Você está na página 1de 152

Daniel Chamberlin

O Amor Bíblico e Seus Frutos


Jonathan Edwards expõe 1 Coríntios 13
Sumário

Caridade, a soma de todas as virtudes


A caridade é mais excelente do que os dons extraordinários do
espírito
Os grandes feitos ou sofrimentos são totalmente vãos sem a
caridade
A caridade nos capacita a suportar mansamente as ínjúrias
A caridade nos inclina a fazer o bem
A caridade é incompatível com um espírito invejoso
O espírito da caridade é um espírito humilde
A caridade é o oposto de um espírito egoísta
A caridade é oposta a um espírito de ira
A caridade é oposta ao espírito crítico
Toda graça genuína no coração produz uma vida de santidade
prática
A caridade está disposta a suportar as perseguições
Todas as graças da caridade são interligadas
A caridade não deve ser vencida pela oposição
O espírito santo estará se comunicando eternamente com os
salvos através da graça da caridade
Céu, um mundo de amor
Faça parte da nossa
comunidade!

O ministério PalavraPrudente existe para disponibilizar estudos


bíblicos para que o povo de Deus cresça naquela Palavra que é
"proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir
em justiça" (2Tm 3.16).

Faça parte do nosso ministério! Curta nossa página no Facebook


e cadastre seu e-mail no nosso site.
1

Caridade, a soma de todas


as virtudes

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e


não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino
que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e
conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que
tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os
montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que
distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e
ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não
tivesse amor, nada disso me aproveitaria.” I Coríntios 13: 1-3

As palavras do nosso texto indicam que a caridade é um assunto


de peculiar e especial importância. Esta virtude é mais enfatizada do
que as todas as outras em todo o Novo Testamento. A caridade, por
definição, significa amor, ou aquela disposição ou afeição pela qual
uma pessoa é querida pela outra. Esta palavra (caridade) fala do
amor Cristão em sua plenitude, quer exercido por Deus ou pelo
homem.
A grande doutrina ensinada aqui é que toda graça e virtude
concedida a uma pessoa através da salvação, e que distingue os
Cristãos das demais pessoas, se resumem nesta qualidade única
chamada amor. O amor é tão vital, que sem ele, todas as outras
qualidades não tem valor algum. O amor é superior a tudo, e todas
as outras virtudes estão contidas ou implícitas nele.

I. A NATUREZA DO AMOR CRISTÃO.


Todo amor cristão verdadeiro é único, e igual no que diz respeito
a seus princípios. A despeito do seu objeto, grau, e modo de
expressão, este amor jorra de uma mesma fonte. Por isso ele se
distingue de outros tipos de amor que são inferiores, e que brotam
de vários princípios, motivos, e pontos de vista.
É o Espírito Santo que influência o coração do Cristão nos
diferentes aspectos desta virtude. O seu trabalho é um trabalho
único, que nos leva a amar de forma imediata tanto a Deus quanto
aos homens. Além disso, cada faceta do amor Cristão brota de um
único motivo, ou seja, o amor a Deus e a Sua excelência, beleza, e
santidade. Nós amamos os homens caídos porque foram feitos à
imagem e semelhança de Deus. Nós amamos os remidos porque, a
cada dia, eles se tornam mais semelhantes a Deus. O amor a Deus
é o fundamento do amor gracioso demonstrado ao homem.
II. PROVAS DE QUE O AMOR CRISTÃO É A SOMA DE
TODAS AS VIRTUDES.
A razão nos ensina esta verdade. A verdadeira natureza do amor
concede ao homem a direção apropriada para agir com todo
respeito, tanto para com Deus, quanto para com os homens.
Nenhum outro encorajamento se faz necessário. O amor nos
incentivará a honrar, adorar, crer, e obedecer a Deus. O amor nos
incentiva a agir como filhos diante do nosso Pai celestial. A alma
que ama a Deus se deleita em ser humilhado, ao mesmo tempo em
que Ele é exaltado. Quanto ao nosso próximo, o amor nos incentiva
a todo comportamento nobre, como a honestidade, mansidão,
ternura, e misericórdia. O amor nos afastará de toda inimizade,
crueldade, e egocentrismo. O amor não faz mal ao próximo
(Romanos 13: 10). O amor nos dá a disposição de cumprir todos os
deveres ordenados por Deus em nossos relacionamentos neste
mundo. Se o princípio do amor está implantado no coração, ele
sozinho é capaz de produzir todas as boas ações, pois ele abrange
cada virtude.
Por isso dizemos novamente: a razão nos ensina que sem o
amor, todas as aparentes virtudes e realizações são imperfeitas e
hipócritas. A obediência sem amor é fingida e vã. Aquele que não
ama a Deus não irá respeitá-Lo, e muito menos confiar nEle. Sem o
amor, toda boa conduta externa não passa de hipocrisia vazia.
As Escrituras nos ensinam que o amor é a soma de todas as
virtudes. Tudo o que as Escrituras requerem do homem se resume
nesta única virtude. Porque quem ama aos outros cumpriu a lei…
De sorte que o cumprimento da lei é o amor (Romanos 13: 8, 10). O
amor nos leva a obedecer aos Dez Mandamentos. Todos os nossos
deveres morais se resumem nos mandamentos de amar a Deus e
ao nosso próximo (Mateus 22: 37-40). Já que o amor é a soma de
todos os nossos deveres, então ele também deve ser a soma de
todas as virtudes existentes.
O fato de a fé operar pelo amor (Gálatas 5: 6), isso nos ensina
que o amor é a soma de todas as virtudes.
A fé produz boas obras, e essas boas obras são o fruto do amor.
Portanto, necessariamente, o amor é de fato um elemento essencial
e distinto da fé verdadeiramente viva. O amor não é um ingrediente
da fé especulativa, mas a vida e a alma da fé prática. A primeira
consiste somente em um consentimento do entendimento, enquanto
a última, um consentimento de coração. A fé do diabo é sem
qualquer amor, enquanto o amor é o fator principal da fé verdadeira.
O amor e a fé estão tão intimamente ligados, que o consentimento
do coração não pode ser diferenciado do amor do coração. Todo
aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus; e todo
aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido
(I João 5: 1). Para os Judeus incrédulos, nosso Senhor poderia
dizer: não tendes em vós o amor de Deus (João 5: 42). Toda
obediência Cristã é chamada de obediência da fé (Romanos 16: 26).
Sabemos que qualquer coisa que a fé realize, o faz pelo amor, e
então podemos dizer que o amor envolve todos os nossos deveres,
tanto para com Deus, quanto para com os homens.

Vamos então aplicar esta verdade a nós mesmos.


AUTO-EXAME.
O que conhecemos desse amor? Nós praticamos este amor com
Deus e também com o próximo, especialmente para com aqueles
que são filhos de Deus? A nossa vida diária demonstra este espírito
de amor, como aquele que se fazia presente na vida de nosso
Senhor Jesus Cristo?
Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós
devemos dar a vida pelos irmãos.
Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão
necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor
de Deus?
Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por
obra e em verdade.
E nisto conhecemos que somos da verdade, e diante dele
asseguraremos nossos corações (I João 3: 16-19).

INSTRUÇÃO.
Esta doutrina nos mostra o que é um espírito Cristão correto.
Quando os discípulos quiseram fazer chover fogo do céu sobre os
Samaritanos, nosso Senhor os repreendeu dizendo: “Vós não
sabeis de que espírito sois (Lucas 9: 55). Cristo não disse que os
discípulos eram ignorantes a respeito do seus próprios desejos, mas
sim do espírito e do temperamento próprio de um Cristão. Eles
demonstraram ignorância quanto a verdadeira natureza do reino de
Cristo, um reino de amor e paz. A graça do amor é tão célebre que
pode ser chamada de “a virtude Cristã”. O evangelho transborda de
amor, amor entre as pessoas da Trindade, e amor para com os
pecadores indignos. Os remidos são constantemente ensinados e
exortados a amar a Deus, os irmãos, e até os seus inimigos.
O amor é tão necessário, que a nossa profissão de fé pode ser
testificada pela presença ou ausência desta virtude. O
conhecimento da verdade é sempre acompanhado pelo amor na
alma, amor esse voltado a Deus e a tudo o que lhe é apropriado. É
inconcebível que uma pessoa diga que conhece a Deus e, no
entanto, seja vazia de amor para com Ele.
Nisto está a beleza do espírito Cristão. O espírito do amor é o
espírito do próprio céu.
Nisto está a felicidade da vida Cristã. Uma vida de amor é uma
vida prazerosa.
Aqui aprendemos porque as brigas e discórdias tendem tanto a
destruir a verdadeira religião. A piedade e as contendas não podem
viver juntas. A religião sofre quando há contendas desnecessárias
entre aqueles que a professam.
Cabe a cada Cristão guardar-se cuidadosamente contra a inveja,
a malícia, e a amargura. Estas atitudes contradizem tudo aquilo que
professamos. Devemos evitar qualquer atitude inicial nestes
pecados. Qualquer coisa que nos impeça de demonstrar amor aos
homens, também nos impedirá de demonstrar amor a Deus, pois
como vimos anteriormente, todo amor Cristão tem um único
princípio.
A ordem para amar aos nossos inimigos não deveria nos causar
surpresa alguma. Esta é a soma do verdadeiro Cristianismo. Este é
o verdadeiro espírito de Cristo e de nosso Pai celestial: Amar o pior
dos inimigos, e até o principal dos pecadores.
EXORTAÇÃO.
Vamos buscar e conservar este espírito de amor. Cresçamos
nisso mais e mais. Vamos abundar em obras de amor. Se você é um
Cristão, onde estão as suas obras de amor? O que você tem feito
por Deus, por Sua glória, e pelo avanço do Seu reino aqui na terra?
O que você tem feito pelo seu próximo?

Não desculpe a si mesmo dizendo que não tem tido


oportunidades. Se o seu coração transborda de amor, então
sempre encontrará oportunidade de expressá-lo em obras.
Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas
por obra e em verdade (I João 3: 18).
2

A caridade é mais excelente


do que os dons
extraordinários do espírito

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e


não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino
que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e
conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que
tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os
montes, e não tivesse amor, nada seria.” I Coríntios 13:1-2

Nestes versos, vemos a comparação entre o amor e os dons


miraculosos. A era apostólica foi uma era de milagres. A igreja em
Corinto foi especialmente abençoada com estes dons. Entretanto, a
doutrina ensinada em nosso texto, pelo apóstolo inspirado, é que a
influência ordinária do Espírito Santo, operando a graça da caridade
no coração, é uma benção mais excelente do que qualquer outro
dom extraordinário do Espírito.

I. A DISTINÇÃO ENTRE OS DONS.


Uma maneira de distinguirmos as várias operações do Espírito
Santo é dividi-las entre comum e salvadora. Tanto Cristãos quanto
ímpios recebem alguns destes dons, tais como: medida de
conhecimento, convicção de pecado, gratidão, tristeza, e assim por
diante. Estes são chamados de dons comuns. Mas há outros dons
especiais, que fazem parte da graça salvadora, que só os remidos
por Deus recebem, tais como: fé salvadora, amor, paz, e assim por
diante.
As operações do Espírito Santo também podem ser divididas
entre ordinária e extraordinária. Os dons extraordinários, tais como
línguas, milagres, profecia, eram excepcionais, ou seja, somente
concedido em ocasiões extraordinárias. A principal função deles era
revelar a mente de Deus aos homens, até que Palavra revelada
fosse entregue. Agora que a Palavra de Deus escrita está completa,
estes dons extraordinários cessaram. Por outro lado, os dons
ordinários, assim como o amor, são concedidos a todo Cristão, em
todas as épocas, para a edificação em santidade, e também para
conforto deles.
É de vital importância entendermos que estas duas divisões
diferem uma da outra. A graça ordinária é exclusiva dos santos de
Deus; ela não deve ser confundida com os dons ordinários,
concedidos também aos incrédulos. Entretanto, os dons
extraordinários eram comuns, ou seja, foram concedidos tanto aos
convertidos quanto aos ímpios, e em muitas ocasiões. Muitos me
dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu
nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome
não fizemos muitas maravilhas?
E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos
de mim, vós que praticais a iniquidade. (Mateus 7: 22-23).

II. A GRANDEZA DOS DONS EXTRAORDINÁRIOS.


É um privilégio ouvir a Palavra de Deus, mas é um privilégio
ainda maior proclamá-la, como fizeram os profetas. Testemunhar
milagres é muito bom, mas fazer milagres é ainda melhor. Aqueles
que eram dotados de tais dons, tinham a honra de se parecerem
com Cristo em Seu ofício profético. Por duas vezes Daniel é
chamado de “mui amado” e, portanto, o recipiente da visão profética
(9: 23; 10: 11). Dario, o rei Persa, notou o espírito excelente que
havia em Daniel (Daniel 6: 3), o qual certamente envolvia o espírito
de profecia e inspiração. Este espírito é definido como excelente,
indicando assim a qualidade especial destes dons. Moisés foi
invejado por seus dons extraordinários. João teria adorado ao anjo
que lhe trouxe a revelação na ilha de Patmos, se este lhe houvesse
permitido. Que ninguém despreze a importância e o privilégio destes
dons extraordinários!

III. A EXTRAORDINÁRIA EXCELÊNCIA DOS DONS


EXTRAORDINÁRIOS.
A despeito da grandeza dos dons extraordinários, a influência
ordinária do Espírito Santo, operando a graça da caridade no
coração, é sem duvida um privilégio de muito maior excelência.
Tendo em vista, como vimos anteriormente, que o amor é a soma de
toda a graça salvadora no coração, então ele é maior do que
qualquer dom extraordinário. Vamos assinalar algumas razões para
isso.
Os dons ou graças ordinárias são qualidades que Deus implanta
dentro da natureza de cada pessoa. Entretanto, este não é o caso
dos dons extraordinários. Eles não melhoram a natureza básica do
homem. A fonte do poder para realização de milagres não se
encontra dentro do próprio homem. Os dons extraordinários são
como uma joia, a qual adorna o corpo de forma externa, mas as
verdadeiras graças entram em nossa própria alma, transformando-a
em uma jóia preciosa.
O Espírito Santo comunica-se a si mesmo mais pelas graças
ordinárias do que pelos dons extraordinários.
No último caso, o possuidor dos dons pode operar grandes
sinais externos, e ainda assim permanecer internamente vazio do
Espírito de Deus. Mas com as graças, a terceira Pessoa da Trindade
é compartilhada em santidade de natureza, ou santificação. Com a
graça ordinária, os homens se tornam participantes da natureza
divina (II Pedro 1: 4).
Na redenção, a imagem de Deus é restaurada no homem, não
pelos dons extraordinários, mas através das graças ordinárias. A
semelhança que Adão perdeu era de ordem moral. Ela não pode ser
restaurada de nenhuma outra forma a não ser moralmente, isto é,
tornando-se santa, adquirindo a mente de Cristo. A despeito de
inúmeros milagres que alguém possa operar, sem santidade, ele
não é semelhante a Deus na área que realmente importa.
As graças ordinárias são mais privilegiadas, mais preciosas, e
mais raras, pois somente são concedidas aos filhos de Deus.
Entretanto, os dons extraordinários frequentemente são concedidos
aos não regenerados. Balaão tinha o dom da profecia, mas era um
homem ímpio, assim como Saul, e Judas Iscariotes, que podia curar
os doentes, purificar os leprosos, ressuscitar os mortos, e até
expulsar demônios (Mateus 10: 1-8). A operação de milagres é um
dom que Deus dá algumas vezes para aqueles que Ele odeia, mas
as graças são concedidas somente aos Seus amados.
As graças ordinárias são infinitamente mais excelentes por
causa dos seus resultados. A vida eterna é prometida para aqueles
que gozam dessas graças, mas não para aqueles que
eventualmente tenham dons extraordinários. Por isso, nosso Senhor
ensinou o seguinte aos setenta discípulos: Mas, não vos alegreis
porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem
os vossos nomes escritos nos céus (Lucas 10: 20). As graças
superam os dons porque tem a vida eterna anexadas a elas.
As graças ordinárias proporcionam um grau superior de
felicidade. A maior felicidade do homem consiste na santidade. Se
ele possui santidade, então ele pode ser feliz, independente de
qualquer outra coisa. Mas nenhuma outra possessão ou privilégio, a
exemplo dos dons extraordinários, poderão fazê-lo feliz sem isso.
A obra ordinária da santificação, realizada pelo Espírito Santo, é
o objetivo final de todos os dons extraordinários. Os dons
extraordinários foram concedidos com o propósito de propagar o
evangelho, isto é, fazer santos, edificar os santos, e também fazê-
los crescer em santidade. E ele mesmo deu uns para apóstolos, e
outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para
pastores e doutores, estes dons extraordinários foram concedidos
com este fim: Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra
do ministério, para edificação do corpo de Cristo, cuja edificação é
em amor (Efésios 4: 11, 12, 16). Desde que o fim é mais excelente
do que os meios, a santidade é muito melhor do que possuir os
dons.
Os dons extraordinários existem isoladamente, sem as graças
verdadeiras, e somente agravarão a condenação daqueles que os
possuem. Alguns dos apóstatas, descritos em Hebreus capítulo 6,
evidentemente possuíam estes dons. Eles uma vez foram
iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes
do Espírito Santo.
E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século
futuro. Sendo assim, a condenação deles será maior, e sua
sentença mais severa, por causa desses privilégios que um dia
desfrutaram, e mais tarde foram creditados ao diabo.
As graças ordinárias são melhores do que os dons
extraordinários porque estas são mais duráveis.
O verso 8 declara: O amor nunca falha; mas havendo profecias,
serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência,
desaparecerá.
Este fato nos leva as seguintes considerações:
– Desde que estas graças são eternas, elas são as maiores
bênçãos demonstradas por Deus sobre um mortal neste mundo. E
aconteceu que, dizendo ele estas coisas, uma mulher dentre a
multidão, levantando a voz, lhe disse: Bem-aventurado o ventre que
te trouxe e os peitos em que mamaste. Mas ele disse: Antes bem-
aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam (Lucas
11: 27-28).
– Os dons ordinários e extraordinários não devem ser
confundidos. O último não é um sinal seguro da presença da graça
salvadora. Visões extraordinárias não são provas de graça. A única
maneira de uma pessoa saber se a graça esta presente em sua
vida, é pelo discernimento e exercício do amor Cristão, o qual é a
soma de todas as outras virtudes no coração. Sem esta marca, os
outros dons não provam absolutamente nada.
– Se a graça salvadora é mais excelente do que a operação de
milagres, então não há base para assumirmos, como fazem alguns,
que nos últimos dias os sinais extraordinários retornarão. A causa
de Deus aqui na terra pode gozar muito bem de seus dias mais
prósperos sem a presença daqueles dons. Não temos razão para
esperar que a revelação escrita de Deus seja acrescida de novas
profecias. As palavras finais do Apocalipse de João (22: 18-21)
falam exatamente o oposto.
– Aqueles que possuem as graças ordinárias tem motivos de
sobra para serem agradecidos a Deus. Não devemos subestimar o
tremendo privilégio de sermos semelhantes a Cristo, e ter o seu
amor em nossos corações. O que mais Deus poderia ter feito por
nós? Portanto, que pessoas vos convém ser em santo trato, e
piedade! (II Pedro 3:11). A nossa constante oração deveria ser: Que
darei eu ao SENHOR, por todos os benefícios que me tem feito?
(Salmo 116:12). Vamos nos lembrar dos grandes privilégios que
temos, e humildemente caminhar à sombra do Seu amor. Este amor
clama pelo nosso melhor e por tudo o que somos e temos.
– Que todos aqueles que estão perdidos no pecado não deixem
de buscar as bênçãos da graça de Deus. Considere a presente
miséria de suas afeições pelo vazio que este mundo oferece. Deus
criou você com a capacidade de conhecê-Lo e desfrutar do Seu
amor. Multidões já se converteram. Por que você não vem para
Deus, através de Cristo, e descobre as riquezas de Sua graça?
3

Os grandes feitos ou
sofrimentos são totalmente
vãos sem a caridade

“E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento


dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser
queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria” (I
Coríntios 13: 3).

Tendo considerado os dons extraordinários, e o vazio deles, à


parte do amor Cristão, o apóstolo agora trata do assunto quanto à
sua natureza moral. Este verso menciona dois itens: primeiro,
nossos feitos, como por exemplo, dar tudo aos pobres; e em
segundo lugar, entregar-se para ser queimado como um mártir.
Ajudar os pobres era algo comum e necessário na igreja primitiva,
devido às perseguições e também às necessidades daqueles que
estavam envolvidos na pregação do evangelho em tempo integral.
Em ambas as cartas enviadas à igreja em Corinto, Paulo fala da
oferta a ser enviada ao santos na Judéia, que passavam por um
período de grande necessidade. Entretanto, aqui ele fala aos irmãos
em Corinto, que eles poderiam dar tudo por esta causa, mas que
isto não teria valor algum, caso eles não fossem motivados pelo
amor. Então ele menciona aqueles sofrimentos extremos, como o de
ser consumido pelas chamas da perseguição. Nesta ocasião muitos
foram chamados para contribuir, não somente com os seus bens,
mas também com seus corpos, através da morte agonizante.
Porém, tudo isso seria em vão, se não fosse acompanhado com os
frutos genuínos da caridade, os quais como já vimos, é a soma da
graça distintiva no coração.
A doutrina declarada aqui é esta: tudo o que os homens podem
fazer ou sofrer, nunca pode ser maquiado pela falta do amor sincero
no coração.

I. GRANDES FEITOS E GRANDES SOFRIMENTOS PODEM


EXISTIR SEM AMOR.
Este mesmo apóstolo conhecia muito a respeito dos grandes
feitos. Em Filipenses capítulo 3 ele lista alguns dos seus próprios
feitos, e isto antes de sua conversão. Assim como o Fariseu que
orou no templo em Lucas 18: 11-12. Quantos desses feitos são
realizados sem que haja um amor sincero de coração, cuja
motivação é apenas a própria fama, ou outra forma de orgulho, ou
medo do inferno, ou mesmo apaziguar a Deus!
Além disso, considere quantos grandes sofrimentos tem sido
feito sem o verdadeiro amor Cristão. Os Fariseus, e muitos
Romanistas após eles, voluntariamente se submeteram a inúmeros
autoflagelos. Muitos pagãos que não se submeteram aos mandos
do Império Romano, acabaram morrendo como mártires, por causa
de suas religiões pagãs. Muitos mulçumanos voluntariamente deram
suas vidas nas cruzadas, visando um paraíso melhor. No entanto,
nenhum destes morreu tendo como fundamento o amor divino em
seus corações. (mas o número de mártires pela causa do verdadeiro
Cristianismo vai muito além do que todos eles.)

II. GRANDES FEITOS E SOFRIMENTOS NÃO PODEM


COMPENSAR A FALTA DE AMOR.
E isto por causa dos seguintes pontos:
As coisas exteriores não têm valor algum em si mesmas aos
olhos de Deus. Sem o principio de um amor vivo em seu interior,
todas as obras externas não passam, aos olhos de Deus, de ações
de objetos inanimados. A nossa obediência externa, à parte do amor
verdadeiro, podem até se comparar ao ouro ou as pérolas, das
quais Deus não tem necessidade alguma. Porque meu é todo
animal da selva, e o gado sobre milhares de montanhas… Se eu
tivesse fome, não to diria, pois meu é o mundo e toda a sua
plenitude (Salmo 50: 10, 12). Porque o SENHOR não vê como vê o
homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o
SENHOR olha para o coração (I Samuel 16: 7). Deus não está
interessado nos grandes feitos ou sofrimento dos homens. Ele esta
interessado nos motivos, propósitos, e a finalidades de tais
sofrimentos.
Sem sinceridade de coração, nada é verdadeiramente dedicado
a Deus. Cada ato de adoração deve primeiramente envolver o
entendimento (mente), as afeições (emoções), e a vontade. De
outra forma, o que ocorre é apenas algo mecânico, como um
instrumento tocando-se a si mesmo. Muitas ações consideradas
como um ato de adoração, não passam de adoração que os
homens fazem a si mesmos, já que o objetivo final é a sua própria
honra e proveito. Isso é um verdadeiro deboche a Deus, pois nada é
realmente dedicado a Ele.
O amor é a soma de tudo o que Deus requer de nós. É absurdo
imaginar que qualquer outra coisa possa compensar a soma de tudo
aquilo que Deus realmente requer de nós. Ao negligenciarmos o
amor, nós estaremos negligenciando totalmente aquilo que Deus
requer. É absurdo pensar, que podemos resolver um problema de
débito pagando outra conta. E é mais absurdo ainda quando
pensamos que pagamos tudo o que devíamos, e na verdade não
pagamos absolutamente nada, e continuamos a reter aquilo que nos
é requerido.
Uma demonstração externa de amor, sem o verdadeiro amor de
coração, é hipocrisia e mentira. Toda a lisonja e adulação do mundo
não podem enganar a Deus. Nunca poderemos compensar a falta
de amor mentindo.
Sem amor, sofrimentos e grandes feitos são apenas ofertas
dedicadas a algum ídolo. Aquilo que não é verdadeiramente
oferecido a Deus, está sendo oferecido na verdade a alguma
pessoa ou coisa. De qualquer forma, isso não deixa de ser um ídolo.
Que tolice imaginar que podemos compensar a adoração devida a
Deus ao oferecermos a mesma a um ídolo nosso! Uma mulher
poderia compensar a falta de amor para com seu marido ao dedicar
este amor a um estranho?

