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M AN UAL TÉCN I CO, 4 0

I SSN 1 9 8 3 - 5 6 7 1

40
BOK ASH I
ADU BO
ORGÂN I CO
FERM EN TADO

RIO
RURAL
MANUAL TÉCNICO, 40
ISSN 1983-5671

Ana Paula Pegorer de Siqueira


Manoel F. B. de Siqueira

Niterói-RJ 2013
PROGRAM A RI O RURAL

Se cr e t a r ia de Est a do de Agr icu lt u r a e Pe cu á r ia


Supe r int e ndê ncia de D e se nvolvim e nt o Su st e nt á v e l

Alam eda São Boav ent ura, 770 - Fonseca - 24120- 191 - Nit erói - RJ
Telefones: ( 21) 3607- 6003 e ( 21) 3607- 5398
E- m ail: m icrobacias@agricult ura.rj .gov .br

Gove r n a dor do Est a do do Rio de Ja n e ir o


Sérgio Cabral

Se cr e t á r io de Est a do de Agr icu lt u r a e Pe cu á r ia


Christ ino Áureo da Silva

Supe r int e nde nt e de


D e se nvolvim e nt o Su st e nt á v e l
Nelson Teixeira Alves Filho

Siqueira, Ana Paula Pegorer de

Bokashi: adubo orgânico ferm ent ado/ Ana Paula Pegorer de Siqueira, Manoel F.
B. de Siqueira. - - Nit erói: Program a Rio Rural, 2013.

16 p.; 30cm . - ( Program a Rio Rural. Manual Técnico; 40)

Program a de Desenvolvim ent o Rural Sust ent ável em Microbacias Hidrográficas


do Est ado do Rio de Janeiro. Secret aria de Agricult ura e Pecuária.

Proj et o: Gerenciam ent o I nt egrado em Microbacias Hidrográficas do Nort e-


Noroest e Flum inense.

I SSN 1983- 5671

1. Bokashi - Adubo orgânico 2. Com post o ferm ent ado. I . Siqueira, Manoel F. B.
de. I I . Série. I I I . Tít ulo

CDD 631.87

Edit oração:
Coordenadoria de Difusão de Tecnologia
CDT/ Pesagro- Rio
Sum á r io

1 - I nt rodução ............................................................................................... ..... 4

2 - A ut ilização de adubos orgânicos ........................... ........................................ 5

3 - O que é Bokashi?.............................................................. ......................... ... 5

4 - Funções do Bokashi.. ..................................................... ............................. ..6

5 - Com o fazer o Bokashi?................................................. .......................... .......7


Fazendo o Bokashi .............................................. .................................... .. 7
Local para produção do Bokashi ................................. ............................. 11
Mat eriais para fabr icação do Bokashi ..................................... .................. 11

6 - Uso do Bokashi ................................ ............................ ............................... 14


Aplicação no preparo do solo .......................... ......................................... 14
Aplicação em cobert ura ..................................... ...................................... 14
Aplicação em frut eiras........................... .................................................. 15
Biofert ilizant e: calda de Bokashi ........................................... ................... 15

7 - Cust o do Bokashi ............................. ............................... ............................ 15

8 - Bibliografia consult ada ..................................................... ........................... 16


BOKASH I : a du bo or gâ n ico fe r m e n t a do

Ana Paula Pegorer de Siqueira1


Manoel F. B. de Siqueira2

1 . I nt r oduçã o

A aplicação per iódica de m at éria orgânica na agr icult ura é um a prát ica
m ilenar , e é sabido que, desde a ant iguidade, o ser hum ano associa t erras fért eis
às t erras ricas em m at éria orgânica. Após o advent o da agr icult ura m oderna, o
papel da m at ér ia orgânica no solo t em sido negligenciado e subst it uído por um a
visão m ais quím ica em relação à fert ilidade do solo. A consequência dessa
abordagem t em sido o em pobrecim ent o dos solos, result ando, cada vez m ais,
em processos de degradação, erosão e cont am inação dos m esm os, ocasionando
o uso indiscr im inado de adubos quím icos e agrot óxicos e aum ent ando o cust o de
produção das lavouras.
Nos solos t ropicais, a reposição periódica de m at éria orgânica t orna- se
im perat iva, haj a vist a a sua rápida decom posição e perda devido ao alt o grau de
int em per ism o causado pela incidência de chuvas e alt as t em perat uras t ípicas
desse am bient e.
Em bora os solos em am bient es t ropicais sej am considerados relat ivam ent e
pobres em nut rient es, eles geralm ent e t êm boa profundidade e, em seu est ado
nat ural, t êm est rut ur a porosa e agregada, o que facilit a o aprofundam ent o das
raízes e m aior explor ação no espaço. É fat o t am bém que o solo t ropical produz
m ais biom assa e at ividade biológica exuber ant e e diversificada, que rapidam ent e
recicla a m at éria orgânica produzida, disponibilizando nut r ient es para as plant as
e para out ros seres vivos.
Port ant o, para se m anej ar adequadam ent e os solos em am bient es
t ropicais, t orna- se necessário dar grande im port ância aos pr ocessos físicos e
biológicos, alt am ent e dependent es da adição periódica de m at ér ia orgânica.

