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Lilezia Bandim Marcal

QUEBRE
O COPO

2022
QUEBRE O COPO
Copyright © 2023
Lilézia Bandim Marçal

Categoria: Autoajuda
1ª Edição: Janeiro - 2023 Coordenação
Editorial
Todos os direitos nacionais Lilézia Marçal
e internacionais desta edição
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Edição
É proibida a reprodução Lilézia Marçal
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e por escrito do autor. A Thaís Monteiro
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Marcos Bueno
@lila_bandim

Lilezia Bandim

+61 493 513 059


Lilezia Bandim Marçal

3
SUMÁRIO
Dedicatória 07
Prefácio 09
Introdução 13

Capítulo 01 15
Quem leva em conta o que o bêbado diz?

Capítulo 02 23
A história do tio Carlos

Capítulo 03 33
Mude para melhor e para sempre

Capítulo 04 37
A verdade por trás de um gostoso
trago de cigarro

Capítulo 05 47
Quebrando o copo

Capítulo 06 51
Escolha vida

5
DEDICATÓRIA
Ao meu querido pai que ensinou-me a
vida sóbria com o seu próprio exemplo,
abstendo-se do álcool e do cigarro.
Este livro é dedicado ao senhor
ÁLVARO FERREIRA
Com todo meu amor, respeito e
gratidão.

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PREFÁCIO

“Enough is enough.”
Talvez você nunca tenha ouvido
ou lido essa frase em inglês, mas já a
tenha dito alguma vez em português
quando se sentiu saturado por uma
situação.
Já é suficiente, chega!
Foi assim que me senti quando
ouvi a notícia de mais um tio que
falecera em consequência do abuso
do álcool.
Até então tinham sido tios de
segundo grau ou pessoas mais
distantes que eu havia perdido. Desta
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

vez estava perdendo um “tio-irmão”,


se assim pudesse chamar.
Não aguento mais ver o “espírito”
do alcoolismo destruir vidas na
minha família, preciso levantar um
clamor e súplica aos que ainda não
se libertaram do vício: quebre o copo!
Este não é um livro religioso,
não tem qualquer teor científico ou
psicológico sobre vícios nem se
propõe a esgotar o assunto.
Trata-se apenas de um coração
movido pela compaixão e dor, que
tenta ser como a abelhinha que tentava
apagar um incêndio carregando
gotinhas de água até a floresta em
chamas. “Talvez não consiga apagar
o incêndio”, respondeu a abelhinha
ao ser criticada, “mas não consigo
assistir ao incêndio com indiferença,
preciso fazer tudo que posso”.
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

Que este livro seja a “gotinha” de


água que faltava na sua vida, para
tomar uma decisão radical contra
o vício e dizer: “Chega! Até aqui, e
não mais…”, e quebrar o copo para
sempre!

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INTRODUÇÃO

Eu estava revendo meu tio Carlos


depois de três anos, mas não
acreditava no que eu via. Meu tio
parecia mais novo e mais bonito.
O seu rosto, antes magro e com os
ossos da face um tanto salientes,
agora era um rosto cheio e com uma
pele rosada e saudável. Por toda
minha vida eu o conheci magrinho,
mas agora ele estava robusto. Fiquei
impressionada e disse-lhe repetidas
vezes o quanto o achei mais bonito,
mais novo e com o aspecto saudável.
Tio Carlos só sorria e não me dava
qualquer explicação para aquela
mudança tão notória.
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

Foi só algum tempo depois que


tio Carlos contou a história de sua
libertação do vício do álcool e do
cigarro, que vou compartilhar com
você neste livro¹.

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As histórias relatadas neste livro são verídicas, apenas
os nomes são fictícios para preservação da identidade
dos envolvidos.

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CAPÍTULO 01
QUEM LEVA EM CONTA
O QUE BÊBADO DIZ?