Vamos fazer algumas aplicações práticas desta verdade.

I. DEVEMOS EXAMINAR A NÓS MESMOS.


Talvez você tenha feito muito, sofrido muito, mas a questão que
realmente importa é: o seu coração foi realmente sincero em tudo
isso, e tudo o que você realizou foi realmente visando a Deus e Sua
glória? É claro que todo Cristão reconhece que há um certo grau de
hipocrisia no seu próprio coração, mas será que há sinceridade
também? A despeito da nossa hipocrisia, Deus está interessado em
qualquer manifestação de sinceridade da nossa parte. Um copo de
água fria, dado com amor Cristão a um discípulo, é de maior valor
aos olhos de Deus do que a abdicação de todo um reino a favor dos
pobres, sem este amor.
Vamos observar quatro coisas quanto a sinceridade. Sinceridade
consiste em:
– Verdade. As ações devem demonstrar a verdade que há no
coração. Eis que amas a verdade no íntimo (Salmo 51: 6). Isso é o
mesmo que ser alguém em quem não há dolo (João 1: 47).
Examine-se a sim mesmo: Há apenas aparência de amor em suas
ações para com Deus?
– Liberdade. A obediência Cristã é similar a de uma criança, e
não a de um escravo. Não é algo que se força exteriormente, mas
que brota naturalmente de dentro. Examine-se a si mesmo: Você
escolheu a Deus por aquilo que Ele é, por se deleitar nEle?
– Integridade. Isto é, um coração sincero é aquele totalmente
entregue a Deus. Tanto o corpo quanto a alma estão unidos no
serviço e temor a Deus. Examine-se a si mesmo: Todas as suas
faculdades se rendem em obediência a Cristo, e se colocam em
sujeição a Sua vontade?
– Pureza. Devemos nos opor fortemente ao pecado de qualquer
tipo. Examine-se a si mesmo: Você abriga algum tipo de pecado, ou
o seu amor a Deus é sincero e puro?

II. AS ALMAS PERDIDAS DEVEM SER CONVENCIDAS.


Sem o verdadeiro amor no coração, renovado pela graça
regeneradora, você pode até negar a si mesmo e sofrer muito, mas
tudo isso em vão. Nenhuma destas coisas pode expiar os seus
pecados ou torná-lo agradável diante de Deus. Você pode ficar
alegre por fazer alguma coisa para tentar compensar a falta de
graça em seu coração, mas não há substituto algum para isso. Não
tente descansar em nada daquilo que você tem feito ou sofrido, mas
descanse somente em Cristo. Procure preencher o seu coração com
um amor sincero a Cristo, para que Ele seja o seu tudo.

III. OS CRISTÃOS DEVERIAM VALORIZAR GRANDEMENTE A


PRESENÇA DO AMOR CRISTÃO EM SEUS CORAÇÕES.
Já que ele é a soma de todas as virtudes, e tudo mais nada
significa sem ele, vamos buscá-lo com diligência e oração. Somente
Deus pode nos dar um coração assim. Podemos ser chamados a
trabalhar e sofrer muito, mas nunca devemos descansar nisso, pois
são apenas evidências externas. Um amor sincero de coração é a
coisa principal, sem o qual as nossas melhores obras só
intensificam a nossa condenação.
4

A caridade nos capacita a


suportar mansamente as
ínjúrias

“O amor tudo suporta.” I Coríntios 13: 4

Vamos considerar agora a natureza do amor Cristão,


examinando a descrição dos apóstolos de vários frutos excelentes e
amáveis. O primeiro da lista é este: o verdadeiro espírito Cristão nos
levará a suportar mansamente o mal que outros eventualmente
possam nos causar.
A paciência faz parte dos frutos do Espírito (Gálatas 5: 22),
sendo ordenada repetidas vezes nas Escrituras. Nosso Senhor
pessoalmente enfatizou esta qualidade em Mateus 11: 29, não
somente como um fruto que deveríamos manifestar, mas como algo
que Ele mesmo manifesta e que aprendemos da parte dEle.
Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração.
I. NÓS RECEBEMOS VÁRIOS TIPOS DE INJÚRIA.
Poderíamos compilar uma infindável lista de erros que são ou
poderiam ser cometidos contra uma pessoa. Desonestidade nos
negócios, opressão, vantagem injusta, descumprimento de acordos,
calúnia, julgamento prematuro e injusto, pensamentos de desprezo,
disposição de acreditar no pior e compartilhar isso com outros,
resistência a autoridade, egoísmo, orgulho, malícia, vingança,
rancor, e coisas semelhantes a essas. Os homens não precisam de
nenhum motivo a mais para se odiarem. Aquele que exercita
perversamente a sua imaginação, pensa que a queda de outros
culminará na sua elevação.

II. O QUE SIGNIFICA SUPORTAR MANSAMENTE AS


INJÚRIAS.
A natureza deste dever.
Suportar com paciência implica em não buscarmos nos vingar
das injúrias que sofremos. Nós naturalmente desejamos injuriar
aqueles que nos injuriam. Isso se chama vingança. Mas o amor
Cristão não busca vingança nem retaliação. seja em obras ou
palavras. Ao enfrentarmos a injúria, somos chamados a exercer a
gentileza, a calma, e a paz. Mesmo que a injúria requeira que o
ofensor seja reprovado, devemos fazer isso sem amargura e
ressentimento, mostrando a ele que a sua ofensa é primeiramente
contra Deus. Devemos buscar o bem e não o mal do ofensor.
Além disso, suportar com paciência significa que nós nos
manteremos na disposição correta de amar ao nosso ofensor. Não
devemos odiá-lo por causa da ofensa cometida. Devemos ter
compaixão e não ódio do nosso ofensor.
Suportar com paciência significa que não devemos perder a
compostura e a calma que devem repousar em nossa mente e
coração ao sermos injuriados. Não devemos permitir que nenhuma
injúria venha a nos causar inquietação
a ponto de nos afastar de nossos deveres, especialmente
aqueles que dizem respeito aos deveres da nossa religião, que
residem no intimo de nossas almas. Na vossa paciência possuí as
vossas almas (Lucas 21: 19).
Em muitos casos, suportar com paciência significa renunciar um
direito legítimo, sofrendo o prejuízo de interesses e sentimentos a
fim de buscarmos a paz. Devemos, na maioria dos casos, nos
recusar a reivindicar os nossos direitos. Pois, na maioria das vezes,
isso leva a uma injúria maior da outra parte, estabelecendo assim
uma hostilidade que raramente pode ser reparada. Por que não
sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes o dano? (I
Coríntios 6: 7). Há casos em que temos que defender a nós
mesmos e possivelmente causar alguma dor ou sofrimento, mas
mesmo nestes casos, só devemos agir depois de termos exercitado
por um bom tempo a paciência.
Por que isso é chamado de longanimidade ou suportar com
paciência?
O termo não implica somente em uma pequena injúria, mas uma
grande, ou várias. Não é que devemos “agüentar” o nosso ofensor
até que cheguemos a um limite estabelecido por nós. Antes,
devemos continuar a suportá-lo com paciência, assim como as suas
ofensas a nós dirigidas, até o fim. Nos casos em que não temos
escolha, a não ser defendermos a nós mesmos, devemos fazê-lo
em espírito de amor, e não de vingança ou desejo de retaliação.

III. COMO O AMOR NOS PREPARA PARA SUPORTAR


MANSAMENTE AS INJÚRIAS.
O amor a Deus faz com que sejamos dispostos a suportar com
paciência.
Deus é longânimo, e o amor nos leva a ter o desejo de imitá-Lo.
Ele declarou este atributo a Moisés em Êxodo 34: 6: O SENHOR, o
SENHOR Deus, misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e
grande em beneficência e verdade. Ele também é chamado de uma
das “riquezas” da graça de Deus em Romanos 2: 4: Ou desprezas
tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade?
Considere toda a maldade deste mundo, e então considere quão
pacientemente Deus suporta tudo isso, enviando chuvas e alimentos
aos homens. Deus é longânimo para com os pecadores, oferecendo
Sua misericórdia a eles, mesmo quando estes ainda se encontram
em rebelião contra Ele. Deus é longânimo para com os Seus eleitos
conduzindo-os ao arrependimento. Paulo disse que quando ele era
conhecido como Saulo de Tarso, Cristo demonstrou para com ele o
padrão de toda a Sua longanimidade (I Timóteo 1: 16). Um coração
amoroso tem o desejo de imitar esta qualidade tão maravilhosa
manifestada por Deus. Como Seus filhos, devemos imitar ao nosso
Pai, e sermos longânimos assim como Ele o é.
O amor também nos capacita a expressar nossa gratidão pela
longanimidade de Deus para conosco. As injúrias que sofremos em
nada se comparam com aquelas que acumulamos contra Deus. Se
nos recusamos a suportar com paciência ao nosso próximo,
estamos praticamente desaprovando a longanimidade que Deus
exerce para conosco.
O amor produz verdadeira humildade, a qual é a raiz principal de
um espírito longânimo. Através da humildade encontramos um
profundo senso da nossa própria vileza e incapacidade de praticar o
que é bom. Aquele que é pequeno aos seus próprios olhos não
ficará pensando muito nas injúrias sofridas, mas isso não ocorre
com aquele que tem pensamentos elevados sobre si mesmo. O
orgulho é o fundamento de um espírito de ressentimento e vingança.
O amor a Deus nos capacita a enxergar a mão de Deus
trabalhando nas injúrias que sofremos, e nos submetermos a Sua
vontade. Na verdade, vemos a mão de Deus em tudo, e sabemos
que seus propósitos são justos e amáveis. Por isso Davi pode
suportar as injúrias de Simei. Ora deixai-o amaldiçoar; pois o
SENHOR lhe disse: Amaldiçoa a Davi; quem pois diria: Por que
assim fizeste? (II Samuel 16: 10).
Em certo sentido, o amor a Deus nos coloca acima das injúrias
que os homens poderiam fazer contra nós. Nossa vida está
escondida com Cristo, em Deus (Colossenses 3: 3). Todas as coisas
cooperam para o nosso bem (Romanos 8: 28). Todas as coisas
culminarão a nosso favor. Quanto mais estivemos envolvidos e
controlados pelo amor de Deus, menos as injúrias serão capazes de
afetar o nosso espírito. Se os nossos corações não estiverem
colocados nos interesses deste mundo, sendo estes a única coisa
que os nossos inimigos podem chegar a tocar, então as injúrias não
terão para nós um peso maior do que deveriam.
Amar ao próximo nos capacita a estarmos dispostos a suportar
com paciência as injúrias. Como Provérbios 10: 12 declara: o amor
cobre todos os pecados. Os pais suportam muitas ofensas dos
filhos, as quais nunca suportariam de outras crianças. Por quê? Por
causa do amor que eles tem para com seus filhos. Da mesma
maneira, o amor Cristão nos ensina a suportar mansamente todas
as injúrias cometidas contra nós. Vamos mencionar vários motivos
para este fim.
O amor de Cristo nos ensina a sermos longânimos. Olhe para
Ele em Sua encarnação e ministério terrestre, como objeto de
desprezo e reprovação até mesmo da parte daqueles que Ele
salvaria. Ele foi chamado de Samaritano e possuidor de demônios.
Ele foi acusado de ser beberrão, blasfemo, amigo de publicanos e
pecadores. Seus inimigos o odiaram com ódio mortal, respirando
ameaças e mortes contra Ele. E como Ele foi longânimo! Nenhuma
palavra de amargura saiu dos seus lábios, mesmo quando o
torturaram e humilharam antes da crucificação. Dos seus lábios
ouvimos a intercessão de perdão feita a favor daqueles que o
pregaram na cruz! Nada foi capaz de interromper a Sua
longanimidade. Devemos amar o nosso pior inimigo assim como
nosso Senhor o fez.
Se nós não estivermos preparados para exercer a
longanimidade, então não seremos aptos a viver de forma alguma
neste mundo, pois aqui teremos que enfrentar muitas injúrias de
nossos semelhantes. Nosso mundo é um mundo caído e corrupto,
miserável, e sob o domínio do pecado. Os filhos de Deus caminham
como ovelhas no meio de lobos (Mateus 10: 16). Se não estivermos
dispostos a exercer longanimidade, então ficaremos continuamente
aborrecidos e em constante perturbação. Não deveríamos ficar
surpresos com as provações, como se algo estranho estivesse
ocorrendo conosco (I Pedro 4: 12).
A longanimidade capacita o Cristão a viver acima das injúrias. Ao
invés de ser derrotado por elas, ele as vence. Quando permitimos
que a nossa mente fique perturbada pelas ofensas, ficamos sob o
poder delas. Entretanto, nossos inimigos ficam frustrados quando
vêem a nossa serenidade de alma.
Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver
sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de
fogo sobre a sua cabeça (Romanos 12: 20).
Longanimidade é a marca da verdadeira grandeza de alma.
Melhor é o que tarda em irar-se do que o poderoso, e o que controla
o seu ânimo do que aquele que toma uma cidade (Provérbios 16:
32). Uma mente fraca é facilmente perturbada pelos maus tratos e
indelicadeza dos homens, assim como um pequeno córrego é
transtornado pelos obstáculos, fazendo barulho ao passar por eles.
Mas um rio caudaloso passa sobre eles quieto e calmamente.
A longanimidade é um dos melhores exemplos dos santos que
viveram antes de nós. Mencionamos o exemplo de nosso Senhor,
mas também vamos ver o exemplo de homens sujeitos as mesmas
paixões que nós, como Davi, quando sofreu nas mãos de Saul. Ele
recusou o conselho de seus amigos e poupou a vida do rei mais de
uma vez, colocando-se inteiramente sob os cuidados e proteção de
Deus. Também vemos Estevão, que a exemplo de seu Senhor a
beira da morte, orou para que Deus perdoasse a seus assassinos.
Paulo é um dos primeiros exemplos de sofrimento nas mãos de
inimigos, mas manteve a disposição de exercer a longanimidade. A
história da igreja está repleta de exemplos como esses.
Se queremos ser recompensados com a longanimidade de
Deus, então devemos exercer longanimidade para com os outros.
Com o benigno te mostrarás benigno (Provérbios 18: 25). Porque,
se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai
celestial vos perdoará a vós; Se, porém, não perdoardes aos
homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as
vossas ofensas (Mateus 6: 14-15). Será que não temos consciência
do quanto necessitamos da longanimidade e do amor de Deus pelas
muitas injúrias que cometemos contra Ele? Então vamos
demonstrar a mesma graça para com aqueles que eventualmente
nos injuriarem.
Vamos agora considerar algumas objeções que poderiam surgir
contra este dever.
- As injúrias cometidas contra mim são intoleráveis. A carne e o
sangue não podem suportá-las.
Mas estas injúrias são piores do que aquelas que cometemos
contra Deus, que é o Pai das misericórdias, e a quem nós teremos
que prestar contas? Você espera que Deus suporte com paciência
os seus pecados, e que Cristo o receba com amor incondicional,
perdoando todas as suas ofensas?
Você aprova a paciência que Deus tem exercido para com você,
ou acha que teria sido melhor se Ele já tivesse exercido toda a sua
ira há muito tempo atrás? Se você aprova esta qualidade de Deus,
então por que não a coloca em prática em sua vida? A sua ofensa
para com o Deus vivo é menor do que aquela que os homens
cometeram contra você? Por que você ora para que Deus lhe
perdoe, enquanto se recusa a perdoar seus ofensores?
O seu desejo de ser perdoado por Deus é o mesmo que você
demonstra para com os seus ofensores? Cristo alguma vez se
vingou dos seus inimigos enquanto esteve presente aqui na terra?
Você não tem pisado em Cristo mais do que os outros tem pisado
em você? Quem está cometendo maiores transgressões?
- Aqueles que me injuriaram não se arrependeram e ainda
persistem no erro.
Em que ocasião devemos exercer a longanimidade, por acaso
não é quando a ofensa persiste? Nunca ouvimos da longanimidade
exercida a curto prazo! De que outra maneira Deus poderia testar a
sua longanimidade? Deus não tem sido longânimo com as suas
persistentes e obstinadas injúrias?
- Se eu for paciente, meus inimigos ficarão encorajados em
continuar me injuriando.
Você sabe o que o futuro reserva no que diz respeito ao coração
dos seus inimigos? Será que Deus não é capaz de colocar um fim
na ira do homem? O coração de Paulo foi transformado enquanto
respirava ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor (Atos
9).
Certamente a cólera do homem redundará em teu louvor; o
restante da cólera tu o restringirás. Salmos 76: 10
A experiência prova que a longanimidade é que tende a por um
fim as injúrias, enquanto a vingança somente as faz aumentar.
Valorize o espírito de longanimidade, e você possuirá a sua alma
em paciência e felicidade.

Na vossa paciência possuí as vossas almas. Lucas 21: 19


5

A caridade nos inclina a fazer


o bem

“O amor…é benigno.” I Coríntios 13: 4

I. A NATUREZA DE FAZER O BEM A OUTROS.


O ato de fazer o bem. Certamente a melhor maneira de fazer o
bem a outros é fazer o bem a suas almas. Fazer o bem espiritual e
eterno para alguém é melhor do que dar a ele as maiores riquezas
do universo. Como podemos fazer o bem às almas dos homens? Ao
instruí-los no conhecimento de Deus e na verdade. Encorajando-os
e exortando-os a respeito dos seus deveres diante de Deus. Ao
reprovar e alertar aqueles que estão andando no caminho do erro.
Procurando dar um exemplo digno de como seguir a Cristo, o qual,
na maioria das vezes, é o método mais eficiente de todos. Além
disso, os santos devem exortar, confortar, confirmar, e fortalecer uns
aos outros na fé e na obediência, especialmente em tempos de
tentação, provas, e desânimo.
Outras oportunidades de se fazer o bem surgem em outros
aspectos da vida deste mundo. Todos os homens estão sujeitos a
vários tipos de calamidades seculares. Nosso Senhor listou algumas
em Mateus 25, tais como: fome, sede, falta de abrigo ou roupas,
doenças, e aprisionamento. Tais ocasiões são propícias para
demonstrarmos a bondade Cristã. Também podemos fazer o bem
ao defendermos legitimamente uma pessoa, ou cooperar de alguma
maneira para o seu conforto e felicidade neste mundo. Estas obras
e palavras de bondade tendem a abrir portas para que possamos
fazer um bem a elas de muito maior valor espiritual e eterno. Ajuda
humanitária, quer contribuindo, socorrendo, compartilhando
sofrimentos, só reforça o verdadeiro bem espiritual que temos como
objetivo principal. Levai as cargas uns dos outros, e assim
cumprireis a lei de Cristo (Gálatas 6: 2).
Os objetos da nossa bondade. As Escrituras frequentemente
utilizam o termo próximo para aqueles a quem deveríamos praticar o
bem. Quando perguntado “Quem é o meu próximo?” nosso Senhor
respondeu com a parábola do bom Samaritano que ajudou a um
Judeu. Esta parábola a respeito de dois grupos conhecidos por suas
intolerâncias de ódio nos instrui da seguinte maneira:
Primeiro, devemos fazer o bem tanto aos homens bons quanto
aos malvados. Deus mesmo envia a chuva sobre os justos e
injustos (Mateus 5: 43). Devemos lembrar que o nosso dever
primário é para com os nossos irmãos em Cristo, de acordo com
Gálatas 6: 10, porém, isso não termina somente com eles. O mesmo
verso nos instrui a fazer o bem a todos, enquanto temos
oportunidade. Se deixarmos de fazer o bem a qualquer homem, seja
ele orgulhoso, cobiçoso, imoral, ou profano, então perderemos a
oportunidade de beneficiá-los com as verdadeiras bênçãos
espirituais, pregando o evangelho de Cristo.
Segundo, devemos fazer o bem tanto aos nossos amigos quanto
aos nossos inimigos. Raramente temos que ser instruído quanto a
retribuir o bem, mas Cristo nos instrui com relação aos nossos
inimigos. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os
que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que
vos maltratam e vos perseguem (Mateus 5: 44). Da mesma forma,
somos exortados a “A ninguém torneis mal por mal” (Romanos 12:
17).
Terceiro, devemos fazer o bem tanto aos homens bons, quanto
àqueles que são ingratos e maus. Deus é benigno até para com os
ingratos e maus (Lucas 6: 35). Se nos desculpamos a nós mesmo
dizendo “não faremos o bem àqueles que são ingratos e maus para
conosco”, então não estamos olhando o suficiente para Cristo,
demonstrando uma ignorância sobre o nosso dever, ou uma
indisposição em obedecer.
A maneira como praticamos a bondade. A verdadeira natureza
da bondade implica em que a mesma seja exercida
espontaneamente, sem esperar por qualquer tipo de recompensa.
Amai, pois, a vossos inimigos, e fazei bem, e emprestai, sem nada
esperardes, e será grande o vosso galardão, e sereis filhos do
Altíssimo; porque ele é benigno até para com os ingratos e maus
(Lucas 6: 35). Devemos fazer o bem sincera e alegremente,
demonstrando toda boa vontade para com os outros, sem
murmuração (II Pedro 4: 9; Romanos 12: 8). Nós devemos fazer o
bem de maneira liberal e gentil. Antes lhe abrirás de todo a tua mão
(Deuteronômio 15: 8). O apóstolo Paulo encorajou a igreja em
Corinto a semear abundantemente para com os irmãos
necessitados na Judéia (II Coríntios 9: 6).

II. O VERDADEIRO ESPÍRITO DE AMOR CRISTÃO NOS LEVA


A PRATICAR O BEM PARA COM OS OUTROS.
Boa vontade para com os homens é o principal ingrediente do
amor. Ele é chamado de amor benevolente, ou o desejo de ver o
bem desfrutado por aqueles a quem amamos. Há também o amor
complacente, ou o desejo de ver o bem desfrutado por aqueles a
quem amamos. Mas o primeiro é o ingrediente principal do amor
Cristão. Ele reflete o próprio amor de Deus, que foi declarado assim
pelos anjos: Boa vontade para com os homens (Lucas 2: 14).
A evidência mais adequada e conclusiva do amor é a sua
manifestação através das obras. O teste do verdadeiro desejo de se
fazer o bem a alguém é “colocar a mão na massa!” A evidência clara
e irrefutável da vontade é a ação, quando há poder para executá-la.
O desejo sincero não produz apenas palavras de conforto, mas
obras de benevolência. Meus filhinhos, não amemos de palavra,
nem de língua, mas por obra e em verdade (I João 3: 18). Tiago 2:
16 expõe a hipocrisia daqueles que dizem: Ide em paz, aquentai-
vos, e fartai-vos.
Vamos fazer algumas aplicações desta verdade ao nosso próprio
coração.

I. Reprovação.
Todos aqueles que não são amáveis, benevolentes, e
espontaneamente fazem o bem a outros, estão reprovados, pois
não compartilham do verdadeiro espírito Cristão. Um Cristão
malicioso é uma verdadeira contradição, assim como um Cristão
egoísta. O amor Cristão está presente em todas as áreas da nossa
vida de maneira prática. Tome como exemplo a área de negócios.
Não devemos cobrar preços abusivos pelos nossos serviços ou
bens, e nem nos recusarmos a pagar aos outros aquilo que é justo.
Atitudes mesquinhas e avarentas evidenciam nosso egoísmo. A
regra para os filhos de Deus é esta: E como vós quereis que os
homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei vós, também
(Lucas 6: 31).