1
Eng. Agrônom a, M.Sc. em Planej am ent o e Desenvolvim ent o Rural Sust ent ável. Consultora do Pr ogram a Rio
Rural- Bird/ Pesagro- Rio. Alam eda São Boavent ura, 770 - Fonseca - 24120-191 - Nit erói - RJ.
2
Eng. Agrônom o, M.Sc. em Planej am ent o e Desenvolvim ent o Rural Sust ent ável. Consult or do Program a Rio
Rural- Bird/ Pesagro- Rio. Alam eda São Boavent ura 770 - Fonseca - 24120-191 - Nit erói - RJ.

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2 . A ut iliza çã o de a dubos or gâ nicos

A adição de m atéria orgânica através da utilização de adubos orgânicos traz


benefícios para as propriedades físicas, quím icas e biológicas do solo, quais sej am :

● Melhora as propriedades físicas do solo: a m atéria orgânica favorece a


estabilidade da estrutura dos agregados do solo agrícola, reduz a densidade aparente,
aum enta a porosidade e perm eabilidade, e aum enta sua capacidade de retenção e
absorção de água.

● Melhora as propriedades quím icas do solo: aum enta o conteúdo de


m acronutrientes e m icronutrientes e aum enta a capacidade de troca catiônica ( CTC) ,
arm azenando nutrientes para as plantas, além de aj udar a corrigir a acidez do solo ao
longo do tem po, m elhorando o seu pH.

● Melhora as qualidades biológicas do solo: aum enta a quantidade e a


diversidade da vida m icrobiana do solo, que recicla a m atéria orgânica e disponibiliza
nutrientes para as plantas, além de atuar no controle de pragas e doenças. Favorece
a produção de substâncias inibidoras e ativadoras do crescim ento que favorecem o
desenvolvim ento das plantas. Nesse contexto, a população m icrobiana do solo passa
a ser vista com o com ponente im portante da fertilidade do solo.

Atualm ente, são conhecidos diversos tipos de adubos orgânicos, que diferem
na sua utilização e preparação, entre eles diversos com postos orgânicos, adubos
verdes, estercos de anim ais, verm icom posto ou húm us de m inhocas e com postos
ferm entados do tipo Bokashi, entre outros.
O obj etivo deste m anual é apresentar, de form a sim ples e clara, a elaboração
e utilização do adubo orgânico ferm entado conhecido com o Bokashi.

3 . O que é o Bok a shi?

O Bokashi é um a m ist ura balanceada de m at érias orgânicas de origem


veget al e/ ou anim al, subm et idas a processo de ferm ent ação cont rolada. Seu uso
é um a t écnica m uit o ant iga no Japão, t razida e adapt ada ao Brasil no final da
década de 80 por im igrant es j aponeses.
A ferm ent ação que ocorre na elaboração do Bokashi é predom inant em ent e
láct ica, porém ocorrem , sim ult aneam ent e, em pequenas proporções, as
ferm ent ações acét ica, alcoólica, propiônica e but ír ica.
Os nut rient es do Bokashi são disponibilizados sob a form a de quelat os
orgânicos, ou sej a, est ão presos nas est rut uras orgânicas e t êm a vant agem de
não se perderem facilm ent e por volat ilização ou lixiviação após a aplicação.

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A ação m ais im port ant e do Bokashi, ent ret ant o, é int roduzir
m icrorganism os benéficos no solo, que desencadeiam um processo de
ferm ent ação na biom assa disponível, pr oporcionando rapidam ent e condições
favoráveis à m ult iplicação e at uação da m icrobiot a benéfica exist ent e no solo,
com o fungos, bact érias, act inom icet os, m icorrizas e fixadores de nit rogênio, que
fazem part e do pr ocesso com plexo da nut r ição veget al equilibrada e da
const rução da sanidade das plant as e do próprio solo.
Em bora as m at érias- prim as para a produção do Bokashi possam t er alt o
cust o por kg, ele geralm ent e é aplicado em baixas dosagens, na ordem de 2 a 3
t oneladas por hect are, o que corresponde a 200 a 300 gram as por m ² , pois sua
at uação não é som ent e na nut r ição diret a da plant a e sim indiret a, at ravés do
incent ivo à vida do solo que prom ove a ciclagem de nut rient es e sua liberação
para a nut r ição das plant as.
Nessas dosagens, aliada ao m anej o da biom assa produzida no próprio
local, a t écnica do Bokashi t orna- se alt am ent e sust ent ável e econom icam ent e
viável.

