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デート・ア・ライブ

六喰プラネット

Date A Live Volume 14


Planeta Mokuro

Autor: Koushi Tachibana


Ilustradora: Tsunako
Tradutor e Editor: Myturn
Revisor: Fallen-kun
Prólogo: Acordando das Estrelas
Mesmo que ali fosse o céu, não era exatamente o céu.

Mesmo que ali fosse o mundo, não era um lugar mundano.

No meio daquele lugar escuro, uma garota estava flutuando à deriva.

Como se fosse um bloco de pedra.

Como se fosse um grão de pó.

Como se fosse uma migalha de sujeira.

A garota estava simplesmente "estando ali".

Ela já tinha sido parte da natureza, e uma porção do mundo. Irresistível e


irreversível, sem qualquer interferência ou intervenção. Somente estando na paz
do vazio, ela continuava a flutuar por aí.

Não havia ninguém que pudesse ver sua aparência, nem ninguém para
ouvir sua voz.

Não... Mesmo aqueles que sabiam sobre sua presença antigamente nem
sequer existem mais nesse mundo.

Porém, ela não se lembrava de se sentir insatisfeita com isso.

Nem um pingo de solidão. Nem mesmo um pouco de alegria. Nem sequer


um sentimento de anseio por alguém.

Nada disso... Seu coração já havia decidido se fechar para tudo isso.

Porém, era melhor assim. Era a quietude e a tranquilidade o que ela


desejava.

... Mas.

Naquele dia, visitantes inesperados apareceram diante de seus olhos.

Eles pareciam grandes caroços de ferro. Eles eram humanoides distorcidos


com membros muito grandes.

Com essa forma estranha, eles entraram em seu território.

Ela nem sequer interferiu com isso.

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Porém, naquela hora, para eliminar os invasores; ela teve que deixar parte
de seu coração.

Quanto tempo já faz desde a última vez?

A garota... abriu seus olhos.

— ...........................................Fumun?

Com uma tossida de leve, ela esticou seu corpo que estava enrolado. Ela
soltou um pequeno gemido, já que seus ossos e carne não estiveram em atividade
por um longo tempo.

— ......Oh? Eu estava pensando em que tipo de pessoa acordaria a Muku,


mas foi uma horda de coisas de aparência estranha, hein.

A garota esticou sua mão para frente, disse um "nome" em voz baixa e
pegou uma grande "chave".

Então, ela virou sua ponta para as grandes silhuetas.

— ... Coisas desagradáveis, melhor irem embora.

Naquele dia.

O pior desastre natural da Terra acordou.

5
Capítulo 1 - A primeira visita ao templo do ano
Lendas contam que a quantidade de dinheiro que você oferece à caixa
saisen1 não tem relação com fortuna. Embora simplesmente jogar uma moeda de
5 ienes possa trazer sorte.

Porém, jogando seis delas podem levar a um destino ingrato; essa é a


verdade por trás desse mito. A moeda de 500 ienes, por ter o maior valor nominal,
não faz muito sentido em ser oferecida, por carregar uma centena a mais do que
o valor base2.

Bem, deuses imparciais não julgariam alguém baseando em quanto ele ou


ela ofereceu, então mesmo que alguém faça uma oferenda de uma nota de 10
ienes em troca de boa sorte poderia acabar tendo seus desejos não atendidos.

Todavia, Shidou, sendo um aluno do ensino médio, não tinha a menor


condição de colocar uma quantia tão grande de dinheiro. Francamente, ele estava
agradecido pela benevolência das deidades e prestou seus respeitos jogando uma
moeda de 5 ienes e tocando o sino que tinha um som de tinido.

— .....

Ele fechou seus olhos e fez um pedido.

Na verdade, ter as divindades superpoderosas que se situavam dentro do


templo atendendo seus pedidos, era uma possibilidade que não podia ser
considerada. Embora houvesse 8 milhões de deidades originadas do Japão, as
pessoas acabam concentrando seus vários pedidos a somente poucas divindades,
essa é uma lenda cruel.

Porém, Shidou não se importou em refletir sobre o significado por trás de


sua oração.

Aspirações, pedidos, e objetivos são coisas que todos possuem. Tais


circunstâncias vividas também crescem na vida durante o dia-a-dia.

Naturalmente, vestibulandos e garotas apaixonadas sempre apresentam


seus desejos, mas esses tipos de pessoas só estão atrás da felicidade. Muitas
poucas pessoas que se encontram com câncer ou confrontando alguma outra

1
Saisen = Uma caixa de madeira presente em templos shinto onde se faz oferendas em dinheiro.
2
5 ienes "ご円" é lido como "go-en" que também é a pronuncia de "ご縁" que significa destino. Já seis
é lido como "roku", então oferecer 6 moedas de 5 ienes pode ser lido como "roku na goen da nai" que
possui a mesma pronuncia de "destino ingrato/não satisfatório"

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adversidade refletirão sobre seus problemas. Pessoas saudáveis irão, por outro
lado, ser inclinadas a dependerem só de si mesmas e essas pessoas preferem não
perder tempo com esse tipo de coisa.

Mesmo que esses sejam casos extremos, todos tem sua própria felicidade
subconsciente, isso era o que Shidou esperava sinceramente.

O prazer que sente agora pode durar para sempre.

— ...Ufa.

Shidou gentilmente soltou o ar e abriu seus olhos. Observando seus dois


lados, Shidou observou as garotas que estavam orando em vestes cerimoniais.
Tohka estava ao seu lado direito enquanto Origami, Kaguya e Yuzuru ao seu lado
esquerdo.

Todas elas estudavam na Escola Raizen de Ensino Médio e todas elas eram
Espíritos que tinham sido seladas por Shidou anteriormente. Quimonos
resplandecentes que brilhavam abaixo do sol decorados decoravam o vestuário
delas. Elas, juntas com Shidou, oravam por um longo período de tempo, sem
saber pelo o que cada um deles estava orando.

— Un.

Enquanto ele estava se perguntando sobre isso, ao lado dele Tohka revelou
seus olhos escuros Cristalinos. Seu longo cabelo negro, da cor da noite, que
brilhava embaixo da luz do sol estava suavemente penteado para o lado de suas
bochechas.

— Oh, você esperou por muito tempo, Shidou?

— Está tudo bem, qual foi o seu desejo?

— Umu, eu quero comer um monte de comida deliciosa esse ano!

— Haha, isso é verdade.

Esse desejo era de fato a cara da Tohka. Ao se deparar com esse


pensamento, Shidou não conseguiu deixar de pensar no menu daquela noite.
Porém, Tohka continuou.

— E mais um desejo.

— Sim?

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— Eu espero que posso ficar junto com o Shidou e todo o pessoal para
sempre.

Tohka disse isso enquanto emanava um sorriso ensolarado. Shidou


momentaneamente arregalou seus olhos.

— Aah, isso mesmo — ele riu e acenou.

Como se em conjunto, as irmãs Yamai, Kaguya e Yuzuru, se voltaram em


direção a Shidou depois de terminarem suas preces.

— Oh, qual foi o desejo de vocês?

Quando Shidou perguntou isso, Kaguya, que vestia um quimono com


cores alternadas de laranja e preto, fez um gesto de comando com sua mão.

— Desejo? Kuku... e eu pensei que tu implicarias o contrário. Conquistar


esse minúsculo pedaço de terra atingindo as proezas de uma divindade era algo
que eu buscava a muito tempo. Todavia, seja quem for que permanecer sob
minha reverência estremecerá.

— Revelação. Mentiras, Kaguya sem dúvidas acabou de sussurrar "Eu


quero subir as escadas da adolescência este ano".

— Você pode para de dizer tais coisas em tom sério?! Eu obviamente


vocalizei meu desejo em solicitar um encontro com o Shidou...

Sem terminar a frase, Kaguya respondeu com um leve tremor em seus


ombros.

Shidou estava agora coçando sua bochecha ao ouvir seu nome ser
mencionado, e se afastou da linha de visão delas.

— Não, uhh... Eu vou considerar isso.

— ......!

Ao ver o rosto de Kaguya enrubescer, Yuzuru sorriu, — Sorriso. Isso seria


grandioso.

— Ahhh... sério...

Lacrimejando Kaguya começou a dar soquinhos nas costas de Yuzuru.

— Retirada. Isso dói... Kaguya.

— Ei parem, não incomodem os outros.

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Shidou forçou um sorriso e parou a dupla.

O local onde estavam atualmente era um templo na vizinhança da


residência dos Itsuka. Embora ainda seja 4 de janeiro, a vivacidade e excitação
dos últimos três dias de alguma forma morreu. Entretanto, muitas pessoas ainda
podiam ser vistas aqui e ali visitando o templo. Kaguya também percebeu seu
rosto recobrando a cor depois de regular sua respiração.

— ...Ok. Acho que minha compostura retornou. Eu não preciso vós


lembrar que eu possuo uma magia negra de recuperação.

— Mas é claro que tem. Bem, vamos indo.

Quando todos estavam saindo do templo, Shidou percebeu que ainda


tinha uma garota fazendo suas preces com as palmas das mãos juntas diante do
templo.

Uma garota vestida em um quimono puramente branco adornado com


pássaros de dobraduras de papel: Origami, que estava orando piedosamente e
murmurando encantamentos.

— Origami?

— O tempo certamente é eterno. Qual foi vosso desejo? — Kaguya


curiosamente se aproximou de Origami e inclinou próxima ao seu ouvido.

— ......!

Kaguya, que se aproximava da garota, escutou algumas das palavras de


Origami e seu rosto que anteriormente estava corado, instantaneamente ficou
ainda mais vermelho com o surto de sangue que percorreu suas bochechas, se
retirando logo em seguida a toda velocidade.

— Ka-Kaguya?

— Muuu... o que Origami disse?

Tohka decidiu ir até a pessoa em questão com uma expressão perplexa.

Kaguya em pânico correu para prevenir qualquer perda de inocência.

— Espera! Você não pode! Ainda é muito cedo para a Tohka!

— Muu......?

— M-Mas o que foi que você desejou, Origami.

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Ao ver o estado de alerta de Kaguya, Shidou respirou fundo e limpou o
suor de sua testa. No mesmo instante, Origami avançou em direção a eles.

— Você terminou, Origami?

— .....

Como se estivesse respondendo à questão de Shidou, Origami


permaneceu em silêncio e esfregou sua barriga antes de erguer o dedo do polegar
para Shidou.

— Preparações completas.

— Para o quê?!

Conforme Shidou lamentava com uma mão em sua testa, ele soltou o ar.

— De qualquer forma, tem pessoas na fila. Vamos.

Todos os Espíritos concordaram com Shidou e se desculparam com os


outros visitantes que esperavam atrás deles pelo alvoroço que causaram. Eles se
viraram e deixaram a caixa saisen.

Depois de chegarem a uma área mais vazia, eles observam os seus


arredores.

— Uuh, onde será que a Kotori e as outras foram......?

Não muito tempo depois, Shidou notou a figura de sua irmã Kotori.
Embora eles tenham originalmente planejado visitar o templo juntos, devido ao
tamanho limitado da caixa saisen, o número de pessoas permitidas era fixado.
Por isso eles tiveram que se dividir.

— Ei, Onii-chan~~~.

Uma voz familiar o chamou por trás. E sua imaginação foi concretizada,
Kotori e as outras apareceram com algo fascinante em mãos. Além dele, Tohka
balançou sua cabeça com incerteza.

— Muu? Kotori? O que estão fazendo? — Porém, isso era algo fútil.

Onde Kotori estava havia uma longa mesa de conferencia. Os Espíritos


vieram cumprimentá-los, tinham canetas em suas mãos, pareciam estar
rabiscando algo.

— Hmm.

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Atualmente usando seus laços brancos, Kotori estava vestindo um
quimono vermelho vivo e carregava cuboides de madeira em suas mãos. O furo
na parte superior foi usado para pendurar plaquinhas com um nó.

— Ooh, o que é isso?

— São placas de desejos. Se você escrever seu desejo nelas, ele se tornara
realidade.

— O que, Sério?!

Os olhos de Tohka emitiram um brilho radiante.

— Primeiro o festival das estrelas, depois as orações, e agora isso. Eu não


sabia que tinha tantos métodos para materializar seus desejos, a vida é tão boa!

— Ahaha... bem, mesmo assim, eles podem não se tornar realidade, não
crie muitas expectativas.

Shidou respondeu com um sorriso.

— Umu, eu sei, o Sr. Deus teve seu trabalho cortado.

Tohka se retorceu de entusiasmo, seus olhos fixaram em Shidou. Olhando


para as irmãs Yamai, Shidou percebeu que suas expressões eram similares a de
Tohka.

— Já que essa é uma oportunidade rara, vamos dar uma chance.

Shidou deu um sorriso torto.

— Oba!

Os Espíritos deram vivas coletivas.

Com elas exaltadas a tal nível, Shidou não quis arruinar o clima e
distribuiu uma placa para cada uma.

— Vamos para um lugar mais calmo para escrever.

— Umu.

Tohka e as outras pegaram as canetas que estavam na mesa. Shidou


também fez o mesmo, assim que ele se voltou para o grupo de Espíritos, elas já
estavam escrevendo.

— Isso é muito bom, Yoshino.

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Shidou espiou a placa de Yoshino e viu o desenho de um coelho fofo
usando um tapa-olho no lado direito da placa.

— M-Muito obrigada......

As bochechas de Yoshino ficaram em um tom vermelho brilhante devido


a timidez. Hoje, sua aparência consistia em um quimono verde esmeralda, com a
adição de um cabelo elegantemente repartido. Isso fazia ela parecer mais madura
do que normalmente.

— Ufufu, você não concorda? Shidou-kun com certeza sabe disso.

Incidentalmente, o fantoche fixado na mão esquerda de Yoshino começou


a mover sua boca. Sua roupa de algodão se parecia com o quimono de Yoshino,
e sua aparência não era diferente do desenho feito na placa dela.

— Aah, mas isso não é nada demais. Com uma placa tão fofa como essa,
até mesmo os deuses achariam o mesmo.

Ouvindo as palavras de Shidou, Yoshino não pode se conter e deu


risadinhas, mesmo que bem de leve.

— Ah... mas as placas da Natsumi-san e da Nia-san também ficaram...


maravilhosas.

Yoshino apontou para a direção que ela observou.

— Hã?

Shidou olhou com espanto.

A uma curta distância do grupo, duas garotas estavam compondo algo em


suas placas juntas. Porém, o ambiente que as envolvia estava completamente
diferente.

A pequena garota usava um quimono verde escuro e a outra usava um


casaco de peles e óculos. Ambas estavam em um processo de aplicar cores
distintas em um desenho que continha amáveis garotas colegiais. De fato, não
havia nada de errado com esse ato em si; porém, a dupla, diferente dos visitantes
normais do templo, se pareciam mais com mangakás profissionais adiantando
seu manuscrito o máximo o possível antes do prazo acabar.

Além disso, seus desenhos eram ultrapassavam o nível até mesmo de


autores experientes. Rumores dizem que uma delas era realmente uma
profissional. Elas eram sem dúvidas atrações inevitáveis.

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— Ei, vocês duas.

Somente depois de escutar sua voz que Natsumi e Nia finalmente


perceberam a presença de Shidou.

— .....!

— Ah, Garoto. Você é lerdo demais.

Natsumi, que de repente se assustou, apressadamente arrumou seu cabelo


enquanto a Nia somente ajeitou seus óculos, e um sorriso se formou em seu rosto.

— Haha...... isso realmente parece estar muito bom. Como esperado de


uma profissional.

Nia estufou seu peito.

— Bem, no momento eu só consigo desenhar dessa forma, ainda está


simplório.

Diferente dela, Natsumi somente revelou uma expressão desanimada e


escondeu seu desenho completamente.

— ... Eu só desenhei porque a Nia deixou, não foi porque eu queria...

— Hehe, você foi até esse ponto e ainda se recusa a admitir? Alguns
minutos atrás nós estávamos discutindo sobre o enredo de nosso mangá em
conjunto, não estávamos?

— E quando foi que eu disse isso?! E de que enredo está falando, pelo amor
de Deus?!

Natsumi exclamou insuportavelmente enquanto Nia somente gargalhou e


encarou Shidou mais uma vez.

— Bem, independente disso, a pequena Natsumi aqui tem um grande


futuro. Para ser honesta, eu até mesmo quero que ela se torne minha assistente.
Quer uma vaga também? Eu vou te pagar um salário, é claro. Se estiver
interessado eu posso te apresentar ao meu editor.

— Não. Não estou muito cativado com isso. Que tal a Natsumi?

— Hã? Sabe, quando eu me amiguei com a pequena Natsumi aqui, ela


ainda não possuía um talento artístico inato.

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— Hm, eu não acho que exista uma conexão entre uma coisa e outra.

Suor escorreu pelo rosto de Natsumi, e Nia não parece ter ouvido o que
Shidou disse. Ainda assim ela prosseguiu, cruzando os braços de forma pesarosa.

— De qualquer forma, falando da Natsumi, se você combinar Natsumi e


noz, você tem a sensação de estar sendo protegido, não é 3? Assim como abrir
lentamente em um pistache.

— ...Pffff.

De fato, tal imagem de Natsumi não era tão difícil de imaginar, Shidou
inconscientemente soltou uma risadinha.

— .....

Natsumi olhou para Shidou com uma interjeição de *jiii~~~*. Ele


sorrateiramente tossiu algumas vezes antes de se voltar para Nia.

— M-Mudando de assunto, você realmente está bem vestindo isso, Nia?


Parece que a <Ratatoskr> tinha preparado um quimono para você vestir....

Shidou olhou para seu vestuário comum e ela acenou para ele levemente
logo após.

— Ah... err, eu já vesti um desses antes, eles são inconvenientes para se


movimentar. E também eu estive praticamente trabalhando por todo esse tempo,
então ver todo mundo em vestes tão brilhantes já me satisfaz o suficiente.

— Então é isso? Mas eu acho que um desses cairia bem em você.

Por algum motivo, depois de ouvi-lo, Nia arregalou os olhos.

— Heh, heh, heh, já está flertando com a amável Nia tão cedo neste ano?
A fascinação merece ser mundialmente renovada e penetrada em cada homem.
Poderia tu ser o lendário "Herói que salva a Princesa"?

— Uh, ah, não, isso não é o que está pensando!

— Então é isso. O garoto tem fetiche por quimonos, hein? Será que ter a
pele encobertas sendo reveladas pelas fendas do quimono excitam você? Muito
bem, eu vou te dar isso então.

3
Natsumi e noz são pronunciados de forma parecida em japonês

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Enquanto dizia coisas picantes, Nia colocou a mão no bolso para pegar
uma placa de desejos já preenchida e a entregou a Shidou.

— Uhm, o que é isso, então você já fez a sua... hein, isso é...?!

A placa à sua vista fez com que Shidou perdesse a coerência de suas
palavras.

É claro, não podia ser diferente. Na placa estava um desenho pitoresco de


uma garota muito bonita vestindo um quimono entrelaçada com um garoto. Essa
ilustração era simplesmente inadequada para crianças e mereciam uma
classificação indicativa para adultos. Não somente isso, nela também estavam
escritas as palavras ”Espero que eu encontre uma oportunidade para
experimentar esse tipo de sensação…”

— Nia. Mas que desejo mais específico.

— N-Nia... o que é isso?!

— Ah, isso? Na verdade, eu queria ter pendurado esse... Mas sua imouto-
chan4 esquentadinha disse que isso seria um ataque ao pudor público e não me
deixou fazer isso. Então eu o estou dando a você.

— Você...

Suor frio escorreu da testa de Shidou quando todas tentaram olhar para o
item que ele carregava em suas mãos. Ele não pôde fazer nada além de guardar
aquilo rapidamente. Nia subitamente riu ao ver seu dilema.

— Prosseguindo, eu estou falando sério sobre o caso de Natsumi. Ah, você


pode vir também, Garoto.

— Eu? Mas eu não sou tão habilidoso.

— Não...não, um trabalho de assistente não consiste somente em desenhar


manga. Preparar a comida, lavar as roupas, esfregar o chão e esse tipo de coisa
também estão incluídas. Além de um ajudante, é como se fosse um trabalho de
um marido. Ah, até que não é má ideia, vamos nos casar, Garoto.

— Não obrigado... — respondeu Shidou.

— Bem, eu poderia realmente usar um assessor. Não somente para


mangás, ocasionalmente, eu poderia abraçar a Natsumi para ter material +18!

4
Imouto = Irmã mais nova

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— O qu...

— Hiiiiiiii?! 《Seu destino está selado, Natsumi.》

Ao ouvir a declaração indiferente de Nia, Shidou e Natsumi foram pegas


de surpresa, prendendo suas respirações. Embora essa seja mais uma de suas
piadas habituais, as pessoas envolvidas estavam presentes bem a sua frente.

Um segundo depois, sons de passos puderam ser ouvidos *tap tap tap*.
Com um farfalhar de tecidos, uma garota vestida com um quimono apareceu na
mesa.

— Querido~, do que estão falando!? Eu pensei ter ouvindo o nome da


Natsumi-san ser mencionado perversamente.

A garota de estatura magra se aproximou deles, enquanto seus olhos


emanavam uma faísca eletrizante.

— M-Miku?!

Sua aparição repentina fez com que Shidou a olhasse admirado. Ela era
um dos Espíritos que teve seu poder selado por Shidou e, simultaneamente, uma
das idols mais populares, Izayoi Miku. Porém, em seu estado atual parecia que
ela tinha rompido com o showbiz e entrado em um mundo completamente novo.

— Aah, poderia ser que estavam discutindo quem seria o assistente da


Nia-san? Se o Querido e Natsumi forem então eu também vou! Com três pessoas
ajudando nos definitivamente faremos algo bom!

— Sério? Seria de grande ajuda. Mas, Mikki, você é uma idol. Seu cachê
deve ser bem alto...

— Sem problema! Eu não preciso de qualquer salário; eu até mesmo vou


fazer algumas doações!

Miku afirmou enquanto erguia seu polegar.

Abruptamente, Miku sentiu algo puxar seu corpo e se virar, foi quando
ela descobriu que Kotori e Tohka estavam puxando suas pernas, querendo fazê-
la cair.

— Sim, sim. Em todo caso, não faça nada tão excêntrico, já que ainda é
uma idol.

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Quando Kotori disse isso, ela já havia inconscientemente trocado para seus
laços pretos há pouco tempo.

— Muu... não seja tão obstinada, Miku.

Miku se debateu, — Aww... Kotori-san e Tohka-san são tão malvadas~.

— Muu, Miku, não se debata tanto!

— E-Ei, isso é perigo...

— Espe...

A mesa perdeu seu equilíbrio e tombou, levando as três pessoas com ela
também. Shidou estendeu sua mão para ajuda-las, mas foi em vão. Ele então se
rendeu a força da gravidade e entrou no emaranhamento com as outras, caindo
no chão também.

— Ai... tudo bem com vocês? Hã... o que é isso? — Shidou se percebeu
caído em cima de Tohka, pressionando algo em seu quimono.

— O-O que está fazendo, Shidou?!

— Aahh d-desculpa!

— Aah~! É injusto que só o Querido e Tohka-san puderam se divertir!


Qualquer uma de vocês estaria de bom tamanho, por favor, troquem de lugar
comigo!

Toda essa comoção atraiu a atenção de Nia, que estava sentada perto, e a
fez se aproximar. Ela pegou a placa que saiu do bolso do Shidou e comparou o
desenho com aquela situação.

— Sério? As benção desse templo são incríveis......

A posição de Shidou e Tohka tinham certa semelhança com a da ilustração.

— Não é hora para dizer isso......! uuh......aqui, consegue ficar de pé,


Tohka?

— Uuuuu...

Tohka, cujo rosto agora estava vermelho cereja brilhante, segurou a mão
de Shidou e se levantou. Depois de se desculpar com os visitantes que estavam
próximos, Shidou devolveu a mesa para seu estado anterior.

— Sério... tome cuidado.

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— Desculpa~. Eu vou me certificar de cair em cima da Kotori-san da
próxima vez.

— .....

Kotori permaneceu calada.

Observando a cena, Nia deu risadinhas.

— Ahaha, eu nunca me canso de ver isso.

— Não é engraçado... — disse Shidou exaustivamente.

Nia pegou sua caneta e voltou a trabalhar.

— Parece que as placas daqui são bastante efetivas. Muito bem, eu desejo
que "O Garoto seja minha esposa".

— Mesmo que seja só uma piada, não era para eu ser seu marido?!

A caneta de Nia continuou a passear pela tela ignorando os protestos de


Shidou.

— Haha, desculpa. Agora, onde eu penduro isso.....

— .....

Guardando sua caneta, Nia se levantou.

— Hã? Mas que dor de cabeça é essa...?

Uma tontura repentina apareceu do nada e ela momentaneamente perdeu


o controle do seu corpo.

— Nia! O que foi?

Shidou instintivamente esticou seu braço para ajudá-la. Com seu corpo
imediatamente perdendo a força. Nia conseguiu dar um sorriso fraco, — Ara...
mas que príncipe você é... Garoto.

— Não seja por isso, tudo bem com você? É melhor nós voltarmos para
descansar. — Shidou sugeriu preocupado.

— Não ligue para mim. Como eu posso deixar todos se preocuparem


comigo nesse evento que se parece com um Dia dos Namorados de um "Otome
game"?

Nia encolheu os ombros e a voz de Kotori foi emitida por trás de Shidou.

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— O que está dizendo, até ontem você estava usando cadeira de rodas...
que aliás está disponível a qualquer momento para emergências. Se você está se
sentindo desconfortável de alguma forma, você pode nos informar que nós
vamos no mínimo fazer um check-up completo em você.

— Kyaaa, sem chance! Imouto-chan se preocupa demais, eu estou bem.


Ser legitimamente abraçada pelo Garoto aqui depois de fingir um desmaio teve
um efeito muito bom. Você deveria tentar também, Imouto-chan.

Kotori enrugou suas sobrancelhas e Nia continuou o procedimento de


pendurar sua placa de desejos. Ao ver sua silhueta, Kotori suspirou.

— Sério... Uma coisa tão solene mudou de figura tão de repente...

Nia nunca fez uma verificação completa, talvez ela não goste de
atmosferas pesadas. Ela sempre se desprendeu desse tipo de situação com uma
piada. Com isso sendo dito, o sentimento de ansiedade que Kotori sentia em
relação a Nia era compreensível. Não importa como ela esteja agora, alguns dias
atrás Nia estava de fato lutando contra a morte.

— .....

Recobrando os eventos que ocorreram dia 31 de dezembro, Shidou ainda


estava fumegando de raiva e rangendo os dentes desde aquele dia. Naquele dia,
sob os comandos das industrias DEM, Nia foi forçada a se inverter e foi privada
de seu Cristal Sephira. Se Shidou e os outros não estivessem ali, Nia poderia não
ser capaz de estar presente ali hoje. Porém, sua sobrevivência não era algo para
se sentir aliviado. O inimigo adquiriu o Rei Demônio da Nia invertida,
<Beelzebub>, que pode ser usado pelas Indústrias DEM como uma arma contra
os Espíritos no futuro.

Havia uma coisa na mente de Shidou.

— Kotori, sobre aquilo...

— Sim.

— Nós fizemos algumas investigações, mas não conseguimos verificar


ainda.

Shidou fechou seus olhos e respondeu.

— Entendi. — Ele não conseguia parar de pensar no que Nia tinha dito na
virada do ano.

21
— Espíritos puros? Mas todos os Espíritos não eram antigamente
humanos?

Poucas horas de antes do dia 1 de janeiro chegar, no terraço de um prédio,


enquanto estava sentada em uma cadeira de rodas, Nia disse isso.

Os arredores estavam em silencio. Tiveram aqueles que estavam


realmente atordoados pelas palavras de Nia, tiveram aqueles que conjecturaram
a verdade por trás dessa declaração, e também aquele que apenas seguiram o
fluxo; apesar das reações serem sutilmente distintas, todos ali ficaram sem
dúvidas pasmos com o que ouviram.

Espíritos: existências vivas que criticamente causam calamidades


excepcionais. Suas razões de existir são desconhecidas; mas eles foram
confirmados como os causadores dos spacequakes, um fenômeno reconhecido
do mundo atual.

Kotori, Miku e Origami podem servir de exemplos de humanas que


absorveram cristais Sephira e se transformaram em Espíritos. Até onde Shidou
sabia, Espíritos podem ser diferenciados de humanos, mas exemplos são somente
exemplos.

Mas a declaração de Nia contradizia tudo isso. Se isso era algo que valia a
pena ser investigado, Shidou e os outros não tinham dúvidas. Espíritos puros
como Tohka são diferentes de ex-humanas como Kotori; elas não tinham
nenhuma ligação com esse mundo quando elas chegaram. Mesmo que tenham
aquelas como Natsumi, Kaguya e Yuzuru que se adaptaram a viver aqui, elas se
ajustaram somente depois de ganhar experiências ao atravessar de um mundo
para o outro; se adequando aos humanos.

Shidou não poderia ignorar a dúvida de Nia. Mesmo que ela tenha tido
seu Cristal Sephira roubado, e então drasticamente perdeu a maior parte de seus
poderes, Nia ainda possuía seu anjo onisciente <Rasiel>. Mais importante, Nia
podia juntar toda informação que quisesse, consequentemente podendo traçar o
passado de Shidou e dos outros Espíritos.

Shidou engoliu em seco. Se o que Nia disse fosse verdade, então os


Espíritos que ele acreditava ser Espíritos puros até agora...

— O que foi? Desculpa, eu assustei você?

22
Nia quebrou o silencio quando Shidou estava imerso em seus
pensamentos.

— ......hm? As possibilidades deixaram Shidou estupefato.

— Oh, é isso, Nia?

— Em mangás, nós chamamos isso de "verdade nua e crua".

Nia disse enquanto fazia caretas e tirava sua língua para fora com um som
de *bleh~*.

Shidou permaneceu desanimado por alguns segundos antes de se levantar


e soltar o ar profundamente.

— Você...

— Ehehe, desculpa, desculpa. Mesmo que eu só esteja supondo conforme


minhas próprias circunstancias, esse caso todo dos Espíritos não é um pouco sem
graça, não acha?

Ao ver a garota despreocupada, Shidou mais uma vez soltou a respiração.


Kotori e os outros espíritos, ao ouvir isso pela primeira vez, também fizeram uma
expressão parecida.

— Hora de voltar para casa. Já está ficando frio aqui fora.

Kotori encolheu seus ombros para trás e os Outros Espíritos concordaram.


Todos voltaram para dentro e Shidou empurrou a cadeira de Nia como ele
sempre fazia.

Então Nia voltou sua cabeça para trás e sussurrou para Shidou.

— Garoto, venha ao meu quarto depois.

— Quê?

Ao ouvir seu tom de voz impróprio, Shidou suspeitou que algo estava fora
do lugar.

Nia imediatamente retomou sua disposição incomum.

Qual o problema, Garoto? Se está tão frio assim então entre logo. Será que
é possível que você esteja esperando que alguém te aqueça com o corpo? —
Enquanto dizia isso, Nia abraçava a si mesma e se contorcia na cadeira de rodas.

— .....

23
Shidou repetiu suas frases como se ele não tivesse sido ouvido,
eventualmente empurrando a cadeira de rodas para dentro.

... Aproximadamente uma hora depois.

Depois de todos os Espíritos terem voltado para a mansão, Shidou andou


até o quarto de Nia pela passagem subterrânea da Ratatoskr sozinho.
Confirmando o número do quarto, Shidou bateu na porta.

— Por favor, entre~.

— Nia, estou aqui. O que você...

Shidou parou suas palavras pela metade quando entrou no quarto. Tudo
porque ali havia outra pessoa.

— Kotori? O que faz aqui?

Sentada na cadeira ao lado da cama estava Kotori, com seu pirulito


favorito em sua boca.

— Aah, eu pedi pra imouto-chan vir também, já que ela é a comandante


daqui. Eu achei que seria mais fácil se eu explicasse para vocês dois.

— O que você quer nos contar?

Kotori agitou o pirulito em sua boca.

— É sobre o assunto de mais cedo, correto?

—Sobre os Espíritos serem originalmente humanos? Eu pensei que tinha


sido uma piada.

— Sim, eu não achei que fosse apropriado falar disso na frente delas. Foi
por isso que eu disfarcei. Considere isso uma cortesia pelo o que vocês têm feito.

Nia mostrou sua língua.

— Assim como a história do garoto e do lobo.

— Oh ho, o Garoto gosta de histórias picantes com lobos.

— Entendi, então foi isso.

24
Shidou sentiu que já estava se acostumando com o jeito de falar de Nia, já
que ele tem vivenciado tsukkomis5 quase todo dia. Por outro lado, isso revelou
diretamente um fato novo.

— Quer dizer... que tudo o que disse até agora foi verdade?

— Sim. Não completamente, aliás, já que tem algo que você precisa
entender. O anjo que sabe de tudo <Rasiel> não é genuinamente onisciente.

— ...o quê?!

— Deixe me explicar melhor.

Quando Nia pretendia explicar, a porta se abriu. Shidou pensou que era
estranho que a equipe médica tivesse vindo visita-la tão tarde. Ele olhou para
identificar quem era, e ficou surpreso.

— Origami! Mana!

Origami, que também estava com Nia naquele dia, apareceu junto com
Mana, que estava vestindo roupas de paciente parecidas com as de Nia.

— Por que vocês duas estão aqui? Ou Nia chamou vocês também?

Origami quietamente balançou sua cabeça.

— Não, eu não fui convocada para aqui. O que Nia acabou de dizer é algo
duvidoso, então eu vim aqui atrás de provas. E isso é tudo.

Ela olhou para Nia que exageradamente pressionava seu peito com ambas
as mãos.

— Heee... Essa impressão de que nos juntamos contra a Nia-chan está


fazendo o coração dela disparar!

Mana disse isso depois de um longo período de silencio de Origami.

— .....

— Um momento atrás quando eu fui para o quarto eu reconheci a sombra


do Nii-sama e queria esclarecer uma coisa... então eu decidi segui-lo.
Inesperadamente eu encontrei a Sargento Tobiichi no meio do caminho.

Nia então ergueu sua voz.

5
Tsukkomi: Um tipo de comédia japonesa onde sempre tem uma pessoa séria que reclama da atitude
dos outros personagens

25
— Espera um minuto. O que acabou de dizer?

— O quê? Eu queria esclarecer uma coisa com ele...

— Não, Não! Não é isso! O que você disse antes disso?

— Que eu vi o Nii-sama?

— NII-SAMA?!

Nia estremeceu com a revelação como se fosse algo celestial e juntou as


palmas das mãos.

— Excelente! Nii-sama! Esse honorífico foi manifestado duas vezes em


seguida! É a primeira vez que escuto! Ei, ei~, diga mais algumas vezes!

— Que desagradável...

Mana sentiu repugnância e recuou alguns passos. Shidou então decidiu


que era uma boa hora para apresenta-la.

— Essa é a Honjou Nia. Ela é uma mangaká profissional e um Espírito.


Mesmo que seus poderes tenham sido selados recentemente, um monte de coisas
aconteceram e ela está recebendo tratamento intensivo aqui.

— Olá~~.

Nia cumprimentou ela com um aceno de mãos.

Mana se curvou e começou a se apresentar. — Eu sou Takamiya Mana,


irmã do Nii-sama e atualmente uma wizard. Mesmo eu tendo lutado pela
Ratatoskr antes, a Kotori-san tem me aprisionado aqui, como podem ver.

— Espera um momento. Não leve isso da forma errada, eu não gosto


quando as pessoas ficam exibindo sua superioridade!

Kotori ressentidamente cruzou os braços e pareceu ponderar sobre as


palavras de Nia.

— Irmã do Garoto?

— Você não disse "Nii-sama" agora a pouco?

— Ah, desculpa, sempre que eu escuto essa frase eu fico tão perturbada
que me esqueço sobre isso.

— .....

26
Shidou tinha um olhar de déjà vu em seu rosto.

— Mas isso não bate. O sobrenome do Garoto não é "Itsuka"? Não me diga
que é um tipo complicado de relação familiar? Ou talvez o Garoto é um siscon e
forçou ela a chama-lo de "Nii-sama"?

— Como foi que as coisas chegaram a esse ponto?!

Nia gargalhou ridiculamente com o constrangimento dos irmãos.

— Você não acha que "Nii-sama" é uma forma adorável de me referir a


ele?

— Hã? Isso não soa um pouco estranho?

— Quer dizer que você sempre cumprimenta ele dessa forma?

Quando Nia disse isso, Mana contorceu as sobrancelhas. Se ela começasse


a chamar Shidou de forma diferente, seria por culpa de Nia.

— Bem, nós perdemos tempo demais falando de parentescos. Vamos


continuar com o assunto anterior.

Shidou recuperou o folego e Nia concordou.

— Muito bem então, mesmo que tenham duas pessoas a mais, a Ori-ori e
a imouto-chan nº2, está tudo bem.

— Espera ai... por que "imouto-chan número 2"?

Logo depois de Nia começar, Mana protestou novamente.

— Bem, sabe, o posto de "imouto número 1" já foi tomado.

Nia apontou para Kotori, o que deu um surto de raiva em Mana.

— Kotori-san é sua irmã adotiva. Eu sou a sua irmã genética. Então ela que
tinha que ser a segunda!

— Qu-quem está chamando de segunda?!

Dessa vez foi Kotori quem gritou. Mais uma vez, o assunto mudou para o
parentesco que tinham com Shidou.

— Mesmo se comparar nossos penteados, meu cabelo está repartido em


um único rabo-de-cavalo, enquanto o da Kotori está em dois! Eu sou mais voltada
para a técnica enquanto a Kotori é voltada para a força!

27
— Não me faça parecer com uma bruta sem cérebro!

— Acalmem-se vocês duas. Nia, isso não pode continuar assim. Você pode
pensar em outro nome para a Mana?

Enquanto Shidou tentava parar a discussão, Nia começou a ponderar por


um momento.

— Que tal Manacchi?

— Oh, então agora eu sou um animal aquático?!

Mana continuou a reclamar, mas decidiu parar de prolongar o assunto. Ao


ver que a discussão não teve progresso algum, Nia pigarreou e continuou.

— Agora sobre a hipótese de todos Espíritos serem ex-humanas, eu ainda


não estou certa se isso é verdadeiro ou falso.

— Eu não consegui entender esse ponto. Nia, você recobrou as memorias


de quando era humana tempos atrás, certo?

— Sim — concordou Nia. — Como posso dizer isso, de acordo com o


Garoto, eu não posso ser categorizada como pura.

— Hã? Mas isso é porque você se lembra de ser humana?

— De acordo com o Garoto, isso mesmo.

Nia ergueu seu dedo. — Porque eu também não me recordo da minha vida
antes de ter aparecido nesse mundo através de um spacequake.

— .....QUÊÊÊ?

Shidou não pode deixar de arregalar seus olhos. O que Nia disse
corresponde com o caso de Tohka e das outras.