II. Exortação.
Vamos fazer o bem a todos, nos esforçando para ser uma
benção para eles agora e na eternidade. A nossa benevolência deve
ser universal, constante, livre, habitual, e de acordo com a nossa
capacidade e habilidade.
Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas
principalmente aos domésticos da fé (Gálatas 6:10).
Considere a grande honra de ser usado como um instrumento de
bem neste mundo. As bênçãos de Deus sobre Abraão incluíam o
fato de ele ser uma bênção (Gênesis 12: 2). Cristo ensinou que
mesmo entre os gentios, os grandes homens eram chamados de
benfeitores (Lucas 22: 25). Os Cristãos benfeitores se assemelham
a Deus, que derrama suas bênçãos sobre a humanidade. Quando
outros estão dispostos a fazer o bem para nós, imediatamente
aprovamos com louvor tais atitudes. Então, Bem-aventurado aquele
que não se condena a si mesmo naquilo que aprova (Rom. 14: 22).
Considere como Deus é bondoso para conosco. Suas bênçãos
temporais são grandes, e as eternas muito mais! Deus nos tem
dado muito mais do que reinos terrestres, pois nos deu o Seu Filho
amado, o maior presente que Ele poderia nos dar. Em favor de nós
que éramos inimigos, ingratos, e maus, o Filho se ofereceu
voluntariamente, sem murmuração, e sem esperar por recompensa.
Considere as grandes recompensas prometidas àqueles que
livremente praticam o bem a outros. Nenhum outro dever, praticado
pelo povo de Deus, tem tantas promessas anexadas a ele com este
o tem. Com o benigno te mostrarás benigno (Salmo 18: 25). Mais
bem-aventurada coisa é dar do que receber (Atos 20: 35), isto é, o
doador é mais feliz do que aquele que recebe a doação. Ao
SENHOR empresta o que se compadece do pobre, ele lhe pagará o
seu benefício (Provérbios 19: 17). O que dá ao pobre não terá
necessidade, mas o que esconde os seus olhos terá muitas
maldições (Provérbios 28: 27). BEM-AVENTURADO é aquele que
atende ao pobre; o SENHOR o livrará no dia do mal (Salmo 41: 1).
Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e
transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma
medida com que medirdes também vos medirão de novo (Lucas 6:
38). Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados,
mancos e cegos, e serás bem-aventurado; porque eles não têm com
que to recompensar; mas recompensado te será na ressurreição
dos justos (Lucas 14: 13-14). A palavra de Cristo àqueles que são
benevolentes é: Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita:
Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos
está preparado desde a fundação do mundo; Porque tive fome, e
destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era
estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e
visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. E, respondendo o
Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um
destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes (Mateus 25: 34-
36, 40).
6

A caridade é incompatível
com um espírito invejoso

“O amor não é invejoso.” I Coríntios 13:4

Agora nós iremos considerar como o amor Cristão se comporta


diante dos bens alheios.
A caridade, ou o verdadeiro amor Cristão, é o oposto de um
espírito invejoso.

I. A NATUREZA DA INVEJA.
A inveja pode ser definida como uma insatisfação e oposição a
prosperidade e felicidade de outras pessoas, quando comparadas
com a nossa. Todo homem naturalmente ama a supremacia, ou
seja, estar acima dos demais. Não suportamos o fato de outras
pessoas estarem acima de nós gozando de honra ou privilégios. O
“EU” tem que estar por cima!
A inveja se manifesta através da insatisfação e mal-estar ao ver
a prosperidade de outros.
Nós deveríamos nos regozijar quando outros prosperam. Mas,
ao invés disso, a inveja nos incapacita a tal ação, fazendo com que
nem desfrutemos com alegria daquilo que já possuímos.
Assim como Hamã, a despeito das nossas riquezas e honras
atuais, nós ainda dizemos: Porém tudo isto não me satisfaz,
enquanto eu vir o judeu Mardoqueu assentado à porta do rei (Ester
5: 13).
A inveja se alegra ao ver as riquezas dos outros diminuírem, e
até esta disposta a dar uma mãozinha neste sentido. Quantas vezes
palavras amargas são proferidas na esperança de rebaixar a estima
de alguém aos olhos de outras pessoas!
A inveja se manifesta através da antipatia demonstrada a outras
pessoas por causa da prosperidade delas. Uma pessoa invejosa
odeia seus vizinhos pelo simples fato deles prosperarem. Os irmãos
de José o invejaram por causa da sua posição de honra, Vendo,
pois, seus irmãos que seu pai o amava mais do que a todos eles,
odiaram-no, e não podiam falar com ele pacificamente (Gênesis 37:
4). Muitas vezes, assim como estes irmãos, pessoas amarguradas
se empenham não somente para destruir a felicidade daqueles a
quem invejam, mas até mesmo a própria vida deles.

II. EM QUE O ESPÍRITO DE AMOR CRISTÃO É OPOSTO A


UM ESPÍRITO INVEJOSO.
A caridade desaprova o exercício e manifestações de inveja.
Embora o espírito de inveja ainda resida em nosso velho homem, o
Cristão o reconhece como sendo pecado, lutando conta ele em sua
alma. Ele odeia ao ver este pecado se manifestar em si mesmo,
assim como em outros. Por isso, o Cristão coloca todos os seus
esforços para refrear qualquer palavra ou ação que exteriorize ou
incentive um espírito de inveja.
A caridade também procura crucificar qualquer princípio de
inveja que brote no coração. Qualquer incentivo ou disposição à
inveja deve ser mortificado, ou seja, cortado pela raiz. Em seu lugar,
o amor produzirá um espírito de contentamento, a despeito daquilo
que porventura venhamos a receber da parte de Deus. Porque já
aprendi a contentar-me com o que tenho (Filipenses 4: 11).
A caridade nos incentiva a regozijarmos quando outros
prosperam. A caridade diz: Alegrai-vos com os que se alegram
(Romanos 12: 15). Tal espírito de boa vontade expulsa qualquer
espírito de inveja, deixando apenas um lugar para a felicidade ao
vermos o sucesso do nosso próximo.

III. A RAZÃO E EVIDÊNCIA DESTA DOUTRINA.


As Escrituras expressamente condenam a inveja. O Novo
Testamento está cheio de preceitos e incentivos á pratica da boa
vontade para com os homens. Além disso, somos advertidos em
muitas passagens contra o pecado da inveja. A inveja é a marca da
carnalidade. Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós
inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não
andais segundo os homens? A inveja está relacionada na lista das
obras da carne, assim como homicídios e bebedices. A inveja é um
dos pecados mais odiosos, nos quais vivíamos antes da nossa
conversão, do qual fomos redimidos e, portanto, devemos
abandoná-lo. Tiago nos diz que onde há inveja e espírito faccioso aí
há perturbação e toda a obra perversa, sendo esta terrena, animal e
diabólica (I Coríntios 3: 3; Gálatas 5: 21; Tito 3: 3; Tiago 3: 16).
As doutrinas e a história do evangelho pregam contra a inveja.
No evangelho, o Deus trino, longe de invejar o homem, o elevou a
posição mais alta que a natureza humana poderia alcançar. Deus
Pai não reteve de nós tudo aquilo que era bom, nem nos entregou
de má vontade aquilo que lhe era mais querido, ou seja, seu Filho
Unigênito. Pense no Filho, que não deixou de realizar tudo o que
poderia a nosso favor sem murmuração ou má vontade. Ele
entregou a sua vida e o seu sangue. Ele determinou compartilhar a
sua glória eternamente com o seu povo. Como foi diferente com
satanás, que invejou a alegria e honra do homem em seu estado
original, trabalhando para destruí-las! Porém, Cristo veio desfazer as
obras do diabo, purificando para si um povo seu, especial, zeloso de
boas obras, e apto a entrar em seu reino celestial.
A autonegação de Cristo e a posição adquirida por seu povo são
opostas ao espírito de inveja. Ele viveu e se comportou de forma
humilde, submetendo-se ao batismo de João, recusando ser
coroado como rei aqui nesta terra, e prometendo que seus
discípulos fariam maiores obras do que Ele (as quais podemos ver
no livro de Atos).
O verdadeiro espírito de amor Cristão nos capacita a guardar
estes preceitos. O amor Cristão é diretamente contrário a inveja. Se
nós verdadeiramente amamos ao próximo, não ficaremos tristes
quando algo de bom lhes ocorrer. Geralmente, a caridade nos
prepara para sermos mais submissos a autoridade de Deus, a
obedecer aos seus mandamentos, e imitar a Cristo no exemplo
destas coisas.
A caridade faz um ataque indireto contra a inveja ao mortificar o
orgulho, que é a fonte de toda inveja. O amor produz humildade em
nossos corações, como veremos no próximo capítulo.

Vamos agora fazer uma aplicação deste assunto.

I. FAZENDO UM AUTO-EXAME.
Em tempos passados, você viu algumas pessoas prosperarem
enquanto você carregava seus pesados fardos? Como isso afetou
você? Você ficou insatisfeito com isso? Você chegou a desejar que
eles terminassem mal? Você fechou o seu coração para eles?
Quantas vezes o nosso coração não sentiu inveja de outras
pessoas!
Você vê com maus olhos a prosperidade de alguns daqueles
irmãos que semanalmente encontra na igreja? Você sentiria uma
pontinha de alegria se eles eventualmente viessem a sofrer um
colapso financeiro? Não são apenas os humildes que necessitam
examinar seus corações, mas também aqueles que prosperam
deveriam considerar se não sentem algum desprezo quando outros
prosperam em seu caminho. Você detesta o fato de alguns estarem
se aproximando daquele mesmo nível de vida que você tem, e até
lhe ultrapassar? O espírito de inveja não faz parte da nossa vida
mais do que desejaríamos ou venhamos a admitir?
Talvez você esteja dando outro nome a inveja a fim de justificá-
la? Alguém poderia dizer: Eu mereço ser mais honrado do que o
meu vizinho, e isso não é inveja, é reconhecimento. Existe algum
invejoso que não pense exatamente desta maneira? E mais, Meu
vizinho não é digno de tamanha honra. O que realmente incomoda
você, as falhas do seu vizinho ou a sua prosperidade? Se forem as
falhas, por que você reclama dele para outras pessoas ao invés de
ajudá-lo? Mas o meu vizinho utiliza mal a sua prosperidade e honra.
Ele precisa aprender a ser mais humilde. Seja honesto e pergunte a
si mesmo se as suas lamentações quanto à prosperidade de alguém
é fruto da preocupação genuína pela alma desta pessoa, ou
simplesmente por desejar aquilo que ela possui. Não engane a si
mesmo!
Você algumas vezes sente inveja da prosperidade espiritual e
das bênçãos que enxerga na vida de outras pessoas? Isso é um
grande mal que deveria ser veementemente combatido. Tal inveja
muitas vezes mostra toda as sua feiúra, assim como no caso de
Caim e Abel.

II. MORTIFICAÇÃO.
Devemos desaprovar e rejeitar qualquer coisa que se assemelhe
a um espírito de inveja. Você professa ser Cristão? Prove isso
exercendo a caridade sem invejar ninguém! Quem dentre vós é
sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em
mansidão de sabedoria.
Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso
coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. (Tiago 3:
13-14). Um homem invejoso é como um gafanhoto, ou seja, adora
devorar as árvores e plantas verdes. Ele devora como câncer. O
sentimento sadio é vida para o corpo, mas a inveja é podridão para
os ossos (Provérbios 14: 30). É um espírito de grande tolice e
também de destruição para qualquer homem. A prosperidade de
outros o corrói como nenhuma outra coisa o faz, e ainda o leva a
não desfrutar daquilo que tem, pois está sempre cobiçando o que os
outros possuem. E o pior de tudo é que a alma invejosa é como o
próprio Diabo. A inveja é uma disposição maligna, inflamada pelo
inferno. Um espírito Cristão sempre se regozijará ao ver o bem-estar
e prosperidade de outras pessoas.
7

O espírito da caridade é um
espírito humilde

“O amor não trata com leviandade, não se ensoberbece, não


se porta com indecência.” I Coríntios 13: 4-5.

O estudo anterior tratou de como o espírito da caridade se


comporta ao ver a prosperidade de outras pessoas. O texto acima
nos mostra como um espírito de caridade se comporta em relação
aos próprios bens. Assim como o amor Cristão nos previne contra
qualquer sentimento de inveja, ele também nos guarda de
vangloriar-nos de qualquer coisa que possuímos. O amor Cristão
nos ensina como devemos nos conduzir, e isso sempre da forma
mais adequada, quer estejamos acima ou abaixo de qualquer
pessoa. Naturalmente, este princípio não trata apenas com as
nossas ações, mas com todas as nossas disposições interiores. A
doutrina aqui ensinada nos diz que a caridade não é orgulhosa, mas
sim humilde.

I. O QUE É HUMILDADE.
A humildade pode ser definida como um hábito da mente e do
coração no que corresponde a nossa indignidade e vileza diante de
Deus, ou nossa inferioridade comparada a Sua grandeza, tudo isso
demonstrado através do nosso comportamento.
Devemos ter o senso da nossa indignidade relativa. Dizemos
indignidade relativa porque a humildade é uma graça apropriada a
todas as criaturas, sendo estas gloriosas e excelentes em muitos
aspectos. Os espíritos glorificados no céu estão libertos dos
pecados, mas ainda assim tem muitos motivos para serem humildes
diante do Deus Todo-Poderoso. Deus mesmo não é humilde, pois
isso implicaria em alguma imperfeição da Sua parte. Nem o orgulho
e nem a humildade fazem parte dos seus atributos. A Humilhação
do Filho de Deus é referente à sua encarnação, e à Sua natureza
humana em particular. A humildade é uma excelência apropriada a
todas as criaturas, sendo estas caídas ou não.
A humildade consiste principalmente em um senso da infinita
distância entre Deus e nós mesmos. Somos criaturas pequenas e
desprezíveis, comparadas aos vermes do pó. Quando comparados
a Deus, deveríamos nos considerar como nada, ou menos do que
nada. Em um momento muito especial de intercessão, Abraão
lembrou-se de qual era a sua posição diante de Deus ao dizer: Eis
que agora me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza
(Gênesis 18: 27). Este tipo de espírito é essencial à verdadeira
humildade. Podemos até demonstrar certa humildade diante de
algumas pessoas e ainda sermos orgulhosos diante de Deus. Por
isso, muitas pessoas por causa de interesses e circunstâncias
terrenas se mostram humildes, mas, no entanto, são totalmente
vazias da verdadeira graça da humildade.
Quando nos comparamos com muitas pessoas ao nosso redor,
nós temos muitos motivos para sermos humildes. Mas para tal
humildade ser verdadeira, ela deverá proceder de um senso correto
quanto à nossa indignidade diante de Deus. Quando admitimos a
nossa verdadeira posição diante do Criador, isso nos ajuda a
assumir o nosso lugar apropriado diante dos homens. Mesmo antes
do pecado fazer parte da raça humana, a humildade já era uma
virtude. Adão era consciente da sua pequenez, fraqueza,
dependência, e submissão a Deus. E isso o guardaria de ser
orgulhoso diante das demais criaturas. Desde a queda de Adão,
temos motivos muito maiores para sermos humildes. Agora, não
somente somos naturalmente vis, como também moralmente.
Somos piores do que as demais criaturas, pois somos impiamente
vis e imundos. E isso é o que faz com que a nossa consciência nos
condene diante de Deus, e nos leve ao reconhecimento da distância
moral que existe entre Ele e nós. Ele é sublime e santo, mas nós
somos vis e maus. Ao reconhecer esta verdade Isaías exclamou: “Ai
de mim! (Isaías 6: 5). Jó abominou a si mesmo (Jó 42: 6). Para tais
almas nosso Senhor pronuncia a benção da primeira das Bem-
aventuranças dizendo: “Bem-aventurados os pobres de espírito,
porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5: 3). Nós precisamos ter
em vista, não somente a grandeza de Deus, mas também a Sua
graciosidade e beleza. Os anjos caídos conhecem a primeira parte,
mas desconhecem a segunda. Devemos reconhecer quão indignos
somos da sua bondade e graça. Assim como Jacó, devemos
confessar: “Menor sou eu que todas as beneficências, e que toda a
fidelidade que fizeste ao teu servo” (Gênesis 32: 10). Quem sou eu,
Senhor DEUS, e qual é a minha casa, para que me tenhas trazido
até aqui? (II Samuel 7: 18).
Nós devemos ter a disposição de vivermos segundo aquilo que
aprendemos acerca da nossa própria baixeza.
Este é um teste ácido de humildade. Nós apenas temos um
senso da nossa própria baixeza, ou realmente demonstramos na
prática isso, fazendo com que o nosso comportamento seja
compatível com a verdadeira humildade?
Com relação a nossa conduta para com Deus, a humildade nos
leva:
– A admitir de livre e espontânea vontade a nossa pequenez. A
alma humilde se deleita em confessar a sua indignidade.
– A não confiar em nós mesmos e depender totalmente de Deus.
O orgulhoso ama a auto-suficiência, mas o humilde tem prazer em
buscar refúgio somente em Deus.
– A renunciar a honra por qualquer bem que façamos, passando-
a para Deus, que é o único verdadeiramente digno de recebê-la.
Não a nós, SENHOR, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por
amor da tua benignidade e da tua verdade (Salmo 115: 1).
– A nos submetermos totalmente a Deus. Sabendo que somos
tão inferiores a Ele, então é apropriado que nos coloquemos sob o
Seu governo. Estamos à Sua disposição todos os dias. O pior que
venhamos a receber das Suas mãos, ainda é melhor do que aquilo
que realmente merecemos. Ainda que ele me mate, nele esperarei
(Jó 13: 15).
No que diz respeito à nossa conduta para com os homens, a
humildade nos previne quanto a:
– Um comportamento que aspira a ambição. A humildade produz
contentamento em qualquer tipo de situação. Não ambicionamos as
coisas altas (Romanos 12: 16).
– Um comportamento que demonstre ostentação. Se tivermos
algumas vantagens, não seremos extravagantes nem exibidos. Não
faremos um desfile a fim de mostrar nossos dons e experiências. O
orgulho fazia com que os Fariseus fizessem todas as obras a fim de
serem vistos pelos homens (Mateus 23: 5). Mas a humildade diz: a
mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós (I Coríntios 4: 3).
– Um comportamento arrogante e presumido. Não esperamos
ser tratados como superiores, antes damos a outrem a preferência.
Cada um considere os outros superiores a si mesmo, nós somos o
mínimo de todos os santos (Filipenses 2: 3; Efésios 3: 8).
– Um comportamento escarnecedor. O que poderia ser mais
ofensivo do que tratar os outros com desprezo sarcástico e orgulho?
Há muitas maneiras de exaltar a nós mesmos e rebaixar a outros,
mas a humildade nos capacita a “nos acomodarmos às coisas
humildes” (Romanos 12: 16), a despeito de quão grande pareçamos
ser.
– Um comportamento obstinado e teimoso. Não iremos insistir
em nossos planos ou vontade. A humildade faz com que
busquemos a paz com todos, a não ser que tenhamos que violar a
verdade e santidade. O princípio aqui também é citado em I
Coríntios 6: 7 através destas perguntas: Por que não sofreis antes a
injustiça? Por que não sofreis antes o dano?
– Um comportamento nivelador, ou seja, insistir em rebaixar
aqueles que estão acima de nós. Ao invés disso, nós entendemos
que Deus tem determinado vários níveis na sociedade, e estaremos
dispostos a dar a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a
quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra
(Romanos 13: 7).
– Um comportamento que se auto-justifica. Antes, estaremos
dispostos a reconhecer nossas faltas e nos envergonharmos. O que,
exceto o orgulho, nos impede de confessar as nossas faltas uns aos
outros (Tiago 5: 16), ou de sermos agradecidos por alguma
exortação? Fira-me o justo, será isso uma benignidade; e
repreenda-me, será um excelente óleo, que não me quebrará a
cabeça (Salmo 141: 5).

II. COMO O ESPÍRITO DA CARIDADE SE MOSTRA UM


ESPÍRITO HUMILDE.
A caridade implica e tende a humildade.
A caridade implica em humildade, pois o amor Cristão é um amor
humilde. O amor que não é humilde não é um amor divino. Como
observamos anteriormente, é a benignidade de Deus que faz com
que a alma se prostre total e humildemente diante dEle. Devemos
ter uma apreciação não somente pela sua grandeza, mas também
por sua bondade. Sem esta última, podemos ser convencidos do
grande perigo em que estamos diante de Deus, mas não seremos
convencidos do quanto o ofendemos. Os anjos e homens perdidos
podem sentir a larga distância que existe entre eles e Deus, mas
não são humilhados por isso.
Mas quando compreendemos a sua benignidade, então nos
humilhamos, pois reconhecemos o que somos, e quem Deus é.
A caridade implica em humildade em que, quando Deus é
verdadeiramente amado, então Ele é amado como sendo
infinitamente superior. Não podemos amá-Lo como um igual, mas
com amor humilde reconhecemos o quanto somos inferiores a Ele.
A caridade tende a humildade. A humildade não é somente uma
qualidade inerente do amor, mas um efeito do mesmo. O amor
inclina o coração a um espírito e comportamento que mantém a
distância adequada daquele a quem amamos. Aqueles a quem
amamos, desejamos que sejam honrados acima de nós. As
criaturas caídas se recusam a honrar a Deus, e desprezam o fato de
existir uma distância entre eles e Deus. Mas quando o amor Cristão
entra no coração, então somos inclinados a respeitar humildemente
os benefícios da distância existente entre nós e Deus. Da mesma
forma, o amor aos homens, que é fruto do amor a Deus, faz com
que o nosso comportamento com as outras pessoas seja realmente
humilde.
Além disso, o amor a Deus nos leva a odiar qualquer pecado
cometido contra Ele. Na mesma extensão que amamos qualquer
coisa, também odiaremos o que for contrário a ela. Se amamos a
Deus, devemos odiar o pecado, como também a nós mesmos por
causa do pecado. Fazendo isso, estaremos humilhando a nós
mesmos diante do nosso grande, santo, e bendito Deus.
O evangelho tende a incentivar tais exercícios de amor,
especialmente aqueles que implicam e tendem a humildade.
O evangelho nos leva a amar a Deus como sendo um Deus
infinitamente digno. Quão longe Ele foi para que pudesse
graciosamente interceder a favor de pobres criaturas, vermes do pó,
ao enviar seu precioso Filho para morrer por nós, a fim de que
pudéssemos ser perdoados e desfrutarmos da sua presença para
sempre! A resposta mais adequada da nossa parte para tamanha
condescendência é a total humildade.
O evangelho nos leva a amar a Cristo como uma Pessoa
humilde. Se entendemos que Cristo é tanto homem quanto Deus,
então sabemos que Ele é condescendente e humilde. Humildade
esta nunca vista em ninguém. Ele é humilde e manso de coração
(Mateus 11: 29). Ele humilhou-se a si mesmo, tornando-se
obediente até a morte (Filipenses 2: 8). Já que Ele é um Mestre
humilde para nós, então devemos nos humilhar diante dEle, para
que o servo não esteja acima do seu senhor (Mateus 10: 24).
Aquele que se abaixou para lavar os pés dos seus discípulos, nos
diz: Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós
fazer-se grande seja vosso serviçal;
E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso
servo;
Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas
para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos (Mateus 20:
26-28).
O amor nos leva a amar a Cristo como o Salvador crucificado.
Embora Ele seja o Senhor da glória, foi grandemente desprezado e
envergonhado em sua morte. Qual o efeito que esta verdade
deveria provocar em nossos corações, a não ser um espírito
humilde e um completo desprezo por todo tipo de orgulho. Se
realmente somos discípulos daquele que é manso e humilde de
coração, então deveríamos caminhar humildemente diante de Deus
e dos homens todos os dias da nossa vida.
O evangelho nos leva a amar a Cristo como Aquele que foi
crucificado pelos nossos pecados. A sua morte, causada pelas
nossas transgressões, deveria nos levar a odiar o pecado
veementemente, a amar a Deus acima de tudo, e a termos uma
postura humilde diante dEle. Que estímulo maior a humildade
poderia nos dar? Por Ele ter tomado a cruz em nosso lugar, nós
deveríamos ver nisso todo incentivo a humildade, por causa da
nossa impiedade, que contrasta com a Sua benignidade.
Vamos fazer algumas breves aplicações destas verdades.

I. CONSIDERE A EXCELÊNCIA DO ESPÍRITO CRISTÃO.


Muito daquilo que chamamos de excelência na vida do justo, é
na verdade o reflexo daquela humildade que vemos em Cristo. A
Bíblia fala disso como sendo algo de muito valor, ou seja, o
incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso
diante de Deus (I Pedro 3: 4).

II. EXAMINE O SEU ESPÍRITO, VERIFICANDO SE ELE É


REALMENTE HUMILDE.
Há muitas falsificações. Por exemplo:
· Alguns fingem ser humildes
· Alguns são naturalmente tímidos ou sem personalidade forte
· Alguns são desanimados
· Alguns são convencidos momentaneamente de algum pecado
específico.
· Alguns ficam abatidos diante de algumas provações
· Alguns são simplesmente enganados por satanás
Portanto, esteja certo de que a sua humildade é realmente
genuína, como ensinada e demonstrada nos evangelhos, e também
ensinada pelo Espírito Santo. Este é um assunto vital, pois Deus
resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes (Tiago 4: 6).

III. SE VOCE AINDA NÃO CONHECE A GRAÇA SALVADORA,


BUSQUE CONHECÊ-LA, POIS SÓ ASSIM PODERÁ ALCANÇAR
ESTE EXCELENTE ESPÍRITO DE HUMILDADE.
Fora de Cristo, somos orgulhosos contra Deus, e totalmente
destituídos de qualquer humildade verdadeira, não importando quão
mansos e humildes sejamos aos olhos dos homens. O nosso estado
é de rebelião contra Deus, que exige e merece a nossa humildade.
Se você se recusa a se sujeitar e humilhar, pois são estas as
condições que o caminho da salvação por Cristo exige, então
deveria lembrar que este espírito de orgulho é característico dos
demônios: Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na
condenação do diabo (I Timóteo 3: 6). O livro de Provérbios está
repleto de advertências quanto ao orgulho. Abominação é ao
SENHOR todo o altivo de coração; não ficará impune mesmo de
mãos postas (Provérbios 16: 5). Olhe para o Faraó, Coré, Hamã,
Belsazar, e Herodes, e então considere aonde o caminho do orgulho
o levará. Lembre-se destes exemplos para nutrir a humildade e
caminhar humildemente com Deus. Olhe para Cristo a fim de ser
perdoado do pecado do orgulho.

