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RELATÓRIO DO SEMINÁRIO: LIVRO “A FÁBRICA DOS SONHOS: A

INVENÇÃO DA FESTA JUNINA NO ESPAÇO URBANO”

Seminário sobre o livro “A Fábrica dos Sonhos: A


Invenção da Festa Junina no Espaço Urbano”, como
nota da segunda unidade da disciplina de
antropologia, da Universidade Federal de Sergipe.
A autora – Elizabeth Christina de Andrade Lima
Bacharelado em Ciências Sociais; Mestrado em Sociologia Rural pela UFPB (1992);
Doutorado em Sociologia; Atualmente é professora de Antropologia, na UFCG; desenvolve
pesquisas nas áreas de Gênero e Política, Cultura e Política, Voto e Comportamento Eleitoral,
antropologia da política, a mulher e a disputa por espaços de poder, cotidiano da política,
política no ciberespaço; Credenciada nos Programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais e
História da UFCG, orienta alunos do doutorado e do mestrado; Líder do Grupo de Pesquisa:
Antropologia da Política, Cultura Midiática e Práticas Políticas e Coordenadora do
Laboratório de Estudos sobre Cultura, Mídia e Política – LECMIPO, além de Membro do
Laboratório de Pesquisas em Política e Cultura – LEPEC;

Introdução
A autora introduz o livro com os passos iniciais da preparação das festas juninas que, com
uma atmosfera particular, iniciam-se com antecedência nos locais onde serão comemoradas.
Somado ao cenário, adiciona-se outros elos que contribuem para a força dessa corrente
chamada de tradição junina. Comidas típicas, vendedores ambulantes variados, turistas,
hippies, todos vêm nesse evento uma oportunidade, seja ela cultural ou econômica. Vale
ressaltar, primeiramente, a sustentação dessa tradição, especificamente em Campina Grande-
Paraíba, buscando destrinchar o que legitima a sua existência e a sua importância para aqueles
que lá vivem. Cabe destacar, posteriormente, os sentidos múltiplos que essa festa possui. A
autora questiona a forma como essa tradição foi mantida e estabelecida nos centros urbanos,
pois seria ela uma festa associada popularmente não só ao Nordeste como também ao meio
rural. Por fim, a autora trata das estratégias políticas dos representantes locais para associar a
festa aos seus perfis políticos e cita como os meios de comunicação atuam para o desfecho
desse ciclo de maneira bem sucedida.