— Espera... você não tinha nenhuma memoria...?

— bem, escutem. Mesmo que eu não soubesse quem eu era quando apareci
aqui, eu já tinha noção de uma coisa. Isso deve ter acontecido com os outros
Espíritos também.

— Isso é....?

— Nós temos poderes tirados de nossos anjos.

— Ahh...

28
Era como Nia disse. Inconscientemente Tohka, Yoshino, ou até mesmo
Origami que recebeu os poderes de Espírito posteriormente, já sabiam como usar
os poderes de seus anjos irrestritamente. O médium divino deve conceder a
cognição necessária para sua mestra manipular livremente suas capacidades.

Shidou sentiu se a vontade quando pensou nas habilidades de Nia.

— A eu que não conhecia nada só podia confiar em meu anjo onisciente


<Rasiel>.

— Não me diga que...

Kotori olhou atenciosamente para Nia, que a respondeu em seguida.

— Sim, naquela hora eu descobri que tipo de existência eu era, como obtive
meu poder e como me manifestei aqui.

— O qu...! — Shidou estava completamente chocado.

Nia acrescentou. — Eu uma vez fui humana, mas depois de um incidente


eu perdi a esperança na minha raça... foi quando um certo Espírito apareceu
diante de meus olhos.

— .....! Phantom?! — Disse Kotori.

Isso foi o mesmo que aconteceu com Miku, Origami e ela mesma. Aquele
ser desconhecido que pode transformar humanos em Espíritos, aquele Espírito
furtivo cujo corpo e aparência são cobertos por mosaicos, codinome <Phantom>.

— Phantom...?

— Sim, o Espírito que transformou todas nós em Espíritos que tem seu
corpo escondido por estática. Será que ele ou ela também apareceu diante da Nia?

— Oh, então esse é o nome dele. Mesmo que não esteja claro se é o mesmo
Espírito que se aproximou da imouto-chan e das outras, tem uma coisa que
sabemos: mesmo eu não consigo saber qual é sua identidade.

— Você não pode usar o <Rasiel> para pesquisar isso?

Quando Kotori perguntou isso, Nia balançou sua cabeça.

— A odiadora de spoilers Nia-chan daquele tempo não pôde conter sua


curiosidade e tentou investigar isso, mas não conseguiu achar nada.

— Como isso é possível...?

29
Kotori não podia acreditar nisso. A onisciência de <Rasiel> é absoluta. Não
deve ter alguma informação sequer que não pode ser encontrada em sua
bibliografia.

— Hmm, como posso dizer isso...? <Rasiel> pode obter qualquer


informação, mas eu não posso decifrar todas elas.

— Quer dizer que algo ocorreu?

— Eu não sei... pode ser que as referências de <Rasiel> foram danificadas,


ou mais precisamente, seus poderes foram forçadamente obstruídos por algum
tipo de "bug" de outro anjo. Fazendo uma analogia à indústria de mangás, se a
competição é muita, você fica para trás se sua eficácia for menor.

— Sim...

Embora Kotori tenha entendido o que Nia quis dizer, ela ainda estava
chocada com aquilo.

— Bem, resumindo, eu recebi um Cristal Sephira e fui transformada em


Espírito pelo Phantom. Minhas lembranças de quando era humana também
foram seladas depois disso e eu permaneci inativa até aparecer aqui.

— .....

Shidou estava sem palavras. Se as atestações de Nia forem verdade, então


existe a possibilidade de Tohka e as outras também terem um passado humano.
Ao ver Shidou pensativo, Nia continuou.

— É por isso que eu acho que aconteceu o mesmo com todas. Mas olhando
para isso atentamente, nem todas têm a habilidade de ver o passado como eu.
Por esse motivo que eu evitei de discutir isso com todas.

— Entendi... — murmurou Shidou.

É verdade que, com a experiência que Nia teve, qualquer um pensaria o


mesmo.

— Tudo o que investiguei foi sobre mim, me desculpe, isso é bem


subjetivo.

— Não.

Kotori interrompeu enquanto autonomamente chupava o pirulito que


estava em sua boca.

30
— A informação que você forneceu é muito útil. Teoricamente falando, se
você estiver certa, isso vai revolucionar o que nós pensamos. Parece que teremos
que verificar se alguma garota desapareceu trinta anos atrás.

— Me desculpem sobre isso. Se eu não tivesse perdido o meu <Rasiel>, eu


poderia fazer isso agora mesmo. — Disse Nia pesarosamente.

— Não esquenta com isso, estou feliz que esteja bem.

Origami, que estava calada até o momento, deu uma sugestão.

— Porém, se você não tivesse mais nenhum poder espiritual, Shidou não
teria conseguido selar você. Você ainda deve ser capaz de invocar seu anjo e
manifestar um Astral Dress limitado.

— Hã? Ainda tinha um pouco?

Quando Nia perguntou confusa, Origami consentiu.

— O poder que foi selado por Shidou pode fluir de volta em casos de
emoções instáveis ou depois de treino controlado.

— Uma consciência inquieta, hein?

Nia fechou seus olhos e começou a sussurrar algo.

— Ei Nia, você ainda não se recuperou totalmente. Então não se force


muito.

— Assim?

Como se estivesse mascarando as palavras de Shidou, o corpo de Nia


emitiu um brilho pálido que coalesceu em um livro em sua mão.

— Ooh! Realmente...

— Uau! — A materialização repentina de <Rasiel> o assustou.

— Tão fácil?!

— Ehehe, não subestime a imaginação de uma mangaká! Tudo que


precisei foi pensar em prazos!

Nia a respondeu de maneira alegre, enquanto erguia seu dedão em


afirmação.

— .....

31
Parece que todo mangaká do mundo pode invocar anjos, Shidou passou a
respeita-los ainda mais.

— Certo, vamos ver... onde estávamos...?

Nia lambeu os lábios e continuou a folhear as páginas do livro flutuante.


Depois de algum tempo, ela franziu a testa.

— O que foi, Nia?

— Hm, não está funcionando. Embora a habilidade de <Rasiel> de buscar


informação ainda esteja funcional, ela não é mais transmitida a mim. Eu não
consigo mais entender nada do que está escrito. Foi a mesma coisa de quando eu
quis pesquisar sobre aquele sujeito.

— Bem, então, não tem outra forma.

— Me desculpa... ...Ah, mas isso ainda não está totalmente indecifrável. O


Garoto esconde seu tesouro na...

— O que diabos você está pesquisando?!

Shidou gritou com um olhar envergonhado em seu rosto.

Kotori e Origami continuaram sem se afetarem.

— Na parte de trás da gaveta da mesa.

— E tem um pouco na pasta da sua enciclopédia.

— Quêêêê? — Shidou involuntariamente expeliu.

O suor de Mana escorreu sobre suas bochechas conforme ela olhava para
as duas.

— Como é que vocês sabiam disso??

Kotori e Origami somente encolheram os ombros, com uma expressão de


culpa e indiferença respectivamente.

Por outro lado, Nia estava confirmando o poder restante de <Rasiel> e


pensou em uma coisa.

— Então é assim que as coisas são... talvez...

Nia estendeu sua mão, tentando manifestar seu Astral Dress, e uma caneta
se materializou no meio do ár.

32
— Oh, muito bem.

Nia proficientemente manipulou a caneta e escrever em uma página de


<Rasiel>. Caracteres irreconhecíveis e inumeráveis linhas se formaram na página;
um fino exemplo de garrancho.

— Nia, o que está fazendo?

Nia ergueu os cantos dos lábios e respondeu.

— Estou escrevendo o futuro.

Shidou ficou impressionado com as palavras dela. Descrição do futuro:


essa é uma das habilidades (divinas) de Nia que permita que o que ela escrevesse
em <Rasiel> se torne realidade.

— Está funcional?!

— Essa é de fato a habilidade mais forte de <Rasiel>; entretanto, em minha


condição incompleta eu não posso usá-la. E o líder da organização que roubou
meu Cristal Sephira, DEM, também não pode usá-lo.

— Entendi...

Shidou se sentiu aliviado ao ouvir isso.

o líder das industrias DEM, Westcott, ao adquirir o Cristal Sephira depois


dela ter se invertido, ou o seu Cristal Sephira invertido, poderia invocar a hora
que quisesse o Rei Demônio <Beelzebub>. Supostamente, se ele tivesse a
habilidade de descrever o futuro também, Shidou e os outros estariam em uma
situação desesperadores.

— Mas por quê?

— Eu tenho uma vaga ideia. <Rasiel> originalmente era constituído de


páginas informativas e em branco. E as descrever o futuro ocupa as páginas em
branco. — Nia mostrou a eles as páginas preenchidas com algo que parecia a
caligrafia de uma criança.

— Isso é...

— Ehehe, <Rasiel> e <Beelzebub> eram anteriormente um único ser.


Ambos não podem existir simultaneamente. Se a base de dados do <Rasiel> está
em tal estado, então eu suspeito que o portador do <Beelzebub> também está
experimentando a exaustão.

33
— Ah...

Shidou percebeu a intenção de Nia. Por terem testemunhado os comandos


do <Beelzebub> de Westcott, Kotori e Origami também seguiram pelo mesmo
raciocínio.

— Verdade, mesmo que o Rei Demônio que tudo conhece <Beelzebub> ter
caído nas mãos do inimigo seja uma tremenda perda, dessa forma nós podemos
sabotar o adversário.

— Bem... é somente um pequeno obstáculo. Só faremos com que o


mecanismo de busca fique uma bagunça caótica.

— Mesmo que seja só isso, isso já é de grande ajuda. Muito perspicaz, Nia.

— Hehe, eu fui elogiada pela Imouto-chan.

Nia complacentemente inchou seu peito.

— Todavia, atrapalhar o inimigo não significa que o neutralizamos, nós


devemos ser extremamente cautelosos de agora em diante. Por esse motivo, é
suficiente que eu seja a única que irá sujar as mãos.

— .....

Shidou ficou sem palavras.

— .....Aah, eu não posso deixar ninguém ficar machucado. Isso também


inclui você, Nia.

Shidou finalmente proferiu. Nia corou de leve e sorriu.

— Ehehe, qualé garoto? Não me diga que você gosta de mulheres mais
velhas? E eu pensando que você era um lolicon.

— V-Você...

— Mas eu estou feliz. Obrigada.

Nia respondeu de maneira tímida.

— U-uh, sim...

Olhando para essa cena, Kotori suspirou.

34
— Porém, como Nia mencionou, eles têm a wizard mais poderosa, Ellen
M. Mathers, e o Rei Demônio <Beelzebub>. Isso somente já é bem problemático.
E para piorar, uma nova wizard apareceu.

— .....

Origami encolheu os ombros ao ouvir as palavras de Kotori. Ao ver sua


reação, Shidou pensou na wizard que desceu dos céus e perfurou o abdômen de
Nia naquele dia. Parando para pensar nisso, Origami sabia seu nome.

— Ei Origami, naquela hora...

— .....

Como se estivesse lendo a mente de Shidou, origami imediatamente


respondeu.

— Sim, eu conheço aquela wizard.

— O quê? — Exclamou Kotori.

Origami continuou com uma expressão imutável.

— Seu nome é Artemisia Bell Ashcroft. Ela é afiliada à AST Inglesa.

— Artemisia?!

Dessa vez foi Mana que disse incrédula. Ela deu um olhar sem convicção
para Origami.

— Você a conhece, Mana?

— Sim, ela é muito popular entre as wizards, eu já a encontrei antes. Um


wizard de nível SSS que é quase tão forte quanto a Mathers. Se ela estivesse na
DEM naquele tempo, eu teria perdido uma posição no rank.

— Ela é tão forte assim...

Suor frio escorreu da testa de Shidou. O nível de Mana estava entre as


cinco melhores do mundo e para ela dizer algo assim... o poder de Artemisia é
inimaginável.

— Isso mesmo... mas...

Mana olhou para Origami como se estivesse pedindo autorização.


Origami acenou afirmativamente.

35
— A Artemisia que eu conheci não se juntaria à DEM. Alguma coisa deve
ter acontecido.

— Então é isso. Todos nós sabemos o que as Industrias DEM são capazes
de fazer.

Kotori franziu a testa.

— De qualquer forma, não importa o que aconteceu, a verdade é que a


Artemisia agora é nossa inimiga. Além de investigar os Espíritos, nós devemos
ficar alertas contra ela.

— .....

Shidou e os outros concordaram com as palavras de Kotori.

— Certo, vamos parar aqui por hoje. Seria ruim se uma certa pessoa
machucada dormisse tarde.

— Oh? Imouto-chan está preocupada comigo? Não se preocupe; eu


costumava virar a noite trabalhando.

— Eu disse que suas condições atuais requerem muito descanso.

O rosto de Kotori empalideceu.

Nia, de mau grado, se curvou para Kotori se desculpando e permitiu que


<Rasiel> desaparecesse no ar.

— Muito bem, é hora de nós irmos embora.

— Ah, tá bom.

Depois de todos saírem da sala, Shidou parou seus passos, quando se


lembrou de algo.

— Mana, você queria me perguntar algo mais cedo, né?

Todos estavam com sua atenção voltados para Nia, se esquecendo das
intenções de Mana quando ela chegou.

— Ahh, isso mesmo.

Mana se lembrou.

— Nii-sama, o seu poder espiritual não saiu de controle mês passado?

— Sim, você foi de grande ajuda naquela hora.

36
Pelo o que Shidou se lembrava, ele só podia recordar vagamente do que
aconteceu naquele momento. No último mês, como o caminho do fluxo do poder
espiritual se estreitou, o poder espiritual se acumulou em Shidou e perdeu o
controle. Além dos Espíritos, Shidou também deu uma mão.

— Não, é meu dever ajudar o Nii-sama quando ele precisar.

— Mas.

— Nii-sama faria o mesmo por mim, certo?

— Hã? É claro que sim.

— Foi por isso. — Disse mana sinceramente. — Mas uma coisa ficou na
minha mente.

— E o que é?

— Quando eu estava lutando com a Ellen, Nii-sama disse para mim:


"Ainda bem que você está bem, o que aconteceu com a Mio, ela não vem te
ajudar?".

— Mio....?

Um olhar confuso se formou no rosto de todos.

— Sim, quando eu ouvi aquilo, eu inexplicavelmente me senti tonta, e uma


imagem borrada apareceu na minha mente. Talvez isso tenha algo a ver com as
nossas memorias do passado?

— Pode ser... Mas...

Shidou ficou intrigado. Ele já ouviu esse nome antes, mas ele nem sequer
sabia se tinha mesmo dito aquelas palavras.

— Me desculpa, mas...

Foi então que Shidou sentiu uma tontura violenta como se o mundo todo
estivesse girando em sua cabeça.

— Hã...?

O corpo todo de Shidou involuntariamente tremeu e ele caiu no chão.

— Nii-sama?!— Mana tentou ajuda-lo, mas a vertigem de Shidou não


cessava.

37
38
Uma vasta extensão de brancura preencheu sua visão e uma voz baixa
soou através da névoa.

《... Mio. Esse é... meu nome.》

《Uhn. Estou feliz, muito feliz.》

《Eu te amo. Vamos sempre ficar juntos.》

— Is-Isso é...

Uma figura perfeitamente clara de uma garota de cabelo comprido podia


ser vista dentro de sua mente confusa. No momento seguinte, a consciência de
Shidou caiu num vazio abismal.

♢♢♢♢

— Eu fiquei realmente chocada naquela hora quando você caiu de repente.


Essas palavras vieram da Kotori vestida em um quimono, no templo.

— Me desculpe por preocupa-la...

— Sem problemas, eu já estou acostumada.

Embora ela tenha dito isso livremente, ele ouviu de Mana que Kotori foi a
que ficou mais ansiosa naquela hora.

— ... E o que há de errado com isso?

— Ah... nada. — Shidou deu tapinhas na cabeça dela. — Eu queria que


mana estivesse lá hoje.

— Bem, mesmo que ela tenha dito que detesta lugares lotados, não havia
nenhuma complicação médica. Talvez nós devíamos ter levado ela até lá...

Ao ver Kotori mexendo com seu cabelo, Shidou não pôde deixar de sorrir
ironicamente. Em resposta, Kotori recuou timidamente.

— De qualquer forma, conseguiu se lembrar de alguma coisa... sobre a


Mio?

39
— Nada. — Disse Shidou. Ele sentia uma espécie de familiaridade quando
ouvia o nome de Mio. Porém, tudo, seja alucinações ou ilusões, desapareceu sem
deixar rastros.

— É mesmo...?

Kotori tirou outro pirulito do bolso, tirou a embalagem e o colocou na


boca.

— E se por acaso...

— Hã?

— ... Se por acaso você pudesse voltar naquele tempo, incluindo o do caso
da Mio, o que você faria, Shidou?

— Kotori... — sussurrou Shidou. — Não se preocupe, eu serei seu Onii-


chan para sempre. Eu não vou a lugar algum.

— O qu... Eu não quis dizer isso!!

— Haha, desculpa. De qualquer forma vamos escrever nossos desejos nas


plaquinhas.

Shidou entregou uma caneta à Kotori, que aceitou com um "teehee".

♢♢♢♢

O problema com esse mundo não são nem a guerra nem as drogas; muito
pelo contrário, é um elevador quebrado.

... Ellen M. Mathers.

Repetidamente recitando essas frases, Ellen lamentava em agonia quando


seus joelhos estavam prestes a quebrar. Seu corpo inteiro tremia enquanto ela
jorrava suor por toda parte, seu cabelo loiro pálido estava grudado
laboriosamente em seu rosto e pescoço.

— Por que... por que ele teve que quebrar logo agora...?

— Tudo bem, Ellen?

A pergunta foi feita pela jovem garota em frente dela.

40
Ela tinha cabelos loiros claro com olhos cor de safira e não tinha sequer
uma gota de suor: Artemisia Bell Ashcroft. Ela se juntou a DEM poucos dias atrás
e agora era a subordinada direta de Ellen.

— Sim.

— Mas você parece cansada. Quer alguma ajuda?

— Não há necessidade disso.

— Mesmo ainda faltando mais quatro andares para chegarmos?

— É que acabamos de sair da piscina!

Antes dela ser convocada. Ellen estava de fato se exercitando na nova


instalação de treino.

Ela soltou o ar profundamente, se lembrando da cena anterior. Vestindo


uma roupa de banho que exibia seus membros delineados, Ellen audaciosamente
entrou na piscina. Em sua mão estava sua amada arma Puriduen, que foi
nomeada assim por causa de uma deusa. Ao ver sua postura na cena, várias
wizards abriram caminho para ela.

— Poderia ser uma... boia em sua mão? Será possível que a chefe executiva
não sabe...

— Idiota, não diga isso tão alto! Está cansada de viver?!

As wizards que estavam treinando começaram a conversar em sussurros.


Embora seja difícil de escutar de tal distancia, a postura ameaçadora de Ellen as
fazia tremerem de medo.

Ellen então ergueu seus cabelos com a mão, ignorando a que ponto a plebe
a veneraria. Tudo estava funcionando como ela queria.

— Bem então, vamos começar.

Ellen começou seus preparativos e se aproximou da piscina. Sem violar a


privacidade das demais com um mergulho direto, Ellen vagarosamente tocou a
superfície da água com o dedo do pé e caiu na água. Com Puriduen em sua mão,
ela começou a tamborilar suas pernas.

Sem perceber o quão rápido ela estava avançando, Ellen viu sua colega
Ashcroft em uma faixa próxima.

— Ha... Ufa...

41
A fonte principal das capacidades de uma wizard é sua CR-Unit e elas não
são diretamente afetadas pela resistência de seu próprio corpo. Mas melhorar a
força física básica de seu corpo é algo muito importante; portanto não era
estranho elas irem a um lugar desses.

Ellen mudou seu foco de volta para a frente e tentou atingir a água com
suas penas da melhor forma o possível para avançar.

— Ha... ha...

Depois de alcançar o centro da piscina, como se ela tivesse alcançado o


limite da sua força física, Ellen parou para tomar ar, e se voltou para Ashcroft.
Parecia que até mesmo Ellen não era páreo para ela.

— Uwaaa~... tão rápida. Quantas voltas aquela nadadora já completou?

— Eu acho que cerca de oito voltas.

— E a chefe executiva?

— Não pergunte se não quiser morrer!

As outras wizards sussurravam enquanto observava, Ellen e Ashcroft.


Mesmo que não fosse muito claro, a chefe executiva se provou ser a mais forte
mesmo fora do campo de batalha. Ela se acostumou a ser exaltada pelos mortais,
mas elas começaram a fofocar e ela pensou que era hora delas pararem com
aquilo.

Quando Ellen começou a vigorosamente nadar em direção ao seu destino,


uma mensagem foi transmitida.

— Chefe executiva e vice chefe executiva, por favor compareçam à sala de


assuntos gerais no 30º andar imediatamente.

— ...? O que está acontecendo?

Ellen ofegava quando ela ergueu sua cabeça ao ouvir a transmissão através
da água.

Embora ela tenha ficado atrás de Ellen por poucos segundos, Ashcroft
finalmente chegou ao destino. Ela então saiu da piscina e chamou por Ellen,
estendendo sua mão a ela.

— Ellen, estão nos chamando. Vamos.

42
— Eu sei. — Ellen queria rejeitar a oferta de Ashcroft, mas a fatiga
acumulada pelo exercício intenso tinha desordenado seu corpo. Era falta de
educação ignorar uma ação de bondade, então Ellen cedeu.

E agora...

— Sob condições normais, as escadas não seriam um problema para mim.


Mas agora esse é o resultado do esforço ocasional...

— Eu também nadei, sabia?

— Eu estava em um ritmo diferente da sua lerdeza!

Ellen desdenhosamente se voltou para Ashcroft.

— Se continuarmos assim, Senhora, Westcott ficará nos esperando.

— Kuh... é mesmo...

De fato, Westcott, o Diretor da DEM, estava as esperando no 30º andar.

— Certo.

Com determinação, Ashcroft esgueirou se por trás de Ellen e a carregou


como se fosse uma princesa.

— O que está fazendo?! Me coloque no chão nesse instante!

— Nós chegaremos ao 30º andar em breve. — Assim que terminou de falar.


Ashcroft correu escadas acima em velocidade inumana, como se Ellen não tivesse
peso algum.

— Waaa? M-Me solta!

— Em breve.

— Ackk... pelo menos mude minha posição! Essa postura evoca


pensamentos inapropriados!

Ellen custou para esquecer esse evento vergonhoso e tentou atingir sua
cabeça contra a parede. Ashcroft suspirou como se ela estivesse carregando uma
pirralha insolente.

— Seja uma boa garota e pare de se remexer. Tudo vai acabar em breve.

43
Com um coro de passos incontáveis, Ashcroft subiu o último grupo de
degraus. Quando ela finalmente chegou, Ashcroft liberou Ellen e ajeitou seu
uniforme.

— Nunca mais faça isso, você não é minha mãe!

— Tá bom, tá bom. Você não vai bater à porta?

— Você não precisa me dizer isso!

Ellen então o fez.

— ...Por favor, entrem.

— Me perdoe por fazê-lo esperar.

Olhando para dentro, elas puderam ver um homem sentado em uma


cadeira. Ele tinha um par de olhos penetrantes sob cabelos cinza escuro. Ele
carregava em sua mão um livro de cor negra. Ele era o renomado comandante
daquela empresa: Isaac Ray Pelham Westcott, em pessoa.

— Yaa~. Eu estive esperando vocês. Ellen e Artemisia. Vocês parecem


exaustas, o que vocês estiveram fazendo?

— Nada importante. Deixando isso de lado, você nos chamou por algum
motivo?

Westcott acenou, e direcionou sua atenção para o livro. O Rei Demônio


<Beelzebub>: A catástrofe do desespero de 31 de dezembro.

— ... Devo dizer a vocês que as pesquisas no <Beelzebub> sofreram um


tipo de interferência alguns dias atrás.

— Hã? Será que ela se originou da <Sister>?

— Parece que sim. Isso restringe pesadamente a função de onisciência, um


grave erro. Mas eu consegui decifrar aquela informação a tempo.

— Isso significa...

Ellen foi momentaneamente cortada pelas palavras de Westcott.

— Eu pelo menos descobri a localização de um novo Espírito.

— ......!

Ellen prendeu a respiração, e cerrou seu punho.

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— Ele já apareceu?! Qual o resultado?

— ...heh.

Westcott ergueu seu dedo indicador e apontou para o céu.

45
Capítulo 2 - O Espírito do Espaço
Segunda-feira, 9 de janeiro.

Até ontem, A Escola Raizen era um edifício pacífico, somente esperando o


grande número de alunos se apresentarem à escola sucessivamente no dia
seguinte. Assim que eles passaram pelo portão com suas respirações embaçadas,
cada um deles avançou para suas respectivas salas de aula e trocaram
cumprimentos com seus colegas de classe. Embora seus diálogos fossem
essencialmente diferentes, a maioria deles se iniciava com um "Feliz Ano Novo",
"Há quanto tempo não nos vemos" e etc...

As férias de inverno tinham terminado e hoje era o dia da cerimônia de


abertura da escola.

De hoje me diante, A Escola Raizen daria as boas-vindas ao terceiro termo


(as escolas japonesas dividem seu ano escolar em três termos, o primeiro vai de
abril à julho, o segundo de setembro à dezembro e o último de janeiro à
fevereiro).

— Err...

Shidou, que chegou junto de Tohka, encolheu os ombros para ajustar o


uniforme escolar. O vestuário parecia um pouco antiquado, embora tenha feito
apenas poucas semanas desde que ele o usou da última vez.

Mas ele não podia fazer nada em relação a isso. Com o início do ano, uma
lista substancial de atividades surgia, isso sem contar os vários eventos que
ocorreram durante as férias de inverno.

Uma certa voz de garoto o chamou pelo lado direito no momento em que
Shidou se esticava enquanto refletia sobre esses dilemas.

— Ei, há quanto tempo, Itsuka.

Na direção dessa voz, Shidou observou um garoto que usava cabelo


espetado através do uso de uma pomada: seu colega de classe Tonomachi Hiroto.
Por algum motivo, Shidou sentiu que não o via a eras. Shidou emocionadamente
suspirou e ofereceu sua mão.

— Ah, Tonomachi. Feliz Ano Novo.

— Para você também, me diga, o que tem feito?

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— Hm?

A pergunta pegou Shidou de guarda baixa. Tonomachi então apontou


seus dedos para trás dele, para onde Shidou pôde observar três garotas
quietamente cochichando algo enquanto olhavam para ele desde que chegaram.

Uma das garotas usava seu uniforme de forma desgrenhada, outra garota
carregava uma face inexpressiva e a última garota era pequena e usava óculos. O
nome do trio, da direita para a esquerda era Ai, Mai e Mii. Elas eram um grupo
bem famoso da sala 2-D.

Não era difícil ver que elas estavam falando sobre Shidou na cara dura. De
fato, era claro que estavam falando mal dele.

— Ah......

Shidou não fazia ideia do que fazer. Ele simplesmente não conseguia
entender elas.

De acordo com o que os outros disseram a ele, quando o fluxo espiritual


se desestabilizou no mês passado, Shidou inconscientemente proferiu uma pilha
de cantadas para as três. É claro, Shidou não tinha lembrança alguma desse
momento. Mas, mesmo que ele se lembre ou não, isso não importava para elas.

— Uh... Eu não sei.

Não importava como, era desnecessário ficar falando tanto sobre ele.
Shidou soltou uma frase superficial, tentando se esquecer disso.

— Hmhm~. Bem, não importa. De qualquer forma, eu acabei de ver a


Tama-chan na sala dos professores.

No meio da frase de Tonomachi, o sino que sinalizava o início das aulas


soou.

— Eu vou indo então.

Com isso dito, Tonomachi também voltou ao seu próprio assento.

— Ei, onde está a Tama-sensei?

— Err, bem, ela deve estar aqui em breve... Aí está ela.

— ......

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Shidou balançou sua mão enquanto observava Tonomachi se sentar, sua
mente se encheu de premonições nada favoráveis. Embora ele também não se
lembrasse do que aconteceu, Shidou tinha feito uma proposta animadora para a
Tama-chan quando o fluxo de Reiryoku estava obstruído.

Basicamente, todos os incidentes relacionados à isso foram tratados pela


analista da Ratatoskr Murasame Reine, que também era a professora assistente
da sala de Shidou. Enquanto ele mergulhava em pensamentos ruins, a porta da
sala de aula se abriu de repente, revelando a professora responsável pela classe,
Okamine Tamae, também conhecida como Tama-chan pelos alunos. E em volta
de seu corpo delicado, uma aura sombria inigualável pairava.

— Uoohh...

Shidou ponderou enquanto via sua condição, assim como seus colegas de
classe. Todos os alunos começaram a se questionar confusamente.

— Muuu... Shidou, o que aconteceu com a Tama-chan-sensei? Ela parece


tão triste hoje. — Perguntou Tohka ao seu lado.

— Aah, uhh... Não faço ideia. — Sussurrou Shidou.

Como se fosse surda, Tama-chan entrou vagarosamente na sala e ficou em


pé na plataforma, com a lista de presença nas mãos.

— ...Pessoal, Feliz Ano novo. Como foram as férias de vocês? O Natal, a


véspera de Ano Novo e o Primeiro Dia do ano...? Deve ter sido bem alegre.

Embora ela não tenha dito nada estranho, ela fez com que toda a classe
suspirasse. Tama-chan sorriu hipocritamente, desprovida de qualquer emoção.

— Qual a idade de todos esse ano? Como todos passaram do segundo para
o terceiro ano, então devem estar com cerca de 18 anos. Aqueles de vocês que
nasceram depois devem ter 17. Meu aniversário vai ser em março, quantos anos
será que a sensei vai fazer...?

A professora mais famosa da Escola Raizen, Tama-chan, tinha 29 anos.


Todos sabiam desse fato. Olhando para a sala, ela soltou um sorriso cansado
como se ela tivesse atingido a iluminação.

— Eu... finalmente vou me graduar da casa dos vinte anos e chagar nos
trinta... huhuhu... legal, né?

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Talvez fosse devido à uma pena miserável que todos ficaram em silencio.
Ai suavemente chamou o nome da Tama-chan. Luz fluorescente refletia em seus
óculos, ofuscando Ai com sua radiação.

— Cale-se. De agora em diante, todos que quiserem se referir a mim tem


que adicionar Senhora antes e depois da frase!

— S-Sen... Sim Senhora! Ai estava assustada com a situação de Tama-chan


e respeitosamente seguiu suas ordens.

— Senhora, Tama-chan, o que aconteceu, Senhora?!

Quando Ai repetiu, Tama-chan respondeu a ela de uma maneira


impiedosamente ridícula.

— Nada, nada aconteceu. Tudo está bem, exceto por algumas notícias
cheias de celebrações. Minha amiga da escola primária, Airi-chan, vai se casar
mês que vem. Huhuhu, que notícia boa, né? Por Airi-chan ser tão boa, seu marido
deve ser bom também. Nós estávamos juntas todos os aniversários e Natais de
todos os anos, e sempre trocávamos chocolates no dia dos namorados. Quando
nós bebíamos até ficar bêbadas, ela costumava me carregar e dizer "Ugaaahh~, se
ainda estiver solteira até os trinta anos, case comigo Tama-chan!", e esse tipo de
coisa. Parece que seu futuro esposo é um jovem médico mais novo que ela alguns
poucos anos. Durante o "Homens são todos uns imbecis" do último ano, uma
reunião nossa, Airi-chan abriu suas pernas enquanto estava bêbada e caiu de
amores à primeira vista pelo médico que cuidou dela, o relacionamento deles se
desenvolveu rápido. Embora tenha acontecido o mesmo comigo naquele dia, eu
fiquei bêbada e cai no sono na clínica, ficando de escanteio. Quem diria que
naquele curto espaço de tempo minha melhor amiga por todos esses anos cairia
em um rio de amor logo na sala ao lado? A vida é tão imprevisível, como eu
queria que tudo isso tivesse sido um sonho. Na verdade, eu também estava
pensando que até mesmo a Airi-chan, que é uma garota maravilhosa, não recebia
qualquer atenção, os homens são realmente cegos. Airi-chan é realmente uma
mulher admirável. Linda, elegante, ela era praticamente uma modelo. Por ela
estar solteira, eu sentia que tudo isso não era importante. Mas Airi-chan foi
cativada por um homem por trás das minhas costas. Na verdade, eu comecei a
perceber que ela vinha à reunião cada vez menos frequentemente no último ano.
Airi-chan é tão má. Como ela pôde me trair e ficar noiva? Todas essas mentiras
de "é tão embaraçoso" e tal... eram somente truques para fisgar homens um atrás
do outro. Eu preciso aprender essa habilidade também.

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Tama-chan se agitou monotonamente enquanto inclinava seu corpo no
átrio.

— Hu... huhu... e outra das minhas amigas de classe se casou... Vil! Má!
Esposas são todas boas companheiras...

Tama-chan começou a gargalhar "he...he...he" ironicamente como se


tivesse sido possuída por alguma entidade.

— Todos... todos me abandonaram... digam-me... quantos casamentos


mais eu terei que comparecer...?

— S-Senhora, isso uhh..., Senhora!

— Espere por mim, pessoal... Eu vou me juntar a vocês em breve... ha...


haha... Eu sou tão incapaz... por que Deus me abandonou...?

Como se algo tivesse finalmente rachado dentro dela, Tama-chan olhou


para os alunos estupefactos.

Depois de um longo período de quietude, ela abriu e virou as páginas da


lista de presença,

— Muito bem, vamos para a chamada.

Tama-chan se aproximou de Ai, Mai e Mii indiferentemente, as quais


balançaram suas cabeças inusitadamente.

— N-n-n-não!

— Senhora, você parece problemática, Senhora!

— Senhora, descanse um pouco, Senhora!

— O quê? Estou perfeitamente bem.

Tama-chan sorriu com alívio perfeito.

— Mas se um demônio aparecer diante de mim agora mesmo e me oferecer


um desejo em troca da minha vida, eu provavelmente desejaria que um meteoro
caísse no Japão mês que vem.

— É por esse tipo de coisa que...!

— Não é assim que uma criança do primário pensa antes do início das
aulas?!

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— Huhuhu... eu não disse que era uma piada? hee... hee... meteorito...
liberte-se...

Com o giz na mão, Tama-chan fingiu ser uma garota mágica balançando
sua varinha e apontou o pedaço de carbonato de cálcio para fora da janela com
um "haa!", como se estivesse conjurando uma magia.

...E então, naquele instante.

Uma enorme deflagração na quadra esportiva reverberou pela agora


vulnerável sala de aula, a onda de choque estilhaçou o vidro das janelas e fez as
cortinas voarem. Os alunos lá dentro gritaram em uníssono e se esconderam
debaixo das mesas.

— Uaaahh!

— Hyaaaaa!

— O-O que... está acontecendo?!

Com uma mão cobrindo os ouvidos, Shidou cuidadosamente tirou os


estilhaços de vidro de seu uniforme e ficou em pé em cima da cadeira para espiar
o lado de fora.

— Shidou, olha para aquilo,

Origami, que foi quem percebeu primeiro a situação, apontou para fora.
Shidou andou até a janela, pisando sobre os cacos. Tremendo com a trepidação,
ele cautelosamente olhou para baixo.

Shidou observou a quadra esportiva da escola que agora estava


aniquilada, assim como as ruas próximas, como se a área tivesse sido atingida
por um spacequake. Porém, não havia nenhuma sirene de alerta.

— ...Hã?

No epicentro da destruição, Shidou pôde instintivamente identificar um


material negro. Da sua localização, ele não pôde distinguir nada claramente, mas
parece que era algum tipo de rocha gigante totalmente destruída. Em outras
palavras, dava para deduzir que a cratera gigante e a onda de choque anterior
surgiram "Daquela Coisa" colidindo com a superfície. Como a força de impacto
tinha sido tão grande, então isso deve ter caído de bem alto.

Os outros estudantes devem ter percebido algo parecido. Tonomachi


olhou para o céu e disse: — M-Meteoro...?

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— Haauu...

A aparência de Tama-chan voltou ao seu estado pálido sombrio.

— Uwaaahh~ A Tama-chan realmente invocou um meteoro!!!

— Ela sem querer fez um contrato com um demônio?!

— Tama-chan! Não desconta na gente!!!

Todos correram na direção dela apesar do seu olhar arrogante.

Enquanto isso, o celular de Shidou tocou em seu bolsou, era uma ligação
da "Itsuka Kotori". Embora seja contra as regras falar ao telefone durante a aula,
a situação atual justifica fazer uma exceção. Shidou foi para um canto mais
silencioso e pressionou o botão para atender.

— Shidou! Tudo bem com você?!

Kotori gritou do outro lado da linha.

— A-ah, me escuta Kotori, a Tama-chan assinou um contrato com um


demônio e invocou um...

— Haa? Tá ficando doido? De qualquer forma, pegue a Tohka e as outras


e venha ao gabinete do comandante! Rápido!

— I-Isso significa...

Shidou estava estupefato.

— Sim, um novo Espírito apareceu.

♢♢♢♢

Depois de viajar de ônibus por 10 minutos, Shidou junto com Tohka,


Origami, Reine e as irmãs Yamai, chegaram às instalações subterrâneas da
Ratatoskr. A Ratatoskr originalmente tinha a nave espacial Fraxinus como
quartel general; porém, ela sofreu danos críticos na batalha anterior e estava em
reparos. Portanto, Shidou e os outros tinham ocupado as instalações subterrâneas
próximas como sua base.

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Na verificação de segurança, Shidou e Tohka se separaram um do outro
antes de chegar à sala de comando. Apesar do fato delas terem sido instruídas a
ficarem em outra sala causou insatisfação à Tohka, Shidou tinha que discutir
estratégias para a aparição do novo espírito. Era melhor que os outros Espíritos
não vejam esse cenário.

Quando Shidou pisou dentro da sala de comando. Toda a equipe da


Fraxinus estava instalada a frente de seus respectivos monitores do console de
automação dentro da sala, executando urgentemente suas tarefas.

— Você chegou.

Kotori retorquiu enquanto sentava no assento de capitão no centro da sala


de comando.

Vendo Shidou ao lado dela, Kotori trocou seus laços, inegavelmente, para
os pretos. Ela usava seu uniforme militar com listras vermelhas em seus ombros.

— Me desculpe por fazê-los esperar.

Reine, que foi até lá com Shidou, tirou seu casaco branco e sentou em um
assento vazio.

— Não, você fez bem.

— Tudo bem, a situação exigia isso.

— Ah... como as coisas ficaram assim? Você disse que aquele meteorito foi
gerado por um Espírito, mas o alarme de spacequake não soou. Foi uma aparição
pacífica? Mas ter imediatamente atacado a escola... será que estava alvejando a
Tohka e as outras?

— U-Un...

Ao ouvir a pergunta de Shidou, Kotori adotou uma expressão perturbada


e segurou seu queixo.