O
bêbado chega bem no meio
do ônibus e grita:
- Desse banco pra frente
todo mundo é idiota e daqui pra trás
todo mundo é ladrão!
Ouvindo isso, alguns passageiros
se levantam e começam a ameaçar
bater no bêbado. O motorista, para
evitar a confusão, freia bruscamente
e todos são jogados pra frente
do ônibus. Inconformado, um dos
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

passageiros levanta, pega o bêbado


pelo pescoço e pergunta:
- Quem é idiota e quem é ladrão
aqui, seu bêbado safado?
O bêbado responde:
- Agora eu não sei mais, misturou
foi tudo!
Como essa, há muitas piadas de
bêbado e talvez você, como eu, já
tenha sorrido ao ouvi-las. Talvez
você já tenha visto cenas de pessoas
embriagadas falando palavras sem
sentido ou agindo de forma idiota.
Ou quem sabe você já tenha
até sofrido algum tipo de violência
doméstica do pai ou de um irmão
embriagado. Se esse foi o seu caso,
é possível que só o fato de falar sobre
pessoas embriagadas lhe suscite
dor pelo trauma vivido.
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

Saiba, porém, que, se você é uma


pessoa que tem alguma história de
intoxicação pelo álcool, este livro é
especialmente para você.
Não importa se o efeito do álcool
o torna uma pessoa divertida ou
violenta, a verdade é que Deus nunca
vai sorrir ou rejeitar um ser humano
que Ele criou com tanto amor, por
vê-lo sendo vítima do abuso do álcool
ou vê-lo sendo alvo de chacotas ou
violência daqueles “sóbrios” que se
acham “justos”, mas que não veem
você da forma que Deus o vê.
O olhar de Deus para qualquer ser
humano embriagado será sempre
um olhar de amor e compaixão,
esperando vê-lo liberto e vivendo
uma vida próspera e sóbria.

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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

A resposta de Deus para qualquer


ser humano é o que está escrito em
Jeremias 29:11:
“Porque eu bem sei os
pensamentos que penso de
vós, diz o Senhor; pensamentos
de paz, e não de mal, para vos
dar o fim que esperais.”
Mas será que Deus ouviria um
bêbado?
Bom, ao longo deste livro, vou
contar a história verídica de um
homem que foi preso pelo vício do
álcool por grande parte de sua vida e
hoje é completamente liberto.
Espere, não jogue o livro para
o lado, não vou pregar para você
virar crente com o objetivo de ser
liberto do álcool. Seria bom, mas não
é esse o propósito deste livreto. A
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

intenção é contar a verdade por trás


da vida de uma pessoa escravizada
pelo álcool, através da história
do meu tio Carlos, que foi liberto
completamente do vício.
Dentro do peito de um bêbado
bate um coração precioso que clama
por amor, necessita de ajuda e da
graça de Deus.
O corpo de um bêbado pode estar
desgastado pelo vício, o fígado pode
estar comprometido, a pele sem vida,
o rosto marcado pela dor, mas lá
dentro dessa pessoa existe uma alma
mais preciosa que o diamante e que
pode ser completamente restaurada
pelo amor incondicional do Pai e
Criador, através do sacrifício do seu
filho Jesus, na cruz do Calvário.
Mas as perguntas continuam:
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

Quem leva em conta o que um


bêbado diz?
Será que Deus ouve a oração de
um bêbado?
Ora, a Bíblia diz que o povo de uma
cidade chamada Nínive era muito
mau, a ponto de Deus ter enviado um
profeta para anunciar a destruição
da cidade. Mas esse mesmo povo
reconheceu seu estado de pecado,
clamou a Deus e Deus os ouviu e os
poupou da destruição (Jonas 3:5-10).
Em outra história, um rei por nome
Acabe fez coisas abomináveis aos
olhos de Deus a ponto de até causar a
morte de bebês, e ele também recebeu
uma mensagem de que seria destruído.
Quando aquele rei se arrependeu e
orou a Deus, Deus o ouviu.

