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HISTÓRIA DA MÍDIA

O MEIO RADIOFÔNICO: INVENÇÃO E


REINVENÇÃO DO TAMBOR TRIBAL

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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:

1. Compreender o surgimento do rádio como tecnologia;

2. Refletir sobre o papel do rádio na sociedade mundial e, em particular brasileira, atentando para a função

social, cultural e educativa;

3. Identificar e codificar fases, gêneros, programas e transições do meio radiofônico no século XX no contexto

brasileiro, lendo-as de forma crítica;

4. Compreender a utilização do rádio como estratégia política e de guerra, estabelecendo a relação dessa mídia

com a propaganda e a publicidade no século passado.

//www.youtube.com/watch?v=DJa2bMsSnLM

1 Introdução
Para ele o veículo seria uma espécie de transe, uma magia tribal percussiva que, como mostra um relato em uma

pesquisa de opinião levantada pelo autor, nos coloca dentro de um meio.

Marshall McLuhan criou a expressão tambor tribal para referir-se ao rádio.

“Quando ouço rádio, parece que vivo dentro dele. Eu me abandono mais facilmente ao ouvir rádio do que ao ler

um livro” (McLuhan, M. Os meios de comunicação como extensões do homem, São Paulo: Cultrix, 1969, p.335).

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Desse abandono a uma prestação eficaz de serviços aos ouvintes – como as condições do trânsito nas grandes

cidades – vai-se uma história fantástica de um meio que em plena era da velocidade de informação procura

outras condições de existência, pois veloz ele já era por excelência.

Nessa aula veremos a história desse meio no Brasil e no mundo. Da sua invenção técnica aos dias de hoje.

De sua vocação amadora e elitista em radio clubes/sociedades ao profissionalismo desse que não perderá

possivelmente jamais sua voz; pequena caixa que não ficará muda de repente ...

2 A invenção e disseminação do rádio


Como quase toda invenção técnica, o rádio tem uma pré-história.

Certas necessidades de se comunicar a distância já estavam presentes antes que Guglielmo Marconi através da

experiência de Pontecchio em 1894 conseguisse captar os sinais do código Morse* através de um transmissor

rudimentar situado centenas de metros de distância.

Era a comprovação de “que a perturbação eletromagnética das ondas hertzianas* podia ser captada sob a

forma de sinais, amplificada e transmitida a distância como sinal análogo” (Carlo Sartori, O rádio - um veículo

para todas as ocasiões, In Giovanni Giovannini. Evolução na comunicação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987,

p. 217-218.).

Essa pré-história da comunicação a distância atravessa o pombo-correio, os serviços postais, o telégrafo e

envolve os estudos físicos de Maxwell* e Hertz.

*código Morse: http: / pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3digo_morse

*ondas hertzianas: Hertz - Unidade que expressa as socilações de uma onda po segundo. A refreência é ao

alemão descobridor Heinrich Hertz. Hertz em 1887 demosntrou a possibilidade de propagação espacial das

perturbações eletromagnéticas.

*Maxwell: Antes de Hertz, em 1864, Maxwell, com base nos estudos de Ampére. Faraday e Ohm, elaborou sua

teoria geral das ondas eletromagnéticas.

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Como o rádio fora usado primariamente para coordenar viagens de navios (...) Marconi estabeleceu uma série de

estações de rádio de praia a fim de receber e retransmitir sinais cruzando o oceano”. (Staubhaar e Larose.

Comunicação, mídia e tecnologia. São Paulo: Thomson, 2004, p. 56).

3 Alguns casos do rádio


O modelo que prevalece é o comercial nesse primeiro momento e em grande parte até hoje. Alguns casos são

interessantes de serem levantados por aqui:

Em 1920, a estação KDKA, da Westinghouse, transmite ao vivo a eleição do candidato repubicano Warren

Harding (eleito, mas que não completou o mandato devido a sua morte). Já no ano seguinte a RCA transmite uma

luta de boxe ao vivo, primeira experiência do rádio com os esportes.

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O rádio e “A Guerra dos Mundos” – O cineasta Orson Welles protagoniza esse marco na história do rádio as

vésperas do festa do dia da bruxas nos EUA em 1938. Wells fez a adaptação da obra de ficção científica de HG

Wells em que marcianos chegam a terra. Os ouvintes aterrorizados com o que ouviam no rádio entraram em

pânico achando que alienígenas chegavam de fato ao planeta. Fundindo radioteatro e radiojornalismo e

percebendo que o rádio é um veículo altamente sensorial, Welles fazia cinema no rádio com imagens mentais.