4 . Funçõe s do Bok a shi

O Bokashi, além de servir com o font e de nut rient es para as plant as, t em a
função m uit o im port ant e de est im ular o aum ent o e a diversidade de organism os
que vivem no solo. Ou sej a, m elhora as condições de vida t ant o para m inhocas,
gongolos e out ros seres que vivem na t erra, quant o para os m icrorganism os
benéficos cit ados ant eriorm ent e.
No Brasil, ele é conhecido com o “ Ferm ent o da Vida” , exat am ent e porque
t raz vida ao solo, aum ent ando o núm ero e a diversidade dos m icrorganism os que
vivem ali. No Sul do Brasil, exist e um t ipo de Bokashi cham ado de “ adubo da
independência” , pois t em auxiliado os agricult ores a reduzirem a dependência
dos adubos quím icos e agr ot óxicos.
O Bokashi é essencialm ent e um revit alizador do solo, sendo recom endado
para solos exauridos e degradados ou que sofreram m uit o com o uso de adubos
quím icos e agrot óxicos. Ele t am bém aj uda a rest abelecer o equilíbr io dos
organism os do solo e a quebrar os ciclos de algum as doenças e pragas.
Por t er quant idade balanceada de m acr o e m icronut r ient es, o seu uso
favorece a boa nut r ição das plant as. Por esse m ot ivo, t em sido usado t ant o por
produt ores convencionais, com o obj et ivo de recuperarem a vit alidade de seus
solos, com o por agricult ores orgânicos e por aqueles que querem fazer a
t ransição agroecológica, pois ocasiona result ados anim adores, com o o aum ent o
da produção e a m elhoria da qualidade dos produt os.

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5 . Com o fa ze r o Bok a shi?

Exist em vár ias form ulações de Bokashi, m as, geralm ent e, ele é feit o a
part ir de farelos e t ort as veget ais, com o o farelo de t rigo, de arroz e t ort a de
m am ona, ent re out ros resíduos veget ais, podendo ser enriquecido com farinhas
anim ais ( far inha de carne e osso, far inha de peixe) e com alguns m inerais
nat urais ( fosfat os nat urais, pós de rochas, calcár io) em pequenas quant idades
para não at rapalhar o processo de ferm ent ação, que é do t ipo ácido.
Ele deve ser feit o com m at érias- prim as fáceis de encont rar em cada
região, o que acaba barat eando o seu cust o. Por isso, não exist e só um t ipo de
Bokashi. Ele é sem pre adapt ado para cada r egião.
Exem plo disso é que, no Nort e e Nordest e do Brasil, ele t em sido feit o com
resíduos e t ort as de dendê e cacau; nas regiões lit orâneas, é enriquecido com
far inhas de peixes e de algas; nas regiões produt oras de café, ut ilizam - se suas
cascas e resíduos de despolpadores; nas regiões produt oras de arroz, ut ilizam - se
o farelo e a casca; na Cost a Rica, ut ilizam - se diversos resíduos de agr oindúst r ia,
principalm ent e da banana e do café.

Fa ze ndo o Bok a shi

Bokashi é um a palavra j aponesa que significa “ m at ér ia orgânica


ferm ent ada” . É t am bém um a t écnica de pint ura j aponesa que significa “ diluir”
ou “ borrar” , adapt ada pelos agricult ores para a prát ica de m ist urar a m at éria
orgânica à t erra da m at a, deixando- a ferm ent ar ant es de m ist urá- la à t erra dos
cult ivos. Alguns agr icult ores ainda em pr egam essa t écnica ut ilizando t erra
superficial da m at a para fazer a ferm ent ação dos m at eriais or gânicos. Ao longo
dos anos, porém , out ros t ipos de ferm ent o t êm sido ut ilizados.
A fabr icação do Bokashi, port ant o, exige, além de m at ér ia orgânica
balanceada, o uso de ferm ent os biológicos que podem ser feit os a p art ir de sua
capt ura em solos de m at a, ou at ravés de out ros ferm ent os conhecidos para
produção de alim ent os ferm ent ados, ou ainda por produt os com erciais
conhecidos com o aceleradores de com post agem .
Exist em diversos t ipos de ferm ent os ou m icrorganism os que fazem o t ipo
de ferm ent ação adequado para a produção do Bokashi. Alguns deles são
indicados a seguir.

EM - nom e abreviado de Effect ive Microorganism s ou Microrganism os Eficazes.


