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A Contagem do Ômer

Quarenta e nove dias separam Pêssach de Shavuot. Mas esse período de sete
semanas não é algo comum. É na verdade um elo que une estas duas festas. Cada
um desses dias é contado em ordem progressiva. Em cada uma destas quarenta e
nove noites, cada judeu deve recitar uma bênção especial (encontrada no Sidur,
livro de orações) e, em seguida, verbaliza o número do dia.
Essa contagem, chamada “Sefirat Ha’Omer” (a Contagem do Ômer),
expressa a vontade e expectativa de cada judeu em receber a Torá em Shavuot,
quarenta e nove dias depois de vivenciar a libertação celebrada em Pêssach. Este
período é um momento de refinamento e introspecção pessoal em preparação ao
recebimento da Torá
O mandamento da contagem do Ômer encontra-se na Torá, no livro Vayicrá
(23:15): “E contareis para vós desde o dia seguinte ao primeiro dia festivo, desde
o dia em que tiveres trazido o “ômer” da movimentação; sete semanas completas
serão.”
O ômer era uma medida (cerca de dois quartos) de cevada que os judeus
levavam como oferenda ao Templo Sagrado de Jerusalém, no segundo dia de
Pêssach e contavam então a partir daí, cada dia do ômer, culminando no dia 6 de
Sivan, Shavuot.
Mesmo após a destruição do Templo esta tradição da contagem do ômer
continua sendo realizada até hoje.

Quando contamos?
O Ômer é contado a partir da segunda noite de Pêssach até a noite anterior a
Shavuot. É melhor contar o Ômer ao anoitecer, logo após a prece noturna. Porém,
pode-se contar a qualquer hora durante a noite.

Quem Se Esqueceu de Contar?


Se alguém se esqueceu de contar à noite, pode contar durante o dia sem uma
bênção, e pode contar com bênção nas noites subsequentes. Se ele se esqueceu de
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contar durante o dia também, deve contar no restante das noites sem uma bênção.
Se a pessoa estiver em dúvida sobre se contou ou não na noite anterior, e não contou
durante o dia, pode continuar contando com uma bênção.

As 07 Sefirot emocionais
O tópico das Sefirot é um dos pilares do estudo da Cabalá. As Sefirot são a
forma básica do poder criativo de D-us. Constituem a estrutura e configuração
internas do Universo e servem de ponte entre o Criador e toda a Sua criação. Segue
uma breve explicação de cada uma das sete Sefirot emocionais.

1 – Chessed: A primeira das sete Sefirot emocionais é Chessed, que é comumente


traduzida por Amor ou Bondade. Esta tem a conotação de altruísmo – a doação
incondicional, que nada espera em troca. Esta Sefirá engloba as emoções do amor,
atração, generosidade e expansividade, bem como suas várias derivações e
ramificações. É Chessed o que nos impele a nos aproximarmos do outro, a dar de
nós mesmos e de nossas posses.
Sendo a primeira dos sete múltiplos, esta Sefirá faz um paralelo com o
primeiro dia da Criação. Como está descrito na Torá, a principal criação no
primeiro dia foi a luz. Uma das propriedades da luz é o fato de brilhar
indiscriminadamente e de ser expansiva, em geral sem limites bem definidos.