Por fim, um trecho de um discurso de Hitler nos idos de 1930 em uma rádio em Munique:

"Sigo o meu caminho com a segurança de um sonâmbulo".

Sonâmbulo como o povo alemão, que pelas ondas do rádio entrava na onda do terceiro Reich.

4 O rádio como meio de comunicação de massa


Do caráter mais experimental à necessidade de comunicar com rapidez e em um amplo espectro, o rádio torna-

se um veículo de massa.

A única lei vigente era a Radio Act de 1912 que concedia licenças para transmissão e só existia no EUA.

Através de três mudanças, o rádio torna-se veículo de massa:

• Consumo em massa de aparelhos receptores

Através de aparelhos mais simples de usar e mais baratos.

• Regulamentação do uso das frequências

A insuficiência legislativa leva a regulamentação estatal. O novo Radio Act, de 1927, regulamenta as

frequências e a transmissão passa a ser regular.

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• Constante patrocínio para tornar a produção regular

Surgem redes nacionais que conjugam programação local e nacional. Multiplicam-se as transmissões ao

vivo. A publicidade se aproveita dessa novidade.

“A publicidade teve, desde o início, uma influência penetrante sobre o rádio, claramente direcionando sua

programação para o desenvolvimento. Intimamente ligada ao consumismo e à promoção de uma nova e

moderna ética do prazer. A publicidade endereçou o formato de programação radiofônico norte-americano para

a música popular e leve”.

(Carlo Sartori. O rádio um veículo para todas as ocasiões, In Giovanni Giovannini. Evolução na comunicação. Rio

de Janeiro: Nova Fronteira, 1987, p. 225.)

Nos EUA predomina

O modelo comercial desde o inicio, visando conquistar público para vender sua atenção aos anunciantes. Surge a

primeira rede radiofônica, Att, 1924.

O Rádio difundiu novos gêneros musicais como o jazz. Os anos 20 também conhecidos como a “era do jazz” têm

no rádio voz decisiva. Uma boa referência para entender essa década nos EUA é F Scott Fitzgerald que publica

seu “Contos da Era do Jazz” em 1922.

A indústria radiofônica tem importância fundamental para o surgimento do cinema sonoro.

Na Europa predomina

- Modelo público capitalista

Independente do Governo, regime de concessão e monopolista, financiado pelos usuários (através de sistema de

assinaturas).

Principais objetivos são divertir e educar.

Publicidade é banida.

Programação que continha música, dramaturgia, aulas.

Serve de modelo para outros países, principalmente depois da Segunda Guerra.

Objetividade na informação (que se tornará principal característica do veículo).

Na Alemanha predomina

O rádio é veículo chave, como já observamos para difusão do nacional-socialismo.

Sartori coloca que:

“ A RADIOFONIA CONHECEU UMA DIFUSÃO EXCEPCIONAL SOB O NAZISMO: EM 1936 JÁ SE CONTAVAM COM 7

MILHÕES DE APARELHOS RECEPTORES (...) A ESTAÇÃO DE BERLIM TRANSMITIA EM ONDAS CURTAS

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PROGRAMAS EM 28 LÍNGUAS, COM O OBJETIVO DE SUSCITAR A SIMPATIA DA OPINIÃO PÚBLICA

INTERNACIONAL E O APOIO ATIVO DE PATROCINADORES DO NAZISMO NO EXTERIOR” Carlo Sartori. O rádio

um veículo para todas as ocasiões, In Giovanni Giovannini. Evolução na comunicação. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 1987, p. 230- 231.

Na Itália predomina

FASCISTA, A RADIOFONIA CRESCEU TARDIAMENTE, QUASE EM PARALELO A TELEVISÃO. NA ITÁLIA

OBSERVAMOS UM USO MAIS ORGÂNICO DO RÁDIO COMO INSTRUMENTO DE PROPAGANDA.

Panorama estatístico dos receptores de rádio nos países periféricos:

Para saber mais: A distribuição de aparelhos receptores no mundo segundo estatísticas da década de 80 trazidas

pela Unesco demonstrava uma desproporção muito grande: Nos países desenvolvidos em 1983 o número de

receptores é de 835 para cada 1000 habitantes. Nos países em desenvolvimento o número cai para uma média

de 113 para os mesmo 1000 habitantes. Se levarmos em conta alguns dados da África a estatística é ainda mais

assustadora: Moçambique, por exemplo, no início dos anos 80, o número é ínfimo se tomarmos a Argentina para

comparar. O país africano nos idos de 80 tinha 21 aparelhos para cada 1000 pessoas. No caso Argentino o

número é de 540.