Essa t ecnologia foi t r azida para o Brasil pela Fundação Mokit i Okada, na década
de 80, e é ut ilizada at ualm ent e com diversos obj et ivos ao redor do m undo. É
oriunda de pesquisas desenvolvidas pelo professor Dr. Teruo Higa, da
Universidade de Ryukyus, no Japão.
O EM é form ado pela com unidade de m icrorganism os encont rados
nat uralm ent e em solos fért eis e em plant as que coexist em em m eio líquido.
Alguns desses m icrorganism os são conhecidos há m ilhares de anos e ut ilizados
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na ferm ent ação e conservação dos alim ent os. Os quat ro principais grupos de
m icrorganism os que com põem o EM são:

- Leveduras ( ex: Sacharom yces sp) : ut ilizadas na ferm ent ação de m at érias-
prim as para a produção de cachaça, cervej a e vinho, e com o ferm ent o de pão,
ent re out ros usos. No solo, as leveduras ut ilizam os açúcares e out ras
subst âncias liberadas pelas raízes das plant as, sint et izam vit am inas e out ras
subst âncias út eis, além de at ivarem out ros m icrorganism os do solo. As
subst âncias bioat ivas, com o horm ônios e enzim as produzidas pelas leveduras,
t am bém at uam com o prom ot ores de crescim ent o nas raízes. Elas produzem um
am bient e necessário à reprodução de out ros m icror ganism os benéficos, com o as
bact érias lát icas e act inom icet os.

- Act inom icet os ( ex: Act inom yces sp., St rept om yces sp.) : aproveit am os
am inoácidos produzidos pelas bact ér ias fot ossint et izadoras e produzem
ant ibiót icos nat urais que cont rolam fungos e bact érias pat ogênicos. Produzem
subst âncias út eis a out ros m icrorganism os benéficos, com o as bact érias
fixadoras de nit rogênio de vida livre e as m icorrizas.

- Bact érias produt oras de ácido lát ico, ou lát icas ( ex: Lact obacillus sp.,
Pediococcus sp) : velhas conhecidas da Hum anidade, ut ilizadas na produção de
iogurt es, vinagre e picles. No solo, t ransform am os açúcares excret ados pelas
plant as e por bact érias fot ossint et izadoras em ácidos orgânicos que cont rolam
alguns m icrorganism os nocivos, com o Fusarium e out ros fungos que causam
apodrecim ent o das raízes e plant as. Pela ferm ent ação da m at éria orgânica,
produzem diversas subst âncias nut r ient es para as plant as. Tam bém conseguem
solubilizar a m at éria orgânica de difícil decom posição, com o a lignina e a
celulose, e elim inam vár ios efeit os nocivos da m at ér ia orgânica não decom post a.

- Bact érias fot ossint et izadoras ou fot ot róficas ( ex: Rhodopseudom onas
palust res) : conhecidas despoluidoras do am bient e. Ut ilizam energia solar em
form a de luz e calor e t am bém se alim ent am de subst âncias excret adas pelas
raízes, fazendo a sínt ese de vit am inas, nut rient es, am inoácidos, ácidos nucleicos,
subst âncias bioat ivas e açúcares que favorecem o crescim ent o das plant as e
aum ent am as populações m icrobianas benéficas do solo, inclusive bact ér ias
fixadoras de nit rogênio de vida livre, act inom icet os e m icorrizas.
At ualm ent e, o EM é vendido com o nom e com ercial EMBI OTI C pela Korin
Meio Am bient e - KMA. Há um a fábrica do produt o no Rio de Janeiro. O EMBI OTI C
concent rado pode t er cust o alt o, por ém , pode- se fazer um processo de
m ult iplicação cham ado de At ivação do EM, que aum ent a 10 vezes a quant idade e
divide o preço por 10.

M odo de fa ze r o EM a t iva do

● At ivação do EM ( 7 dias ant es) - colocam - se 200 gram as de açúcar m ascavo ( ou


m elaço de cana) em 200 m l de EM, com plet ando- se com água at é 2 lit ros de
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solução. I sso deve ser feit o um a sem ana ant es de preparar o Bokashi. Essa
m ist ura é suficient e para 4 receit as de Bokashi, ou 880 kg de m at erial, e pode
ser arm azenada por 3 m eses.

● EM da m at a - exist e um m ét odo caseiro de preparo do EM que perm it e que


est a t ecnologia sej a adot ada e adapt ada localm ent e.
Os m icrorganism os deverão ser capt urados no solo saudável, sob a m at a,
em área próxim a à propriedade agr ícola. Os m icrorganism os de cada região
est ão m ais adapt ados às condições locais, facilit ando o processo de reconst rução
da vida do solo.