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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

Não foi diferente com o meu


tio Carlos, cuja história ele conta
emocionado hoje em dia e compartilho
a seguir.

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CAPÍTULO 02
A HISTÓRIA DO TIO CARLOS

E
u já tinha tentado parar de beber
muitas vezes, mas o diabo não
me deixava parar. Até então
não tinha conseguido parar porque
não tinha pedido a Deus com tanta
fé.
Mas foi no dia 25 de novembro de
1994, às 23 horas que, como muitas
vezes antes, cheguei em casa
extremamente embriagado, sujo e
com fome.
Fui direto ao banheiro com uma
grande cólica, porque o álcool estava
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

estragando o meu fígado, mas não


conseguia nem defecar, pois não
tinha me alimentado o dia todo e
não tinha nada no intestino. Vomitei
muito e sentia-me bastante mal e
angustiado. Minha esposa, vendo
aquele quadro, chorava.
Clamei a Deus por uns 40 minutos,
ali mesmo, sentado na privada,
em imensa agonia. Com todo meu
coração, pedi que Ele me tirasse
dessa vida.
Eu perguntei a Deus por que eu
bebia tanto, se eu tinha uma esposa
boa e carinhosa, tinha minhas duas
filhas e a terceira estava prestes a
nascer. Eu senti muita fé naquela
hora.
Ali eu reconheci que não podia
continuar naquela vida. O álcool já
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

estava afetando meu físico. Eu via


meu pescoço fino, de tão magro,
pernas inchadas, não parecia que
era eu. Já não dormia na cama com
minha esposa, dormia no chão da
sala, nem banho tomava.
Tomei consciência, naquele momento,
de que eu não podia me livrar sozinho,
senti como uma força de Deus vindo
sobre mim, ali naquela privada.
As lágrimas corriam do meu rosto,
minha esposa carinhosamente me
chamava para sair do banheiro.
Sem entender por que eu estava
demorando tanto, ela insistia comigo,
perguntando se eu estava bem, se
eu queria comer, e dizia: - Ele está
tão bêbado que nem consegue falar.
Minha esposa não sabia que ali eu
estava tendo uma experiência com
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

Deus, pedindo a Ele com todas as


minhas forças que me ajudasse a
ser liberto.
De repente senti vir sobre mim
uma força sobrenatural e consegui
me levantar. Depois ainda tomei uns
tombos. Minha esposa perguntou:
- Mô, o que é isso? - Eu respondi:
- Nada não, é o cão que está saindo
de mim.
Saí do banheiro aos trancos, quase
caindo, e fui ao chuveiro. Meu corpo
estava todo arrepiado, mas não era
de frio, era algo ruim saindo de mim,
algo fora do comum.
Eu pensava comigo: Graças a
Deus, Jesus está me ajudando, este
cão está saindo de mim.

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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

Naquele banheiro, pedi a Jesus


que fizesse com que eu passasse
30 dias sem sair de casa para beber.
Eu repeti o pedido a Deus, ali no
banho, por umas três vezes fazendo
o pacto com Deus de não sair de
casa para beber. Acabei o banho e
saí do banheiro uma outra pessoa,
sentindo-me bem.
Minha esposa ainda chorava, mas
serviu a comida e eu comi bem.
A comida pareceu saborosa, como
há muito eu não percebia, eu me
sentia um outro homem.
Naquela noite, de banho tomado,
com roupas limpas, alimentado e me
sentindo bem, já voltei a dormir na
minha cama com minha esposa. Ela
me perguntou se eu estava sentindo
alguma coisa e eu disse: - Sinto o
melhor alívio da minha vida.
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

