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ISSN: 1646-107X
director@revistamotricidade.com
Edições Desafio Singular
Portugal
Miranda Neto, J.T.; Lima, C.A.G.; Gomes, M.C.S.; Santos, M.C.D.; Tolentino, F.M.
Bem estar subjetivo em idosos praticantes de atividade física
Motricidade, vol. 8, núm. 2, 2012, pp. 1097-1104
Edições Desafio Singular
Vila Real, Portugal
RESUMO
O objetivo foi investigar o bem-estar subjetivo de pessoas idosas praticantes de caminhada orientada.
Estudo descritivo, quantitativo e de corte transversal. A amostra foi de 187 idosos praticantes de
caminhada orientada. Utilizou-se o “Development of the Memorial University of Newfoundland Scale
of Happiness - MUNSH”. Foi feita a análise descritiva, Teste “t” de Student e a Anova e p-valor ≤ 5%.
Aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual de Montes Claros, Parecer Nº 1642, de
18/09/2009. Os resultados evidenciaram que os idosos que não fumam possuem mais afetos positivos,
experiências positivas. Aqueles que possuem filhos possuem melhores experiências positivas de vida.
Em relação à escolaridade quem têm menor instrução possuem maiores experiências positivas. Os
idosos casados apresentaram mais afetos positivos e experiências positivas. O número de pessoas na
família foi significante nas experiências negativas para quem mora com 3 a 7 pessoas. Quem mora com
1 a 2 pessoas ou 8 ou mais, possui maior bem estar subjetivo. Quem pratica atividade física pelo
menos uma vez por semana possuem maiores experiências positivas que os não praticantes. Possuem
maior bem estar subjetivo o idoso praticante de atividade física 4 ou 5 vezes por semana.
Palavras-chave: bem estar subjetivo, idoso, atividade física
ABSTRACT
The purpose of the study was to investigate the subjective well-being of elderly hikers oriented. The
study is descriptive, quantitative and cross-sectional. The total sample consisted of 187 elderly people
aged 61 or above hikers oriented and registered with the Health Walk Project. The instrument used
was a questionnaire Kozma and Stones (1980), "Development of the Memorial University of New-
foundland Scale of Happiness - Munshi" and a structured questionnaire containing independent
variables to be investigated. Statistical analysis was performed a descriptive analysis of data with the
frequency and percentage of responses for analysis and we used the "t" of Student and ANOVA to
compare the average of the groups, with Bonferroni adjustments. For the analysis, was the level of
significance set at p-value ≤ 5%. This research was approved by the Ethics Committee of the State
University of Montes Claros through Embodied Opinion No. 1642 of September 18, 2009. Results
revealed that older people who do not smoke had higher average showing with more positive
emotions, positive experiences. The way we view life is more positive, leading them to a better well-
being. Those who have children are more likely to have better positive life experiences. Regarding
education, the positive experiences was significant, with the highest means were for people who have
less education. The elderly who are married were more positive emotions and positive experiences.
The number of people in the family was significant in the negative experiences of people living with 3-
7 people. However, those who live with 1 or 2 people or 8 or more, had higher averages of subjective
well-being. Those who practice physical activity at least once a week have more positive experiences
than non-practitioners. The results also showed the highest average subjective well-being for the
elderly practicing 4 or 5 times a week.
Keywords: subjective well-being, elderly, physical activity
Jaime Tolentino Miranda Neto, Celina Aparecida Gonçalves Lima, Maria Christina Soares Gomes, Marucia Carla D’Fonseca
Santos. Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes; Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia
do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia – GIPESOM, Brasil.
Fernanda Maia Tolentino. Graduação em Nutrição e Educação Física, Pós Graduação em Saúde da família-FiP -
Moc e Nutrição Humana e Saúde - Universidade de Lavras, Brasil.
Endereço para correspondência: Jaime Tolentino Miranda Neto, Universidade Estadual de Montes Claros, Av. Dr.
Rui Braga, S/N - Vila Mauricéia, CEP 39401-089 - Montes Claros, MG - Brasil.
E-mail: jaimetolen@yahoo.com.br
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em consideração o número de pessoas com sentados por (N), média (M) e desvio padrão
mais de 61 anos de idade da cidade de Montes (Dp).
