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Músico e líder de uma das mais famosas big bands (orquestras) dos anos 30 e 40,
Tommy Dorsey (1905-1956), junto com seu irmão Jimmy (1904-1957), chegou ao sucesso
nos primeiros anos do rádio norte-americano. As apresentações da big band dos dois
eram marcadas pelos solos de Tommy, no trombone de vara, e de Jimmy, no clarinete ou
no saxofone. Em 1935, os dois passaram a liderar suas próprias orquestras que, poste-
riormente, em 1953, transformaram-se em uma só.
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Considerado um dos bons clarinetistas da história do jazz, Benny Goodman (1909-
1986) dividiu, nos anos 40, a preferência norte-americana no gênero big band music
com Tommy Dorsey, Glen Miller e Artie Shaw. Foi ainda solista - tocando o seu instru-
mento, o clarinete - em concertos sinfônicos.
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A voz de Edward R. Murrow (1908-1965) foi uma das mais identificadas nos países de
língua inglesa em todo o mundo durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1937, passou a
dirigir a sucursal londrina da CBS - uma das principais redes de rádio dos Estados
Unidos, na época. Na capital britânica, Murrow organizou um grupo de correspondentes
que narraram ao mundo o desenrolar do conflito no front europeu.
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Os trechos aqui apresentados são uma tradução livre do original (cf. O’MOORE, Rory.
The day the martians landed. Speak up, Rio de Janeiro: Globo, ano 5, n. 56, p. 36-8,
nov. 1991.).
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tão se separando. O professor desloca-se, estudando o objeto, enquanto o
delegado e mais dois policiais avançam com alguma coisa nas mãos.
Carl Phillips hesita. Um som algo metálico, algo cristalino, se ouve
ao fundo da voz que, cada vez mais, denota nervosismo.
- Já posso ver o que é. Um lenço branco atado a uma vareta de madeira.
É uma bandeira de paz, se é que essas criaturas sabem o que isso significa.
Ou o que qualquer coisa significa para nós.
O som metálico cresce à medida que o delegado e os dois guardas pare-
cem, pela narração do repórter, se aproximar do estranho objeto vindo das
profundezas do espaço, inspirando medo em dose semelhante ao provocado pe-
las crises entre os países da Europa. O ruído do ambiente em torno de Phil-
lips aumenta como o tom da voz do repórter.
- Esperem um momento... Algo está acontecendo... Uma forma estranha
está surgindo de dentro da cratera. É possível distinguir um pequeno raio
luminoso saindo de uma espécie de vidro espelhado.
Surpresa total.
- O que é aquilo? Um jato de chamas está saltando sobre os homens que
avançavam, atingindo diretamente os três policiais...
Gritos lancinantes acompanhados de sons nunca ouvidos nesta América
saída da crise econômica cortam a noite de costa a costa dos Estados Uni-
dos. A narração dramática de Phillips prende a atenção.
- É horrível! Eles ardem em chamas e caem carbonizados em frente ao
objeto alienígena. Agora, o campo inteiro está pegando fogo, as árvores, os
automóveis... O fogo se espalha por toda a parte.
Em minutos, a América está em pânico. Pessoas, histéricas, acorrem aos
hospitais. Com os nervos à flor da pele, os ouvintes ligam para delegacias
de polícia. Naves espaciais são avistadas em Buffalo, Chicago, Saint Louis
e em diversas outras cidades norte-americanas. Em Boston, os moradores de
vários edifícios sobem para os terraços na tentativa de avistar o clarão de
Nova Iorque em chamas ao sul. Fiéis rezam pela salvação em igrejas de di-
versos credos.
Histórica hoje pelos efeitos que causou, a versão de Orson Welles para
Guerra dos mundos, transmitida no The Mercury Theater on the air, consti-
tui-se no exemplo mais emblemático da força do rádio. A adaptação radiofô-
nica para o livro do britânico Herbert George Wells mexeu com as mentes dos
norte-americanos naquela noite. A voz e os sons cuidadosamente escolhidos
traçaram poderosas imagens mentais, muito mais inócuas - sem dúvida - do
que as produzidas ao longo daquela mesma década na Europa. Na Alemanha na-
zista, desde a ascensão de Adolf Hitler ao poder em 1933, o ministro da
Propaganda5, Joseph Paul Goebbels, soube controlar o rádio, transformando-o
5
O título completo de Goebbels era ministro do Esclarecimento Público e da Propagan-
da. Ele controlou os meios de comunicação da época e todas as manifestações artísti-
cas incentivando o belicismo germânico e o anti-semitismo pela divulgação enfática do
conceito nazista da superioridade racial e do destino histórico da raça ariana (cf.