— O que diabos está acontecendo? Para ser sincera, eu não faço a mínima
ideia.

— O-O que isso significa?

— Hmm... Mostre a situação atual no monitor.

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A equipe começou a operar seus consoles. Então, na grande tela da frente,
um mapa-múndi foi projetado. Pontos vermelhos estavam espalhados por todos
os continentes, ilhas e oceanos.

— Isso é...?

— Sim, um objeto desconhecido apareceu no campus da sua escola,


correto? Um fenômeno parecido aconteceu em cada um desses locais marcados
no mapa simultaneamente.

— O quê...?

Shidou não pôde deixar de franzir suas sobrancelhas e olhar fixamente


para o cartograma.

— Todos esses lugares... ao mesmo tempo?

Por um momento era difícil acreditar que aquelas coisas tinham caído em
42 locais ao redor do mundo ao mesmo tempo, incluindo em várias bases da AST
e das indústrias DEM. Portanto, a possibilidade de que foi um ataque arquitetado
em resposta a detecção de fracas ondas espirituais e poderes mágicos não podia
ser descartada.

— E-Espera um momento. Mesmo a América do Sul foi atacada! Mas ela


não fica do outro lado do mundo?! Esses locais foram atacados por uma dupla
de Espíritos como as irmãs Yamai?

— N-Não, esse não parece ser o caso. O Espírito é sem dúvidas uma única
entidade. Além disso, para ser precisa, os projéteis não são realmente meteoritos.
— Respondeu Kotori.

Kotori presumidamente sabia que suas palavras não eram completamente


claras. Agitando os dois pirulitos que tinha em sua boca, ela deu ordens à equipe.

— Uma imagem é melhor do que mil palavras. Reproduza o vídeo.

— Entendido! — Exclamou um dos membros da equipe, <Chefe>


Mikimoto, enquanto operava o console.

A tela que antes mostrava o mapa-múndi agora estava reproduzindo um


vídeo.

Na tela estava uma escuridão absoluta. E dentro daquela presença não


iluminada, brilhavam incontáveis pontos pequenos. Shidou primeiramente

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pensou que seria o céu da noite, mas rapidamente dispensou essa ideia assim que
percebeu que algo não estava combinando com isso.

Havia ali, bem na parte de baixo da tela, uma esfera que continuamente
girava. Um vórtice de branco e azul tão vasto quanto os olhos podem ver. De
fato, aquilo era o planeta que Shidou e os outros residiam, a Terra.

— O universo...

Essa era a metáfora literal da consumação da separação dos céus da terra.


E bem no centro, estava uma garota que flutuava no espaço irrestritamente.

Acima de tudo, seu lindo e longo cabelo continuamente irradiava uma


magnifica fosforescência, apesar da escuridão que a cercava. O incomparável e
belo cabelo dourado dela faria com que qualquer um a confundisse com a
Rapunzel dos contos de fadas, vagando vagarosamente naquele reino de
profunda escuridão. Seu Astral Dress era embelezado com padrões de várias
constelações e em sua mão ela carregava um longo cajado.

— Essa garota é...?

— Sim... Nós acabamos de confirma-la como um Espírito. Nós não


decidimos ainda um codinome para ela. Por conveniência, vamos chamá-la
temporariamente de <Zodiac>.

— É a Primeira vez que ela é vista?

— Sim, é claro que excluindo as possibilidades não observadas. Seu anjo,


Astral Dress, habilidades, temperamento e Et Cetera são desconhecidos.

— Então é isso. E a forma que ela usou para atacar a terra já foi
identificada?

Com o questionamento de Shidou, Kotori respondeu com um pesado


suspiro.

— Para falar a verdade, tem um motivo para não termos conseguido


detectar esse Espírito.

— Um motivo?

— Sim. Transmitam o vídeo obtido três horas atrás.

— Entendido.

E então, a grande tela começou a mostrar uma gravação

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46
Embora o cenário continuasse sendo o espaço sideral, dessa vez <Zodiac>
parecia estar dormindo, seu corpo todo estava encurvado e calmamente flutuava
pelo cosmo.

— Isso é...

As palavras de Shidou pararam no meio do caminho.

A gravação mostrou uma figura diferente.

— Uma nave espacial?! Shidou foi pego de surpresa e arregalou os olhos.

Uma armada de três naves espaciais gigantescas emergiu da Terra e, não


somente isso, inúmeras figuras parecidas com cupins cercavam cada uma dessas
naves. Fazendo uma inspeção mais detalhada, cada uma dessas figuras poderia
ser distinguida como máquinas humanoides.

Não havia dúvidas que aquelas coisas eram equipamento bélico das
indústrias DEM: as unidades <Bandersnatch>.

— Poderia ser a... DEM?!

— Sim, foram eles que descobriram a presença da <Zodiac>. Depois que


sentimos algo suspeito vindo das naves espaciais deles, nós usamos câmeras
automáticas para fazer uma busca por aquela área e encontrá-la também.

Kotori respondeu com um tom de desgosto em sua voz.

— C-Como a DEM conseguiu localizar um Espírito...

Shidou disse antes de perceber de uma coisa. Kotori também partilhava


dessa conclusão e confirmou.

— Temo que seja por causa do <Beelzebub>. Não podíamos fazer nada em
relação à isso, mesmo com os esforços de Nia para tentar sabotá-lo.

Então a tela mostrou outra gravação.

As naves espaciais da DEM travaram sua mira em <Zodiac> e se


prepararam para o ataque. As naves expandiram seus territórios e carregaram
inúmeros canhões com devastadores poderes mágicos. Enquanto isso, as
unidades <Bandersnatch> que cercavam o Espírito começaram a carregar suas
CR-units.

— Eii... isso não é um pouco de exagero?

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— Continue assistindo.

<Zodiac> percebeu os seus arredores e sem nenhuma pressa ergueu sua


cabeça. Com uma expressão indiferente, ela olhou como se não se importasse
com o perigo iminente, endireitou seu corpo e ergueu sua mão direita.

— <Lorde Removedor de Selos - Michael>.

A garota pronunciou esse nome suavemente.

No momento seguinte, um cajado luminoso se materializou


imediatamente do espaço vazio, o mesmo que ela tinha em mãos no vídeo
anterior. Na ponta de cima do cajado estava adornado um luxuoso apetrecho em
forma de estrela, e na ponta de baixo estavam incrustados dentes de serra que se
assemelhavam a uma chave.

— Um ano...?

— Parece que sim.

As unidades <Bandersnatch> começaram seu ataque e envolveram a


<Zodiac> enquanto carregavam seus sabres laser. Ela se manteve calma e firme e
inseriu a parte da frente da chave no espaço entre ela e os Bandersnatch, virando
para a direita como se ela tivesse em uma fechadura.

— ...《Segva -Lock》.

Com um som de metais se colidindo sonoramente, os membros das


<Bandersnatch> começaram a perder sua turgidez e seu território desapareceu.
Apesar de estarem em modo ofensivo momentos atrás e de sua natureza
destemida, todas elas instantaneamente perderam a vontade de lutar e
permaneceram imóveis. É como se sua fonte de energia tivesse sido selada.

— Is-Isso é... — Arquejou Shidou.

— <Michael>. Pela análise do vídeo, podemos supor que a habilidade


desse anjo é a de selar as funções do alvo ao atingi-lo com a chave.

Reine disse isso enquanto operava o console suavemente. Aquela,


<Zodiac> já havia desativado as unidades <Bandersnatch> uma a uma.

Porém, a DEM já esperava esse resultado. Poucas Bandernatches seriam


insuficientes para capturar <Zodiac>. Enquanto ela lidava com elas, as três naves
espaciais tinham terminado de carregarem seus canhões com poder mágico. Elas
então abriram fogo de três direções diferentes, soltando uma densa magia

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acumulada. O negro espaço foi instantaneamente permeado por brilhantes raios
de luz.

— Uwaaah...

Mas <Zodiac> permaneceu inafetada pela situação difícil que se


encontrava e direcionou a parte de baixo de seu cajado para a frente.

A chave sumiu como se tivesse sido engolida pelo espaço, e <Zodiac>


absorveu todo o bombardeio direcionado a ela.

—《Rātaibu -unlock》.

Naquele instante, um buraco negro energizado surgiu em volta de


<Zodiac>, absorvendo todo o bombardeio direcionado a ela.

— O-O que foi is...?!

Shidou arregalou seus olhos.

E as coisas não terminaram por ai. Outro buraco negro emergiu atrás das
naves espaciais e nas unidades <Bandersnatch>. A artilharia não foi apenas
nulificada, mas as estonteantemente poderosas bombas também foram
teletransportadas, sem perder um pingo de sua energia.

O mundo pintado de negro mais uma vez foi preenchido com a luz de
explosões. Toda a armada das três naves espaciais e incontáveis unidades
<Bandersnatch> foram destroçadas pelo seu próprio poder de fogo imenso.

— As bombas da DEM foram...?!

— ...Sim. Essa é uma das habilidades de <Michael>.

— A chave alterou a composição do tempo-espaço para destravar o


espaço, assim criando um buraco de minhoca. Além disso, ela ainda pode
determinar seu destino.

— Shidou, que de repente percebeu uma coisa, se virou para Kotori.

— Já percebeu? Bem, depois a <Zodiac> começou a atacar a terra. Abrindo


portões como anteriormente, lançando os destroços das naves espaciais da DEM.

— Como ela designou as dezenas de locais ao redor do mundo?

— Parece que foi assim: Ela estava dormindo tranquilamente, mas foi
acordada pelas naves. Ela certamente ficou furiosa por causa disso. Caso os

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destroços tivessem escapado da combustão da atmosfera e fossem diretamente
direcionados à superfície, eles poderiam ter preservado sua massa e atingido o
solo com mais força. Por outro lado, por sorte ela não fez isso, a força de seu
ataque foi reduzida por uma grande margem, talvez devido a ela não os lançar
por mais do que alguns milhares de quilômetros.

— Então foi isso... apesar da onda de choque parecer ser realmente


poderosa.

Shidou franziu a sobrancelha quando ele se lembrou da cena.

— Se meteoros daquele tamanho realmente aparecessem, eles


definitivamente não teriam somente esse impacto. Não seria surpresa se o raio
de extensão do impacto cobrisse dezenas de quilômetros. Isso seria algo fácil de
fazer para alguém como ela que pode criar buracos de minhoca. Não, os danos
causados agora já são críticos.

— ......

Suor frio cobriu o rosto de Shidou. Uma habilidade extremamente


aterrorizante... Com base nas suas aplicações distintas, talvez até mesmo a Terra
possa ser aniquilada. Shidou estabilizou seu humor ao respirar profundamente.

— ...Então, o que devo fazer?

Shidou estava ciente de que ele tinha que se encontrar com o novo Espírito
para poder selar seus poderes.

Porém, dessa vez se localizava no espaço sideral. Ele não podia


simplesmente se aproximar dela e conversar. Muito pelo contrário, já era difícil
demais apenas entrar em contato com ela.

— Isso mesmo. Não importa quão difícil seja, seria um problema se ela
lançar outro ataque como fez antes. Resumindo, o tempo é essencial. Vamos
conduzir um diálogo com ela.

— Conversar com ela... como? Telefone e e-mail não vão nos ajudar nessa.

Kotori mostrou preocupação com seu irmão cabeça de vento.

— Você é idiota? Como acha que capturamos esse vídeo?

— Vídeo...ah! Teve mesmo uma coisa desse tipo!

Shidou percebeu que ele se esqueceu desse ponto.

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— Claro que sim, embora tenhamos que fazer alguns ajustes, as funções
são parecidas com o Yggd Folium da Fraxinus. Como ela tem um Realizer
instalado, ele pode expandir seu território.

— Entendi. Se eu puder ficar dentro do alcance do território...

— Sim. Normalmente seria impossível para o som se propagar pelo vácuo,


mas ele pode ser transmitido através do território. Além disso, leve essa coisa.

O segundo em comando Kannazuki Kyouhei respondeu então


"Entendido", e acenou para Shidou com um objeto. Depois de remover algo de
um dos lados do objeto, ele o entregou para Shidou.

— Venha, Shidou-kun. Vista isso e fique de pé.

— Hã? O que é isso?

Parecia ser um receptor em forma de capacete com algum tipo de óculos


anexado. Embora ele não saiba para que serve, Shidou seguiu as instruções que
lhe foram dadas por Kannazuki e o colocou na cabeça.

Kannazuki então mirou as lentes da câmera em Shidou e começou a operar


o console.

— Comandante, as preparações estão prontas!

— Muito bem. Comecem a experiência. Deixarei isso com vocês.

— Entendido!

Respondendo a ordem de Kotori, <Amor Profundo> Minowa operou seu


console de automação. Logo depois daquilo, o aparato em frente de Shidou
começou a fazer sons metálicos.

Confuso, Shidou era incapaz de determinar o que estava acontecendo.

— O que está acontecendo?

Em frente de Shidou, um outro Shidou apareceu.

— Waah!?

Shidou ficou intimidado pela inesperada aparição e caiu de costas.


Surpreendentemente o outro Shidou também fez o mesmo.

— Parece muito vívido...

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Shidou estendeu sua mão para cutucar seu outro eu, mas devido à ele ser
um mero holograma, seu dedo atravessou ele.

— Por enquanto ainda não está ligado, mas os óculos irão mostrar o que a
câmera registrar quando você começar.

— Então é isso. Dessa forma eu poderei me comunicar com o Espírito cara


a cara.

Shidou pensou: "Se tinham um dispositivo desses, porque não me


deixaram usá-lo antes?!".

— Sim. Nós não temos muito tempo então vamos começar. Quem sabe
quando ela lançará outro ataque.

— ...Ah, entendido.

Shidou concordou firmemente com uma mão em seu peito para regular
sua palpitação. Francamente, ele queria se acostumar com os óculos primeiro e
se preparar mentalmente. Mas assim como Kotori disse, eles não tinham tempo
para planejar as estratégias, então ele cerrou os punhos e exalou pesadamente.

Shidou estapeou suas nervosas bochechas enrijecidas e sorriu. Quando


confronta Espíritos, as cartas na manga de Shidou não são armas, mas sim
palavras de amor. Seu coração deve possuir a firme crença de que salvará os
Espíritos para superar seu medo de conversar com eles cara a cara.

— Estou pronto, Kotori.

— Nada mal.

Kotori ergueu os cantos da boca e se reposicionou em seu assento. Ela tirou


seus dois pirulitos da boca e apontou para a tela.

— Bem, então, vamos começar a operação <Amor à distância>!

— Entendido! — A equipe respondeu em uníssono, cada um continuando


suas atribuições.

— A câmera autônoma número 1 está se aproximando do alvo.

— O estado mental do alvo está sincronizado no monitor.

— As preparações estão completas. Prepare-se, Shidou-kun.

— Sim!

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No instante seguinte, o campo de visão de Shidou mudou da sala de
comando para o espaço sideral.

— .....!

Shidou não pôde deixar de engolir em seco.

A escuridão sem fim era incomparável ao número ilimitado de estrelas


que brilhavam ali, assim como a massa celestial de azul em sua vista. Aquela cena
majestosa roubou a atenção de Shidou.

Mas agora não era a hora para apreciar avista. Shidou vagarosamente
voltou aos seus sentidos.

Diante de seus olhos estava uma silhueta magra de uma garota loira
flutuando no meio do ár. Aquela misteriosa e inspiradora visão realmente
combinava com ela.

— Vamos começar, o relacionamento em longa distância entre Terra e os


cosmos.

Embora as palavras de Kotori contivessem um teor de comédia, seu tom


era sério.

— Oi, bom dia.

— ......

O Espírito imediatamente apontou seu cajado para a cabeça de Shidou em


resposta, emitindo um raio de luz.

— Uoohhh...!?

Embora seu corpo tenha reagido, era tarde demais. Raios de uma luz
dourada cromática fluíram em uma única rajada e atingiu a cabeça de Shidou na
velocidade da luz.

— Mas o que foi isso!?

Shidou ficou em choque exageradamente e caiu no chão, seu corpo inteiro


estava se contorcendo e ambas as mãos cobriam sua cabeça. Simplesmente era
uma condição lamentável.

— K-Kotori! E-Eu morri!! Minha c-cabeça!!

— Pare com essa bobagem, sua cabeça ainda está ai.

65
— .....! Aah...

Shidou voltou a se acalmar. Devido à imagem ser tão realista, a sensação


de ter realmente sido decapitado aumentou. Mas na verdade, somente o
holograma de Shidou foi atingido. Shidou se machucou somente por ter batido a
cabeça no chão durante a queda. Shidou se sentiu envergonhado e se levantou.

— Mas que Espírito cruel... Eu estaria ferrado se fosse meu eu real.

— Talvez ela ainda esteja agitada por causa do ataque da DEM. Eu não
ficaria surpresa se ela de repente ouvisse uma voz atrás dela e pensasse que fosse
um inimigo. Vamos fazer com que ela saiba que não oferecemos perigo.

— Is-Isso mesmo...

Depois de voltar a si, Shidou equipou os óculos de novo e a cabeça de seu


avatar se regenerou. Seu display voltou a mostrar a imagem da garota.

— Por favor, se acalme. Eu não sou seu inimigo e não vou te atacar.

— ...... Hã?

A garota olhou inexpressivamente para o segundo Shidou e inclinou sua


cabeça confusa.

Não esperamos que ele respondesse, a garota imediatamente voou em


direção às pilhas de destroços, passando aceleradamente por Shidou.

— Gwaahh!?

Shidou estremeceu instintivamente, mas não pateticamente como antes e


continuou reprimindo seu choque.

— Espera, eu...

A garota, que circulava em volta de Shidou, usou seu cajado para


rudemente pulverizar sua cabeça novamente.

— Kuhh!? N-Não, me escuta...

— ......

A destroços de metal, que obedeciam às leis de movimento de Newton,


perfuraram seus membros quando se colidiram com o impulso que a garota
gerou.

— M-Me escuta......

66
— ......

Dúzias de raios de luz perfuraram Shidou o fazendo se parecer com favos


de mel.

— Ugaaaaahhh!!

Shidou lamentou quando seu corpo foi feito em pedaços.

— Essa maníaca por guerra! Só fazem alguns poucos minutos e eu já morri


cinco vezes!!

Reine tocou seu queixo, perdida em pensamentos.

— Hmm... Eu não esperava que ela fosse tão violenta. Parece que usar o
holograma foi a escolha certa.

— ...! Espera! O Espírito!

<Batente de Unhas> Shiizaki gritou, direcionando a atenção de todos à tela


grande, somente para descobrirem que a garota estava concentrada no corpo
regenerativo de Shidou. Ela ainda carregava uma expressão confusa imutável,
mas seus movimentos eram substancialmente diferentes.

— ... Inconcebível. Porque tu não faleces?

Sua entonação não continha modulação, era tranquila até demais. Mesmo
assim, ela finalmente respondeu de alguma forma que não seja pelo combate.
Shidou acenou excessivamente.

— Ah, aahh! Eu queria falar com você então eu fiz uma projeção
tridimensional aqui. Então a-ahh, ai... para... Não perfure o estômago dos outros
enquanto eles estão falando!

Shidou cobriu seu abdômen com agonia. A garota usou a parte frontal de
seu cajado para perfurar sua barriga, o agitando como se fosse uma colher de
sopa.

— Projeção tridimensional, hein? Inconcebível de fato, melhor para minha


mente não desconsiderar isso.

— O-Oh...

Shidou deu um sorriso torto.

— D-De qualquer forma, se não se importar, posso saber seu nome?

67
A garota parou de mexer na barriga de Shidou e ergueu sua cabeça.

— Meu nome? Isso de nada importa. És Mukuro. Hoshimiya Mukuro.

— Mukuro... esse é seu nome?

— Tens minha palavra. — Concordou Mukuro. — E tu és? Indagaste o


nome de outrem antes de apresentar o teu, que moralidade deplorável.

— Ah desculpa, eu sou... — No meio da sua frase, sua visão foi obstruída.

— Waa!? O que foi que aconteceu?

— Te questiono, teria alguma doença te acometido?

— N-Não... está tudo bem.

— Acalme-se, apareceram algumas opções.

Seguindo a voz de Kotori, alguns textos apareceram.

Parece que as opções que apareceram na tela grande de comando também


apareceram na visão de Shidou. Que magnífico.

① "Meu nome é Shidou Itsuka. Vamos ser amigos."

② "Meu nome é Shidou Itsuka. Seja minha amante."

③ "Meu nome é Shidou Itsuka. Eu serei seu mestre de agora em diante.


Seja minha obediente escrava. Eu vou treina-la até você não ser mais capaz de
viver sem mim."

— Pessoal, escolham! — O som de botões sendo pressionados pôde ser


ouvido. As estatísticas foram mostradas em um gráfico de pizza. E a opção mais
votada foi:

— Entendi... a 3 hein?

— Afirmativo. Á primeira vista a 1 e a 2 parecem ser mais seguras, mas


nós temos que ser mais ofensivos aqui.

— Isso é verdade. Até agora nós não sabemos se o estado mental dela é
favorável ou não, então precisamos ver qual é o padrão de resposta dela.

— Faz sentido. Bem, de qualquer forma estamos usando um holograma,


ele não vai morrer. Nós precisamos explorar essa vantagem. ---Shidou, é a 3.

— Espera aí!!!!

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Como sempre, a decisão final continuou deixando Shidou bravo.

— O que foi, Shidou? De repente gritando desse jeito.

— O que foi seu rabo! Por que logo a 3?! A 1 não é boa o suficiente!?

— Pare de ficar exagerando. A verdade é que, já que você não vai morrer
mesmo, nós precisamos testar as reações dela com esse tipo de fala. Rápido, a
Mukuro está esperando.

Como Shidou estava negligenciando a Mukuro, ele hesitantemente


concordou com a escolha e finalmente decidiu abrir a boca.

— Meu nome é Shidou Itsuka. E-Eu serei... seu m-mestre! S-Seja minha e-
escrava. Eu vou treina-la até você não ser mais capaz de viver sem m-mim!!

— Hã... Itsuka Shidou, hein?

Mukuro repetiu enquanto colocava sua mão no queixo e tratava aquilo


como se não fosse nada demais.

— Ela nem se importou?!

Kotori gritou alto para seus subordinados. Embora Shidou esperasse uma
reação ruim, seu desanimo ia bem além de suas expectativas.

— Como está o estado emocional e o grau de felicidade do Espírito?!

— Sem mudanças!

— Os valores estão estáveis demais!

— Como isso é possível?! Será que ela não ouviu o que o Shidou disse?
Mas ela repetiu o nome dele...

Kotori retorquiu suas palavras em espanto.

— Uma curiosidade eu tenho. Queres algo comigo?

— Hã? A-ah...

Quando Shidou se preparava para responder, Mukuro apontou seu cajado


para a Terra.

— Projeção Tridimensional... Tua carne deve estar naquele corpo celestial


de onde tu apareceste. Farsa repugnante e viu! Tu ousas cuspir falsidades, devo
eu punir teu solo.

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— O qu...?!

Shidou mordeu seu lábio, temendo mais meteoritos como os que caíram
na quadra esportiva da escola mais cedo.

— O que tu dizes?

Mukuro perguntou. Pedindo para que ele respondesse, Kotori suspirou.

— Ela está falando sério. Shidou, fale com ela. Coisas complicadas podem
se tornar um problema.

— A-ah, tá bom.

— Eu quero... salvar os Espíritos como você.

Shidou então revelou tudo, seu objetivo, a existência da Ratatoskr e da


hostil corporação DEM, assim como seus poderes.

— ...Hmmm.

Mukuro contemplou sem qualquer expressão. Shidou olhou para o par de


olhos dourados que o olhavam entre seus cabelos esvoaçantes e prendeu sua
respiração.

— Verdadeiro és teu coração, gratidão. Esta que vós fala sofreu uma
tremenda mudança antes de se aventurar neste lugar.

— Ah, então você virá comigo até a superfície para selarmos seus poderes?

Shidou perguntou nervosamente.

— Penso eu que tua oferta é infundada.

Mukuro responder a ele sem um pingo de hesitação. Da forma que as


coisas estão, isso era esperado. Afinal, ouve vários casos parecidos antes. Shidou
franziu as sobrancelhas e continuou.

— Guuu... bem, não posso força-la a acreditar em mim. Mas o que digo é
verdade. Eu quero te salv...

— Disso não tenho dúvidas.

— ...Hã?

— Intensões justas possuem tuas palavras, disso não desconfio.

— Se esse é o caso, então por que...?

70
— Tua essência eu já obtive. Mas eu não aceitarei vossa bondade. Eu
simplesmente serei como sou.

— M-Mas dessa forma a DEM vai te atacar de novo!

— D,E,M...

Mukuro pronunciou desajeitamente como se estivesse tentando se


lembrar de algo.

— Os pedaços de ferro bruto que eu desmantelei? Eu irei obliterar todo


instrumento mortal não importando seus números.

— Não é somente isso; a DEM tem armas ainda mais fortes chamadas
wizards que são muito perigosas!

— Da mesma forma, não existe nada que possa triunfar perante meu anjo.
Se eu ficar entrincheirada em perigo, <Michael> irá abrir um portal para eu fugir.
Ou poderá essa D,E,M que tu falas me perseguir em velocidade que ultrapassa a
da luz?

— Isso...

Shidou estava perdido em palavras. Se Mukuro era realmente capaz disso,


então não importa quem tentasse a capturar, enfrentaria dificuldades absurdas.
Mas ele não podia deixar ela desse jeito. Do lado inimigo estavam Ellen,
Artemisia e o agora novo portador do <Beelzebub>, Westcott. Quem sabe do que
eles seriam capazes?

Porém, essa não era a única razão pela qual Shidou queria que ela viesse
para a superfície. Ele continuou a persuadi-la.

— Mas tem várias coisas divertidas na Terra, além de outros espíritos


como você. Você não se sente solitária estando nesse lugar totalmente sozinha?

— ...Solitária, hein? — Mukuro balançou sua cabeça. — Por mais


aterrorizada que eu me sinta com tua ansiedade, solidão é algo que não sinto.

— Mas como? Não seja teimosa. Estar junto de outras pessoas é...

— Não, todas as percepções, seja a alegria, melancolia, ira ou tristeza,


todas elas desapareceram de mim. A paixão também. Há muito tempo eu
trancafiei meu coração.

— ...Hã? T-Trancou?

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— Sim, é a habilidade de <Michael>. — Mukuro mostrou a Shidou seu
cajado.

<Michael>. 《Segva -Lock》é uma de suas habilidades, que sela o poder de


qualquer alvo. Shidou testemunhou isso em ação quando Mukuro selou as
unidades <Bandersnatch>, roubando seus poderes e os transformando em peças
de sucata.

— C-Como você chegou a esse ponto...? Não somente a tristeza e


sofrimento, mas também a alegria...!

— Perjúrio não decairá sobre mim. Perguntas por quê? São perdas
dispensáveis, não, são aspectos do infortúnio digo eu. Eu não sei mais o que eles
significam.

— M-Mas você pode falar comigo normalmente como está fazendo agora...

— Esta que vos fala não contém, apesar de um gentil alívio, nenhuma
aflição. No fundo, serenidade era o que eu buscava, assim eu parti para esse
intocado universo. Se enfurecer ou tentar conquistar afeição, tudo isso
perturbaria o status quo. Os aerólitos que eu derrubei foram somente
advertências para alertar os humanos que invadiram meu domínio. — Explicou
ela com um olhar imutável.

Ela parecia uma ermitã reclusa e introvertida, ou algum tipo de entidade


seca e fria. Shidou não pôde deixar de cerrar seu punho.

— Isso... isso é triste demais. Por favor, volte para a Terra. Eu quero que
seja feliz!

— ......

Mukuro permaneceu em silêncio.

Depois de poucos momentos, ela começou a mover sua boca.

— Perdão, Shidou, acho que tu não entendeste muito bem.

— ...Hã?

— O que eu julgo como felicidade... É injusto que tu decidas isso por mim.

72
73
— .....!

Shidou se sentiu sufocado pelas palavras dela.

— Tu podes ter salvado os Espíritos da condenação antes, nisso eu


acredito. Mas eu sou eu. O que te faz desejar me socorrer?

Shidou estava estupefato pelo o que ela disse. Mukuro continuou,


ignorando qualquer resposta que ele desse.

— Se ao menos eu fosse resgatada ou feliz, mas de fato não seria. Tua


infalibilidade marca tuas palavras. Acho eu que você carece de garantias.

— E-Esse, tipo, de coisa...

A voz de Shidou estremeceu, querendo negar o que Mukuro disse, mas


ele não tinha forças para refutar. Mukuro parecia ter percebido algo e olhou para
ele.

— Parou de tentar refuta-la?

Isso vinha de uma voz de trás dele.

— O que quer dizer com isso...?

Ao ouvir isso, Shidou se lembrou que a Ratatoskr estava o ajudando.


Enquanto ele refletia sobre esse problema, Mukuro voltou ao seu interrogatório.

— Essa chamada D,E,M tem como origem o mesmo lugar que tu, correto?
Se tu me selasses, poderias tu garantir minha proteção? Selar os poderes dos
Espíritos os protege de outra incursão maligna?

— ......! Is-Isso é...

Shidou não conseguiu dizer mais nada.

As batalhas contra a DEM esvoaçaram por sua mente. Aah, isso mesmo.
Shidou selou os poderes dos Espíritos. Ele sempre pensou que isso fosse pelo
bem dos Espíritos e os Espíritos também acreditavam nisso. Mas como resultado,
eles também enfrentaram várias crises. Ao ver o conflito interno de Shidou,
Mukuro suavemente declarou seu ponto de vista.

— Contudo, Shidou, tua hipocrisia é como um labirinto tentando me


prender. Desista de tentar voltar e saia daqui.

— ......!

74
Shidou se doeu com a rejeição, foi como se ele fosse acertado por uma
barra de ferro na cabeça. Se pelo menos isso fosse real, ele desejou. As palavras
dolorosas de Mukuro se espalharam pelo seu corpo como se tivessem pegando
fogo.

— ...Shidou, não fique tão chateado. O que você tem feito por nós com
certeza não foi um engano.

Kotori, que respondeu a ele, foi o primeiro Espírito selado por ele. Shidou
não poderia conviver consigo mesmo, mesmo tendo entendido as palavras de
Kotori. Mas...

— Isso encerra nosso diálogo. Para onde eu parti, tranquilidade e


preservação são tudo o que me aguarda. Nenhuma alma pode me incomodar...
Eu me despeço de ti.

Mukuro disse isso monotonamente enquanto erguia seu cajado e o


apontava para a Terra.

— Se vós aproximardes de mim mais uma vez, eu terei que comandar


<Michael> parar o movimento da terra.

— O-O que...?!

— Seus poderes são capazes até mesmo disso...?!

O questionamento de Kotori reverberou pelos ouvidos de Shidou.

— Com isso, essa D,E,M se extinguirá. Isso significará nossa eterna


despedida, Shidou. Doravante, adeus.

Mukuro ergueu seu cajado e atingiu a parte frontal da câmera que


projetava Shidou.

— 《Segva -Lock》

Quando Mukuro girou a chave, naquele instante...

Com um ruído estático acompanhando, o campo de visão de Shidou foi


totalmente obstruído.

75
Capítulo 3 - Novas Asas
— O que aconteceu com a imagem?!

Kotori disse reverberada através da sala de comando, mas sem resposta,


com a imagem embaçada de Mukuro em ambas as telas e nos óculos de Shidou
desaparecendo em ondas eletromagnéticas diversas.

— Erro! A câmera de vídeo automática não está respondendo!

— Kuk... será que <Michael> selou ela?

Kotori recobrou em detalhes os momentos antes do som e da imagem


serem cortados. Mukuro tinha mostrado a língua para Kotori naquela hora. Ao
ouvir as palavras dela, Shidou removeu o ponto do ouvido.

— Eu... Eu queria...

Shidou fracamente apertou a sua agora dolorida garganta enquanto


apertava fortemente seu punho. Mas era tarde demais. Mukuro já havia ido.

A missão de salvar os Espíritos se iniciou através de um pedido da


Ratatoskr; mesmo assim, havia um sentimento de esperança que os Espíritos
pudessem viver uma vida normal. Mas teriam eles perdido seu futuro por causa
da intromissão de Shidou? Seu coração se sentia incomodado. Seu arsenal
desabou com um estrondo.

— Isso dói...

Shidou lamentou com uma expressão de dor. Ele se voltou para sua irmã,
um olhar de resignação estava pintado em seu rosto.

— E agora... Kotori...?

— Por que está desistindo, foi porque não conseguiu convence-la?

Kotori zombou complacentemente. Ela se sentou de novo em seu assento


de comandante e gesticulou para Shidou se aproximar.

— É claro, as palavras dela não eram sem sentido. Mas, por mais sentido
que elas façam, fazer o que ela diz não traria nenhum bem.

Verdade, Espíritos são existências que precisam ser salvas. Eles


representam desastres naturais em si; não há motivo algum para mantê-los na
Terra. Mas Shidou se recusava a aceitar tal fato injusto.

76
— Mas se eu só ficar parado e não fizer nada, não seria pior do que tentar
falar com ela?

Kotori se irritou e o respondeu.

— Se somente isso fosse verdade; a Mukuro também não citou a DEM?


Humanos são virtualmente todos a mesma coisa para ela. Se nós não cuidarmos
dela, a DEM vai.

— Guuu...

Shidou murmurou com angústia.

Se ele e os outros fossem parar de entrar em contato com os Espíritos por


causa do perigo, isso seria nada mais que uma piada de mau gosto. Não havia
diferença entre isso e planejar um ataque físico. Percebendo suas intenções,
Kotori apontou seu pirulito para ele.

— Agora que a DEM está ciente da presença da Mukuro, eles vão sem
dúvidas despachar assassinos para matá-la. Se eles conseguirem, seu cristal
sephira irá cair nas mãos de Westcott. Se eles falharem, ela vai suspender o
movimento da Terra. Embora nós não saibamos qual prevalecerá, ambos destinos
significarão o fim da humanidade.

— Quando você coloca dessa forma...

— A única forma de impedir isso é interagir com a Mukuro antes dela


sofrer outro ataque: é tudo ou nada.

As palavras de Kotori colocaram algum senso na mente de seu irmão.

— Aah, então é isso... Desculpa, eu não estava pensando claramente.

— Bom. Eu posso entender como se sente.

Shidou podia sentir isso também. Sob as atuais circunstâncias, a DEM não
poderia simplesmente ignorar a Mukuro. Mas isso somente não contradizia o que
ela disse.

Se pelo menos a DEM não existisse.

Se somente nós pudéssemos nos encontrar com a Mukuro.

Kotori chegou à uma conclusão. Como se ela percebesse a opinião de


Shidou, Kotori continuou enquanto olhava para longe.

77
— ...Mantenha isso em mente: Os Espíritos que você salvou com suas
próprias mãos, pelo menos eles podem estar aqui, vivendo uma vida feliz.

— Ah, obrigado, Kotori.

Shidou suprimiu seu desejo de abraçar sua irmã naquele momento. Agora
não era a hora de parar seu progresso. Cada simples movimento que eles
fizessem daqui em diante poderia causar graves danos ao mundo todo.

— Sim. Nós podemos fazer isso.

— Un. Você está certo.

Naquele momento, Reine emitiu uma voz deprimida.

— ...Essa determinação pode não durar muito tempo.

— Reine, qual é o problema? — Respondeu Kotori enquanto mudava sua


linha de visão para ela.

— Dê uma olhada nisso.

Reine indicou uma tabela estática no monitor. O que ela mostrava era os
níveis de felicidade e estado mental de Mukuro. Shidou não pôde deixar de notar
em um instante o problema. O motivo era bem simples.

Os valores numéricos mostrados na planilha indicavam absolutamente


nenhuma variação. Havia somente linhas paralelas à abscissa e perpendiculares
às ordenadas.

— Durante a conversa de Shin com a Mukuro, o monitor estava conectado


continuamente. Seja os níveis de afeição, felicidade ou qualquer outro parâmetro
permaneceram inalterados. Parece que ela não estava mentindo quando disse
que selou seu coração.

— O-O quê...?

Kotori arregalou os olhos surpresa.

Isso era esperado. Para selar o poder dos Espíritos, era necessário o pré-
requisito de Shidou beijar o dito Espírito. Porém, se o Espírito não puder abrir as
portas de seu coração, era impossível para Shidou selá-lo.

Embora Mukuro tenha falado com Shidou, suas impressões sobre Shidou
continuaram invariáveis. Até agora, ele foi detestado e odiado por alguns

78
Espíritos, mas é a primeira vez que é tratado com indiferença por um Espírito.
Será muito complicado selar esse Espírito se isso continuar.

— Mukuro possui o anjo <Michael> que tem a forma de uma chave. Você
testemunhou uma de suas habilidades agora há pouco: trancar as vontades de
seu alvo. Se ela usou isso em seu próprio coração, qualquer influência externa
seria incapaz de afetar ela.

— Que situação... o que deveríamos...

Quando Shidou começou a pronunciar algo depressivo, sussurros


puderam ser ouvidos do lado de fora da porta da sala de comando.

— ...? Que som é esse?

Kotori fez esse questionamento enquanto se aproximava da porta.

Kotori abriu a porta no instante seguinte. Com um baque alto, os Espíritos


que estavam supostamente esperando na outra sala surgiram todos juntos.

— Ugaaah!

— Kyaaa!

— Constrição. Tão pesada. Kaguya, você precisa perder peso.

— Por que eu deveria!? Não foi somente eu!

Cada uma delas estavam emaranhadas em uma bagunça caótica de


corpos, se levantando lentamente. Shidou, olhando para essa situação, não pôde
deixar de falar.

— P-pessoal...! O que estão fazendo aqui?

— Muuu... desculpa. Nós não queríamos bisbilhotar...

Tohka se desculpou desanimadamente.

— Não é culpa da Tohka-san! O querido faz a gente ficar preocupada desse


jeito!

Miku fez sua acusação enquanto segurava nos ombros de Tohka. Os


outros espíritos concordaram com ela.

— Vocês...

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Kotori deu um suspiro e colocou a mão no rosto. Origami, que estava
olhando diretamente para ela, moveu seus lábios.

— Mesmo que tenhamos chegado no meio do caminho, nós ainda


pudemos ouvir. Deve ter algo que possamos fazer.

Kotori cobriu sua boca com uma interjeição de *Oh*. Se possível, ela
gostaria que os Espíritos ficassem o mais longe do perigo o possível. Como elas
perceberam o que Kotori tinha em mente, os Espíritos vociferaram suas opiniões
em rápida sucessão.

— Mas a terra não será destruída se as coisas continuarem assim? Eu ainda


quero ler meu mangá favorito!

— Se a Mukuro-san visse a beleza desse mundo, ela não iria mais querer
destruí-lo! Por favor, deixe-nos ajudar!

— Pessoal...

Kotori estava oprimida pelo ímpeto delas e se voltou para Reine para pedir
um conselho.