IV. BUSQUEMOS SER MAIS HUMILDES DE ESPÍRITO,


FAZENDO COM QUE A HUMILDADE PERMEIE TODAS AS
NOSSAS RELAÇÕES COM DEUS E TAMBÉM COM OS
HOMENS.
Conheça e prossiga em conhecer a Deus. Confesse o quanto
você não é nada diante dEle. Conheça você mesmo. Confesse o
seu orgulho contra Deus. Não confie em si mesmo, mas em Deus
somente. Renuncie toda a glória, a não ser a de Deus. Submeta-se
a Sua vontade. Evite qualquer manifestação de orgulho. Busque e
lute para obter o mesmo espírito de humildade demonstrado por
Cristo em Sua vida terrena. Valorize a graça da humildade assim
como Deus a valoriza em sua Palavra. Este foi o espírito com que
Ele viveu aqui na terra, e também no céu. Porque assim diz o Alto e
o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto
e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de
espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o
coração dos contritos (Isaías 57: 15).
8

A caridade é o oposto de um
espírito egoísta

"O amor…não busca os seus interesses." I Coríntios 13:5

A queda do homem no pecado fez com que ele perdesse em


parte os princípios mais elevados da benevolência da sua natureza,
mergulhando assim em um amor próprio indevido. Antes da queda,
a sua natureza refletia a natureza de Deus, na medida em que ele
se preocupava com o bem-estar dos outros. Ele se interessava
especialmente por Deus. Mas depois da queda, o amor próprio se
tornou o mestre absoluto de sua alma. O pecado, como um poder
dominante, restringiu e confinou sua alma a dimensões muito
mesquinhas de egoísmo. Deus, no entanto, através da redenção em
Cristo, restaura e alarga o coração do homem, capacitando-o
novamente a abraçar o seu próximo, compartilhando o amor do
Criador, que excede o entendimento. A doutrina contida nesta
passagem é: o espírito da caridade ou amor Cristão, é o oposto de
um espírito egoísta.

I. A NATUREZA DO EGOÍSMO.
Nem todo amor próprio é pecado. É bom que o homem ame a
sua própria felicidade. Sem isso, ele deixaria de ser essencialmente
homem. Se não amarmos a nossa própria felicidade, então não
haverá felicidade para nós. A ordem de amarmos o próximo como a
nós mesmos (Mateus 19: 19), pressupõe que podemos, e devemos
amar a nós mesmos. Não somos ordenados a amar mais ao nosso
próximo do que a nós mesmos, mas como a nós mesmos. E já que
o amor ao próximo se assemelha ao nosso amor a Deus, então
devemos amar a nós mesmos da mesma maneira. As ameaças e
promessas das Escrituras apelam todas para o nosso amor próprio
natural, seja pelo temor da miséria ou a esperança da felicidade.
A caridade se opõe àquele amor próprio que é pecaminoso e
inapropriado. Como este tema é facilmente mal entendido, então
devemos pensar e falar claramente sobre isso.
Negativamente, o amor próprio inapropriado não consiste no
grau em que uma pessoa ama a sua felicidade e a si mesmo. O
amor próprio natural não implica em crescer ou diminuir.
Na conversão, Deus nos dá uma nova felicidade, mas não
remove de nós o amor por qualquer tipo de felicidade.
Na santificação, o amor pela felicidade não diminui, mas é
regulado em seu exercício, influência, curso, e objeto a que se
destina.
Na glorificação, se o nosso amor pela felicidade diminuísse, isso
também ocorreria com a santidade, pois santidade é felicidade.
Positivamente, o amor próprio inapropriado consiste em duas
coisas. Primeiramente, ele pode ser comparativamente muito
grande. O amor próprio dos homens tornou-se inapropriado quando
o seu amor a Deus e ao próximo desapareceram após a queda.
Este amor próprio não cresceu, mas o amor pelos outros é que
desapareceu, e então, comparativamente falando, o amor próprio
aumentou. Em certo sentido, os pecadores, por não amarem a si
mesmos de forma adequada, também não têm o devido amor pela
felicidade de suas próprias almas.
Por isso lemos: O que rejeita a instrução menospreza a própria
alma, e O que tem parte com o ladrão odeia a sua própria alma
(Provérbios 15: 32; 29: 24). De certa forma, ele odeia a si mesmo,
embora, por outro lado, seja um tremendo egoísta.
Segundo, o amor próprio é inapropriado quando o homem limita
a sua felicidade a si mesmo. Ele canaliza a sua felicidade na direção
errada. Este tipo de amor busca seus próprios interesses, isto é, o
bem particular, o interesse próprio, excluindo assim o bem aos
outros. Este amor próprio é aquela auto-apropriação que lemos em
Filipenses 2: 21 que diz: Porque todos buscam o que é seu, e não o
que é de Cristo Jesus. Paulo nos alerta contra aqueles que são
amantes de si mesmo, os quais possuem um amor próprio que deve
ser considerado como inapropriado (II Timóteo 3: 2).
Não devemos falhar quanto a distinção clara que existe entre o
amor próprio adequado e aquele que é pecaminoso. Se a felicidade
que almejamos procura primeiramente desfrutar de Deus,
contemplar Sua glória, e tem comunhão com Ele, então este amor a
Deus se assemelha ao amor que devemos ter a nós mesmos. Além
disso, quando o Cristão busca a felicidade do seu próximo, ele
amplia a sua própria. E isso está bem longe daquele amor próprio
que é pecaminoso.

II. COMO O ESPÍRITO DA CARIDADE SE CONTRAPÕE A UM


ESPÍRITO EGOÍSTA.
Ele nos leva a ter interesse não somente por aquilo que é nosso,
mas também por aquilo que é dos outros. Um espírito assim, busca
agradar e glorificar a Deus. Ele busca as coisas que são de Cristo
(Filipenses 2: 21). Cristo é o objetivo final das nossas vidas. Para
mim o viver é Cristo (Filipenses 1: 21). Nós somos servos de Deus,
fazendo de coração a Sua vontade (Efésios 6: 6). Quando
comemos, bebemos, ou fazemos qualquer outra coisa, o fazemos
para a glória de Deus (I Coríntios 10: 31).
O espírito de caridade busca o bem do seu próximo. Não atente
cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também
para o que é dos outros (Filipenses 2: 4). A felicidade espiritual
dessas pessoas deveria ser o nosso principal interesse, inclusive o
seu progresso material.
Este tipo de espírito se compadece com as dificuldades, as
cargas, e as aflições do próximo. Um espírito egoísta se preocupa
somente com a sua própria miséria. Mas um coração sincero e
verdadeiro é cheio de misericórdia para com aqueles que estão em
miséria, sendo pronto em ajudar, suprir, e aliviar.
Este tipo de espírito também é liberal, sempre pronto a atender
as necessidades alheias quando oportuno. Então, enquanto temos
tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos
da fé (Gálatas 6: 10).
Este tipo de espírito, quando presente no homem, o torna
consciente de suas obrigações com relação a comunidade que o
cerca. Ele irá se esforçar para promover o bem-estar da sua cidade
e nação. Ele terá interesse quanto ao benefício espiritual que
poderá fazer aos outros, especialmente àqueles que pertencem à
sua própria igreja. Aqueles que ocupam posições de liderança, seja
no governo ou na igreja, se mostrarão dispostos a buscar os mais
altos interesses daqueles que se encontram sob seus cuidados.
Assim como uma pessoa egoísta se assemelha a Israel, pois não se
afligiu pela ruína de José, uma pessoa amorosa, a semelhança de
Davi, é lembrada como alguém que serviu a sua geração conforme
a vontade de Deus (Amós 6: 6; Atos 13: 36).
O espírito de caridade nos leva a compartilhar daquilo que é
nosso pelo interesse de outros. Nós iremos abdicar de nossos
interesses particulares pelo bem do nosso próximo. Não somente
abriremos mão das nossas possessões, mas também da nossa
própria vida. (Atos 20: 24). Conhecemos o amor nisto: que ele deu a
sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos (I João 3:
16).

III. A EVIDÊNCIA QUE APÓIA O PRINCÍPIO DA CARIDADE


QUANDO ESTE BUSCA OS SEUS PRÓPRIOS INTERESSES.
A natureza do amor como um todo. É da própria natureza do
amor ser difusivo, procurar o interesse dos outros. O egoísmo
contrai o coração, mas o amor o alarga a fim de alcançar a outros,
compartilhando assim das mesmas coisas. Se alguém é injuriado,
ele também o é: se alguém é promovido, ele se alegra.
A natureza peculiar do Cristão ou amor divino. O amor Cristão é
o único que opera num princípio mais elevado do que o egoísmo.
Um coração não regenerado pode amar a outros, na medida em que
procura os seus próprios interesses. Este tipo de amor é meramente
natural. Mas o amor do nosso texto é supernatural, está acima do eu
e dos próprios interesses, é um dom de Deus. O amor natural pode
parecer generoso e oposto ao egoísmo, mas é proveniente de um
espírito egoísta, pois brota do princípio do amor próprio. Entretanto,
o amor Cristão para com o próximo provém do princípio do amor
divino. Ele ama os outros porque ama o Deus que os fez. Isso o
capacita a amar até mesmo os seus inimigos. O amor natural é
incapaz de fazer isso.
A natureza do amor Cristão quanto ao amor a Deus e ao
homem. Quanto a amar a Deus, o primeiro e grande mandamento
nos instrui a respeito da natureza deste amor. É um amor que
entrega-se totalmente a Deus sem nenhuma reserva, com todo o
seu coração, alma, mente e forças (Marcos 12: 30). Mas um
coração egoísta nunca se entrega a si mesmo em favor de outros,
mas espera que outros o façam. Sendo assim, o “eu” torna-se um
deus.
Quanto a amar a Deus, somos ensinados no Velho Testamento a
amar o nosso próximo como a nós mesmos (Levítico 19: 18). No
Novo Testamento nos é dado um novo mandamento: Um novo
mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos
amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis (João 13:
34). A novidade deste novo mandamento não está no dever de amar
ao próximo, pois isto já vigorava, mas na regra ou motivo anexado a
isso, os quais podemos ver claramente no evangelho. O amor de
Cristo é o nosso padrão agora, e não somente o amor próprio.
Enquanto consideramos o supremo exemplo de Cristo no
cumprimento do amor que pratica a autonegação, vamos considerar
quatro pontos.
Primeiro, Cristo amou os seus inimigos. Nós não somente
falhávamos em amá-Lo, mas também estávamos cheios de
inimizades e iras contra Ele. Mas Deus prova o seu amor para
conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda
pecadores… Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados
com Deus pela morte de seu Filho (Romanos 5: 8, 10).
Segundo, o amor de Cristo é tão extraordinário que de certo
modo Ele nos vê como a Si mesmo, tomando o nosso lugar. Ele faz
com que os nossos interesses sejam os dEle, até o ponto de fazer
com que os nossos pecados sejam Seus. Ele assumiu a nossa
culpa como sendo Sua, e também nos imputou a sua justiça a fim
de que esta se tornasse nossa.
Terceiro, Cristo se entregou a si mesmo por nossa causa. O seu
amor não consistiu de meras palavras ou sentimentos, mas em obra
e verdade. Os seus sacrifícios não foram pequenos, mas imensos, a
ponto de abrir mão de sua própria posição, interesse, conforto,
honra, e riquezas. Ele se fez pobre, foi desprezado, e não tinha
aonde reclinar a sua cabeça. E além de tudo isso, derramou seu
próprio sangue, entregando a sua vida, oferecendo-se a Si mesmo
como sacrifício a Deus em nosso lugar, para que pudéssemos ser
perdoados, aceitos, e salvos!
Quarto, Cristo nos amou sem qualquer expectativa de ser
recompensado por este amor. Ele sabia que éramos pobres,
miseráveis, párias de mãos vazias, não tendo qualquer possibilidade
de lhe retribuirmos tamanho amor. Ele sabia que tudo o que nos
daria seria de livre e espontânea vontade, ou então não poderia nos
dar. O seu amor por nós, não depende do nosso amor por Ele.
Se este exemplo de amor dominasse os nossos corações, então
da mesma forma nós iríamos amar aqueles que não nos amam,
estando dispostos a arriscar o nosso bem-estar a favor do deles.
Não podemos seguir a Cristo sendo egoístas.
A grande aplicação deste texto é que devemos abandonar
qualquer espírito ou atitude egoísta, sendo contrário a isso.
Devemos primeiramente nos dedicar a Cristo, e depois ao nosso
próximo. A fim de nos estimularmos ao amor e as boas obras vamos
considerar as seguintes coisas:

I. VOCÊ NÃO PERTENCE A VOCÊ MESMO.


O homem não foi feito por si mesmo e nem para si mesmo. Há
uma autoridade maior, um fim maior. Deus nos fez para si mesmo.
Ele estabeleceu este nobre e sublime fim (servir a Ele e ao próximo)
antes de nós existirmos. Como Cristãos, não somos de nós
mesmos, mas fomos comprados por bom preço, pelo sangue
precioso de Cristo (I Coríntios 6: 19, 20; I Pedro 1: 19). Se você se
considera dono de sua própria vida, então é culpado de roubar
àquele que o comprou, Cristo. Tudo o que temos pertence a Ele,
estando à Sua disposição. Ele é o Mestre, nós os mordomos.

II. VOCÊ ESTÁ UNIDO A CRISTO E AOS IRMÃOS.


O apóstolo usa a ilustração do corpo humano para nos ensinar
sobre o dever que temos uns para com os outros. Nenhuma parte
do nosso corpo existe para atender o seu próprio fim. Antes, cada
parte serve e promove o bem comum de todo o corpo. Se uma parte
se fere, todas as demais se empenham em protegê-la e ajudá-la.
Até os ouvidos ajudam os outros órgãos ouvindo as instruções do
médico! Na igreja o mesmo cuidado deveria ocorrer, a fim de que
Cristo, que é a nossa cabeça, seja glorificado.

III. AO BUSCAR A GLÓRIA DE DEUS E O BEM DO PRÓXIMO,


VOCÊ DESCOBRIRÁ QUE DEUS CUIDARÁ DOS SEUS
INTERESSES E PROMOVERÁ O SEU BEM-ESTAR.
Aqui está uma grande verdade. Não importa o quanto você
venha a negar-se a si mesmo por causa de Deus, pois você nunca
será abandonado. Deus cuidará de você. Você verá que os seus
esforços não foram em vão. Embora Deus nunca esteja em débito
com o homem, Ele não deixa de abençoar àqueles que lhe servem.
Ele prometeu: E Jesus, respondendo, disse: Em verdade vos digo
que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou
pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do
evangelho,
Que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e
irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições; e no
século futuro a vida eterna (Marcos 10: 29-30). Quando
consideramos a infinita e indescritível benção da eternidade,
descobrimos que Deus faz muitos mais do que nos reembolsar!
Deus prepara as coisas de maneira tal, que quando não
buscamos o nosso próprio bem de forma egoísta, estamos na
verdade buscando o nosso melhor, e isso num sentido mais sublime
e elevado. Se você ama a Deus e serve ao próximo, você estará
promovendo a longo prazo os seus maiores interesses. Você
desfrutará de gozo verdadeiro aqui e de uma coroa de glória na
eternidade ao lado de Deus. Você herdará tudo, até o próprio Deus
(I Coríntios 3: 21-22).
Mas se você busca fazer a sua própria vontade de maneira
egoísta, Deus o abandonará às suas próprias paixões, a fim de que
você busque aquilo que acha melhor. Se você ama este mundo e
tudo o que nele há, acabará perdendo tudo, e no final estará fora
deste mundo e em eterna pobreza e desprezo. Portanto, vamos
pedir a Deus que nos dê graça a fim de vencer o nosso egoísmo, e
ter um espírito de verdadeira caridade, não buscando aquilo que é
nosso.
9

A caridade é oposta a um
espírito de ira

“O amor…não se irrita.” (I Coríntios 13: 5)

Tendo considerado como a caridade é contrária aos dois grandes


males do orgulho e do egoísmo, consideremos agora alguns frutos
comuns destes males. O verso acima expressa claramente que o
espírito da caridade, ou amor Cristão, é completamente oposto a
qualquer disposição para a ira ou cólera.

I. O QUE UM ESPÍRITO DE IRA É.


Nem toda ira é pecado. Os Cristãos são exortados a: “Irai-vos”
(Efésios 4: 26). É possível estar irado em algumas ocasiões sem
que venhamos a ofender a Deus. Quando a ira é pecado? Vamos
descrever quatro exemplos de como a ira pode ser inapropriada e
indevida.
A ira pode ser um pecado no que diz respeito à sua natureza.
Devemos distinguir cuidadosamente entre o que é a ira pecaminosa
e a mera oposição da mente, fazendo um juízo frio e imparcial,
antes de condenarmos alguém ou alguma coisa que julgamos estar
agindo mal. Também devemos fazer distinção entre a ira
pecaminosa e o espírito de oposição contra os males naturais, tais
como a dor e a tristeza, demonstrado por alguém.
Devemos ainda distinguir muito bem o que é a oposição contra
os males morais e seus agentes voluntários, e a desaprovação
destes próprios agentes, nenhuma das quais deve ser considerada
como ira pecaminosa. Podemos perfeitamente externar a nossa
desaprovação sem este tipo de ira ou contenda. Em toda a ira há
um movimento de sentimentos, emoções, e afeições humanas. A ira
é uma paixão extremamente forte na alma, que se opõe a todo mal,
seja este real ou imaginário (Gênesis 34: 5 e 25; II Samuel 12: 5).
A paixão torna-se uma afeição má quando se dispõe a pagar o
mal com mal e a vingar-se. Os Cristãos são exortados a desejar o
bem de todos, a orar por todos, e até mesmo a bendizer aos que os
perseguem (Mateus 5: 44). Somos instruídos: Abençoai aos que vos
perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis (Romanos 12: 14).
Porém, é claro que a vingança legítima, executada pela justiça
pública contra os malfeitores não é proibida. A justiça, quando
legitimamente executada, não deve ser vista como um ato particular
dos magistrados, mas de Deus (Romanos 13: 1-7). Entretanto, a
vingança pessoal é sempre proibida. Não te vingarás nem
guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu
próximo como a ti mesmo. Eu sou o SENHOR. (Levítico 19: 18).
Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira,
porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o
Senhor (Romanos 12: 19). Qualquer ira deste tipo é
terminantemente proibida nas Escrituras. Toda a amargura, e ira, e
cólera, e gritaria, e blasfêmia e toda a malícia sejam tiradas dentre
vós (Efésios 4: 31).
A ira pode ser um pecado com respeito à sua ocasião. Se não há
motivo, ou justa causa, então é pecado. Eu, porém, vos digo que
qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu
de juízo (Mateus 5: 22). Vamos considerar quando não há uma
justificativa para a ira.
Primeiro, não há uma justificativa para a ira quando não há culpa
na pessoa que é objeto da ira. Muitas pessoas descarregam a sua
ira contra aqueles que não têm nada a ver primeiramente com o
assunto, ou até fizeram o melhor que podiam para evitá-lo. Às
vezes, a ira acaba sendo direcionada contra aqueles que estão
fazendo o bem, e que deveriam ser elogiados por isso. Quando isto
acontece, tal ira acaba sendo dirigida diretamente contra Deus e
Sua providência. O profeta Jonas ficou irado porque Deus desejava
poupar a cidade de Nínive, chegando ao ponto de justificar a sua ira.
Então disse Deus a Jonas: Fazes bem que assim te ires por causa
da aboboreira? E ele disse: Faço bem que me revolte até à morte
(Jonas 4: 9). Ao nos irarmos contra qualquer ato da providência de
Deus, estaremos dirigindo a nossa ira contra o próprio Deus, o Autor
da providência. Além disso, quantos santos sofreram simplesmente
porque eram santos! A santidade de vida, suas boas obras, suas
reprovações amorosas, a firmeza na doutrina, foi o que os levou a
serem odiados. Eles participaram dos sofrimentos de Cristo, a quem
os sacerdotes e Fariseus odiaram sem causa (João 15: 25).
Segundo, é difícil justificar a ira quando a pessoa sempre se ira
por coisas pequenas e triviais. Algumas pessoas são tão propensas
a ficarem iradas por pequenas coisas em casa, no trabalho, e na
sociedade, que não percebem erros ainda maiores que acabam
cometendo todos os dias. Tais pessoas ficarão continuamente
irritadas neste mundo caído e amaldiçoado pelo pecado em que
vivemos. O que se indigna à toa fará doidices, e o homem de maus
intentos será odiado (Provérbios 14: 17).
Aquele que pratica a caridade será tardio em irar-se, e só dará
atenção a alguma provocação quando esta for realmente séria,
utilizando-se da ira santa, e não da pecaminosa.
Terceiro, não podemos justificar a ira quando os nossos
sentimentos e emoções são estimulados pelos erros cometidos por
aqueles que discordam de nós de alguma forma, e não pelo fato
deles estarem agindo contra Deus. Nunca deveríamos ficar irados, a
não ser contra o pecado, e pelo fato deste pecado estar sendo
cometido contra Deus. Cometemos o pecado da ira quando somos
egoístas nisso. A nossa ira deveria ser semelhante a de Cristo.
Quando sob as maiores injúrias pessoais, Ele era como um
Cordeiro. As únicas ocasiões em que o vemos manifestando a Sua
ira, ocorreram quando Ele defendeu a causa do seu Pai contra o
pecado.
A ira pode ser um pecado com respeito ao seu fim. A razão tem
que ter uma mão neste assunto quando consideramos a finalidade,
vantagem, e benefício que a nossa ira produzirá para todos os estão
envolvidos.
A glória de Deus deve ser o nosso maior objetivo. De outro
modo, a nossa ira pode ser comparada a paixão cega dos animais.
Nós devemos ser guiados em tudo pela nossa consciência atrelada
as Escrituras. Se percebermos que o fim pretendido é errôneo, tal
como a gratificação do nosso orgulho, então a nossa ira é
pecaminosa.
A ira pode ser um pecado com respeito a sua medida. Podemos
considerar isso através de dois aspectos.
Primeiro, a ira é um pecado quando desproporcional. O grau de
ira nunca deveria exceder o limite estabelecido pela razão para se
alcançar o fim ideal. Nunca deveríamos perder o controle, como se
estivéssemos bêbados, dominado pela emoção, ou fora de nós
mesmos.
Segundo, a ira é um pecado quando exagerada em sua
continuidade. As Escrituras dizem: Irai-vos, e não pequeis; não se
ponha o sol sobre a vossa ira (Efésios 4: 26), o que nos leva a
concluir que até mesmo a ira justificada deve ter vida curta. Caso
contrário, torna-se um ressentimento latente que dura dias ou talvez
anos. Isso estimula uma atitude de ódio, e é um grande pecado aos
olhos de Deus.

II. COMO O ESPÍRITO CRISTÃO É CONTRÁRIO AO ESPÍRITO


DE IRA.
O amor Cristão é em si mesmo contrário a toda ira indevida. A
natureza do amor esta na disposição de coração, não a má vontade.
Ele dá as costas à ira e à vingança. O amor Cristão é tardio em
responder às ofensas, só reagindo quando estas são feitas contra
Deus.
Todos os frutos do amor Cristão mencionados no contexto são
contrários a qualquer tipo de ira indevida.
Vamos considerar somente os dois grandes frutos mencionados
até aqui, pois eles representam todas as outras virtudes.
Primeiro, o amor é humilde e se opõe ao orgulho. O orgulho é
uma das grandes causas da ira indevida. Um senso elevado de
auto-importância leva o homem a se tornar irracional e precipitado
em ira.
Segundo, o amor é generoso e se opõe ao egoísmo. Buscar
primeiramente os nossos próprios interesses é a outra grande causa
da apressada, desordenada, irrefletida, e continuada ira. O homem
que busca a sua própria glória é facilmente provocado.
Vamos agora aplicar estas verdades aos nossos corações.