Na Ásia 107 aparelhos para cada mil habitantes, Honk Kong 510 e na China comunista, 61.

Fonte Carlo Sartori. O rádio um veículo para todas as ocasiões, In Giovanni Giovannini. Evolução na comunicação.

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987, p. 240- 241

5 A era de ouro do rádio


A emissora surgiu da compra da Rádio Philips.

A Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional era do mesmo grupo que pertencia o Jornal A noite e da S.A Rio

Editora. Ela é uma das responsáveis pelo período áureo do rádio.

Esses anos dourados que vão dos anos 30 aos 50 tem quatro grande núcleos como salienta Calabre (Calabre, Lia.

A era do rádio. Rio de Janeiro: JZR, 2ª Ed., 2002, p. 32-33):

O rádio popularizou no Brasil:


• Música
• Dramaturgia
• Programas de variedade
• Jornalismo
As rádios contavam com grande orquestras e lançavam artistas.

A Nacional é sem dúvida a que mais fez isso.

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Curiosidades

Você sabe o que é AM e FM?

Veja na Wikipédia as diferenças:

http://pt.wikipedia.org/wiki/R%C3%A1dio_AM

http://pt.wikipedia.org/wiki/R%C3%A1dio_FM

6 Novos desafios para o rádio


Com a concorrência da televisão (tema de nossa próxima aula), o rádio entra em um novo estágio. Os anos 70 e

80 são de intensa revitalização para o veículo. As rádios comunitárias dos anos 90 para cá bem como as próprias

rádios livres são reflexos da necessidade de adaptação do veículo.

Guattari observa que o “fenômeno das rádios livres só toma seu sentido verdadeiro se o recolocarmos no

contexto das lutas de emancipação materiais e subjetivas” (Guattari, In Machado, Arlindo et al Rádios livres – A

reforma agrária no ar, São Paulo: Editora brasiliense, 1987).

A subjetividade cerca as ondas do ar!

Como cantava a banda punk The Ramones: "Nós queremos as ondas do ar"!

As transmissões esportivas e um caráter maior de serviços se afirmam a partir da “concorrência” com a TV. O

slogan da rádio Globo: “Música esporte e notícias” é emblemático nesse sentido. A rádio foi a única a transmitir a

copa de 54. Vozes como as de José Carlos Araújo e Haroldo de Andrade revitalizaram o rádio.

A difusão das emissoras FM e sua intensa programação musical também transformou o rádio em um novo

companheiro. Diferente da companhia da era de ouro, o rádio AM ou FM agora sai das casas e ganha os carros... A

música popular - para muitos de gosto duvidoso - da cultura pop contemporânea convive com os serviços no

trânsito dos repórteres aéreos (serviço mais que necessário para as metrópoles nos dias de hoje).

Saiba mais

• Na biblioteca virtual leia os arquivos do Livro de Lia Calabre e conheça mais a


história do Rádio no Brasil. Essa leitura é obrigatória.
Para saber mais:
• https://www.youtube.com/watch?v=O-YBu4y2AXI Confira um documentário
sobre a Era de ouro do rádio:

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O que vem na próxima aula
Nesta aula você aprendeu sobre o meio radiofônico e sua trajetória no Brasil e no mundo.

Na próxima aula estudaremos a televisão. Veículo importante e modificador das relações sociais a partir dos

anos 50. Veremos as fases e modelos que compõem a história da TV no mundo e no Brasil. Estudaremos também

o caráter técnico que marca sua invenção. Analisaremos parte da programação que consolidou a televisão no

Brasil e no mundo o principal veículo de comunicação de massa da História como acreditam muitos.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Identificou o papel do rádio como meio técnico e veículo de comunicação de massa;
• Compreendeu o surgimento e a disseminação do rádio pelo mundo. Seu papel nos regimes totalitários e
mudanças tecnológicas importantes;
• Conheceu a história do rádio brasileiro de sua origem ao contexto atual com ênfase na chamada “era de
ouro”, conhecendo programas e características desse veículo a partir dos anos 20;
• Registrou as disparidades envolvendo o rádio na Europa e EUA e os países periféricos.

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