Você está na página 1de 10

APOSTILA 1º ANO - CAPOEIRA

É dança? É jogo? É luta? É tudo isso ao mesmo tempo? Parece que sim, e é
isso que a torna tão complexa, tão rica, tão surpreendente. É luta, "das mais
violentas e traiçoeiras", dissimulada, disfarçada em "brinquedo", jogo de habilidade
física, astúcia, beleza... e muita malícia!

O jogo da Capoeira numa das


antigas rodas da Bahia.

A Capoeira é uma
manifestação da cultura popular
brasileira que reúne características
muito peculiares:

1. É um misto de luta–jogo–dança;

2. O ritmo e as características do
jogo são regidos pelo toque do
berimbau, instrumento
preponderante na orquestra de
capoeira (que inclui também o
pandeiro, o atabaque, além do
agogô, o reco-reco, o adufe etc.)

3. Os cânticos (às vezes acompanhados de palmas) também têm função


importante na determinação do tipo de jogo.
4. É um excepcional sistema de auto-defesa e treinamento físico, destacando-
se entre as modalidades desportivas por ser a única originariamente brasileira e
fundamentada em nossas tradições culturais.
O espaço em que se pratica a capoeira é a roda, um círculo em torno do qual
se sentam (ou apenas se agacham) os praticantes. Junto à entrada da roda ficam os
instrumentos, com o(s) berimbau(s) ao centro, comandando a roda. Todos os
participantes devem saber tocar os instrumentos, de modo que possam revezar-se
na função, permitindo assim que todos tenham sua vez de jogar.
As palmas são
responsabilidade daqueles
que estão sentados
assistindo, esperando sua
vez de jogar,
acompanhando sempre o
ritmo ditado pelo berimbau.
Todos devem responder em
coro aos versos cantados.
Uma boa roda de capoeira
acontece quando todos os
envolvidos, ainda que
poucos, estiverem
participando com vontade,
dando corpo
ao
acompanhamento musical
e aumentando assim a
motivação daqueles que
jogam.
A Capoeira já foi motivo de grande controvérsia entre os estudiosos de
sua história, sobretudo no que se refere ao período compreendido entre o seu
surgimento – supostamente no século XVII, quando ocorreram os primeiros
movimentos escravos de fuga e rebeldia – e o século XIX, quando aparecem os
primeiros registros confiáveis, com descrições detalhadas sobre sua prática.

A primeira grande questão que se colocava aos estudiosos era: a


Capoeira surgiu na África ou no Brasil?
Atualmente, considera-se esta questão como já resolvida. Tem-se hoje a
convicção de que a capoeira é, de fato, uma manifestação cultural genuinamente
brasileira. Tudo leva a crer que ela seja uma invenção dos africanos no Brasil,
desenvolvida por seus descendentes afro- brasileiros.
É brasileira, mas de raiz cultural africana.
Tem ela uma história acidentada, pontilhada de episódios vexatórios e
truculentos. Perseguida desde o começo, no caldeirão que misturou as várias etnias
que formam o nosso povo, ganhou fama de má prática, coisa de malandros,
larápios, “vadios”. A perseguição durou até a década de 1930, quando, graças
principalmente ao trabalho de Mestre Bimba – “o Lutero da Capoeira” – e seus
discípulos, inaugurou-se a fase de efetiva sistematização do ensino da capoeira e de
seu reconhecimento social, assim como o de todas as outras manifestações culturais
de matriz africana. O nome de Mestre Pastinha também se destacou nesta fase,
permanecendo ambos – Mestre Bimba e Mestre Pastinha – como os dois maiores
heróis lendários da capoeira.
Dizem, hoje, os mestres mais sábios que é o equilíbrio entre as duas
melhores características de um e outro – a explosão do puro guerreiro, por um lado,
e a poesia do movimento, por outro – aquilo que todo capoeirista deveria procurar
atingir, sempre!
E que jogo é esse, O JOGO DA CAPOEIRA?

Destreza, malícia, a dança guerreira.


Luta de escravos em busca da liberdade; luta, dissimulada na elegância de
gestos quase sagrados, na descontração alegre e galhofeira do espetáculo.
Espetáculo sublime, quando estão em harmonia o toque do berimbau, os
demais instrumentos, a voz do mestre, o coro polifônico, a dança dos dois guerreiros
e a emoção do perigo real, sempre à espreita, à espera do momento certo, o bote
fatal.
Capoeira é Jogo, dança e luta.
O JOGO

Sentados ou de pé
em roda, os tocadores de
berimbau, pandeiro,
atabaque e agogô.
O coro e os
capoeiristas postam-se em
volta da roda; dois
capoeiristas agacham-se à
frente dos tocadores, ao
pé do berimbau, e
escutam com atenção e
acompanham a cantiga da
roda de capoeira. Os
cânticos geralmente
contêm lições de vida e
transmitem a filosofia da
capoeira, servindo de
inspiração para o jogo.
Antes de iniciar o jogo os praticantes apertam as mãos, demonstrando
amizade e respeito, reafirmando que o que ali ocorrerá será apenas um jogo e não
uma luta real.
Em geral, entram na roda com um "AÚ" (movimento semelhante à "estrela" da
ginástica olímpica) e começam o jogo.
O jogo de capoeira desenvolve-se a partir da ginga (ou gingado), que consiste
em movimentação contínua do corpo de um lado para o outro, visando a confundir o
adversário e evitar que este possa aplicar um golpe com eficiência. Ao mesmo
tempo, gingando, procura- se um melhor posicionamento para a aplicação dos
próprios golpes. Através destes movimentos, sempre ritmados pelo som do
berimbau, o capoeirista envolve seu parceiro, procurando nunca confrontar
diretamente seus ataques, mas esquivar-se deles e aplicar seus contra-ataques, se
possível em movimentos sincronizados com os movimentos do companheiro.
OS GOLPES

Os golpes são executados sem desviar-se de seu objetivo, ou seja, com a intenção
de atingir o adversário, mas sempre controlando o tempo dos movimentos,
possibilitando tempo para uma resposta adequada, o que garante a continuidade do

jogo.