No dia seguinte, acordei para


ir trabalhar. Meus empregados já
tinham todos me deixado porque eu
gastava o dinheiro com bebida e não
era certo com o pagamento deles,
além disso faltava dinheiro porque
eu também não trabalhava o quanto
devia.
Por volta das 8 horas da manhã o
grupo de “amigos de copo” passou
em frente ao meu estabelecimento
e me chamou para a barraca do Sr.
João, como de costume. Eu disse que
não iria. Insistiram, mostrando-me o
prato de “tira-gosto”. Eu disse: - Não
vou agora, mais tarde eu passo lá.
Minha esposa e filha pediram-me
para eu não ir e eu disse que não iria.
Por volta das 11 horas bateu uma
tentação na minha cabeça: Vamos
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

tomar uma, vamos, vamos... Era uma


perturbação muito forte na minha
mente, insistindo para que eu fosse
beber. Foi tão perturbador que eu já
não acertava fazer nada. Fui até a
cozinha e disse para minha esposa
que o diabo estava me perturbando
e eu não estava mais aguentando,
teria que ir para a barraca do Sr.
João. Ela segurou no meu braço e
implorou para que eu não fosse, mas
eu disse que, se eu não fosse, eu
enlouqueceria porque a perturbação
era dentro da minha cabeça.
Então eu tomei posição e disse:
- Eu vou, mas também vai ser a
última vez, vou tomar uma e volto
pra nunca mais beber.
Quando cheguei na barraca, os
“amigos de copo” fizeram uma festa:
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

- Ele veio, eu bem que disse que ele


viria!
Pedi ao Sr. João dois copos
cheios de cachaça (a minha pedida
costumeira era de dois a três
dedos num copo). O Sr. João ficou
assustado com o pedido de dois
copos e me perguntou se eu estava
bem, o que estava acontecendo.
Quando o Sr. João me viu bebendo
um copo inteiro de aguardente de
uma vez, como quem bebe água,
ele começou a chorar e disse: - Meu
filho, o que está acontecendo com
você?
Eu disse a ele: - Esta é a última
vez que bebo aguardente.
Acabei de beber um copo, peguei
o outro copo e disse a Satanás,

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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

com muita raiva: - Toma, Satanás


do inferno, tu queres beber tu bebes
agora sozinho porque, de agora em
diante, eu não vou mais beber!
Joguei o copo com aguardente e
tudo numas madeiras que estavam
perto da barraca, com muita força e
muita raiva do diabo – o copo ficou
em pedaços.
Perguntei ao Sr. João quanto eu
lhe devia, e ele, ainda chorando,
disse: - Você não me deve nada,
meu filho... Chorava eu e o Sr. João.
Passei 30 dias sem sair de casa,
como tinha prometido a Deus, já que
minha oficina era na minha casa.
Quando precisava de material, pedia
a algum amigo que comprasse para
mim, mas não saí de casa por um
mês inteiro.
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

Ao fim de um mês, minha esposa


me disse que tinha uma consulta
marcada para mim, com a melhor
médica da cidade. Eu fui. Contamos
a situação e a médica passou uma
bateria de exames.
Quando ela viu os resultados, me
deu uma bronca e pediu a minha
esposa que não me fizesse raiva
para eu não me vingar, indo beber
novamente. As taxas alteradas foram
corrigidas com medicação e eu voltei
ao normal.
Desde então nunca mais tomei
bebida alcóolica.”

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CAPÍTULO 03
MUDE PARA MELHOR
E PARA SEMPRE

T
alvez você conheça algumas
pessoas que, como o tio
Carlos, tenham tentado muitas
vezes deixar o vício do álcool e não
conseguiram, porque certamente
tentaram com as próprias forças.
Não tenho intenção aqui de lhe dar
uma aula sobre a dependência do
álcool numa perspectiva fisiológica
e muito menos lhe dar uma “lapada
de Bíblia” na cabeça, tentando
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

explicar sobre pecado. Absolutamente


nenhuma das intenções acima.
Mas espero que você, como eu,
possa perceber algumas verdades
na história do meu tio Carlos e que, se
você acreditar e colocar em prática,
sua vida mudará para melhor e para
sempre.
A verdade liberta, mas só quando
a vivemos; não basta ouvi-la,
precisamos conhecê-la no nível do
coração e vivê-la.
As verdades sobre a libertação do
tio Carlos podem ser hoje as mesmas
verdades que libertarão você:
1. Ele tomou consciência do seu
estado de miséria e reconheceu
que não podia continuar
naquela vida.