Pa sso a pa sso pa r a a ca pt u r a dos m icr or ga n ism os e fica ze s n a m a t a

- Cozinhe aproxim adam ent e 700 g de arroz sem sal e sem óleo.
- Coloque o arroz cozido em um a bandej a de plást ico ou de m adeira, ou ainda
em calhas de bam bu.
- Cubra a bandej a com um a t ela fina, visando prot eger o arroz.
- Coloque a bandej a sobre o solo, sob a m at a, próxim o a sua borda. Ret ire a
m at éria orgânica ( serapilheira) em baixo da bandej a e coloque sobre a t ela,
sobre o arroz.
- Após 10 a 15 dias, observe o arroz, que deverá est ar m ofado, com bolores de
diversas cores.
- Ret ire as part es m ofadas de coloração rosada, azulada, am arelada e alar anj ada
para fazer o EM. Descart e as part es de coloração cinza, m arrom e pret a.

A coloração do arroz var ia em função da m at a onde foram capt urados os


m icrorganism os. Quant o m ais diversificada e est rut urada for a m at a, m aior
diversidade de cores est ará present e.

At iva çã o dos m icr or ga n ism os e fica ze s

- Coloque o arroz colorido em um balde com 10 lit ros de água sem cloro.
- Adicione 1 lit ro de m elaço de cana ou 1 kg de açúcar m ascavo.
- Coloque a m ist ura em um recipient e de 10 lit ros com t am pa ou divida em 5
garrafas PET de 2 lit r os e feche bem .

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- A cada dois dias, abra a t am pa para sair o gás produzido e feche a t am pa
novam ent e.
- Quando não houver m ais produção de gás, o EM est ará pront o ( isso ocorre, em
geral, ent re 10 e 15 dias) .

O açúcar ou m elaço podem ser subst it uídos por caldo de cana, na


quant idade de 5 lit ros de caldo para 5 lit r os de água. A água deve ser lim pa e
sem cloro.
O EM deve ser arm azenado em local fresco e escuro e pode durar at é 1
ano. O cheiro é doce e agradável, de ferm ent ação lát ica e acét ica, e t em
coloração alar anj ada. Caso est ej a com cheiro de podre, não deverá ser usado.

Ke fir - out ro ferm ent o de dom ínio público que pode ser ut ilizado no preparo do
Bokashi. A palavra Kefir é derivada do t ur co Keyif, que significa “ sent ir - se bem ”
após a sua ingest ão. É um a cult ura m ist a de m icrorgan ism os, usada para
produção de bebida láct ea t radicional dos povos do Cáucaso e difundida para o
rest ant e do m undo a part ir do século XX. O grande núm ero de m icrorganism os
present es no Kefir, a diversidade de com post os bioat ivos e os vár ios benefícios
associados ao seu consum o, fazem com que essa bebida sej a considerada um
probiót ico nat ural. Na saúde hum ana, vários est udos t êm dem onst rado que o
Kefir e seus const it uint es possuem at ividade ant im icrobiana, ant it um oral,
ant icarcinogênica, im unom oduladora e m elhoradora da digest ão, ent re out ras.
O Kefir é const it uído, principalm ent e, por diversas espécies de leveduras e
de bact érias lát icas, que coexist em em associação sim biót ica, produzindo um a
espécie de gel cham ado de grão de Kefir, form ado por um a m at r iz de
polissacar ídeos e prot eínas. Esses grãos são ut ilizados na m ult iplicação do Kefir ,
que pode ser feit o a part ir da ferm ent ação de leit e de diversos anim ais, leit e de
coco, leit e de soj a, suco de frut as e solução de açúcar m ascavo ou m elaço.
Seu uso vem sendo t est ado e indicado na produção de adubos orgânicos
ferm ent ados com o o Bokashi e para a m elhoria da sanidade am bient al e anim al
na agropecuária. Exist em poucos est udos sobre a sua ut ilização para esse fim ,
porém j á exist em result ados prelim inares e prát icos que at est am a sua
viabilidade.
No caso do uso para ferm ent ação do Bokashi, ut iliza- se um a solução de
Kefir feit a a part ir de água e açúcar m ascavo ou m elaço. Os grãos podem ser
adquir idos por doação at ravés de diversos sit es na int ernet ou por pessoas
ligadas à Past oral da Saúde, da I grej a Cat ólica, que t em difundido o seu uso para
a saúde hum ana.

M odo de fa ze r o fe r m e n t o a pa r t ir do Ke fir

- Mult iplique o Kefir at é conseguir um a quant idade suficient e de grãos. Para cada
lit ro de água, ut ilize 3 colher es de grãos de Kefir e 3 colheres de açúcar
m ascavo.