Claros selecionados proporcionalmente à po- Este estudo foi realizado com base na reso-
pulação. Foi adotado um erro tolerável de 5%, lução 196/96 da Comissão Nacional de Ética
nível de confiança de 95% e uma prevalência em Pesquisa (CONEP) do Conselho Nacional
para todos os desfechos na ordem de 50%. de Saúde (CNS) e obteve aprovação do Comitê
Desta forma, para calcular a amostra foi utili- de Ética da Universidade Estadual de Montes
zada a fórmula n=(Z×Z) ×p×q×N/e×e×(N- Claros através do Parecer Consubstanciado nº
1)+p×q×Z×Z; na qual p = probabilidade de 1642, de 18 de setembro de 2009.
ser rejeitado 50% q = probabilidade de ser Após a assinatura e recolha dos termos de
escolhido 50% N= população, Z = intervalo de compromisso, foi solicitado que os indivíduos
confiança (1.96) e e = percentual de erro ≤.05, não se identificassem no instrumento, que não
seguindo os dados apresentados pela Secreta- escrevessem em nenhum momento o seu no-
ria Adjunta de Esportes e Lazer da Cidade de me, a fim de que as respostas pudessem ser as
Montes Claros. mais reais possíveis.
Após o cálculo, que definiu a quantidade de As variáveis independentes analisadas fo-
idosos necessários, foi realizado um sorteio ram o sexo, escolaridade, estado civil, tipo de
pelo programa Microsoft Excel do Windows residência, número de pessoas na família, reli-
para escolha dos sujeitos. Os sorteados foram giosidade, possui doenças, frequência de ativi-
contatados durante as suas caminhadas e os dade física, fuma e tem filhos.
questionários preenchidos no local. Este artigo decorre de um dos subprojetos
Foi utilizado um questionário estruturado, do projeto “Hábitos alimentares, imagem cor-
contendo as variáveis independentes a serem poral, autoestima, índice de massa corporal,
investigadas e um questionário específico de depressão, bem estar psicológico e subjetivo
Kozma e Stones, (1980) de bem estar subjetivo em adolescentes, jovens adultos, pessoas da
o “Development of the Memorial University of meia idade e da terceira idade da cidade de
Newfoundland Scale of Happiness - MUNSH”. Montes Claros - MG - Brasil, em andamento na
O questionário consiste em 10 afetos (5 afetos Universidade Estadual de Montes Claros.”
positivos e 5 afetos negativos) e 14 experiên-
cias (7 experiências positivas e 7 experiências RESULTADOS
negativas). O modelo agrupa variáveis de pre- A amostra foi composta de (13.4%) pessoas
dição em seis categorias: satisfações subjetivas, do sexo masculino e (86.6%) feminino dos
características demográficas, atividades sociais quais (44.4%) eram casados e viúvos (37.4%).
e atividade física, eventos de vida estressantes, Quanto ao tipo de residência, a maioria habita
fatores ambientais e fatores de personalidade em casa própria (79.7%). Em relação ao núme-
(Kozma & Stones, 1980). ro de pessoas na família, 3 a 4 pessoas (23%),
Nos procedimentos estatísticos, foi feita a 5 a 7 pessoas (35.3%) 8 ou mais (29.9%). A
análise descritiva dos dados com a frequência e maioria dos idosos possui religião (99.5%),
percentagem para análise das respostas e foi (62%) possuem alguma doença, (94.7%) não
utilizado o Teste “t” de Student e a Anova para fuma e (92.5%) possuem filhos. Quanto à fre-
comparar a média dos grupos, com ajustes de quência de atividade física, 3 vezes por semana
Bonferroni. Para as análises, foi fixado o nível (30.5%) e 5 vezes por semana (29.4%).