— ......

Quando Reine fez uma expressão de "siga o fluxo", Kotori cedeu e exalou.

— ...Haah, entendo. Muito bem, podem ficar.

Tendo recebido a permissão de Kotori, os rostos dos Espíritos se encheram


de determinação.

— Mas dessa vez, nós não podemos vencer somente com poder espiritual.
Se nós não aumentarmos seus níveis de afeição, não conseguiremos selá-la. Além
disso, o coração dela está firmemente trancado.

Kotori enfatizou isso em um tom sincero.

— Inquérito. Tem alguma forma de destrancar o coração da Mukuro?

Quando Yuzuru questionou isso à Reine, todos voltaram suas atenções à


ela.

— ...embora não tenhamos certeza se vai funcionar ou não, existe um


método.

— Qual é?!!

80
Tohka não podia acreditar no que ela ouviu, os outros Espíritos também
estavam na mesma situação. Reine emanava uma aura fria e calma.

— Se o anjo dela pode trancar seu coração, então ele também pode
destrancar. Mukuro tem que usar o <Michael> mais uma vez.

— Isso...

Shidou lamentou do fundo de sua garganta. O que Reine disse era


verdade. Anjos possuem formas e aparências miraculosas. Para desfazer um
efeito causado por um anjo, seu poder deve ser usado de novo. O problema era
esse, como seu nome já diz, <Lorde Removedor de selos> pertence à Mukuro.
Devido a ela ter selado seu coração, os sentimentos de Shidou e suas intenções
eram incapazes de alcançá-la. Era como se ele tivesse tentando abrir um baú do
tesouro com a chave dentro dele.

Kaguya complacentemente inchou seu peito.

— Huhu, anjos nós temos. Eu devo forçá-la a abrir seu coração.

— Dúvida. A Mukuro está no espaço, como chegará lá?

Yuzuru, sua contraparte, deu réplica.

— Uhh... bem...

— Certo.

Enquanto Kaguya tentava pensar numa resposta, Shidou ponderou sobre


o mesmo assunto. Como Yuzuru disse, a localização dela também era um
problema.

Shidou tinha utilizado uma projeção tridimensional para conversar com


Mukuro, alegremente pensando que funcionaria. Ele nem sequer tinha meios de
dar o primeiro passo.

Porém...

— Espaço... espaço, hein......

Kotori raciocinou enquanto brincava com seu pirulito até algo vir a sua
mente.

— Será a hora perfeita. Talvez haja um jeito.

— Quê?

81
Ao ouvir suas palavras cheias de autoconfiança, Shidou ficou
desconcertado.

♢♢♢♢

— ...Aniquilação total?!

A sala de comunicações da filial japonesa das Indústrias DEM recebeu um


relatório do satélite que guiava as espaçonaves. Ellen tinha uma voz chocada e
aterrorizada. Dentro do negro e sombrio espaço, estavam brilhando alguns
poucos díodos emissores de luz das telas que vagamente iluminavam a sala.
Ellen se moveu até um canto escuro, olhando fixamente o monitor que
fracamente ressoava até aquele momento.

— ...Uma armada de três naves espaciais de guerra e noventa unidades


<Bandersnatch> e nem um simples arranhão no Espírito... além de toda retaliação
que sofremos na superfície.

A voz tremula vinha de um dos subordinados dela através do dispositivo


de comunicação.

— ... maravilhoso.

A voz de comando de Westcott reverberou do fundo da sala.

— Eu nunca esperaria que as tropas de vanguarda a derrotassem... mas


que poder magnífico... Excelente!

Enquanto ele continuava ruminando, Ellen lançou um olhar para ele de


soslaio, imersa em pensamento profundo.

Embora o satélite rastreador, Dectas*NUMBER, não tivesse participado da


batalha, suas tarefas não eram capturar os Espíritos, mas investigar a figura que
dormia em meio aos cosmos. Dessa forma, eles poderiam forçar ela a descer para
a Terra.

Porém, essa operação acabou em fracasso, um fracasso total. Não somente


isso, mas os destroços foram lançados como meteoritos pelo mundo todo. Ellen

82
exalou o ar em descontentamento. Se era para alguém ter ido, deveria ter sido a
Ellen, para começar.

— Esse Espírito ainda está nas coordenadas de antes?

— A-Afirmativo. O Espírito continua sob vigilância, mas... temo que ele


esteja preparando outro contra-ataque.

— Hmm...

Ellen gemeu silenciosamente. Ela ergueu sua cabeça e olhou para


Westcott.

— ...Ellen.

Percebendo suas intenções, Westcott acenou seriamente com a cabeça.

— Ah, vai ser problemático se buracos continuarem sendo feitos nas


instalações da DEM. Eu vou deixar isso com você e a Artemísia. Eu estou ansioso
pelos seus resultados.

— Sim, definitivamente.

Ellen respondeu brevemente antes de saudá-lo e deixar a sala de


comunicações.

... Depois disso Ellen exalou o ár.

— Sobre isso, Diretor Geral Westcott... — Uma das wizards o chamou com
a máxima cautela.

— Está realmente tudo bem deixar a chefe executiva Mathers ir para o


espaço...?

— Sim. Está dizendo que minhas decisões foram um engano?

Westcott olhou intensamente para a pobre wizard como um predador olha


para sua presa. A expressão facial da coitada instantaneamente empalideceu, e
ela rapidamente balançou sua cabeça em subordinação.

— N-n-não! Não foi isso o que eu quis dizer! Será que a chefe executiva
Mathers vai continuar lutando quando ela descobrir sobre aquela coisa...

A wizard murmurou com uma voz fraca enquanto Westcott encolhia seus
ombros.

83
— Ah~, é mesmo. Realmente algo assim deve acontecer. — Westcott
revelou sua mão direita e um livro negro levitando se materializou, <Beelzebub>.
Quando ele mudou sua visão para o manuscrito, novas linhas começaram a
tomar forma: eram informações sobre o novo Espírito e como capturá-la.

— Eu espero muitas coisas de você, Ellen. Mas por um bom tempo, você
não tem evitado de se banhar de sangue dos pés a cabeça.

Westcott finalizou indiferentemente com uma gargalhada.

♢♢♢♢

Um barulho abafado de propulsores rotativos e uma vibração contínua


passava pelo corpo e ouvidos de Shidou. Sua localização atual não era a sala de
comando das instalações subterrâneas temporárias sob a cidade Tengu, mas sim
um enorme helicóptero transportador. É claro, ele não estava sem companhia. Na
frente dele estava uma longa fileira de Espíritos e membros da equipe da
Ratatoskr.

— Naa, Kotori, onde estamos indo?

Shidou perguntou a pessoa em questão, a comandante deles. Durante


várias horas de viagem, Shidou e os outros Espíritos não puderam obter
nenhuma informação e sentaram estupefatos. Para falar a verdade, ser levado
para qualquer lugar sempre o deixou com um sentimento de ansiedade. Os
Espíritos, como Tohka e Kaguya, que estavam andando em um helicóptero tão
grande como esse pela primeira vez, estavam apreciando o passeio.

Embora Kotori soubesse da preocupação de Shidou, ela simplesmente


permaneceu sem contar nada.

— Desculpa, mas eu não posso revelar nenhum detalhe. Embora eu não


duvide de você, o lugar que estamos indo agora é conhecido como o centro
tecnológico da Ratatoskr.

— Nós vamos encontrar uma forma de chegar até a Mukuro lá?

— Sim. EU acho que chegaremos em breve...— Uma mensagem foi então


transmitida dentro da aeronave.

84
— Comandante, estamos chegando ao nosso destino. Por favor, prepare-
se para pousar.

— Ara, parece que tem um temporizador no meu corpo.

Ela então deu instruções à sua equipe.

Depois de alguns momentos, o tremor do helicóptero parou e sua parte


traseira abriu, acompanhado de um tom eletrônico.

— Bom trabalho. Por aqui, por favor.

A pessoa que disse isso a eles pareceu ser um dos funcionários. Shidou e
os outros piscaram os olhos confusos e seguiram Kotori, que já tinha saído da
aeronave.

— Esse lugar...

Shidou deu uma rápida olhada ao seu redor e franziu sua sobrancelha. O
espaço em volta do helicóptero excedeu suas expectativas.

Naturalmente, Shidou não podia saber precisamente o que era, uma sala
que ele nunca viu antes, mas ele pensou que fosse algum tipo de hangar. Na
frente dele estava um muro gigantesco que se elevava sobre tudo naquele lugar.
Shidou não podia sequer ter noção de onde ficava o teto quando ele olhou para
cima. Havia um grande número de mecânicos trabalhando em vários tipos de
aplicações e desenvolvimentos, cada um ocupado com seu respectivo trabalho.

— Um armazém...?

— Bem, é tipo isso. Sigam-me.

Kotori deu essa instrução com um bater de suas botas. Logo depois, a
equipe da Ratatoskr a seguiu. Por algum motivo, Shidou se lembrou da cena de
um drama de TV de uma sala de consultório de um hospital.

— Shidou, nós temos que ir também.

— Ah, sim.

Ouvindo o lembrete de Tohka, Shidou os seguiu. Os outros Espíritos


olharam para a esquerda e para a direita, e chegaram ao que parecia ser a entrada
do armazém.

— Aqui está.

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Kotori disse isso enquanto olhava para os outros e colocou a mão no
dispositivo ao lado da porta.

Depois de um curto bipe soar, uma grande porta começou a se abrir. O


interior brilhou em seus olhos radiantemente.

— ...Isso é...! Os Espíritos atrás de Shidou também estavam atordoados


com a luz.

— Uoohh...!

— Kaka, entendi. Isso deve funcionar.

— Uwaa~... O que são todas essas coisas? Imouto-chan, posso tirar uma
foto para usar de material? Só uma!

— Claro que não. Isso é supersecreto. — Kotori respondeu sem entusiasmo


para Nia. Embora suas palavras fossem incompreensíveis, Shidou também
pensou da mesma forma quando ele viu aquilo pela primeira vez. Ele aspirou o
ar profundamente e olhou para o objeto diante dele.

A porta se ampliou em um armazém como ele tinha antecipado, mas o que


tinha dentro dele não era outro helicóptero. Era uma gigante nave espacial.
Embora possa não ser uma, para Shidou era uma nave espacial.

O corpo pontudo da embarcação estava pintado de branco, e tinha canhões


montados em seu centro. Grandes saliências sobressaiam da parte de trás como
ramos de uma árvore, e as poucas folhas metálicas difundiam uma tonalidade
brilhante. A nave espacial em si tinha um design incomum em seu exterior.

Mas isso era normal. Afinal, aquilo não iria velejar no alto mar, em vez
disso iria voar pelos céus.

— Fraxinus...!

Shidou chamou seu nome com seu corpo tremulo.

A orgulhosa nave espacial da Ratatoskr, Fraxinus. A nave, que sofreu


vários danos críticos durante a luta contra a Origami reversa; e que estava
recebendo manutenção, estava agora intacta diante deles.

Shidou afastou esse pensamento. A nave diante dele era de fato a Fraxinus,
mas ele sentia que tinha uma discrepância muito grande com sua aparência
original.

86
— Ela parece... diferente?

Shidou monologou enquanto Kotori orgulhosamente soltou um *humph*.

— Vejo que notou. Correto, esse é um modelo novo atualizado com a mais
avançada unidade Realizer, e melhorias de performance de ponta. Seu nome é
Fraxinus EX!

Enquanto Kotori anunciava isso em voz alta, seu vice comandante,


Kannazuki Kyouhei, esticou suas duas mão e pernas e adotou um gesto de "joia".
Os outros membros da equipe simetricamente ficaram de pé a sua esquerda e
direita. O último membro, Reine, pegou um pedaço multicolorido de papel de
seu bolso, com uma expressão vazia.

— E-Ex?

— Sim. Embora os danos da Fraxinus tenham sido causados na batalha


contra a Origami, muitos deles também foram causadas pelo Goetia da Ellen
Mathers no mundo anterior, então simplesmente repará-lo não seria o bastante.
Isso levaria uma boa quantidade de tempo também.

Kotori disse isso em um tom autodepreciativo.

Shidou recordou do tempo quando ele voltou no passado e alterou a


história com a ajuda dos poderes da Tokisaki Kurumi. Naquele mundo anterior,
a Fraxinus foi totalmente derrotada pela nave de guerra da DEM.

— Então foi por isso. Nós podemos alcançar a Mukuro com ela.

— Isso mesmo. Nós vamos decolar até lá.

Kotori sumarizou enquanto atirava um avião de papel imaginário.

— Ainda vai levar um tempo antes de partirmos, pois a nave ainda precisa
de ajustes finais, mas já podemos embarcar. Siga-me, tem alguém que quer ver
você. — Kotori acenou para seu irmão para segui-la usando seus dedos. Shidou
não pôde deixar de se sentir um pouco estranho.

— Alguém que quer me ver?

— Sim. Bem, vocês já se encontraram antes em outras circunstâncias


muitas vezes, mas essa deve ser a primeira vez que vê ela.

— O que isso significa?

— Você vai saber em breve. Anda logo.

87
Kotori ordenou enquanto se aproximava da Fraxinus.

— Uuuu... quem quer encontrar o Shidou?

— Não sei...

Shidou fazia uma expressão perplexa, enquanto isso, os outros Espíritos e


a equipe da nave seguiram Kotori.

Depois de se assegurar que todos estavam embaixo da nave, Kotori


ergueu sua cabeça e falou.

— Muito bem. Por favor, prossiga.

Assim que a voz de Kotori alcançou Shidou e os outros, uma radiação


ondulada envolveu seus corpos e uma inacreditável sensação de levitação os
ergueu. No próximo instante, a vista de todos mudou do armazém para o interior
da nave.

— Uoohh...

O teletransportador da Fraxinus utilizou sua própria unidade Realizer


para realizar essa função. Embora Shidou já tenha experimentado isso várias
vezes, ele ainda não podia deixar de se sentir assustado já que ele não passava
por isso há muito tempo. Ele exalou o ar de seus pulmões profundamente para
recuperar a palpitação e observou os arredores. A ponte de comando foi dividida
em suas sessões, com o assento do comandante bem no meio delas. O restante
consistia nas estações da equipe e nos seus respectivos consoles de automação
junto com seus monitores. Comparado a antiga Fraxinus, tem um pouco mais de
espaço disponível e a quantidade de monitores aumentou também. Mas tem uma
diferença a mais que chamou sua atenção.

— Então nós podemos teletransportar diretamente para a ponte de


comando agora, hein...

Shidou notou enquanto olhava para seu pé. Ele e os outros estavam na
entrada da ponte de comando, e uma plataforma que parecia ser um terminal de
transporte estava abaixo deles. Shidou relembrou que anteriormente ela ficava
localizada na parte mais baixa da nave e ele precisava atravessar uma distância
considerável para chegar na ponte de comando.

— Sim. Agora que tem vários terminais instalados por toda a nave, os
destinos podem ser livremente escolhidos. Então agora você pode se
teletransportar para cá diretamente da área residencial em instantes.

88
— Entendi. Então quem foi que você disse que queria me ver?

Shidou questionou enquanto procurava pelo interior. Embora ele achasse


que o operador do teletransporte estaria na sala, não havia nenhuma pessoa ali.
Kotori ridicularizou maldosamente.

— Olá. Há quanto tempo não te vejo, Fraxinus.

Kotori falou alto como se tivesse conversando com ela mesma ou com um
funcionário.

Então...

『Sim, já faz muito tempo, Kotori. 』


Uma voz de garota veio abruptamente das caixas de som do monitor, e foi
acompanhada de um brilho fraco.

— Waa?!

Shidou recuou um passo devido a surpresa e um olhar espantoso se


formou nos rostos dos espíritos.

— O-O que está acontecendo?!

— Isso está...me assustando.

『 Sua reação foi mal educada, Shidou. Haveria uma penalidade caso
falasse com um Espírito desse jeito. 』
Shidou estava estupefato por levar bronca de uma nave espacial dessa
forma e olhou à sua volta confuso.

— I-Isso é...

— Porque está agindo dessa forma, Shidou? Ela sempre esteve cuidando
de você. Ela é a Inteligência Artificial da Fraxinus. Depois da recente atualização,
a IA pode agora trocar diálogos com você.

Kotori explicou enquanto o som do alto falante continuava a sair.

『 Bom dia. Há quanto tempo... pode parecer repetitivo, mas sempre


estive de olho em você. Meu nome é Maria. Por favor, cuide de mim de agora em
diante, Shidou. 』
— Aah~, por favor cuide de mim também, Maria.

89
Simultaneamente, os Espíritos atrás de Shidou se aglomeraram, se
apertando na frente do monitor. É claro, podia não ter o rosto da Maria no
monitor, mas ele tinha as letras "MARIA" mostradas nele. E ela falava bem
vividamente.

— Ooh! Que bem feito, como fizeram isso?

— Eeh, então existia algo assim!

— Essa voz vai ler as opções? Ela é real?

Todos os Espíritos envolveram a pequena Maria e fizeram todo tipo de


comentário. Olhando para eles, Kotori estava completamente perdida com a
situação e simplesmente bateu as palmas de suas mãos.

— Acalmem-se, não façam a Maria se sentir desconfortável. Ela ainda tem


trabalho a fazer.

Kotori esperou até todos se acalmarem antes de perguntar à Maria.

— Quanto tempo até podermos partir?

『A manutenção completa levará aproximadamente mais 90 minutos 』


— Não temos tempo. Faça isso dentro de uma hora.

— Impiedosa como sempre... Eu tenho pena do seu futuro marido.

— Mesmo que a nave seja nova, suas piadas são desapontadoras como
sempre. Volte com as manutenções assim que essa batalha terminar.

Kotori deu o comando enquanto estreitava os olhos. Reciprocamente,


Maria começou a conversar com os membros da equipe como se ela não
entendesse a sintaxe do comando dela.

『 Embora as configurações de dados dos consoles de automação e


monitores sejam padrões, todos por favor confirmem as preparações para todas
as contingências. A execução da atual tarefa deve ser sincronizada aqui. 』
A equipe da nave concordou um atrás do outro e Maria renovou sua
explicação.

『 Além disso, por favor mantenham a mínima quantidade de artigos


pessoais o possível. Mesmo que as interferências não sejam desejadas por
poderem ser categorizadas como invasão do espaço individual, na minha opinião

90
o <Batente de Unhas> e o <Quebrador de Dimensões> carregam coisas
desnecessárias na ponte de comando. 』
Ao ouvir as palavras de Maria, <Batente de Unhas> Shiizaki e <Quebrador
de Dimensões> Nakatsugawa mostraram uma expressão estupefata.

— C-Como...

— Mas não era permitido antes!?

『Anteriormente eu não tinha meios para falar. Se você sentir que esses
itens são absolutamente necessários, por favor descreva seus motivos usando não
mais que 1200 palavras, 』
— É-É para amaldiçoar os inimigos quando eles aparecerem!

— Eu sou incapaz de trabalhar com 100% de eficiência quando não estou


com minhas waifus.

『Negado. 』

『Negado. 』
Maria friamente rejeitou seus pedidos. Shiizaki e Nakatsugawa disseram
"Nãããããão!" ao mesmo tempo.

Os outros membros da equipe observaram seus dois colegas


envergonhados. <Chefe> Mikimoto, <Casamento Ruim> Kawagoe e <Amor
profundo> Minowa riram avidamente.

— Não posso fazer nada quanto a isso. Esses itens são de fato
desnecessários para o trabalho.

— Aah, nós pensamos o mesmo muito tempo atrás.

— Interesses públicos e privados devem ser claramente diferenciados.

『Além disso, chamadas de telefone privadas para esposas ou filhas não


serão mais permitidas daqui em diante. Por favor, perdoem qualquer
inconveniência causada. Isso inclui mandar câmeras automáticas atrás de
namorados ou namoradas. 』

91
"Quê!?" — Disseram os outros membros da equipe estupefatos com as
regulações de Maria. Vendo suas respostas, as veias de Kotori saltaram em sua
testa.

— Vocês... como ousam usar o equipamento da Fraxinus para esse tipo de


coisa?!

— A... não... isso...

— Você está enganada! Nós normalmente lidamos com nossas tarefas


seriamente...

A equipe tentou se explicar com palavras incoerentes. Kotori suspirou


enquanto os via em tal estado repulsivo.

— O ponto é... não temos muito tempo. Vamos nos concentrar em concluir
a manutenção junto com a Maria.

Recebendo as ordens de Kotori, a equipe da nave bateu continência e


disseram "Entendido!" em uníssono.

— Agora, nós devemos...

『Com isso dito, tem uma pessoa que gostaria de falar com a Kotori na
base. O que acha? 』

— Falar comigo? Quem?

『Sobre isso, é o Elliot Woodman-sama. 』


Maria respondeu a aturdida Kotori.

♢♢♢♢

Shidou, depois de sair da Fraxinus, retornou ao corredor.

A equipe da nave espacial estava na ponte de comando ocupada com os


ajustes finais da Fraxinus. E agora ali estavam somente Shidou e os Espíritos, com
Kotori como líder.

— ...Shidou, Shidou.

92
Tohka estava o chamando por trás dele.

— Un, o que foi, Tohka? — Shidou se virou para olhar seu rosto.

— Quem é esse tal de Woodman? Kotori parece respeitar muito ele.

Shidou direcionou seu olhar para Kotori. De fato, depois de Maria ter
mencionado esse nome, Kotori imediatamente afobou, vestindo seu sobretudo
que estava pendurado em seus ombros apropriadamente e o abotoando. A
cabeça de Kotori não se virou, mas ela explicou enquanto andava.

— Woodman-sama é o presidente da mesa de diretores da Ratatoskr. Ele


essencialmente é o líder dessa organização e seu fundador. Sem ele, a Ratatoskr
não existiria.

— ......!

Shidou contorceu as sobrancelhas quando ouviu isso.

Shidou relembrou um verso que a Mukuro tinha dito antes: "Em primeiro
lugar, o que pensas tu, ou melhor, teus aristocratas sobre isso?". Ele não tinha
dúvidas da integridade da Ratatoskr, mas ele se sentiu ofendido, mesmo que
tenha decidido trabalhar junto com eles. Talvez seja porque ele não conseguiu
refutar as palavras de Mukuro naquela hora.

Então, Shidou percebeu que Nia, que estava andando ao seu lado, tinha
uma expressão complicada em seu rosto.

— Nia? O que foi? Você parece medonha.

— ......!

Nia saltou devido a pergunta repentina de Shidou.

— Hm? Ahaha, não foi nada. Quanto a você, Garoto, quando foi que
evoluiu ao ponto de detectar uma breve mudança em mim?

— Ei...

Shidou deu um sorriso torto em resposta. O rosto de Nia repentinamente


ficou mais sério e ela sussurrou.

— Parece que eu já ouvi o nome Woodman antes.

— Hã?

93
Assim que Shidou tentou questioná-la sobre isso, Kotori parou bem diante
de uma porta. Depois de pressionar o intercomunicador ao lado da porta e
informar sua presença, Kotori virou a maçaneta.

— Tudo bem. Entre.

— C-Com licença.

Shidou e os outros desordenadamente entraram na sala, sendo apressados


por Kotori. O design geral da sala se parecia com um escritório privado que
continha inúmeros livros e estantes amontoados um do lado do outro. A
atmosfera da câmara quando comparada com a instalação de maquinários onde
estavam antes era tão diferente quanto preto é diferente do branco.

Na parte mais interna da sala, a silhueta de duas pessoas podia ser vista
por trás de uma grande mesa de negócios. Um deles era um homem que parecia
ter mais de cinquenta anos de idade, sentado em uma cadeira de rodas. Ele usava
óculos de armação fina de cor verde e tinha seu cabelo bastante comprido
amarrado. Ao seu lado estava uma mulher que também usava óculos e vestia
roupas estilo ocidental, enquanto mantinha uma postura altiva.

— Hã?

— Muu?

Shidou e Tohka não puderam evitar de franzir suas sobrancelhas quando


viram o casal: Eles já haviam se encontrado antes. Foi na época que Natsumi
apareceu; um homem estrangeiro de cadeira de rodas tinha trocado algumas
palavras com Shidou e Tohka quando eles estavam dando uma volta.

— Sr. Baldwin?

Quando Shidou pronunciou o nome, o homem fez uma expressão


perniciosa adequada a sua idade.

— Olá, há quanto tempo. A garota bem ali também, bom ver que estão
saudáveis. Permitam-me me apresentar novamente. Meu nome é Elliot Baldwin
Woodman.

O homem disse à Shidou e Tohka, que estavam boquiabertos.

— .....! Woodman-sama, você já os encontrou antes?

Quando Kotori perguntou isso surpresa, Woodman simplesmente piscou


um olho.

94
— Durante minha visita à cidade Tengu.

— E se alguma coisa tivesse acontecido com você?!

— Haha, me perdoe. Eu vou ser mais cuidadoso daqui para frente.

Woodman respondeu sem um pingo de remorso. Kotori suspirou, e


colocou sua mão na testa. Embora já tenha ouvido falar dele através de Kotori,
Shidou não esperava que ele seria tão franco. Como se tivesse pensando nisso, a
expressão de Woodman se tornou solene e ele encarou Shidou seriamente.

— Bem então, me perdoe por convocá-los aqui. Nós que deveríamos ter os
visitado.

— Não precisa ser tão formal, por favor. — Shidou disse enquanto
Woodman fechava seus olhos.

— Primeiro de tudo, eu estou muito grato e gostaria de agradecê-lo pelo


seu esforço em salvar os Espíritos.

— Eh... ah.. De nada.

Shidou equivocou enquanto coçava sua bochecha. Ele se sentia um pouco


embaraçado por ter sido agradecido tão especialmente.

— Sobre isso, nos sentimos da mesma forma. Sem a Ratatoskr, eu não teria
nem conhecimento da existência dos Espíritos e todos ainda estariam sofrendo
com os ataques da DEM e da AST. Só de pensar nisso eu já me sinto infeliz.

Shidou adicionou antes de perguntar.

— Ter conseguido ajudar a Kotori quando ela foi transformada em


Espírito pelo <Phantom> cinco anos atrás, eu aprecio isso.

Shidou sinceramente se curvou com respeito.

Woodman acenou em reconhecimento e fixou seus olhos em Shidou.

— Nesse caso, eu também gostaria de me desculpar por te envolver na


questão sobre o <Dáinsleif> na última vez. Eu vou estritamente dar ordens para
que tal problema não ocorra novamente.

— Ah...

<Dáinsleif>. Ao ouvir esse termo as sobrancelhas de Kotori se contorceram


por um momento.

95
Embora o próprio Shidou não tenha lembranças daquele incidente, aquele
termo de fato era usado como codinome para o armamento para propósitos
especiais que seria utilizado para destruir ele, uma precaução tomada pela
Ratatoskr. De acordo com a explicação de Kotori quando comoção acabou, a arma
foi ativada por um dos membros da mesa de diretores.

— Não, mesmo que eu me sinta conflitante de alguma forma, eu acho que


tal precaução é indispensável para uma ocasião em que eu perca o controle. E
mesmo se você tivesse me informado de antemão, eu ainda escolheria salvar os
Espíritos.

— Shidou...

A voz da Tohka estava feliz, mas ela também estava preocupada com
Shidou. Ele sorriu e acariciou suavemente seu cabelo. Shidou conseguiu salvar
Tohka e os Outros Espíritos. A impressão que ele podia sentir na palma de sua
mão permitia que Shidou acreditasse firmemente que ele estava fazendo a coisa
certa.

Porém.

— .... — O coração de Shidou ainda não se sentia convencido em algum


lugar; eram as palavras de Mukuro. Ele ponderou sobre isso sem perceber que
abriu sua boca subconscientemente.

— Umm... Posso fazer uma pergunta?

— Que pergunta?

— Eu estou grato por isso, mas por que a Ratatoskr quer salvar os
Espíritos?

— ...Oh?

Woodman levemente inclinou sua cabeça com a pergunta de Shidou.

— Você está insatisfeito ou confuso com alguma coisa?

— Não! Eu só estava me perguntando sobre isso, sabe...

Como se ele tivesse tido sua mente lida, Shidou balançou suas mãos
desordenadamente. Origami então retomou a fala em seu lugar.

— Sobre isso, eu admito que a Ratatoskr é uma organização devotada em


salvar os Espíritos e eu sou muito grata por isso. Mesmo assim, ainda tem algo

96
oculto por trás disso? Mesmo que você tenha uma grande fortuna para gastar,
por que ainda quer salvar os Espíritos?

Woodman acenou como se já soubesse suas intenções e começou a falar.

— Eu posso entender seus receios. De fato, a Ratatoskr, como uma


organização, está dedicadamente cuidando de vocês, Espíritos. Eu não culpo
vocês por acharem isso irracional.

Woodman verbalizou enquanto sorria forçosamente.

— Isso é um pouco desconcertante. Eu temo que eu não possa dizer um


motivo que seja fácil para vocês entenderem.

— ...O que quer dizer com isso?

— Salvar os Espíritos. Esse é meu maior objetivo de vida.

— ......

Origami enrugou as sobrancelhas. No momento seguinte, Nia, que estava


do lado oposto da sala, opinou em sincronia com Origami.

— Você não está se achando um pouco demais com essa atitude de velho
sábio? Como dizem por ai, você não pode esperar que todos sejam as melhores
pessoas do mundo. Não acha que isso é um pouco suspeito?

A forma de falar de Nia nessa hora não foi o seu habitual "Tom de irmã
mais velha", mas sim algo enfurecido e ácido. Isso fez com que Shidou tremesse
de medo.

— Nia...?

Mas infelizmente ela ficou surda para o que ele dizia e manteve seu olhar
furioso em Woodman, continuando seu comportamento agressivo.

— Woodman. Elliot Baldwin Woodman. Esse é seu nome, certo?

— Aah, isso mesmo.

— Então deixe me perguntar de novo. Como um dos fundadores originais


das Industrias DEM há trinta anos atrás, que foi quando vocês causaram a
aparição do Primeiro Espírito, por que esconde sua identidade e em vez disso diz
essas palavras bonitas?

— O-O que...?

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Shidou e os outros Espíritos, sem exceção, ficaram pasmos com as palavras
reveladoras de Nia.

— O-O que está acontecendo, Nia? O Sr. Woodman faz parte da DEM...?
E o que quer dizer com fazer um Espírito aparecer?

Shidou perguntou com toda a incerteza do mundo. Nia friamente se virou


para ele para responder.

— Sim. Um mês atrás, quando meu <Rasiel> ainda estava em perfeitas


condições, eu tive a chance de investigar, investigar como estava o mundo
quando o Primeiro Espírito apareceu.

— .....?! O-O que você disse?

— Foi aí que eu descobri. Issac Ray Pelham Westcott, Ellen Mira Mathers
e... Elliot Baldwin Woodman. Como os três membros fundadores das industrias
DEM, eles tiveram envolvimento total na aparição do Primeiro Espírito.

Quando Nia disse isso provocativamente, Woodman gentilmente


suspirou e começou a falar.

— Entendo... então seu anjo <Rasiel> é aquele que sabe de tudo. Eu não
gostaria de meticulosamente esconder isso, mas agora deve ser uma boa hora
para revelar. Sim, eu uma vez causei a aparição do Primeiro Espírito nesse
mundo, junto com o Ike... Westcott e a Ellen.

— .....

Shidou sentiu sua respiração ficar presa. Saber que Woodman já foi
parceiro da dupla de seus mais odiados inimigos já era algo aterrador, mas saber
que ele também foi quem trouxe a existência dos Espíritos a esse mundo...

— Aah, a propósito, eu não a apresentei ainda. A pessoa ao meu lado é


Karen. Ela é um dos membros que deixou a DEM junto comigo.

Woodman a apresentou como se tivesse acabado de se lembrar desse fato.


A mulher que parecia ser sua secretária, ficou parada ao lado dele e acenou com
a cabeça.

— Meu nome é Karen Nora Mathers. É um prazer conhecê-los.

— Ahh, olá... quê? Hm?

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Enquanto trocava cortesias com aquela pessoa, Shidou inesperadamente
percebeu algo em seu nome; ele já o ouviu em algum lugar.

— Mathers...?

— Sim. Ellen Mathers é minha irmã.

— QUÊÊÊÊÊÊ?!

Ao de repente descobrirem esse detalhe impactante, Shidou e os Espíritos


gritaram juntos.

— A-A-Aquela Ellen...!?

— Apontamento. Você parecia familiar de alguma forma.

— I-Isso é algum tipo de desenvolvimento entre irmãs?!

— Miku PARE de respirar tão profundamente!

Natsumi avisou quando viu Miku imersa em caos.

— Muito bem, acalmem-se.

Miku acenou honestamente com a cabeça. Depois das instruções, Miku


agarrou ambos os braços de Natsumi e mergulhou sua cabeça em seu cabelo
despenteado enquanto inalava o ar profundamente. Natsumi se debateu com os
quatro membros do corpo para resistir à Miku como se sua vida dependesse
disso, mas sem nenhuma chance.

Confrontando o abraço de urso caloroso de Miku, seus braços finos foram


incapazes de resistir e Natsumi teve que aceitar seu destino cruel, perdendo as
forças dos pés à cabeça.

Shidou silenciosamente relaxou e colocou sua mão em seu peito enquanto


observava os traços faciais de Karen. Tirando os óculos e seu cabelo mais
comprido, ela se parecia exatamente com aquela wizard. É que a Ellen como a
irmã mais velha não parecia passar da casa dos vinte anos; enquanto a Karen,
como irmã mais nova, parecia ter mais de vinte.

Por outro lado, ainda havia alguns assuntos que precisavam ser
esclarecidos, então Shidou se acalmou e se virou para Woodman.

— D-De qualquer forma, o que quis dizer com causar a aparição dos
Espíritos? Como?

99
— Vamos discutir isso na ordem apropriada. Eu vou responder as
perguntas de Shidou e Origami primeiro.

Woodman olhou para a direção de Origami e continuou.

— Como Nia já mencionou, eu sou um dos fundadores da DEM.


Originalmente eu tinha intenções similares as de Westcott, e queria me aproveitar
dos poderes dos Espíritos.

— .....

Shidou ficou tenso e engoliu sua saliva. Para o líder da organização que
salva os Espíritos dizer esse tipo de palavras era realmente chocante.

— Porém, quando eu me encontrei com o Primeiro Espírito, eu mudei de


ideia. Ao abandonar meus objetivos originais, eu deixei as Indústrias DEM e criei
a Ratatoskr. Eu tomei a decisão de proteger os Espíritos com minha vida, mesmo
se isso significasse renunciar aos meus velhos amigos e camaradas.

— ... E o que te fez mudar?

Woodman encolheu os ombros e fez uma expressão gentil.

— ...Eu me apaixonei por ela.

Sua resposta inesperada fez Shidou arregalar seus olhos em descrença.

— S-Se apaixonou?

— Aah, o Primeiro Espírito roubou meu coração no momento que a


encontrei e eu fiquei inquieto de ansiedade. Eu não podia deixar ninguém
explorar seus poderes por motivos mesquinhos.

Woodman confessou com um tom ardente de um jovem apaixonado.

— Desde então, eu não queria que outros Espíritos como ela sofressem
uma vida miserável. Embora essa idiotice possa talvez fazer as pessoas rirem,
esse é o meu único e verdadeiro motivo para querer salvar os Espíritos.

— ......

Shidou estava sem palavras, paralisado em sua posição. Ele não planejava
invadir mais a privacidade de Woodman, mas sua declaração parecia ser de
alguma forma inverificável.

100
— Eu não acho que seja um motivo tolo. — Shidou respondeu enquanto
se movia um passo para frente. — Seria melhor dizer que eu compartilho suas
opiniões, fundador da Ratatoskr.

Woodman ficou surpreso com o comentário de Shidou e refez sua


compostura.

— Obrigado, você tem um coração gentil. Estou feliz de ver que é você
quem está selando os Espíritos.

— Ahh, de nada.

Shidou respondeu enquanto balançava sua mão. Origami, que estava


ouvindo a conversa deles, fez uma expressão impressionada e mudou seu campo
de visão para Karen.

— ...então, qual foi seu motivo para segui-lo e abandonar a DEM?

— Eu me apaixonei pelo Elliot.

— ...Ahnm?!

Shidou tossiu com essa frase inesperada.

— ... foi por isso...? Mas o Sr. Woodman já tinha se apaixonado... pelo
Primeiro Espírito...

— Eu não vou desistir só porque ele gosta de outra pessoa. Se ele mudar
de ideia e não aparecer ninguém, então ele não teria outra escolha, não é?

— I-Isso não é mentira...

— Falando de desejos gananciosos, eu gostaria muito de realizar


atividades reprodutivas com Elliot e conceber uma criança. Embora eu altamente
respeite os desejos de Elliot, seria uma grande perda para o mundo se a sua
linhagem acabar.

— ......?! Ha......

Shidou estava balançando a mão várias vezes para aceitar uma declaração
tão descarada e se sentia estranho ao ouvir suas palavras. Woodman forçou um
sorriso.

— Haha... isso é um baita incômodo.

101
— Elliot, não precisa se incomodar com isso, eu esperarei pelo momento
certo.

— Eu concordo. Eu admiro e ovaciono sua sublime determinação.

— Sou eu quem devo agradecê-la. Você é a terceira pessoa que endossa


isso.

Karen agradeceu enquanto balançava as mãos de Origami.

— ......

Parece que elas entraram em água desconhecidas para Shidou, pois ele não
conseguia acompanhar seus ideais. Mesmo que isso tenha vagamente insinuado
uma crise de moralidade, Shidou decidiu deixar elas do jeito que estavam, já que
elas tinham se amigado uma com a outra. Woodman apoiou os óculos e
endireitou seu corpo.

— Me perdoe, Itsuka Shidou. Você pode chegar mais perto para que eu
possa vê-lo? Recentemente minha visão tem reduzido bastante.

— Hã? Certo.

Shidou avançou em direção à Woodman, que atenciosamente examinou


seu rosto, sussurrando algo inaudível.

— Entendo... você me parece muito... com o garoto daquela época...

Quando Woodman sussurrou isso para si mesmo, Shidou não pôde deixar
de franzir as sobrancelhas.

— O garoto daquela época? Quem...?

Naquele momento, uma intensa vibração atingiu a sala.

— Uwaaah...?!

— Ooohh?!

— Hyaaa!

Como se um explosivo tivesse sido detonado nas proximidades, as


paredes, piso e teto tremeram violentamente. Os livros nas estantes caíram no
chão todos juntos.

— Todos estão bem? — Verificou Shidou.

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— Umuu... O que aconteceu?! — Respondeu Tohka.

— Será que foi... a Mukuro-san? — Yoshino disse em uma voz tímida.

— Outro meteorito?

Yoshinon, o fantoche que ela carregava em sua mão esquerda, usou suas
duas mãos para cobrir a mão da Yoshino de medo. Kotori balançou sua cabeça
com atenção.

— Não... isso é...