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- Coloque os m at eriais em vidro de boca larga e t am pe com papel de filt ro, para
evit ar o aparecim ent o de form igas ou m oscas.
- Para uso na agricult ura, deixe ferm ent ar por um a sem ana. Ao final do
processo, não deverá haver m ais açúcar na solução, o que pode ser
com provado experim ent ando- a e verificando seu sabor ácido ( o t em po de
ferm ent ação para uso hum ano é diferent e do t em po para uso na agropecuária
e deve ser consult ado em sit es sobre o assunt o) .
- Coe os grãos de Kefir para novos usos ( m ant enha o Kefir sem pre at ivo,
t rocando a solução ferm ent ada por um a nova solução de água e açúcar) .
Ut ilize água pot ável de boa qualidade e sem cloro.
- Para cada 100 kg de Bokashi produzido, serão necessários 2 lit ros de solução
de Kefir coado, sem os grãos.

Loca l pa r a a pr oduçã o do Bok a shi

O Bokashi deve ser feit o em local cobert o e com piso liso para facilit ar sua
m ist ura e ensacam ent o. O local deve ser abrigado do sol e da chuva. Pode ser
feit o sobre lonas plást icas, m as deve ser arm azenado em am bient e prot egido das
int em pér ies e do at aque de anim ais.

M a t e r ia is pa r a a fa br ica çã o do Bok a shi

As m at érias- pr im as r ecom endadas para se fazer o Bokashi são os farelos


de diversos cereais ( arroz, t rigo, cevada) , as oleagin osas ( soj a, am endoim ,
m am ona) e as farinhas de origem anim al ( peixe, carne e osso) .
As cascas de arroz, café e soj a podem ser ut ilizadas, desde que não
ult rapassem 15% .
A com posição depender á m uit o do m at erial disponível na região, podendo-
se fazer um bokashi m ais caro ou m ais barat o, dependendo da m at éria- pr im a.
A seguir, são apresent adas as porcent agens de cada t ipo de m at erial.

Ta be la 1 - Tipos de m at eriais e porcent agens m édias para a produção do Bokashi.

Tipo Ex e m plos Qua nt ida de

Fa r e los de ce r e a is Farelos de arroz; de t rigo; de cevada et c. 50% a 60%

Tort a de m am ona; de soj a; de girassol; de


Tor t a s de ole a ginosa s 35 a 40%
algodão; de dendê et c.
Palhas e cascas t rit uradas; r esíduo de
Out r os m a t e r ia is banana, aipim e out ros resíduos de agroin-
Máxim o 15%
ve ge t a is dúst ria; fubá e out ras quirelas de grãos
t rit urados.
M a t e r ia is de or ige m
Farinha de carne e osso; farinha de peixe. Máxim o 3%
a n im a l

M ine r a is Calcário; fosfat o nat ural; pó de pedra. Máxim o 2%

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Pr e pa r o

O m at er ial seco deve ser pesado e m ist urado. Em seguida, acrescent a- se a


solução com o ferm ent o. A m ist ura poderá ser hom ogeneizada com auxílio de
um a enxada ou m icrot rat or e, caso sej a feit o em m aior quant idade, pode- se usar
um a bet oneira.
Um dos segredos para a fabricação do Bokashi é fazer um a boa
hom ogeneização da solução na m ist ura de farelos.
A ferm ent ação pode ser feit a de duas m aneiras: de form a aeróbica ( com a
presença do ar) ou de form a anaeróbica ( sem a presença do ar) . Nest e últ im o
caso, o nom e passa a ser Kenki- Bokashi, em j aponês.
Apresent am - se, a seguir , as duas form as de preparar o Bokashi.

Bok a sh i Ae r óbico - é o Bokashi feit o em presença de ar. Fica pront o em 7 dias.

- Necessit a piso liso e local cobert o para não m olhar em caso de chuva.
- Os ingredient es são m ist urados dispost os em form at o de cant eiro com no
m áxim o 30 cm de alt ura.
- Cobre- se a m ist ura com os próprios sacos dos farelos, para que o m at erial
com ece a ferm ent ar e não resseque.
- A t em perat ura não deve ult rapassar os 50º C, devendo ser revirado com pá ou
enxada t oda vez que passar dos 45º C.
- Deve- se revirar o cant eiro a par t ir do segundo dia at é o sét im o dia.
- A part ir do t erceiro dia, norm alm ent e não é m ais necessário cobrir o cant eiro
do Bokashi com os sacos dos farelos.
- A part ir do quart o dia, deve- se baixar a alt ur a para 10 cm e r evirar a cada dia
para que o m at erial fique seco, finalizando com 5 cm de alt ura no sét im o dia e
est ando o m at erial bem seco.

Ut ilizam - se:

- 1 t onelada de m at erial seco.


- 3 lit ros de m icrorganism os eficient es ( ou 30 lit ros de Kefir) .
- 3 lit ros de m elaço ou 3 kg de açúcar m ascavo.
- Com plet a- se com água at é chegar a 300 lit ros.

Bok a sh i An a e r óbico ( Ke n k i- Bok a sh i) - é feit o sem a presença de ar.