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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

2. Ele entendeu que a luta era


espiritual, contra o próprio diabo,
não era simplesmente algo
pessoal, a nível humano.
3. Ele reconheceu que não tinha
condição de vencer aquela
luta sozinho e buscou ajuda na
pessoa certa, Jesus.
4. Uma vez liberto, tomou posição
e continuou firme em sua
decisão.

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CAPÍTULO 04
A VERDADE POR TRÁS DE UM
GOSTOSO TRAGO DE CIGARRO
“Se, pois, o Filho [Jesus] vos
libertar, verdadeiramente sereis
livres.” (João 8:36)
“E conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará.” (João
8:32)

E
u já estava liberto da bebida,
mas continuava fumando - meu
tio Carlos continuou contando.
Enquanto eu ouvia a sua narração,
me veio à memória uma palavra
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

que ouvi num sermão, na Austrália,


através de um CD que me foi dado
na entrada de uma igreja.
O *pregador disse que há pelo
menos três formas de aprendermos
na vida: a forma FÁCIL, a forma
DIFÍCIL e a forma TRÁGICA.
A forma fácil é quando aprendemos
pelos ensinos deixados para nós na
Bíblia, ou mesmo por ver ou ouvir
a história de erros dos outros. Aí
tomamos a lição como exemplo para
não cometermos os mesmos erros
e sofrermos as consequências. É
fácil, não temos qualquer prejuízo
nesta aprendizagem e podemos nos
poupar de muitas dores e perdas,
aprendendo pelos erros dos outros.
A forma difícil é quando temos
que sofrer as consequências de um
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

erro para só então aprendermos


a não o cometer novamente. Por
exemplo: alguém dirige de forma
irresponsável, toma multas ou perde
o carro completamente num acidente,
para aprender a obedecer às leis de
trânsito. Há dor, mas passageira, há
perdas, mas recuperáveis; porém as
lições só são aprendidas depois, de
forma difícil.
A última e mais triste é a forma
trágica de aprendermos na vida.
Nesta só aprendemos quando
sofremos uma perda grave e
irreversível. Por exemplo, a pessoa
que perdeu um membro do corpo
num acidente por não usar o cinto
de segurança. Depois dessa perda
ela vai dizer para as pessoas
como é perigoso não pôr o cinto de
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

segurança. Ou aquele esposo que


destruiu o casamento por conta do
vício do jogo. Por mais que aprenda
a não gastar novamente seu dinheiro
no jogo, nunca mais terá a esposa e
a família de volta.
No entanto, quer a pessoa
aprenda da forma fácil, difícil ou
trágica, importa que aprenda, pois a
última classe é aquela das pessoas
que ouvem, sabem de verdades,
mas nunca as tomam por lição e,
infelizmente, algumas morrem no
erro sem nunca aprender.
Que este não seja o meu nem o seu
caso, mas que possamos conhecer
a verdade e esta nos liberte!
E assim continuou o tio Carlos
contando como “aprendeu” a verdade
por trás de um gostoso trago de
cigarro.
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