de significância em p-valor ≤ 5%. Os dados Quanto aos resultados obtidos pelo teste t
foram analisados pelo programa SPSS, versão de Student (tabela 2) e Anova (tabela 3) foi
18.0. evidenciado que a escolaridade se mostrou sig-
Todos os valores foram expressos em per- nificativa para as experiências positivas dos in-
centagem (%) e número de indivíduos repre- divíduos em estudo. O estado civil se mostrou
1100 | J.T. Miranda Neto, C.A.G. Lima, M.C.S. Gomes, M.C.D. Santos, F.M. Tolentino
Tabela 1
Descrição das variáveis independentes
Variáveis Independentes n Percentagem
Sexo
Masculino 25 13.4%
Feminino 162 86.6%
Escolaridade
Analfabeto 16 8.6%
Ensino fundamental 30 16.0%
Ensino médio 37 19.8%
Ensino superior 13 7.0%
Ensino fundamental incompleto 59 31.6%
Ensino primário incompleto 32 17.0 %
Estado civil
Casado(a) 83 44.4%
Solteiro(a) 19 10.2%
Viúvo(a) 70 37.4%
Divorciado(a) 15 8.0%
Tipo de residência
Apartamento 11 5.9%
Barracão 20 10.7%
Casa própria 149 79.7%
Casa alugada 5 2.7%
Outros 2 1.0%
Número de pessoas na família
1 a 2 pessoas 21 11.2%
3 a 4 pessoas 43 23.0%
5 a 7 pessoas 66 35.3%
8 ou mais pessoas 56 29.9%
11 pessoas 1 .6%
Religiosidade
Sim 186 99.5%
Não 1 .5%
Possui doença
Sim 116 62.0%
Não 71 38.0%
Frequência de atividade física
Uma vez por semana 20 10.7%
Duas vezes por semana 36 19.3%
Três vezes por semana 57 30.5%
Quatro vezes por semana 17 9.1%
Cinco vezes por semana 55 29.4%
Nenhuma 2 1.0%
Fuma
Sim 10 5.3%
Não 177 94.7%
Tem filhos
Sim 173 92.5%
Não 14 7.5%
Bem estar subjetivo em idosos praticantes de atividade física | 1101
Tabela 2
Resultados do Teste “t” dos escores afetos positivos, afetos negativos, experiências positivas, experiências negativas e bem estar
subjetivo em função das variáveis independentes
Escore Variável t Média Desvio Padrão p
Fuma
AP Sim -2.493 19.90 5.61 .014
Não 22.34 2.81
AN Sim 1.744 12.90 6.69 .083
Não 10.23 4.59
EP Sim -2.893 23.90 8.44 .004
Não 28.64 4.81
EN Sim 1.249 14.10 8.03 .213
Não 11.91 5.22
BES Sim -2.847 16.80 24.28 .005
Não 28.85 12.16
Tem filhos
AP Sim 1.361 22.29 3.00 .175
Não 21.14 3.59
AN Sim -0.751 10.29 4.69 .454
Não 11.29 5.47
EP Sim 2.041 28.61 4.94 .043
Não 25.71 6.90
EN Sim -0.906 11.92 5.36 .366
Não 13.29 6.02
BES Sim 1.745 28.68 12.53 .083
Não 22.29 19.97
Tabela 3
Resultados da Anova dos escores afetos positivos, afetos negativos, experiências positivas, experiências negativas e bem estar
subjetivo em função das variáveis independentes
Escore Variável F Média Desvio Padrão p
Escolaridade
EP Analfabeto 3.240 30.75 4.68 .008
Ensino fundamental 26.27 5.72
Ensino médio 27.70 5.24
Ensino superior 26.92 4.96
Ensino fundamental
28.47 5.16
incompleto
Ensino primário
30.44 3.65
incompleto
Estado civil
AP Casado(a) 3.529 22.40 2.48 .016
Solteiro(a) 20.89 4.59
Viúvo(a) 22.00 2.66
Divorciado(a) 20.53 4.37
EP Casado(a) 6.742 29.57 4.37 .000
Solteiro(a) 25.26 6.91
Viúvo(a) 28.60 4.76
Divorciado(a) 24.87 5.59
Nº de pessoas na família
EN 1 a 2 pessoas 2.848 11.52 4.11 .025
3 a 4 pessoas 14.04 6.44
5 a 7 pessoas 12.15 5.51
8 ou mais pessoas 10.61 4.38
11 pessoas 7.00
BES 1 a 2 pessoas 2.735 31.05 11.58 .030
3 a 4 pessoas 23.35 16.73
5 a 7 pessoas 27.67 12.46
8 ou mais pessoas 31.57 10.73
11 pessoas 24.00
Frequência de atividade física
EP 1 × por semana 2.923 28.65 5.92 .015
2 × por semana 27.81 5.04
3 × por semana 27.98 4.90
4 × por semana 28.71 5.10
5 × por semana 29.44 4.50
Nenhuma 16.50 12.02
BES 1 × por semana 3.114 25.95 16.78 .010
2 × por semana 25.44 11.82
3 × por semana 28.98 12.41
4 × por semana 30.53 10.69
5 × por semana 30.40 12.38
Nenhuma -2.00 33.94
Bem estar subjetivo em idosos praticantes de atividade física | 1103
Ainda dentro das questões de destaque tivamente maiores de afetos positivos e baixos
acerca do bem estar, o possuir filhos foi evi- afetos negativos do que idosos que vivem em
denciado positivamente pela maioria dos ido- ambiente rural/agrário (Albuquerque & Sousa,
sos do estudo. Parece que eles percebem que 2008). Estudos sobre casas, apartamentos não
os filhos não os abandonaram, fato que já foi foram encontrados na literatura analisada.