Uma agitada transmissão de rádio ressoou como se respondesse à Kotori.

— Woodman-sama! Emergência!

— Acalme-se, qual o problema?

— Um ataque surpresa! Uma nave espacial de guerra foi avistada sobre a


base! É a DEM!!

— O qu...?!

Shidou estremeceu com o aviso.

— A DEM... Realmente, eles descobriram até mesmo esse lugar...

Kotori disse antes de parar no meio da frase quando se lembrou de algo


importante. Esconderijos não significavam mais nada agora.

— <Beelzebub>...! É claro, o Rei Demônio <Beelzebub>.

Nia engoliu em seco e sorriu sarcasticamente.

— ...provavelmente. Mesmo que suas funções de pesquisa tenham sido


obstruídas, eu não posso fazer nada quanto ao que aconteceu antes disso.

— Kuh... então eles finalmente vieram. Para virem a esse lugar em


específico, eu acho que eles estão alvejando a Fraxinus dessa vez...

Kotori encarou Woodman.

— Suas ordens, Woodman-sama.

— ...Hm.

Woodman revirou seu cérebro atrás de uma contramedida para a situação


atual e ergueu sua cabeça.

103
— Vamos sair daqui primeiro. Nós somos gados esperando o abate se
continuarmos aqui. — Exclamou Woodman.

— Comandante Itsuka, leve os Espíritos à Fraxinus rápido e vá até a


<Zodiac>. Ela definitivamente tem que ser salva.

— Entendido, eu me certificarei de que eles cheguem até ela. Mas... e você?

Quando Kotori fez uma expressão preocupada, Woodman aliviou sua


expressão.

— Karen e eu usaremos uma rota alternativa. Não posso deixar Westcott


destruir esse lugar de forma alguma. Eu tenho algo para resolver mais tarde.
Essas minhas duas pernas não podem atrasá-los de maneira alguma.

Woodman tocou levemente suas pernas.

— Mas!

Kotori refutou penosamente enquanto apertava fortemente suas mãos.

— Está tudo bem, minha rota de fuga já foi determinada, então não se
preocupe. Essa vida não morrerá tão fácil. Eu já decidi morrer segurando as mãos
de minha amada.

Woodman piscou.

— Sr. Woodman...

Shidou sussurrou em voz baixa, enquanto Karen ajeitava seus óculos.

— Minha mão está vazia, sabia?

— Eu não posso ter alguém tão talentosa e esplêndida como você


morrendo comigo.

Woodman encolheu os ombros enquanto Karen mostrou uma solitária,


porém feliz expressão de quem foi elogiada.

— Vá agora, Comandante Itsuka. Eu te desejo boa sorte.

Quando Woodman deu sua ordem, Kotori hesitou por alguns segundos
antes de finalmente curvar sua cabeça ao seu superior.

— ...Entendido. Por favor, fique a salvo.

104
Woodman acenou e Kotori começou a dar instruções à Shidou e aos
outros.

— Vamos pessoal, não deixem que a Fraxinus caia nas mãos do inimigo
de novo!

Todos os movimentos de Kotori estavam carregados de um senso de


obrigação. Mas por trás de suas decisões firmes, ela estava levemente abalada.
Isso era natural, pois o perigo era iminente. Porém Kotori, como comandante da
Ratatoskr, não podia demonstrar abertamente sua aflição. Shidou se preparou
mentalmente para o pior e acenou em concordância.

— Aah, vamos, rápido.

— Umu, rápido!

— Sim...

Todos os Espíritos concordaram, e Shidou trocou olhares com Kotori por


um momento. Sem qualquer consulta prévia, eles se despediram respeitosamente
de Woodman e saíram daquela sala. Quando eles estavam correndo pelo
corredor com toda a velocidade que eles puderam reunir, o som de detonações e
Territórios se chocando ressoavam sem cessar.

— Kuh... o que será que invadiu esse lugar?!

— Não tenho certeza, mas podemos descobrir isso quando chegarmos na


nave...

Sem saber por quanto tempo eles estavam atravessando a passagem, a voz
de Kotori foi interrompida quando a parede em frente deles se quebrou.

— Uaahh?!

— O qu...?

Entulhos voaram aleatoriamente pelo ar junto com a fumaça branca que


se espalhou. Em meio a dispersão da fumaça, uma figura distorcida de um
humano apareceu. Membros mecânicos com textura metálica, um único olho
localizado no centro da cabeça e garras afiadas estavam distribuídos por seus
braços rígidos. Como se fosse um predador, a figura robótica entrou
vagarosamente.

— ...<Bandersnatch>!

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Shidou disse enquanto rangia os dentes. Aquela monstruosidade era uma
das unidades não tripuladas da DEM, <Bandersnatch>. A câmera em sua cabeça
se voltou para a direção de Shidou.

— .....!

— Mova-se, Shidou!

Quando a voz de Origami veio, ela disparou um raio de luz ofuscante que
passou próximo aos cabelos de Shidou.

— Uoohh...?!

Atingida diretamente por um raio de luz intenso gerado pelo poder de um


Espírito, a Bandersnatch instantaneamente perdeu suas funcionalidades. Shidou
olhou para trás dele e um anjo em forma de penas estava flutuando por ali: O
<Metatron> de Origami.

— O-Obrigado, Origami.

Ao ouvir os agradecimentos de Shidou, Origami acenou com satisfação.

Mas agora não era tempo para descansar. O combate em volta deles ainda
não tinha terminado. Se a localização deles já foi descoberta, não havia garantias
de que o armazém onde a Fraxinus estava localizada estava seguro.

— De qualquer forma, vamos indo de pressa, não temos muito tempo...

Shidou parou sua frase relutantemente.

Pois de repente...

Uma inesperada voz soou bem na frente deles.

— ...Ora, eu não esperava vê-los aqui.

— O qu...?!

Shidou franziu as sobrancelhas quando ouviu aquela voz fria que não
combinava com toda aquela situação.

Aparecendo ao meio da fumaça estava um homem vestido com roupas


pretas em estilo ocidental e uma wizard equipada com uma CR-Unit. Os dois
andavam vagarosamente para fora da névoa.

— Westcott?!

106
Não havia dúvidas disso, o líder das industrias DEM e o arqui-inimigo de
Shidou: Isaac Westcott.

— .....

— O quê?!

Ao ver ele se revelar em meio a cortina de fumaça, a expressão de fúria,


ira e raiva se formou nos rostos dos Espíritos. Quando averiguado os avanços do
inimigo, uma pessoa não deixaria seu líder atacar primeiro. Mas Westcott estava
sem Ellen por perto.

Porém, Westcott era um adversário eminente que não permitia qualquer


tipo de hesitação. O homem que estava diante deles era completamente diferente
comparado a ele mesmo de um mês atrás. O que eles deveriam fazer era...

— ...Metatron.

Densos raios de luz de poder espiritual foram disparados em direção à


Westcott como anteriormente ordenou Origami, dispersando qualquer tipo de
pensamento que Shidou estava tendo. Instantes antes da radiação atingir
Westcott, uma página de livro em branco se manifestou em frente dele e dissipou
a energia no meio do ár.

— Westcott-sama!

— Está machucado...?

A wizard ao seu lado soltou uma voz estridente. Westcott negou e acenou
eloquentemente.

— Mas que ataque absoluto, excelente!

— ...Maldito. — Amaldiçoou Origami com remorso. Westcott meramente


sorriu jocosamente e ergueu sua mão.

— Mas que pena. Um ano de um Astral Dress limitado não pode me fazer
mal algum em seu estado atual.

Seguindo seus movimentos, um livro que emitia uma aura ameaçadora se


materializou em sua mão.

— ...Beelzebub.

— ......!

107
Shidou arquejou de medo e trepidação. <Beelzebub>, o Rei Demônio
Onisciente, que Westcott tinha roubado de Nia. Sentindo o perigo, os Espíritos
convocaram seus Astral Dress limitados um atrás do outro.

— Ha!

Acompanhando o brilho pálido do Astral Dress surgiu um anjo em forma


de uma espada gigantesca nas mãos de Tohka, <Sandalphon>. A garota disparou
para frente para tentar atacar Westcott. A wizard o defendeu com seu sabre
enquanto avançou para frente do ataque.

— Gu...

— Não me bloqueie!

— As lâminas das duas espadas se colidiram. A wizard expandiu a força


de seu Território em resposta, mas foi mandada pro ar e colidiu com a parede.

— Hu...

— .....!

A wizard chorou de agonia enquanto Tohka mudava seu alvo para


Westcott. Embora o homem estivesse presentemente envolvido na batalha, ele
simplesmente zombou ironicamente.

— Que valorosa, <Princesa>. E que desperdício, mesmo que eu aprecie sua


apresentação ameaçadora, eu não estou atrás de você hoje.

— Do que está falando? Acha que pode escapar?

— Haha, quem disse algo sobre escapar? Mesmo que abandonar você seja
de fato vexatório.

Enquanto Westcott sorria de forma atraente, sua mão começou a vagar


pelo livro.

— Só um pouquinho já vai servir. Mostre-me do que é capaz.

Westcott cantarolou para o livro.

— <Beelzebub>, <Ashufiriya -Phantom Library>.

— ...Tohka!

Shidou gritou estridentemente. Mesmo que ele não soubesse o que ia


acontecer, Shidou sentiu uma sensação como se dúzias de estalactites tivesses

108
perfurando suas costas. No instante seguinte, o espaço em baixo dos pés de
Tohka se distorceram em uma abertura sombria em forma de livro.

— O qu...

Tohka inalou apressadamente o ar a sua volta e recuou para trás a toda


velocidade. Mas foi tarde demais. O enorme livro fechou as suas páginas,
prendendo Tohka dentro como se fosse um marcador de páginas.

— Tohka!

Shidou gritou enquanto pulava em seu resgate. Antes que sua mão
pudesse alcançar o livro, Tohka já havia desaparecido no vácuo. Mas isso ainda
não tinha terminado.

— Yaaa...!

— O-O que é isso?!

Os outros espíritos lamentaram enquanto Shidou se virava para eles.


Livros semelhantes haviam aparecido sob eles e começaram a sugá-los.

— Huk...!

— Droga, <Rasiel>...!

— Pessoa, corram! — Disse Shidou, porém em vão. Os livros que


apareceram naquele corredor absorveram os Espíritos um a um.

— W-waaa, socorro!

— S-Shidou!

Os gritos dos Espíritos reverberaram pelo lugar enquanto o livro os


engoliu e desapareceu. Testemunhando tudo sem poder fazer nada, Shidou
estava petrificado e olhou para Westcott.

— ...Seu maldito maligno!! Para onde levou elas?!!

— Hahaha, não seja tão agitado. Você vai se reunir com elas em breve. —
Westcott ergueu as pontas de sua boca. Naquele momento, Westcott aplicou o
golpe de misericórdia.

— U-uaahh!?

109
— Eu vou soltar vocês assim que terminar com o Elliot. Durante esse
tempo, sintam-se livres para se preocuparem com o conteúdo de seus corações...
nesse mundo ilusório.

Westcott disse enquanto lentamente fechava o aprisionamento de Shidou.

— Hm... não me sinto muito cansado, mesmo sendo a primeira vez que
uso esse poder.

Westcott inferiu enquanto brincava com uma página de Beelzebub,


descobrindo porque ele podia decifrar os registros não escritos.

— Westcott-sama...

Sua wizard guarda-costas que tinha sido nocauteada por Tohka voltou ao
seu lado e se desculpou.

— Me perdoe, fui descuidada.

— Isso não importa. Eu obtive a oportunidade de experimentar esse novo


poder de Beelzebub de qualquer forma.

Westcott sorriu, calando a wizard.

— Então, onde os Espíritos foram?

— Aah~.

A visão de Westcott caiu sobre uma página de <Beelzebub>, erguendo os


cantos de sua boca.

— Agora, eles estão dentro de um conto de fadas... lutando contra o


mundo da fantasia.

— Conto de fadas...?

A wizard inclinou sua cabeça. Bem, ela não podia entender ele
diretamente. Humanos que não sejam Westcott não precisam compreender um
Rei Demônio. Ele fechou Beelzebub e mudou o assunto da conversa.

— Deixando isso de lado, nosso alvo está tomando algumas providências


nesse momento. Eu não posso mais esperar para encontrar meu velho amigo
pessoalmente.

Assim que Westcott comandou, a wizard prontamente bateu continência


em resposta.

110
Capítulo 4 - Conto de fadas.
— ...Uh, eh...

Shidou gemeu suavemente enquanto espreitava seus arredores com olhos


confusos. Era difícil distinguir se a realidade estava borrada ou se o borrado era
a realidade.

Shidou meticulosamente coçou seus olhos para se recuperar da visão


distorcida e o cenário enevoado aos poucos se limpou.

— ......?

Porém, uma sensação dissonante anormal se sucedeu quando o que estava


em sua visão periférica ficou claro. Shidou estava deitado em uma estrutura
parecida com uma cama, apesar do lugar obviamente não ser familiar para ele.

— Onde é... este lugar...?

Shidou franziu as sobrancelhas enquanto mexia seu corpo com um


farfalhar. Parecia que a mobília em que ele estava deitado era feita de palhas de
arroz entrelaçadas. Em uma inspeção mais próxima, a casa onde Shidou se
encontrava, parecia ser feita do mesmo material: Desde os muros e o teto até as
colunas de sustentação.

— Isso é...

Os ombros de Shidou tremeram repentinamente.

A pouco tempo atrás, ele estava dentro do armazém secreto da Ratatoskr


sendo engolido pelas páginas do livro em posse de Westcott.

— Eu estou... dentro de um conto...?

A expressão de Shidou se distorceu de perplexidade enquanto ele


vagarosamente saia daquela cama. Algo estava errado. Seu corpo parecia estar
deteriorado e seus movimentos pareciam estar menos ágeis. Shidou
duvidosamente olhou para si mesmo e percebeu que ele estava vestindo roupas
grossas de algodão por algum motivo.

— Qual é a dessas roupas...? Isso é tão inconveniente.

Shidou franziu as sobrancelhas enquanto movia seu corpo, e removeu


aquelas roupas. Descartando a máscara que cobria seu rosto, Shidou

111
forçadamente flexionou seu pescoço. Depois disso, ele observou o colarinho da
roupa e afastou o rosto devido a incompreensão.

— .......Um porco?

Pele cor de rosa, orelhas redondas e dobradas, além de um característico


focinho saliente, Shidou estava vestindo uma fantasia de animal que geralmente
aparecia em contos de fada. Ele instantaneamente reconheceu sua aparência atual
e seu corpo congelou imóvel.

— ...Porco... casa de palha... será que é...?

Naquele momento, a cabana inteira foi soprada para longe por uma
ventania violenta, destruindo toda a construção.

— U-Uwaah!?

Shidou, cujos passos estavam instáveis por causa da pressão intensa,


também foi atirado ao chão junto com as pilhas de destroços.

— Isso doeu, o que está acontecendo?

Shidou estava raciocinando enquanto ele tremulamente ficou em pé


enquanto protegia sua cabeça com os braços por reflexo. O motivo para a massiva
destruição ficou evidente. Uma grande sombra cobriu Shidou inteiramente.

— ......

Shidou ergueu a cabeça com considerável inquietação. O que se


materializou diante dele foi uma gigantesca fera que podia sem qualquer esforço
intimidar qualquer um com sua postura destemida. Suas mandíbulas pontudas
e afiadas estavam descobertas, a única coisa que podia superá-las eram suas
presas caninas que pareciam estar mirando em Shidou. Um par de olhos
brilhantes e penetrantes o marcavam como uma presa.

Ele possuía espessos pelos por toda extensão de seu corpo mamífero. Sua
altura imponente, muitas vezes maior que Shidou, só servia para deixar ainda
mais clara sua diferença de proporção. Com sua estatura bípede, a criatura
predadora parecia um vilão antagônico recorrente das histórias infantis: Canis
Lupus, o lobo.

— Kehehe, delicioso porquinho. Eu vou te comer em uma única mordida!

O lobo gananciosamente lambeu os beiços de maneira exagerada,


espalhando saliva por todo o chão e sobre a pobre cabeça de Shidou.

112
— I-Isso...

Shidou estremeceu enquanto suava profusamente.

— Espera um minuto. Acalme-se, eu sou...

— Gaaaaaaaah!

O lobo estendeu suas mandíbulas em direção ao Shidou, em total


desrespeito às suas palavras.

— Uwaaaaaaah!?

Além das impressões externas que o lobo passava e de seu


comportamento, ele poderia muito bem ser um personagem cômico, se não fosse
por sua ousadia indisciplinada e pelo odor bestial que vinha de seu corpo. Shidou
só podia pensar em uma coisa: morte. Ele gritou até seus pulmões estourarem e
fugiu dali em um estado lamentável.

— Hahahaha, você não pode fugir de alguém como eu!

O lobo uivou, alto o bastante para estremecer todo o ár à sua volta e o


perseguiu. Naquela hora, sua mente já tinha se liberado de qualquer distração e
ele corria como se sua vida estivesse em jogo. A fantasia de animal, a casa de
palha e o lobo que o perseguia... era como se...

— ... Os Três Porquinhos!?

Shidou recitou o título que veio à sua mente enquanto corria pelo vasto
gramado. Verdade, Os Três Porquinhos era um conto muitíssimo conhecido. Cada
um dos irmãos porcos construiu suas próprias casas. O mais velho fez uma casa
de palha e o segundo uma de madeira, mas ambas foram derrubadas pelo grande
lobo mau. Somente o mais novo deles dedicou seu tempo para usar tijolos na
construção de sua casa, deixando-a completamente segura. Pelo menos assim era
o conto. Shidou contrastou a história com sua situação atual. Ele estava dormindo
em uma casa de palha, isso significa que...

— Eu sou o primeiro dos irmãos que foi comido, né!?

Shidou gritou, quase como se estivesse a ponto de chorar.

— Volte aqui, porquiiiiinho!

O lobo gritou com uma voz que fez com que Shidou se enchesse de medo.

113
Talvez por pura sorte, ou era o destino que estava em seu favor, o lobo que
estava perseguindo Shidou à um passo que não condizia ao de uma besta
quadrúpede, pois o mesmo insistia em ficar sobre duas patas. Como resultado, o
animal enorme não podia desprender energia o suficiente para ultrapassar a
velocidade de Shidou. No entanto, ele já estava quase chegando ao seu limite; seu
corpo todo doía, seus músculos estavam fadigados, seu coração e seu pulmão
estavam disparados.

— Hah... huu...

No momento que Shidou parasse; ele seria engolido para o estômago


faminto do lobo. Portanto, ele manteve a velocidade, vacilando, até ver uma
forma de escapar daquela situação.

— ......!

Sem saber por quanto tempo ele estava sendo perseguido nessa situação
de vida ou morte, Shidou viu uma pequena construção à frente. Além disso,
aquela não era a cabana de madeira do segundo irmão. Ele sabia que seria falta
de educação entrar sem ser convidado, mas nas circunstâncias atuais não
deixavam escolha. Então Shidou grosseiramente entrou na casa e trancou a porta
atrás dele.

— Ha...ha...ha...

Shidou apoiou seu peso sobre a porta, fazendo tudo que podia para
impedir qualquer entrada. Algumas batidas do outro lado ecoaram pela sala,
fazendo ele suar frio. Ele pressionou por quanto tempo ele conseguiu enquanto
aguentava os ataques vigorosos do lobo à frágil porta. Depois que algum tempo
se passou, o som se extinguiu, ficando tudo silencioso. O lobo deve ter
abandonado a tentativa de invadir o refúgio de Shidou.

— F-Finalmente a salvo.

Ele vagarosamente recobrou sua compostura perdida e regulou sua


respiração ao se esticar no chão. Shidou alegremente ergueu sua cabeça como se
tivesse se esquecido de algo crucial. Ele recobrou à cena final do conto que
envolvia o lobo mau tentando entrar na casa de tijolos do irmão mais novo: ele
tentou invadir a casa pela chaminé quando se deu conta que a destruir não daria
certo.

114
— Esse lugar não parece ter sido feito por um dos irmãos porco. Tem
alguém ai...?

Shidou gritou para avisar aos moradores daquela casa que o lobo tentaria
invadi-la pela chaminé.

— Com licença! Tem alguém aí!?

Um quase inaudível sussurro pôde ser ouvido de dentro de um dos


quartos, silencioso o suficiente para ser considerado uma resposta à alguém.

— S-sim... quem seria você....?

Parece que tinha alguém ali. Shidou se sentiu obrigado a contar para quem
quer que seja sobre o perigo...

— ......Nn?

Shidou inconscientemente inclinou sua cabeça. Ele já tinha ouvido aquela


voz antes.

— Agora mesmo, era a...

Shidou retorceu as sobrancelhas enquanto se aproximava da fonte da voz


de agora pouco e espiou o quarto. Como esperado, ali estava uma garotinha que
ele conhecia muito bem. Ela tinha cabelos que se pareciam com ondas do oceano
e uma pequena estatura, sem contar o fantoche de coelho em sua mão esquerda.

— S-Shidou-san?!

— ...Shidou-kun, meu Deus!!!

Yoshino e Yoshinon, que também foram engolidos por um livro mais cedo,
arregalaram os olhos espantados. Shidou suspirou aliviado e entrou na sala.

— Yoshino, Yoshinon, vocês estão bem?!

— S-Sim... que bom te ver, Shidou-san!

— Un, mas Shidou-kun, onde estamos, hein?

Yoshinon inclinou a cabeça.

— Eu não tenho muita certeza. Quando eu acordei, eu estava na estória


dos Três Porquinhos...hã?

115
Shidou parou sua frase no meio. Como ele estava sobressaltado com seu
reencontro com Yoshino e Yoshinon, ele ainda não tinha reparado nas diferenças
em suas aparências. As vestes adoráveis que vestiam também eram típicas de
contos de fadas: Uma linda blusa branca, um vestido chique com um laço como
decorativo assim como uma túnica vermelha com capuz. Ela inexplicavelmente
se parecia com a Chapeuzinho Vermelho.

— Y-Yoshino... suas roupas...?

— eu não sei. Eu já estava as vestindo quando acordei. Então eu fui


chamada para visitar a vovozinha...

— Sim sim, por algum motivo, não podemos usar nossos poderes e anjos,
e não sabemos nada sobre esse lugar!

Pequenas gotas de suor escorreram pela testa de Shidou quando ele


escutou seus lamentos. Era digno de louvores contos como esses serem
conhecidos até mesmo pelo povo japonês. Os Três Porquinhos e Chapeuzinho
Vermelho eram de fato contos famosos no mundo todo. Segundo a estória, quando
a chapeuzinho chega na casa da vovozinha, ela já tinha sido... Shidou sentiu
repugnância só de pensar. Ele percebeu que alguém, ou algo, estava se mexendo
por baixo dos lençóis da cama daquele quarto.

— Ah chapeuzinho, temos visitas?

Uma voz rouca demais para uma idosa soou.

— S-sim. Sobre isso... vovozinha, eu tenho que ir embora. Eu vou deixar o


pão e o vinho bem aqui.

Quando Yoshino disse isso, a vovozinha se remexeu por debaixo nos


lençóis.

— Boa garota, boa garota. Você até mesmo me trouxe um delicioso porco,
apesar das minhas condições.

No momento seguinte, um enorme lobo pulou para fora da cama, vestindo


um disfarce que consistia em pijamas, um chapéu e um par de óculos. Era o
mesmo lobo que tinha perseguido Shidou até ali.

— Yaaaaaaaah!?

— Uah! A vovozinha se tornou um animal selvagem?

116
A dupla de ventríloquos gritou de medo. O lobo rasgou as roupas que
vestia e zombou deles.

— Há quanto tempo, porquinho. Achou que se livraria tão fácil de mim?

— Waaaaaaa! Como você conseguiu...?!

Shidou gritou em tom chocado, estupefato pela série de eventos aleatórios


que acabaram de acontecer. O senso comum diz que é impossível que o mesmo
lobo mau que perseguia Shidou tenha do nada aparecido debaixo dos lençóis
naquele lugar.

— Haha, por acaso ainda não entendeu "esse mundo"? Esquece; permita-
me saborear sua carne suculenta!!!

— Fujam de pressa, Yoshino, Yoshinon!

— S-Sim!

Shidou segurou firmemente a mão de Yoshino e saiu da casa


agitadamente, chutando a porta de entrada. Como antes, eles fugiram para a
selva de forma desordenada para tentar despistar o lobo. Mesmo assim, Shidou,
que estava guiando Yoshino, chegou ao máximo de sua capacidade corporal
depois de um tempo e descuidadamente escorregou sem pensar.

— Kuh...

Ele de alguma forma conseguiu soltar a mão delicada de Yoshino para que
ela não caísse junto com ele. Porém, uma substancial quantidade de tempo seria
necessária para recuperar a velocidade, principalmente depois de desacelerarem
tão bruscamente.

— Shidou-san!

Yoshino estava preocupada e estendeu a mão para ajudar Shidou. Mas era
tarde demais. Uma enorme sombra se formou sobre o caído Shidou e se
aproximou de Yoshino.

— Não tem mais para onde fugir.

Os olhos de lobo brilhavam com uma fome insaciável enquanto ele vigiava
atentamente todos seus movimentos. Shidou exprimiu sua respiração e deu a
Yoshino um empurrão com toda a força que conseguiu.

— Yoshino, corra! Rápido!

117
— Não! Eu não vou te abandonar Shidou-san! Eu não vou fugir!!

— Ahahaha! Muito bem, esplêndida! Eu sei que não haverá nenhum


arrependimento. Agora, vou começar meu banquete!

O lobo abriu enormemente suas mandíbulas para engolir ambos em uma


única bocada. Shidou abraçou Yoshino como se fosse a proteger até o final. Ele
rangeu os dentes, suportando a dor. Mas isso nunca aconteceu, não importa por
quanto tempo ele esperou. Em vez disso, o ressoar metálico de uma katana sendo
empalada pôde ser ouvido, assim como vários disparos de arma, acompanhados
pelos gemidos angustiados do lobo.

— Kuhh, quem são essas pessoas?!

— Eh?

Shidou ergueu sua cabeça por curiosidade depois de ouvir os uivos


incomuns de dor do lobo. Duas garotas apareceram ali, montando guarda e os
defendendo.

— Tudo bem com vocês, Shidou, Yoshino?!

— Ehehe, essa foi por pouco, Garoto.

— Tohka! E Nia!?

Shidou não podia estar mais feliz quando ele confirmou a identidade da
dupla. De fato, naquele momento de perigo iminente, duas garotas tinham
aparecido do nada. Tohka estava vestindo uma brilhante vestimenta de guerra
de penas entrelaçadas, calça curta arejada e sandálias de madeira, além disso ela
tinha uma katana polida em sua mão. Nia, por outro lado, vestia um casaco longo
e preto e carregava duas pistolas prateadas, uma em cada mão. Apesar de seu
vestuário ser tão excêntrico quanto o de Shidou, eles eram especialmente
desenhados para personagens especializados em batalhas, diferente do dele e da
Yoshino. Elas lançaram uma ofensiva brutal contra o lobo para proteger Shidou.

A carcaça do lobo foi danificada com perfurações e cortes, assim como


feridas de balas. Mesmo assim, ele não demonstrou nenhuma covardia e
meramente aprofundou sua provocação feroz enquanto resmungava
sofridamente e sujava o chão com sangue.

— Hmph, besta persistente. Eu acho que simplicidade não combina muito


com a força.

118
Nia mirou suas armas como se transmitisse descaradamente sua
inconveniência. Ela olhou para a direção de Tohka e continuou seu discurso.

— Tohka-chan. Esse bolinho em sua cintura, porque você não o joga nessa
boca desgraçada que ele tem?

— Un? Esse aqui?

Tohka acenou em concordância e executou a sugestão de Nia. Ela pegou


um bolinho de arroz do bolso em sua cintura e o jogou para o lobo.

— Aqui vai.

— Gaaaaaaaaaa-a?

Respondendo ao ataque de Tohka, o lobo rapidamente abriu sua boca e


comeu o bolinho, engolindo-o com prazer. No segundo seguinte, o lobo entrou
em uma notável, quase ilusória, espécie de transe, se sentando em uma postura
que era bem diferente da figura vulgar de antes.

— Oh, delicioso! Não tenho certeza do que querem com isso, mas meu
estômago agradece!!

— Eh....?

O lobo abaixou a cabeça se desculpando quando Shidou suspirou.

— Bem, porquinho, chapeuzinho, me desculpem pelo o que fiz. Eu estava


muito entusiasmado pois estava faminto...

— Ah, uh...

A repentina descontinuidade na atitude do lobo assustou Shidou. ao


mesmo tempo, Nia deu alguns risinhos de desdém.

— Como esperado dos bolinhos do Momotarou, ele funciona direitinho


em cães.

Nia elogiou enquanto dava tapinhas nos ombros de Tohka. Como ela
disse, as roupas de Tohka poderiam ser reconhecidas por qualquer pessoa
japonesa. O folclore mais famoso do Japão: Momotarou, o Garoto Pêssego1.

— E isso pode ser chamado de bolinho...?

1
Na lenda, Momotarou surgiu de um pêssego, e quando partiu para a ilha dos demônios enfrentar os
ogros que tinha lá, esse usou bolinhos para conseguir a ajuda de um cão, um faisão e um macaco.

119
120
— Bem, os detalhes não importam...

Nia explicou enquanto encolhia os ombros. Embora algumas coisas não


tivessem muito bem elaboradas, funcionou como ela disse. Shidou pôde assim ao
menos relaxar um pouco, e deliberadamente forçou as pernas para ficar de pé em
frente a dupla.

— Umm... obrigado, Nia, Tohka.

— Un, o importante é que você está bem.

Tohka sorriu enquanto habilmente desembainhou a espada, guardando-a


na bainha comum tinindo. Seu cabelo estava amarrado em um único rabo de
cavalo e ela usava uma faixa na testa. De alguma forma, sua roupa emanava um
ár de maestria e habilidade.

— Algo errado?

— Não, esquece. De qualquer forma, você sabe onde estamos, Nia?


Estamos presos dentro do <Beelzebub>?

Ao ser interrogada por Shidou dessa forma, Nia descaradamente soltou


um *un* de reconhecimento.

— Não exatamente... De fato, estamos no <Beelzebub>, mas não somente


no <Beelzebub>. Para ser precisa, essa fantasia que estamos vendo é um mundo
paralelo criado pelo <Beelzebub>.

— Um outro mundo?!

Shidou franziu a sobrancelha quando ouviu a conclusão dela. O mundo


adjacente: é lá onde os Espíritos ficavam presos sem terem nenhuma esperança.

— Parece que sim. Basicamente, estamos em um espaço separado do


mundo externo.

— E-Entendi, então porque Yoshino e vocês estão usando essas roupas?

— Un, a Livraria fantasma é baseada em nossa imaginação. Fantasias e


sonhos são traços que alimentam esse espaço.

— E isso significa?

— Bem, resumindo, <Beelzebub> reúne informação sobre vários contos e


combina os seus cenários. Nós, estando presos dentro dele, também fomos
misturados com eles.

121
— Contos...

— Sim. Suas roupas parecem ser normais. Garoto. Você está associado
com algum conto?

— Ah, quando eu acordei eu estava numa fantasia de porco, e então eu fui


perseguido por esse lobo...

— Hã? É claro, Os Três Porquinhos! Ahh, por que você a tirou?! Eu queria
ver...

— N-Não faça um alvoroço por causa disso!

Quando o envergonhado Shidou reclamou com Nia, ele observou a


aparência de todos novamente. De fato, todas estavam usando roupas de
diferentes personagens de contos de fada. Shidou era Os Três Porquinhos, Yoshino
a Chapeuzinho Vermelho, Tohka era o Momotarou, porém...

— Hm?

A expressão de Shidou ficou confusa enquanto encarava Nia.

— Nia, que personagem você é?

Mesmo que ele pudesse vagamente deduzir a personagem em que as


roupas das outras foram baseadas, Shidou não fazia ideia de qual era o de Nia.
Ao menos, ele nunca tinha visto um protagonista em qualquer história que se
parecia com ela.

— Isso? É o Fatima do Silver Bullet.

— Silver Bullet... Hã, esse não é o seu mangá?!

Nia contraditoriamente respondeu, fazendo Shidou exclamar em resposta,


mesmo averiguando o fato. Suas roupas eram muito similares ao do personagem
principal do mangá desenhado por Honjou Souji, Silver Bullet.

— Kukuku, não tem nada de estranho nisso, Garoto. A probabilidade de


uma obra popular ter prioridade sobre as demais é bem alta. Mas nesse caso, ter
caído justo o meu conto foi obra do destino!

— S-Sério? E eu pensei que era restrito somente à contos de fadas...

— Bravata. Ele leva em conta a opinião das pessoas sobre os contos, eles
vão existir não importa aonde vá. Como uma conveniente analogia, alguns

122
personagens não ficam tão populares que dificilmente uma pessoa no mundo não
os reconheceria? Um exemplo é aquele famoso rato preto e branco...

— Pare! Eu não acho que você deveria falar desse tópico em particular.

Shidou gritou enquanto balançava sua cabeça de um lado para o outro.

— D-De qualquer forma, eu tenho uma compreensão aproximada de que


tipo de lugar estamos. Mas eu estava inconsciente quando cheguei aqui... você
sabe quanto tempo se passou desde então?

Shidou inquietamente retorceu as sobrancelhas e perguntou isso. Quando


ele e os outros chegaram naquele lugar, eles estavam à caminho da Fraxinus. Se
eles desperdiçarem seu precioso tempo, a base da Ratatoskr seria destruída ou
por Mukuro ou pelas garras demoníacas da DEM. Percebendo a ansiedade de
Shidou, Nia gentilmente descruzou os braços dele de forma em que acalmasse
sua inquietação.

— Bem, a pressa é inimiga da perfeição. Garoto, você precisa se acalmar


em horas como essa. O fluxo do tempo é menor nesse mundo, nada grave vai
acontecer nesse meio tempo.

— É-É verdade?

Suas palavras deram um pouco de paz para a mente dele. Nia voltou a
falar.

— Mesmo que isso seja uma coisa boa, nós ainda não temos ideia do que
precisamos para sair daqui, não podemos ficar parados.

— Isso mesmo, eu quase me esqueci. Como é que vamos sair daqui?

Nia cruzou os braços na altura do peito, confusa com essa questão.

— Bem... o único método que conheço é o Westcott reabrir a passagem


com o <Beelzebub>, mas...

— Hmm...

Shidou expôs uma expressão pesada. Não tinha como ele e seus amigos
confiarem suas esperanças no seu pior inimigo que tinha lhes capturado. Sem
contar que mesmo se Westcott fosse os liberar dali por algum motivo, isso só
aconteceria depois dele atingir todos seus objetivos mesquinhos.

123
— Fora isso... nós não temos escolha a não ser procurar algum personagem
que pode quebrar esse mundo por dentro. Entre esses protagonistas de contos de
fadas deve ter um herói com poderes onipotentes...

— E alguém assim existe?

— Sim, esse mundo consiste em todos os tipos de contos reunidos em um


mesmo lugar, sejam antigos ou novos. Não tenho certeza de qual pode nos
ajudar, mas tem que ter um, você não acha que ele estaria disposto a nos ajudar?

Shidou franziu as sobrancelhas ao ouvir a declaração de Nia. Ele estava


completamente ignorante em relação ao quão absurdamente grande esse mundo
era, seria como procurar uma agulha em um palheiro. Ainda assim, Shidou não
podia ficar parado sem fazer nada. Ele relaxou sua respiração e ergueu sua cabeça
decididamente.

— Resumindo, antes de tudo nós temos que encontrar todos. Kotori e as


outras devem estar por aqui em algum lugar.

— Un, é mesmo.

— Nesse caso, vamos começar. Seria inútil voltar se todos não estivermos
juntos.

Shidou disse isso com confiança enquanto os outros concordaram com ele.
Porém, Tohka estranhamente abraçou seu peito com ambas as mãos.

— Mas Shidou, como faremos isso?

— Uhm, isso...

Shidou estava sem saber o que responder a ela. Isso de fato era a coisa certa
a se fazer. Mas francamente, eles não tinham a menor pista de como fazer isso.
Shidou vexativamente se afundou em pensamentos. O lobo, que permanecia
quieto até aquele momento, ouviu atenciosamente a conversa deles e
vagarosamente ergueu sua pata.

— Sobre isso, vocês por acaso estão procurando seus companheiros que
vieram a esse mundo com vocês?

— Ah, isso mesmo.

Shidou respondeu perplexamente ao cortês lobo que tinha mudado


completamente de personalidade a pouco tempo atrás. O lobo altivamente bateu
no peito orgulhosamente e continuou.

124
— Então esse meu focinho será de grande ajuda. Como estrangeiros nesse
mundo, o cheiro de vocês é bem peculiar. Eu posso sentir esse cheiro e seguir os
rastros de seus amigos.

— S-Sério?

— Bem competente hein, lobo.

a expressão facial de Tohka brilhou vividamente enquanto ela acariciou a


cabeça do animal.

O lobo certamente queria agradecer a pessoa que o alimentou a tratando


como seu mestre, latindo alegremente.

— Então, vamos indo. Embora esteja fraco, eu sinto algo vindo de uma
pequena vila ao norte daqui.

— Estaremos contando com você.

Shidou colocou força nos dois pés e se levantou. Mas devido ao grande
uso, suas pernas cansadas logo tropeçaram por estarem muito fracas.

— Cuidado...

— T-Tudo bem com você, Shidou?

— Ahh, estou bem, só um pouco cansado.

Ao ouvir as palavras de Shidou, o lobo sentiu uma pontada de culpa e


abaixou as orelhas.

— Sinto muito, foi culpa minha. Deixe-me carregá-lo porquinho, como


uma forma de me desculpar.

— Não precisa chegar tão longe.

— Não não, não se preocupe. Venha, por favor entre em minha boca. Eu
sou do tipo que engole a presa toda de uma só vez, sem mastigar. Eu vou te
vomitar quando nós chegarmos, não se preocupe.

— .....

Shidou só conseguiu balançar a cabeça silenciosamente diante de uma


oferta tão assustadora.

♢♢♢♢

125
— ...-ri! Kotori!

— .... não.... tal coisa.

Sob sua consciência desaparecendo a cada segundo que se passava, Kotori


fracamente ouviu uma voz familiar.

No entanto, seu corpo não tinha estímulos o suficiente para esboçar


qualquer reação, e isso não se limitava a somente seu corpo físico. Até mesmo a
cognição de seu cérebro era incapaz de emitir alguma resposta. A única coisa que
governava o corpo adormecido de Kotori naquela hora era uma aprofunda
sonolência. Suas mãos frias e pés estavam congelando à ponto dela sequer os
sentir mais. Se ela se rendesse ao demônio do sono ela possivelmente não
acordaria mais. Mesmo que isso esteja bem claro em sua mente, Kotori não
mostrava o mínimo esforço para reagir. Somente um pequeno fio de consciência
permanecia nela, e ela caí pouco a pouco no buraco sem fim da sonolência, como
pequenos grãos de areia em uma ampulheta.

