pais já era algo inevitável.

Todavia, os Espíritos que estavam na residência dos Itsuka eram todos


crianças de bom coração e gentis. Eles com certeza se comportariam bem, disso
não havia dúvidas. Certamente eles não fariam nenhum mal aos pais de Shidou,
ou os colocariam em perigo.

O resultado mais ideal seria que seus pais de alguma forma acreditassem
que os Espíritos fossem amigos de Kotori. Ainda assim, Shidou alegremente não
tinha ciência do que tal cenário poderia se tornar.

A única coisa que ele podia fazer agora era voltar para casa o mais rápido
possível enquanto vigilantemente observava os Espíritos e seus pais. No pior
cenário possível, antes que os Espíritos dissessem alguma informação
confidencial que poderia ter consequências severas, Shidou teria que estar atento
para mudar o assunto da conversa. Até lá, ele teria que...

— ......?!

Shidou abruptamente cessou suas ações.

Por que ele fez isso de repente? Era uma ação normal a se fazer quando se
deparasse com a mulher que estava diante dele.

— T-Tudo bem com você?

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— A-Aiii, eu torci meu tornozelo... Hã? Itsuka-kun?

— Tama-chan? Desculpa, Tama-sensei!

Reconhecendo o rosto da mulher, Shidou arregalou seus olhos. A mulher


que estava caída no chão era a professora responsável pela classe de Shidou,
Okamine Tamae, normalmente chamada de Tama-chan. Não somente isso, mas
ela parecia especialmente bonita usando roupas de nos jours2, sua maquiagem
estava incomumente espessa, e ela estava usando salto-alto exorbitantes, o que
deixava ela de cair o queixo.

— O que está fazendo em um lugar desses? E suas roupas...

— Itsuka-kun!

Depois de algumas poucas palavras de Shidou serem proferidas, Tama-


chan imediatamente pegou suas mãos.

— Wa! O-O que foi agora?!

— P-Por favor, por favor me leve aos prédios da Ni-chome Union3!

— Hã?

A proposta repentina pegou Shidou com a guarda baixa, fazendo o garoto


soltar um grito estranho.

— T-tem alguma coisa acontecendo lá?

— Uma cerimônia de casamento!

— E-Entendi...

A aura diabólica de Tama-chan caiu sobre ele como uma fúria destruidora,
forçando Shidou a recuar um passo.

— Essa festa é restrita à homens que tem ganhos anuais acima de oito
milhões de ienes, então a competição é violenta! Já que somente mulheres na casa
dos vinte anos podem entrar, essa é minha última chance! Eu não posso falhar!
Isso seria um desserviço aos sacrifícios de meus companheiros!!!

2
De nos jours = roupas do dia-a-dia, que não é roupas de trabalho
3
Shinjuko ni-chome (新宿二丁目) é uma área do Distrito Shinjuku conhecido como uma área com
diversos comércios voltados ao público LGBT

20
Tama-chan desesperadamente implorou enquanto seus olhos marejados
desabavam em lágrimas.

Suor começou a escorrer pela testa de Shidou quando ele contemplou o


que isso significava para ela.

— Me desculpe, mas eu tenho algo realmente urgente para fazer agora...

— ...Se você não me levar lá, então eu terei que casar com o Itsuka-kun...

— Guh...

Tama-chan ameaçadoramente disse isso a Shidou usando uma voz


maligna e demoníaca, gerando um calafrio que rapidamente chegou até sua
espinha como um morcego saído do inferno.

De onde eles atualmente estavam, os prédios da Union ficavam a


aproximadamente dez minutos a pé na direção oposta à Residência dos Itsuka.
Toda vez que ele pensava em seus pais se defrontando com os Espíritos, Shidou
julgava que esse pequeno desvio só o faria perder tempo em vão.

Porém, ele simplesmente não podia deixar ela nesse estado lastimável.
Shidou proferiu um grito alto e carregou Tama-chan em suas costas.

◇◇◇◇

— ... Meus ouvidos detectam os sussurros dos espectros do purgatório...

Kaguya insistiu enquanto estava encharcada de suor frio. Embora todos


os outros não tivessem ideia do que esse bizarro verso significava, todos sabiam
que tinham feito algo desastrosamente terrível e atroz.

Apesar do significado implícito dessa frase, esse foi o pensamento


unânime que pairava na mente dos Espíritos.

Agora, Tohka e os outros estavam escondidas na sombra do balcão e


secretamente faziam uma reunião. Suas expressões também eram idênticas:
cheias de culpa e arrependimento.

21
Mas isso era o esperado. Mesmo que elas não tivessem nenhuma
informação sobre eles de antemão, os Espíritos colocaram os pais de Shidou e
Kotori em maus lençóis.

— Eu não tinha ideia de que os pais de Shidou estavam vindo para casa...

— Se eu me lembro corretamente... eles não estavam viajando pelos


mares?

『 Sim-sim. Eu pensei que eles trabalhavam em alguma indústria de


eletrônicos. 』

Em resposta à frase de Tohka, Yoshino e Yoshinon acenaram com as


cabeças em concordância.

— Hm~... e nós os apreendemos logo à primeira vista, que terrível~.

Miku segurava seu queixo com os dedos e fez esse comentário. Quase
imediatamente, as irmãs Yamai, aquelas que tinham subjugado o casal,
invariavelmente exploram um semblante inquieto em seus rostos pálidos.

— M-Maldição, estamos ferradas! Essa nossa mania de confiarmos demais


em nossas habilidades corpo-a-corpo...

— Aprovação. Para piorar, nós subjugamos eles usando um método usado


para suprimir oponentes armados.

Um olhar abatido caia sobre os rostos de Kaguya e Yuzuru quando elas


terminaram de falar. O que elas fizeram era de fato muito requintado e único,
inegavelmente o ápice retirado de treino e prática intensos. O desafio daquela
vez provavelmente era técnicas de captura.

Ouvindo a confissão das gêmeas, Origami fechou seus olhos e gentilmente


balançou sua cabeça.

— Kaguya e Yuzuru cometeram um ato imperdoável. Elas deixaram uma


cicatriz profunda nos corações dos Itsuka.

— Foi sem querer...

— Reticência. O que devemos fazer...?

— Não, mesmo o mais grave dos traumas não se compara com o que você
fez...

22
Natsumi olhou para a direção de Origami com um olhar semicerrado e
disse isso. Os outros Espíritos fizeram várias interjeições de "uhum" em
concordância.

— Essa não é a hora de culparmos umas às outras.

— Uhm, eu não queria ficar apontando o dedo...

Embora Natsumi pretendesse expressar mais sua opinião, ela decidiu que
não era a hora para isso, tendo a situação delas em mente.

— Pensando seriamente, que tipo de consequência nós criamos?

Tohka perguntou com um olhar perturbado emergindo em seu rosto.


Natsumi respondeu de uma maneira sofisticada.

— ...Bem, como eles são os pais de Shidou, eles são os donos da casa. Se
nós enfurecemos eles, não esperem sequer colocar os pés nessa casa, como
costumávamos fazer, daqui em diante.

— C-Como isso pôde acontecer?!

— Isso não é o fim de tudo. Se eles contarem ao Shidou e à Kotori para


"Nunca mais ver essas valentonas de novo......"

— Me perdoem, pessoal... mas eu não me daria bem com pessoas que


usassem a violência contra meus pais.

— A-Ahh...

Apesar de Natsumi ter a tendência de mencionar excessivamente coisas


ruins, Tohka não podia fazer nada além de proferir um lamento triste.

— E-Eu não quero isso! O que podemos fazer!?

Miku complacentemente cruzou seus braços a triste queixa de Tohka.

— ...Eu tenho uma ideia~.

— V-Você tem?

Miku acenou sua cabeça algumas vezes em afirmação.

— Nossa primeira impressão aos pais do Querido, embora bem


lamentável, foi sem dúvida a pior de todas. Mesmo assim, se deixarmos
impressões melhores no futuro, eles não poderiam superar isso?

23
— M-Melhores impressões...?

『C-Como, especificamente? 』

Yoshino e Yoshinon torturavam seus cérebros enquanto pensavam nisso.


Em resposta, Miku ergueu um dedo e respondeu.

— Resumindo, uma boas-vindas ao estilo Japonês.

— B-Boas-vindas?

— Correto. O pai e a mãe devem ter pegado um voo de longa distância,


então eles provavelmente estão exaustos. Se nós dermos a eles a melhor boas-
vindas possível do fundo de nossos corações, nós podemos certamente melhorar
nossa reputação em seus corações.

Absorvendo o discurso de Miku, um novo raio de esperança brilhou nos


olhos dos Espíritos.

— Muito bem, vamos fazer isso!

— E-Eu também...

『Yoshinon também! 』

— Kuku... nada mal. Eu vou deixar vocês experimentarem minha


delicadeza infernal de boas-vindas!

— Consenso. Deixe isso com a Yuzuru.

— Uhm, estou bem com qualquer coisa... se é o que todos querem.

— Sem objeções.

Depois de confirmar o reconhecimento de todos, Miku gesticulou com sua


cabeça.

— Está tudo felizmente decidido então. Nesse caso... vamos começar nossa
batalha!

◇◇◇◇

24
— ......

— T-Tatsu-kun, tudo bem com você?

— E você? Seus braços doem?

Haruko e Tatsuo estavam mutualmente confirmando a segurança um do


outro em sussurros quietos.

O casal, que havia sido liberado momentos atrás, estavam sentados juntos
no sofá da sala de estar, embora ainda estejam com os nervos à flor da pele.

Porém, sua inabilidade total em perder a fadiga não só ajudava. Afinal, as


misteriosas garotas, que forçadamente ocupavam sua casa, estavam se
escondendo por trás do balcão e discutiam assuntos secretos.

— Essas garotas... de onde elas saíram?

Tatsuo disse isso com uma expressão perplexa.