“Por muitas e muitas vezes eu


tentei deixar de fumar antes. Eu
jogava a carteira de cigarro e o
isqueiro fora, no outro dia ia comprar
outro e voltava a fumar. Eu estava
fumando duas carteiras de cigarro
por dia.
Naquele ano de 1988, num
sábado eu fui à casa do meu amigo
caminhoneiro, o Márcio. Quando
ele falou comigo, eu achei sua voz
diferente. Sem que eu perguntasse,
o Márcio começou a contar que
naquela semana ele estava na
estrada viajando e desmaiou. Quando
ele tornou, estava com policiais
rodoviários à sua volta. Perguntou
o que houve e os policiais disseram
que ele tinha desmaiado e por pouco
não causou um grave acidente. Os
policiais levaram-no para um hospital
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

e ele só havia chegado em casa na


sexta-feira.
O Márcio mostrou-me um caroço
no pescoço, do lado esquerdo, e
eu o adverti a procurar um médico
com urgência. Com a voz rouca, ele
me respondeu: - Isto não é o que tu
estás pensando, cara!
Quando voltei para casa eu disse
pra minha esposa: - O Márcio está
com um câncer na garganta. - Mas
ela não acreditou.
Na segunda-feira meu amigo foi
internado e já voltou para casa sem
voz. O médico o operou, mas terminou
a cirurgia e disse à família que o
câncer já estava muito avançado e
que não podia fazer mais nada. O
Márcio voltou para casa depois de
11 dias no hospital.
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

Como amigo de longa data, ele


escreveu num papel (já que não
conseguia mais falar) que mandassem
me dizer que ele queria falar comigo.
Voltei até a sua cidade e fui visitá-lo.
Aquele já não era o Márcio que
eu conhecia, mas uma caveirinha
na cama. Ele estava irreconhecível.
Fazendo gestos com muito esforço,
ele me disse: - Carlos, deixa de
fumar.
O que o Márcio não sabia era
que, desde o sábado em que ele me
contou do desmaio e me mostrou
o tumor no pescoço, eu voltei para
casa e tomei uma decisão. Peguei
minha carteira de cigarro e ainda
lembro que tinha 14 cigarros.
Naquele momento, vendo em minha
memória o tumor do Márcio e sua
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

história de desmaio, eu decidi parar


de fumar definitivamente. Joguei os
cigarros e o isqueiro fora para nunca
mais comprar outros novamente.
Mas, como que um teste à minha
decisão de parar de fumar, algo
interessante me aconteceu.
Cinco dias após aquela decisão,
fiz um serviço pequeno na casa de
uma conhecida, a Sra. Santana, e ela
me pagou parte do valor em espécie
e me deu uma carteira de cigarro
nova como parte do pagamento.
Surpreso, eu olhei para ela e para
sua filha Tânia. A Tânia sorriu e a
Sra. Santana, sem entender nada,
me perguntou: - Você não quer o
cigarro? - Ao que a filha explicou,
dizendo: - Mãe, é que faz cinco dias
que o Carlos deixou de fumar. - A Sra
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

Santana reagiu dizendo: - Então me


devolve isso e eu lhe pago em dobro.
Eu respondi: - Não devolvo a
carteira de cigarro e vou mostrá-la
que daqui a 10 anos a senhora pode
me pedir e terei a carteira intacta
como está agora. A Sra. Santana
duvidou e eu lhe prometi que em
dez anos eu iria voltar à sua casa e
provar o que estava dizendo.
Uma vez, depois disso, o esposo
da Sra. Santana veio à minha casa e,
depois de tomar um café, perguntou-
me se ele podia ter um cigarro daquela
carteira, caso eu ainda a tivesse.
Eu respondi que tinha, mas não
a abriria, porém não me importaria
de ir comprar outra para ele, porque
aquela carteira de cigarro eu não
abriria e lhe contei a razão.
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

No dia que se completaram cinco


anos de minha promessa, fui à casa
da Sra. Santana com a carteira de
cigarro intacta e lhe mostrei, como
havia dito.
Deus me libertou do cigarro
também, eu venci o vício da bebida
e do cigarro.”

