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A VERDADEIRA LIBERDADE É CRISTO E CRISTO CRUCIFICADO

A liberdade é uma das realidades humanas mais falada e desejada nestes últimos tempos.
Fala-se de liberdade de expressão, liberdade religiosa, liberdade para educação dos filhos etc. Mas
o que é mesmo a liberdade? Alguns dizem ser a liberdade uma capacidade de escolha entre uma
coisa ou outra, liberdade do tipo, faço isso assim, ou faço isso de outro jeito. Como se liberdade
fosse escolher tomar água gelada ou natural, ir de a pé ou de carro; fazer um curso de direito ou de
filosofia, ou pior de tudo -, escolher ser mulher quando se é homem e vice-versa.

Existem aqueles os quais dizem ser a liberdade a independência financeira, para poder
comprar um carro, reformar a casa, tomar um bom vinho com os amigos, poder visitar os parentes
e viver uma vida de qualidade, bem ao modo de pensar dos que dizer ser livres para viajar a cada
ano ou quando quiser, porque afinal de contas tem dinheiro e são livres para isso.

Aos que pensam ser a liberdade alguns desses itens descritos, bem como outros que
poderiam entrar na lista na mesma proporção, ou seja, o ter dinheiro, ter honra, o ser cidadão de
bem, a liberdade não passa de feridas no corpo e no espirito pelas formas sensíveis e matérias que
distraem os homens e coloca-os num círculo vicioso com gosto de liberdade. Ademais, tais
realidades, enquanto distrai os homens com uma falsa noção de liberdade, produzida pelos
pretensos bens da terra, por causa do progresso e da técnica, cada vez mais sofisticados, os afastam
da verdadeira liberdade e os conduz a um abismo sem volta, onde no fundo só tem angustia, dor,
medo e no fim a negação de si, da própria existência. Basta olhar a crise existencial que o mundo
moderno passa. Se fala de liberdade, embora ignora-se o que ela seja, fala-se de vida futura, mas só
conseguem realizar o que os sentidos imediatamente podem saciar. Tenta-se prolongar a vida mais
ignora-se sua eternidade, e, que a verdadeira liberdade é a vida eterna começada aqui, agora, já, na
terra.

É evidente que estas coisas, descritas, podem ser tomadas por liberdade. Na verdade,
dentro do homem ela é um desejo inato. É, no fundo, as marcas da eternidade e da plena
felicidade, único instante da imobilidade eterna. Aqui, liberdade e felicidade podem ser tomadas
por sinônimos, e a liberdade é tal que nada de material poderá oferecer aos homens a plena
liberdade ou felicidade. No fundo, à pergunta feita no início deste texto, poderíamos dizer como
resposta que a verdadeira felicidade é Cristo e Cristo crucificado.
Explica-se. Quando surgiu o primeiro homem na terra e sua mulher, os dois andavam em
plena liberdade, reciproca comunhão e felicidade perfeita. Não tinham necessidade de nada, pois
tinham tudo em Deus. Porém o criador para eleva-los a um maior estado de liberdade, comunhão e
felicidade, pediu-lhes a obediência a fim de fazê-los perceber a verdade do que eram, e o que
poderiam se tornar sem Deus. Assim, ofereceu à liberdade deles a oportunidade de escolha entre a
arvore do bem e do mal e a arvore da vida (Gên. 2, 9). Sabemos, portanto, o que ocorreu. Adão e
Eva prevaricaram e não escolheram a árvore da vida e por conseguinte perderam também a
liberdade e todas as graças ligadas a ela. Inclusive, a porta do céu (paraíso) foi trancada e expulsos
os primeiros pais da humanidade (Gên. 3, 23-24).

Milhares de anos depois o prologo de são João afirma que Deus se fez homem (Jo 1, 14), e
nós o cremos. Esse homem pregava que ele mesmo é o caminho a verdade e a vida, que ninguém
vai ao Pai se não por ele (Jo 14, 6). Pregava também que o jeito de ir ao Pai por esse caminho era
permanecendo nele, pois ele é a arvore da vida, a videira verdadeira (Jo 15, 1).