— Elas parecem ser amigas do Shidou e da Kotori... Que tipo de


relacionamento será que eles tem?

— Amizade comum, eu acho. Talvez Shidou pediu a elas para olharem a


casa e aconteceu de nós voltarmos sem avisar. Elas provavelmente nos
confundiram com bandidos e nos capturaram...

— ...Você realmente acha que garotas hoje em dia podem aplicar técnicas
de combate militares, serem habilidosas com facas, e até mesmo ter conhecimento
de técnicas de tortura? Essas garotas obviamente não são comuns.

— Bem, isso é verdade. Mas elas não me parecem ser más pessoas...

A respeito da declaração alegremente ignorante de Tatsuo, Haruko só


pôde balançar sua cabeça.

Sem qualquer tipo de senso de perigo, como sempre. Embora ele fosse um
engenheiro admirável, Tatsuo podia ser classificado como totalmente
incompatível com a sociedade e, obviamente, com a malícia humana. Resumindo,
ele era um tapado. Ou seja, sem Haruko ao seu lado, Tatsuo já teria sido
enganado diversas vezes.

Bem, ela achava esse aspecto dele excepcionalmente adorável.

— ...De qualquer forma, é muito arriscado ficar mais tempo por aqui. Nós
devemos encontrar uma oportunidade e fugir.

25
— Hm, se é o que a Haru diz.

Tatsuo murmurou, ainda sem desconfianças.

— Bom, vamos tentar nos esgueirar para fora daqui o mais


silenciosamente o possível.

Haruko e Tatsuo curvaram suas costas de forma a minimizar os sons de


seus passos e andaram nas pontas dos pés pelo corredor.

Porém, naquele momento.

— ... Está pronto!

Justo quando o casal estava passando pelo outro lado do balcão... um grito
clamoroso reverberou da cozinha, e uma garota simultaneamente se aproximou
deles enquanto carregava um grande prato em suas mãos.

Depois disso, quando a garota abriu a porta e olhou em direção a eles, ela
ficou paralisada e inclinou a cabeça.

— Muu? O que aconteceu, mamãe e papai do Shido? Vocês vão para


algum lugar?

— Ahh, err. Nós estávamos fug-

— N-Não, não aconteceu nada! Só estamos fazendo alguns exercícios


leves!

Haruko amplificou o volume de sua voz em forma de encobrir a resposta


honesta de Tatsuo. Mesmo que a honestidade seja uma coisa boa, e seja o
princípio favorito de Haruko, agora não era a hora para ser educado. Se seus
planos fossem expostos, quem sabe o que aconteceria com eles.

— Muu, então é isso?

Em contrapartida, a outra pessoa parecia ser tão inocente quanto Tatsuo,


aparentemente confiando totalmente no improviso de Haruko.

— Então... sobre isso.

— Meu nome é Tohka. Yatogami Tohka.

— Tohka-chan, alguma coisa errada?

Tohka concordou fortemente com um "Umu!" e deixou a grande refeição


em cima da mesa.

26
— Eu ouvi que se eu fizesse isso sozinha, vocês se sentiriam bem-vindos e
felizes. Vocês dois devem estar com fome depois de uma longa viagem! Por favor,
sintam-se livres para comer!

Tohka mencionou cada item que o prato continha. Haruko e Tatsuo só


puderam acompanhar com expressões surpresas.

— Esses são... bolinhos de arroz feitos a mão?

Mesmo que eles não estejam no formato tradicional, com certeza eram
bolinhos de arroz feitos a mão: arroz quente cozinhado em forma triangular e
enrolado com alga ressecada.

Pelo contrário, gotas de suor gradualmente escorriam pelo rosto de


Haruko. O motivo era bem claro. Cada um desses bolinhos de arroz feitos a mão
não podia sequer serem segurados com uma só mão. Eles eram bolinhos de arroz
tamanho família.

— Por favor, não sejam tímidos!

Tohka insistiu com um rosto preenchido de um sorriso ensolarado.


Haruko forçou um sorriso quando seu rosto se contorcer ligeiramente.

Então, a completa contraparte dela, Tatsuo, prontamente juntou as palmas


de suas mãos.

— Aah, obrigado pela dedicação. Vamos comer...

— Espera, Tatsu-kun.

— Hã? Qual o problema, Haru?

Tatsuo estava confuso com o alarme repentino. Mesmo que Haruko tenha
achado essa reação dele adorável, sua opinião pessoal não aceitava que eles
abrissem a guarda desse jeito. Haruko chegou perto do ouvido de Tatsuo e disse
de forma que sua voz não fosse ouvido por Tohka.

— Nós ainda não descobrimos quem são essas garotas, nem se elas
colocaram alguma coisa nesse bolinho de arroz. Comer isso sem cautela é
extremamente perigoso.

— Meu Deus, você não acha que está exagerando? A garota não parece ser
má pessoa, e seria falta de educação recusar algo que lhe foi oferecido.

— Não, isso é... nnn, verdade.

27
Haruko queria refutar a cortesia de seu marido, mas imediatamente
deixou sua resposta presa na garganta. Acima de tudo, por ter sido um casal por
tantos anos, ela sabia como Tatsuo era teimoso quanto a esse tipo de coisa.

— Eu entendi. Mas eu vou dar a primeira mordida, tá?

Haruko declarou inflexível mente. Isso não era para assegurar que a
comida estava seguramente comível, mas para proteger Tatsuo, já que ela pensou
que se ele experimentasse primeiro, ele comeria o bolinho inteiro, mesmo que o
gosto fosse ruim.

Tatsuo sorriu como se não soubesse nenhuma das intenções de Haruko.

— Oh, então quer ser a primeira? Eu acho esse lado seu tão fofo, Haru.
Certo, vá em frente.

— Err... Obrigada, Tatsu-kun.

Um fraco sentimento de desamparo entrelaçado com um prazer distante


de ser elogiada como "fofa" chegou até ela, fazendo com que Haru desse um
sorriso complicado.

Haruko tossiu fracamente uma vez para retomar à atmosfera e se voltou


para Tohka.

— Bem, se não se importar, Tohka-chan.

— Umu! Vá em frente!

Tohka pediu vigorosamente. Haruko engoliu sua saliva de nervosismo em


vez de apetite e estendeu sua mão para pegar um dos bolinhos de arroz que
estavam à sua frente. Para poder averiguar seu conteúdo, Haruko gentilmente
observou o bolinho que foi aberto ao meio.

— Isso é... bonito, bacalhau, atum... err, e um grande amontoado de outras


coisas.

— Umu! Eu não sabia qual usar, então eu coloquei tudo junto! Ah, mas
não se preocupem. Eu não coloquei nenhuma ameixa, por que elas estavam... err,
azedas.

Tohka assumiu uma expressão amarga como se tivesse experimentado


algo ácido. Era como Tatsuo havia dito: Essa garota não parece ser má pessoa.

28
Seja como for, eles não poderiam ser negligentes e teriam que tomar
algumas medidas de precaução.

Haruko farejou a fragrância do bolinho de arroz para garantir que não


haviam odores estranhos, e depois disso ela deu uma mordida.

— ...tem gosto de... bolinho de arroz normal.

— E como está?

— Err, d-delicioso.

Ao receber a afirmação de Haruko, o rosto de Tohka se iluminou de


alegria.

— Sério!? Ainda tem bastante! Por favor, comam!

— Obrigado. Nesse caso, se não se importar.

Tatsuo investiu nos bolinhos de arroz restantes e pegou um, para em


seguida o devorar com grandes mordidas.

— Uau, delicioso! Você cozinha muito bem, Tohka-chan!

Tatsuo elogiou ela enquanto devorava os bolinhos restantes sem se


importa com seu tamanho gigantesco.

Na verdade, devido ao fato deles só terem tomado o café da manhã


naquele dia, eles estavam famintos. Haruko seguiu Tatsuo e deu uma segunda
mordida no bolinho de arroz, e depois uma terceira.

Porém, não importa o quão vazia estava suas barrigas, elas tinham um
limite. Tohka fez um total de seis bolinhos de arroz. Os bolinhos, que eram
grandes o bastante para cobrirem seus rostos, foram divididos igualmente entre
os dois: três para cada. Não havia como eles comerem todos. Tatsuo, que comeu
um inteiro, e Haruko, que comeu metade, já estavam satisfeitos.

— Hu... Obrigada pela refeição.

— ...?!

Em resposta as palavras ditas por Haruko, Tohka instantaneamente


arregalou os olhos e sua expressão ficou desanimada.

— E-Entendo... Vocês já estão saciados... Umu, não posso fazer nada em


relação a isso...

29
— Uu...

Ao ver o estado depressivo de Tohka, tanto Haruko quanto Tatsuo


prenderam sua respiração sufocantemente. Ver a sua melancolia serviu para
estimular a abominável sensação que Haruko e Tatsuo tiveram cometido algum
tipo de crime contra a garota.

— N-Não, sabe... acho que podemos comer mais um pouco, né?

— ahaha... sim. Ainda tem um pouco de espaço sobrando.

— ...!

Tohka deu um grande sorriso de felicidade no momento que ouviu as


palavras do casal. Se ela tivesse visto a verdade por trás das palavras açucaradas,
o coração de Tohka poderia ter sido devastado mais uma vez e feito em pedaços.

— É mesmo? Umu! Então, err, como posso dizer, estou muito feliz!

— ...

Agora que foi dito não pode ser desfeito. Haruko e Tatsuo
respectivamente forçaram um sorriso torto e começaram a comer os bolinhos de
arroz no prato mais uma vez.

E então, dez minutos depois.

— Ugh, ufa...

— Fiiiu...

Apesar de seus esforços relutantes para se forçarem à continuar comendo


a comida, seus estômagos já haviam chegado ao seu extremo limite não importa
o quanto eles tentassem desafiar as leis da natureza. No final, Haruko e Tatsuo
conseguiram terminar dois bolinhos de arroz e meio juntos e finalmente caíram
no sofá quando chegaram ao seu limite.

