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A roda de água

Autor(es): Poças, Manuel


Publicado por: Publindústria
URL URI:http://hdl.handle.net/10316.2/29970
persistente:
Accessed : 25-Mar-2023 14:02:48

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REGA

Por: Manuel Poças


A RODA DE ÁGUA Servindus – Manutenção
de Máquinas e Equipamentos
Industriais, Lda

N
a continuidade do tema das energias limpas e renováveis, e com o agravar do aperto eco- mento contrário, desloca e força a abertura
nómico em consequência dos elevados custos da energia eléctrica e dos combus- tíveis da válvula de descarga, permitindo o escoa-
líquidos, e não sendo também a energia solar a solução final, por ser cara a sua instala- mento da água para fora do cilindro contra a
ção, a roda de água surge como uma alternativa fiável, segura e confiável. pressão resultante da carga dinâmica. No ci-
Este conjunto é formado por uma máquina motriz (roda) que aciona uma bomba alternativa clo, os movimentos serão alternados. A bom-
de pistão e pode ser instalada em quintas, fazendas e locais onde exista um pequeno curso de água. ba também possui uma câmara estabilizado-
ra que atenua a intermitência do movimento
HISTÓRIA da água na rede, evitando o efeito chamado
Inventada desde a época dos egípcios, a roda de água foi aplicada para muitas finalidades. A uti- golpe de aríete. Essa câmara funciona como
lização do seu movimento para bombear água, ocorreu há mais de 65 anos por um brasileiro que uma mola amortecedora.
patenteou a invenção. Hoje a empresa criada por ele, ainda fabrica e comercializa os seus produtos
para todo o mundo.

CONSTITUIÇÃO E FUNCIONAMENTO DO SISTEMA


Constitui-se basicamente por uma roda feita de aço dotada de alhetas dispostas que formam
pequenos reservatórios, um mancal com eixo de transmissão, uma bomba alternativa de dois
pistões, equipada com um conjunto interno de lubrificação, câmara estabilizadora, e um su-
porte de instalação do equipamento. (Figura 2).
A bomba do tipo aspirante-premente, exerce simultaneamente pressão e sucção. Compos-
ta por dois pistões ou êmbolo, podendo ser para frente e para trás ou para cima e para baixo,
transformam o movimento circular da roda em movimento rectilíneo alternado, diferindo do
funcionamento das bombas centrífugas e rotativas que possuem movimento circular e maior
rotação. Figura 2
Através da energia potencial proporcionada pelo local de instalação, (altura de queda e o
volume de água para acionamento da roda) o movimento circular da roda é transformado em
movimento rectilíneo alternado, por meio de um mecanismo tipo biela-manivela, dotado de FORMAS DE ACIONAMENTO
um excêntrico, instalado na extremidade do eixo de transmissão da roda d’água. DA RODA D’ÁGUA
Durante o movimento alternado de sucção e pressão, um dos pistões, pelo sentido do seu O acionamento da roda d ’água pode ser feito
deslocamento, cria uma depressão (vácuo) abrindo a válvula de sucção, permitindo, assim, a de duas formas:
entrada de água no cilindro. Essa água provém de um reservatório, como uma caixa de de-
cantação, ou até de uma nascente de água. Neste mesmo tempo, o outro pistão, pelo seu movi a) Água impulsora caindo sobre a roda: esta é
a situação mais comum e eficiente. A água
é levada até à roda através de um tubo
Figura 1
PVC rígido ou de uma calha de madeira,
Esquema de uma bomba alternativa com dois pistões
alvenaria ou chapas de aço. A bica ou calha
deve ter dimensão e inclinação adequadas
para que a água caia suavemente sobre
a roda, atingindo as primeiras alhetas
situadas logo adiante do topo da roda.
(Figura 3)

Figura 3

100
A tabela 1 abaixo demonstra uma média de
volume de água para acionamento da roda
para cada tipo de acionamento do conjunto.

Tabela 1
Diâmetro do tubo para acionamento
da roda

Diâmetro da tubulação de acionamento


Vazão (l/s) Diâmetro ('')
Até 2 2
2a4 3
4a8 4
8 a 15 6
15 a 30 8
30 a 50 10
50 a 80 12

Por se tratar de um equipamento ins-


talado em ambiente externo, geralmente a
grandes distâncias, acaba por sofrer com to-
das as intempéries da natureza, assim, o pro-
duto tem uma construção robusta, para ga-
rantir a durabilidade, tem baixa intervenção
em manutenção e fácil manuseio. Na figura
4 são apresentadas algumas características
para esse tipo de trabalho.