GOLPES BÁSICOS

Aú, cocorinha, negativa e

rolê TRAUMATIZANTES:
São aqueles que atingem o adversário em forma de
pancada. São eles:
armada
joelhada
asfixiante
leque baú
martelo
bochecho meia lua de
compasso cabeçadas mortal
chibata meia lua de
frente chapéu de couro
ponteira calcanheira
palma cotovelada
queixada chave
godeme
escorão queda de
rins esporão
suicídio forquilha
telefone
galopante vôo do
morcêgo sapinho
DESEQUILIBRANTES:
São aqueles que têm como
objetivo derrubar o adversário.
São eles:
apanhado
arqueado
arrastão baiana
balão de lado balão
cinturado banda de costa
banda trançada benção
cruz
crucifixo cruzilha
dentinho gravata
alta gravata baixa
rasteira tesoura
vingativa

OBSERVAÇÃO:
O movimento básico NEGATIVA
também é um golpe
desequilibrante. Existem variações e
combinações desses golpes,
Desequilibrantes e Traumatizantes, o
que torna a lista bem maior e o
capoerista que as conhece bem é mais
rico e perigoso.

A GINGA

O capoeirista tem de ser o mais leve possível, ter grande flexibilidade no


corpo e gingar o tempo todo durante o jogo. A ginga é elemento fundamental. Dela é
que saem os golpes de defesa e de ataque, não só golpes conhecidos e comuns a
todos os capoeiristas, como também os pessoais e os improvisados na hora.
Segundo a definição de Mestre Decânio: “a ginga consiste no movimento
ritmado de todo o corpo, acompanhando o toque do berimbau, com a finalidade
principal de manter o corpo relaxado e o centro de gravidade do corpo em
permanente deslocamento, pronto para esquiva, ataque, contra-ataque ou fuga.
Durante o gingado, o praticante deve manter-se em
movimento permanente,
simulando tentativas de ataque e
contra-ataque, sempre atento às
intenções do parceiro, em
contínua postura mental de
esquiva e proteção dos alvos
potenciais de ataques."
Cumpre observar, de
acordo com os grandes mestres,
que a eficiência e beleza do jogo
de capoeira reside no fato de os
capoeiras lutarem próximos um do
outro, executando com precisão
as seqüências de golpes,
contragolpes, negaças e saltos
felinos que compõem a luta, em
perfeita sincronia de movimentos,
sem que se toquem, a não ser nos
golpes desequilibrantes ou nos
balões da cintura desprezada
(exclusivos da capoeira Regional, estes últimos também chamados de golpes
ligados ou cinturados), e seguindo rigorosamente a cadência marcada pelo toque do
berimbau.
INSTRUMENTOS

O
acompanhamento musical
da capoeira, desde os
primórdios até nossos
dias, já foi feito pelo
berimbau, pandeiro, adufe,
atabaque, ganzá ou reco-
reco, caxixi e agogô. No
presente, é comum vê-la
acompanhada por
berimbau, pandeiro,
atabaque (nem sempre),
caxixi e agogô (nem
sempre).

BERIMBAU

O berimbau é considerado um instrumento sagrado, o principal


instrumento musical da capoeira, e é ele que comanda e dirige a roda: os
outros instrumentos não podem encobrir-lhe o som; é ele que determina o ritmo
ou andamento do jogo – mais lento ou mais rápido; também é ele que
determina o tipo de jogo que se deve jogar (jogo de dentro, de fora, de floreio,
de combate, de demonstração de habilidades, de desarme etc.). Geralmente, é
o mestre quem segura e toca o berimbau, que ocupa a posição central na
bateria. Esta, além do berimbau, compõe-se de pandeiro, atabaque e agogô.

Capoeira Regional

Afluente da Capoeira
Angola, a Capoeira
Regional é
caracterizada pela
agilidade de seus
movimentos, bem como
a variedade bem maior
do que os da Capoeira
Angola.
O estilo regional
de jogar capoeira é
marcado pela rapidez
de seus golpes e
contra-golpes e pelo
ritmo acelerado dos
toques do berimbau
acompanhado do
atabaque e do
pandeiro, é importante

9
lembrar que numa roda
de capoeira regional
somente um berimbau toca, acompanhado do atabaque, de
apenas um pandeiro e as palmas do povo da roda são batidas
em três compassos.
Somente na regional existe o toque de Iúna, que foi
criado criado por Mestre Bimba para o jogo dos discípulos
graduados e do mestre. Para ser um capoeira regional, Mestre
Bimba exibia que a pessoa fosse bem na escola e que
apresentasse o boletim escolar ou então que fosse um
trabalhador com carteira assinada e que apresentasse a
carteira. Esta era a forma de provar que a capoeira regional não
era coisa de vagabundagem, lá haviam pessoas direitas,
trabalhadores e estudantes e desta forma a regional de Bimba
passou a ser ensinada em quartéis, universidades, clubes
sociais e outras instituições públicas sem interferência dos
"moralistas" da época.
Os movimentos da Regional são diferenciados e mais
variados dos da Angola e alguns dos mais rápidos e perigosos
são: armada, queixada, meia lua de compasso, meia lua solta,
bênção, martelo, arrastão, meia lua de frente, aú, balão rodado,
joelhada, giro d e costas, arpão de cabeça, etc. A Regional de
Bimba é um espetáculo, uma verdadeira beleza brasileira.

10

Você também pode gostar