— Mamãe e papai do Shido! Tudo bem com vocês!?

Tohka observou o casal ansiosamente, mas não obteve resposta de Haruko


e Tatsuo pois o casal já tinha usado toda sua energia ao ponto de não conseguirem
sequer acenarem com as mãos.

◇◇◇◇

30
— Nós conseguimos a tempo... Estou realmente grata, Itsuka-kun. Se eu
conseguir um cara rico para ser meu marido, eu vou te convidar para visitar
nossa casa.

— N-Não precisa fazer isso. Não foi nada.

Shidou sinceramente recusou a boa vontade de Tama-chan, que ele


carregou todo o caminho até o local da festa. Ele rapidamente curvou sua cabeça
e começou a correr pela estrada.

Ele acabou gastando mais tempo do que originalmente previu, então


Shidou tinha que correr.

— Por favor, se comporte apropriadamente com todos...

Shidou divulgou um desejo pesaroso enquanto seguia seu caminho ao


mesmo tempo.

Porém, naquele momento, a luz do sinal na estrada ficou vermelho, e


Shidou só pode parar seus passos ansiosamente enquanto esperava a lâmpada
mudar de cor.

Coincidentemente.

— Oh, Itsuka. O que está fazendo aqui?

Uma certa voz alcançou seus ouvidos por trás. Shidou olhou para trás,
meramente para encontrar seu colega de classe, Tonomachi Hiroto, em pé,
acenando para ele.

— Chi.

— Por que essa resposta...?

— ...Ah, esquece. Eu descuidadamente mostrei meus verdadeiros


pensamentos.

— Você podia ao menos negligenciar isso ou contar uma mentira?!

Tonomachi tinha pegado Shidou no flagra, mesmo assim, diálogos assim


eram comuns entre os dois amigos. Tonomachi encolheu seus ombros e inclinou
seu queixo para o lado.

— Esquece. Você apareceu na hora certa, quer me acompanhar numa


caminhada rápida se tiver com tempo livre? Eu quero ir visitar o novo Arcade
que abriu recentemente.

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— Desculpa, mas hoje não. Eu tenho algo importante para fazer.

— O que é?

Shidou instantaneamente fugiu no momento que o sinal ficou verde. Ou


pelo menos ele tentou. Em questão de segundos, seu braço foi inexplicavelmente
segurado por Tonomachi, e Shidou foi forçado a parar seus passos.

— E-Ei, o que foi agora? Eu estou com pressa.

— Algo importante? Poderia isso ter a ver com uma garota?

— ...Não.

— Mas parece que sim! Então por que está tão engasgando tão de repente!?
Não minta para mim, por que esse tipo de coisa sempre acontece com você?!

— C-Como é que vou saber?! Deixe-me ir! Eu estou ficando sem tempo!

— Nem em um milhão de anos. Você vai passar um dia livre de garotas


comigo!

— Mas que merda há de errado com esse dia?!!!

Contra um Tonomachi três vezes mais irritante, Shidou podia somente


amaldiçoar e proferir profanidades ao seu azarado destino.

◇◇◇◇

— Uu... acho que exageramos.

— Haha... nós poderemos comer mais no futuro.

Haruko e Tatsuo, que estavam quase desmaiando por terem ingerido tanta
comida, estavam atualmente deitados na cama localizada em seu quarto.

Falando nisso, os bolinhos de arroz que os dois não foram capazes de


comer foram finalizados por Tohka em um piscar de olhos. O motivo para ela ter
mostrado uma expressão desanimada foi revelado como sendo racionalmente
perdoável. Conforme os seus padrões e critérios, Haruko e Tatsuo só tinham
comido uma porção insignificante de bolinhos de arroz, deixando o resto
intocado.

32
— T-tudo bem com vocês, err, papai e mamãe do Shidou?

— Forçar a nós mesmo é prejudicial...

No meio do caminho para seu descanso, a voz de outra pessoa ressoou por
trás do casal.

Mudando sua linha de visão, eles puderam ver duas garotas pequenas e
delicadas paradas ali.

Uma das garotas carregava um fantoche de coelho em sua mão; ela parecia
ser especialmente amigável. A outra garota, porém, mostrava uma expressão sem
afeição e audaciosamente encarava o casal com olhos infelizes.

Se a memória os favorecesse, seus nomes eram Yoshino e Natsumi.


Anteriormente, essas duas tinham substituído Tohka e levaram Haruko e Tatsuo
ao seu quarto.

— ...Ahh, estou bem.

— Un, nós comemos demais.

Ouvindo as respostas de Haruko e Tatsuo, as duas garotas soltaram suas


respirações.

Discernindo as duas aparências, Haruko aos poucos acalmou seus nervos.

As duas garotas eram como Tatsuo tinha dito: não eram más pessoas.

— Yoshino-chan e Natsumi-chan, certo? Vocês duas são amigas da Koto-


chan, não, Kotori?

Yoshino e Natsumi emitiram um som ambíguo e responderam em voz


baixa a pergunta de Haruko.

— Sim... Kotori tem cuidado de nós há bastante tempo.

— Ooh, verdade? Então, onde ela está agora? Mesmo que sejam amigas
próximas, pedir para olharem a casa é muito...

— A-Ah, não é bem assim...

Em relação a dúvida de Haruko, Yoshino parecia estar um pouco


incoerente. Mesmo que ela quisesse explicar apropriadamente, Yoshino não
conseguiu achar as palavras certas para fazê-lo e isso resultou nessa situação
estranha.

33
Já Natsumi, para acalmar Yoshino, colocou suas mãos ternamente nos
ombros dela.

— Natsumi-san...?

— ...Está tudo bem, espere um pouquinho.

Natsumi então andou pela sala, deixando Yoshino sozinha.

Depois de alguns segundos, uma garota entrou no quarto pela porta que
Natsumi tinha desaparecido.

Todos acreditavam que tinha sido Natsumi que havia voltado, mas isso se
provou ser falso.

— Oh! Otou-san, Okaa-san, bem-vindos de volta!"

— ...! Koto-chan!?

— Kotori!?

Haruko e Tatsuo não podiam se conter em chamar pela garota. Com laços
brancos. Cabelos divididos em dois rabos de cavalo e olhos redondos, ela era sem
dúvida a filha querida de Haruko e Tatsuo, Itsuka Kotori.

— Vamos lá, você estava em casa? Devia ter aparecido mais cedo.

— Desculpa, eu estava ocupada. De qualquer forma, eu não deixei minhas


amigas cuidando da casa?

Kotori deu um olhar inocente para eles.

Apesar das circunstâncias não serem claras, como ela tinha voltado, o casal
se sentiu aliviado de ver sua filha ali.

— Err... estamos em casa, Koto-chan.

— Aah, há quanto tempo, Kotori. Perdoe-nos por não conseguirmos voltar


no seu aniversário.

Tatsuo ardorosamente e vagarosamente se levantou para abraçar sua filha,


e estendeu seus braços para frente.

Olhar essa cena fez com que Haruko se sentisse extremamente relaxada.
Toda vez que eles voltaram para seu país natal, esses dois sempre gritavam
"Kotori~!" e "Otou-san~!" um para o outro e davam um abraço de urso mútuo o
que desenvolvia um constante crescimento do afeto entre eles.

34
Porém.

— O-O-O que está fazendo!?

A poucos segundos de Tatsuo conseguir abraçá-la, as bochechas de Kotori


ficaram vermelho brilhante e ela deu um poderoso chute no abdômen de Tatsuo
com sua perna.

Com os enormes bolinhos de arroz ainda sendo processados em sua


barriga, Tatsuo só pode gritar "Ugaah!" de forma abatida ao encarar esse ataque
repentino.

— T-Tatsu-kun!? Koto-chan! O que você fez ao seu pai! Vocês dois não
costumam se abraçar quando nós chegamos em casa?

— ...! Ah, não, é que, isso...

Ao ouvir as palavras de Haruko, Kotori congelou como se seu chute


anterior tivesse sido realizado por reação instintiva.

— G-Guuu...

Tatsuo abafou sua boca usando suas mãos com toda a força para impedir
que ele vomitasse. A pessoa entre Tatsuo e Kotori, Yoshino, abriu sua boca para
falar.

— P-Por favor, espere um momento; eu vou pegar um remédio...

Yoshino saiu do quarto, acompanhado pelo tamborilar de pequenos


passos.

— I-Isso...

Kotori, ao ser deixada para trás, fez uma expressão envergonhada e olhou
para Tatsuo.

— Me desculpe, Otou-san~. Eu fiquei assustada porque foi muito de


repente...

— Não, a culpa é minha.

Depois que ele conseguiu controlar seu impulso de vomitar, Tatsuo deu
um sorriso debilitado.

— Kotori tem quatorze anos agora... ela não é mais uma criança. Sniff...
Sniff... Eu sabia que esse dia chegaria. O papai está bem...

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— T-Tatsu-kun...

— Não se preocupe... Err... Por que tudo parece tão embaçado agora...?

Tatsuo ergueu sua cabeça e olhou para o teto para prevenir que suas
lágrimas escorressem.

Ver seu pai em uma situação tão desoladora, era a primeira vez desde que
Kotori parou de tomar banho junto com ele e quando ela o descobriu por trás da
fantasia de Papai Noel há alguns anos.

— Não, err, não é bem assim.

Kotori coçou sua bochecha com uma expressão encabulada.

Foi então que, o som de passos desajeitados foi transmitido pelo corredor.

Bem em seguida, Yoshino entrou na sala carregando um copo de água e


uma pílula de remédio usando uma bandeja.

— M-Muito obrigada, por esperar...

『Yoshinon chegou~! 』

O fantoche de mão em forma de coelho e Yoshino disseram isso


combinando. Como ele estava carregando a bandeja em sua boca, a voz
ventríloqua de Yoshinon soou um pouco obscura.

Uma bela demonstração de habilidade.