46
CAPÍTULO 05
QUEBRANDO O COPO

V
ocê já levou uma surra da mãe
ou pai, quando era pequeno,
por quebrar um copo em
casa?
Ainda lembro a história triste, mas
engraçada, do meu amigo Jonas,
contada muitos anos atrás, de sua
lembrança dolorosa de quando alguém
quebrava um copo em sua casa.
Jonas e seus irmãos eram criados
pela madrasta e viviam em muita
pobreza. Assim, quando algum dos
meninos por acidente quebrava
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

um dos poucos copos que tinham,


a madrasta batia em todos “para
aprenderem a não quebrar copos”.
Os meninos cresceram, começaram
a trabalhar e se mudaram para São
Paulo.
- Ah, que bom, agora temos
dinheiro, moramos sós (sem a
madrasta) e podemos comprar
muitos copos - comentavam entre si.
Assim contou meu amigo de um
jeito bem engraçado: - Às vezes, no
fim de semana, sentávamos para
conversar, comer juntos e então
podíamos até comprar refrigerantes
e beber à vontade. Mas, depois de
beber o refrigerante, jogávamos
o copo para trás, de propósito, e
só ouvíamos o estralar dos vidros
quebrados no chão. Aí todos ríamos
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

e dizíamos: “Agora podemos quebrar


copos, estamos livres, não temos a
madrasta para bater em nós e ainda
temos dinheiro para comprar muitos
copos!”
Essa é uma história verídica de um
amigo meu no Brasil, que ainda vive
e pode confirmar sua veracidade.
Assim como também verídica e
atual é a história do tio Carlos, que
ainda está bem vivo e saudável
e conta a sua própria história de
quebra de copo.
O tio Carlos só quebrou um copo,
quebrou “com muita raiva do diabo”,
diz ele. Aquele foi o seu último copo.
Aquele foi um copo para dizer ao
diabo que agora estava liberto “do
copo”, agora estava escolhendo
vida, agora teria dinheiro, teria sua
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

família de volta. Agora, quebrando


aquele copo, ele jamais beberia
álcool novamente.
E você? Quer força e coragem
para quebrar o copo e conquistar
tudo o que o álcool roubou de você?

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CAPÍTULO 06
ESCOLHA VIDA

A
o escrever este livro, tenho
o meu coração partido por
uma dor, lágrimas nos olhos e
uma saudade que não tem medida,
saudade do meu tio Beto, que partiu
há menos de dois anos.
Um dia eu estava no trabalho
e recebi notícias pelo WhatsApp
de que o meu tio Beto havia sido
socorrido e levado para o hospital
local em estado crítico. Por causa da
COVID-19 a família não podia ficar
com ele, mas ouvia os seus gritos de
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

dor ecoando pela janela do hospital.


Como aquela notícia partiu meu
coração! Pedi licença no trabalho e
fui para uma salinha chorar.
Tio Beto era apenas nove meses
mais velho do que eu e havíamos
crescido juntos. Ele era alto, bonito
e muito inteligente, mas estava
sofrendo e eu me sentia impotente
ao ouvir tal notícia.
Aquela internação era só uma
entre muitas que ele teve e, depois
de sofrer muito, veio a óbito com
diversas complicações de saúde
causadas pelo abuso da ingestão do
álcool.
Seu funeral foi ainda mais triste,
pois, por conta da COVID-19, poucos
familiares puderam estar presentes
e assistiram à distância.
52
Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

Mas a distância maior foi a minha,


que acordei de madrugada (dada a
diferença de fuso horário) e assisti
àquele momento triste, àquela
despedida fria do meu tio, através
de videochamada feita por minhas
queridas primas.
Meu tio se foi ainda aos seus 56
anos, deixando para trás sua linda
família, seus netinhos ainda bebês
que talvez nunca se lembrem do avô
que os deixou para sempre.
Portanto, ao escrever este livro,
eu não tenho intenção de julgar você
por gostar de beber. Se você aprecia
a bebida alcóolica e está feliz assim,
eu não o critico nem tenho intenção
de fazê-lo sentir-se mal.
Mas, acredite, sinto uma profunda
compaixão por você e peço a Deus
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