Primeira edição do São João de Campina  Parque do Povo em 1986


Grande, em 1983 (Foto: Arquivo
Pessoal/Cléa Cordeiro/Memorial do Maior
São João do Mundo)
Capítulo 1 – Uma cidade e um povo para uma festa
Memórias do São João passado
São discutidos neste tópico os desdobramentos para a instauração da festa junina no centro
urbano, em seus primórdios, sem participação política ou da iniciativa privada, além da
descentralização da festa junina ser uma realidade. Durante a década de 70, os festejos de São
Pedro passaram a ser realizados também, assim como aqueles vistos no São João, favorecendo
novas iniciativas dos populares. Festas de rua, formações de quadrilhas de rua – estratégia
para atrair consumidores para a venda de comidas típicas onde era realizado o evento- e festas
totalmente abertas ao público foram as raízes iniciais que fixaram o hábito de comemorar os
festejos juninos na cidade.
Os primórdios do “São João de fora”
Nesse outro, é exposto fato de a festa junina ainda não ter força de evento turístico, mas era
visto como algo pertencente à tradição campinense no que tange aos festejos dos santos da
época. Na década de 70, são observados os primeiros patrocínios voltados ao chamado “São
João de Rua”. Diante da efusão dessa nova realidade, os ares das festas juninas começavam
serem modificados pela sociedade civil, visto que os órgãos públicos não interviam nesse
processo, até então.
Ainda na década de 70, temos o primeiro passo para uma organização dos festejos, partindo
da iniciativa pública: a construção de dois arraiais juninos- uma no Pátio da Estação Velha e
outro no Parque do Açude Novo-, propondo programação junina patrocinada pela prefeitura.
Diante disso, a festa só cresceu: ocorreu a centralização administrativa da festa e um maior
controle sobre o evento, junto a Empresa de Desenvolvimento Cultural da Borborema, além
da Secretaria de Educação e Cultura e Assessoria de Recreação e Cultura. Nesse viés, o
prefeito visita as ruas durante o período como uma estratégia política, junto à primeira dama.
Essa seria uma oportunidade de ter um contato com o seu eleitor, uma aproximação. Nas
escolas, um discurso para legitimar a existência e importância da festa para Campina Grande e
para o Nordeste era propagado, auxiliando na construção de uma tradição. Nesse momento o
São João de Campina Grande já apresentava participação dos poderes públicos, apoio de
empresas privadas e um discurso justificador crescentemente difundido nas escolas.
Entretanto, a festa ainda estava dispersa em diferentes espaços, apesar de a construção de
espaços específicos para tal tenha ocorrido na época.
A fabricação da festa como um espetáculo turístico
Aqui, a autora discorre, finalmente, a execução desse festejo e sua relação direta ao
sentimento de pertencimento, de identidade. Diante disso, ela também ressalta a edificação de
discursos que permitem a implantação da festa no centro urbano, perpassando pela
ornamentação até a efetivação desse evento.
Ronaldo José da Cunha Lima é uma linha divisória entre o passado e o futuro do que viria a
ser “O Maior São João do Mundo”, assim, o espaço para a realização da festa passa a ser o
Largo do Centro Cultural, no qual se localiza o Parque do Povo, que atualmente abriga o
festejo. Antes a estrutura era rudimentar com uma espécie de palhoção que abrigava todos e
os shows eram em céu aberto. Com as mudanças, a festa passa a ser associada como um
símbolo da administração local e torna-se um evento importante para o município, assumindo
múltiplos sentidos: incentivar turismo, destacar políticos locais, orgulhar habitantes,
incentivar economia local, destacar folclore local. A festa, também, é vista como um produto
dos esforços coletivos: poder público, habitantes e patrocinadores. Assim, implanta-se o
discurso de que a cidade seria o centro destinado para o progresso, junto com a tríade entre
povo, cidade e festa como uma maneira de exaltar a grandeza do evento e a sua importância,
objetivando nomeá-la como o fruto da nordestinidade e também fazer de campina grande um
cartão postal como a cidade que abriga o maior São João do mundo. Com isso, são criados
polos de atração turística como, por exemplo, o Forró na feira, que oferecia imagens exóticas
do nordeste associadas às suas feiras livres, além disso, a “Exposição do Maior São João do
Mundo”, em 1998, trazia elementos da festa - como as suas mascotes (sabugildo e milharilda)
- associados ao nordeste que vão desde o retirante até o popular jegue.
Em suma, frentes diferentes para abordar a temática e estabelece-la como tradição de
Campina Grande foram uma realidade na implantação do Maior São João do Mundo no
imaginário popular. Diante de uma persistente presença de elementos recriados e
ressignificados, constrói-se o maior São João do mundo associando elementos do passado e
do presente de maneira simbiótica, atraindo olhares àquela região do modo bem sucedido,
retomando sempre a sua tríade mágica entre o seu povo, sua festa e sua cidade, consolidando
a festa junina no meio urbano como um evento turístico de grande proporção, fundamentado
nos discursos de seus partícipes e nas práticas desenvolvidas para tal.

“Grande festa nordestina


Forró a cada segundo Construção da Pirâmide
Nós fazemos em Campina
O Maior São João do Mundo”
(Ronaldo Cunha Lima)

O Palhoção
Capítulo 2 – Uma festa para ser vista
A autora inicia o capítulo com um trecho do jornal da
Paraíba de 1990, que “apresenta” Campina Grande – maior ponto turístico do Nordeste;
Maior São João do Mundo – aos turistas: muitas atrações, barracas, uma criação imaginária da
cidade.
A festa é prática, é movimento, é efervescência, por isso as atrações: para compor a dinâmica
da festa. A definição da programação é o que marca a frequência de festeiros (turistas) na
festa.
As Quadrilhas são o grande ícone das festas juninas. Apesar disso, são elas que trazem a visão
matuta sobre a festa, pelos trajes “caipiras” típicos da festa junina. Trazem ainda a ideia de
que a festa junina é um evento inocente, e exótica com uma mistura de humor e simplicidade.
Essas quadrilhas servem como instrumento de socialização e aprendizado na instituição do
imaginário da festa junina. Nas escolas, confraternizações de alunos, famílias, professores.

Arrastões, desfiles
juninos, passeatas, caminhadas, disputas são
dinâmicas da festa junina em sua versão urbana, são atrações inventadas, fabricadas, para dar
finalidade ao evento.
A Corrida da Fogueira, em Campina Grande, é uma prática desportiva, que não possui relação
com o modelo da tradição da festa junina, é inventada no meio urbano para transformar uma
simples e corriqueira competição, em atração junina. O mesmo ocorre com a Corrida do
Jegue, que imprime sentido anedótico, humorístico à festa junina.
Criado durante a festa do Maior São João do Mundo no ano de 1989, o passeio no Trem
Ferroviário surge como a grande atração do festejo junino em Campina Grande. Seguindo o
mesmo recurso de inventar atrações para “turista ver” e participar, é criado, no ano de 1991,
em Campina Grande, o passeio na Marinete do Forró. Trata-se de uma viagem de ônibus, cuja
atração é um açude no qual os festeiros podem se banhar.

Capítulo 3 – A festa como estratégia política e investimento econômico


Referências

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