— Hyaa!

Porém, por ela estar muito afobada, o pé de Yoshino escorregou no meio


do caminho, e a bandeja em suas mãos voou no ar fazendo seu conteúdo ser
espalhado por todo o chão.

— Uahh!?

O líquido puro que estava dentro do copo foi espirrado em cima de


Haruko.

◇◇◇◇

36
— Haa... Haa... Realmente... Eu preciso ir embora logo...

Shidou recobrou o fôlego depois de descer correndo o caminho que levava


à sua casa.

Depois de gastar um esforço e força tremendos, Shidou finalmente


conseguiu prevalecer contra o incomodo de Tonomachi, que estava o
importunando como uma verdadeira peste. Apesar que na verdade o método
específico que Shidou usou foi comprar o silêncio do rapaz com uma perna de
caranguejo que ele tinha em sua sacola de compras. Apesar de ter feito isso, a
batalha de gangorra que ele travou com Tonomachi só fez com que ele
aumentasse a distância entre ele e sua casa, sem contar que prolongou o tempo
de seu trajeto.

— Por que justo agora?

Essa situação hostil perseguiu Shidou por todos os lugares que ele ia, como
se a maliciosa Dama da Sorte tivesse o amaldiçoado com azar. Que chances ele
teria contra tal destino premeditado? Os deuses deviam estar morrendo de rir
quando escreveram a situação patética que Shidou vive.

Ainda assim ele resistentemente se recusou a abandonar as esperanças. Se


Shidou cessasse seu passo agora, a verbalização involuntária dos espíritos
poderia acabar com seus pais com golpes fatais.

Para Shidou, que já havia se metido em vários mal-entendidos com seus


colegas de classe e vizinhos por causa da assistência muitas vezes falha da
Ratatoskr, a última coisa que ele desejava é que ele fosse mal interpretado por
seus próprios pais.

Os pais adotivos que Shidou admiravelmente respeitava do fundo de seu


coração o criaram com carinho para ser um homem correto. Eles tinham fé nele.

Shidou tinha que impedir de qualquer forma que eles o vissem como um
criminoso sexual que tinha enchido sua casa de garotas tanto mais velhas quanto
mais novas que ele.

Não, eles provavelmente entenderiam as ações de Shidou. Mesmo que eles


entendam mal a história de Shidou achando que ele é um galanteador, os pais de
Shidou não o atacariam com um monte de críticas dolorosas ou o condenariam
pelo resto da vida. No máximo, eles fariam cara de paisagem e falariam "Haha...

37
Então é isso? Shidou é um garoto, afinal. Mas você não pode negligenciar essas
garotas, tá bom?" ou coisa assim.

Porém, considerando o fato que os Espíritos são existências escondidas,


Shidou também não podia colocar esse fato em debate. Se as coisas ficarem
piores, Haruko e Tatsuo poderiam voltar aos Estados Unidos preocupados com
o pensamento de que seu filho se tornou um playboy. Shidou não tinha
absolutamente idéia de qual tipo de clima encontraria quando se encontrasse com
seus pais futuramente.

— Se eu não me apressar...

Shidou soltou sua voz de sua garganta, acelerando sua velocidade


conforme dava passos adiante.

Naquele momento.

— ...!

Shidou abruptamente freou seu passo.

Poucos metros a frente dele, Shidou podia discernir as figuras de três


garotas extremamente familiares.

Da esquerda para a direita, em pé em ordem das suas respectivas alturas


e compartilhando a mesma idade que ele, seus nomes eram Yamabuki Ai,
Hazakura Mai e Fujibakama Mii: o renomado trio da classe de Shidou.

Francamente, a situação incorporava meramente suas colegas de classe


andando juntas em frente a ele. Somente passar correndo por elas bastaria.

Porém, por algum motivo, ele teve uma premonição ameaçadora que
implacavelmente o alertou para evitar tal encontro.

— ...

Shidou silenciosamente mudou o passo e começou a andar em outra


direção enquanto silenciava o som de seus passos. Embora isso fosse consumir
um pouco de tempo, pegar um pequeno desvio o levaria da mesma forma em
direção à sua casa.

Naquele instante...

— Hoho! Meu pai, olha que coisa sinistra!

38
— Qual o problema, Kitarou?4

— Ah! Bem ali! Itsuka está andando na rua como se tivesse feito algo
vergonhoso!

— O quê!?

O trio voltou seus olhares uma atrás da outra, assustando Shidou e


fazendo seus ombros tremerem.

— Kun...!

— Ah! Ele está fugindo!

— Demônio infame!

— Avante!

Ai, Mai e Mii giraram seus corpos em alta velocidade e perseguiram


Shidou, que fugia. Shidou não pôde fazer nada além de erguer sua voz e gritar
quando ele ouviu os passos supersonicos vindo atrás dele.

— Mas por que estão me perseguindo?!!

◇◇◇◇

— ...Aah~...

Haruko simultaneamente ouviu a reverberação da sua voz ecoando na


parede e mergulhava seu corpo na tranquila superfície do líquido contido na
banheira.

Ela já tinha sido banhada com um pequeno volume de água quando


Yoshino tropeçou acidentalmente. Para prevenir que pegasse um resfriado,
Haruko foi convidada a tomar um banho quente.

Nesse caso, seu corpo já havia sido encharcado de suor devido à


extenuante sequência de eventos que ocorreu, então ela de bom grado aceitou o
convite. Por outro lado, Haruko também tinha gastado um pouco de vitalidade

4
Ge no Kitarou é um mangá dos anos 1960, criado por Shigeru Mizuki, foi ele que popularizou
criaturas folclóricas japonesas, como os Yokais)

39
ao consolar Yoshino, que persistentemente continuou a se desculpar com olhos
lacrimejantes brilhantes.

— Mesmo assim...

Essas crianças, quem são elas de verdade?

Haruko observou atentamente para os pingos de água que gradualmente


condensavam no teto enquanto pensava.

Pela idade que aparentavam, Yoshino e Natsumi podiam ser consideradas


amigas de Kotori, mas as outras garotas pareciam ser do ensino médio e ter a
mesma idade de Shidou não importa o quanto se olhasse para elas.

É claro, ela não excluía a possibilidade de tudo isso ser coisa do Shidou,
mesmo que fosse minúscula. Porém, para o Shidou, que nunca trouxe uma
namorada para casa, ter convidado tantas garotas para sua casa tão de repente,
sem contar o fato de todas elas terem aparência deslumbrante, isso era algo quase
impossível.

Mas e se esse fosse o caso, qual poderia ser a fonte da perturbação que
Shidou demonstrou durante a ligação de mais cedo? Essa perspectiva era muito
selvagem e cheia de devaneios. Haruko não pôde deixar de dissipar essa noção
da essência de sua mente.

— ...Então.

Não obstante, embora ela não pretenda questionar Shidou, se aquele


garoto tímido realmente fez uma namorada, eram uma notícia extremamente
feliz para Haruko.

Porém, deixar esses assuntos duvidosos de lado não era o modo que
Haruko trabalhava. Por isso, ela decidiu firmemente que investigaria
cuidadosamente para ter certeza sobre o tipo de relacionamento que Shidou tinha
com essas garotas, assim como Kotori também.

Haruko ficou determinada e tentou se erguer da banheira.

Quando ela estava prestes a sair, a porta do banheiro abriu


instantaneamente, e as gêmeas que anteriormente tinham apreendido ela e
Tatsuo entraram no local com somente toalhas cobrindo seus corpos.

— As Yamai vão se juntar a você!

— Aparição!

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— O-O que está acontecendo?

Apesar do fato delas serem do mesmo gênero, ter pessoas entrando no


mesmo banheiro que você está tomando banho sempre assustará a pessoa que ali
estiver. Haruko instintivamente abraçou seu corpo.

Elas eram irmãs gêmeas: seus nomes eram, se ela se lembrava bem,
Kaguya e Yuzuru. Quanto ao motivo delas fazerem pose antes de falar, Haruko
não fazia a menor ideia.

— Kuku... permita me limpar os pecados que se acumularam das


inúmeras viagens que fez.

— Traduzindo. Por favor, deixe Yuzuru e Kaguya lavarem suas costas.

— A-Ah...

Ao invés de consentir, Haruko foi pressionada pela imposição das gêmeas


e concordou com a cabeça. Então, as irmãs Yamai deixaram Haruko sentar em
uma cadeira e começaram a esfregar sabão em suas mãos.

Em seguida, as duas se sentaram atrás de Haruko e alternadamente


lavaram suas costas.

— Kaka... O que acha da habilidade combinada das Yamai: Dragões


Celestiais Giratórios de Água? Deixe a si mesma ser imersa em prazer!

— Confirmando. Isso faz cócegas?

— Ahh... Err, está bom.

Ter suas costas limpas por alguém de fato satisfazia Haruko. Mas no final,
Haruko soltou uma expressão incomensurável enquanto ela ponderava por que
as duas gêmeas estavam lavando suas costas. Ela perplexamente coçou suas
bochechas.

Observando a reação de Haruko, Kaguya e Yuzuru quietamente


sussurraram.

— Hmm, por que ela não parece muito feliz? Essa não é nossa
hospitalidade suprema?

— Assentimento. Ao invés disso, ela parece estar bem confusa.

— Que estranho. Se fosse o Shidou, ele estaria muito feliz, mesmo que
estivesse coibido.

41
— Deliberação. Talvez seja por causa da diferença de gêneros. Isso poderia
ser efetivo contra o pai dele.

— Err... mas como posso dizer isso, parece que seria estranho fazer isso
em outro homem que não fosse o Shidou.

— Concordância. Penso o mesmo.

— Além disso, se fosse a Miku, ela se sentiria feliz de ter uma garota
limpando ela.

— Contemplação. Será que nós erramos o método?

— Oh, você pode estar certa. Então vamos tentar aquilo. Se fizermos isso
por trás...