2 – Guevurá: A segunda Sefirá da emoção é Guevurá, traduzida como Contenção


ou Poder. Guevurá é essencialmente o oposto de Chessed: traz em si a restrição, o
distanciamento. A Guevurá também se manifesta através do uso da disciplina,
justiça, força e reverência. O conceito desta Sefirá é intimamente ligado a barreiras
e fronteiras e é também interpretado como Poder porque se manifesta sempre que
há concentração de força. Um feixe de raios laser, por exemplo, é muito potente
porque concentra luz.
O segundo dia da Criação foi quando o Eterno criou o Firmamento, incorpora
a Guevurá. Um firmamento, que é uma barreira, um limite, é o símbolo
desta Sefirá.
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A Cabalá ensina que Chessed e Guevurá são as duas emoções humanas básicas. A
primeira delas nos aproxima das pessoas, das coisas, das situações, ao passo que a
segunda faz o oposto. Uma pessoa que é basicamente caracterizada
pela Sefirá de Chessed é propensa a ser mais carinhosa e generosa. É alguém que
se doa; dá de seu tempo, de seu dinheiro, de seu patrimônio. É alguém que busca
os demais e com eles se preocupa. Por outro lado, aquele que se caracteriza
pela Sefirá de Guevurá tende a ser esquivo e muito contido. É alguém que não ama
facilmente nem busca ser amado. Não compartilha com facilidade e lhe é difícil ser
generoso, mesmo consigo próprio. Ademais, é uma pessoa que crê piamente na lei,
na ordem e na justiça. Não é muito tolerante nem consegue perdoar erros e pecados
alheios. Aquele cuja alma está ligada primordialmente à Sefirá de Guevurá tende a
ser disciplinado: é alguém geralmente centrado e organizado e esta disciplina
extraordinária geralmente resulta em torná-lo eficiente e poderoso, ajudando-o a
dominar qualquer assunto ou empreitada a que se dedique.
Claramente, dependendo de como é empregada, a Sefirá de Guevurá pode
ser um ponto extremamente positivo ou extremamente negativo. O mesmo se pode
dizer de cada uma das outras Sefirot emocionais, inclusive de Chessed. A
primeira Sefirá emocional não é necessariamente boa, assim como a segunda não
é necessariamente má.
É verdade que o amor é o maior e mais nobre dos sentimentos, e que deve
ser a força que guia nossa vida. Sua importância é destacada pelo fato de ser a
primeira das Sefirot emocionais. De fato, o principal mandamento no judaísmo é a
prática de atos de generosidade, caridade e bondade – todos estes, manifestações
de Chessed. Somos, também, ordenados a amar a D’us e a servi-Lo e cumprir Seus
mandamentos com júbilo. No entanto, para viver uma vida equilibrada e produtiva,
é preciso também utilizar-se a Sefirá de Guevurá. Aquele que é quase que
praticamente guiado pela Sefirá de Chessed irá viver uma vida indisciplinada,
desorientada, irresponsável e, talvez, não produtiva. Tentará fazer mais do que
consegue e, mais tarde ou mais cedo, estará esgotado física e mentalmente. Poderá
distribuir mais dinheiro do que suas reservas permitem e, em troca, ter que
depender da generosidade alheia. Pode preocupar-se muito com que os outros
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pensam, e, ao tentar agradar a todos, acabará não agradando ninguém. E pode tentar
envolver-se com atividades em excesso e ver-se "em toda parte" – desconcentrado,
exausto, sem jamais conseguir fazer algo bem feito e até o fim. Ademais, como se
sente atraído por todos e por tudo, ele pode deparar-se em meio a situações
perigosas e se envolver em relacionamentos e com pessoas destrutivas. Neste
mundo, é preciso viver-se com limites – com Guevurá. Quem desrespeita as
restrições e os limites o faz por sua própria conta e risco.
No entanto, viver uma vida praticamente governada pela Sefirá de Guevurá
tampouco é aconselhável. Aqueles que não dão muito não se devem surpreender
de não receberem muito – nem dos homens nem de D’us. Aquele que não ama não
deve contar com o amor de ninguém. E aqueles que crêem que a lei deve ser
aplicada sempre ao pé da letra devem ter em mente que o Altíssimo julga o homem
"medida por medida": a dizer, quem julga os demais com severidade e rigor será
julgado desta forma pelo Juiz do Universo. O modus vivendi ideal é o do equilíbrio
entre as Sefirot de Chessed e Guevurá.

3 – Tiferet: A mistura dessas duas constitui a terceira Sefirá emocional –Tiferet.