Então, podemos entender a árvore da vida dita lá do gênesis como esta videira verdadeira
que é Jesus. Quando essa árvore foi levantada no solo da nossa vida, no centro do mundo, todos os
olhares se dirigiram para ela, e ao olha-la ficaram curados (Jo 3, 14). Pode-se dizer sobre essa cura,
pela cruz, é o que chamamos liberdade. Por isso, não importa ser rico ou pobre, poder viajar, ou
comprar um carro, escolher beber gelado ou quente etc. Nada disso importa, mas o que importa é
Jesus e Jesus crucificado (1 Cor. 2, 2),

A cruz é a nossa liberdade, é a nossa comunhão e felicidade, porque ali Jesus cravou o
documento que nos condenava e tirava a nossa liberdade (Col. 2, 14). Portanto, o que é a liberdade,
se não usufruir da cruz de nosso senhor, onde espoliou os principados e potestades, e os expôs ao
ridículo, triunfado deles pela cruz (Col. 2, 15)? Logo, a cruz, é a vontade de Deus para nós servos da
Misericórdia Materna.

Assim sendo, a vontade de Deus é Ele mesmo dado a nós na cruz, restaurando a nossa
liberdade. Vontade, essa, estabelecida desde toda eternidade, pois, Deus não muda. Porém, entre
nós, seres humanos, é comum que esta mesma vontade se manifeste por meio de muitos caminhos
acidentais, cruzes providencias. Toma-se a palavra acidental não como acidente em oposição à
substância, mais no sentido de obstáculos em oposição à graça. Obstáculos que nós mesmos
colocamos, dificultando a ação de Deus, por termos medo da cruz. É assim, por causa da efêmera
natureza humana, que apesar de possuir liberdade na cruz, foge da única possibilidade de
verdadeira liberdade, porque a verdadeira liberdade é fazer a vontade de nosso Deus criador, e
essa é a cruz.

Em busca da liberdade perdida por nossos primeiros pais, no início da criação, pelo uso
indevido da inteligência que se voltou ao mal, muitos dedicaram suas vidas a encontrá-la
novamente a maneira de primeiros princípios, Arché, como diria os gregos. Na verdade, com essa
busca, iniciou-se uma preparação, do mundo, para receber o verbo de Deus o Homem-Deus. Quem
encontrasse tal princípio, do qual procedeu tudo que existe, encontraria a própria liberdade.
Porém, com a consciência manchada, o homem não poderia entrar na posse da plena liberdade.
Podia, entretanto, encontrá-la parcialmente. O problema de ser parcial é não pode ser plenificada,
não ser liberdade perfeita. No desejo dessa liberdade plena, alguns sábios disseram que o primeiro
princípio de tudo que existe, no qual, se for alcançado, o prêmio é a liberdade, era a “água” ou o
“fogo”; outros ainda disseram ser o “ar” ou o infinito. No caso de ser a água bastaria ter a liberdade
de tomar um como de água e pronto, alcançou-se a liberdade.

Apesar do tom de brincadeira, essa afirmação foi feita por Tales de Mileto primeiro filosofo
da história ocidental: “o princípio de tudo era a água”. Afirmação que esconde algo de profundo.
Por exemplo, todos os corpos, sejam de plantas, dos animais ou dos homens, tem proporções
consideráveis de água e aquilo que perpassa a estrutura de tudo que existe é a sua parte principal,
logo tudo foi feito de água. No cristianismo, se usa a água para o santo batismo que, na verdade,
tem força simbólica, mas realiza, na prática, o que o símbolo significa na realidade: lavar o mal e
colar quem o recebe na posse do bem. Apesar disso, a água tomada em si mesma, não passa de um
ser material. Pode, no entanto, naturalmente limpar e hidratar o corpo. Pode lavar a alma na
medida em que, abençoada, purifica a consciência em virtude do poder do Espirito Santo que a
santificou. Mas ela mesma, a água, não pode ser o princípio de tudo, por dois motivos. O primeiro:
se a água é o princípio de tudo ela seria a criadora de tudo, logo seria uma espécie de deus, o que
evidentemente não é. O segundo, a água deveria ser algo inteligente, que também não é o caso.

Na busca do primeiro princípio apareceu um filósofo chamado Parmênides que afirmou que
o princípio de tudo é o ser. A essa afirmação, anos à frente, Aristóteles explicou: alguns filósofos
indicaram princípios totalmente matérias como Arché de tudo. Parmênides, porém, foi além e
acertou o princípio, na medida em que o ser é um ente imaterial. Neste caso, o princípio de tudo é
a verdade. Portanto, a verdade é o ser. É o Ser que tem a existência em si mesma, e não é dada por
ninguém. Ser, este, que quando apreendido pela inteligência é a verdade.