que abra seus olhos para enxergar


a força maior que o prende ao vício.
Talvez você diga: - Mas não sou
viciado, só bebo quando quero e
sou feliz assim. - Meus tios também
passaram por esse estágio, mas a
dependência física foi gradativamente
os dominando, o que pode acontecer
com qualquer ser humano.
Você foi criado para viver muito e
viver bem. Você foi criado com um
propósito e possibilidades de uma
vida próspera e feliz.
Mas igualmente você também foi
criado com o livre-arbítrio para fazer
escolhas. Como já disse alguém: -
Você é livre para escolher, mas se
torna escravo de suas escolhas.
Portanto, escolha vida.

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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

Escolha saúde!
Escolha libertação do vício do
álcool e tenha uma vida longa para
ver seus netos, bisnetos e ter uma
vida feliz na Terra. A escolha é sua!
Lembre-se de que sua vida,
da forma como a conduz, está
influenciando os seus descendentes.
Você ensina mais com a forma como
vive do que com palavras. Portanto,
reflita que influência o seu hábito
de tomar bebida alcóolica está
exercendo sobre seus filhos, netos
ou mesmo pessoas conhecidas.
Já disse alguém com muita
propriedade: - Naquilo que nós
andamos, nossos filhos correm e
nossos netos voarão. -Significando
que o que aprenderem de nós os
nossos filhos e netos o farão com
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

muito maior intensidade, de forma


mais avançada.
Você está influenciando outros
muito mais do que imagina. Se você
não acredita ter muito prejuízo com
seu vício do álcool ou do cigarro, mas
sabe que seus descendentes talvez
não tenham o mesmo equilíbrio,
será que não valeria se abster para
deixar-lhes o exemplo?
Lembre-se de que você pode
escolher “quebrar o copo” hoje e
deixar um exemplo de vida para as
gerações depois de você!
Meu tio Carlos e meu tio Beto
tiveram ambos os mesmos pais,
a mesma educação, as mesmas
oportunidades na vida. Um sofreu
horrivelmente e se foi ainda muito
cedo, deixando em nós, a família,
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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

uma dor que nada pode sarar. O


outro, embora sendo bem mais velho,
está vivo e saudável, desfrutando
da vida e vendo seus descendentes
crescerem.
Escolha. Escolha. Escolha. Essa
foi a diferença entre ambos.
E você, que escolha vai fazer
hoje?
Escolha “quebrar o copo” e viver!

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Quebre o copo Lilézia Bandim Marçal

Se você não se vê com a mesma


força e determinação do tio Carlos,
procure ajuda, seja espiritual, seja
psicológica ou de grupos de apoio.

Alcoólicos Anonimos:
https://www.aa.org.br/

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Quebre o copo trata de um assunto delicado
e emocionalmente sensível para a autora, pois
envolve a história verídica de dois “tios-irmãos”
cujas vidas foram gravemente afetadas pelo
alcoolismo.
Um tio teve a saúde e a vida totalmente restauradas
e libertas do vício e é hoje um testemunho vivo. O
outro infelizmente é lembrado com saudade, e sua
memória, marcada pela dor e sofrimento.
Duas vidas, duas histórias e duas escolhas que
fizeram toda a diferença. Um escolheu quebrar o
copo para viver e essa escolha mudou sua vida para
sempre e para melhor.
Embora Quebre o copo trate de um assunto muitas
vezes pesado de se abordar, o livro proporciona
uma leitura leve e envolvente, gerando reflexão e
esperança no leitor.

Lilézia Bandim Marçal é casada


com Mousinho Marçal e mãe
de dois rapazes: o Júnior com 21
anos e Jairo com 15. Bacharel
em Psicologia pela Universidade
Católica de Per- nambuco e em
“Diploma of Business” pela
Universidade Charles Darwin, na
Austrália.
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