DIMENSIONAMENTO
Para uma indicação adequada da bomba e Figura 4
da roda, o fabricante possui curvas de rendi- Detalhes do mecanismo interno de um modelo de bomba à roda de água.
mento com uma grande variedade de opções,
baseadas nas características informadas de
uma propriedade rural, bem como das ne-
cessidades futuras. Por isso é importante
recolher os dados necessários para o méto-
do de dimensionamento, que compreende, a
figura 5.

b) Água impulsora a pasar sob roda de pás


planas, em canaleta: É usado quando a
queda do terreno for insuficiente para
acionar a roda por cima. Nesse caso, a
roda é instalada dentro de uma canaleta
de alvenaria ou madeira com ligeira
folga entre os lados e o fundo desta. A
canaleta deve ser construída de maneira
a aproveitar o máximo do desnível do Figura 5
terreno. Esquema de instalação

“ é formado por uma máquina motriz (roda) que aciona uma


(...)
bomba alternativa de pistão e pode ser instalada em quintas, fazendas
e locais onde exista um pequeno curso de água.
” AGROTEC / JUNHO 2013 101
REGA

lietileno. Para tubagens de recalque longas e/ou com grandes alturas de recalque, deve-se ter em
conta a escolha de um tubo que suporte a pressão que se desenvolverá no início da mesma.
Deve-se, no início da tubagem de recalque, instalar uma válvula de retenção.
Normalmente, este tipo de equipamento uma vez instalado, requer um mínimo de cui-
dado na manutenção. A manutenção periódica consiste na troca regular do óleo da bomba,
obedecendo a critérios do fabricante e aperto e troca de empanques.
A bomba ainda possui um sistema que permite uma regulação do movimento excêntrico,
podendo ser alterado o curso dos pistões, adaptando-se assim, a diferentes valores de vazões
disponíveis. Assim sendo, no período da seca, quando é comum a diminuição da vazão da água
impulsora, ocorrerá uma queda de rotação da roda. Se esta queda de rotação for grande, a roda
pode ter breves paragens, girando “aos soluços”. Neste caso, deve-se usar o recurso da redução
do curso dos pistões.
Aumentando-se a água para acionar a roda, aumenta-se a rotação e portanto a vazão da
bomba. A relação entre a velocidade de rotação da roda e a vazão da bomba é fornecida pelo
fabricante.
Para cada situação de instalação é necessário um cálculo de dimensionamento, para me-
lhor aproveitamento dos recursos oferecidos. Para isso, oferece-se uma gama de bombas e ro-
das, para determinado tipo de necessidade. A tabela abaixo demonstra alguns dados referentes
à rotação da roda a vazão bombeada, sublinhando que existem ainda, vários modelos de bombas
Figura 6 e rodas que alcançam vazões de até 100.000 litros por dia.
Instalação de duas bombas à roda de
água numa propriedade rural. Tabela 3
Rendimento Litros (dia) / RPM - MSG 42 F

INSTALAÇÃO, OPERAÇÃO Altura Vazão (litros por dia)


Entrada
Série Curso Máxima
E MANUTENÇÃO e Saída
(metros) 20 rpm 30 rpm 35 rpm 40 rpm
O sistema deve ser montado sobre uma base
1 (min.) 250 1.300 2.100 2.600 3.100
firme e nivelada, podendo ser de betão ou M 3/4''
2 (máx.) 170 2.200 3.500 3.900 4.700
alvenaria, de forma a evitar vibrações que
Roda padrão: Rodas especiais
possam afectar o bom funcionamento do sis- MSG 42 F
1,10 x 0,13 m 1,10 x 0,17 m 1,37 x 0,13 m 1,65 x 0,13 m
tema. A tubagem de sucção é conectada à vál-
vula inferior da bomba sendo que a profundi-
dade máxima de sucção não deve ultrapassar Tabela 4
os 6m. Rendimento Litros (dia) / RPM - MSG 42

Altura Vazão (litros por dia)


Tabela 2 Entrada
Série Curso Máxima
legenda e Saída 20 rpm 30 rpm 35 rpm 40 rpm
(metros)
1 (min.) 250 2.900 4.200 5.100 6.000
Limites de secção M 3/4''
2 (máx.) 150 4.500 6.800 8.000 9.100
Distância de sucção Profundidade Máx. de
(metros) sucção Roda padrão: Rodas especiais
MSG 42
Até 3 6m 1,10 x 0,17 m 0,80 x 0,25 m 1,37 x 0,13 m 1,65 x 0,13 m
3 a 10 5m
10 a 20 4m
Tabela 5
20 a 30 3m
Rendimento Litros (dia) / RPM - MSG 51
30 a 40 2m
40 a 50 1m Altura Vazão (litros por dia)
Entrada
Série Curso Máxima
e Saída 20 rpm 30 rpm 35 rpm 40 rpm
(metros)
Segundo as recomendações de fabricantes
1 (min.) 210 4.250 6.400 7.900 8.550
deste tipo de bomba, a água deve entrar na bom-
A 1'' 2 180 6.050 9.100 11.850 12.150
ba via sucção por um reservatório, ou uma caixa
3 (máx.) 140 8.950 13.500 15.800 18.050
de decantação e nunca por gravidade.
Roda
É extremamente importante evitar a entra- Rodas especiais
padrão:
da de inertes no interior das válvulas e desgaste 0,80 x 0,25 m 1,10 x 0,17 m 1,10x 0,25 m
MSG 51
prematuro dos pistões. 1,37 x 0,17
1,37 x 0,25 m 1,65 x 0,17 m 1,65 x 0,25 m
A tubagem de recalque pode ser em tubos m
1,90 x 0,17 m 2,20 x 0,17 m pás 1,65 x 0,48 m
de ferro galvanizado, PVC rígido ou mesmo po-