— Ah Shidou, chegou em boa hora, Kotori está congelando!

— Pedido. Isso é extremamente perigoso. Por favor, faça ressuscitação


cardiorrespiratória.

— ...Uah, acaricie seu peito logo de início. Você realmente é corajoso.

— Negligência. Em situações de emergência como essa não faz mal. Por


favor, envolva-a diretamente.

— ...O-O-O que está fazendo?!!

Kotori gritou estridentemente quando ela sentiu seus seios sendo


massageados. Ela instantaneamente abriu os olhos surpresa, somente para
descobrir que a pessoa que apaixonadamente apertava seus seios não era seu
querido irmão Shidou, mas as duas garotas com rostos idênticos.

— O que estão fazendo...? Kaguya, Yuzuru.

Kotori perguntou isso com olhos semicerrados. Elas olharam uma para a
outra e imediatamente se viraram para Kotori. Elas vestiam roupas simples e
rústicas e carregavam uma grande bagagem. Kaguya usava bermudas enquanto
Yuzuru usavam um vestido, mas tirando isso elas eram muito parecidas, devido
ao fato de serem irmãs gêmeas.

— Kuku, nós te enganamos direitinho, Kotori.

126
— Concordância. O nome de Shidou te desperta com grande eficácia
através do poder do amor.

As duas garotas que tinham massageado os seios de Kotori retiraram


vagarosamente seus dedos dali. Kotori rapidamente as empurrou para longe e
ficou de pé, mas caiu no chão por cansaço.

— A-alguma coisa errada?

— Preocupação. Você parece estar completamente debilitada.

— ...Realmente eu estou fraca.

Kotori exalou um ar nebuloso e fracamente olhou para as condições


miseráveis dos seus arredores. Sua localização atual era uma paisagem que
aparecia em contos de fadas, uma rua comum de um país estrangeiro. O
problema, porém, não estava aí, mas sim no clima terrível. Até onde seus olhos
conseguiam enxergar, tudo estava puramente branco. A neve sem fim cobria toda
a cena com uma cortina branco prateada. Sob esse clima severo, Kotori só estava
vestindo uma roupa gasta, sem qualquer tipo de proteção contra o tempo frio do
inverno. Era inevitável que seu corpo enfraquecesse. Ela olhou para dentro da
cesta em suas mãos, e encontrou uma pilha de palitos de fósforos.

— Fala sério... Eu estou parecendo A Menina dos Fósforos.

— A Menina dos Fósforos?

— Questão. O que é isso?

As gêmeas inclinaram suas cabeças na mesma direção e Kotori as


respondeu com um pequeno suspiro.

— É um conto infantil escrito por Andersen. Uma pobre garota tentava


vender palitos de fósforo na rua durante o inverno, mas ela não conseguiu vender
nenhum. Sem conseguir aguentar o frio, a garota acendeu os fósforos para se
aquecer... *atchim*.

Kotori espirrou no meio da estória. Mesmo que ela tenha sido revivida
pelas irmãs Yamai, sua situação terrível não melhorou muito comparado com
antes.

— Uma mudança de local parece apropriada. Aqui está frio demais.

— Consenso. Nós temos que sair da neve.

127
Kaguya e Yuzuru firmemente pegaram Kotori em suas mãos e a
carregaram sobre seus ombros, atravessando a estrada de neve. Depois de muitos
minutos, as três finalmente chegaram em um beco estreito. Naturalmente, o frio
ainda estava presente ali, mas o lugar era usado como depósito de sucata, então
ele as protegia do vento gélido ao menos. Graças aos grandes telhados das casas
ao redor, a neve não se acumulava ali.

— Ficar dentro de alguma casa seria melhor, mas podemos usar esse lugar
como alternativa.

— Aprovação. Se ao menos tivéssemos fogo.

Yuzuru disse enquanto olhava para o cesto de Kotori enquanto tinha uma
brilhante ideia. Kotori, que já sabia o que Yuzuru estava pensando,
reciprocamente tirou a caixa de palitos de fósforo de sua cesta.

— Mesmo que seja mercadoria, eu não posso fazer nada além de usá-lo
como a menina dos fósforos fez.

Kotori declarou enquanto tirava um palito de fósforo da caixa.

— A propósito, a estória está incompleta. O que aconteceu com a garota


depois daquilo?

— Ah, isso...

Kotori riscou o palito contra o lado da caixa para fricciona-lo e colocá-lo


em chamas. No momento seguinte, alucinações leves de uma sopa quente
apareceram, assim como frango frito e várias outras gostosuras apareceram no
espaço iluminado pelo fogo.

— Waa, que feitiçaria é essa?!

— Espanto. A comida apareceu do nada.

As irmãs Yamai arregalaram os olhos, espantadas. Kotori não foi exceção.


Mesmo que ela esteja na posição da menina dos fósforos, Kotori não esperava ver
esse fenômeno. Mas o palito só ficou aceso por um curto espaço de tempo. Depois
dele se apagar, aquela deliciosa ilusão desapareceu.

— Ah... sumiu.

— Admiração. Que evento inimaginável. Tem algo nesses fósforos que


incorrem nessas ilusões?

128
129
— Eu não acho que seja algo assim...

— Kotori deu um sorriso torto. Kaguya estava exuberantemente cativada


pelos fósforos restantes.

— Então o conto continua assim?

— Ah, bem... a garoto acendeu os fósforos e teve visões da felicidade que


nunca teve. Ela morreu pacificamente na manhã seguinte.

— Eh... mas que final triste.

— Sugestão. E se...

Yuzuru pensou em algo e rapidamente juntou alguns pedaços de madeira


que estava pela estrada para fazerem uma fogueira.

— Pedido. Kotori, acenda isso.

— Hã? Tudo bem.

Kotori rapidamente riscou um palito de fósforo e acendeu a madeira. A


fagulha logo se tornou em um fogo robusto. Proporcionalmente ao fogo, as
deliciosas ilusões de comida se manifestaram de novo, assim como um fogão
quentinho e um gentil e sorridente Shidou.

— Uwaah. Uma miragem?! Parece tão cheia de vida!

— Espanto. Até o Shidou está aqui, com certeza foi uma resposta ao
coração de Shidou.

— C-Cale-se... esqueça disso. Graças a Deus estamos aquecidas.

Usando os fósforos arbitrariamente para alimentar o fogo de alguma


forma mudou a atmosfera melancólica da menina dos fósforos, mas para
sobreviver elas precisavam se sacrificar. Não importa o quão alegre ou
melancólica o conto seja, fazer o papel do personagem principal e congelar até a
morte debaixo da neve sem fim não era uma opção. Para recuperar a temperatura
do corpo, a Kotori esticou suas mãos em direção ao fogo e seus dedos
recuperaram os sentidos. Como consequência, seu estômago soltou um ronco
baixo.

— Hm? Kotori, estás faminta?

130
Kaguya perguntou preocupada, fazendo as bochechas de Kotori ficarem
vermelhas de vergonha.

— Kun... O que posso fazer, está muito frio... Se pelo menos eu pudesse
comer alguma coisa.

Kotori ansiou enquanto estendia suas mãos para as trêmulas imagens.


Porém, as ilusões óticas eram somente imagens falsas, então Kotori só podia
agarrar o nada futilmente.

— Eu já deveria ter esperado isso...

Kotori sussurrou para si mesma cheia de dessatisfaçam. Simultaneamente,


Kaguya bateu as palmas das mãos enquanto teoriza sobre algo repentinamente.

— Ei, Yuzuru essa coisa de antes.

— Eureca. Nós possuímos aquilo.

— O que é?

Kotori torceu as sobrancelhas perplexa pela mudança sincronizada das


gêmeas. Afinal de contas, Kaguya e Yuzuru desamarraram a bagagem que
carregavam com elas, revelando um misterioso item para Kotori.

— Isso é...!

Kotori estava completamente pasma. O motivo era simples. O que Kaguya


e Yuzuru tiraram das bagagens era uma colorida variedade de biscoitos de
gengibre, doces e guloseimas.

— Vocês duas, onde conseguiram isso?

— Hm? Eu acordei junto com a Yuzuru em uma cabana. Nós exploramos


a floresta em volta dela e encontramos uma casa feita de doces.

— Explicação. Devido a fome, nós pegamos uma parte do teto e dos muros
da casa.

— Wha...

Kotori estava incessantemente estupefata com essa descrição, mas ela logo
entendeu que as circunstancias eram parecidas com as dela.

131
— Então vocês duas são João e Maria2.

— João e o que?

— Dúvida. Maria?

Ouvindo a gêmeas confusas, Kotori acenou com a cabeça em afirmação.

— Sim. É outro conto de fadas. Sobre dois irmãos gêmeos que foram
abandonados pelos seus pais e encontraram uma casa feita de doces na floresta.
Porém, vocês encontraram alguém vivendo ali?

Questionadas por Kotori, elas pareciam tentar se lembrar da sequência de


eventos que aconteceram e confirmaram com incerteza.

— Falando nisso, uma velha senhora nos convidou para entrar lá. Mas ela
parecia muito suspeita; então não demos a mínima para ela.

— Concordância. Então, ela ficou furiosa e correu atrás de nós


furiosamente.

— Kaka. Uma velha como aquela nunca teria uma chance contra as Yamai!

— Autenticação. Kaguya estava com tanto medo que ela se molhou


todinha quando viu que a bruxa estava atrás de nós, e chorou como um bebê
enquanto corria.

— Eu não fiz tal coisa!

— ........

Ouvindo os comentários delas fez Kotori sorrir, mesmo que forçadamente.


João e Maria tinham sido capturados pela bruxa no conto original, mas essas
gêmeas, não havia com o que se preocupar em relação a elas.

— Bem... o importante é que estão bem. Posso pegar um desses?

— É claro, coma o quanto desejar.

Assim, Kaguya se esticou e ofereceu alguns dos doces a Kotori, que


gratamente aceitou. Kotori com alegria pegou uma variedade de doces cheios de
calorias como uma barra de chocolate e rosquinhas açucaradas e os colocou na
boca, saboreando essas gostosuras cheias de açúcar. Mesmo que essas coisas
sejam os inimigos naturais de uma garota, elas eram necessárias na situação em

2
Na novel é tratado como Hansel e Gretel, que é a versão original, mas a estória é a mesma

132
que Kotori estava. Kotori poderia experimentar vibrantemente a suculenta
sensação de ter açúcar derretendo em sua boca. Ao mesmo tempo, seu corpo
inteiro era rejuvenescido, seus lábios eram nutridos com cada vez mais
carboidrato.

— Oh, eu queria que tivesse algum pirulito no meio disso... Não, não devo
dizer esse tipo de palavras.

— Entendi. Acho que vi um palito que não deveria estar vendo...!

— Espanto. Um pirulito ilusório.

Kotori não pôde deixar de fazer uma careta com esses comentários.

— O que estão dizendo...? Bem, obrigada por me salvarem, Kaguya,


Yuzuru.

— Kaka, não foi nada. Isso não é nada para as Yamai.

— Consenso. Nós devemos ajudar umas as outras em momentos de


dificuldade.

Enquanto as gêmeas expressavam sua camaradagem com risinhos, Kotori


levemente coçava sua bochecha envergonhada.

— Mesmo assim, aí não estamos muito longe de onde começamos. Mas


que mundo é esse... estamos presas dentro de um livro?

A última memoria que tinham era de um confronto feroz com Westcott na


base secreta da Ratatoskr, e de terem sido sugadas pelas páginas fantasmagóricas
de um livro gigantesco. Isso era sem dúvida uma habilidade demoníaca do Rei
Demônio <Beelzebub>. Mas elas ainda não tinham ideia de qual era sua situação
atual e o que deviam fazer.

— Resumindo, temos que achar um jeito de sair daqui.

Kotori resumiu enquanto Kaguya cruzou os braços na altura do peito.

— Mais fácil dizer do que fazer. Qual é o plano?

— Isso... não sei. Mas como viemos parar nesse mundo, os outros devem
estar por aqui também. Por enquanto, vamos nos juntar com todos e traçar uma
estratégia juntos...

133
As palavras de Kotori foram interrompidas. Sons discretos de cavalos
puxando carruagens atravessando a estrada chegaram aos seus ouvidos, junto
com o som de conversa de pedestres.

— ......Hoje está bem movimentado, o que está acontecendo?

— Não ficou sabendo? Um banquete vai acontecer no castelo real para


anunciar uma certa pessoa.

— Certa pessoa? E qual a importância disso, é algum filho bastardo do rei?

— Não... um servo do palácio que conheço disse que alguém capturou


uma sereia e quer oferece-la ao Rei. O Rei planeja fazer um leilão pela sereia.

— Sereia? Bobagem... desde quando algo assim existe?

— É verdade! Parece que a sereia não para de cantar "Querido, Querido".

— .........

Ao ouvir a conversa, Kotori e as outras se entreolharam com rostos


pálidos.

— ...O que acha?

— Err, uh...

— Dilema. Essa sereia me parece familiar.

Depois de vários segundos de silencio, as três inconscientemente ficaram


em pé juntas.

♢♢♢♢

Na ponte de comando da Fraxinus, um alarme que indicava situação de


emergência soou pela sala.

Uma cena urgente foi capturada pela câmera de vigilância e mostrada na


grande tela LCD. Nela aparecia também um mapa esquemático da base da
Ratatoskr estava marcado com vários pontos vermelho brilhantes, incitando o
caos entre os desordenados membros da equipe.

134
— Mesmo que as bombas áreas tenham parado, parece que um combate
armado se iniciou contra base!

— Sinais de wizards das Indústrias DEM e muitas unidades


<Bandersnatch> foram confirmados.

— Onde está a comandante e os outros?!

— Ela não está respondendo, mesmo eu tendo tentado entrar em contato


com ela diversas vezes!

— Como isso foi acontecer?! Aaaaaaaa, minha Misty-sama!

Toda a ponte de comando estava transbordando de lamentos da equipe.


No cantinho, Nakatsugawa colocou a figura de uma de suas waifus, o que devia
ser estritamente proibido como decoração no painel, devotadamente ele orou
para a estatueta com as palmas de suas mãos juntas como se tivesse fazendo um
pedido à Deus.

Mas aqui era realmente um problema. Como detectado pela inteligência


da Ratatoskr, as naves das Industrias DEM apareceram acima da base e lançaram
um ataque. Para os membros da Fraxinus, que estava conduzindo a manutenção
necessária para irem ao espaço, o ataque foi um golpe totalmente inesperado.
Para os mecânicos que estavam fazendo as reparações do lado de fora, foi ainda
mais inesperado.

— Hu... Hu...

Um dos membros da equipe, Shiizaki Hinako, tentou acalmar o seu


disparado coração ao colocar suas mãos nos peitos. Porém, quanto mais ela
pensava em se acalmar, mais rápido e violentamente o coração pulsava.

Então, os caracteres 《MARIA》apareceram em cada um dos monitores


pessoais.

— Hã?

Hinako arregalou os olhos de surpresa quando ela ouviu a voz da IA da


Fraxinus nos autofalantes de seu console de automação.

『Por favor, acalme-se, Hinako. Você vai perder se estiver com mais medo
que o inimigo durante uma situação dessas. Relaxe, siga o treinamento. Sem
problemas, você é fantástica e eu sei que você também sabe disso. 』

— É-É que... Entendido!

135
Hinako sussurrou respondendo ao aviso sincero de Maria. Atentamente
observando os arredores, os outros membros da equipe pareciam estar no mesmo
barco. Seus respectivos monitores brilharam e ela conversou com eles os
consolando. Todos ficaram tão espantados quanto Hinako e acabaram esfriando
a cabeça. Harmonizando com essa situação, a voz do Vice Comandante
Kannazuki reverberou pela ponte de comando.

— Sério. Como Maria disse, mantenham a calma. Onde está a notificação


da base?

— Entendido! Depois de localizar a Comandante da Fraxinus Itsuka e o


Shidou-kun, assim como os Espíritos, começaremos a operação <Zodiac>!

— Hm, muito bem. Vamos completar as preparações antes da


Comandante e os outros retornarem, assim como defender esse lugar.

Kannazuki os instruiu de maneira composta, o que fez a equipe responder


com um "Entendido" respirando profundamente.

Porém.

No momento seguinte.

Uma explosão alta pôde ser ouvida em toda ponte.

— Kuh...! Isso é...?!

Kawagoe gritou quando o monitor mostrou o visual do lado de fora da


Fraxinus. Inúmeras unidades <Bandersnatch> e wizards equipados com CR-
Units foram confirmadas no armazém. Parece que o inimigo finalmente chegou
ali.

— A parte de baixo da nave foi atingida! Por mais que os danos sejam
mínimos, as wizards inimigas invadiram o interior da Fraxinus!

A equipe sentiu um tremor.

— Droga! Se não acabarmos logo com eles...!

— Mas se uma batalha ocorrer no armazém...

A ponte de comando inteira ficou em alvoroço, somente ficaram em


silencio quando Kannazuki bateu as palmas das mãos.

136
— Eu tenho uma contramedida. Maria, erga o território da nave. Limite o
alcance para 50, e defina seus atributos para obstruir qualquer produção de poder
mágico.

『Entendido. Iniciando as bases do Realizer. Erguendo o Território. 』

Enquanto Maria começava o processo, sons baixos de destruição


ressoaram pelo interior da nave e um Território invisível se espalhou pela nave.
Em um instante, as várias unidades <Bandersnatch> dentro do armazém caíram
de repente, como marionetes que tiveram suas linhas cortadas.

— As unidades <Bandersnatch>!

— Aah, utilizando nosso território nós neutralizamos suas fontes de


energia mágica, essencialmente as deixando inativas.

— C-Como esperado do Vice Comandante!

Mikimoto elogiou, mas Kannazuki preservou uma expressão consciente


em vez de uma complacente.

— Porém.

Simultaneamente, outra explosão atingiu toda a ponte de comando.

— Isso só bloqueia territórios. Isso não faz nada contra humanos de carne
e osso e balas de metal.

— O qu...?

— Então é inútil! — A equipe gritou.

No momento seguinte, um som de *boom* ressoou, fazendo a porta da


ponte de comando abrir, e três wizards vestindo Cr-Units e com armas de fogo
nas mãos entraram na sala.

— Todos vocês, mãos acima da cabeça!

— Qualquer movimento suspeito e vamos atirar!

— Gaaah!?

Confrontando a inesperada série de eventos, Hinako não conseguiu


aguentar e gritou com as mãos levadas ao alto. Os outros membros da equipe
obedeceram às ordens inimigas fazendo o mesmo. Os wizards inspecionaram o
estado do local e olharam uma para o outro, falando em sussurros baixos.

137
— Heh~, então essa é a lendária Fraxinus?

— A nave que nem a Arbatel conseguiu derrubar foi neutralizada por nós
três, isso com certeza será um mérito para nós. Westcott-sama vai ficar muito
grato.

— Não fiquem tão cheios de si. Em vez de falar sobre coisas inúteis,
amarrem eles e desativem a IA da nave.

Foram as palavras do homem que parecia ser o capitão deles. Os outros


dois obedeceram imediatamente.

— Bem, vou amarrar eles então. Não se preocupe, Westcott-sama tem


muito apreço por vocês, não faremos nada de ruim com vocês.

O wizard descuidadamente segurava sua arma e se aproximou da refém


mais próxima, Hinako. Ele segurou suas mãos e a pressionou contra o chão.

— Ah...!

— Não resista. Temos ordens para capturá-los vivos, se possível.

O tom de voz do wizard era inflexível.

— ...ch.

Naquele momento, uma grande cabeça de tigre apareceu em cima de


Hinako e rugiu estrondosamente para o wizard.

— Uaaah?!

O wizard cambaleou pela repentina manifestação do tigre, e gritou


atordoado apertando o gatilho da arma. Mas a bala atravessou o tigre e atingiu a
parede, ricocheteando secamente. Foi então que ele percebeu que o tigre era um
holograma.

— O qu...?!

A atenção dos outros wizards foi atraída para o tigre, de forma que
Kannazuki conseguiu sorrateiramente fugir. O wizard que foi assustado pela
projeção do animal falso soltou um lamento abatido e caiu para trás ao perder o
equilíbrio.

— hã...? Ah...

138
Sem demora, Kannazuki instantaneamente entendeu como os eventos
poderiam favorecê-los e, numa velocidade que olhos nus não poderiam ver, ele
chutou a mandíbula de baixo do wizard.

— Muito bem feito, Maria. Eu vou limpar sua unidade de locomoção como
recompensa.

『Nojento, Kannazuki. 』

Maria respondeu friamente às palavras de Kannazuki. Os estupefatos


wizards miraram suas armas para eles enquanto recuperavam sua compostura,
porém foram lentos demais.

— Seu merdin...!

— Não resista....!

E antes de seus dedos pressionarem os gatilhos...

— Ah... Aaaaaaaaaaaaaaaaah!!

Os prantos desolados de Nakatsugawa ecoaram pela ponte de comando.

— O-O que aconteceu?!

Seus lamentos angustiados repentinos fizeram com que a atenção dos


wizards se voltassem a ele, assim como a mira de suas armas, mas Nakatsugawa
parece não ter percebido isso e continuou a soluçar tristonhamente. Em suas
mãos estava o motivo de sua tristeza. Por azar, a bala que antes ricocheteou na
parede atingiu o objeto que estava atualmente nas palmas de suas mãos,
destruindo sua parte superior.

— Malditos... malditos, malditos, malditos!! Como ousam fazer isso à


minha Misty!!!

Nakatsugawa chorou lágrimas de sangue enquanto impetuosamente


correu em direção ao wizard que apontava a arma para ele, cheio de fúria e
ressentimento. Polidamente falando, o corpo de Nakatsugawa não era muito
magro, ele poderia ser considerado um projétil humano, literalmente.

— Kuh...?!

O wizard mirou nele e apertou o gatilho, a bala atingiu os ombros de


Nakatsugawa e sangue jorrou de lá. Mas ele pareceu não sentir nenhuma agonia

139
e continuou sua investida cheio de fúria até ele atingir em cheio o wizard,
derrubando o no chão.

— Kuheh!

A cabeça do wizard atingiu com tudo o cão, fazendo o gritar de dor. Ainda
assim, Nakatsugawa Não parou e esmagou o wizard com o peso de seu corpo, o
nocauteando.

— Gaaaah!

— Eu... puuhh...

Não há uma diferença muito grande entre uma pessoa comum e um


wizard que teve seu território desabilitado. Aquele que foi atacado por
Nakatsugawa desesperadamente protegeu sua cabeça com as mãos. Vendo isso,
o último wizard apontou sua arma para o corpo de Nakatsugawa. A distância
entre eles era de aproximadamente 10 metros; entretanto, Nakatsugawa era um
alvo estacionário. Um wizard experiente poderia facilmente atingi-lo em cheio
com muita precisão.

— Uu!

Em instantes, Hinako retirou um boneco de vodu de seu sutiã e


rapidamente recitou um encantamento enquanto segurava firmemente o boneco.

— Uaaah!?

O wizard que carregava uma arma em sua mão proferiu com uma voz
intrigada, como se tivesse sido amaldiçoado pelas artes obscuras de Hinako.
Kannazuki não deixou a oportunidade escapar e explorou a fraqueza temporária
do wizard e avançou até ele, chutando a arma em sua mão para longe. Sua
ofensiva não parou ai, usando suas mãos ele vigorosamente estrangulou o
pescoço do wizard até nocauteá-lo por falta de oxigênio.

Todo esse processo não durou mais de três minutos. Dentro desse
pequeno período de tempo, a crise que assolou a Fraxinus foi neutralizada
totalmente.

— Ha, tudo resolvido.

Kannazuki disse isso enquanto flexionava os braços. Todos, menos


Nakatsugawa, soltam um suspiro de alivio.

— Ha... Eu pensei que era nosso fim.

140
— Isso fez mal para o meu coração... Ah, Nakatsugawa-kun, esse cara já
está inconsciente, então pode parar agora.

Minowa disse ao Nakatsugawa, que choramingou e cedeu.

— Uu, Misty.... Eu sinto muito, Misty....

Como se ele finalmente se lembrasse que seu ombro foi atingido pela bala,
Nakatsugawa gritou de dor enquanto rolava no chão.

— Ahh, meu ombro! Isso dói! Uaah! Uaah!

— Caramba, não fica se mexendo muito! Analista Murasame, posso deixa-


lo aos seus cuidados?

— Ah, eu vou parar o sangramento. Parece que a escápula foi fraturada.


Um Realizer médico deve servir. Remova sua jaqueta antes.

Reine começou os primeiros socorros ao Nakatsugawa. Repentinamente,


Maria disse.

『Pessoal, bom trabalho. Por favor, recolham as armas e unidades Realizer


dos wizards enquanto eles ainda estão inconscientes, e prendam eles. Além disso,
Nakatsugawa e Shiizaki. 』

— O-O que foi?

Os dois que tiveram seus nomes inesperadamente chamados levantaram


suas cabeças de curiosidade.

『Eu acabei de notar uma importância estratégica no uso de figures e


bonecos. Eu irei rever o caso da permissão para a presença de tais objetos na
ponte de comando. 』

♢♢♢♢

— Atchim! Atchim!

Nia espirrava repetidamente de forma grosseira sem nenhum pudor,


Shidou meramente forçou um sorriso torto.

141
— Tipo. Qual é a desse lugar, é tão frio...

Com essa reclamação, Nia cobriu o rosto com sua longa capa preta e
seguramente abotoou as golas. Suas ações eram compreensíveis, como Shidou e
o grupo atravessavam uma perigosa cadeia de montanhas sob a orientação do
lobo. Mas quando eles chegaram em uma pequena vila, a estação, o tempo, e até
mesmo todo o conceito de tempo se transformou totalmente em questão de
segundos.

Uma cortina de neve branco prateada cobria todo o lugar, e o céu negro
não parava de nevar. O caminho solitário era dubiamente iluminado por alguns
poucos lampiões, criando uma pitoresca cena que amplamente se parecia com o
de uma pintura. Tal paisagem era daquelas que só poderia existir em
determinados tipos de contos.

— Ei Garoto, você ainda tem sua fantasia de animal?

— Não tenho mais. Mas você já não está vestindo um casaco? Tohka e
Yoshino, vocês estão bem?

— Un, estou bem.

— Sem p-problema, estou acostumada com o frio.

As duas balançaram a cabeça em resposta, Nia exageradamente espirrou


novamente.

— Tão frio, droga. Vamos achar a Imouto-chan rápido e ir para algum


lugar quente...

Shidou mudou sua linha de visão para o grande castelo localizado bem no
final daquela rua. O lobo, que estava convenientemente liderando eles, tinha se
separado do grupo antes deles entrarem na área residencial. Não importa como,
era simplesmente suspeito entrar com um animal tão grande na cidade daquele
jeito. Isso traria uma comoção indesejada.

Para falar a verdade, os aldeões e os viajantes que estavam naquela cidade


já estavam admirados com as vestes estranhas de Shidou e seu grupo, como se
eles fossem estrangeiros de algum lugar bem distante. Afinal, eles eram um
bando de pessoas com aparência bem distinta com a dos cidadãos locais. Mesmo
que eles não façam nada, ainda fica aquela sensação de desconforto entre eles.

— Resumindo, vamos logo para o castelo. Nós não temos nenhuma outra
pista de qualquer forma.

142
Todos separadamente expressaram sua aprovação à sugestão de Shidou.
Ele acenou de volta para elas, e resolutamente avançou em direção à estrada
principal. Sem saber por quanto tempo andaram, Shidou e os outros logo
pararam seus passos quando chegaram ao castelo. O motivo era simples. Um tipo
de briga estava ocorrendo na frente do castelo.

— Isso é...

Shidou olhou para o lugar de uma distância segura. Parecia que um


homem que parecia ser um guarda do castelo estava forçadamente sendo
interrogado por três jovens garotas. Elas pareciam ser...

— Kotori! Kaguya! Yuzuru!

Shidou chamou as garotas pelo nome, e o trio instantaneamente se virou


em resposta.

— Shidou! Tudo bem com você? Por que estão usando essas roupas...?

As expressões de Kotori mudaram quando ela viu as roupas do grupo


enquanto Shidou acelerou seu passo e correu em direção à sua querida irmã.

— Estou feliz que também esteja bem... O que está acontecendo aqui?

— Como pode ver, alguém no castelo conhece uma sereia.

Kaguya respondeu enquanto cruzava os braços em descontentamento.

— Sereia?

— Aah, uma criatura rara que canta ininterruptamente "Querido,


querido".

— E-Entendi.

Shidou, enquanto suava profusamente, se convenceu de que conhecia


aquela sereia.

— Porém, esse idiota que se acha um guarda não entende a língua


humana.

— Desprezo. Ele não deixa Yuzuru entrar no castelo.

O soldado fez uma expressão solene ao ouvir as palavras das irmãs Yamai.

143
De forma alguma deixarei que patifes como vocês entrem! Uma festa de
prestígio está sendo realizada no castelo hoje com nobres e cidadãos de elite como
convidados. A plebe como vocês não está autorizada a entrar!

— O que você disse com essa sua boca imunda?! Como ousa um miserável
como você ignorar minha magnanimidade?!

— Indignação. Julgando alguém por sua aparência é totalmente


desrespeitoso.

— Vão pro inferno! Esses caras que acabaram de chegar parecem ainda
mais suspeitos! Vão embora ou eu vou jogá-los na prisão!!

A voz do guarda ficou mais ríspida e ele balançou sua mão expulsando
Kotori e os outros. Sua descrença cresceu ainda mais com a aparição de Shidou e
seu grupo.

— Se continuar assim, não vamos conseguir entrar no castelo.

— Mas não podemos simplesmente ir entrando. Quer tentar invadir?

— Não, fazer o guarda desmaiar vai ser mais rápido.

— Concordância. Boa ideia.

Enquanto Kotori e as irmãs Yamai discutiam seus atos maldosos, o


temperamento do guarda ficou ainda pior.

— Eu ouvi tudo isso, seus vilões vis! Já basta. Guardas...

Naquele momento, o som de carruagens pôde ser ouvido vindo de trás


deles, e o guarda não pôde deixar de interromper sua frase abruptamente
enquanto arregalava os olhos chocado.

— Hm?

Shidou sentiu um frio na espinha ao olhar para trás, percebendo o motivo


para a agitação do guarda. Galopando graciosamente na estrada que levava ao
castelo estava uma majestosa carruagem que era conduzida por corcéis de pelo
branco brilhoso. A carruagem resplandecente seguia gloriosamente, iluminada
pelos lampiões. Era um veículo leve que parecia ter saído do mundo dos sonhos.

Shidou e os Espíritos, que intensamente olhavam para aquela figura


etérea, estavam cativados em profundo silêncio. Como todos os olhos focando
nela, a carruagem foram desacelerando vagarosamente até parar em um ponto

144
fixo próximo aos portões do castelo. O cocheiro então desceu e respeitosamente
abriu o compartimento principal, revelando uma mulher elegante. Ela vestia um
vestido de festa com um brilho como se fosse de pedras preciosas que só servia
para realçar sua beleza. Além disso, ela estava vestindo um brilhante par de salto
alto. Sob tais circunstancias, o guarda, assim como todos os presentes, prendeu a
respiração admirados pela graciosa presença que parecia ser uma verdadeira
deusa.

— Ah.

Mas somente Shidou e os outros que vieram de outro mundo sabiam sua
identidade. Ela era de fato muito bonita e chamava a atenção de todos. Mas na
verdade aquela garota era a...

— Natsumi?!

Um Espírito que também foi sugado para aquele mundo com Shidou e os
outros.

— Ara, Shidou, pessoal, como vocês estão?

Natsumi, que usava um vestido lindo, os cumprimentou. Embora ela


claramente fosse Natsumi, suas proporções não eram as da Natsumi normal. Seu
charmoso cabelo comprido foi obviamente recriado por <Haniel>.

— O que aconteceu, Natsumi? Essa aparência... você consegue usar seu


anjo?!

Kotori perguntou à Natsumi, que balançou sua cabeça em negação.

— Uun, um mago apareceu diante de mim e mudou minha aparência.


Estou linda, né?

Natsumi deu uma pirueta rápida e mostrou sua beleza, fazendo Shidou e
Kotori se entreolharem como se um soubesse o que o outro estava pensando.
Parece que Kotori teve uma leve ideia do conto de fadas que Natsumi
representava. Por outro lado, Natsumi, a pessoa em questão, pareceu não notar
isso e meramente encarou o guarda.

— Olá guarda-san, pode me deixar entrar?

— Sim senhorita! Por favor entre como desejar!

145
Em uma atitude totalmente diferente comparada com a que teve com os
demais, o guarda abriu caminho. Vendo esse tratamento preferencial, Kaguya
bufou em dessatisfaçam.

— Seu canalha! Duas caras!

— C-cale-se! Como VOCÊ pode se comparar a uma nobre como ela?! —


Refutou o guarda. Como se ela tivesse percebido a situação atual, Natsumi
moveu as sobrancelhas.

— Ara, Kaguya e os outros querem entrar no castelo também?

— Aah, sim, mas esse imbecil está bloqueando o caminho.

— Hmm... então é isso?

Natsumi disse isso de forma sedutora e usou os dedos para acariciar o


queixo do guarda.

— Eles estão comigo; pode deixar eles entrar também?

— Hã?! Mas isso...

O guarda disse enquanto prendia a respiração, intoxicado pela beleza de


Natsumi que misticamente relaxava seus lábios.

— Ne~, por favor~.

— Tudo bem, podem entrar...

Naquela hora, um relógio gigante localizado na torre do castelo badalou


enquanto o ponteiro das horas se moveu para o número doze. Acompanhando o
som dos sinos, o corpo de Natsumi gentilmente emitiu um brilho pálido e
diminuiu para o tamanho normal.

— Hã?!

Não somente seu corpo diminuiu, mas seu vestido mudou para uma
roupa gasta e a carruagem em que ela veio se tornou uma abóbora laranja.

— Hã? O que está acontecendo aqui?!

Natsumi, cujo tamanho diminuiu para quase a mesma altura de Yoshino,


estava perturbada com os eventos que foram diferentes do que ela queria e
rapidamente se examinou. Shidou deu uma olhada para o relógio, e

146
imediatamente fez uma conexão com a mudança de aparência de Natsumi e o
horário.

O relógio marcava meia-noite. Em outras palavras, era a hora em que o


feitiço da Cinderela terminava.

— .....

O guarda que tinha sido seduzido por Natsumi momentos atrás fez uma
expressão sinistra, olhando para a pequena Natsumi. Assustada por ele, Natsumi
timidamente se escondeu atrás de Yoshino.

— Vadia! Como ousa me enganar com uma feitiçaria tão repulsiva?! Você
não vai passar por mim nem que eu morra!!!

O guarda continuou encarando Natsumi hostilmente, bloqueando com


vontade o caminho para o castelo. Parecia que a revelação só serviu para agravar
sua postura. Mas Shidou não podia simplesmente abandonar as esperanças dessa
forma; portanto, ele recuou poucos passos e conversou com os outros em um
volume em que o guarda não podia ouvi-los.

— Isso está ficando problemático... Temos que achar uma solução rápido.

— Mas... o que podemos fazer?

Yoshino perguntou enquanto torcia a sobrancelha em um formato de "V".


Então, Nia ergueu o dedo com uma interjeição de *ah*.

— E se nós lidássemos com ele como lidamos com o lobo, alimentando ele
com os bolinhos do Momotarou? Ele não funciona com cachorros, macacos e
pássaros? Humanos e macacos não tem muitas diferenças entre si, então vai que
funciona?

— Não, mesmo se fizermos isso, nós já estamos marcados como suspeitos.


De forma alguma ele comeria algo que déssemos a ele. Será que ele vai nos deixar
passar se trocarmos para uma roupa mais descente como a que Natsumi usava
antes?

Kotori tinha uma expressão intrigada em seu rosto quando Shidou deu
essa sugestão.

Mas como conseguiremos essas roupas? Desculpa, mas eu não tenho um


tostão comigo. Eu quase congelei até a morte por causa disso. Eu só tenho alguns
pedaços de bolo e fósforos...

147
Kotori parecia ter pensado em um método que podia funcionar quando
interrompeu sua fala e segurou o queixo.

— Un? O que foi, Kotori?

— ...pessoal, podem vir aqui por um momento?

Quando ela levou todos para longe do castelo, o guarda deu um suspiro
de irritação e balançou os braços como se estivesse expulsando um vira-latas.

— Ei, onde estamos indo, Kotori?

— Não importa, só venham.

Kotori seguiu pela estrada por um tempo e entrou na vegetação que tinha
algumas madeiras velhas encostadas. Ela rasgou a parte de baixo de seu vestido
e enrolou o tecido na ponta da madeira, fazendo um tipo de tocha.

— Isso é...

—Se eu tivesse um pouco de óleo para embeber nisso... pelo menos assim
deve durar por tempo o suficiente.

Kotori disse isso enquanto encolhia os ombros em desapontamento. Ela


então tirou um palito de fósforo da caixa e cantarolou algo com os olhos fechados,
acendendo a tocha. As roupas de Kotori, depois de serem iluminadas pela chama,
se transformaram em um brilhante vestido vermelho.

— Uah! Isso é...!

Shidou exclamou admirado. As irmãs Yamai bateram palmas


ovacionando.

— Então é isso! As Miragens da Menina dos Fósforos!

— Compreensão. Isso de fato parece realista.

Com isso dito, até mesmo as roupas de Kaguya e Yuzuru mudaram


instantaneamente para esplêndidos vestidos, cheios de elegância e glamour. Não
somente delas, mas de todos os Espíritos que estavam sob a luz da tocha tiveram
suas vestes mudadas para lindas roupas que pareciam as de nobres ricos e
renomados.

— Oh! Incrível!

— Tão... lindo.

148
Os Espíritos vociferam surpresos. Mesmo que não entendam as mecânicas
desse fenômeno, era o suficiente para enganar os olhos do guarda. Porém, a testa
de Shidou suava de ansiedade enquanto olhava para si mesmo.

— Por que eu também estou usando um vestido...?

Isso mesmo; até Shidou teve suas vestes mudadas para um lindo vestido.
Ele usava até mesmo maquiagem, seu cabelo chegava até a cintura. Sua aparência
era a de sua contraparte feminina, Shiori-chan.

— Eu acho que como garota é mais garantido de te deixarem entrar na


festa. Por acaso o príncipe não está procurando por uma esposa? Sem ofensas.

— É sério isso?

Shidou perguntou incrédulo. Porém, Kotori respondeu desdenhosamente


com seu usual *isso, isso*.

Embora com algumas inconveniências, Shidou não tinha escolha. Ele


suspirou profundamente e seguiu Kotori para o castelo com determinação.