I. DEVEMOS EXAMINAR A NÓS MESMOS.


A sua consciência te acusa neste exato momento? Com que
freqüência você tem ficado irado? Quantas vezes você se irou
injustamente? Você justifica a sua ira dizendo que é pela causa de
Deus, quando na verdade somente o seu interesse próprio ou sua
opinião é que foram afetados?
O que de bom você tem obtido com a sua ira, qual foi o seu
objetivo nisso? Quantas vezes o sol se pôs sobre a sua ira enquanto
Deus e o seu próximo sabiam disso? Você se encontra agora irado
diante de Deus e com o coração ardendo em raiva por alguém? Ou
está abafando a sua ira como um monte de folhas secas a espera
de uma pequena faísca para incendiá-lo? Você tem sido uma fonte
de discórdia em suas relações familiares? Você tem se mostrado
impaciente e irado em ocasiões em que pequenas faltas foram
vistas em outras pessoas, e talvez até você mesmo tivesse parte da
culpa?
Vamos examinar a nós mesmo para saber de que tipo de espírito
nós somos (Lucas 9: 55).

II. O ESPÍRITO CRISTÃO NOS PERSUADE E ADVERTE


CONTRA TODA A IRA PECAMINOSA E INDEVIDA.
O coração do homem é propenso a ira por causa do orgulho
natural e do egoísmo, e o mundo está tão repleto de ocasiões que
estimulam esta corrupção em nós, que se desejamos realmente
viver como um Cristão deveria, então temos que vigiar e orar
constantemente. Não temos que lutar apenas contra os surtos da ira
pecaminosa, mas lutar e mortificar o princípio da ira, nos
fortalecendo e crescendo no amor. Para este fim, vamos considerar
quatro coisas.
Primeira, considere suas próprias falhas, pelas quais você tem
dado tanto a Deus, quanto aos homens, motivos para ficarem irados
com você. Durante toda a sua vida você sempre esteve aquém
quanto à vontade de Deus. Você merece ser castigado pela ira de
Deus, mas ainda assim clama por Sua misericórdia. Da mesma
maneira, você espera que as pessoas façam o mesmo com relação
aos seus erros. Portanto, antes de ficar irado contra alguém, reflita
sobre os seus próprios erros, e veja se não tem cometido os
mesmos, ou talvez erros ainda piores.
Segunda, considere como a ira indevida destrói o seu próprio
conforto, você morre de fome de paz e alegria, enquanto alimenta a
sua própria miséria e inquietação.
Terceira, considere o quanto o espírito de ira o torna inapto aos
deveres para com Deus. Nosso Senhor nos ensinou a não
comparecermos perante o seu altar com um coração cheio de
inimizades, Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te
lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti. Deixa ali
diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu
irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta (Mateus 5: 24). Quero,
pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos
santas, sem ira nem contenda (II Timóteo 2: 8).
Quarta, considere como a ira pecaminosa o torna inapto a viver
em sociedade. Somos advertidos no livro de Provérbios 22: 24
quanto ao homem iracundo. Não sejas companheiro do homem
briguento nem andes com o colérico. Isso faz de você um
encrenqueiro e uma peste para a sociedade. O homem irascível
levanta contendas; e o furioso multiplica as transgressões
(Provérbios 29: 22). Além disso, você ficará desqualificado diante de
Deus e dos homens, mostrando que você está mais apto a viver no
inferno do que no céu. Portanto, vamos cultivar um espírito gentil e
amoroso, pois este é o verdadeiro espírito da caridade e do céu.
10

A caridade é oposta ao
espírito crítico

“O amor…não suspeita mal.” (1 Coríntios 13.5)

Outro fruto comum do orgulho e do egoísmo é o espírito crítico.


Portanto, a caridade é contrária ao espírito crítico, rancoroso, e de
censura não fundamentada.

I. O QUE É UM ESPÍRITO CRÍTICO.


Um espírito crítico pode ser visto quando temos a tendência de
julgar mal as pessoas.
É fato que algumas pessoas são propensas a julgar
favoravelmente ao verem um pouco de bondade em outras pessoas.
Mas alguns também são rápidos em julgar desfavoravelmente
quando vêem algo de ruim em outras pessoas. A certeza de tudo
isso pertence somente a Deus, que sonda os corações dos homens
(Provérbios 21: 2).
Somos culpados deste pecado quando condenamos a outros por
coisas em que não há evidência alguma de malícia ou maldade. Os
amigos de Jó não entendiam a providência de Deus e fizeram um
julgamento errado da sua pessoa. Somos culpados deste mesmo
pecado quando nos mostramos intolerantes com as falhas comuns
que os filhos de Deus cometem (algumas das quais, muitas vezes,
são menores do que as falhas que cometemos).
Somos culpados deste mesmo pecado quando tratamos
algumas pessoas como sendo ímpias, e isso apenas pelo fato de
discordarem de nós em pontos que não são relevantes, ou por
possuírem um temperamento ou vantagens externas diferentes das
nossas. Nunca deveríamos colocar a nossa experiência ou nossos
próprios padrões como regra para outros. O Espírito de Deus tem a
liberdade de trabalhar de várias maneiras.
Um espírito crítico pode ser visto quando temos a inclinação de
julgar mal as qualidades de outras pessoas. Nós manifestamos este
tipo de espírito quando desprezamos as qualidades de outras
pessoas e ressaltamos suas falhas. Muitas vezes nós consideramos
as pessoas como sendo ignorantes e tolas, quando na verdade elas
não merecem ser tratadas desta maneira.
Alguns se apressam em acusar outras pessoas de imoralidade,
embora não sejam de todo culpadas, ou até sejam, mas num grau
menor. Outros são tão preconceituosos com seus vizinhos, que
passam a considerá-los como pessoas totalmente orgulhosas,
egoístas, maliciosas, e maldosas, quando de fato, elas possuem
muitas qualidades notórias. Infelizmente, uma alma sem amor está
sempre propensa a ver maldade em tudo.
Um espírito crítico pode ser visto quando temos a inclinação de
julgar mal as ações de outras pessoas, assim como as suas obras e
palavras. Primeiro, este tipo de espírito está sempre pronto a
condenar sem que haja qualquer evidência ou fato que apóie seu
julgamento. Uma pessoa com tendência à crítica faz seus
julgamentos com base em suposições, e não por aquilo que sabe ou
presenciou. Ela torna-se culpada de ruins suspeitas (I Timóteo 6: 4).
Ela é rápida em ouvir e divulgar más notícias a respeito de outras
pessoas, ao invés de questioná-las ou se preocupar em saber a
verdade. Fazendo isso, tal pessoa se assemelha ao diabo, que é o
pai da mentira! O ímpio atenta para o lábio iníquo, o mentiroso
inclina os ouvidos à língua maligna (Provérbios 17: 4). O fofoqueiro
tem prazer em ouvir e espalhar más notícias a respeito da vida de
qualquer pessoa. Ele é como o abutre em busca de carniça. Mas um
espírito amoroso é aquele que não difama com a sua língua, nem
faz mal ao seu próximo, nem aceita nenhum opróbrio contra o seu
próximo (Salmo 15: 3).
Segundo, uma disposição à crítica sempre estará pronta a fazer
a pior interpretação possível das ações de outras pessoas. Este tipo
de espírito crítico é muito comum entre os seres humanos. Eles
sempre assumem que qualquer tipo de boa ação praticada por
outras pessoas não passa de hipocrisia. Tal pessoa suspeita mal de
qualquer um que se interesse pelo bem público, pelo bem do
próximo, ou mesmo pela honra de Deus. Na realidade, ele mesmo
não passa de um hipócrita, sempre abrigando estes maus intentos
em seu coração.
Talvez você pergunte: Será então que não há lugar e tempo
apropriado para a crítica? Algumas críticas não são legítimas?
Vamos responder em duas partes.
Primeira, Deus designou juízes públicos na sociedade, tanto no
governo civil quanto na igreja, os quais devem julgar de maneira
imparcial e de acordo com as evidências, baseados no cumprimento
ou descumprimento da lei.
Segunda, ninguém é obrigado a despir-se da razão a fim de
fazer um julgamento correto a respeito dos outros. O amor Cristão
não está fundamentado nas ruínas da razão! Ao invés disso, o amor
e a razão desfrutam de uma doce harmonia. Não é pecado julgar
aqueles que nos dão evidências claras e plenas de que estão
agindo mal. Não é pecado julgar como ímpio todo aquele que
abertamente age como tal. Os pecados de alguns homens são
manifestos, precedendo o juízo; e em alguns manifestam-se depois
(I Timóteo 5: 24).
O pecado de julgar prematuramente se fundamenta em uma ou
duas coisas.
Primeira, ao julgar mal uma pesssoa quando não há evidências
claras para isso, ou quando tudo nos leva a pensar o melhor sobre
ela. Como dissemos anteriormente, nunca devemos ignorar aquilo
que é favorável a uma pessoa, nem exagerar nos fatos que lhe são
contrários. A caridade nos obriga a suspender qualquer julgamento
até que saibamos mais sobre o assunto. O que responde antes de
ouvir comete estultícia que é para vergonha sua (Provérbios 18: 13).
Segunda, o pecado de julgar prematuramente se fundamenta no
prazer de julgar mal as pessoas. Um pai quando tem provas claras
contra seu filho deve condená-lo, mas ele o faz com grande pesar.
Mas quando uma pessoa tem prazer em pensar o pior sobre os
outros, e em julgá-los, é porque demonstra não conhecer o
verdadeiro espírito da caridade. Se o amor Cristão for o nosso guia,
então seremos cautelosos em nossos julgamentos, nos cercando
das garantias necessárias, e sendo bem criteriosos na busca das
palavras e ações das pessoas em questão. Quando somos
obrigados, contra a nossa própria inclinação, a pensar mal de uma
pessoa, então nunca devemos levar o assunto adiante, e só o
faremos se o nosso senso de dever assim o requerer.

II. COMO O ESPÍRITO CRÍTICO É CONTRÁRIO AO ESPÍRITO


CRISTÃO.
Ele é contrário à ordem de amar ao nosso próximo. Nós somos
naturalmente relutantes em julgar o mal em nós, pelo fato de
amarmos a nós mesmos. Sendo assim, se amarmos ao nosso
próximo como a nós mesmos, então também ficaremos relutantes
em julgá-los mal. Além disso, somos relutantes em julgar mal a
qualquer pessoa a quem amamos, como nossos familiares e
amigos. Este espírito de amor deveria se estender a todos os
homens. Entretanto, aonde a ira e a má vontade prevalecem, ali
também se fará presente um espírito crítico. Quando duas pessoas
ou partidos divergem bruscamente entre si, eles estarão sempre
prontos a julgar um ao outro da pior maneira. Uma das primeiras
coisas que o espírito crítico diz é: “Meu inimigo não é um Cristão.”
Um espírito crítico manifesta um espírito orgulhoso. Uma pessoa
crítica imagina-se a si mesma como sendo livre de erros, falhas, e
pecados, que normalmente condena em outros. Se fossemos mais
conscientes e humildes quanto as nossas falhas, não julgaríamos
prematuramente outras pessoas. O mesmo tipo de corrupção habita
tanto num coração quanto no outro. Portanto, és inescusável
quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas
a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes
o mesmo (Romanos 2: 1). Se examinássemos os nossos corações
tão cuidadosamente quanto examinamos o de outras pessoas,
certamente encontraríamos motivos para censurarmos muitas
coisas em nós mesmos, assim como fazemos com outros. Aquele
que tão somente julga, acaba se colocando acima das demais
pessoas, como se ele estivesse acima da lei. Irmãos, não faleis mal
uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão,
fala mal da lei, e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já não és observador
da lei, mas juiz (Tiago 4: 11). Que arrogância e orgulho!

O que aprendemos a respeito disso:

I. ESTE PRINCÍPIO REPROVA AQUELES QUE COMUMENTE


FALAM FAL DOS OUTROS.
Se o fato pensarmos mal a respeito de alguém já é motivo para
sermos condenados, quanto mais o falar mal. Grandes e
inimagináveis estragos são feitos pela falta de amor e pela
maledicência, os quais as Escrituras condenam e proíbem
abertamente. Tito foi instruído por Paulo a orientar os Cristãos que a
ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas modestos,
mostrando toda a mansidão para com todos os homens (Tito 3: 2).
Por acaso você não tem sido culpado de cometer este mesmo
pecado por várias vezes, especialmente contra aqueles com quem
você teve alguma dificuldade, ou que discordassem de você? Você
não se vê na prática deste mal em seu dia a dia? Este tipo de
espírito é contrário ao verdadeiro Cristianismo e deve ser
abandonado imediatamente.

II. ESTE PRINCÍPIO NOS ALERTA CONTRA TODA A CRÍTICA


FEITA DE MANEIRA ERRADA, QUER EM PENSAMENTO OU
PALAVRAS.
Considere quantas vezes, quando a verdade vem à tona, as
coisas acabam sendo mais favoráveis em relação aos outros do que
havíamos imaginado a princípio. Por exemplo: o sacerdote Eli
imaginou que Ana estivesse bêbada, mas na verdade era uma
mulher completamente sóbria que agonizava em oração. Elias
imaginou que era o único homem fiel a Jeová, mas Deus havia
reservado para si setenta almas fiéis. Há sempre dois lados em toda
história, e sempre será sábio, seguro, e amoroso, ouvir os dois
lados, sempre pensando o melhor das pessoas envolvidas, e nunca
o pior. Aguarde até que toda verdade seja revelada.
Considere como há poucas ocasiões em que a responsabilidade
de um veredicto se encontra em nossas mãos. A maior
responsabilidade que temos diz respeito a nós mesmos, e não a
outros. Mesmo que outras pessoas sejam merecedoras da nossa
censura, no fundo isso diz respeito à jurisdição de Deus, e não a
nossa. Não deveríamos nos intrometer naqueles assuntos que por
direito pertencem só a Deus. E certamente Deus tem apontado um
dia para sua decisão. Portanto, nada julgueis antes de tempo, até
que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas
das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada
um receberá de Deus o louvor (I Coríntios 4: 5).
Considere o fato de Deus nos advertir quanto ao julgamento
errado que venhamos a fazer de outras pessoas, pois seremos
julgados por isso. NÃO julgueis, para que não sejais julgados.
Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a
medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós (Mateus 7:
1-2). E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas
que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus? (Romanos 2: 3). A
nossa grande preocupação deveria ser quanto à nossa própria
absolvição diante do grande Juiz, naquele último dia. Portanto, se
não desejamos receber uma justa condenação da parte de Deus,
então não devemos julgar injustamente a outras pessoas.
11

Toda graça genuína no


coração produz uma vida de
santidade prática

"O amor...não folga com a injustiça, mas folga com a


verdade." (I Coríntios 13: 6)

Com estas palavras o apóstolo resume todas as boas tendências


da caridade com relação à sua conduta ativa. É como se ele
dissesse: “Eu não necessito exemplificar mais nada. Em poucas
palavras, a caridade é contrária a tudo a que é injusto na vida e na
prática, e ao mesmo tempo promove tudo o que é bom e justo.”
O termo injustiça diz respeito a tudo o que é pecaminoso na vida
e na prática. O termo verdade fala a respeito de tudo o que é bom,
virtuoso, e santo. Verdade no contexto desta passagem inclui tanto
o conhecimento quanto a conformidade com a verdade.
A grande doutrina aqui ensinada é que toda graça genuinamente
Cristã produz uma vida de santidade prática. Se qualquer homem
pensa que a graça no coração permanece inoperante e não controla
a direção que as pessoas devam tomar, então ele possui uma noção
completamente errada da vida Cristã. O nosso texto expressa, tanto
de forma positiva quanto negativa, que a graça no coração não é
realmente operante a menos que atinja todas as áreas da vida.

I. ARGUMENTOS QUE APOIAM ESTA DOUTRINA.


A santidade de vida é objetivo final da nossa eleição diante de
Deus, que é o alicerce de toda graça. Ao contrário do que muitos
pensam, a prática da santidade não é o fundamento nem a razão da
eleição, mas o objetivo e o fim da eleição. Deus não escolheu os
homens porque viu de antemão que eles seriam santos. Nosso
Senhor disse: Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a
vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto
permaneça (João 15: 16). Efésios 2: 10 nos fala que Deus preparou
antecipadamente as boas obras para o seu povo. Porque somos
feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais
Deus preparou para que andássemos nelas.

A santidade de vida é objetivo final da redenção. A missão de


Cristo ao deixar o céu e vir para a terra era salvar o povo dos seus
pecados (Mateus 1: 21). Pouco antes de sua morte, Ele orou desta
maneira: E por eles me santifico a mim mesmo, para que também
eles sejam santificados na verdade (João 17: 19). Paulo explica
para Tito que o grande propósito de Cristo foi o de se dar a si
mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para
si um povo seu especial, zeloso de boas obras (2: 14). Esta verdade
foi tipificada na ordem feita a Faraó repetidas vezes: Deixa ir o meu
povo, para que me sirva no deserto; porém eis que até agora não
tens ouvido (Êxodo 7: 16, etc.)

A santidade de vida é o objetivo final da chamada eficaz ou


conversão. Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas
para a santificação (I Tessalonicenses 4: 7). Mas, como é santo
aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa
maneira de viver (I Pedro 1: 15).

A santidade de vida é a tendência do verdadeiro conhecimento e


entendimento espiritual. Há, é claro, uma coisa chamada de
conhecimento especulativo, o qual muitos homens ímpios tem
alcançado em alto grau. Eles até são capazes de argumentar
fortemente acerca dos atributos de Deus e das doutrinas do
Cristianismo. Mas há uma eternidade de diferença entre este
conhecimento especulativo e o conhecimento prático e verdadeiro.
Aquele que verdadeiramente conhece a Deus, sabe distinguir entre
a odiosidade do pecado e a beleza da santidade. Este
conhecimento tende a incliná-lo nos caminhos da santidade. Ele
sabe que Deus é digno da sua obediência. A falta deste
conhecimento impediu a Faraó de obedecer a Deus. Quem é o
SENHOR, cuja voz eu ouvirei, para deixar ir Israel? Não conheço o
SENHOR, nem tampouco deixarei ir Israel (Êxodo 5: 2). O Salmista
pergunta: Não terão conhecimento os que praticam a iniqüidade, os
quais comem o meu povo, como se comessem pão, e não invocam
ao SENHOR? (Salmo 14: 4). De acordo com Jeremias 22: 16, o
conhecimento de Deus nos leva a um comportamento santo: Julgou
a causa do aflito e necessitado; então lhe sucedeu bem; porventura
não é isto conhecer-me? diz o SENHOR.
Nós vemos a mesma conexão em I João 2: 4, Aquele que diz: Eu
conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele
não está a verdade.

Considere alguns argumentos do próprio princípio da graça


em si:
Primeiro, o consenso imediato da graça se encontra na vontade
ou disposição. Esta faculdade comanda todas as nossas ações.
Quando falamos das ações de um homem, estamos falando
daquelas coisas que ele faz como um agente livre e voluntário.
Todos os seus poderes executivos estão sujeitos à faculdade da
vontade. Portanto, se a graça estiver presente em nossa vontade,
então necessariamente a levará à prática das virtudes graciosas.
Segundo, a própria definição da graça é que ela é um princípio
de ação santa. O princípio da graça tem tanta relação com a prática
quanto a raiz tem com a planta. Seria um absurdo falar da raiz sem
a planta, assim como falar de um princípio da graça que não leve a
prática da graça.
Terceiro, o que é real pode ser distinguido daquilo que seja
apenas uma sombra, através das suas ações efetivas. O retrato de
um homem pode parecer muito real e poderoso, mas não tem o
poder da ação. Da mesma maneira, a graça que não passa de uma
mera aparência também não pode agir, mas a graça que é real
produz ações de santidade.
Quarto, nas Escrituras, o homem natural é descrito como
estando espiritualmente morto, sem princípios ou ações santas, e
incapaz de fazer o bem. Mas aquele que foi regenerado é descrito
como espiritualmente vivo, e, portanto, agindo, caminhando, e
preenchendo os seus dias com obras que demonstram a existência
de uma nova vida.
Quinto, a graça Cristã não é apenas um princípio de vida, mas
um princípio extremamente poderoso. O poder que opera nos filhos
de Deus é nada menos do que o mesmo e poderoso poder que
ressuscitou a Cristo dentre os mortos (Efésios 1: 19-20).

II. ESTA DOUTRINA, DE QUE A GRAÇA NO CORAÇÃO NOS


INCLINA A UMA VIDA DE SANTIDADE PRÁTICA, PODE SER
MAIS AINDA PROVADA QUANDO CONSIDERAMOS ALGUMAS
GRAÇAS PARTICULARES.
Vamos considerar algumas.
A graça da fé em Jesus Cristo produz santidade prática. A
verdadeira fé é aquela que opera pelo amor (Gálatas 5: 6). Tiago,
capítulo dois, nos ensina que a nossa fé é demonstrada através das
nossas obras. Se um homem realmente acredita naquilo que lhe foi
relatado, ele agirá segundo as informações que recebeu, caso
contrário, ele agirá como se nunca tivesse ouvido nada. A nossa
prática sempre será de acordo com as nossas convicções. A fé nos
leva a renunciar outras formas de garantir a felicidade por estarmos
convencidos de que Cristo é a única fonte da verdadeira felicidade.
Além disso, a fé não somente nos conduz Àquele que nos salva da
punição do pecado, como também do próprio pecado. O homem
que não deseja ser liberto do domínio do pecado, não pode desejar
que Cristo seja o seu salvador. Em outras palavras, Cristo nunca
poderá se tornar o salvador dos homens a menos que se torne o
Senhor deles. O ofício sacerdotal de Cristo não pode ser separado
do ofício do seu senhorio. Além disso, se nós genuinamente
crermos em Cristo, então confiaremos a Ele absolutamente tudo.
Nós arriscaremos tudo, nos submetendo voluntariamente a todo e
qualquer trabalho, lutas, e sofrimentos, sabendo que ele irá mais do
que compensar quaisquer lutas e perdas que eventualmente
tivermos.

A graça do amor de Deus produz santidade prática. O amor


influencia toda a nossa vida e ações de um jeito ou de outro. Se um
homem ama o dinheiro, então suas ações o direcionarão em busca
dele. Se ele ama a honra, ou o prazer carnal, ele perseguirá estas
coisas, e sua vida será regida por elas. Assim também, se um
homem ama a Deus, a sua vida e ações serão reguladas por isso.
As nossas ações são um verdadeiro teste para as nossas afeições.
Se um homem diz que ama a seu amigo, mas não está disposto a
sofrer nada por ele, suas palavras são vãs. O amor verdadeiro é
evidenciado por seus frutos de conduta. O amor a Deus é exercido
em um alto grau de estima por Ele, escolhendo-o, desejando-o, e se
deleitando nEle. Se a nossa honra, dinheiro, ou vontade competirem
com Deus, devemos abandoná-las e nos apegarmos somente a Ele.
Nós provamos a sinceridade do nosso amor pela obediência que
demonstramos a Deus. Quando abandonamos alguma coisa em
busca de outra, demonstramos claramente toda a nossa
insatisfação para com a primeira.
A graça do arrependimento produz santidade prática. O
arrependimento é uma mudança de mente com respeito ao pecado
e a justiça de Deus. A verdadeira mudança quanto ao pecado não
pode ficar meramente na mente, mas será demonstrada na
mudança de atitude ou conduta. O homem não somente
abandonará o pecado como também irá evitá-lo. Se ele continuar na
prática do pecado, como fazia anteriormente, então não há motivos
para acreditar que houve um verdadeiro arrependimento quanto a
isso.
A graça da humildade produz santidade prática. Aquele que tem
consciência da sua própria vileza, indignidade, e pecaminosidade,
irá se comportar da maneira mais adequada possível, tanto diante
de Deus quanto dos homens. A humildade de coração tem a forte
tendência de influenciar nossa vida prática, assim como o orgulho.
Se formos humildes, então praticaremos a paciência, a submissão,
e a reverência para com Deus. Também seremos mais mansos,
amáveis, respeitosos, gentis, de bom trato, contentes, calmos,
prontos a perdoar, não egoístas e nem invejosos com as demais
pessoas.
A graça do temor de Deus produz santidade prática. A principal
idéia quanto ao temor a Deus, é que nós tenhamos pavor de
ofendê-Lo, pecando contra Ele. O temor do Senhor é odiar o mal
(Provérbios 8: 13). O temor de Deus está frequentemente associado
com a prática da obediência. E guarda os mandamentos do
SENHOR teu Deus, para andares nos seus caminhos e para o
temeres (Deuteronômio 8: 6). De tudo o que se tem ouvido, o fim é:
Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o
dever de todo o homem (Eclesiastes 12: 13). Deus mesmo fala a
respeito de Jó como um sendo um homem íntegro e reto, temente a
Deus, e que se desvia do mal (Jó 1: 8). Na medida em que um
homem teme a Deus, ele vai evitar o pecado e ter o objetivo de ser
santo.
A graça da gratidão produz santidade prática. A gratidão
verdadeira nos leva a retribuir de acordo com o que temos recebido.
Se isso é uma verdade em nossos relacionamentos terrenos, quanto
mais com relação a Deus. Nenhum homem pode ser
verdadeiramente agradecido a Deus pela morte de Cristo, e por sua
infinita misericórdia, e ainda assim levar uma vida ímpia. Sua
gratidão, se sincera, o levará a ser santo.
A graça da mentalidade celestial produz santidade prática. Por
outro lado, uma mentalidade mundana nos conduz ao egoísmo e a
prática do pecado. Um homem pode dizer que não está mais
apegado as coisas deste mundo, mas se a sua conduta nos mostra
que ele ainda ama este mundo tanto quanto antes, e se ele continua
relutante em se separar de certas coisas deste mundo, não
utilizando seus bens e talentos para fins puros e retos, então ele não
dá evidência alguma daquilo que alega ser.
A graça do amor aos homens produz santidade prática.
Novamente, a nossa profissão a respeito disso é tão válida quanto a
nossa prática. Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de
língua, mas por obra e em verdade. E nisto conhecemos que somos
da verdade, e diante dele asseguraremos nossos corações (I João
3: 18-19). Se você conhece um pai que nunca demonstra amor para
seus filhos, e que não se importa com o sofrimento deles, e nem faz
nada para aliviá-los ou confortá-los, você jamais acreditaria que ele
tenha o amor de Deus em seu coração. O amor produz boas obras.
O mesmo se aplica à nossa disposição para com o próximo. O
apóstolo resume todos os nossos deveres nestas palavras: Com
efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso
testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo
nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei
é o amor (Romanos 13: 9-10).
A graça da esperança divina produz santidade prática. A falsa
esperança leva a negligência e a licenciosidade de vida. Mas a
verdadeira esperança nos incita a servir a Deus diligentemente. E
qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como
também ele é puro (I João 3: 3). A nossa esperança se baseia numa
santa felicidade. O autor desta felicidade é santo. O mediador que
assegura a nossa felicidade é santo. Portanto, tal como a luz produz
brilho, assim também a graça no coração produz a santidade em
todas as áreas da vida.