— Entendido. O movimento de acariciar. Mas isso não seria muito difícil


para a Kaguya?

— Hein, o que quer dizer com isso?

— Explicação. Se for a Kaguya, antes de tocar seu peito, ela acabaria


batendo em seu queixo.

— Não me tome por uma idiota. Mesmo que eles sejam pequen...

— Proposta. Nesse caso, vamos começar simultaneamente do lado


esquerdo e direito.

— Como eu desejava. Um, dois...

— E-Esper um momento.

Se seu silêncio persistisse, Haruko provavelmente entraria em um novo


mundo de êxtase, então ela rapidamente parou as duas.

Mas, antes disso, Haruko percebeu algo ainda mais desesperadamente


sério dentro do diálogo entre as gêmeas. Enquanto suava frio, ela encarou as duas
garotas uma depois da outra.

— Afinal... vocês disseram algo sobre o Shii-kun... agora a pouco?

Ao serem perguntadas diretamente, Kaguya e Yuzuru não podiam deixar


de piscar algumas vezes e inclinarem suas cabeças.

— Hm, sim, falamos.

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— Confirmação. Algo de errado com isso?

— Não, é só que... vocês duas disseram que já tomaram banho com o Shii-
kun ou algo do tipo.

Haruko questionou curiosamente. As duas garotas, ao observarem a


resposta de Haruko, mostram expressões estupefatas como se tivessem dito algo
que não deveriam.

— U-Uh, os pecados foram todos revelados!

— Aprovação. Yuzuru e Kaguya devem partir agora.

— E-Esperem um minuto!

Apesar da reclamação verbal de Haruko, as irmãs Yamai se levantaram e


saíram do banheiro agitadamente.

◇◇◇◇

— Bem então...

Apesar de Haruko ter entrado no banheiro há trinta minutos, Tatsuo


esteve deitado continuamente por todo esse tempo e vagarosamente se sentou
após seu estômago ter se sentido um pouco melhor do que antes.

— Ah... Está tudo bem agora?

『Não se esforce demais. 』

Yoshino e Yoshinon perguntaram de forma preocupada, pois ficaram


cuidando de Tatsuo na beirada da cama desde que seu estômago começou a doer.

— Uhn, foi graças ao remédio que a Yoshino-chan me deu.

— A-Ah...

Ao ouvir a resposta de Tatsuo, Yoshino não pôde deixar de se sentir


extremamente arrependida e encolheu os ombros. Mesmo que Tatsuo não
estivesse se queixando de nada, Yoshino provavelmente estava deprimida
devido à falha anterior. Ela realmente tem um bom coração.

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Tatsuo deu um sorriso para mostrar que ele não estava irritado com aquilo
e andou em direção as escadas.

— ...Onde... você vai?

A garota que tinha esquecido de colocar um honorífico e estava em pé ao


lado de Yoshino era, sem dúvidas, Natsumi. Quando Kotori disse que tinha uma
tarefa para fazer, Natsumi entrou no quarto em seu lugar.

— Aah. Haru-chan deve terminar logo, e eu tenho que preparar a troca de


roupas.

— Deixe-me fazer isso em seu lugar!

Depois de Yoshino fazer essa oferta, Tatsuo balançou sua mão em recusa.

— Estou grato por isso, mas está tudo bem, e a Haru-chan não gosta de
levar nenhuma bagagem nas viagens. Hoje, nós só trouxemos as roupas
necessárias, então nossos pijamas ficaram em casa. Pode ser um pouco cedo, mas
estou pensando se devo pegar uma muda de roupas no quarto do Shidou ou não.

『Então, deixa que Yoshinon te mostra o caminho! 』

Yoshinon acenou e avidamente disse isso.

— Entendi, então eu deixo isso com você.

Eles estavam na residência dos Itsuka. Como dono da casa, não tinha como
Tatsuo não saber onde é o quarto do Shidou. Mas ele simplesmente sorriu e
continuo à concordar com a cabeça. Afinal, esse era um gesto gentil das duas
garotas, e Tatsuo não tinha como recusar.

— P-Por aqui...

— ...Uhn.

Yoshinon e Natsumi mostraram o caminho e guiaram Tatsuo para fora do


quarto e a subir as escadas. Tatsuo seguiu as duas pequenas figuras e subiu ao
segundo andar.

— P-Por favor, vá em frente.

— ...Aqui vamos nós.

— Uhn, obrigado.

Tatsuo então empurrou a porta do quarto de Shidou para abri-la.

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Apesar do perene período de tempo em que Tatsuo ficou sem nunca ter
pisado no quarto de seu filho, não havia muitas diferenças de seu estado atual
com o que ele se lembrava. Isso era devido ao fato de Shidou ser
escrupulosamente meticuloso que aquele lugar estava bem arrumado e limpo
como sempre esteve.

Para falar a verdade, o quarto de Shidou estava ainda mais impecável e


intocável do que o lugar que Tatsuo e Haruko moravam nos Estados Unidos.
Tatsuo deu um sorriso torto e começou a abrir o guarda-roupa.

— Hm? Isso é...

Inicialmente pretendendo procurar por uma camisa lisa, Tatsuo


abruptamente notou que um certo item interrompeu seus movimentos.

◇◇◇◇

— Ahh... realmente, o que essas pessoas querem?

Depois de meticulosamente se livrar do trio extemporâneo Ai, Mai e Mii,


Shidou finalmente teve um respiro de alívio e limpou o suor da testa com a
manga da camisa.

Apesar da estação atual ser inverno, a perseguição anterior fez com que o
corpo de Shidou se aquecesse e sua transpiração transbordasse.

Para ser preciso, isso era devido a consternação e pressentimento de ter


sua reserva de tempo reduzida conforme ele fugia rapidamente que essa
evidencia repercutiu impactantemente em sua consciência sobrecarregada.

— Eu estou só o pó... se isso continuar acontecendo, as coisas só vão ficar


piores. Aliás, onde será que eu estou?

Enquanto continuava sua conversa desmoralizante, Shidou observou seus


arredores. Ele parece ter se perdido em uma área desconhecida durante sua
última tentativa de despistar o trio ameaçador.

— De qualquer forma, eu tenho que tentar voltar ao caminho principal.

45
Embora seu senso de direção tenha sido desorientado, andar na direção
certa ou errada é muito melhor que ficar parado sem fazer nada. Shidou ajustou
sua respiração e começou a aumentar sua velocidade.

Porém, depois de correr por apenas poucas centenas de metros, Shidou


parou sua corrida.

— ...

Naturalmente, Shidou sabia que aquela não era a hora para isso. Mas
naquele momento, um ato que chamava muita atenção estava acontecendo no
beco estreito à sua esquerda.

Shidou não podia saber mais sobre a garota que estava parada alí. Ela
tinha um longo cabelo negro, pele branca como a neve, e uma longa franja que
tampava seu olho esquerdo. Carregando um sedutor e divertido sorriso em seu
rosto, ela despreocupadamente pairava ali.

... Tokisaki Kurumi. A {Pior Espírito} emergiu em frente à Shidou.

Ela estava mantendo uma postura inclinada para frente enquanto


encarava um felino feroz cara a cara encarnando a própria femme fatale.

— Eu finalmente encontrei você. Então você é o chefe da rua, Toramaru-


san, eu presumo?

Kurumi estender sua mão com uma expressão destemida, gerando um


aterrador miado do gato conhecido como Toramaru.

— Hihi... Como esperado, planos comuns não funcionam contra você. Isso
só deixa tudo mais divertido, não é mesmo?

Conforme provocava, Kurumi desatou o saco que carregava na palma da


mão e esparramou seu conteúdo pelo chão. Parecia ser um tipo de ração de gato.

Toramaru gentilmente balançou suas orelhas, cautelosamente se


aproximou da comida e começou a mordiscar.

Porém, depois de poucos segundos, o agora roliço Toramaru começou a


cambalear como se estivesse bêbado e finalmente caiu no chão com a barriga
exposta sem defesas.

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— Hihihihihihihihihi! Você caiu na minha armadilha. A ração de comida
especial foi misturada com erva de gato!5

Kurumi simultaneamente gargalhou em um volume bem alto e se curvou


para gentilmente acariciar a barriga macia de Toramaru. A criatura também
ronronou confortavelmente, agindo completamente diferente de antes.

— Hihihihihi! Com isso, eu derrotei todos os poderosos chefes dessa rua.

Todos os gatos agora são...

Nesse momento, ela deve ter percebido que estava sendo observado por
trás de suas costas.

Kurumi de repente se virou.

Seus olhos encontraram Shidou.

— ...

— ...

Ambos ficaram em silêncio e sem se comunicar por alguns segundos.

— ... Shidou-san. Por quanto tempo esteve aí?

— N-Não é o que está pensando! Eu só estava passando por coincidência,


quando...

De alguma forma, um pressentimento perturbador o avisou para não dizer


mais nada.

Consequentemente, Shidou rapidamente fingiu que não sabia de nada e


decidiu sair logo de cena.

Em questão de segundos, seus ombros foram agarrados por alguém e


Shidou foi forçado a parar seu caminho.

— Você teve a idéia errada!

Kurumi utilizou uma voz calma para dizer isso. Não, ela estava calma
demais.

— Se alguém entender isso errado, eu ficarei muito contrariada. As coisas


não são como você está pensando, Shidou-san.

5
Erva de gato ou Catnip, é uma erva que apura os sentidos dos gatos e os deixam eufóricos).

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— Hã? Não, eu já não falei, eu não sei de nada...

— Será que é possível que o Shidou-san esteja pensando que eu seria


alguém que precisa depender de usar erva de gato na ração de gatos para
influenciar todos os gatos da rua para fazer um Santuário de Gatos, o Reino da
Tokisaki, ou coisa parecida?

— Não, isso, eu não cheguei a pensar tanto nisso...

— Mas isso é incorreto, é absolutamente falso. Eu vou explicar a você os


motivos por trás das minhas ações do começo ao fim, então preste atenção
apropriadamente, tá bom?

