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O Canto da Morte

No relógio avariado, dias rápidos se vão,


Passai, então! Levai tudo, ódio, paixão!
Passai, passai, horas, dias!
Deixai o mato crescer sobre os mortos!

Tombai, coisas mal-nascidas!


Deixei-os, barcos, os portos;
Passai, ó noites profundas.
Desabai, ó velhos montes;
Proscritos ou mortos, regressaremos
Das masmorras, das tumbas, das ondas.
Retornaremos, uma multidão imensa;
Viremos de todas os lugares,
Espectros surgindo das trevas,
Viremos, de mãos cerradas,
Uns vestidos de brancas mortalhas,
Outros ainda sangrentos,
Buracos de bala em seus flancos,
Pálidos sob nossas bandeiras vermelhas.

Está tudo acabado!


Os fortes, os bravos,
Todos caíram, ó meus amigos;
E já rastejam os escravos, os traidores e degradados.
Onde estais, ó meus irmãos,
Filhos do povo vitorioso,
Levais A Marselhesa nos olhos,
Honrosos e valentes como nossos pais?
Irmãos, na luta gigante
Amei vossa coragem ardente,
A metralhadora à voz retumbante
E nossa flâmula fremente.

Sobre as vagas, numa grande ondulação,


É belo que tentemos a sorte; A recompensa é a morte;
O fim, é salvar a multidão.
Vencedores sinistros e débeis, já que lhes é necessário todo nosso sangue.
Vertei-o nas ondas férteis. Bebei de todos neste oceano.
E nós, em nossos rubros estandartes enrolemo-nos, para morrer.
Juntos, nestes belos sudários,
Podemos enfim adormecer.

Louise Michel - mulher libertária, professora e poeta. Comunarda.

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