Nesta altura, a liberdade identificou-se com a verdade e pode ser alcançada por uma
faculdade da inteligência chamada de contemplação. Ainda assim não era a liberdade plena, ou
perfeita. No entanto, pode-se dizer sobre isso, que o mundo estava sendo preparado para a
verdadeira liberdade; os filósofos batiam na porta do céu. Entretanto, ela estava fechada por causa
do pecado; guardada por um anjo de espada flamejante, não tinha contemplação que pudesse abri-
la. A liberdade precisava, assim por dizer, ser libertada.

Em vista disso, a porta da liberdade só poderia ser aberta pela própria liberdade, o Ser em Si
mesmo, a própria Verdade, o Homem-Deus. Isso foi o que aconteceu: o logos, o verbo, a palavra de
Deus, se fez carne e habitou entre os homens para libertá-los e mostrar qual é o verdadeiro
princípio de tudo, isto é, a vida em si mesmo, Deus. Foi justamente em face disso que a boca da
liberdade falou: “se conheceres a verdade, a verdade vos libertará e vos tornareis verdadeiramente
livres” (Jo 8, 32). Portanto, verdade e liberdade se juntam no Cristo, abre a porta do céu e nos dá
vida plena. Ademais, a plena liberdade não poderá ser encontrada se não no caminho, pois a boca
da verdade falou: Eu Sou o caminho a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai, a liberdade perfeita, se
não for por mim.

Neste ponto, a sabedoria uniu o fim dos primeiros aos princípios dos segundos e viu Deus,
que tudo era bom. Quer isso dizer que o caminho, a verdade e a vida, veio a nós por outro caminho,
o da Misericórdia Imaculada, “nascido de mulher” (Gl 4,4). É que a vontade de Deus em nós se faz
por caminhos acidentais, mas Deus sempre realiza sua vontade. Em proporção a isso, existiu, ou
melhor, existe um ser humano em que a vontade de Deus se realizou de maneira substancial. Este
ser nós chamamos de Mãe, ou, a Virgem Maria. Diga-se substancial, porque nunca houve nesta
Mãe obstáculos. No jeito que a vontade do Criador saiu do seio da Trindade Santa, nela, se realizou
plenamente, isto é, plena de graça (Lc. 1, 28). Assim quem a encontrou, encontrou a liberdade
perfeita, por dois motivos: a liberdade perfeita é a vontade de Deus e Ela (a Virgem Maria) é a
vontade de Deus em ato.

Se estas afirmações a cima estão corretas crer-se, portanto, a Virgem Maria ser a porta por
onde passou a liberdade, e nesta hora tornou-se, para nós, os cristãos, o caminho do caminho, a luz
da luz, a graça da graça. Ademais, a porta do céu foi para sempre aberta; na contemplação de nossa
bondosa Mãe, o verbo é eternamente encarnado; o princípio de tudo que existe o qual era
buscado, sem saber, pelos primeiros filósofos, se fez carne e habitou entre nós através da
maternidade virginal dessa bondosa Mãe. Ela é, consequentemente, o caminho do caminho pelo
qual, Jesus nosso senhor, passou ao vir até nós; é a graça da graça, porque Jesus ao nascer dela
acumulou-a com a plenitude da graça. Isto, em virtude da resposta do Espirito Santo que ao
proceder do Pai e do Filho ainda não tinha procedido dele outra Pessoa Divina. Porém, chegado que
foi o tempo, o Espirito Santo respondeu o amor do Pai e do Filho, introduzindo a Virgem Maria no
seio da Trindade e ao fazer isso, a medida da graça ultrapassou seus anelos e sua maternidade foi
divinizada (Lc. 1, 35). Em virtude disso, A virgem Maria é a esposa do Espirito Santo e tornou-se
causa distribuidora de graças, tem a plenitude da graça, e quem a encontrou, achou a plena
liberdade.