Norm alm ent e, fica pront o em 21 dias ( excet o em locais de clim a m uit o quent e,
onde fica pront o em 15 dias) .
Pode ser feit o em local descobert o, sobre um a lona, desde que não est ej a
chovendo, m as precisa ser arm azenado em local prot egido.

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Ut ilizam - se:

- 1 t onelada de m at erial seco.


- 1,5 a 2,0 lit ros de m icrorganism os eficient es ( ou 20 lit ros de Kefir) .
- 1,5 a 2,0 lit ros de m elaço ou 1,5 a 2,0 kg de açúcar m ascavo.
- Com plet a- se com água at é chegar a 150- 200 lit ros, dependendo da
necessidade.

Em am bos os casos, m ist ura- se bem o m at erial, colocando a água aos


poucos, de preferência com um regador, pois os m at eriais podem não absorver a
água de form a hom ogênea. Faz- se um a revirada do m at erial a cada regador com
a solução de ferm ent o. É preciso paciência para conseguir um a boa
hom ogeneização da um idade no m at erial. Sabe- se que a um idade da m ist ura do
Bokashi est á corret a quando ele é apert ado com a m ão e se for m a um t orrão que
se desfaz facilm ent e.
Depois de m uit o bem m ist urado, o Kenki- Bokashi é guardado em sacos
plást icos grandes ( 100 lit ros) e resist ent es, com sacos de ráfia por fora. Não se
devem encher dem ais os sacos para não dificult ar o fecham ent o. Recom enda- se
que se coloque, no m áxim o, 30 quilos. É im port ant e que t odo o ar sej a ret irado
de dent ro dos sacos, fechando- os e am arrando as bocas com fit ilho. A vant agem
desse t ipo de Bokashi é o preparo, que não exige reviradas diár ias para ficar
pront o, bast ando ensacá- lo.
Para evit ar o excesso de um idade que se form a na part e superior do saco,
recom enda- se colocar 3 cm de farelo de t r igo seco ant es de fechá- lo.
Os sacos com o Bokashi devem ser guardados em local prot egido cont ra a
presença de rat os e out ros anim ais que possam furá- los. Out ra alt ernat iva é
guardar o Bokashi em bom bonas de plást ico com t am pa que possam ser
vedadas.
Após 21 dias, est á pr ont o para o uso. Fechado, ele pode durar at é um ano.

Cu ida dos

É necessário que se observe o cheiro do m at erial. O cheiro do Bokashi


pront o é agradável, de silagem . Se est iver com cheiro podre, é sinal de que a
um idade ficou acim a do adequado ou o saco pode t er furado, at rapalhando o
processo de ferm ent ação.
A seguir, apresent a- se um a receit a básica de Bokashi com ingredient es
facilm ent e encont rados no Est ado do Rio de Janeiro.

Qua nt ida de t ot a l
M a t e r ia l Qua nt ida de
( k g)

Fa r e lo de t r igo 4 sacos de 30 k g 120 kg

Tor t a de M a m on a 2 sacos de 50 kg 100 kg

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Solu çã o de fe r m e n t o
- 50 a 60 lit ros de água.
- 500 m l de ferm ent o ( EM da t erra ou EMBI OTI C at ivado) ou 2 lit ros de Kefir .
- 500 g de m elaço de cana, açúcar m ascavo ou crist al.

6 . Uso do Bok a shi

Aplica çã o no pr e pa r o do solo

Recom enda- se aplicar a lanço em t orno de 200 a 400 gram as por m et ro


quadrado. Por exem plo: um cant eiro com 10 m et ros de com pr im ent o e 1 m et ro
de largura corresponde a 10 m et ros quadrados de cant eiro. Nesse caso, o
cant eiro de 10 m et ros quadrados deve receber 2 quilos de Bokashi. Se a t erra
est á m uit o fraca e as cult uras com baixa produt ividade, deve- se aplicar um a
quant idade m aior que 200 g.
É sem pre int eressant e cobrir o solo após aplicar o Bokashi no cam po, sej a
com um a palhada ou roçada, sej a m ist urando- o superficialm ent e no solo. Se o
Bokashi for deixado expost o sobre a t erra pode ser lavado pela chuva ou pode se
form ar um a crost a que im pede a infilt ração da água.
Para o m elhor aproveit am ent o do Bokashi no preparo do solo, ele deve ser
polvilhado em cim a de um a font e de m at éria orgânica produzida localm ent e
( m assa verde do próprio m at o ou adubo verde) , sendo incorporado à t erra num a
profundidade rasa ( m áxim o de 10 cm ) . Deve- se esperar cerca de 10 dias para se
fazer o plant io, per íodo em que se processa a ferm ent ação. Após esse período,
não haverá r isco de aquecim ent o e prej uízo para a plant ação.
Se for ut ilizado em berços ( covas) , deve ser m ist urado à t erra, t am bém
aguardando- se um período para a ferm ent ação.