149
Capítulo 5 - Herói
— Ooh!

Tohka, cujo semblante deslumbrante foi espetacularmente aperfeiçoado


pelo fenômeno das miragens dos fósforos, abriu bem seus olhos cintilantes
enquanto observava o interior do saguão para assuntos especiais do castelo. Ela
não era a única, as irmãs Yamai e Yoshino também visivelmente mostraram seu
entusiasmo enquanto inspecionavam a corte semelhante a uma galeria
maravilhadas.

Mas é claro que só podiam ter esse tipo de reação. Shidou e os outros
Espíritos estavam atualmente localizados dentro do ricamente suntuoso saguão
dentro do castelo: um lugar que só podia nos contos de fada.

O lustre de cristal que brilhava gloriosamente como diamantes raros


perfeitamente complementava o tapete de vermelho vivo que impecavelmente
não tinha defeitos. Mesmo os pilares de mármore e as elevadas escadas foram
feitas com um toque requintado que faria as mansões de qualquer aristocrata
passarem vergonha. Acima da grande mesa de carvalho, que poderia facilmente
ser confundida com uma mesa comum por ser usada em cerimônias tradicionais,
estavam luxuosos quitutes e comidas gourmet exóticas.

A maioria das pessoas reunidas ali eram de famílias nobres ou


descendentes de renomados artesões e estudiosos. Todos ali usavam vestes de
alta classe trocavam gracejos um com os outros.

Shidou e os outros se inspiraram profundamente na inspiração repentina


de Kotori e finalmente invocaram o guarda do castelo. Apesar disso, o guarda
ainda suspeitava deles. Eles eram um grupo de pessoas que vestiam farrapos e
de repente reaparecem usando roupas elegantes. Isso realmente era estranho e só
fez eles ficarem mais suspeitos, especialmente pelo fato do guarda ter
memorizado seus rostos vagamente, mas foi só isso.

— Ah pessoal, eu sei como se sentem, mas não se afastem muito. Se forem


para longe do alcance das chamas, sua verdadeira imagem vai ser revelada.
Especialmente você, Tohka. Você vai se tornar o personagem mais conhecido do
Japão em um instante. Sem contar que trazer uma katana para uma festa dessas
não vai pegar nada bem.

Kotori informou eles enquanto erguia a tocha.

150
— Umu! Entendi!

Tohka respondeu com muita vitalidade.

Porém, segundos depois, perto de Tohka, as irmãs Yamai


desafiadoramente saíram do alcance da luz das chamas.

— Uohh?!

— Predicamento. Que infortúnio.

Os lindos vestidos de Kaguya e Yuzuru instantaneamente voltaram a ser


roupas velhas que usavam antes. As duas gritaram perplexas e rapidamente
balançaram o corpo como ginastas treinadas, coordenadamente pulando para
trás depois disso.

Apesar do fato de que poucos participantes tiveram sua atenção atraída


pelos gritos das irmãs Yamai. João e Maria não foram vistos por ninguém devido
à brevidade de seu ato. Observando a volatilidade dessa cena, Kotori suspirou
de forma bem depreciativa.

— Sério, eu não acabei de falar para tomarem cuidado? Não seria fácil nos
infiltrarmos nesse lugar.

— D-Desculpa...

— Desculpa. Serei cautelosa daqui em diante.

Desanimadas, as duas reverentemente abaixaram suas cabeças para


expressar seu remorso. Kotori só pôde encolher seus ombros sem fazer mais
nada.

— Muito bem... de qualquer forma, onde está a dita princesa sereia?

— Uu... Não consigo ver nada parecido com isso por aqui.

Bem quando Shidou afiadamente olhava ao redor do imenso salão, uma


figura anônima pôde ser vista se aproximando dele por seu ponto cego.

— Boa noite, linda senhorita.

— Ah?

A inesperada saudação fez com que Shidou direcionasse sua visão para o
dono da voz. Diante de seus olhos estava um confiante jovem vestindo uma
roupa de gala.

151
— Me concederia uma dança?

O jovem sorria gentilmente e estendeu sua mão referencialmente. Vendo


isso, Shidou olhou na direção de Kotori.

—Haha, ele está te convidando para dançar. Você está sendo bem
desejada, Kotori. Onii-chan vai ficar com ciúmes.

Então, o jovem balançou sua cabeça em negativa e olhou diretamente para


Shidou enquanto abria a boca.

— N-Não me referia à senhorita ali, mas sim a você.

— ...Ah?

Ao ouvir as palavras do jovem. Shidou ficou perplexo. Mas ele


prontamente viu que sua aparência foi transformada na bela Shiori-chan por
causa dos fósforos da Kotori. Porém, Shidou não tinha interesse algum em dançar
com outro homem. Fora isso, se ele acidentalmente saísse do alcance da luz da
chama acesa pelos fósforos, ele voltaria imediatamente à aparência original. Esse
tipo de coisa não poderia acontecer nem mesmo com a Cinderela.

— ...Com ela não?

Shidou, suando frio, apontou para Kotori, enquanto o jovem encolheu os


ombros como se dissesse "Está brincando?".

— Mas que donzela bem-humorada, mas aquela senhorita ali não pegaria
muito bem. Viu aquele bolo delicioso em cima da mesa? Por que não vai pegar
alguns pedaços?

O jovem ridicularizou Kotori, como se tivesse falando com uma criança.


Em menos de um segundo, veias azuis saltaram em sua testa furiosamente.

— O-O que disse?!

— E-Ei, acalme-se, Kotori.

Sem querer causar um tumulto ali, Shidou se apressou para segurar os


ombros de sua furiosa irmã. Naquele exato momento, uma mulher que parecia
ser a mestra de cerimonias surgiu no grande palco situado no salão,
verbosamente fazendo um discurso para todos os convidados presentes.

— Com a sua atenção, por favor. Em instantes, nós teremos o privilégio de


testemunhar, pessoalmente, a rara "serenata encantada" da princesa sereia!

152
Ao ouvir suas palavras, todo o salão se animou de forma exuberante. Até
mesmo o jovem que tinha convidado Shidou para uma dança estava com sua
atenção totalmente voltada para o palco com ânimo.

— V-Vamos, Kotori. Esse é nosso objetivo, vamos procurar uma posição


melhor.

— Hmph, tudo bem. Vamos pessoal.

Kotori não hesitou em descaradamente mostrar uma expressão ressentida


enquanto acenava com a cabeça para todos se moverem com ela. Em seguida, as
cortinas do palco foram abertas vagarosamente, pouco a pouco. Em instantes,
todo o saguão foi preenchido por suspiro e gritos de animação.

— Uau...

— Uma sereia de verdade!

— Tão linda...

O cenário teatral foi feito para imitar a costa marinha. O palco estava
decorado com água e uma praia, assim como algumas pedras jogadas ali e aqui.
Em cima de uma das pedras estava uma garota adorável cujo exterior do corpo
era o de um peixe da cintura para baixo. Ela tinha um cabelo úmido e usava
roupas de banho feitas de conchas polidas; pele macia brilhante e um par de olhos
mareados. Isso era autoexplicativo; ela era a completa epítome da Princesa Sereia
dos contos de fada.

Porém.

— Kyaa..?! Onde estou?! Onde está o Querido!? Onde todos foram parar?!

Ela era um Espírito que também tinha sido engolido para aquele mundo
junto com Shidou e os outros, Miku.

Miku aleatoriamente balançou sua calda enquanto gritava


cacofonicamente. Sua beleza era incomparável, de várias formas.

— Acalme-se, você tem público.

— Mesmo que diga isso...

Miku enrugou as sobrancelhas de indignação e disse isso envergonhada.


A mestre de cerimonias então continuou a sussurrar no ouvido de Miku.

153
— Agora resistir será inútil, você foi comprada pelo nosso generoso Rei.
Você deve servir ao rei cantando uma música. Eu ouvi que sereias tem uma voz
maravilhosa, então deixe que nossos convidados que vieram de terras distantes
se deleitem com sua magnifica cantoria.

— Eu me recuso! Mesmo que minha voz seja a melhor, eu não posso


aceitar a servir uma produtora ou Rei que eu não conheço! Eu não canto para
quem não tem nada a ver comigo!

Miku gritou enquanto arbitrariamente virou sua cabeça para o lado.

A recusa desafiadora de Miku fez um alvoroço no público do saguão. A


mestre de cerimonias, que achou que não deveria permitir tal atitude rebelde em
frente ao público, encarou incisivamente e furiosamente para Miku.

— Você é propriedade do castelo agora, se você não for obediente, o Rei


não vai gostar nadinha disso.

— Hmph! Eu não ligo!

— Bem, não posso fazer nada quanto à isso. Uma sereia que não canta não
serve para nada. Pode ser que vire a sopa de amanhã.

— Waah! A Miku gosta de cantar!

Com medo de virar sopa de peixe. Miku deu um sorriso forçado. Ao olhar
tudo isso, Shidou deu um sorriso forçado de canto.

— Capturada de novo, hein... Miku.

—Un. Parece que ela está bem presa no papel de Princesa Sereia... É assim
que a história acontecia?

Kotori estava completamente confusa com o andar dos eventos,


respondendo ao Shidou enquanto inclinava a cabeça para um dos lados.

Nesse caso, eles não vão deixar Miku virar sopa daquele jeito, ela já estava
cantando de forma cabisbaixa, então Shidou e os outros avançaram alguns passos
para frente em direção do palco. Nesse momento, Miku finalmente percebeu a
presença deles e abriu seus olhos, cheios de esperança.

— ...Querido! Pessoal! Tudo bem com vocês...?

— Sim, estamos bem. Nós ouvimos que havia uma princesa sereia nesse
castelo então viemos ver do que se tratava...

154
— Ah...! Onde acharam vestidos tão bonitos?! E Darling virou a Shiori-
san!? Ah! Ah! Eu quero ouvir todos os detalhes!!!! Vocês fizeram algum registro?!

Ela parecia um peixe que tinha acabado de ser devolvido para a água. Os
olhos de Miku brilhavam enquanto ela batia sua calda na superfície da água sem
parar. Embora sua vivacidade não fosse prejudicial, toda essa questão não havia
sido resolvida ainda. Shidou abriu os braços para acalmar Miku.

— A-Acalme-se... De qualquer forma, como você acabou assim?

Shidou perguntou com suor escorrendo de sua testa.

— Eu já estava assim quando acordei no oceano. Quando eu estava


procurando por todos, uma bruxa malvada se aproximou de mim e ofertou me
transformar em humana em troca da minha voz.

— Oh, então foi isso que aconteceu.

Shidou acenou com a cabeça em concordância para o relato de Miku. De


fato, a história que ela contou bate com o do conto de fadas Princesa Sereia 1.
Impressionante, porém, a princesa sereia acabou se apaixonando à primeira vista
por um belo príncipe na terra firme e procurou a bruxa para se tornar humana.
Ao menos era isso o que acontecia no conto.

— Mas, se você ainda é uma sereia, isso quer dizer que...

— Isso mesmo. E não é que aquela malvada queria roubar minha voz?
Quando eu neguei e tentei ir embora, ela ficou me atazanando! Então eu acertei
ela com minha calda e nadei para longe.

Miku disse com um sorriso no rosto.

Shidou seguiu ela e riu com um longo *ahaha*. Mesmo que a bruxa não
soubesse nada sobre Miku, fazer esse tipo de proposta era uma tolice tremenda.
Miku era uma popular Idol e uma cantora talentosa; para ela, cantar era igual à
viver. De forma alguma ela aceitaria uma troca dessas.

— Mas... quando eu tentei encontrar vocês neste estado, eu fui pega pela
rede dos pescadores na praia...

Shidou entendeu sua situação e acenou com a cabeça. Verdade, sua


aparência fazia com que fosse difícil para ela escapar em terra firme. Enquanto

1
nota: também conhecida como pequena sereia por causa da Disney.

155
ele e Miku conversavam, a mestre de cerimonias encarou Shidou e os outros e
começou a levantar uma objeção.

— ...Monsieur, algum problema com a sereia?

— Ah, é algo do tipo. Ela na verdade é nossa amiga, podem soltar ela? —
Pediu Shidou sem rodeios.

— Amiga... a sereia? Acho difícil de acreditar. Mesmo que seja verdade,


ela agora pertence ao Rei. Eu não posso aceitar seu pedido, por favor, desista.

A mulher respondeu em tom pomposo.

— C-Como pode ser tão ignorante? E a vontade própria da Miku?

— Não importa que tipo de criatura seja, ela não tem vontade própria se
pertencer ao rei.

A sombria anfitriã os avisou de forma desoladora, fazendo com que os


Espíritos atrás de Shidou ficassem ofendidos com suas palavras e a dirigissem
olhares penetrantes.

Uu... não precisava ser tão rude.

— I-Isso mesmo...! Miku-san não é um objeto para ficar de amostra!

— Ah mas, uma frase como "Você é minha, não tem o direito de recusar"
é algo comum em mangás Shoujo. Tocante né? Na minha opinião, isso depende
de quem fala. Garoto, tente dizer isso.

— Não faça as coisas ficarem ainda mais complicadas, cala a boca Nia.

Natsumi disse desanimadamente, fazendo Nia dar risinhos.

— .....

A anfitriã enrugou as sobrancelhas de irritação pelas repostas delas e bateu


as palmas das mãos algumas vezes.

— Guardas! Essas senhoritas devem se retirar agora. Por favor, as


acompanhem até a saída prudentemente.

Imediatamente, um grande número de guardas atendeu ao seu chamado


e cercaram o grupo, fazendo um tumulto ressoar pelo saguão.

— Ei.....!

156
— O quê? Ousam perturbar a paz?

— Desafio. Seremos forçadas a usar a força.

As irmãs Yamai franziram o cenho de forma impiedosa. As duas adotaram


posição de combate, se inclinando para frente como se estivessem preparadas
para matar a qualquer instante. Os guardas ficaram ainda mais alertas e
assumiram uma formação de círculo.

— Haha, vocês têm colhões. Muito bem, aqueles que avançam sem medo
para a Morte, venham! Mesmo sem nossos anjos, não perderemos para escórias
como vocês!

— Pedido. Permitam que Yuzuru e Kaguya comecem a abrir um caminho


sangrento. Enquanto isso, o restante cuida da Miku.

Shidou estava com um olhar amargurado. Ele era contra o uso de


violência, mas no estado em que as coisas estavam, isso já era irreversível.

— Uh... Acho que não temos escolha. Pessoal!

— Ooh!

— Muito bem!

Os Espíritos coletivamente fizeram seus gritos de guerra. Tohka


desembainhou sua lâmina e Nia habilidosamente recarregou suas pistolas
duplas. Porém, por causa dos fósforos mágicos de Kotori, essas armas mortíferas
tomaram a aparência de inofensivos buquês de flores. Ainda assim, ambos os
lados entraram em formação de batalha e a cena transbordava tensão. Se nada
impedisse, uma batalha iria sem dúvidas ocorrer.

Foi então que alguém disse:

— ... Qual o motivo para essa desordem?

Uma voz altiva reverberou pelo ambiente hostil vindo do topo das escadas
espirais que levavam até à ala superior.

— .....!

Quando essa voz chegou aos ouvidos da mestra de cerimonias, ela


arregalou os olhos assustados de maneira perturbada. Naquele momento, a
atenção de todos se voltou para a origem daquela enunciação.

— E-Ei...

157
— Aquele não é o...

— Não pode ser... que sorte ter a oportunidade de vê-lo com meus
próprios olhos...!

Todos os participantes da festa falaram de forma agitada e surpresa


enquanto a anfitriã só pôde abaixar a cabeça em profunda veneração, como se ela
tivesse sido sufocada por uma fala intoxicante.

— Perdoe minha impertinência, Sua Majestade. Alguns plebeus grosseiros


estavam tentando surrupiar sua sereia, que é totalmente sua. Eu farei de tudo
para bani-los daqui, com urgência.

— Sua Majestade?!

Shidou abruptamente ergueu a cabeça chocado com as palavras da


mulher, ainda mais por causa de sua atitude desesperada. Isso era esperado. O
Rei era o mestre do castelo. Isso significava que todos os guardas dali obedeciam
ao Rei, e que o Rei era o dono da Miku. Se eles pudessem convencer o Rei, eles
talvez pudessem resolver tudo sem precisar lutar.

— S-Sobre isso! Nós somos... amigos da sereia! Então... hã?

Shidou estava tentando argumentar com toda sinceridade, mas


interrompeu suas palavras no meio do caminho. O motivo era simples. O Rei
parecia extremamente familiar para ele.

— O-Origami?!

Shidou não pôde deixar de falar bem alto. Pois diante de seus olhos estava
Origami, que estava vestindo um manto vermelho luxuoso e uma coroa cheia de
joias.

— ...Shidou.

Origami declarou tranquilamente enquanto observava as condições do


saguão. Ela notou com olhos afiados as circunstâncias e deixou seu casaco flutuar
com a brisa do vento.

No momento seguinte, Shidou e todos os Espíritos arregalaram seus olhos


e encolheram os ombros, exceto Miku que soltou um *ahh*. Mas não poderia ser
de outra forma. Afinal, sob o manto vermelho, Origami não usava roupa alguma.
Mesmo assim ela não mostrava vergonha alguma em seu rosto e desceu as
escadas sem pressa alguma com uma expressão complacente em seu rosto.

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— É-É como os rumores diziam...?

— S-Sim... que vestido fantástico!

— E-Exato! Simplesmente magnífico!

Um alvoroço foi criado mais uma vez no salão, mas os diálogos pareciam
ser forçados em comparação aos de antes, quase como se fossem sarcásticos.
Origami não deu importância para as exclamações satíricas e meramente foi até
a plataforma elevada. Ela exageradamente balançou seu manto como se fosse
emitir um manifesto.

— Eles são meus convidados. Nenhum dano a eles é permitido. Voltem


aos seus respectivos postos.

— M-Mas...

— Terei que repetir?

Origami mudou o semblante quando encarou fixamente para os olhos da


anfitriã, fazendo com que o corpo da mulher tremesse de medo.

— Uh...! M-Minhas sinceras desculpas!

A anfitriã se curvou exageradamente e saiu do lugar junto com os guardas.


Depois de ver eles partirem, origami mudou sua visão para Shidou e os outros.

— Shidou, pessoal, bom ver que estão bem.

— S-Sim... você... também está bem?

Shidou não sabia para onde olhar então ficou mudando o foco de sua
visão. Origami ingenuamente inclinou sua cabeça, sem saber do que Shidou
ambiguamente estava falando.

— Eu não entendi o que quis dizer com isso.

— Ah... você por acaso não foi... assaltada ou coisa do tipo, né?

Enquanto Shidou tentava medir suas palavras com calma. Tohka se


exaltou e apontou diretamente para Origami.

— O-Origami! O que aconteceu com suas roupas?! Você não está vestindo
nada!

159
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No momento seguinte, uma chuva de protestos surgiu dentro do salão.

— Essa garota... como ousa dizer algo tão audacioso?!

— Falando da roupa do Rei desse jeito... com certeza será executada!

Declarações assustadoras como essas puderam ser ouvidas nos quatro


cantos do saguão. Que tipo de tirana era a Origami para infligir tão terrível
veneração e revência no coração de seus súditos? Porém, essa reação era
previsível se conhecermos o conto ao qual origami estava ligado e, devido a isso,
ela não poderia ser responsabilizada por isso. No entanto, Origami não pareceu
se incomodar com a fala imprudente de Tohka, pelo contrário, Origami apenas
balançou sua cabeça como se simpatizasse com a pobre Tohka.

— Eu comprei essas roupas de um tecelão viajante. Minhas roupas são


invisíveis àqueles que não amam o Shidou. Se não consegue vê-las, significa que
você, Tohka, não...

— O quê?! E-Espera aí!

Tohka objetou apressadamente enquanto fixava sua visão no corpo de


Origami.

— U-Unn... mas que... linda roupa colorida!

— Não precisa fingir, Tohka.

Kotori a consolou enquanto dava palmadinhas nos ombros dela.

— Origami, você foi enganada. Não importa como você veja a situação,
está na cara que essa é "A Roupa Nova do Imperador".

— ......

Origami permaneceu imóvel por alguns segundos, e então fechou a parte


da frente do manto logo em seguida. E em um canto a Miku estava gritando
"Ahh, eu quero ver um pouco mais!"

A Nova Roupa do Imperador. O imperador foi enganado ao comprar uma


"roupa que idiotas não podem ver" por um casal de tecelões, fazendo com que
ele se tornasse uma piada no reino. Esse era um conto bem conhecido até mesmo
no Japão. Porém...

— Eu ainda não tinha percebido.

Origami sussurrou com uma voz sem emoções.

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— Mas vocês não acham que é um pouco compreensível cair nesse golpe?

— Eles me disseram que quem não entendesse o amor não poderia vê-lo,
então eu o comprei na hora.

— É-É verdade...? Assustador como funciona a mente de uma wizard.

Kotori fez uma careta enquanto subconscientemente secava o suor que


escorria por sua testa.

— Bem, agora que encontramos todos, está na hora de tentarmos descobrir


uma forma de sair desse mundo. Mesmo que nossa percepção de tempo seja
diferente do mundo externo, já faz um bom tempo que estamos aqui.

Kotori sequencialmente mudou seu olhar entre Miku e Origami enquanto


ela continuava a explicar sobre as complicações daquele Mundo Adjacente para
elas, de forma resumida é claro, e expos sua dúvida.

— Vocês duas foram transportadas para lugares diferentes, certo? Até esse
ponto, vocês não encontraram nenhum personagem ou objeto que poderia nos
levar para fora desse mundo?

Origami e Miku se encararam brevemente por um curto período de tempo,


e balançaram suas cabeças em negativa logo em seguida.

— Nada em especial.

— Eu também não vi ninguém, além da bruxa e do pescador.

— Entendi...

Ela não esperava nada muito diferente disso, mas Kotori mesmo assim
suspirou com pesar. No momento seguinte, Uma janela de esperança apareceu
quando Origami continuou a falar.

— Atualmente eu sou a líder dessa nação, e posso fazer um anuncio a nível


nacional. Eu posso ordenar que os cidadãos procurem por alguém que possa
fazer isso.

— Boa ideia, poder em números, hein. Dessa forma vai ser mais eficiente
do que sairmos a procura sozinhos. Vou deixar isso com você então.

— Entendido. Mas pelo o que devemos procurar exatamente?

Origami perguntou, e foi Nia que respondeu dessa vez.

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— Uu.. Sim, esse mundo é bem aberto a interpretações para começar, então
eu acho que relíquias e tesouros que concedem pedidos existem aqui. Como a
lâmpada mágica do Aladim. Mesmo que tenham alguns personagens de mangá
que manipulam a realidade, através de objetos é o jeito mais fácil.

— Muito bem. Eu irei imediatamente...

E no momento exato que Origami ia respondendo...

Uma ressonância ensurdecedora de vidros quebrando ecoou pelo saguão


quando um lobo gigantesco vigorosamente se colidiu com as frágeis janelas do
castelo, causando tumulto em toda a festa.

— H-Hyaaaa!

— Um monstro!

Confrontados com a inesperada intrusão de tal monstruosidade grotesca,


todos os convidados gritaram de horror e caoticamente fugiram em todas as
direções. O lobo brutalmente empurrou tudo que estava em seu caminho, vivo
ou não, em um imparável ímpeto de destruição louca. Sem que ela desejasse, a
tocha de Kotori caiu no chão encarpetado.

— Ah...!

O objeto não era nada mais do que um pedaço de madeira quebrado


envolto com um pedaço de tecido, e já estava prestes a ser extinto. Felizmente, a
chama não fez o carpete pegar fogo e se apagou, deixando somente uma pequena
trilha negra e fumaça de chamuscado.

Em instantes o disfarce de Shidou e dos outros foi desfeito e eles voltaram


a ter a aparência original. Do jeito que as coisas estavam, aquela era a última
preocupação deles, já que um obstáculo bem maior apareceu diante deles do
nada. Sem um pingo de remorso ou interesse nos convidados que fugiam, o lobo
ferozmente avançou em direção à Shidou e os outros.

— Hoh, eu tenho que os recompensar pela gentileza de mais cedo. Como


os porquinhos ousam me tratar como um cãozinho adestrado que faz tudo o que
querem?!

O lobo uivou com rancorosa animosidade, o que fez Shidou franzir as


sobrancelhas confuso, se perguntando o que fez o lobo ficar tão furioso.

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— O lobo de antes.....!? Por que, você não tinha ficado bom ao comer o
bolinho da Tohka?!

— Hah! Eu digeri aquela coisa muito tempo atrás e já expeli ela!

O lobo latiu enquanto batia em sua barriga.

— Os bolinhos usam esse tipo de sistema!?

Shidou não conseguiu se conter e disse isso em voz alta relutantemente.


Foi então que os guardas do castelo finalmente apareceram e rapidamente
miraram suas lanças afiadas para o lobo, uma a uma.

— Sua Majestade, por favor, retire-se!

— Deixe isso conosco!

Porém.

— Não fiquem se achando, fracotes!!

O lobo poderosamente moveu suas patas dianteiras, que eram do tamanho


de uma árvore, e sem esforço fez todos os guardas que estavam ali saírem voando
até se chocarem com os muros, levando a grande mesa e tudo que estava em cima
dela junto.

— Uau... como esperado de uma adaptação. Tohka-chan, tente dar outro


bolinho a ele!

Nia instruiu enquanto ela cautelosamente recarregava suas pistolas


duplas. Tohka então inseriu sua mão na bolsa que carregava em sua cintura.

— Un, pronto. Lobo, coma isso!

Tohka atirou o bolinho com toda sua força em direção a boca do lobo. Mas,
quando o bolinho estava prestes a entrar na boca dele, ele parou de repente no
meio do ar como se o tempo tivesse parado.

— O quê...?

Tohka gritou ao se deparar com essa sombria situação de desvantagem.

Naquele espaço, uma figura sombria de uma velha senhora, que tinha um
nariz pontudo e vestia um vestido negro, vagarosamente apareceu.

— Hihihi, lobo patético. A falta de cuidado será sua ruina.

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A hedionda mulher ridicularizou o lobo enquanto ela esmagava e fazia o
bolinho em pedacinhos, inexplicavelmente Shidou ficou com um frio na espinha.

Ao testemunhar o ocorrido, as irmãs Yamai seguraram a respiração com


considerável trepidação.

— U-Uaahh! É aquela bruxa velha!

— Choque. Ela é a velha que vive na casa feita de doces.

A bruxa diabolicamente riu sinistramente, o que a deixou ainda mais


assustadora. A víbora chamada Medo se arrastou pelas pernas das gêmeas,
restringindo seu poder restante com grande intensidade, e gradualmente
subindo até seus abdomens até chegarem a suas pálidas faces.

— Hihihihi... em carne e osso, abomináveis João e Maria. Suas almas


insolentes devem cauterizar nos fogos do inferno por terem roubado de minha
residência! Que pena, eu teria graciosamente perdoado seus corpos finos e
engordado vocês até ficarem no ponto, mas não posso me dar o luxo de rejeitar
vocês do jeito que estão agora!

— Ahahaha! Sadia e saudável como sempre, hein, velha humana? Não


coloque as mãos nas minhas presas, o porquinho e a chapeuzinho vermelho!

O lobo rugiu com avareza, quase como se risse de desdém. A expressão


do rosto de Kotori inevitavelmente ficou severa.

— Kuh... o lobo sozinho é mais do que o suficiente, deixe-nos em paz,


bruxa!

— Hã? Parece que você não entendeu uma coisa.

— O que disse...?

Kotori inclinou as sobrancelhas não acreditando no que tinha acabado de


ouvir enquanto o lobo riu altivamente até os cantos de sua boca se aproximarem
das suas orelhas.

— ... E quem disse que somos só nós?

Quando o lobo terminou sua intimidação, um imenso volume de água


oceânica surgiu das janelas que foram anteriormente quebradas.

— O qu...!? Isso é...!

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Aquela salmoura pareceu ter escurecido todo o salão de alguma forma, e
inesperadamente se aglomerou de forma irregular até tomar a forma de uma
velha sereia. Ao ver a cena fantasmagórica, Miku imediatamente apontou seu
dedo para a aparição.

— Ahh! Você! A bruxa que tentou roubar minha voz!

— ...Hahaha, correto. Eu vim retribuir o golpe que deu em meu rosto!


Agora não somente roubarei sua voz, mas também cortarei sua língua!

A bruxa do mar disse com desprezo. Parecia que todos os vilões que
tinham algum tipo de rancor contra Shidou ou os outros tinham juntado forças
para obter suas vinganças.

Em seguida, tremores provenientes de passos gigantescos reverberaram,


fazendo parecer que vários terremotos estavam acontecendo ao mesmo tempo.
Um bruto ogro que vestia somente uma tanga de pele de tigre e que
poderosamente carregava um tacape de ferro quebrou o muro do castelo,
fazendo o entulho se espalhar por todo salão.

— Uah... poderia esse ser um Oni da ilha dos demônios?!

Tohka disse com os ombros tremendo enquanto o ogro descobriu


cruelmente seus dentes em forma de presas.

— Mas é claaaro! Eu esperei e esperei e esperei... porrr você, VADIA, mas


você nuuunca apareceu, então eu viiim até vocêêê!!

— Você claramente não tinha nada a ver com a gente, veio porque quis!!

Shidou não pôde deixar de expressar verbalmente seu descontentamento


em relação a atitude estúpida do ogro. As bruxas da floresta e do mar tiveram
seus motivos para quererem se vingar de Shidou e dos outros, mas ao que parece,
aquele ogro idiota nunca tinha sequer se encontrado com Tohka antes.

Mas a loucura não para ai. Enquanto os parceiros malvados do lobo


entravam no salão um atrás do outro, os portões do castelo que agora estavam
desprotegidos se abriram, revelando três mulheres vestindo luxuosos vestidos
de festa, mas com corações podres por dentro.

— Ohohoho! Cinderela! Você acha que uma garota como você podia vir
para uma festa dessas?

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— A madrasta da Cinderela e suas meias-irmãs...?! Ah, mesmo que vocês
não tenham chances alguma contra nós, por que vieram aqui juntos com a bruxa
e o ogro?!

Um jovenzinho então entrou naturalmente no salão, sem motivo aparente.

— O rei está pelado... por eu ter dito isso, meus pais foram jogados na
prisão. Mas eu vou continuar dizendo a verdade, o rei está pelado!

— Tinha uma coisa tão séria assim nesse conto?!

No instante seguinte, uma grande bola de fogo se manifestou no céu, e


dentro da chama emergiu uma alma penada cujos olhos negros não refletiam luz
alguma.

— O netinha... acenda todos os fósforos e se reúna comigo...

— A avó da menina dos Fósforos se tornou um espírito maligno?!

Shidou exclamou de forma histérica.

Uma colônia de inúmeros morcegos entrou no saguão pelas janelas, se


reunindo em uma forma humanoide. A superfície do chão úmido então revelou
um corpo cadavérico de um zumbi, além disso, uma monstruosidade
indescritível que levava seus observadores a loucura só de olhar se manifestou
das sombras.

— I-Isso é...

— Ah, eles estão relacionados a mim. O vampiro do Capítulo 1: Nosferatu,


o zumbi do Capítulo 2: Lorde Morto-vivo, e a desconhecida entidade do Capítulo
3: Divindade Ancestral - O massacre atípico de Silver Bullet. A popular série de
ação e fantasia <<Silver Bullet>> é atualmente lançada semanalmente na Weekly
Shonen Blast!

— Os mangás Shonen de hoje em dia tem violência demais!!

Ao se deparar com a propaganda descarada de Nia, Shidou gritou com


toda a força de seus pulmões. Dentro do vasto salão de festas, estavam reunidas
as criaturas malignas e vilões de todos os contos representados. Além disso, eles
já tinham cercado Shidou e os outros, impedindo que eles fujam e estavam
vagarosamente encurtando a distância passo a passo.

— Uh....!

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A pressão esmagadora foi exercida sobre eles e era incomparavelmente
maior do que a dos guardas de antes. Mas era o esperado. Bem ali, tirando
algumas exceções, aqueles que cercavam Shidou e o grupo eram feras, bruxas e
outras monstruosidades. Para piorar, eles não podiam usar as habilidades de
seus anjos, seja para atacar quanto para se defender. Todos eles estavam sentindo
na pele a situação de vida e morte em que estavam, fazendo seus corações
acelerarem e os nervos ficarem a flor da pele.

— Não vamos perder para tipos como vocês!

Enquanto todos estavam tensos de ansiedade devido as circunstâncias


desfavoráveis, Tohka soltou um alto grito de guerra e de repente saltou no ar,
atacando um inimigo com sua katana afiada já desembainhada.

— Haaaaa!

Porém, antes de sua lâmina atingir o ogro, as bruxas à sua esquerda e


direita conjuraram um feitiço ofensivo e lançaram projéteis mágicos. Sua magia
atingiu o corpo frágil de Tohka, soltando pequenas explosões no processo.

— Ack!?

Tohka gemeu enquanto sofria ataques pesados de ambos os lados.


Aproveitando a oportunidade, o repulsivo ogro exageradamente balançou seu
tacape de ferro e desferiu o golpe em direção da cabeça de Tohka com grande
força.

— Hahahaha! Que ingêêênua, Momotarou!

— Uhh...!

Tohka subconscientemente fez com que seus frágeis braços de alguma


forma a protegessem do golpe, mas, estando no meio do ar, tal movimento era
infrutífero e ela foi jogada ao chão selvagemente.

— Tohka!!

Shidou gritou o nome dela com toda a força e correu para protege-la, ou
ao menos ele tentou. Porém.

— Abaixar a guarda é perigoso, porquinho.

Quando Shidou inadvertidamente ouviu a fria voz do lobo vindo de cima,


seu abdomem experimentou um intenso impacto sem aviso.

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— Uaah!?

Ele imediatamente entendeu o motivo: seu corpo foi levantado pelo


colossal braço do lobo. O corpo de Shidou voou pelo espaçoso salão e
violentamente colidiu com o duro muro e miseravelmente caiu no chão em
seguida.

— Ai...ai...

— Shidou!

— S-Shidou-san!

Todos os Espíritos gritaram com preocupação com vozes estridentes de


preocupação e tentaram se aproximar dele com convicção, somente para serem
barradas pelo lobo e outros inimigos que bloquearam o caminho.

— Que pena, vocês não vão a lugar algum.

— Huh...!

— Y-Yoshino...

— Vai ficar tudo bem, Natsumi-san...

Os Espíritos, alguns sem resignação, outros com inquietação, foram cada


vez mais se aproximando. Os vilões que formavam uma linha de bloqueio
sentiram o cheiro de medo nelas e riam com gosto, se aproximando a cada
segundo.

— Preparem-se para serem devoradas!

— Hihihihihi... relaxem; eu vou come-las dos pés à cabeça!

— Kehehe, como será que é ter a língua de uma sereia?

— H-Hyaa...!

Miku gritou enquanto cobria sua boca com força.

Porém, Miku não era a única tremendo de medo. Apesar das diferentes
reações, todas estavam suando desesperadamente enquanto esperavam os
monstros se aproximarem para terem o seu fim.

— Kuh... malditos!

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Shidou sussurrou usando suas forças restantes enquanto apoia seu corpo
forçadamente.

— Não se atrevam... a colocar suas mãos nelas!

Porém, o corpo emaciado de Shidou, por ter sido jogado contra o muro
com tanta força, estava incapaz de agir conforme sua força de vontade não
importando o quanto ele se esforçava, e suas bambas pernas logo cederam de
fadiga, fazendo com que seu corpo caísse no chão molhado.

— Uah...!

Apesar de sua expressão retorcida, Shidou decididamente rangeu os


dentes e aguentou a excruciante agonia. Ele se rastejou no chão com a força de
suas mãos, vagarosamente se aproximando dos Espíritos, mas era tarde demais.
Os vilões nefastos já tinham o derrotado.

— Ahahahaha! Vou começar por você!

— Kya....!

— Y-Yoshino! N-Não toca nela seu cachorro nojento!

O lobo habilmente controlou sua pata e pegou Yoshino com as pontas dos
dedos, tirando a do chão. Mesmo que Natsumi estivesse agarrada a sua cintura,
o lobo simplesmente a ignorou e levantou Yoshino até a acima de sua boca.

— Un un, você parece deliciosa, chapeuzinho vermelho!

— Uu...

— Ahh! Comer a Yoshinon vai te dar dor de barriga!

— Kuh.....!

Do jeito que as coisas estavam, era tarde demais para fazer algo. O coração
de Shidou pulsava desesperadamente. Mesmo se ele pudesse de alguma forma
chegar até eles, o número de coisas que ele poderia fazer era extremamente
limitado. Era inútil, ele só seria mandado para longe pelo lobo, que acabaria
comendo a Yoshino nesse processo.

No momento em que ele pensava nisso.

De repente, as palavras que Mukuro disse a ele pelo comunicador


surgiram em sua mente.

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— Se tu me selasses, poderias tu garantir minha proteção? Selar os poderes
dos Espíritos os protege de outra incursão maligna?

— .....

Shidou fracamente estendeu sua mão para alcançar Tohka e as outras, sem
parar sequer um momento.

— Eu...

Os Espíritos que tiveram seus poderes propositalmente selados por


Shidou estavam sendo atacados por vários monstros cruéis. Só havia uma causa
para isso, um único motivo, isso era o que estava fluindo nos pensamentos de
Shidou, que questionava as ações que tem tomado. Se ele não tivesse selado seus
poderes espirituais, talvez elas tivessem alguma chance contra o <Beelzebub> de
Westcott. Não, não era somente nessa situação. Como Mukuro havia dito, Tohka
e os outros Espíritos foram colocadas, uma atrás da outra, em diversas situações
perigosas até então. Shidou selou seus poderes para salva-las, mas acabou que
pelo mesmo motivo ele também as fez correrem ainda mais riscos. Ele sentia
como se seu coração tivesse sido feito em pedaços. Ele tem feito a coisa certa
durante todo esse tempo? Ou salvar os Espíritos era somente um ato de egoísmo
da parte dele como Mukuro havia dito?

— ...Ei, não é uma coisa comum você ficar se preocupando desse jeito.

Naquela hora, uma voz nostálgica que parecia saber exatamente o que
Shidou pensava ressoou do nada.

— Hm...?

— Hã....?

As falas confusas e perplexas de Shidou e do lobo se sobressaíram.

— O que está acontecendo? Essa voz agora pouco...

O lobo, com uma pata segurando Yoshino no meio do ar, olhou ao seu
redor com perturbação, a procura da origem da voz. Porém, quando sua linha de
visão se moveu para longe da Yoshino...

— ... O quê...!?

Uma linha atravessou o braço do lobo, obliquamente dividindo o membro


em duas seções adjacentes.

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— I-Isso é impossível!

— Yaa...!

Acompanhando os gritos de dor do lobo. O corpo pequeno de Yoshino foi


caindo em direção do chão, junto com o membro partido do animal.

Então, antes dela tocar o chão.

— Tudo bem com você, Yoshino?