102
COMO DIMENSIONAR UM CONJUNTO? realizado com distribuidores e revendedores.
Como foi dito, para o correto dimensionamento de um equipamento, é necessário recolher alguns Na maioria das vezes os valores estimados para
dados do local de instalação. consumo sempre são menores que realmente é
É importante saber o ponto de instalação, evitando locais sujeitos a erosão, enchentes, e saber o utilizado. O importante do cálculo é indicar o
ponto máximo de elevação. modelo adequado por aquela energia potencial
Frequentemente, eleva-se a água para um reservatório que por gravidade distribui para inú- disponível. Existe modelos de bombas, que são
meros pontos, como bebedouros de animais, abastecimento doméstico, pequenas irrigações, etc. acionadas a partir de 1 litro por segundo com
Também é importante ter em consideração, que a medição de volume de água considere os altura de queda de 1,25 metros no mínimo.
períodos de seca, que em algumas regiões, diminui muito, comprometendo o funcionamento.
Através dessas e outras variáveis, será determinado o cálculo. Os dados devem ser recolhidos
corretamente para que não seja comprometida a eficiência do produto. Ver abaixo o que é necessário
para efetuar o dimensionamento.

Distância: A distância, ou comprimento da rede de abastecimento deve ser conhecida por forma
a que o calculo do seu diâmetro tenha como objetivo a melhor relação custo / rendimento da insta-
lação. Não se devem usar tubagens com diâmetro inferior à saída da bomba, pois isto pode restringir
o bombeamento e até mesmo inviabilizar o funcionamento do conjunto.

Desnível: O desnível ou  altura de bombeamento obtém-se com a utilização de um altímetro,


GPS ou por meio do plano altimétrico do local. Toma-se a medida do ponto onde se instalará a
bomba até o reservatório, inclusive sua altura, para onde a água será bombeada.

Volume de Acionamento da Roda: Para medir a vazão de acionamento da roda utilize


pedaço(s) de tubo de P.V.C. ou uma canaleta de diâmetro compatível com a vazão e instale-o (s) de
forma provisória no local onde a água está disponível (represa, mina, etc.) mas de forma que ela
possa ser conduzida para um tambor ou outro recipiente de volume conhecido. Marque em quantos
segundos esse tambor ficará cheio e divida o seu volume pelo tempo gasto obtendo-se assim, a vazão
em litros por segundo.
Exemplos:
– Uma lata de 18 Litros que se enche em 3 segundos terá: Vazão= 18/3= 6 L/s
– Um tambor de 200 Litros que se enche em 15 segundos terá: Vazão= 200/15= 13,3 L/s

Altura de Queda para Instalação: O desnível local (queda d’água), se necessário, deve
ser medido utilizando-se a mangueira de nível, a mesma utilizada pelos pedreiros. Esse dado é im- Figura 7
portante, pois, como a água deve cair sobre a roda, é necessário calcular seu diâmetro para que
tenha torque suficiente para realizar o bombeamento à altura desejada. A figura 8 é de uma instalação em paralelo
de 16 bombas, modelo MSG-89.
Necessidade Diária de Água: É importante um levantamento de consumo segundo as Este projeto bombeia mais de 1 milhão de
atividades desenvolvidas na propriedade. Se possível leve em consideração necessidades futuras. litros de água por dia, para um confinamento
Confira o consumo médio (em Litros por dia) de água no campo: bovino, num estado brasileiro.
– Pessoa: 200 litros por dia A amortização do investimento, foi em tor-
– Bovinos: 40 litros por dia no de 1 ano, pelo que seria gasto se bombeasse
– Vacas Leiteiras: 60 litros por dia com utilização de energia elétrica.
– Cavalos: 30 litros por dia
– Porcos: 22 litros por dia
– Ovelhas: 8 litros por dia
– Aves (Centena): 38 litros por dia

Exemplo: O Sr. Joaquim Almeida recolheu os seguintes dados na sua propriedade: Distância
de 1000 metros, desnível de 40 m, (relação do ponto mais alto e ponto mais baixo), Vazão de
Acionamento de 4 litros por segundo, uma altura de queda de 1,80 m e uma necessidade de
6.000 litros por dia. Ele quer saber qual modelo de bomba deve adquirir.

Resposta: Com os dados obtidos e pela tabela de curvas (figura 7), a bomba indicada é
uma MSG-51 com uma roda de Ø 1,65 x 0,17, no curso 3, com tubulação de 1” com uma vazão
média de 8.000 litros por dia, superando as expectativas do Sr. Joaquim. É importante ressal-
var que para utilizar a tabela de curvas, depende de conhecimento técnico e um treinamento Figura 8

AGROTEC / JUNHO 2013 103

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