Vamos agora aplicar este assunto à nossa própria vida.

I. ESTA DOUTRINA EXPLICA PORQUE AS BOAS OBRAS


SÃO TÃO ABUNDANTEMENTE INSISTIDAS NA PLALAVRA DE
DEUS COMO SENDO UMA EVIDÊNCIA DA SINCERIDADE NA
GRAÇA.
Nosso Senhor nos ensinou a conhecer os homens pelos frutos
(Mateus 7: 16). Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda
esse é o que me ama...Se alguém me ama, guardará a minha
palavra...Quem não me ama não guarda as minhas palavras (João
14: 21-24). Cada epístola traz consigo esta verdade. A única
evidência satisfatória de que a graça realmente se faz presente em
nossos corações são as boas obras. Pela nossa prática nós somos
julgados na terra, e através da nossa prática nós seremos julgados
no último dia.

II. PORTANTO, VAMOS NOS EXAMINAR PARA VER SE A


GRAÇA PRESENTE EM NÓS É VERDADEIRA E SINCERA.
Vamos orar e considerar diligentemente se a nossa vida diária
tem uma inclinação real para a santidade. Esta consideração
deveria fazer tremer aqueles que possuem uma falsa profissão de
fé. Entretanto, é mais provável que os que são justos é que tremam,
pois eles são rápidos em condenar a si mesmos. Mas eles deveriam
entender que a vida santa que vivem, de acordo com as escrituras,
é a verdadeira característica dos Cristãos sinceros, porém, não se
trata de uma vida perfeita, sem pecado. Não podemos ignorar que a
vida Cristã é cercada de inúmeras imperfeições, mas ainda assim é
verdadeira. Para ajudar este auto-exame, faça a você mesmo às
seguintes perguntas:
A graça que você professa fez que os seus pecados fossem
vistos por você mesmo como algo terrível, pesaroso, e humilhante?
Isso o levou a se lamentar profundamente diante de Deus? Você
sente um grande pesar quando vê que a sua maneira de viver não é
melhor do que aquela que vivia anteriormente? Ao cair em algum
pecado, a exemplo de Jó, você se abomina e se arrepende no pó e
na cinza? Você, assim como Paulo, lamenta e clama a Deus que o
liberte da miséria espiritual do seu velho homem (Romanos 7: 24).
Você habitualmente odeia o pecado? Você não somente se
arrepende dos seus pecados passados, mas também odeia pensar
nos futuros? Se sim, você os odeia porque eles ofendem a Deus
mais do que a qualquer outra pessoa? Você enxerga o pecado
como um inimigo mortal? Você vigia constantemente contra isso,
assim como José que disse: como pois faria eu tamanha maldade, e
pecaria contra Deus? (Gênesis 39: 9).
Você está plenamente consciente da beleza da santidade
prática? Nas palavras do nosso texto, você se regozija na verdade?
A lei de Deus é o seu deleite? Ou você considera os Seus
mandamentos pesados?
Você se deleita especialmente nos deveres distintivamente
Cristãos, e não apenas na moralidade externa? Os filósofos
mundanos adoravam exaltar as virtudes morais, a justiça, a
generosidade, a firmeza de caráter, e etc. Mas permaneciam
distantes da humildade Cristã, da autonegação, da dependência de
Deus, e de uma vida de oração e perdão. Você se deleita nestas
virtudes que pertencem unicamente ao evangelho, as quais nosso
Salvador exemplificou com excelência?
Você tem fome e sede de uma vida de santidade prática? Este é
o seu objetivo de vida, seu anseio, e sua oração? Você pensa,
come, e respira santidade?
Você se esforça ao máximo para viver para Deus em todos os
aspectos? A piedade é apenas acidental em sua vida tão ocupada,
ou é a coisa mais importante de sua vida? É o seu interesse maior?
Assim como o objetivo de um soldado é lutar, assim também o do
Cristão é o de ser como Cristo, ou seja, ser santo como Ele é santo.
Você se esforça para ser fiel aos princípios que aprende da Palavra
de Deus? Assim como o salmista, você está sempre atentando para
todos os mandamentos de Deus (Salmo 119: 6)?
Você tem o desejo de aprender quais são os seus deveres para
com Deus? Ou você considera a ignorância uma benção? Você
pode dizer as mesmas palavras de Jó: O que não vejo, ensina-me tu
(34: 32)? Você deseja conhecer a vontade de Deus a fim de cumpri-
la?
Amigo, se você pode responder honestamente a estas perguntas
de forma afirmativa, então esteja seguro de que você possui a
verdadeira graça, aquela que produz santidade de vida. Ainda que
você venha a cair, será levantado novamente pela misericórdia de
Deus. Ele começou uma boa obra em você, e a aperfeiçoará até ao
dia de Jesus Cristo (Filipenses 1: 6). Embora você possa ser fraco
como o exército de Gideão, fique firme, pois no final acabará sendo
vitorioso.
12

A caridade está disposta a


suportar as perseguições

“O amor…tudo suporta” (I Coríntios 13: 7).

Esta frase evidentemente fala do sofrimento pela causa de


Cristo. O apóstolo já havia tratado com outros tipos de injúria da
parte dos homens ao utilizar as palavras, o amor é sofredor (v.4) e
não se irrita (v.5). Ele praticamente resumiu quais são os frutos
ativos da caridade ao dizer as seguintes palavras no verso 6: o
amor…. não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Ele
não está simplesmente sendo repetitivo. Antes, está declarando o
benefício universal do espírito da caridade. Além disso, em outras
passagens, ele interliga o amor Cristão com os sofrimentos por
causa do nome de Cristo. Por Exemplo, em II Coríntios 5: 14, após
falar dos sofrimentos de Cristo, ele dá a razão para isso, ou seja: o
amor de Cristo nos constrange.
Em outro lugar ele declara que a tribulação, a angústia, a
perseguição, e a espada não podem nos separar do amor de Cristo
(Romanos 8: 35). Tudo isso nos leva à seguinte conclusão quanto
ao nosso texto: a caridade, ou o espírito Cristão verdadeiro, fará
com que estejamos dispostos a suportar qualquer tipo de sofrimento
a que sejamos submetidos, em razão do nosso dever para com
Deus.

I. A EXPLANAÇÃO DESTA DOUTRINA.


Aqueles que possuem o verdadeiro espírito da caridade estão
dispostos não somente a trabalhar, mas também a sofre por Cristo.
Esta é uma das características que distingue o verdadeiro Cristão
do hipócrita. O hipócrita faz da religião um grande show de palavras
e ações que não lhe custam absolutamente nada. Ele abraça a
Cristo apenas na medida em que isso possa lhe trazer algum
benefício pessoal. Ele somente segue a Cristo quando percebe que
obterá alguma vantagem ou satisfação momentânea. Mas, de
acordo com Cristo, o verdadeiro discípulo tem que levar a sua cruz,
e vir após ele (Lucas 14: 27).
Aqueles que possuem o verdadeiro espírito da caridade estão
dispostos a se submeter a todo tipo de sofrimentos por serem
Cristãos. Eles estão dispostos a se submeter a todo tipo de
sofrimento. Eles estão dispostos a enfrentar o ódio, a perda dos
bens, a tortura, e até mesmo a morte. Em todas estas coisas eles
provam que são fiéis na muita paciência, nas aflições, nas
necessidades, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos
tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns (II Coríntios 6: 4-5).
Além disso, eles demonstram que estão dispostos a se submeter a
todos os graus de sofrimento. Eles caminharão na fornalha ardente.
O verdadeiro Cristão deve estar disposto a sofrer escárnios, e
escárnios cruéis; não somente algumas perdas, mas a perda de
tudo; não somente a morte, mas a morte precedida pelo uso dos
métodos mais cruéis de tortura, como ser serrado ao meio (Hebreus
11: 35-37; Filipenses 3: 8).

II. PROVAS DA VERDADE DESTA DOUTRINA.


Se não temos este espírito, damos evidências de que nunca nos
entregamos totalmente a Cristo. Da mesma maneira que uma noiva
se entrega a si mesma em casamento a seu marido, a fim de ser
somente dele, assim também um Cristão se entrega a Cristo como
um sacrifício vivo e totalmente devotado a Ele. Mas aquele que não
está disposto a sofrer todas as coisas por Cristo, faz uma entrega
incompleta, e demonstra que está atrás de algum interesse pessoal
ou de uma vida fácil. Ele age como o seu “eu” fosse o supremo bem,
não Deus.
Todo verdadeiro Cristão, teme tanto a Deus, que desagradá-Lo
passa a ser um terror, mais do que qualquer outra aflição terrena.
Nós vemos este princípio tanto no Velho quanto no Novo
Testamento. Ao SENHOR dos Exércitos, a ele santificai; e seja ele o
vosso temor e seja ele o vosso assombro (Isaías 8: 13). E digo-vos,
amigos meus: Não temais os que matam o corpo e, depois, não têm
mais que fazer. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei
aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim,
vos digo, a esse temei (Lucas 12: 4-5).
A fé capacita o Cristão a suportar todas as perseguições. Ele
reconhece que Cristo está muito acima de que qualquer
inconveniência ou dor. Hebreus, capítulo 11, enfatiza o fato de que
foi pela fé que Moisés escolheu ser maltratado com o povo de Deus,
do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado; Tendo por
maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito;
porque tinha em vista a recompensa
(Hebreus 11: 25-26). Da mesma forma, nós devemos ter fé de
que a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um
peso eterno de glória mui excelente (II Coríntios 4: 17).
Aqueles que não estão dispostos a seguir a Cristo, a despeito
das dificuldades, ficarão completamente envergonhados no final.
Nosso Senhor ensinou que há um custo para aqueles que se tornam
seus discípulos. Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não
se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem
com que a acabar?… Assim, pois, qualquer de vós, que não
renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo (Lucas 14:
28, 33). Parte do custo de ser Seu discípulo, diz respeito ao
sofrimento no caminho do dever. Aquele que não recebe o
evangelho com todas as suas dificuldades, é porque na verdade
nunca o recebeu. Aquele que não recebe a Cristo juntamente com a
Sua cruz e a Sua coroa, na verdade nunca o recebeu de fato. Se o
que queremos é o Seu descanso sem o Seu jugo (Mateus 11: 29),
então aceitamos algo que Deus nunca nos ofereceu. Aquele que
deseja apenas a parte prazerosa do Cristianismo é, no melhor dos
casos, um “quase” Cristão.
Sem o espírito descrito em nosso texto, não poderemos dizer
que abandonamos tudo por Cristo. Ele demanda que abandonemos
tudo por Sua causa, pois o nosso dever assim o requer. Mas se nos
recusarmos a sofrer reprovações, pobreza, dor ou morte, estaremos
evidenciando que nunca abandonamos a honra, as riquezas, e os
prazeres desta vida por causa de Cristo.
Sem o espírito descrito em nosso texto, não poderemos dizer
que negamos a nós mesmos como as Escrituras assim o exigem. A
autonegação é plenamente ensinada pelo nosso Mestre. Então
disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim,
renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me;
Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem
perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á (Mateus 16: 24-25).
Negar a si mesmo é agir como se você não tivesse misericórdia por
você mesmo. Se você desobedece a Cristo a fim de evitar o
sofrimento, você estará negando a Cristo ao invés de negar-se a si
mesmo. Todo aquele que negar a Cristo, também será negado por
Ele na Sua vinda. Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o
negarmos, também ele nos negará (II Timóteo 2: 12).
Faz parte do caráter de todo Cristão obedecer a Cristo em tudo.
Eles seguem o Cordeiro para onde quer que vá (Apocalipse 14: 4),
na prosperidade ou na adversidade. A atitude deles é expressa nas
palavra de Itai a Davi: Vive o SENHOR, e vive o rei meu senhor, que
no lugar em que estiver o rei meu senhor, seja para morte seja para
vida, aí certamente estará também o teu servidor (II Samuel 15: 21).
Para aquele que disse: Mestre, aonde quer que fores, eu te seguirei,
nosso Senhor respondeu: As raposas têm covis, e as aves do céu
têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça
(Mateus 8: 19-20).
Faz parte do caráter de todo Cristão vencer o mundo (I João 5:
4). O mundo busca nos vencer pela lisonja e pela carranca. Se
qualquer destas coisas nos vencer, então estaremos demonstrando
que não somos nascidos de Deus. O verdadeiro cristão vence, e é
mais do que vencedor em todas estas coisas (Romanos 8: 37).
A perseguição é muitas vezes chamada de tentação ou provação
nas Escrituras, e isso pelo fato de Deus testar através dela a
sinceridade do nosso caráter. Ele nos coloca em teste para provar
se somos ouro de verdade ou apenas algo falso. Em que vós
grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo
necessário, que estejais por um pouco contristados com várias
tentações,
Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro
que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e
glória, na revelação de Jesus Cristo (I Pedro 1: 6-7).
Através das provações nós testificamos aquilo que professamos.
Nós provamos ser o Seu povo. E farei passar esta terceira parte
pelo fogo, e a purificarei, como se purifica a prata, e a provarei,
como se prova o ouro. Ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei;
direi: É meu povo; e ela dirá: O SENHOR é o meu Deus (Zacarias
13: 9).

Vamos observar os seguintes pontos na aplicação destas


verdades:
I. VAMOS EXAMINAR A NÓS MESMOS PARA VER SE
ESTAMOS REALMENTE DISPOSTOS A NOS SUBMETERMOS A
QUALQUER TIPO DE SOFRIMENTO POR CAUSA DE CRISTO.
Você possui um espírito sofredor? Mesmo que você não tenha
passado por grandes sofrimentos, certamente tem vivido o suficiente
para saber se possui ou não aquela disposição de renunciar a todo
conforto e riquezas ao invés de renunciar a Cristo. Todo Cristão
deveria possuir um espírito de mártir. Todo Cristão é provado de
alguma maneira. Alguns sofrerão pela perda do seu bom nome ou
pela rejeição de alguns; outros sofrerão perdas de ordem material.
Se você não suporta sofrer tais perdas, o que aconteceria se Deus
permitisse que você sofresse uma feroz e amarga perseguição?
Como você pode pregar que o amor tudo suporta?

II. VAMOS ESTAR PREPARADOS PARA NOS SUBMETER A


TODO SOFRIMENTO POR CAUSA DE CRISTO.
Considere a felicidade daqueles que sofrem por amor a Cristo.
As Escrituras frequentemente nos ensinam assim: Bem-aventurados
os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o
reino dos céus. Bem-aventurados sereis quando os homens vos
odiarem e quando vos separarem, e vos injuriarem, e rejeitarem o
vosso nome como mau, por causa do Filho do homem.
Folgai nesse dia, exultai; porque eis que é grande o vosso
galardão no céu, pois assim faziam os seus pais aos profetas.
Bem-aventurado o homem que suporta a tentação; porque,
quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem
prometido aos que o amam.
Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-
aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis
(Mateus 5: 10; Lucas 6: 22-23; Tiago 1: 12; I Pedro 3: 14).
Considere a grande recompensa que Deus tem prometido
àqueles que voluntariamente sofrem por amor a Cristo. Um dos
versos citados fala da coroa da vida. Outros falam da herança da
vida eterna, de sermos contados como dignos de alcançar o reino
de Deus, reinando e sendo glorificados juntamente com Ele. As
maiores e mais gloriosas coisas são na verdade prometidas àqueles
que vencerem, de acordo com Apocalipse 2 e 3, incluindo o sentar-
se com Cristo em Seu trono! Quem não suportaria sofrer
“alegremente” a perda de todas as coisas a fim de alcançar tamanha
recompensa!
Considere os muitos exemplos nas Escrituras do povo que
sofreu por amor a Cristo. O Salmista frequentemente faz referência
a seus inimigos, tais como: Bandos de ímpios me despojaram, mas
eu não me esqueci da tua lei (Salmo 119: 61). Jeremias foi
ameaçado de morte e lançado em um poço imundo. Daniel
continuou a orar mesmo sendo lançado na cova dos leões. O tempo
seria escasso para relatar todos aqueles que fizeram parte da
grande nuvem de testemunhas. Você acha que algum deles está
arrependido de sua escolha neste exato momento? Acima de tudo,
considere o supremo exemplo do nosso Senhor e Salvador, que
sofreu muito além de qualquer comparação, sendo fiel até ao fim, e
está agora exaltado acima de tudo e de todos.
PORTANTO nós também, pois que estamos rodeados de
uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o
embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e
corramos com paciência a carreira que nos está proposta,
olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo
gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando
a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus (Hebreus
12: 1-2).
Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo
lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e
tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-
te-ei a coroa da vida (Apocalipse 2: 10).
13

Todas as graças da caridade


são interligadas

“O amor…tudo crê, tudo espera” I Coríntios 13:7

Assim como na frase anterior, nós precisamos entender qual é o


assunto que o apóstolo está abordando. Muitos pensam que ele
está dizendo que a caridade acredita no melhor, e espera o melhor,
no que diz respeito ao seu próximo. Entretanto, ele já tratou deste
assunto no verso 5, quando disse: o amor não suspeita mal. Ele
terminou de abordar o assunto sobre os frutos da caridade para com
o próximo no verso 6, ao resumi-lo nestas palavras: o amor… não
folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Ele menciona em
nosso texto a mesma tríade de graças repetidas novamente no
verso 13- fé, esperança e amor. Tudo neste capítulo está
direcionado a mostrar a relação entre a caridade e as outras graças.
Por esta razão, eu utilizo estas duas frases para melhor
compreensão do assunto, ou seja: a caridade promove o exercício
de todas as graças, especialmente a graça da fé e da esperança.
Ou, em outras palavras, todas as graças do Cristianismo autêntico
estão interligadas, sendo totalmente dependente umas das outras.
Como num elo de correntes, todas se interligam. Se uma se rompe,
todas caem por terra.

I. COMO TODAS AS GRAÇAS CRISTÃS ESTÃO


INTERLIGADAS.
Todas as graças Cristãs caminham sempre juntas. Onde uma
está, todas estão. Onde uma não está, as demais também não
estão. Por exemplo: I João nos fala que o amor aos irmãos é uma
prova do nosso amor a Deus, e, por outro lado, o amor a Deus é
uma prova do nosso amor aos irmãos. Se alguém diz: Eu amo a
Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu
irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?…
Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos
a Deus e guardamos os seus mandamentos (4: 20; 5: 2).
Todas as graças Cristãs dependem umas das outras. Por
exemplo, a fé promove o amor, e não podemos amar alguém cuja
existência duvidamos. No entanto, o amor é o ingrediente mais
eficaz da fé viva; pois somos mais parecidos com alguém a quem
amamos do que com alguém a quem não amamos. Da mesma
maneira, o amor produz esperança, e a esperança fortalece a fé.
Além disso, o amor tende a ser esperançoso, e a esperança
promove o amor. A fé promove a humildade, e a humildade serve a
fé. O amor e a humildade promovem um ao outro. O amor se inclina
ao arrependimento. Arrependimento, fé, e amor, todos tendem a ser
agradecidos. E assim caminhamos em todas as graças Cristãs.
Cada graça Cristã implica de alguma maneira em outra. A fé
implica em humildade, pois não podemos conceber uma fé
orgulhosa. A fé implica no amor: a fé…que opera pelo amor
(Gálatas 5: 6). A fé e o arrependimento implicam um no outro, pois
eles descrevem o mesmo ato da alma em dar as costas ao pecado
e voltar-se para Cristo. O temor de Deus implica em amor, pois não
falamos de um amor escravizador, mas um temor filial. Perceba
como a paciência está implícita em muitas das graças! Novamente,
nós poderíamos multiplicar os exemplos quase que infinitamente.

II. PORQUE AS GRAÇAS CRISTÃS ESTÃO ASSIM


INTERLIGADAS.
Todas procedem da mesma fonte. Há diversidade de operações,
mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos (I Coríntios 12: 6).
Assim como todo o espectro de cores procede de um único raio de
luz, assim também todas as graças procedem do mesmo Espírito
Santo de Deus. As diferenças entre elas, embora tenham diferentes
nomes, são mais relativas do que absolutas, mais em relação aos
seus vários objetos e modos de exercício, do que uma real diferença
em sua natureza abstrata.
Elas são comunicadas por meio da mesma obra do espírito
Santo, ou seja, a conversão. Não há uma conversão da alma para a
fé, outra ao amor de Deus, outra ao amor aos homens, outra à
humildade, e outra ao arrependimento. Todas as graças nos são
concedidas na regeneração. Nisto, o nascimento espiritual é
semelhante ao físico, ou seja, nós recebemos todas as nossas
faculdades como a da visão, audição, paladar, e tato, de uma só vez
e em um nascimento.
Todas possuem uma mesma raiz e fundamento, a saber, o
conhecimento da excelência de Deus. Uma visão genuína de Deus
gera todas as graças, tais como a fé, o arrependimento, o amor, a
esperança, e etc. Se realmente conhecemos a natureza de Deus,
então iremos amar, confiar, e nos submeter a Ele.
Todas possuem a mesma regra, ou seja, a Lei de Deus. Aquele
que possui um respeito genuíno por um dos mandamentos de Deus,
na verdade respeita todos os demais. Todos foram estabelecidos
sob a mesma autoridade e refletem a mesma natureza santa de
Deus. Da mesma maneira, desrespeitar um dos mandamentos é
como quebrar toda a Lei, não importando quantos pontos você
obedeça (Tiago 2: 10).
Todas apontam para um mesmo fim, ou seja, o próprio Deus.
Elas não somente brotam, permanecem, e vão de encontro a Deus,
mas também apontam para Ele. A sua glória e a nossa felicidade
nEle é o objetivo final de todas as graças. Isso mostra o quanto elas
estão intimamente relacionadas.
Todas estão relacionadas a uma mesma graça, sendo esta a
suma de todas, ou seja, o amor. Nós tratamos sobre isso no capítulo
um. Não importa quão diferente sejam seus nomes, e nem quão
diferente sejam os modos como são exercidas, pois todas se
convergem num mesmo amor. O amor é o cumprimento de todas
elas. Esta é outra razão pela qual todas as graças estão
interligadas.
Vamos nos esforçar para fazermos uma aplicação prática desta
verdade.

I. A CONEXÃO DE TODAS AS GRAÇAS DEVERIA AJUDAR O


NOSSO ENTENDIMENTO A COMPREENDER QUE AS COISAS
VELHAS JÁ PASSARAM E TUDO SE FEZ NOVO NA
CONVERSÃO.
Isso é o que o apóstolo fala em II Coríntios 5: 17. Assim que, se
alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já
passaram; eis que tudo se fez novo. Todas as graças do
Cristianismo são compartilhadas em alguma medida na conversão.
O verdadeiro Cristão, no momento da sua conversão, passa a
possuir todas as disposições oriundas da graça. Elas podem ser
fracas, mas ainda assim estão presentes, como num bebê cujas
partes e poderes estão presentes, ainda que de forma frágil. Há
muitas graças em cada Cristão assim como houve no próprio Jesus
Cristo, e por isso o apóstolo João escreve: E todos nós recebemos
também da sua plenitude, e graça por graça (João 1: 16). E vos
vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a
imagem daquele que o criou (Colossenses 3: 10). Antes da
conversão, não possuíamos graça alguma, mas depois passamos a
possuir todas, ainda que de forma imperfeita. Talvez seja por isso
que nos é dito que agora somos novas criaturas em Cristo Jesus, e
não que passamos a ter novos olhos ou novos ouvidos.
Segue-se, então, que toda corrupção no Cristão está mortificada,
ainda que em uma medida imperfeita. Para cada pecado existe uma
graça para combatê-lo. A fé mortifica a incredulidade e o amor a
inimizade. A humildade mortifica o orgulho, e a mansidão a
vingança, e assim por diante. Todas as coisas velhas passaram,
embora de maneira imperfeita nesta terra; e tudo se fez novo,
embora de forma ainda imperfeita. Assim, podemos ver que grande
obra e que grande mudança é a conversão.