A expressão do Salmista confirma essa verdade: “na tua luz vemos a luz” (Sl 35, 10). O que
isso significa? Bom, sabe-se da mulher o dito: deu à luz, logo uma mulher dar à luz um filho que
gerou. Do mesmo modo, do princípio da vida do Filho da Virgem Maria, a sagradas escrituras nos
relata o seguinte: No princípio era o logos, (o verbo). O Verbo estava em Deus, e o verbo era Deus.
O verbo se fez carne e habitou entre nós. Por isso, o mundo viu uma grande luz e quem recebeu
essa luz foi-lhes dado o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1 ss.). Ora, quem deu à luz a essa
luz se não a Mãe da luz. Por isso, podemos dizer com o salmista: sim, na tua luz veremos a luz.
Podemos, ainda, acrescentar: Na tua luz, ó Mãe, veremos a luz. Luz rara de plena formosura, cristal
que brilha unicamente os raios do esplendor da divindade inacessível, sem nenhuma mancha de
pecado, toda perfeita. Bondosa Mãe, assim, deste a luz ao salvador e te tornar-te a luz da luz, o
caminho do caminho a graça da graça e a Mãe da Liberdade.

O modo como a liberdade veio até nós é-nos manifestada na cruz através da dor que Maria
Santíssima padeceu ao gerar-nos aos pés da cruz. Dor igual ao seu amor. Dor infinita, porque teu
amor é infinito e tornou perfeito o calvário como mãe corredentora. És a única digna de sofrer por
Deus. Arrisca-se dizer que o princípio de tudo, criou o mundo para ti, nasceu de ti e te deu um
monte de filhos gerados na dor universal que experimentastes na cruz.

É, portanto, a cruz a liberdade perfeita e para alcançar essa liberdade da cruz devemos olha-
la com os olhos marianos, pois, a Virgem Mãe ama a cruz. Ela sabe, foi na cruz que ela mesma
alcançou a plenitude da graça e a derrama sobre seus filhos, livres na cruz de seu filho-Deus. Por
isso, a liberdade é Jesus Cristo e Jesus Cristo Crucificado.
Indica-se por fim cinco (5) passos para viver a liberdade da cruz no carisma misericórdia
materna:

1. Amar as misérias, amar as próprias fraquezas. Isso significa não o apego as misérias, mas significa,
por um lado, o autoconhecimento. Isto é, saber que está cheio de misérias e fraquezas para
entrega-las na cruz, crava-las na cruz. Por outro lado, significa entender que é das próprias misérias
e fraquezas ofertadas na cruz, que Jesus faz brotar a misericórdia, bem ao modo de são Paulo:
quando sou fraco é então que sou forte.
2. Amar a miséria do outro. Difícil tarefa, mas sem isso não conseguiremos ser misericórdia para o
outro. Porém, o que significa amar a miséria do outro? Significa conservar entre nós a caridade
fraterna. Não esquecer de ser sempre hospitaleiros no acolhimento aos irmãos; lembrar dos que
sofrem como se estivesse sofrendo com ele; dos maltratados como se estivesses no mesmo corpo
que ele; ter paciência sempre, esperando a vinda do senhor que é sempre próxima. Na paciência,
não se queixar uns dos outros, não jugar para não ser julgado. Não permitido o sol se pôr sobre os
ressentimentos e coisas semelhantes.
3. Amar a cruz. Isso significa que a cruz se mostra para nós desfaçada em dor e sofrimento. Por
exemplo: a perda de um ente querido, a doença, o infortúnio etc. Amar a cruz, portanto, significa
selar todos estes acontecimentos com paciência ao modo de Jesus e a Virgem carregar a cruz. Sim a
virgem também carregava a cruz; Jesus nos ombros e ela no coração, poque amava a cruz.
4. Transformar a cruz em amor. Isso é, buscar entender que a cruz é o lugar dos amantes. Entender
que a cruz só é dor para quem foge dela. Portanto devemos desejar está com nossos corações
pregados na cruz a ponto de dizer: trago em mim os sinais da paixão do senhor. Ou seja, renuncia,
abnegação, escondimento, solidão, silêncio. Se olharmos a cruz rápido demais só iremos enxergar a
dor, mas se demorarmos um pouco veremos que não é dor é amor.
5. Oferecer-se a cada dia como uma vítima de amor na cruz. Na verdade, não suportamos ser vitimas
do amor por nós mesmos. Então, deveremos oferecer o Verbo Eterno ao Pai como vítima de amor
por nossos pecados pelas mãos da virgem Maria, e através de Jesus e Maria nos oferecer ao Pai
como hóstias vivas de amor, selando todos os nossos atos com a cruz. Desejar se impulsionado pelo
Espirito Santo que derrama esse amor em nossos corações.

Através desses passos podemos começar a entender o que é a liberdade. Como Disse Jesus:
Não é ninguém que me tira a vida, mas a dou por mim mesmo.

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