Continua na próxima página.
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no grande difusor da ideologia nazista. Na mesma época, o Brasil de Vargas
começava a ver na radiodifusão sonora um poderoso instrumento de integração
nacional em um país de dimensões continentais.
Todo este impacto do rádio como veículo de comunicação e este interes-
se político na sua utilização atestam somente o seu poder e a sua influên-
cia. Em termos numéricos, para se ter uma idéia, é o veículo de comunicação
mais presente nos lares brasileiros. Conforme a Pesquisa Nacional por Amos-
tra de Domicílios6, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
tística, 88,8% dos domicílios no país possuíam, em 1995, pelo menos um apa-
relho receptor de rádio.
Analisando os dados do IBGE, pode-se observar que a presença do rádio
dá-se em índices superiores aos da televisão. Em alguns casos, 100% superi-
ores. Leva vantagem, inclusive, nas regiões de difícil acesso. Convém sali-
entar que nas zonas rurais não pesquisadas pelo IBGE (estados de Rondônia,
Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá), o único veículo de comunicação du-
rante muitos anos foi e, em grande parte, continua sendo a Rádio Nacional
da Amazônia, transmitindo em ondas curtas de Brasília para a Região Norte.
Os números são significativos mesmo nas regiões pobres e com maior número
de analfabetos - está aí, por sinal, um dos poderosos diferenciais do veí-
culo. No Norte, Nordeste e Centro-Oeste brasileiros, os percentuais ficam
entre 70 e 85%. Já nos estados mais ricos do país, no Sul e no Sudeste, o
rádio chega a estar presente em mais de 90% dos domicílios.
DOMICÍLIOS PARTICULARES PERMANENTES
GRANDES REGIÕES
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BRASIL Norte Nordeste Centro- Sudeste Sul
(Urbana) Oeste
SITUAÇÃO DO DOMICÍLIO
URBANA 31.475.591 1.491.708 6.708.259 2.185.657 16.032.305 5.052.233
RURAL 7.494.123 - 3.683.670 493.435 1.888.667 1.347.574
TOTAL 38.969.714 1.491.708 10.391.929 2.679.092 17.920.972 6.399.807
PRESENÇA DE RECEPTORES DE RÁDIO
URBANA 28.582.854 1.169.547 5.591.056 1.903.089 15.120.929 4.794.569
RURAL 6.024.068 - 2.711.992 400.424 1.616.028 1.246.769
TOTAL 34.606.922 1.169.547 8.303.048 2.303.513 16.736.957 6.041.338
PRESENÇA DE RECEPTORES DE TELEVISÃO
URBANA 27.975.621 1.210.198 5.252.216 1.897.136 14.992.518 4.620.152
RURAL 3.600.317 - 1.152.298 249.180 1.208.123 970.750
TOTAL 31.575.938 1.210.198 6.404.514 2.146.316 16.200.641 5.590.902
8
Ver Capítulo 5 - Origens do rádio.
9
Ver Capítulo 6 - A implantação no Brasil (de 1919 a 1932).
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a expressão aldeia global, definiu o rádio como uma espécie de tambor tri-
bal da era eletrônica10:
“O rádio provoca uma aceleração da informação que também
se estende a outros meios. Reduz o mundo a uma aldeia
(...). Mas, ao mesmo tempo em que reduz o mundo a dimen-
sões de aldeia, o rádio não efetua a homogeneização dos
quarteirões da aldeia. Bem ao contrário.”
10
Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 1964. p. 344.
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Escrito em co-autoria com a jornalista Elisa Kopplin e editado pela Sagra-DC Luz-
zatto, de Porto Alegre, o livro foi adotado e, em seguida, distribuído pela Associa-
ção Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (Agert) a todos os seus associados como
sugestão de manual de redação.