Aplica çã o e m cobe r t ur a

O Bokashi pode ser usado sobre os cant eir os com o adubação de cobert ura.
Em plant as de espaçam ent o curt o, com o alface, chicór ia, salsa, cebolinha
e rúcula, recom enda- se aplicar 200g de Bokashi por m et ro quadrado ent re as
linhas das verduras, m ist urando- o com as m ãos ou com algum a ferr am ent a. Se
possível, deve- se cobri- lo com cobert ura m ort a ( palhas, folhas ou capins
picados) . Cuidado para não aplicar o Bokashi m uit o próxim o às m udas,
m ant endo um a dist ância de pelo m enos 5 cent ím et ros.
Em plant as de espaçam ent o m édio, com o pim ent ão, t om at e, ber inj ela, j iló
e quiabo, aplicam - se 200 gram as de Bokashi divididos pelo núm ero de plant as
que cabem em 1 m et ro quadrado. Por exem plo, em cada m ² cabem 4 m udas de
couve ou brócolis. Port ant o, dividem - se os 200 g por 4 pés e em cada pé se
usam 50 gram as de Bokashi.

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Geralm ent e, sua aplicação é m ensal, ao longo do ciclo da cult ura, m as é
necessário t er cuidado para não haver excesso. A plant a pode ficar viçosa e m ais
at rat iva par a o at aque de pragas e doenças.

Aplica çã o e m fr ut e ir a s

- Usar de 1 a 3 kg por ano.


- Dividir em t rês aplicações: no início das águas, no final das águas e na
floração. Ou nas épocas de m aior necessidade das plant as.
- Fazer a aplicação sob a bordadura da som bra da copa em sulcos ou sobre o
solo, prot egido com um a cam ada de palha da roçada.

Biofe r t iliza nt e : ca lda de Bok a shi

Modo de fazer:

- Coloque 200 g de Bokashi de m olho durant e 8 a 12 horas em um saquinho de


pano dent ro de um balde com 20 lit ros de água.
- Esprem a bem at é sair bast ant e calda. Ut ilize o resíduo do pano na t erra.
- Coloque o líquido em um pulver izador de 20 lit ros e aplique.

Cuidados: Não se deve ut ilizar se est iver com cheiro podre.

- Aplicação a cada 15 dias. Deve- se t er cuidado para não viçar a plant a. O uso
frequent e pode causar desequilíbr io nut r icional, com excesso de nit rogênio.

7 . Cust o do Bok a shi

Tot a l*
M a t e r ia l Qua nt ida de
( R$ )

Fa r e lo de t r igo 4 sacos de 30 kg R$ 74,00

Tor t a de m a m on a 2 sacos de 50 kg R$ 110,00

Águ a 60 lit ros

EM BI OTI C a t iv a do 500 m l R$ 1,25

Açúca r m a sca vo 500 g R$ 3,50

Cu st o t ot a l R$ 1 8 8 ,7 5
* Preços prat icados em loj as agropecuárias da Região Serrana do Rio de Janeiro em
out ubro de 2013.

• Quant idade produzida = . ...............................280 kg


• Preço por 1 k g = ................................ ..........R$0,68/ kg
• 1 kg aduba 5 m et ros. Cust o por m et ro² = ...... R$ 0,14/ m ²

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8 . Bibliogr a fia consult a da

CASALI , V. Ca de r n o de m icr or ga n ism os e ficie n t es. Viçosa: UFV, 2009. 31 p.

CENTRO DE PESQUI SA DA FUNDAÇÃO MOKI TI OKADA. M icr or ga n ism os


e fica ze s ( EM ) e Bok a sh i n a a gr icu lt u r a n a t ur a l. São Paulo, 2002, 30 p.

HI GA, T.; PARR, J. F. Be n e ficia l a n d e ffe ct ive m icr oor ga n ism s for a
sust a in a ble a gr icu lt u r e an d e nvir on m en t . At am i, Japão: I nt ernat ional Nat ure
Farm ing Research Cent er, 1994.

KI EHL, E. J. Fe r t iliza n t es or gâ n icos. São Paulo: Ceres, 1985. 492 p.

MI GUEL, M. A. L.; LEI TE, A. M. Kefir: o iogurt e do século XXI . An im a l Busin ess-
Br a sil. Rio de Janeiro, SNA, ano 3, n. 11, 2013. p. 11- 16.

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SUPERI N TEN D ÊN CI A
D E D ESEN VOLVI M EN TO
SUSTEN TÁVEL

BOK ASH I Adubo orgâ nic o fe r m e nt a do


NÚCLEO DE PESQUISA
P A R TI C I P ATI V A

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