Diante dela apareceu um garoto familiar que gentilmente pegou seu


corpo.

— Hã? É-É...

Yoshino estava totalmente confusa e inclinou sua cabeça ao vislumbrar a


aparência do garoto. Não, Yoshino não era a única.

— Quê...?

— C-Como pode?

Os outros Espíritos, assim como o próprio Shidou, tiveram suas atenções


chamadas exclusivamente para o familiar garoto que apareceu e arregalaram
seus olhos. Afinal, o garoto que habilmente empunhava uma longa espada larga
que sem dúvidas era a <Sandalphon> de Tohka.

— Muito bem, vilões. Permitam que eu, o guardião dos Espíritos, Itsuka
Shidou, lide com vocês!

Os atributos faciais da pessoa que destemidamente disse isso sem dúvidas


algumas eram exatamente iguais ao do Shidou.

— Q-Quem diabos é você?! Aparecendo de repente e dizendo uma


estupidez dessas...

O lobo questionou enquanto olhava para seu membro arrancado com


lágrimas nos olhos e furiosamente encarou Shidou.

Porém, Shidou não deixou o lobo fazer mais nenhum movimento e ergueu
<Sandalphon> em uma pose parecida com a de um executor. No momento
seguinte, o corpo inteiro do enorme lobo foi instantaneamente cortado ao meio
com um único corte seco da espada.

— Gah... Gaaaaaaah!

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Soltando um grito ensurdecedor, o corpo machucado do lobo se
transformou misticamente em páginas rasgadas de livro, pairando com o vento
até cair no chão. Testemunhando a morte que ocorreu diante deles, os vilões
restantes prenderam a respiração percebendo que o jogo virou contra eles.

— O qu...! O lobo foi...?!

— Você... que vento trouxe um guerreiro tão divinal para essas terras?!

As duas bruxas malignas disseram em prantos e absoluto medo. Shidou


curvou seus lábios em um genuíno sorriso.

— Eu sou só um estudante comum que estava passando por aqui.

Shidou respondeu com determinação enquanto pisava no chão molhado e


avançou contra os inimigos com <Sandalphon> em suas mãos.

Ele defletiu as magias amaldiçoadas das horrendas bruxas, friamente


cortou o tacape de ferro sem qualquer resistência e fez um enorme buraco no
corpo deformado do ogro. O miserável ogro soltou um grito estremecedor
parecido com o do lobo e se transformou em páginas rasgadas de livro. Porém, a
força imparável de Shidou não cessou aí. Ele fluidamente canalizou sua força
física em suas mãos e pés, diretamente manipulando <Sandalphon> com graça
enquanto ele traçava combate com o que sobrou dos patéticos vilões.

Shidou inexpressivamente testemunha a cena surreal.

— O-O que está acontecendo...?

— Shidou!

Tohka e os outros Espíritos rapidamente correram ao seu auxilio depois


que seu caminho foi liberado.

— Tudo bem com você, Shidou? Está machucado?!

N-Não, estou bem. Mais importante, quem é ele...?

Shidou mais uma vez olhou perplexamente para Shidou, que estava
afugentando os vilões restantes. Kotori então similarmente franziu o cenho
incrédula.

— Ele com certeza é você... Diga, você sabe usar o jutsu dos clones de
sombra, Shidou?

— Não, eu não me lembro nem de gostar de ninjas...

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Shidou deu risinhos e Nia soltou um *ah*, como se tivesse se lembrado de
algo importante e colocou a mão no queixo.

— Seria o Garoto número 2 um personagem desse mundo?

— Como....?

Shidou também pegou em seu queixo espantado. Suas palavras faziam


sentido. Mesmo assim, algumas coisas ainda eram conflitantes. Eles estavam
presos no mundo ilusório que foi criado a partir de vários contos de fada. Se
Shidou não era um personagem de um conto, então ele não poderia ser...

— Aahhh!

Naquele momento, enquanto a mente de Shidou encaixava as peças que


faltavam no quebra-cabeças, Natsumi de repente gritou em voz alta que não
combinava com sua pequena estatura.

— O-O que foi, Natsumi?

— E-Eu sei quem ele é...! Eu sei, esse cara...!

Natsumi apontou para Shidou, que estava tendo uma magnifica batalha
contra os vilões, com o dedo trêmulo.

— Você sabe quem ele é, Natsumi?! Sério?

— S-Sim... na verdade, todos nós sabemos! Esse cara é aquele Shidou... o


personagem do mangá que criamos mês passado!

— !!!

Shidou e os outros Espíritos firmemente seguraram suas respirações


totalmente chocados com suas palavras. Realmente era verdade, havia uma
estória onde Shidou era o protagonista. Shidou e os outros desenvolveram uma
estória juntos e desenharam um mangá onde Shidou era o personagem principal
para fazer Nia se apaixonar por ele, já que ela não podia se apaixonar por
ninguém que não fosse 2D.

— M-Mas... sermos salvos justamente por esse herói... não é coincidência


demais?!

Shidou protestou, em resposta Nia balançou a cabeça.

— Eu já disse antes, garoto. Obras de literatura não tem limites em relação


a histórias fechadas e podem acabar aparecendo nesse mundo. Além disso, os

174
autores desse mangá estão todos reunidos aqui. Não acha que as chances de ele
aparecer são bem altas?

Vestida como seu próprio personagem original, Nia continuou


animadamente.

— E aquele Garoto número 2, seja ele o verdadeiro Itsuka Shidou ou não,


ele com certeza é o Itsuka Shidou como vocês o veem, que salva os Espíritos e
que devia fazer eu me apaixonar por ele!

— O-O que isso implica?

— Pedido. Por favor, elabore.

As irmãs Yamai inclinaram de leve suas cabeças para expressar sua


incompreensão às incessantes torrentes de palavras de Nia. Então, Nia resumiu
com um ár renovado.

— Em outras palavras! Ele é o super-gato, super-forte, Garoto ideal que


vive no coração de todas!

Quando Nia terminou sua fala excêntrica, Shidou brandiu <Sandalphon>


elegantemente depois de aniquilar o último inimigo.

— Hu...

Ele então rapidamente ajeitou seu cabelo e se aproximou vagarosamente


de Shidou.

— Oi, tudo bem com você, eu?

— S-Sim...

Se sentindo completamente desacostumado por nunca ter chamado outra


pessoa dessa forma, Shidou fez um esforço para responde-lo.

— Muito obrigado por me salvar... eu.

— Haha, nós estamos parecendo a Kurumi.

Shidou respondeu enquanto ria alegremente.

Shidou não pôde deixar de rir também, enquanto enfrentava a sensação


intrigante de ver alguém que é sua imagem refletida no espelho.

— Mas... vocês estavam em sérios apuros. Para nós estarmos aqui,


presumo que Westcott tem a ver com isso, correto?

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Shidou perguntou de forma afiada.

Sem estar muito afetada por estar diante de dois Shidous, Kotori
imediatamente acenou em confirmação.

— Un, vou ser direta já que você está a par da situação. Você sabe como
podemos voltar ao nosso mundo? Precisamos voltar rápido.

Shidou acenou, sem se perturbar.

— Ah, deixa isso comigo.

— Hã?!

Kotori disse surpresa. Isso era inevitável, pois Shidou tinha dito de forma
calma como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— V-Você pode nos ajudar?

Kotori perguntou, e Shidou então mostrou <Sandalphon> e respondeu.

— Un. Esse mundo foi criado com o poder de um anjo, e pode da mesma
forma ser destruído. Mesmo que eu seja uma existência fictícia, nos termos desse
mundo, o anjo que eu uso é bem real.

Porém, Shidou continuou:

— Eu só posso abrir uma saída para esse mundo. Quando todos voltarem
para o outro mundo, Westcott deve estar esperando vocês.

— O que...!

Kotori arregalou os olhos, incapaz de aceitar o fato de que ela não pensou
nessa possibilidade antes.

— O que quer que nós façamos? Precisamos nos apressar e chegar até a
Mukuro e...

E quando a expressão séria de Kotori começou a ficar pálida.

— Eu sabia que algo assim iria acontecer!!

Nia disse em voz alta, como se quisesse interromper as palavras de Kotori.

— O-O que foi isso, Nia?! Você não precisava falar tão alto...

— Ehehe, eu sempre quis dizer isso. O que achou? Fiquei parecendo uma
mulher confiável?

176
— Tá de brincadeira...?

Kotori disse revirando os olhos, Nia coçou a cabeça timidamente, como se


quisesse dizer "Ahh, desculpa."

— Eu já fiz os preparativos, então, Garoto número 2, não precisa se


preocupar. Você pode abrir a saída imediatamente?

— Ei, o que está dizendo, Nia? Mesmo se voltarmos ao mundo original,


todos nossos esforços não vão ser em vão se aparecermos bem diante do
Westcott?

— Hehehe, não se preocupe.

Nia balançou o dedo como se fosse um metrônomo, e afastou para trás os


cantos de sua boca.

— Veja, antes de eu ser engolida para cá, <Beelzebub> foi ativado nesse
mundo. <Rasiel> e <Beelzebub> são a mesma existência. É claro, ambos podem
assumir a responsabilidade por fazer o elo entre os dois mundos.

— Isso significa...

— Sim, a não ser que aquele maldito tenha ficado o tempo todo no mesmo
lugar, as chances de nos encontrarmos é bem baixa.

Nia piscou o olho, e os Espíritos gritaram de alegria em uníssono.

— Incrível, Nia!

— Haha, muito capaz, de fato.

— Elogio. Então você não é somente uma bêbada.

— Nyahaha, estou envergonhada, me elogiem um pouco mais.

Nia estufou o peito complacentemente. Shidou então levantou


vigorosamente <Sandalphon> e mudou sua visão para Shidou e os outros.

— Muito bem, vou fazer isso agora, tá bom?

— Un, se puder.

Assim como Kotori solicitou, no momento seguinte Shidou firmemente


acenou e fechou seus olhos para concentrar sua energia, poderosamente
balançando <Sandalphon> para baixo como se tivesse dividindo algo no meio.

177
— Hah!

Em instantes, uma furiosa rajada de vento correu pela lâmina afiada


divina de <Sandalphon> e uma fenda dimensional apareceu dentro do espaço
cortado pela espada celestial.

— Vocês devem conseguir voltar por essa passagem.

Shidou sorriu calorosamente enquanto segurava <Sandalphon> fixamente


no chão.

— Sobre essa Mukuro que mencionaram antes, ela é um novo Espírito,


certo? Dê o seu melhor, eu; você definitivamente tem que salvá-la.

— .....

Ao ouvir as palavras sagazes de Shidou, que eram parecidas com as


últimas palavras ditas por Woodman; Shidou sentiu seu coração disparar.

— ...O que está fazendo, Shidou? Vamos.

Kotori estava com uma expressão inconcebível quando olhou para a


réplica de seu irmão, que esperava todos entrarem na fenda transcendental.

— Muito obrigada por nos salvar, e cuide-se, Shidou.

— Un, vou mandar lembranças suas para a sua contraparte desse mundo.

— Haha, acho que eles estão aqui também. De alguma forma isso parece
um pouco complicado.

Kotori riu enquanto balançava a mão em despedida, e entrou no portal.

Em seguida, os demais Espíritos agradeceram Shidou e se despediram dele


uma após a outra e entraram no portal. Depois que todas se foram, Shidou olhou
para Shidou.

— É sua vez, eu. Vá, elas estão te esperando.

— S-Sim...

Shidou concordou amigavelmente com o comando de Shidou e avançou


para a passagem. Porém, ele de repente parou seus passos mais uma vez, como
se suas pernas estivessem presas no chão.

...Shidou.

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Através da mente criativa de Shidou e dos outros Espíritos, o Shidou
fictício era o Shidou ideal que salvava os Espíritos. Ao encarar esse Shidou
pessoalmente, um pequeno desejo surgiu no coração de Shidou. Tem coisas em
nossa mente que sempre vão estar ali, enquanto outras aparecem
passageiramente, mas que demoram para ir embora. Ainda assim, tal coisa
continuava à incomoda Shidou no fundo de seu coração como se estivesse
enraizada.

— Ei... eu.

— Un? O que foi, eu?

— O que você disse está certo. Eu estou indo encontrar um novo Espírito,
a Mukuro. Mas...

Shidou torceu levemente a sobrancelha enquanto ele gaguejava para


narrar a história de Mukuro enquanto fazia rodeios. Ele contou como ele foi
friamente rejeitado, como ele foi acusado de ignorar as opiniões dos Espíritos e
como ele simplesmente não conseguiu refutá-la.

— .....

Shidou fez uma expressão séria enquanto atentamente escutava a confissão


patética de Shidou e levemente soltou ar de seus pulmões.

— Entendi... outro Espírito difícil de convencer, hein?

— ...eu tenho uma crença. Quando todas estavam sendo perseguidos pelos
vilões, eu pensei que se eu não tivesse selado elas, elas não estariam tão em
apuros... Não, é claro, se eu não tivesse feito isso elas continuariam em perigo,
mas...

Ele era incapaz de chegar a uma conclusão derradeira sobre esses


pensamentos. Shidou forçosamente coçou sua cabeça e continuou.

— ...selar os poderes da Mukuro. Eu não tenho dúvidas que tenho que


fazer isso. Se eu não fizer, a DEM vai ataca-la de novo. Mas.. eu não sei o que
fazer... qual sua opinião? Você acha que eu tenho o direito de ir até a Mukuro
sem ter como refutá-la? Será que o indeciso eu pode abrir o coração dela...?

O Shidou que tinha permanecido em silencio até então, começou a mover


sua boca.

— Se fosse eu, eu tentaria de novo.

179
— Mas, Mukuro não quer ser perturbada...

— Mesmo que ela diga isso, isso não parece estranho se for parar para
pensar? Dizer que ela trancou seu coração para não se sentir sozinha, não parece
que ela estava se sentindo só quando usou seu anjo?

— ...Isso... sem dúvidas é verdade.

Se Mukuro era incapaz de sentir a depressão da solidão, a dor da tristeza


e o desprazer da íra, então seria desnecessário trancafiar seu coração e emoções
para começar. Não era necessário dizer isso para Shidou.

— O que ela tinha dito, não importa como ela o fez, era como um sinal de
S.O.S. de si mesma. Portanto, você deve ir não importando o que mais ela diga.
A propósito, você já não tem a chave para destrancar o coração dela?

— Quê....?

Ao ouvir as palavras de Shidou, Shidou inclinou a cabeça. Em um piscar


de olhos, ele imediatamente entendeu o significado daquela frase.

— ...Poderia ser...

— Correto.

O outro Shidou acenou alegremente para a reação de descoberta de Shidou.

— Mais uma coisa, você vai ter que tratar isso como um assunto deparado.

Shidou disse isso empurrando seu punho contra o peito de Shidou.

— O que está pensando, eu? Isso não era tudo o que tinha a dizer sobre a
Mukuro? Mesmo que seja bom pensar sobre o que ela disse, você não vai perceber
seus verdadeiros sentimentos só com isso. Bem, eu, como você vai tratar a
Mukuro?

— ....!

Ouvindo a dica útil de Shidou, Shidou repentinamente segurou sua


respiração. Depois de alguns segundos de silencio. Shidou aspirou
profundamente e exalou de novo.

— ...Un...Muito bem... Tá certo.

Shidou gradualmente disse isso, mesmo que bem devagar. A resposta


para tal questão era na verdade muito fácil. Quando declarada, porém, sempre

180
havia um sentimento de expelir toda a melancolia do fundo de seu coração.
Shidou sorriu, como se tivesse percebido a decisão de Shidou.

— Dê o seu melhor, aluno do ensino médio.

— Você também, aluno do ensino médio.

Shidou e Shidou se despediram tocando seus punhos, e Shidou


convenientemente mergulhou na fenda criada no espaço.

— ...uu.

♢♢♢♢

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A intermitente sensação de ter seus ombros chacoalhados fez com que
Shidou recobrasse a consciência. Shidou vagarosamente resfolegou e abriu seus
olhos, tendo a vaga visão da sua irmã adotiva enquanto ela estava esticando a
palma de sua mão em sua direção.

— O que está fazendo, Kotori?

— Graças a Deus, você finalmente acordou. Mais um segundo e eu teria te


acertado pela vigésima vez.

— Hã? Você já me acertou 19 vezes?! Tudo isso?!

Shidou gritou de raiva enquanto relutantemente colocava suas mãos em


seu rosto, tentando sentir o calor que irradiava da pele vermelha escaldante.

— Brincadeirinha.

Kotori respondeu em tom de sarcasmo.

Quando Shidou tocou seu rosto sensivelmente para confirmar que não
havia nenhuma dor, ele fez uma pequena inspeção em seus arredores e na
situação atual. Ele não estava em nenhuma cabana de palha onde ele tinha
acordado anteriormente, em vez disso ele estava em um dos corredores da base
secreta da Ratatoskr, onde os muros grossos de cimento e tetos de cimento
reforçado com aço tinham sido demolidos sem exceção, se tornando nada mais
do que pilhas de entulho.

Os outros Espíritos estavam reunidos todos em um mesmo lugar e Tohka


colocou suas mãos nos ombros do Shidou, gentilmente o balançando. Todas elas
não vestiam mais aquelas exuberantes roupas de antes. Suas vestes voltaram a
ser as mesmas roupas que vestiam originalmente.

— Sério... eu não falei que estamos ficando sem tempo, parem de enrolar.

Kotori rigidamente cruzou os braços na altura dos peitos e soltou o ar de


seus pulmões apressadamente.

— Oh... Me desculpe. Mas...

Shidou desajeitadamente se levantou usando todas as forças que tinha em


sua perna e levemente deu tapinhas em seu rosto algumas vezes para clarear seus
pensamentos.

— Tudo está bem agora.

183
— ...? Entendi, bem, é muito bom ver que está cheio de energia.

Kotori deslizou sua cabeça para um lado com um tom de suspeita, mas
imediatamente julgou que não era hora para coisas desnecessárias e
conclusivamente moveu seu queixo para incitar os outros.

— De qualquer forma, nós temos que nos apressar. Mesmo que tenhamos
perdido menos tempo do que esperávamos, um ataque surpresa cairá sobre a
Fraxinus a qualquer momento.

— Un!

— Entendido.

Os Espíritos gritaram em concordância e seguiram Kotori, correndo pelo


longo corredor com determinação. Shidou não estava muito atrás, avançando
pela empoeirada e suja base destruída enquanto os ecos de explosões e disparos
de armas ainda podiam ser ouvidos. Depois de aleatoriamente encontrar e
subsequentemente dizimar uma dupla de unidades <Bandersnatch>, Shidou e os
outros alcançaram à entrada do hangar onde estava localizada a Fraxinus.

Talvez por terem sido pegos pela câmera de vigilância, que reconheceu
suas respectivas identidades, ou pela situação atual, mas Shidou e os outros
foram permitidos a entrar no grande hangar enquanto a voz de Kannazuki foi
ouvida pelo alto-falante.

— ...! Comandante! Você está a salvo!

— Un, desculpa por faze-los esperar.

Kotori levemente ergueu a cabeça em resposta e continuou a andar em


direção ao convés mais baixo da nave. Shidou e os outros Espíritos se
enfileiraram atrás dela, e foram instantaneamente transportados para a ponte de
comando.

— Qual a situação?

Assim que ela entrou na ponte de comando, Kotori rapidamente avançou


para frente enquanto desfazia o abotoamento de seu uniforme militar, o
pendurando em seus ombros. Ela rapidamente estendeu sua mão direita para um
lado, onde Kannazuki, que estava obedientemente esperando suas ordens,
respeitosamente a saudou e entregou a elas um dos muitos pirulitos idênticos
que estavam organizados em uma prateleira.

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Kotori gratamente o aceitou, retirando a embalagem do doce com
voracidade e o colocando na boca enquanto simultaneamente se sentava no
assento do capitão. Shidou ficou impressionado com a leve, praticamente
graciosa, sequência de movimentos de sua irmã.

— Comandante. Nesse momento, uma das naves de guerra Arbatel está


pairando sobre base. Aproximadamente 120 wizards se infiltraram na base. 21
casualidades confirmadas foram informadas, incluindo o pessoal técnico, e 185
pessoas se refugiaram.

— ... Entendi.

Enquanto Kotori suspirava tristemente, os caracteres MARIA foram


mostrados no monitor principal.

『Não temos tempo para ficar cabisbaixos, Kotori. Você deve cumprir seus
deveres agora.』

— Un, eu sei disso.

Kotori calmamente respirou fundo para esquecer suas preocupações e


ergueu sua cabeça com determinação.

— Nós vamos terminar o que nos propomos fazer. Preparem a Fraxinus


Ex para decolar. Eu acredito que a manutenção já tenha sido concluída, correto?

— Sim, senhora!

Os membros da equipe gritaram em uníssono.

— Porém, parece que a energia do hangar foi cortada pelo inimigo. Não
podemos operar o portão.

— Hm, acho que não temos escolha. Passem por cima.

— Ligue o Realizer base com o propulsor e liberem o Território.


Inicializem a camuflagem e a evasão automática.

— Como desejar, iniciando a unidade Realizer base e o motor justaposto.

— Construindo o território. Estamos prontos para partir.

Os bipes triviais e tons eletrônicos dos mecanismos surgiram de algum


lugar acompanhados pelas vozes animadas da equipe. Enquanto eles ficavam
cada vez mais altos, Kotori levemente acenou com a cabeça e deu um olhar à
Shidou e os outros que estavam convenientemente em pé do lado dela.

185
— Preparem-se, segurem firme.

— Oh, tá bom.

Shidou acenou com a cabeça em concordância e segurou firme no pilar


posicionado o lado da parede. Os espíritos imitaram seu exemplo, exceto
Origami e Nia que seguraram em seus braços. As duas foram por fim puxadas
por Tohka e as outras que lutaram para manter até o último dedo agarrado aos
braços do pobre garoto. Kotori suspirou de desanimo e virou sua cabeça para
frente, dando ordens em tom de comando.

— Fraxinus EX, vai!

Logo após isso, todo o lugar tremeu como se reagisse ao seu comando. O
monitor primário mostrou as paredes interiores do Hangar sendo demolidas por
uma força invisível devastadora, fazendo-as ficar em entulhos.

Uma sensação de formigamento e flutuação envolveu toda ponta de


comando, e a imagem mostra na grande tela se transformou no céu azul em
instantes.

— Uohh...

Shidou exclamou suavemente enquanto colocava força nas pernas para


estabilizar seu corpo.

Uma nave que utiliza unidades Realizer não precisa adquirir elevação
como outros veículos aéreos para alçar voo. Pelo contrário, o Território que cobre
toda a nave faz com que a embarcação toda flutue irrestritamente. Por esse
motivo, ele pode voar de uma forma que desafia as leis da física.

Naquele momento, uma grande silhueta foi confirmada voando no céu


pelo monitor, resultando em um alarme sendo disparado dentro da ponte de
comando.

『A nave de batalha inimiga que paira sobre a base foi confirmada. O que
devemos fazer?』

A voz de Maria foi emitida pelo alto-falante. Kotori franziu o cenho e


levantou o palito do pirulito.

— Nós devemos prosseguir para o espaço o mais rápido o possível.

『Afirmativo.』

186
— Mesmo que soframos algum dano, não podemos diminuir a velocidade.

『Afirmativo.』

— Você já sabe do resto, Maria.

『Afirmativo.』

Como Maria insipidamente respondeu, Kotori então segurou seu pirulito


entre os dedos e apontou para frente.

— Resolva isso em um minuto.

『Essa é a Kotori que conheço.』

Com maria dizendo isso de forma alegre, Kotori então deu ordens à
equipe.

— Descarreguem os <Yggdrafolium> número um a três. Definam o


território para obstruir qualquer intruso e mude seus atributos para explosivo em
seguida.

— Entendido, as unidades <Yggdrafolium> um a três estão preparadas


para serem lançadas.

Os monitores auxiliares mostraram um esboço da Fraxinus, mostrando


sua seção traseira que parecia uma grande árvore brilhante. No instante seguinte,
algumas "entidades desconhecidas" que apareceram na tela voaram em direção
ao céu sem fim.

O motivo pelo qual eles foram descritos como entidades desconhecidas


era simples, essas entidades desconhecidas estavam cobertas por uma
camuflagem desconhecida. Os olhos nus de Shidou não era capaz de vê-las.
Assumindo que os transparentes <Yggdrafolium> entrará em contato com a nave
inimiga, sua trajetória poderia levemente distorcer o espaço.

Segundos depois, eles chegaram em frente a nave de guerra da DEM e


essas entidades desconhecidas simultaneamente detonaram. Mesmo o inimigo
não esperava que isso acontecesse. A deplorável nave emitiu uma fumaça grossa
e começou a descer em direção a superfície.

— Hmm.

Kotori apontou seu dedão para baixo.

— Tempo decorrido, 52 segundos.

187
— Passável, nós temos que recuperar esse tempo. Eleve a altitude e
atravesse a atmosfera de uma vez só.

— Entendido!

Assim como a equipe respondeu. O corpo da Fraxinus levemente vibrou e


a visão na tela principal mudou em velocidade incrível. Essa cena parecia com a
registrada por uma câmera presa em um balão subindo.

Antes de alguns minutos se passarem, o cenário mostrado no monitor


principal já não era mais o céu, mas sim o espaço sideral, um lugar negro com
incontáveis estrelas brilhando.

Era exatamente a mesma cena que a câmera automática tinha registrado


anteriormente, Shidou engoliu em seco olhando fixamente o cenário.

Naquele momento...

A figura de uma jovem garota afundada em um sono tranquilo com


esvoaçantes cabelos dourados apareceu.

— ...Mukuro...!

Shidou cerrou seu punho com força quando disse o nome da garota.
Apesar do fato de sua voz não alcançar o lado de fora, as sobrancelhas de Mukuro
tremeram de leve.

— ...Hã?

A Fraxinus detectou um som vindo do lado de fora. Apesar de fraco, era


definitivamente a voz da Mukuro sendo transmitida pelo alto-falante.

Sob circunstancias normais, o som não pode se propagar no vácuo do


espaço. Mas isso é provavelmente devido ao efeito do território de seu Astral
Dress que permitia sua voz prontamente e claramente vibrar nos ouvidos de
Shidou.

— Tu devias ter ouvido minha advertência, tu que viste da mesma origem.

Mukuro esticou seu corpo e ergueu a mão direita, seus lábios se moveram
levemente.

— <Michael>.

188
Com esse verso dela, um cajado em forma de chave se materializou na
mão direita de Mukuro. Ela então encaixou a parte dentada de <Michael> em um
espaço vazio.

—《Rãtaibu -Unlock》.

Mukuro virou a chave, criando um portão gigantesco. Ela ergueu a mão,


e imediatamente a abaixou executando sua sentença de morte. Os inúmeros
pedaços de lixo dispersados no espaço ao redor foram atraídos pelo portão e
sugados para dentro, parecido com um buraco negro que suga tudo. No
momento seguinte, mais portões apareceram em volta da Fraxinus, disparando
diversos projéteis de uma só vez.

— U-Uawahh?!

Shidou não pôde deixar de se curvar quando ele viu o incontável número
de pedras viajando em direção da nave com velocidade considerável. Porém,
Kotori não estava sequer frustrada e prontamente deu ordens.

— Território, especializar em defesa!

— Entendido!

As telas dos monitores auxiliares brilharam fracamente. Enquanto isso, os


inúmeros projeteis se desintegraram antes de atingir o corpo da nave.

— I-Isso é...

— Seria outra coisa se tivéssemos sido atacados diretamente pelo anjo, mas
essas pedrinhas não têm efeito algum contra a Fraxinus.

Kotori explicou triunfantemente enquanto girava a cadeira de capitão 180


graus em direção a Shidou.

— Muito bem, Shidou, é sua vez, está preparado?

— Un, é claro.

Shidou balançou a cabeça com zelo enquanto mostrava determinação.


Kotori então arregalou os olhos como se não esperasse essa reação.

— Mesmo que eu não saiba o que você e o /Shidou/ do outro mundo


conversaram, essa sua atitude não é nada mal. Muito bem, vamos começar nossa
guerra <encontro>.

189
Quando ela disse isso, Kotori usou seu queixo para sinalizar os membros
da equipe que operavam seus consoles de automação. Em volta do esquema da
Fraxinus mostrado no monitor, um campo circular aumentou de tamanho.

— Nós vamos expandir o território da Fraxinus até as coordenadas da


Mukuro, assim o Shidou não vai precisar se preocupar com o ar ou a radiação
cósmica. Você poderá se movimentar livremente pelo espaço. Afinal, vestir uma
roupa espacial é algo nada romântico para se vestir em um encontro.

Kotori encolheu os ombros como se tivesse contado uma piada e


continuou a falar.

— Você pode depender de nós para controlar seus movimentos básicos e


se defender. O Território deve ser capaz de bloquear qualquer ataque como antes.
Shidou, você tem que fazer o máximo o possível para se aproximar da Mukuro.
Comece a estratégia.

— .....

Shidou olhou atentamente mais uma vez para a Mukuro que estava
flutuando no centro do monitor LCD, e levemente assentiu com a cabeça
enquanto soltava o ar em seu pulmão.

... Naquele momento.

— S-Sobre isso.

Natsumi, que estava timidamente se escondendo atrás de Yoshino,


inesperadamente falou.

— O que foi, Natsumi? — Perguntou Kotori, se virando em direção da voz.

— ...Não, não é nada, é que... a Mukuro parece... ser assustadora... nós não
devíamos ir junto? Vai ser... o que acha?

Natsumi murmurou hesitantemente enquanto olhava solitariamente para


o lado.

Como se algo tivessem sido despertados pelas palavras dela, os outros


Espíritos verbalizaram suas opiniões também.

— S-Se eu puder ajudar... E-Eu de bom grado ajudarei a proteger o Shidou-


san com o <Zadkiel>... se o Território não conseguir segurar a Mukuro-san...

— Ah, boa ideia. As músicas do meu <Gabriel> poder ser úteis também.

190
— Ooh! Eu vou também!

Os Espíritos pediram alternadamente com olhos parecidos com os de um


filhote de cachorro pedindo carinho, o que fez sua expressão ficar desconfortável
por um grande período de tempo. Por fim, Kotori não teve escolha a não ser
desistir e suspirar.

— Pessoal, sério... só façam algo se a vida do Shidou estiver em perigo,


esse encontro tem como objetivo persuadir a Mukuro. Uma multidão de pessoas
se aproximando dela sem ela compreender o porquê só vai deixa-la alerta e
dificultar as coisas.

— Ooh!

Os Espíritos forçadamente concordaram com ela movendo suas cabeças.


Shidou não pôde fazer nada além de dar um sorriso torto ao ver essa cena.

— Obrigado pessoal. Eu vou dar meu melhor para que não precisem fazer
nada.

Shidou prontamente deu um passo à frente e ocupou a unidade de


teletransporte.

— Bem então, estou em suas mãos, Kotori.

— Un, comecem o teletransporte imediat...

Porém, quando Kotori estava dando sua ordem final, uma luz vermelha
se iluminou dentro da ponte de comando, junto com uma sirene de alarme.

— O que está acontecendo?!

— ...! É um inimigo! Acima da Terra, são três... não, quatro naves de guerra
da DEM!!

Quando Minowa gritou essa situação emergencial, as figuras de algumas


naves de guerra apareceram no monitor. A drástica mudança de eventos fez o
rosto de Kotori ficar enfurecido.

— Mas que péssima hora... mesmo que já fosse esperado, eu não pensei
que aconteceria tão cedo. Bem, eles vão ser feitos em picadinhos que nem antes,
não importa quantos sejam...

191
No meio de suas palavras, as sobrancelhas de Kotori se distorceram
levemente. Seus olhos estavam fixamente focados nas quatro grandes naves de
guerra mostradas na tela, mirando especificamente a menor entre o quarteto. Mas
"menor" era meramente uma questão de relatividade. Sua expressão ficou severa,
permeando com um pouco de excitação. As características do corpo da nave eram
como a de um peixe platinado, e seu exterior era obviamente heterogêneo com o
das outras naves. Como elas estavam ali juntas, isso significava que elas vieram
com intenção de combate. Mas a nave que estava destacada das outras parecia
ter sido desenvolvida para objetivos especiais e para o uso de alguém altamente
qualificado.

Kotori girou o palito do seu pirulito e proferiu o nome daquela nave.

— Goetia...!

— O qu...! — Shidou arregalou os olhos chocado.

<Goetia>. Apesar de ser a primeira vez que ele vê aquela nave com seus
próprios olhos, aquele nome foi dito pela boca de Kotori diversas vezes. Era a
nave de guerra pessoal da Ellen Mira Mathers, equipado com o mais poderoso
motor do mundo. Além disso, no "mundo passado", a nave tinha abatido a
Fraxinus. Gotas de suor escorreram pelo rosto de Kotori enquanto ela lambia seus
lábios secos.

— Que rancorosa, pedindo uma revanche no primeiro dia que a nova


Fraxinus alça voo.

— Algum problema...?

Shidou perguntou enquanto franzia as sobrancelhas. Maria então


respondeu pelo alto-falante.

『Não se preocupe. Eu sou diferente da versão anterior. Eu vou fazer com


que o inimigo conheça o nome da nave número um do mundo.』

— Muito bem dito, Maria.

Kotori afastou para trás os cantos de sua boca para mostrar um sorriso e
instintivamente ordenou aos membros da equipe.

— Montem o Território duplo! Expandam a primeira camada nas


coordenadas (6,2,2), definam o atributo como controle espacial, e definam a
segunda camada como defensiva! Preparem-se para a batalha!

192
— Entendido!

Os membros da equipe simultaneamente responderam à suas instruções e


rapidamente começaram a operar seus respectivos consoles de automação.
Depois de Kotori observar o progresso do trabalho deles, ela voltou sua cabeça
para Shidou e mostrou a ele um generoso polegar.

— Mukuro é toda sua, Shidou. Boa sorte em sua batalha, não, nesse caso...
Boa sorte em seus assuntos românticos.

— Haha, o que você quer dizer com isso?

Ao ouvir as palavras estranhas, porém acalentadoras dela, Shidou caiu em


gargalhadas.

— Você também, Kotori.

— Un.

Seguindo a resposta breve de Kotori, o corpo de Shidou foi levado para o


lado de fora da nave sem demora. Sua visão instantaneamente mudou da ponte
de comando da nave para a vastidão do espaço sideral. Uma sensação de
levitação caiu sobre seu corpo.

— Ooh...?!

Shidou gritou quando seu corpo foi liberado do peso da gravidade, quase
orbitando no lugar.

Todavia, precisamente como Kotori tinha dito, havia um profundo senso


de estabilidade como se uma mão invisível o estivesse guiando pelas costas. Era
sem dúvidas o território que mantinha a compostura do corpo de Shidou.
Naturalmente, devido ao fato de ele não ter nenhuma experiência em mergulhar
no espaço, um formigamento não pôde ser evitado. Mas ele conseguia respirar
normalmente e a temperatura que sentia era apropriada. Essas condições
controladas eram suficientes o bastante para dar o clima necessário para Shidou
conversar com Mukuro normalmente.

— ...okay.

Shidou acenou com a cabeça gentilmente, contraindo poderosamente suas


pernas e pedalando pelo espaço. Respondendo ao impulso que Shidou gerou
com seu corpo, ele se móvel na direção de Mukuro.

— ...Hã?

193
Foi então que ela finalmente percebeu a existência irritante que estava
vagarosamente se aproximando dela. Mukuro mudou a direção de seu olhar para
ver Shidou se aproximar, solenemente espremendo seus olhos em resposta.

— Tu, se me recordo, teu nome és Shidou, lamento não me esquecer. A


Muku já não te deste adeus há muito tempo atrás?

Ao ouvir a voz de Mukuro pessoalmente pela primeira vez, ele percebeu


um pouco de tensão e nervosismo misturado com alegria e senso de dever em
seu corajoso coração enquanto encarava atentamente o rosto de Mukuro.

— Estou honrado por se lembrar do meu nome. Isso significa que você
queria me ver de novo?

— ...Hã?

Mukuro inclinou sua cabeça, mas isso não significava que ela não
entendeu as palavras de Shidou. Dizer tais palavras tão confiantemente fizeram
ela suspeitar que Shidou tinha batido a cabeça ou tivesse enlouquecido. Porém,
Shidou não se importou com isso e continuou.

— Se prepare, sua criança mimada. Você vai descobrir que meu ego não
tem fim.

Dentro daquele mundo escuro infindável que separava os céus da terra,


as cortinas foram abertas para revelar um <encontro> clandestino entre homem e
espírito.

Continua...

194
Posfácio
Há quanto tempo, eu sou Tachibana Koushi.

Dessa vez, eu apresento a vocês o Volume 14 de Date a Live: Planeta


Mukuro, o que acharam dele? Eu ficarei extremamente honrado se gostarem.

Como mencionei, 六喰 é lido como むくろ (Mu-ku-ro). Seguindo a linha


do nome impronunciável da Kurumi 時崎狂三 e o nome totalmente confuso da
Natsumi 七罪, outro nome complicado foi introduzido. Por que ela se chama
assim? É porque fica muito mais elegante dessa forma. Quando eu apresentei
esse nome ao editor, ele me disse que 喰 era muito mais legal que 食 (observação
do tradutor: no literal ambos têm o mesmo significado = comer).

Seguindo, esse volume é dividido quase que completamente em capítulos


no espaço e capítulo no mundo de conto de fadas. Na linha temporal da trama
principal, é como se concluísse o arco da Nia e começasse o da Mukuro.

De qualquer forma, a versão de conto de fadas dos Espíritos ficou tão


adorável! Isso realmente me fez ter vontade de colocar os outros personagens
naquele mundo. Vamos imaginar:

《A bela adormecida Reine》 (Na verdade ela não dorme por causa da
insônia.)

《Princesa Kaguya - Tama-chan》 (Não consegue se casar porque tem


padrões muito altos)

《O lobo e as Sete Kurumis》 (Mas elas que vão atazanar o lobo dessa
vez.)

《Ali Baba e as 40 Kurumi》 (Coitadinho dele)

《101 Kurumis》 (Somente desespero é o que nos resta)

Seria bem complicado, apesar de bem interessante. Eu espero conseguir


escrever algo assim em uma história extra ou um capítulo solto. Foi graças ao
esforço de muitas pessoas que esse volume pôde ser publicado.

195
AVISO LEGAL
Date a Live 14: Planeta Mukuro foi lançado em março de 2016 pela editora
Kadokawa, que possui os direitos autorais da obra. A Shirogatari Scans disponibiliza a
tradução dessa obra somente com o objetivo de divulgação de fãs para fãs, sem fins
lucrativos. Pedimos que, caso seja publicado em território nacional, adquirem o material
oficial.

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CRÉDITOS

Estória: Tachibana Koushi

Ilustração: Tsunako

Tradução jp-en: Fabio M. Sim

Tradução em-pt(br): Myturn

Revisão: Fallen-kun

Edição: Myturn

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