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OLGA

Fernando Morais

Biografia

COMEÇA A CONSPIRAÇÃO

Durou pouco o veraneio de Olga e Prestes na confortável casa de Paraventi às margens da represa
Guarapiranga. Em menos de uma semana o emissário retornou do Rio com o sinal verde de Miranda
para que o casal rumasse para a capital. Celestino Paraventi, que os cercara de todas as gentilezas,
insistiu nas vantagens de viajarem com ele, no carro último tipo. "Nenhum policial vai imaginar que
uma limusine de vários contos de réis está levando dois comunistas", dizia bem-humorado. Ele até
se antecipara, cometendo mais uma de suas loucuras: mandara um mecânico de confiança furar
cinco orifícios no porta-malas do automóvel, para a eventualidade de transportá-los ali. Mas os
hóspedes fincaram pé e seguiram viagem com a mesma discrição com que tinham chegado até São
Paulo: iriam para o Rio de táxi.

A decisão quase colocou tudo a perder. No meio da noite, quando se aproximavam da divisa
entre São Paulo e o estado do Rio, uma barreira policial de rotina parou o carro. A excessiva
preocupação de Olga com sua bolsa despertou a atenção do policial, que resolveu fazer uma revista
mais rigorosa. Lá dentro ele encontrou um minúsculo revólver com cabo de marfim. Prestes tentou
de tudo para evitar problemas maiores: ofereceu dinheiro, conversou amistosamente com o guarda,
mas foi inútil. O policial decidiu confiscar informalmente o revólver, operação que acabou por fazê-
lo esquecer de vistoriar os documentos do casal. Dali até o Rio de Janeiro, a única arma em poder
dos dois era a pistola de que Prestes nunca se separava.

O trajeto entre a entrada da cidade e o hotel no bairro de Botafogo foi suficiente para
maravilhar Olga Benário. Com 1 milhão e quinhentos mil habitantes, o Rio estava longe de ser uma
metrópole cosmopolita como Nova York ou Berlim, mas ela não teve dúvidas de que estava diante
da mais bela cidade que já vira. Pela primeira vez Olga encontrava uma paisagem natural tão
luxuriante. Da praça Paris, no começo do Flamengo, era possível ter uma ideia geral daquele
exagero: à direita, montanhas cobertas de vegetação; à esquerda, quilômetros de praias de areia
finíssima. Espremida no meio, a cidade, seus casarões coloniais, os bem recortados jardins imitando
Versalhes e incontáveis igrejas de todos os tamanhos e estilos. Ao fundo, emoldurando aquela visão
paradisíaca, o perfil do Pão de Açúcar. Saindo da praia, o carro meteu-se no meio do casario, tomou
uma rua pequena com as duas calçadas pontilhadas de palmeiras altíssimas, e seguiu pela rua
Marquês de Abrantes, até um pequeno hotel onde um apartamento fora reservado para o casal
Vilar.

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