explorado e documentado por An et al. (2008). Rodrigues, Cheik e Mayer (2008) afirmam
Os autores verificaram que as mulheres que que além das possíveis associações entre a gê-
viviam com seus filhos apresentaram maior nese do tabagismo e do sedentarismo, a prática
satisfação com a vida bem como perceberam a regular de exercícios físicos pode colaborar
si mesmas como mais saudáveis, evidenciando para o abandono do hábito do consumo do ta-
que as relações de proximidade com os filhos baco, independente da idade, essa associação
contribui para o bem estar dos idosos. corrobora a nossa pesquisa, já que somente
Em termos do estado civil a grande maioria 10% dos entrevistados ainda mantêm o hábito
dos idosos inquiridos são casados ou viúvos. do fumo.
Néri (2004) aponta a importância das relações
conjugais para os mais idosos. É particula- CONCLUSÕES
rmente importante para o idoso continuar a Este estudo pretendeu investigar os fatores
manter fortes laços emocionais e a comunicar intervenientes para o bem estar subjetivo em
regularmente com a família. Também Horley pessoas idosas fisicamente ativas. Para tanto,
(1984) afirma que a participação familiar é um foi estabelecido a análise de acordo com os
preditor importante de bem estar subjetivo do afetos positivos, afetos negativos, experiências
idoso. positivas, experiências negativas.
Moraes e Souza (2005) investigaram os De acordo com os resultados, pode-se con-
fatores associados ao envelhecimento bem cluir que os idosos que não fumam obtiveram
sucedido em idosos de Porto Alegre. Após maiores médias evidenciando que possuem
ajustes, quatro variáveis mantiveram correlação mais afetos positivos, experiências positivas. A
significativa com esse fenômeno: relações forma como encaram a vida é mais positiva,
familiares e de amizade, saúde e bem estar levando-os a um melhor bem estar. Aqueles
percebido, capacidade funcional e suporte que possuem filhos estão mais propensos a te-
psicossocial. rem melhores experiências positivas de vida.
Viver na sua própria casa é outro aspecto Em relação à escolaridade, foi significativo nas
que parece fundamental para o bem estar dos experiências positivas, sendo que as maiores
idosos em questão, pois a maioria reside em médias foram para as pessoas quem têm menor
casas próprias. Todos os processos de ligação à instrução. Este resultado pode advir da felici-
casa e ao meio permitem aos idosos manter o dade em decorrência das poucas ambições e de
seu eu para além de todas as mudanças por que estarem satisfeitos com sua vida. Os idosos
estão a passar. Entretanto, deve ser lembrada a que são casados apresentaram mais afetos po-
colocação de Spirduso (2005) quando este sitivos e experiências positivas. O número de
postula, que o bem estar subjetivo pode ser pessoas na família foi significante nas expe-
afetado de forma negativa quando o envelheci- riências negativas das pessoas que moravam
mento vem acompanhado de uma saúde com 3 a 7 pessoas. No entanto, quem mora
debilitada. com 1 a 2 pessoas ou 8 ou mais, apresentaram
Na questão da residência o estudo de Se- médias maiores de bem estar subjetivo. Quem
queira e Silva (2002) apontou índices mais ele- pratica atividade física pelo menos uma vez por
vados de bem estar em idosos que vivem em semana possuem maiores experiências posit-
ambiente rural. Idosos residentes em ambiente ivas que os não praticantes. Os resultados tam-
rural/urbano apresentaram índices significa- bém evidenciaram as maiores médias de bem
1104 | J.T. Miranda Neto, C.A.G. Lima, M.C.S. Gomes, M.C.D. Santos, F.M. Tolentino
estar subjetivo para o idoso praticante 4 ou 5 Kozma, A., & Stones, M.J. (1980). The measure-
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