— S-Sobre isso, Kurumi?

Embora Shidou tenha invariavelmente erguido sua voz, Kurumi já estava


em transe ilusório que impedia que algo chegasse aos seus ouvidos.

◇◇◇◇

Haruko levemente secou seus cabelos molhados em uma toalha seca


enquanto saia do banheiro.

— ...

Não obstante, a atual Haruko possuía intricadamente uma expressão


complicada em seu rosto. Mesmo que o cansaço da viagem tenha sido aliviado
por se molhar em água quente, as dúvidas vestigiais e suspeitas atormentadoras
em seu coração cresceram exponencialmente.

— ... pelo amor de Deus, o que o Shii-kun realmente esteve fazendo


enquanto estávamos fora de casa...?

Haruko estava falando sozinha em murmúrios baixos por estar


extraordinariamente preocupada com o que as irmãs Yamai disseram no
banheiro.

Certamente, não importa o quanto ela estivesse preocupada, sua


preocupação não significava nada enquanto ela não interrogasse Shidou, a
pessoa em questão, diretamente.

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Com essa decisão em mente, Haruko entrou na sala de estar e percebeu
seu marido sentado no sofá.

Porém, Haruko percebeu uma certa indisposição emanando dele. Como


ela, Tatsuo adotou uma expressão complicada.

— Tatsu-kun?

— Ahh, Haru-chan... Como foi o banho?

— Uhn, muito relaxante. De qualquer forma, obrigada pelas roupas,


Tatsu-kun.

Haruko esticou a camisa de Shidou que ela pegou emprestado e estava


vestindo. Em relação as roupas que estava usando antes, Haruko as jogou no
cesto de roupas sujas.

— Aah... sim.

Porém, por algum motivo, quando Haruko mencionou as roupas de


Shidou agora a pouco, uma expressão de dúvida surgiu no rosto de Tatsuo por
um momento.

— Tem alguma coisa errada?

— Un, na verdade...

Tatsuo pareceu querer contar alguma coisa a ela.

Mas antes disso.

— Eu não esperava que teria uma chance de abrir o {Salão da Miku}.

Uma voz extremamente vigorosa ressoou na sala de estar, abruptamente


interrompendo a conversa de Haruko e Tatsuo.

Ao se virarem na direção de onde a voz veio, o casal se deparou com a


figura de uma garota atraente: Miku. Não somente isso, mas os dois tiveram a
impressão de já tê-la visto antes, mesmo que seja a primeira vez que se
encontram.

— Agora, Otou-sama e Okaa-sama do querido. Vocês devem estar


cansados depois de um voo tão longo.

— Q-Querido?

49
Mesmo que a pasma Haruko tenha gritado isso, Miku continuou como se
tivesse ignorado à observação repentina.

— Não precisam mais se preocupar agora que estou aqui. Eu vou aplicar
uma massagem perfeita para tirar sua fadiga.

Terminando suas palavras de boas-vindas, Miku bateu suas mãos uma


dupla de vezes.

Depois disso, a garota que fez os bolinhos de arroz, Tohka, apareceu por
de trás de Miku. Ela realmente se parecia com um cachorro de estimação.

— Muito bem, vou massagear a Okaa-sama enquanto você cuida do Otou-


sama, Tohka.

— Umu, entendido.

— Lembre-se, você só precisa dar pancadinhas de leve em suas costas. Não


use muita força. Se fizer isso, os ombros do Otou-sama vão quebrar.

— Muu, tá bom.

— Eu acho que ouvi uma coisa muito ruim...

Vendo suor frio escorrer pela testa de Haruko, Tatsuo gentilmente sorriu.

— Saa saa~, Otou-sama, por favor vá para aquele lugar. Já a Okaa-sama,


apenas deite no sofá e relaxe.

— Hã? A-ah...

Embora ela ainda tivesse coisas a dizer para Tatsuo, Haruko só pode se
deitar sobre o sofá sob as ordens apressadas de Miku.

Miku então imediatamente começou a flexionar seus dedos e massagear


as costas de Haruko.

— Ara, seu corpo é realmente duro.

— Uhn...

Haruko não tinha alternativa a não ser relaxar os músculos. Apesar de


alguns exageros, a massagem da Miku era de fato a de uma profissional
habilidosa.

— Como está a pressão?

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— Err... está... realmente... boa...

Não muito fraco nem muito forte, um balanço requintado de força


estimulou os pontos de acupuntura em seus ombros e costas. A labuta laboriosa
de trabalho e viagem foram facilmente suavizadas e mitigadas. Uma sonolência
gradualmente penetrava Haruko aos poucos.

Porém.

— Hehe, hehehehehe... um corpo maduro de mulher não é nada mal... essa


suavidade excelente...

— ...?!

Conforme Miku foi ficando cada vez mais excitada, Haruko pôde
finalmente tirar uma soneca leve.

◇◇◇◇

— Sério... o que eu fiz para merecer ser envolvido em todas essas horríveis
circunstâncias...?

Depois de ser forçado a passar por uma série de sugestões alucinadas e


exageros complicados de Kurumi, Shidou conseguiu finalmente se livrar das
garras dela.

Apesar da Kurumi ainda querer dar sermões infinitamente em Shidou, o


gato que tinha sido intoxicado com a erva de gato de alguma forma recobrou a
consciência e fugiu. Sendo assim, ela não teve escolha a não ser perseguir o felino
fujão.

Desde então, Shidou tem andado por um período indefinido de tempo até
encontrar uma rua conhecida.

Mesmo que já faça cerca de uma hora desde que ele recebeu a ligação de
seus pais, talvez Shidou ainda não tenha ultrapassado o limite de sua corrida
contra o tempo para se salvar de um destino terrível. Ele se agarrou à esse raio
de esperança e acelerou o passo no caminho que levava a sua casa mais uma vez.

Foi então que...

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— Hm?

No momento que Shidou pensou nisso, um grupo de estudantes do


primário apareceu diante dele. Eles pareciam estar brincando de esconde-
esconde, contando o tempo em ordem regressiva e correndo uns atrás dos outros
enquanto gritam.

Depois de um tempo, a pessoa que estava procurando as crianças


apareceu. Vendo quem era a pessoa, Shidou teve uma impressão profunda. Uma
garota estrangeira de cabelos loiros e olhos azuis eram suas características
principais, ela estava vestida com uma roupa formal preta que fazia ela diferir
dos moradores locais como um ponto vermelho no céu azul.

— O qu...

Tendo vista dessas características inconfundíveis, Shidou não pôde fazer


nada além de prender sua respiração.

Mas tal efeito era inevitável, pois era um fato que a pessoa diante dele era
uma Wizard das Indústrias DEM, uma organização antagonista a Ratatoskr: Ellen
Mathers.

— Rápido, estamos bem aqui!

— Você é muito lenta, Onee-san!

— Você não pode ser a mais forte desse jeito!

— Isso, é por causa...

Ouvindo as reclamações dos alunos do primário, Ellen rangeu os dentes.

— Ah...

Ellen de repente suprimiu a boca de seu estômago e agachou no chão.

Supostamente chocados, os pupilos correram para a direção de Ellen com


olhares preocupados.

— T-Tudo bem com você?

— Onde está doendo?

— Você precisa ir ao hospital?

— ...Sem chance!

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Naquele momento, Ellen instantaneamente ergueu sua cabeça e pegou o
ombro de um dos estudantes.

Os estudantes do primário estavam completamente assustados e


arregalaram os olhos de medo, somente para depois expressarem seu
descontentamento.

— Eh, isso é trapaça.

— Não é justo.

— Isso não conta.

— Hm, do que estão falando? Nas regras definidas no começo, a primeira


pessoa que fosse tocada pelo fantasma se tornaria o próximo fantasma. Ela não
dizia nada que não podiam ser punidos por serem tolos.

Ellen declarou complacentemente, mas o garoto que havia sido tocado


anteriormente fez um gesto de "X" com as mãos em frente a seu peito.

— Mas eu fiz um escudo agora a pouco, então seu toque não funcionou!

— O qu.... um escudo!? Tal coisa sequer existe?

— Se você fizer um escudo, fantasmas não podem tocá-lo.

— Onee-san, você não sabia disso?

— Eu nunca tinha ouvido tal regra antes. Eu a questiono, se eu vestir


minha Realizer Unit, não importa que tipo de escudo vocês tenham, todos vocês
serão...

Foi então que Ellen percebeu o garoto que silenciosamente estava parado
a curta distancia dela, Shidou.

— Ah...

— ...

Ellen ficou vermelha furiosamente.

Vendo ela agir assim, Shidou não pôde deixar de identificar exatamente a
mesma sensação hostil que experimentou por todo aquele dia e tentou se livrar
dela.

— E-Espere um pouco, Itsuka Shidou! Não se engane! Eu só estava... waa!

53
— A Onee-san caiu!

— Tudo bem com você?

Ignorando-a completamente e não se importando com os lamentos que


vinham por de trás dele, Shidou aumentou sua velocidade e se distanciou dali.

◇◇◇◇

— Hah... hah... Qual o problema com essa garota?

Tendo se livrado arduamente do ataque surpresa de Miku, Haruko ajeitou


seu cabelo desgrenhado e soltou um suspiro.

— Tudo bem aí, Tatsu-kun?

— Aah, sim. Na verdade, até dá um pouco de cócegas de tão delicada que


ela está sendo.

Vendo Tatsuo dar um sorriso torro e sendo acariciado em seus ombros,


Haruko não pôde deixar de exalar uma respiração profunda.

— Hã? Ahh...

Tatsuo remexeu em seu queixo como se tivesse se recordando de algo


crucial.

— Honestamente, até mesmo eu não faço ideia do que isso significa.


Permitir que Shidou tenha algo como aquilo em seu quarto, eu não sei porque ele
sequer possuiria algo como aquilo.