II. PODEMOS TESTAR A NOSSA ESPERANÇA DE


SALVAÇÃO AO TESTAR UMA GRAÇA COM OUTRA.
Se você professa ter recebido a Cristo pela fé, então você
deveria testar se a sua fé foi acompanhada pelo arrependimento e
pela humildade. Ou você veio a Cristo com orgulho, espírito
farisaico, e apresentando a sua própria bondade? O amor
acompanhou sua fé?
Por outro lado, você professa amar a Cristo. Mas a sua fé veio
acompanhada do seu amor? Você abraçou a convicção de que
Cristo é o verdadeiro Filho de Deus, o único, glorioso, e todo
suficiente Salvador? Se não, o seu amor a Cristo não é melhor do
que o amor fictício dedicado a algum personagem de novela.
Você confessa possuir a graça da esperança? A fé a
acompanha? A sua esperança está fundamentada na convicção da
verdade a respeito de Cristo, Sua dignidade e absolutamente mais
nada? A sua esperança inclui a humildade, ou você se orgulha da
sua própria esperança? A falsa esperança ilude o coração e o
conduz a desobediência.
Você professa amor a Deus. Mas isso também deve ser testado
pelas outras graças. O seu amor pelo mundo diminuiu simplesmente
por causa de alguma aflição externa (doença) que o impede de
desfrutar mais dele? Talvez o seu amor a Deus seja fruto de alguma
perturbação da consciência, que faz com que você se afaste
temporariamente do mundo, mas no fundo, ainda reside o desejo de
voltar para ele. Ou você realmente não ama mais as coisas deste
mundo porque algo muito maior e muito melhor capturou o seu
coração?
Você pode testar mais profundamente o seu amor a Deus
através do amor aos irmãos. Quantas pessoas professam amar a
Deus, mas são completamente destituídas de qualquer disposição
piedosa para com os homens? E quantos aparentam ser gentis,
generosos e bons para com os homens e, no entanto, não possuem
qualquer disposição para com Deus? A falsa graça é como um
trabalho de arte imperfeito, cuja parte essencial está faltando.
Usando outro exemplo, Deus se queixa de Efraim dizendo que Ele
era como um bolo que não foi virado (Oséias 7: 8), isto é, assou de
um lado, porém o outro ainda está cru, e não serve para nada.
Devemos cuidadosamente evitar este tipo de caráter tão dúbio,
sendo consistentes, equilibrados, e crescendo em cada graça na
medida da estatura completa de Cristo (Efésios 4: 13).
14

A caridade não deve ser


vencida pela oposição

“O amor…tudo suporta." (I Coríntios 13: 7)

Não devemos presumir que o apóstolo nesta frase está


simplesmente repetindo aquilo que já havia dito no verso 4, o amor
é sofredor, ou mesmo o início do presente verso, o amor tudo sofre.
Todas as três declarações tratam de assuntos diferentes. Como
vimos anteriormente, a primeira fala da paciência com que devemos
suportar as injúrias. A segunda trata do sofrimento causado pela
perseguição em razão de sermos Cristãos. No texto acima, o
princípio é que a caridade não deve ser vencida pela oposição
dirigida contra ela. Em outras palavras, a verdadeira graça Cristã irá
permanecer firme em seu propósito, a despeito de toda oposição
dirigida contra ela.
I. HÁ MUITA OPOSIÇÃO CONTRA A GRAÇA NO CORAÇÃO
DO CRISTÃO.
Inimigos contrários ao princípio da graça nos filhos de Deus são
inúmeros. Estamos cercados por eles de todos os lados. Somos
peregrinos passando por cidades inimigas, sujeitos a ataques
constantes e repentinos. O diabo e seus demônios são nossos
inimigos cruéis. O mundo nos tenta de várias maneiras. Também
carregamos conosco um vasto número de inimigos, presentes em
nossos pensamentos e inclinações. Portanto, muitos e fortes são
estes inimigos da vida Cristã, e por isso a Bíblia nos diz que
estamos em combate. Todos eles são irreconciliáveis, e juram
permanecer em amarga animosidade contra nós, a fim de destruir a
obra da graça em nossos corações. Às vezes um, outras vezes
outro, e por vezes todos se unem num só ataque contra nós. Assim
como num dilúvio, eles buscam nos envolver e engolir. A obra da
graça de Deus, resumida na caridade, é exposta como uma faísca
de fogo no meio de uma tempestade.

Vamos agora considerar a verdade do nosso texto.

II. TODA OPOSIÇÃO CONTRA A GRAÇA NO CORAÇÃO É


INCAPAZ DE VENCÊ-LA.
Isso não quer dizer que os inimigos da nossa alma não
obtenham algumas vitórias contra nós. Eles até podem fazer que a
obra da graça chegue à beira da ruína em nós. O leão pode atacar o
cordeiro com seus rugidos assustadores e com sua grande boca.
Ele pode segurar o cordeiro em suas mandíbulas. Sim, ele poderá
até engoli-lo, como Jonas foi engolido pelo grande peixe, mas assim
como Jonas, ele será trazido à tona novamente, e vivo. Muitas
passagens das Escrituras ilustram esta verdade. Israel ficou
totalmente cercado diante do Mar Vermelho, e parecia que tudo
estava perdido, mas Deus livrou Seu povo. Davi por várias vezes
ficou a um passo da morte, mas Deus o preservou. O barco no qual
Jesus se encontrava dormindo quase foi a pique, mas Deus o
manteve sobre as ondas. Do mesmo modo, as portas do inferno
nunca prevalecerão contra a igreja de Cristo, e nem contra a graça
presente em nossos corações. A Sua semente permanece em nós (I
João 3: 9), e nada pode desarraigá-la. No fim, a graça irá subjugar
todos os inimigos debaixo dos seus pés. As humilhações do deste
tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há
de ser revelada.
Vamos considerar duas razões pelas quais toda oposição nunca
poderá vencer a graça no coração.
Primeiro, a verdadeira graça, diferente da falsa, carrega em sua
própria natureza a perseverança. A falsa graça é externa e
superficial, mas a graça verdadeira alcança o fundo do coração e
envolve a mudança da natureza que perdura. A falsa graça não
mortifica o pecado, deixando-o vivo e ativo, mas a graça verdadeira
luta mortalmente contra ele. Embora ela possa afetar as emoções, a
falsa graça não está fundamentada em uma convicção verdadeira
da alma, mas a genuína tem um fundamento firme e convicto, que é
duradouro.
Segundo, Deus preserva a verdadeira graça, pois Ele mesmo a
implantou na alma. Ele simplesmente não permitirá que nenhum tipo
de oposição venha destruí-la. Não estamos impedidos de cair por
causa da própria natureza inerente da graça, mas pelo poder de
Deus (I Pedro 1: 5). Afinal, Adão e Eva eram santos e não possuíam
uma natureza caída, mas ainda assim foram vencidos.
Considerando a natureza corrupta que ainda habita no Cristão,
podemos concluir o quanto necessitamos que Deus preserve a Sua
graça em nós. Deus realmente preserva a Sua graça em nós porque
Ele assim o prometeu. Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o
SENHOR o sustém com a sua mão. E farei com eles uma aliança
eterna de não me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu temor
nos seus corações, para que nunca se apartem de mim.
E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos
aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia.
E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as
arrebatará da minha mão. Tendo por certo isto mesmo, que aquele
que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus
Cristo. Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e
apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória.
Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o
primogênito entre muitos irmãos.
E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que
chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes
também glorificou. O Seu propósito vai desde nos pré-conhecer a
fim de nos predestinar, chamar, justificar, e nos glorificar para
sempre. (Salmo 37: 24; Jeremias; João 6: 39; 10: 28; Filipenses 1:
6; Judas 24; Romanos 8: 29-30).
Por que Deus preserva a obra da graça em nós e não permite
que qualquer tipo de oposição venha a derrotá-la? Aqui temos sete
respostas para esta questão:

Primeiro, a redenção em Cristo garante a nossa perseverança.


De outra forma, ela não seria uma redenção completa. Se a nossa
perseverança dependesse exclusivamente de nós, como
poderíamos esperar fazer algo melhor do que o próprio Adão antes
da sua queda?
Segundo, a aliança da graça foi introduzida para suprir aquilo
que faltava na primeira aliança. A coisa principal que faltava na
aliança feita com Adão era um alicerce firme de perseverança na
piedade. A vontade do homem era a sua própria base, e por isso
estava sujeito a mudanças. Mas Deus estabeleceu uma nova
aliança, melhor do que a primeira porque é duradoura, a qual não
pode falhar, e por isso é chamada repetidas vezes de aliança
eterna. O cabeça e a segurança da primeira aliança era susceptível
a falhas, mas Deus proveu como cabeça e segurança da nova
aliança Alguém que não pode falhar. Com Cristo como o nosso
representante esta aliança está em tudo bem ordenada e guardada.
Terceiro, uma vez que a Aliança em Cristo se fundamenta na
graça, não seria justo que a recompensa da vida dependesse da
força do homem em perseverar. Pelo contrário, a graça livre e
soberana é quem toma esta responsabilidade por nós. Não somos
deixados sob o poder da nossa própria vontade, mas no do Deus de
toda a graça.
Quarto, Cristo, como nosso fiador, já perseverou, venceu, e
conquistou. Uma vez que Ele já cumpriu os termos da aliança, a
perseverança final do Seu povo é certa.
Quinto, a doutrina da justificação assegura que todos os pecados
do homem remido foram pagos para sempre. Eles não podem ser
trazidos novamente contra ele no tribunal celestial. A justificação
não depende da nossa perseverança, mas a nossa perseverança
flui da nossa justificação.
Sexto, as Escrituras nos ensinam que a vida do Cristão está
escondida em Cristo e procede desta união vital com Ele. Ele nos
vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)… E nos
ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares
celestiais, em Cristo Jesus (Efésios 2: 5-6). Já estou crucificado com
Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que
agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou,
e se entregou a si mesmo por mim (Gálatas 2: 20). Uma vez que
Cristo está vivo, e vive para todo o sempre, e que a morte não tem
mais domínio sobre Ele (Hebreus 7: 25; Apocalipse 1: 18; Romanos
6: 9), nossa vida espiritual não tem como ser interrompida!
Sétimo, Cristo introduziu o princípio da graça em nossos
corações a despeito da grande oposição. Os inimigos da graça não
são uma novidade. Mas se o Seu soberano poder triunfou na graça,
este mesmo poder também nos sustentará, não permitindo que
venhamos a cair.

Enquanto buscamos aplicar esta preciosa doutrina, vamos


observar os pontos a seguir.
I. APRENDERMOS UMA DAS RAZÕES PELAS QUAIS O
DIABO SE OPÕE TÃO FEROZMENTE A CONVERSÃO DOS
PECADORES.
Ele sabe que uma vez convertidos, uma vez que a graça faça
parte de suas almas, eles ficam fora do alcance do seu poder
destruidor. Portanto, ele está sempre ativo, e se opõe violentamente
àqueles que estão sendo iluminados, ou estão sob convicção do
pecado, ou buscando a Cristo. Ele fará todo o possível para
extinguir suas convicções de pecado, e a se sentirem felizes e
realizados com uma vida pecaminosa. Ele muitas vezes os bajula, e
depois os desencoraja. Ele os leva a lutar contra Deus. Ele tenta
alguns a abusarem da verdade a respeito dos decretos de Deus,
recorrendo ao fatalismo. Ele tenta alguns com o temor do pecado
imperdoável. Alguns Ele tenta com a falsa segurança da salvação.
Seus métodos são inúmeros, e Ele os utiliza com toda volúpia, pois
sabe que não pode derrotar um verdadeiro convertido a Cristo.

II. APRENDEMOS QUE AQUELES QUE ABANDONAM A


GRAÇA, NUNCA NA VERDADE A POSSUÍRAM.
Muitas pessoas são afetadas inicialmente pela verdade, mas
assim que o romance acaba, eles voltam à sua velha vida. Eles
somente provam que são estranhos quanto à verdadeira graça. Eles
falham em provar II Coríntios 5: 17, que diz: Assim que, se alguém
está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis
que tudo se fez novo. Eles são como muitas árvores na primavera,
que começam dando algumas flores, mas nunca produzem frutos. O
teste e a prova da graça é a sua continuidade ou, como já vimos, a
sua perseverança, pois tudo suporta. A graça que não é constante e
nem persevera, não é graça verdadeira.

III. A VERDADE DO NOSSO TEXTO É MOTIVO DE GRANDE


ALEGRIA E CONFORTO PARA AQUELES QUE POSSUEM A
BOA EVIDÊNCIA DA GRAÇA EM SEUS CORAÇÕES.
A graça é uma joia preciosa, e para aqueles que a possuem, é
uma joia que nunca poderá ser tirada deles. Aquele que nos deu é o
mesmo que a mantém, segundo o seu eficaz poder de sujeitar
também a si todas as coisas (Filipenses 3: 21). Seus braços eternos
nos sustentam. Ele é o nosso refúgio e força. Portanto, não importa
o quão sutil e violento seja os ataques contra nós, podemos rir e
zombar de nossos inimigos, pois estamos sobre a rocha da nossa
salvação. Aqui reside o motivo do nosso regozijo.

IV. A VERDADE DO NOSSO TEXTO ENCORAJA OS SANTOS


NAS SUAS LUTAS ESPIRITUAIS.
Se um soldado vai para a batalha pensando na derrota, seus
inimigos já estão em grande vantagem, e praticamente já venceram.
Mas o capitão da nossa salvação já nos garantiu a vitória. Sua
promessa é segura e não pode falhar. Avante na luta, filhos de
Deus! Descanse nas Suas promessas, seja fiel em tudo, e cedo
você estará entoando o cântico de vitória. Em breve Ele colocará em
sua cabeça, com aquelas mãos perfuradas, a coroa da vitória.
15

O espírito santo estará se


comunicando eternamente
com os salvos através da
graça da caridade

“O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão


aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência,
desaparecerá.” I Coríntios 13:8

Até aqui nós vimos a superioridade do amor sobre as outras


graças. Todos os outros dons não são nada sem ele. Ele é a fonte
de todas as boas disposições e comportamentos. É o dom mais
durável de todos, permanecendo inclusive na glorificação, enquanto
todos outros dons estarão extintos.
Em nosso texto, o apóstolo fala duas coisas. Primeira, o amor
nunca falha; ele é eterno. O “tudo suporta” (v.7) implica e conduz
para o “nunca falha”.
A segunda coisa é que todos os outros dons terminariam. Ele
menciona três dons: (1) Profecia, ou palavras diretamente
inspiradas pelo Espírito Santo. (2) Línguas, ou o poder de falar em
outro idioma nunca antes estudado, como ocorreu no dia de
Pentecostes com os apóstolos. (3) Ciência, ou o dom milagroso do
conhecimento, também chamado de a palavra da ciência no capítulo
12, verso 8. Este termo não se refere a todo conhecimento, pois o
nosso conhecimento de Deus continuará crescendo no céu.
Este dom especial da ciência está em contraste com o
conhecimento adquirido pela razão e estudo, e também do
conhecimento experimental da influência salvadora do Espírito
Santo na alma. Estes três dons foram previamente mencionados
nos capítulos 1 e 2 como não sendo absolutamente nada sem a
graça do amor. Eles foram exemplos dos dons extraordinários
concedidos à igreja durante a sua época de infância, enquanto o
Cristianismo era introduzido e espalhado pela terra. Quando este
propósito se concretizou, todos estes dons cessaram. Entretanto, a
ordinária e muito melhor graça do amor nunca cessa.
Fica plenamente claro, que o grande fruto do Espírito Santo, pelo
qual Ele se comunicará eternamente com o povo de Deus, é o amor
ou amor divino.

I. O ESPÍTITO SANTO É DADO AO POVO DE DEUS PARA


HABITAR E ENFLUENCIAR A ELES ETERNAMENTE.
O Espírito Santo é a soma de todas as boas coisas que Cristo
comprou para nós nesta vida e no porvir. Ele é garantia e a
promessa de Cristo para a Sua igreja, a fim de que ela possa
continuar firme e as portas do inferno não prevaleçam contra ela. E
eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique
convosco para sempre. O Espírito de verdade, que o mundo não
pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o
conheceis, porque habita convosco, e estará em vós (João 14: 16-
17). Adão, em seu estado original, tinha o Espírito Santo, mas o
perdeu por causa da desobediência. Mas na Nova Aliança, Deus
concede o Espírito Santo de maneira mais permanente, para nunca
mais partir.

II. HÁ OUTROS DONS DO ESPÍRITO SANTO ALÉM


DAQUELES RESUMIDOS NA CARIDADE, ONDE O ESPÍRITO
SANTO É COMUNICADO AO POVO DE DEUS.
Eles se resumem em duas categorias.
Primeiro, através dos dons extraordinários, tais como milagres e
inspiração, o Espírito Santo tem se comunicado com o povo de
Deus. Nós lemos a respeito da operação destes dons em algumas
ocasiões do Velho Testamento, assim como com grande freqüência
nos dias da igreja primitiva.
Segundo, pelos dons da graça comum o Espírito Santo se
comunica com os salvos e também com os perdidos. Há em
comum, convicção de pecado, iluminação, afeição religiosa, os
quais, embora não possuam nada em si mesmos do verdadeiro
amor Cristão ou garça salvadora, ainda assim são frutos do Espírito,
pois são o efeito de Sua influência nos corações dos homens.
III. TODOS ESTES DONS DO ESPÍRITO DURARAM APENAS
POR UM PERÍODO DE TEMPO ESPECÍFICO, E TAMBÉM
CESSARAM, OU IRÃO CESSAR EM ALGUM MOMENTO.
Os dons extraordinários do espírito, tais como profecias, línguas,
e ciência, certamente cessaram com os próprios apóstolos. Eles não
eram mais necessários assim que os escritos do Novo Testamento
se completaram. O apóstolo João indica isso claramente nas últimas
palavras do livro de Apocalipse, escrito um pouco antes de sua
morte. O principal propósito dos dons extraordinários era o de
revelar a verdade de Deus até que ela estivesse sido entregue na
forma escrita. Antes de Moisés, Deus muitas vezes falou
diretamente a Adão, Enoque, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, e outros.
Então veio um período longo em que houve pouca ou talvez
nenhuma revelação direta. Após cerca de 400 anos de silêncio, o
Espírito novamente entrou em cena com dons extraordinários sendo
concedidos a Ana e Simeão, Isabel e Zacarias, e Maria e José.
Começando no dia de Pentecostes, vemos uma extraordinária
efusão destes dons através do livro Atos. Porém, uma vez que Deus
tinha concedido através dos apóstolos e dos seus colaboradores
mais íntimos a revelação escrita da Sua mente e vontade, como
regra de fé para os todos os Seus discípulos de todas as épocas,
então os dons extraordinários tiveram o seu fim. Deus fez com que
eles cessassem por não serem mais necessários. E pelo mesmo
motivo eles também não se farão presentes no céu.
Quanto às operações comuns do Espírito, embora elas
continuem nestes dias, elas também deixarão de existir após o dia
de julgamento. O seu propósito e ocasião estavam limitados a este
mundo.

IV. O DOM DA CARIDADE É O GRANDE FRUTO DO


ESPÍRITO SANTO QUE NUNCA FALHA, PELO QUAL ELE TEM
INFLUENCIADO E SEMPRE INFLUENCIARÁ O SEU POVO.
Uma vez que o Espírito foi dado por Cristo ao seu povo para
sempre, então independentemente dos frutos do Espírito serem
temporários, ou se vigoraram somente na época apostólica ou não,
a influência do Espírito é que era eterna e infalível. A caridade, ou
amor divino, é o fruto pelo qual as influências eternas do Espírito
Santo aparecem.
Nós podemos considerar o desenrolar deste princípio de duas
maneiras.
Primeira, com respeito aos Cristãos de forma individual. Todo
verdadeiro filho de Deus experimenta um amor contínuo e
infindável. Como Romanos 8: 38-39 nos ensina, nada poderá nos
separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.
Este amor sobrevive nesta vida. Quando os apóstolos morreram,
eles deixaram os seus dons miraculosos juntamente com seus
corpos, mas o amor que havia em seus corações permanece para
sempre com eles no céu. Quando o ímpio morre, ele deixa para trás
todas as influências da graça comum. Mas quando o Cristão morre,
embora ele deixe para trás, assim como o ímpio, muitos dos frutos
do espírito que possuía, ainda assim ele leva consigo a caridade por
toda a eternidade, onde ela será perfeita e onde viverá e reinará em
perfeito e completo domínio em sua alma para todo o sempre.
Segunda, o princípio do amor que “nunca falha” aplica-se a todos
os Cristãos de forma coletiva. Embora, como vimos anteriormente,
os dons miraculosos vieram e partiram em ambos os Testamentos, a
graça da caridade tem sido mantida constantemente por Deus no
meio do Seu povo. E quando este mundo acabar, e os eleitos de
Deus atingirem o seu estado final, o amor divino não cessará, mas
será vivido em gloriosa perfeição. Toda alma redimida desfrutará,
assim como aqui desfrutou, da chama do amor divino, e
permanecerá crescendo neste amor por toda a eternidade.
Alguém poderia perguntar: Por que alguns frutos do Espírito
cessaram, enquanto outros permanecem para sempre? A resposta
é esta: porque o amor é o objetivo final de todos os outros dons e
frutos do Espírito. Os dons miraculosos eram meios para se
atingirem este fim, ou seja, promover a santidade e edificar o reino
de Deus no coração, e tudo isso se resume na caridade. Os dons
extraordinários revelaram e confirmaram a Palavra de Deus. Eles
foram meios pelos quais a graça se manifestou, mas o amor é a
essência da própria graça. Os meios cessaram, mas o objetivo
continua. Da mesma maneira, os dons comuns do Espírito, tais
como iluminação, e convicção, tem o seu valor enquanto promovem
a graça e a santidade, as quais consistem em caridade. Quando a
caridade for aperfeiçoada, então eles também deixarão de ser
necessários.

Agora vamos observar algumas lições que devemos aprender


deste texto:
I. NÃO HÁ RAZÃO PARA ASSUMIRMOS QUE OS DONS
EXTRAORDINÁRIOS DO ESPÍRITO RETORNARÃO NOS
ÚLTIMOS DIAS.
Não são poucos os escritores do passado e do presente que
defendem esta errônea posição, que tanto o texto como o contexto
refutam. A glória dos últimos dias do reino de Cristo na terra será
muito mais gloriosa do que nunca. Faz muito sentido que o caminho
mais excelente do capítulo 12, verso 31, é que prevalecerá, e não o
retorno do menos excelente caminho dos dons miraculosos. Nos
versos 9 e 10 do nosso texto, o apóstolo deixa muito claro que
aquilo que é em parte, dará lugar ao que é completo. Os dons de
profecia e milagres dizem respeito à infante condição da igreja, e
não sua maturidade! Então, por que aquilo que era inferior retornaria
nos dias de maior superioridade? Por que uma igreja adulta
retornaria à prática das coisas de menino? (vs. 11). Certamente que
a época dos grandes avivamentos pode muito bem provar que o
Espírito Santo de Deus opera poderosamente sem ter que fazer uso
dos dons miraculosos. O Espírito de Deus, com a Palavra de Deus,
é suficiente para operar eficazmente na salvação de milhares de
almas. Se não precisamos de novas Escrituras, também não
necessitamos do retorno dos dons milagrosos, que produziram e
confirmaram as Escrituras.

II. DEVEMOS SER EXTREMAMENTE CAUTELOSOS EM NÃO


DAR ATENÇÃO A QUALQUER COISA QUE PAREÇA SER UMA
NOVA REVELAÇÃO OU UM DOM EXTRAORDINÁRIO DO
ESPÍRITO SANTO.
Algumas pessoas ficam tão impressionadas com seus sonhos e
superstições que acabam sendo guiados por eles como se fossem
uma revelação milagrosa da parte de Deus. Mas de acordo com o
nosso texto, todos estes dons cessaram. Portanto, tais supostas
revelações não passam de um grande engano.

III. DEVEMOS VALORIZAR GRANDEMENTE OS FRUTOS DO


ESPÍRITO, RESUMIDOS NA CARIDADE, OS QUAIS
COMPROVAM A PRESENÇA DA GRAÇA VERDADEIRA NA
ALMA.
Tendo em vista a superioridade das graças ordinárias, vamos
firmemente buscar e desejar este abençoado fruto do Espírito.
Vamos nos esforçar para que o amor de Deus possa ser derramado
em nossos corações mais e mais. Vamos deliberadamente amar ao
nosso Senhor Jesus Cristo em sinceridade, e aos outros homens
assim como temos sido amados por Cristo.
Se esta graça faz parte de nossa alma, então asseguramos os
nossos corações de que possuímos a vida eterna, pois ela nunca
falha, e nos acompanhará por toda a eternidade. O amor derramado
em nossos corações aqui na terra nos prepara para o céu, um
mundo de amor, onde o Espírito de amor reina e nos abençoa para
todo o sempre.
16

Céu, um mundo de amor

“O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão


aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência,
desaparecerá; porque, em parte, conhecemos, e em parte
profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que
o é em parte será aniquilado.” I Coríntios 13: 8-10

Como já vimos, estes versos nos ensinam que o fruto do Espírito


Santo, pelo qual Ele se comunica eternamente com o povo de Deus,
é a caridade ou amor Divino. Notamos ainda, que mesmo quando
todos os outros dons cessarem, a caridade permanecerá. Isso
ocorrerá quando aquilo que é em parte der lugar àquilo que é
completo.
Há dois aspectos quanto àquilo que é em parte ou imperfeito no
que diz respeito ao estado do povo de Deus, assim como daquilo
que perfeito. Em primeiro lugar, o estado primitivo da economia do
Novo Testamento era parcial, incompleta e infantil, em comparação
com a maturidade ou fase adulta, que ocorreu após a revelação
escrita se completar, a qual ainda está em operação em nossos
dias. Em segundo lugar, o presente estado, embora perfeito por um
lado, é imperfeito quando comparado com o eterno e celestial
estado, o qual será completamente maduro.
Da mesma maneira, há dois aspectos quanto ao término dos
dons aqui mencionados. Primeiro, os dons milagrosos cessaram
quando o Canon do Novo Testamento se completou, pois não se
faziam mais necessários.
Segundo, os dons ordinários do Espírito Santo também cessarão
no fim do mundo, pois foram destinados para este mundo. Mas a
caridade permanecerá na eternidade.
É este segundo estado que ocupa de forma especial a mente do
apóstolo. Portanto, a doutrina que extraímos deste texto é que o
Céu é um mundo de amor.
Estes versos falam de uma época em que o Espírito Santo se
manifestará de forma mais abundante e perfeita. Ele se fará
presente, através da graça do amor, nos corações de todos os
habitantes do céu. O amor será o único dom necessário, sabendo
que ele é o mais perfeito e glorioso de todos, e desfrutado num
estado de perfeição, todos os outros dons serão desnecessários.

I. A CAUSA E A FONTE DO AMOR CELESTIAL.


Deus é a fonte do todo santo e puro amor. Ele habita, num
sentido especial, no céu, que é o Seu palácio, onde Ele se
manifesta a si mesmo de forma gloriosa, e, portanto, segue-se que
Ele é a fonte do amor celestial. Deus é amor (I João 4: 16). Como
Ele é infinito, todo-suficiente, e imutável, o Seu amor é infinito,
inesgotável, e eterno. No céu habita o Deus triuno, de onde procede
cada gota de amor. Deus Pai habita ali, o Pai das misericórdias, que
amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho Unigênito. Deus
Filho habita ali, Aquele que nos amou e a si mesmo se entregou por
nós. Ali Ele permanece agora com Suas duas naturezas, a divina e
a humana, Ele está assentado à destra da majestade (Pai) nas
alturas. Deus, Espírito Santo, também habita ali, e pessoalmente
nos comunica este amor. Tudo isso faz com que o céu seja um
mundo de amor. Esta gloriosa fonte de amor flui através de rios que
deságuam num oceano de amor, no qual as almas resgatadas
podem se banhar em dulcíssima alegria, inundados de santo e puro
amor.

II. OS OBJETOS DO AMOR CELESTIAL.


Primeiro, não há ninguém no céu exceto aqueles que são
amados. E não entrará nela coisa alguma que contamine, e cometa
abominação e mentira; mas só os que estão inscritos no livro da
vida do Cordeiro (Apocalipse 21: 27). Somente os santos anjos e os
remidos estarão lá. Não haverá nenhum falso professo nem fingido,
somente os santos cujo ouro foi purificado de toda a sua impureza.
Segundo, aqueles que estão no céu gozam de um amor perfeito.
O melhor dos santos aqui na terra, embora sendo amado, ainda tem
manchas e defeitos. Mas no céu, cada alma será perfeitamente pura
e amável. Nenhum defeito moral ou natural entrará ali. O Filho de
Deus não mais estará coberto com um véu, como na sua
encarnação, mas será visto na plenitude de sua glória. Para onde
quer que os habitantes deste mundo abençoado direcionem os
olhos, não verão nada exceto dignidade, beleza, e glória.
Terceiro, no céu estarão aqueles cujos santos colocaram seus
corações acima de tudo, enquanto se encontravam neste mundo.
Aqueles em quem suas almas se deleitaram, suas afeiçoes foram
cativadas, em quem se regozijavam e meditavam, pelos quais eles
voluntariamente se submeteram a grandes sofrimentos,
abandonaram pai, mãe, esposa e filhos, e a própria vida, sim, eles
estarão lá. Nós desfrutaremos da companhia dos patriarcas e
apóstolos, assim como de todos os que somente conhecemos pela
sua fé. Acima de tudo, nós habitaremos e desfrutaremos da
presença de Deus, que é todo amor, e estaremos cheios da Sua
plenitude para sempre!

III. OS SUJEITOS DO AMOR CELESTIAL.


Aqui estamos falando daqueles de onde o amor procede. O amor
habita e reina em cada coração da trindade celestial. Ele começa
com Deus, o Pai, que é a fonte de onde se origina todo o amor. Este
amor procede dEle para o Filho, que é tanto o objeto como o sujeito
do infinito amor. Ele é o Amado do Pai, a quem também ama de
maneira perfeita. Este amor entre o Pai e o Filho é mutuamente
santo; um amor puro e santo, onde a deidade se torna, por assim
dizer, uma emoção infinita e imutável do amor.
Este amor transborda para todos os seres criados no céu. Todos
os que estão em Cristo foram amados ainda antes da fundação do
mundo, mas também se tornaram objeto deste amor, refletindo o
amor de Deus assim como os planetas refletem a luz do sol. As
únicas almas presentes no céu são aquelas que amam a Deus com
um coração perfeito.
Todas as pessoas que fazem parte da gloriosa sociedade
celestial estão sinceramente unidas em amor. O coração de Deus,
dos homens, e dos anjos transborda deste amor. Cada pessoa vê a
beleza do amor nos outros com plenitude de gozo. O amor é mútuo,
pleno, e eterno.

IV. O PRINCÍPIO DO AMOR CELESTIAL.


Primeiro, a natureza deste amor é totalmente santa e divina.
Muito do que agora chamamos amor, não passa de emoção carnal,
e procede de princípios e motivos corruptos. Mas o amor celestial é
espiritual, motivado por motivos e objetivos santos. O amor celestial
é verdadeiro por causa do próprio Deus e das pessoas que se
relacionam com Ele.
Segundo, o grau deste amor é perfeito. O amor de Deus é
perfeito, e o amor daqueles que habitam no céu também o é, mas
isso na medida de suas capacidades como criaturas. Não há
orgulho ou egoísmo que impeça o amor celestial, nem inimizades,
invejas, ou desprezo. O amor pela benevolência será desfrutado ao
contemplar a prosperidade de outros, assim como o amor pela
complacência ao contemplar a beleza e perfeições alheias. Não
haverá nenhum santo triste por outro ser exaltado acima dele em
santidade, ou em ser mais amado pelos demais, pois se regozijará
com eles com amor benevolente. Todo homem estará plenamente
satisfeito com Deus e com a sua própria medida de glória. O mais
glorioso será o mais humilde, e assim o orgulho não terá lugar. O de
menor glória não terá inveja dos demais, pois aqueles que estiverem
acima dele, na verdade, serão os mais humildes. Com o perfeito
amor reinando em cada alma, simplesmente não haverá qualquer
tipo de disputa ou guerra no céu.

V. AS MANEIRAS COMO O AMOR É EXERCITADO NO CÉU.


1. Ele é mútuo. O amor busca um retorno e no céu ele será
plenamente satisfeito, sem qualquer tipo de desprezo. O amor de
Deus no céu nos satisfará mais do que ocorre hoje em nossa
presente condição. O Seu amor para conosco, propriamente
falando, não é um retorno ou recompensa, pois foi Ele que nos
amou primeiro. No entanto, a visão do Seu amor irá nos encher de
alegria, admiração, e amor por Ele. Por isso Ele diz: Eu amo os que
me amam (Provérbios 8: 17). Além disso, o amor entre os santos
será sempre recíproco.
2. Ele não poderá ser interrompido pelo ciúme. O amor será tão
sincero que ninguém temerá a lisonja ou hipocrisia. Será como uma
janela aberta em cada peito, de modo que o coração poderá ser
visto por inteiro. Todos serão conhecidos por aquilo que realmente
são. Não haverá suspeitas nem temores deste amor vir a
enfraquecer. Os santos saberão que o amor de Deus continuará
sem nenhuma mudança ou sombra de variação.
3. Ele não poderá ser prejudicado por qualquer coisa interna da
parte dos santos. Nesta terra, muitas coisas impedem este amor,
incluindo o nosso corpo, que limita as nossas expressões de amor
por causa da suas próprias limitações e exigências. Mas no céu não
haverá fraquezas ou mal-entendidos. Seremos perfeitamente
libertos para expressar o nosso amor.
4. Ele será expresso em perfeita sabedoria e decência. Algumas
vezes, aqui na terra, o amor é obscurecido por alguém que o
expressa de maneira indiscreta e inconveniente. Mas no céu, o
amor será expresso em perfeita sabedoria e discrição.
5. Ele não poderá ser prejudicado por qualquer fator externo aos
habitantes do céu. Não haverá distância, mal-entendidos, e nem
desuniões. Mas todos serão unidos num mesmo interesse de servir
e glorificar o mesmo Deus.
6. Ele unirá a todos em um relacionamento íntimo e afetuoso.
Cada habitante será um filho de Deus, e todos irão se relacionar
como irmãos. Haverá uma só família no céu, ou seja, a família de
Deus.
7. Ele irá operar em todos como propriedade mútua e particular.
O amor anseia por propriedade. A linguagem do amor é: O meu
amado é meu, e eu sou dele (Cantares 2: 16). Seremos o particular
tesouro de Deus, e Ele será a nossa herança e porção, de acordo
com a Sua aliança da graça. Além disso, se os santos pertencem
uma ao outro agora, quanto mais quando estiverem glorificados!
Mas a si mesmos se deram primeiramente ao SENHOR, e depois a
nós, pela vontade de Deus (II Coríntios 8: 5).
8. Ele será desfrutado em perfeita e ininterrupta prosperidade.
Na terra, a adversidade, pobreza, e aflição, frequentemente
prejudicam o amor, por afligirem a nós mesmos ou aos outros. Mas
no céu, reinaremos eternamente como reis e sacerdotes para Deus,
herdando todas as coisas. Desfrutaremos não somente da nossa
prosperidade, mas também da de outros, pois compartilharemos de
suas alegrias. Ficaremos tão felizes com a alegria de outros como
se ela fosse pessoalmente nossa.
9. Ele será promovido pelo trabalho em comum de todas as
coisas. Tudo no céu culmina numa fonte de prazer. Tudo conspira a
nosso favor e vantagem. Não há divisões. As distinções
insignificantes deste mundo não farão parte dos traços da sociedade
celestial, mas tudo será delineado igualmente pela santidade e pelo
santo amor. O céu será um jardim de prazeres, onde todas as
coisas apontam para Deus, que será a luz de tudo. E a cidade não
necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a
glória de Deus a tem iluminado, e o Cordeiro é a sua lâmpada
(Apocalipse 21: 23).
10. Ele será desfrutado com a consciência de que é eterno.
Nenhuma mudança ocorrerá ali, a menos que seja para melhor.
Nem o amor nem os objetos dele envelhecerão ou se desgastarão.
Tudo florescerá numa imortal e fresca jovialidade. Os prazeres do
céu serão como o desabrochar perpétuo da primavera em nossas
almas, como um rio que flui incessante e abundantemente, como as
flores de uma eterna primavera, que nunca murcham. As árvores do
céu produzem fruto a cada mês (Apocalipse 22: 2). Não haverá
noite que obscureça a eternidade na luz.

VI. OS EFEITOS FELIZES DESTE AMOR CELESTIAL.


Vamos mencionar apenas dois entre muitos.
Primeiro, considere o comportamento perfeito de todos os
habitantes do céu, tanto para com Deus, quanto uns para com os
outros. Todos os pecados e seus efeitos serão excluídos. Portanto,
todo o nosso comportamento será perfeito. Ninguém ficará distante
ou se desviará da obediência perfeita a Deus. Tudo em nosso
comportamento será santo em sua forma, espírito, e objetivo. De
uma maneira ou de outra, nós louvaremos e serviremos a Deus
continuamente, talvez por servirmos uns aos outros nesta sociedade
grande e unida.
Segundo, considere a tranqüilidade e alegria no céu. O amor
tende a aquietar e acalmar a alma. Ele remove os distúrbios e traz
uma composição feliz. Num lugar onde habita o perfeito amor, não
haverá tempestades e nem nuvens ameaçadoras! Neste mundo,
vemos muitos princípios contrários ao amor como: egoísmo, inveja,
vingança, e coisas semelhantes. Mas no céu, não há inimigos nem
inimizades, nada que perturbe, ofenda, ou cause conflito ou
discussão, somente uma perfeita harmonia e pureza. Não haverá
diferença de julgamentos ou opiniões, nem queixa alguma que
roube a perfeita paz.
Que alegria será entrar neste céu de descanso, esta doce
calmaria, após termos passado pelas tempestades e furacões deste
mundo tão furioso! Que bendita Canaã faremos parte após
passarmos pelo deserto seco e árido, cheio de serpentes e
armadilhas, onde nenhum lugar de descanso podia ser encontrado.
Aqui desfrutamos de fontes de água doce, mas lá, de um oceano.
Permaneceremos diante de Deus com corações abertos e prontos a
receber da plenitude do Seu amor. Cada alma será uma nota de
uma doce sinfonia, que esta em plena harmonia com todas as
demais, que rompem em louvor a Deus e ao Cordeiro para sempre.
O nosso amor será derramado de volta àquela grande Fonte de
amor pela qual somos supridos. A nossa alegria crescerá e será
plena. Tal cena, nunca antes foi vista, nem ouvida, e nem subiu aos
corações dos homens. Nada menos do que isso será a porção que
o povo amado por Deus desfrutará por toda a eternidade!

Para concluirmos, vamos aplicar este tremendo assunto.

I. SE O CÉU É ESTE MUNDO TÃO EXTRAORDINÁRIO,


ENTÃO VEMOS PORQUE AS BRIGAS E PELEJAS
OBSCURECEM A NOSSA EVIDÊNCIA DE ESTRAMOS APTOS A
ESTE LUGAR.
Um espírito faccioso obscurece a certeza da nossa salvação. Ele
remove a tranquilidade do céu em nossos corações. Nossa
comunhão com Deus é interrompida. A discórdia entre marido e
mulher faz com que suas orações não sejam atendidas (I Pedro 3:
7). Quando somos contenciosos, somos menos preparados para o
céu, e temos menos evidências de que estaremos presentes um dia
ali.

II. O POVO DESTINADO AO CÉU É UM POVO REALMENTE


FELIZ.
Há algumas pessoas vivendo na terra agora mesmo, para quem
a felicidade celestial está acima de qualquer possessão terrena que
o homem possa desfrutar. Quem são estas pessoas? Vamos
considerar o caráter delas em três áreas.
Primeira, Elas são aquelas que tem as primícias das coisas
celestiais implantado em seus corações através da regeneração.
Eles não nasceram simplesmente com um grau elevado de amor
natural, mas nasceram de novo, e são portadores de um amor
supernatural. É uma obra gloriosa, o fato de o Espírito Santo ter
derramado em suas almas o amor celestial.
Segunda, Elas são aquelas que escolheram livremente a
felicidade celestial em detrimento de qualquer outro tipo de
felicidade concebível.
Elas são convictas, não simplesmente convencidas por
argumentos racionais, mas por que já provaram deste amor. O amor
a Deus e aos irmãos, a comunhão com Deus e com pessoas que O
temem, é o que elas apreciam acima de tudo. Eles buscam isso
mais do que qualquer outra coisa. Eles não escolheram isso apenas
como um escape ou fuga desta vida cheia de tristezas e dor. Mas ao
invés disso, elas escolheriam amar a Deus mesmo que lhes
oferecessem uma vida cheia de felicidades terrenas e infindáveis.
Terceiro, elas são aquelas que, por causa do princípio do amor
divino, lutam pela santidade. O amor santo faz que elas anseiem por
santidade. Entretanto, elas lutam por causa da tendência do pecado
em afastá-las desta santidade, de uma vida frutífera, e de uma
experiência profunda de comunhão com Deus. O Cristão nunca
acha que suas mãos e seu coração estão limpos e santos o
suficiente. Sua luta não é por causa do temor, mas devido ao desejo
ardente de ver este amor aperfeiçoado. O santo amor clama por
liberdade.
III. O IMPENITENTE DEVERIA SER DESPERTADO E
ALERTADO.
Primeiro, eles deveriam ficar transtornados por não terem parte
ou direito neste mundo de amor. Eles nunca conhecerão este,
perfeito, glorioso e abençoado estado. Como Neemias disse a
Sambalate e seus companheiros: mas vós não tendes parte, nem
justiça, nem memória em Jerusalém (Neemias 2: 20). Se a um
pecador impenitente for permitido entrar no céu, isso seria
totalmente repugnante para a felicidade das almas que lá se
encontram. O céu não seria mais o céu. Ao invés de um mundo de
amor, ele se transformaria em um mundo de ira, orgulho, inveja,
malícia, e vingança, como este presente mundo.
Segundo, eles deveriam ficar transtornados por estarem em
grande perigo de serem lançados no inferno, um mundo de ódio.
Podemos dizer que há três mundos: um de amor; outro de ódio, e o
presente, que é uma mistura, o que prova que ele não poderá
continuar para sempre. No inferno, nenhum objeto é amável ou
agradável, nada é puro, santo ou prazeroso. Tudo é detestável,
repugnante, sórdido, horrível, abominável, e odioso. É um covil de
serpentes que sibilam o tempo todo, satanás e toda a sua ninhada.
Deus odeia a todos no inferno com ódio perfeito. Ele não exercita
o amor e nem a misericórdia para com eles, mas derrama sua ira
sem medida. Deus criou o inferno como um testemunho eterno da
Sua ira contra o pecado e todos os ímpios. O inferno é um mundo
inundado de ira, um dilúvio de fogo líquido, por isso é chamado de
lago de fogo.
Todos os habitantes do inferno odeiam a Deus. Eles nunca
sentirão qualquer amor por Ele. Além disso, é um lugar de
manifestação de ódio uns para com os outros. A única coisa em que
concordam é a blasfêmia e o ódio contra Deus. Os demônios no
inferno ainda continuarão a atormentar os homens, assim como
fizeram nesta vida. E os homens continuarão a agir como demônios
para com seus semelhantes.
No inferno, o orgulho, a malícia, a vingança, e tudo que é oposto
ao amor e a paz, será praticado sem limites. Deus não exercerá ali a
sua graça restritora. Embora os pecadores tenham os seus
companheiros nesta vida, no inferno, eles não serão mais
companheiros, mas inimigos. Assim como eles incentivavam um ao
outro na prática do pecado, ali eles promoverão o castigo um do
outro.
Se você está em pecado, apartado de Cristo, nunca nasceu de
novo, é um estranho quanto ao amor e a santidade, então considere
isto: A menos que você se arrependa, você encontrará esta
realidade para sempre. Como você poderia ficar tranquilo agora?
Como você pode negligenciar a condição de sua alma com uma
realidade tão horrível te esperando na eternidade? Fuja
imediatamente para a fortaleza da redenção em Jesus Cristo, e isto
antes que a porta da esperança se feche, o seu destino seja selado,
e suas agonias comecem.

IV. VAMOS TODOS BUSCAR DILIGENTEMENTE O CÉU.


Este glorioso mundo de amor nos é oferecido, e não é algo
impossível, mas algo que podemos obter. Deus está pronto a nos
dar uma herança ali, se verdadeiramente desejarmos, escolhermos,
e buscarmos isso. Deus nos permite escolher. Teremos uma
herança no lugar que escolhermos.
Que as verdades que consideramos mude a nossa face e os
nossos passos em direção ao céu. O desejo ardente pelo céu
deveria nos estimular a buscá-lo de todo o nosso coração. Após
ouvir um pouco sobre este mundo de amor, você se cansou deste
presente mundo de discórdias, confusão, calúnia, e crueldade?
Você poderia estar feliz em um mundo assim? Quem em sua sã
consciência colocaria o seu coração neste mundo? Além disso, os
tesouros deixados neste mundo, nunca serão desfrutados no
inferno.
No céu nós encontraremos o restante daquilo que almejamos.
Quando deixarmos esta terra, também deixaremos os nossos
cuidados, problemas, fadigas, perplexidades, e angústias.
Aqueles que são pobres e desprezados entre os homens não
devem se chatear ou se aborrecer por tais circunstâncias. Mas
antes, busque as coisas que são de cima, onde não há pobreza
nem desprezo, pois todos são honrados, estimados, e amados por
todos. Não odeie aqueles que abusam de você, mas coloque o seu
coração no céu, naquele mundo de amor.
Finalmente, vamos considerar algumas maneiras de se buscar
as coisas celestiais.
Primeiro, não permita que o seu coração se apegue as coisas
deste mundo como se fossem o seu bem maior. Não se entregue às
possessões terrenas a fim de satisfazer a sua alma, pois isso é o
oposto de se buscar as coisas celestiais. Você não deve permitir
que a ambição pelas coisas deste mundo ocupe os seus
pensamentos ou tempo, trazendo um amontoado de pó de coisas
mundanas para seu coração e mente. Mortifique os desejos pela vã
glória, e torne-se pobre de espírito.
Segundo, procure envolver-se com pessoas que possuam
objetivos e motivações celestiais. Se você verdadeiramente busca
as coisas que são de cima, os seus pensamentos também estarão
lá. Portanto, pense e medite muito sobre o amor de Deus, os anjos e
os santos naquele mundo de amor, e os privilégios e gozo que
haverá ali. Que o seu pensamento esteja ali.
Terceiro, esteja contente em passar pelas dificuldades que
aparecem no caminho para o céu. A cidade celestial está situada no
topo da montanha, e o caminho para lá é cheio de dificuldades e
montanha acima. Mas o que é tudo isso comparado com o doce
descanso que te espera no final? Quanto mais perto de alcançar
aquela cidade, mais você ficará animado pela perspectiva daquilo
que te aguarda.
Quarto, mantenha seus olhos fixos no Senhor Jesus Cristo. Ele
já entrou no céu como nosso precursor. Pense nEle. Ele é a nossa
justiça que abre a porta do céu. Ele é o nosso mediador e está
sempre intercedendo por nós. Ele é o nosso exemplo de suportar
com paciência os grandes sofrimentos. Ele é quem nos fortalece e
nos capacita a seguir em frente e conquistar cada inimigo que em
nosso caminho. Ele é a certeza de que herdaremos as santas e
benditas promessas de Deus.
Quinta, se você deseja viver eternamente neste mundo de amor,
viva agora uma vida de amor, amando a Deus e aos homens. Desta
maneira, somos semelhantes às almas presentes no céu,
confirmamos aquilo que professamos, e evidenciamos o nosso
preparo para fazermos parte deste mundo de amor. Enquanto vive
uma vida de amor, você encontrará as janelas do céu abertas e a
sua luz a iluminar a sua alma. Logo, a mesma graça que colocou o
céu em sua alma, também irá levar a sua alma para o céu. Feliz,
três vezes feliz, você será quando entrar no gozo da presença do
Senhor. Que gozo inefável e glorioso é conhecer a realidade destas
palavras: E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o
tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles
serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu
Deus.

“E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá


mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as
primeiras coisas são passadas” (Apocalipse 21: 3-4).
Dados técnicos

O Amor Bíblico e Seus Frutos – Uma Exposição de 1 Coríntios 13 -


Jonathan Edwards
Um sumário de Charity and Its Fruits, editado por Daniel A.
Chamberlin.

Publicado pelo ministério PalavraPrudente, São José dos


Campos, SP.
Copyright © 2016

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação


pode ser vendida sem a permissão expressa por escrito do
ministério PalavraPrudente.

Tradução: Eduardo Alves Cadete


Formatação para e-book: Daniel Gardner
Capa: Daniel Gardner

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta


tradução são da versão Almeida Corrigida Fiel | ACF • Copyright ©
1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Você também pode gostar