— Hã? Do que está falando?

Haruko ficou tensa com a declaração obscura de Tatsuo.

— O que você quer dizer com "aquilo"? P-Poderia ser... que seja uma
daquelas drogas perigosas dos rumores?!

— Ahh, nada desse tipo. É só que...

— Que?

— Err... quando eu estava procurando por uma muda de roupas para você
no armário no quanto do Shidou...

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Tatsuo disse isso com uma expressão sutil.

Nesse momento.

— Otou-sama, Okaa-sama.

Outra garota apareceu em frente a eles, cortando sua conversa ao meio


mais uma vez.

— Nn!!

— Wa!!

Haruko e Tatsuo soltaram interjeições tristes, caindo para trás ao mesmo


tempo.

Mas isso não era nada fora do comum, devido ao fato de que a garota que
apareceu diante deles foi aquela que anteriormente tinha ameaçado Tatsuo com
uma faca.

— Me perdoe pelo o que ocorreu anteriormente; as outras garotas têm


atrapalhado vocês bastante.

— N-Não, está tudo bem.

Embora Haruko tenha pensado ter dito algo como "Você tem sido a mais
problemática de todas", ela segurou o ímpeto pelo bem da segurança deles.

A garota então utilizou a mais formal das etiquetas e ajoelhou diante de


Haruko e Tatsuo, curvando sua cabeça para frente.

— Me permitam me apresentar, por ser nosso primeiro encontro. Eu


atualmente estou em um relacionamento com Shidou, e meu nome é Tobiichi
Origami.

— Ah, prazer em conhece... Quê? Ehh!?

Ao ouvir uma notícias dessas que causa grande impacto do nada, Haruko
involuntariamente arregalou os dois olhos.

— E-Espera um minuto. Você disse que está em um relacionamento... com


o Shidou!?

— Correto.

Origami concordou com ela acenando com a cabeça sem expressar


emoções. Vendo o comportamento da garota, Haruko e Tatsuo olharam um para

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o outro. Devido ao fato de o casal nunca ter discutido tal tópico com o Shidou, os
dois não estavam bem informados sobre o tipo de garota que seu filho gostava.
Sem contar que eles nunca esperavam que ele de repente se interessasse nesse
tipo de garota.

Observando os olhares duvidosos de Haruko e Tatsuo, Origami pegou um


número de fotografias de seu sutiã.

— Aqui estão as evidências.

— I-isso é...

Haruko e Tatsuo estavam compelidos em ver as fotografias que ela tinha


em suas mãos.

As fotografias de fato revelavam várias imagens de Origami e Shidou


juntos.

— Ara?

Porém, Haruko percebeu algo diferente entre as fotos.

— E-E essa aqui, Origami-chan?

— Sim.

— Essa foto... mesmo que ela mostre duas pessoas, a posição delas não
está um pouco estranha? Ela se parece mais com uma selfie com Shidou no fundo
dela, você não acha?

— Isso é um equívoco.

— Então essa aqui... não parece que o Shidou não está olhando para a
câmera? Ela se parece mais com uma imagem de duas pessoas que
coincidentemente estão lado a lado e que foi tirada por uma câmera escondida...

— Isso também é um equívoco.

— E-Então é isso...

Suor saia da testa de Haruko quando ela ouviu as negativas de Origami.


Depois de dar uma olhada nas outras fotografias, Haruko não pode deixar de
pensar que cada uma delas possuía uma sensação nada natural em seu conteúdo.

— ...Hm?

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Quando seus olhos pararam em uma certa foto, Haruko franziu as
sobrancelhas.

— Haru-chan, o que foi?

Detectando a mudança no ar de Haruko, Tatsuo perguntou.

— Err, nada de importante... Esse aqui é o Shidou, certo?

— Hã? Qual?

Justo quando Tatsuo estava prestes a olhar a foto que estava na mão de
Haruko, um pedaço de papel apareceu do nada, obscurecendo a fotografia. E a
culpada foi, sem dúvidas, Origami.

— O-Origami-chan?

— Por favor, olhem isso.

— isso é...?

Haruko não pôde fazer nada além de obedecer a ordem da garota.

— Hein? Uma proposta de casamento!?

Origami mostrou a eles uma proposta de casamento onde somente as


informações da noiva estavam preenchidas. Mas isso não foi tudo, Origami
pressionou o casal a rapidamente assinar o documento, que tinha uma marca
vermelha no campo de testemunhas.

— De acordo com as leis japonesas, Shidou-kun ainda não pode se casar.


Então, quando ele alcançar a idade de dezoito anos, eu gostaria que Otou-sama
e Okaa-sama fossem nossas testemunhas.

— E-Espera um pouco, de repente já estão marcando o casamento... O que


Shidou acha disso?

— Foi dele a iniciativa. Ele disse que a presença de vocês dois é


indispensável.

Origami corou levemente. Haruko e Tatsuo não conseguiram fazer nada


além de arregalar os olhos com essa visão.

— É-é verdade mesmo?

— Foi iniciativa... do Shidou.

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— Sim, e ele ainda me deu um beijo apaixonado quando aceitei.

— Quê...!!

Ao ouvir essa história que não condizia com a realidade e que nada se
parecia com algo que Shidou faria, o casal ficou seriamente alarmado. Porém,
quando eles viram a solenidade comprometida no rosto sério de Origami, os dois
não foram capazes de detectar nenhum pingo de desonestidade vindo da garota.

Enquanto Haruko e Tatsuo estavam totalmente confusos, Origami passou


o documento da proposta de casamento para o casal.

— Eu devo repetir meu pedido: Por favor, deixem Shidou comigo.

— I-Isso é...

— Mesmo que diga isso...

Respondendo a esse roteiro de cena de cinema, Haruko e Tatsuo só


tiveram forças para proferir essas declarações perplexas.

Foi então...

— Ei! O que acha que está fazendo, Tobiichi Origami?!

Quando a porta da sala de estar abriu com um estrondo, as garotas,


lideradas por Tohka entraram uma atrás da outra.

— Isso não foi o que concordamos! Era para ser uma boas-vindas!

— Esse é o meu tipo de boas-vindas. Tem uma recepção melhor do que


um grande evento na vida do filho deles?

— O quê?!

Tohka não pôde se conter do que franzir as sobrancelhas ao ouvir à


declaração de Origami. Então, o fantoche em forma de coelho Yoshinon moveu
suas mãos animadamente.

『Eh, então deixe a Yoshino ser a noiva. 』

— O-O que está dizendo, Yoshinon...?

— Kuku, filosofias formidáveis, Yoshinon. Devo dizer que as candidatas


ao casamento não são só vocês.

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— Assentimento. Eu não posso conceder, nem mesmo para a Mestra
Origami.

— Exato, exato! Isso foi muito sujo, Origami. O querido é meu, então você
pode ser a MINHA noiva!

— ...Não, isso seria ainda mais estranho...

Embora Natsumi tenha dito isso de forma desanimada, as outras garotas


já estavam à um ponto sem volta.

— Eu nunca vou deixar Shidou com você!

— N-nem eu...

『Yoshino também não vai se render! 』

— Kaka, tudo vale no amor e na guerra! Eu admiro sua coragem, mas


Shidou já está...

— Desafio. Shidou já é propriedade compartilhada de Yuzuru e Kaguya.

— Eu tenho uma ideia! Por que todas vocês não se tornam minhas noivas?!

— ...Eu não me importo com o que decidirem...

— E-Espera um pouco...

— Todas se acalmem!

Apesar de suas tentativas de restaurar a ordem, Haruko e Tatsuo foram


incapazes de alcanças os ouvidos ensurdecidos das garotas.

◇◇◇◇

— F-Finalmente... estou aqui...

Sem saber quanto tempo tinha se passado desde que recebeu a ligação,
Shidou retornou para seu lar.

Devido ao fato de que ele estava correndo até agora, o corpo exausto de
Shidou estava acabado, mesmo que não faça tanto tempo que ele se separou de
Ellen.

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Porém, isso foi somente o fim do começo. A verdadeira batalha apenas
tinha começado. Shidou preparou sua mente e respirou profundamente.

Como ele não tinha entrado em contato com nenhum deles, Shidou não
fazia ideia do que tinha acontecido entre os Espíritos e seus pais. De antemão, ele
tinha que pensar em um tipo de desculpa para seu relacionamento com os
Espíritos e ele não poderia proferir a palavra Espírito nenhuma vez.

— ...Tão difícil.

Shidou não podia fazer nada além de enrugar suas sobrancelhas. Esse era
obviamente um assunto de grande importância, mas ele era incapaz de explicar
isso. Shidou estava preso em um beco sem saída.

Ainda sem saber o que fazer, Shidou tomou confiança e entrou na porta
da frente.

— Voltei...

— -----

A voz de Shidou foi inteiramente mascarada pelo som vindo da sala de


estar. Parecia que várias pessoas estavam discutindo com as outras.

— Será que...?

Um mal pressentimento irrompeu no coração de Shidou. Ele rapidamente


removeu seus sapatos e correu para dentro.

Justo antes de ele abrir a porta, alguém fez isso por ele. Um homem e uma
mulher saíram correndo da sala de estar.

— Otou-san, Okaa-san.

Shidou disse instintivamente. Eles eram precisamente os donos da casa:


Itsuka Tatsuo e Itsuka Haruko.

— S-Shidou! Bem-vindo de volta...

— E-Espera um minuto! Quem são essas garotas!? Elas vieram falar de


casamento do nada...

Haruko interrogou enquanto apontava para a sala de estar.

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Ouvindo isso, Shidou não pôde evitar olhar para o interior da sala. Dentro
dela, uma intensa disputa estava acontecendo, e parecia que não iria parar tão
cedo.

— Elas são...

Shidou pressionou sua testa com a palma da mão. Embora ele não saiba o
que tinha acontecido exatamente, ele estava consciente do fato de que as garotas
não deixaram uma primeira impressão satisfatória na mente de seus pais.

— ...

Não somente o Shidou não podia mencionar nada sobre os Espíritos, mas
também se ele o fizesse, não havia garantias que eles iriam acreditar nele.

Shidou tomou uma postura convicta e encarou seus pais.

— ...Otou-sama, Okaa-sama, por favor me ouçam.

— ...?

— Shii-kun...?

Ao ver a seriedade no rosto de seu filho, Haruko e Tatsuo ficaram sérios


também.

Com isso dito, Shidou levemente confirmou com sua cabeça e continuou.

— Primeiro de tudo... me desculpem por não ter dito a vocês sobre elas.

— Não se preocupe com isso... Mas que tipo de relação elas tem com você?

Ouvindo a pergunta de Haruko, Shidou só conseguiu morder seus lábios


e balançar a cabeça.

— Me desculpem, mas não posso dizer nada... sobre isso.

— Por que não?

— Sério... me perdoem. Eu não posso revelar nada sobre elas não importa
o que aconteça. Eu sei que estou sendo egoísta, eu recebi seu carinho e gentileza
por todo esse tempo, e em troca eu estou sendo infiel a vocês. Mas... por favor,
não as odeiem.

— Mesmo que diga isso...

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— Por favor, eu estou implorando. Mesmo que elas tenham feito algo que
irritou vocês, todas elas têm bom coração. Todas... Todas elas... são muito
importantes para mim!

— S-Shii-kun...

Haruko se encontrou sem saber o que fazer, estava perplexa. Diferente


dela, naquele momento, Tatsuo gentilmente deu uma palmada nos ombros dela.

— Tatsu-kun...

— Isso não é uma coisa boa, Haru-chan? Shidou está falando do fundo de
seu coração, então eu acho que ele definitivamente não está errado.

— M-Mas...

Ao ver o rosto de Haruko cheio de hesitação, Tatsuo deu um sorriso


caloroso.

— Além disso, ouvir meu filho falando desse jeito, me deixa muito feliz.

— Ah...

Haruko instantaneamente entendeu a significância por trás dessas


palavras. Ela olhou para ambos e arrumou seus cabelos.

— Vocês dois não tem jeito mesmo. Bem, se não pode falar sobre isso,
então eu acho que está tudo bem... Mas no futuro, você terá que nos contar
apropriadamente.

— ...Okaa-san!

— Você já fez tudo isso. Como seus pais, como não podemos confiar em
nosso próprio filho?

Haruko timidamente desviou seu olhar, fazendo com que ela lembrasse
ligeiramente sua filha Kotori.

— ...?

Foi então que, quando ele percebeu algo em movimento, Shidou


abruptamente ergueu sua cabeça.

Aparentemente, a guerra verbal que estava acontecendo na sala de estar


tinha parado há algum tempo.

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Tentando dar uma olhada na situação na sala, Shidou observou que todos
os Espíritos estavam olhando para ele com olhares fixos.

Parece que seu discurso anterior chegou aos seus ouvidos. Shidou não
pôde se conter e ficou com as bochechas coradas.

— ...Ahh, desculpe por incomodá-los, eu só fiquei um pouco emotiva.

De repente, um som familiar veio de trás dele.

Shidou rapidamente virou sua cabeça, foi quando ele encontrou sua irmã,
Kotori, encostada na parede desde Deus sabe quando.

— Kotori! Quando foi que chegou aqui!?

— Não faz muito tempo, eu acabei de chegar. Eu pensei que algo grande
estava acontecendo quando vi que a casa estava barulhenta... Bem-vindos de
volta, Otou-san, Okaa-san.

Kotori balançou sua mão para Haruko e Tatsuo. Porém, o casal balançou
suas cabeças em espanto.

— Bem-vindos de volta...?

— Nós não nos vimos a pouco tempo atrás?

— Hã?

Ao ouvir seus pais, Kotori não pôde se conter em arregalar seus olhos.

Porém, esse momento de descrença instantaneamente desapareceu


quando ela viu Natsumi. A garota em questão rapidamente se escondeu atrás de
Yoshino.

— ...bem, não importa. De qualquer forma, eu vou explicar tudo desde o


começo...

Kotori então apontou para Tohka e as outras.

◇◇◇◇

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— ...Essas garotas são Espíritos.

E dessa forma, a verdade, que Shidou arriscou sua vida para esconder, foi
completamente divulgada a seus pais.

— O qu...! Kotori!

Shidou gritou com força. Mas já era tarde demais. O assunto sobre os
Espíritos era altamente confidencial, sua existência não podia ser revelada nem
mesmo aos seus entes queridos, foi o que disseram ao Shidou.

No entanto, o casal pareceu compreender aquelas palavras.

— E-Entendi...

— Então é isso.

O casal mostrava expressões indescritíveis de compreensão.

— Hah...? O-O que isso significa?

Shidou estava estupefato e olhava alternadamente para seus pais e para


Kotori.

◇◇◇◇

Alguns minutos se passaram.

Os Espíritos já tinham voltado para sua mansão, e somente poucas pessoas


permaneceram na residência dos Itsuka.

— ...Otou-san e Okaa-san são engenheiros mecânicos da Ratatoskr!?

Ao ouvir as notícias impactantes pela primeira vez, Shidou não podia


fazer nada além de questionar.

— Para ser mais precisa, eles são empregados da Asgard Electronics, uma
organização filial da Ratatosk, e simultaneamente são desenvolvedores de
unidades Realizer. A Fraxinus que nós sempre usamos foi desenvolvida pela
equipe deles. Dessa perspectiva, você pode dizer que aquela espaçonave é nossa
irmã.

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Kotori informou enquanto chupava seu precioso chupa-chups. Tatsuo e
Haruko, que estavam sentados ao seu lado, acenaram em concordância.

— Eh, nós já não te contamos antes?

— E eu pensei que você já sabia~.

— Como é que eu saberia!? E mesmo que isso seja verdade, por que não
perceberam logo que elas eram Espíritos!?

— Hmm, eu acho que é porque é q primeira vez que encontramos algum


Espírito.

— Isso, e como elas são chamadas de Espíritos, nós pensamos que elas
seriam criaturas menores.

O casal caiu na gargalhada, totalmente envergonhados. Shidou se sentiu


como se ele estivesse perdendo todo o senso de realidade no momento que viu
seus pais naquele estado.

— Então, pelo o que... eu sofri tanto...

Shidou suspirou enormemente e deitou em cima da mesa; ver ele naquele


estado só fez aumentar as gargalhadas do casal.

— Bem... De qualquer forma, é bom ver que o Shidou se dá bem com os


Espíritos.

— Sim, mesmo que tenha acontecido alguns mal-entendidos no começo,


vejo que não teremos mais problemas em relação a isso.

— Uhn, apesar dos argumentos serem ruins, isso serviu para mostrar que
elas amam o Shidou.

— Mas ter presenciado um pedido de casamento de repente realmente me


surpreendeu.

Haruko e Tatsuo concordaram juntos e disseram isso em uníssono.

Shidou não podia fazer nada além de relaxar e se sentir aliviado depois de
passar por todas aquelas provações. Não importa qual processo ele tomou,
Shidou estava totalmente satisfeito que seus pais aceitaram os Espíritos.

Porém, naquele momento...

— Sobre isso, Shii-kun, isso não tem nada a ver com aquilo...

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Haruko abaixou sua voz e tirou uma certa fotografia de seu bolso.

— Esse aqui é o Shii-kun, certo? ... O que aconteceu aqui?

— Hã? Isso é...!?

Shidou prendeu sua respiração ao olhar para a foto.

Com certeza, isso era inevitável. Naquela foto, depois de colocar uma
linda maquiagem, estava a versão feminina de Shidou, {Shiori-chan}.

— Onde conseguiram isso...?!

— Uma garota chamada Origami emprestou isso para mim. Então, quem
é?

— Não, não sou eu! Essa é uma garota da escola que realmente se parece
comigo!!

No exato momento em que suor frio escorria pelo rosto de Shidou


enquanto ele debilmente tentava explicar, Tatsuo disse como se tivesse se
lembrado de algo que havia esquecido.

— Ah sim, quando eu estava procurando por mudas de roupa para a


Haru-chan, eu encontrei um uniforme de garota no armário...

— ...?!

Shidou arregalou os olhos em choque. De fato, devido à falta de onde


guardar, ele tinha colocado aquele uniforme em seu guarda-roupas. Ele nunca
esperava que alguém descobriria uma coisa dessas.

— Shii-kun... como chegou a esse ponto? Não estamos bravos nem nada,
mas gostaríamos de saber o motivo, pelo menos. É algum tipo de Hobby? Ou
talvez...

— Sim, Shidou. Não tem do que se envergonhar. Eu tenho um conhecido


que tem o mesmo fetiche. Mesmo que a sociedade não o aceite inteiramente, você
ainda é nosso filho. Nós nos responsabilizaremos por seus sofrimentos, tá bom?

— Eu já disse que não é o que estão pensando!!!!!

Ao ver que seus pais estavam confundindo tudo, Shidou ergueu sua voz
e lamentou.

FIM

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AVISO LEGAL

Date a Live Volume 11.5 – Pais dos Itsuka foi publicado originalmente pela
Kadokawa Shoten como brinde da Dragon Magazine de maio de 2015, portanto,
ela possui todos os direitos comerciais sobre a obra, sendo assim, é proibida
qualquer atividade comercial utilizando esse material sem a autorização da
editora. A tradução da Shirogatari Scans tem como finalidade somente a
divulgação do material em português brasileiro enquanto o livro não é lançado
oficialmente em território nacional.

Para ter acesso a mais volumes de Date a Live, acesse:


http://shirogatari.blogspot.com/2013/03/date-live-light-novel.html

CRÉDITOS

Estória: Tachibana Koushi


Ilustração: Tsunako
Tradução e Edição: Myturn
Revisão: Fallen-Kun

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