Esta Sefirá é definida como Beleza, Compaixão e Harmonia. Se Chessed é branca
e Guevurá é vermelha, então Tiferet é rosa. A terceira Sefirá da emoção representa
a capacidade de harmonizar e mesclar Chessed com Guevurá. Uma pessoa que age
com Tiferet tende a levar uma vida equilibrada e harmoniosa. Não doa com exagero
nem com mesquinhez. Não é muito expansivo nem muito retraído.
O terceiro dia da Criação é associado a Tiferet. Ainda que a Luz tenha sido
criada no primeiro dia e o Firmamento no segundo, no terceiro dia, D’us separou
os mares da terra seca. No terceiro dia da Criação – o dia mais auspicioso da semana
judaica – um equilíbrio harmonioso foi estabelecido entre os mares e a terra, ambos
necessários para a manutenção da vida. Ademais, a vegetação também foi criada
nesse terceiro dia. Uma planta que brota, nítida manifestação de Chessed, tem
também sua parte embutida na terra, servindo de barreira entre o novo ser e o
mundo exterior – um elemento de Guevurá. A planta, portanto, combina
Chessed com Guevurá, resultando em Tiferet.
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A esta altura desta nossa análise, é importante enfatizar que a Sefirá de
Tiferet não é uma substituta para Chessed e Guevurá. (Se tal fosse o caso, D’us
teria criado apenas a Sefirá de Tiferet, e não as outras duas). O emprego
de Tiferet pode parecer uma escolha segura, mas nem sempre é a ideal. Na vida,
com freqüência temos que agir com Chessed, doando incondicionalmente,
enquanto em outros momentos, temos que agir com Guevurá, com total auto-
contenção. Mas a vida de uma pessoa, em sua plenitude, deve ser caracterizada
pela Sefirá de Tiferet, pois deve ser harmoniosa. O grande desafio da vida é que
esta requer uma sabedoria extraordinária e um agudo senso de percepção para se
saber quando agir com Chessed, com Guevurá ou com Tiferet. Nossos erros na
vida ocorrem, em geral, quando empregamos uma Sefirá ao invés de outra.

4 – Netzach: A quarta Sefirá da emoção, Netzach, é definida de várias maneiras:


como Dominância, Vitória, Eternidade e Ambição. A palavra Netzach advém de
Menatzeach, conquistar e superar, ou vencer. Na Árvore das Sefirot, Netzach,
assim como Chessed, fica do lado direito; como ensina o Tikunei Zohar, este
Atributo corresponde à perna direita do corpo humano. Assim
sendo, Netzach deriva do Amor: quanto mais um ser se doa a outro (Chessed), mais
essa pessoa influencia e talvez subjugue o outro.
Netzach é simbolizado por uma perna humana por ser a Sefirá emocional que
"nos leva a lugares". É o que inspira o ser humano a ter ambições e o que o compele
a ir atrás de seus objetivos e sonhos: a vencer os desafios, a conquistar seus
oponentes. Netzach significa estabelecer sua vontade e, não raro, tentar dominar os
outros para que seu objetivo seja atingido. O treinador de um time esportivo
geralmente emprega Netzach: sua ambição e objetivo são ser vitorioso e vencer a
equipe oponente; e, para tanto, ele precisa impor sua vontade sobre seus jogadores
para que estes ajam de acordo a seus planos e estratégia.
A Sefirá de Netzach corresponde ao quarto dia da Criação quando as estrelas
e os corpos astronômicos foram criados. D’us os criou e os dispôs onde estão sem
qualquer reciprocidade de parte dos mesmos. D’us impôs Sua Vontade sobre eles
para que O servissem e a Seus propósitos. E assim foi.
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5 – Hod: A quinta Sefirá da emoção é Hod. Assim como Guevurá é o oposto de
Chessed, Hod é o oposto de Netzach. Se o conceito de Netzach é afirmar a vontade
ou identidade de alguém, Hod se manifesta quando alguém se anula perante
outrem. Com efeito, a palavra hebraica Hod tem a conotação de
Hoda’a, submissão; ou também a capacidade de "agradecer" mesmo em caso de
infortúnio, ou seja, "admitindo" e aquiescendo em face de um obstáculo.
Um soldado que segue ordens de um superior, sem questionar, se vale da
Sefirá de Hod, da mesma forma que um jogador que confia em seu treinador age
exatamente conforme sua orientação. Na Árvore das Sefirot, Hod fica ao lado
esquerdo, assim como Guevurá. Hod deriva, portanto, de Contenção: quanto mais
alguém se contém (Guevurá), mais ele abre espaço para as necessidades do outro
e, assim, mais ele permite que o outro afirme sua própria individualidade (Hod).
Para oferecer uma analogia que explique a diferença entre Netzach e Hod, se
a vida fosse um jogo de xadrez, sempre que D’us, Mestre Enxadrista supremo,
impusesse a ordem – não apenas movendo Suas peças do tabuleiro, mas nos
forçando a mover nossas peças segundo Sua Vontade – Ele estaria
praticando Netzach. No entanto, sempre que Ele espera que nós movamos as peças
segundo nossa própria vontade, é Hod que se manifesta.
Esta Sefirá é representada pelo quinto dia da Criação quando foram criadas
as primeiras criaturas vivas, os peixes. Estes foram os primeiros seres que se
puderam mover livremente.
Assim como a pessoa necessita empregar tanto Chessed quanto Guevurá, de
igual maneira terá que agir com Netzach e Hod. Para andar de forma adequada e,
em especial, para correr, são necessárias as duas pernas – que simbolizam a quarta
e a quinta Sefirot emocionais. Para funcionar adequadamente no mundo, para se
"chegar ao destino", é preciso ser, ao mesmo tempo, assertivo e submisso; às vezes,
é preciso liderar; em outras, ser liderado. É preciso saber quando insistir em nós
mesmos e em nossas idéias, mas também ter a humildade de aceitar a colaboração
do outro, especialmente quando esse outro é mais qualificado ou capacitado do que
nós. Para viver efetiva e produtivamente, é preciso fazer uso de Netzach,
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formulando objetivos e metas e se esforçando para vencer limitações e obstáculos
– mas é preciso, também, utilizar Hod no conselho pedido a um terceiro e na
consideração com os que nos cercam.
Às vezes, é preciso utilizar apenas Netzach, fazendo valer sua própria
identidade e vontade; outras vezes, é preciso agir com Hod, concordando com os
demais. Na maioria das situações, o ideal é um equilíbrio harmonioso entre essas
duas Sefirot. Tal harmonia ocorre quando a sexta Sefirá emocional, Yessod, se
manifesta. Assim como Tiferet é a combinação de Chessed e Guevurá, Yessod é a
mistura de Netzach e Hod. Yessod denota um equilíbrio entre a agressividade
de Netzach e a aquiescência passiva de Hod.

6 – Yessod: Yessod, traduzida como "Fundamento", é basicamente um


relacionamento recíproco. A sexta Sefirá emocional é a média perfeita
entre Netzach e Hod. Não se trata apenas de uma amálgama física, mas de uma
mescla da psique, da emoção e do espírito. Em outras palavras, a medida perfeita
para se manter a identidade própria sem abrir mão da mesma. O paradigma de
Yessod é o íntimo relacionamento entre um homem e uma mulher. O
relacionamento ideal, segundo o judaísmo, é o casamento onde há uma parceria,
onde um cônjuge completa o outro, e não quando um sempre domina e o outro
sempre se submete. A parte do corpo humano que corresponde a Yessod é o órgão
sexual, que, se usado propriamente, pode unir duas pessoas na mais íntima de todas
as uniões. Yessod representa o vínculo mais potente que pode existir entre dois
indivíduos – um vínculo tão forte que dá a dois seres humanos a oportunidade de
se tornarem, à semelhança de D’us, criadores da vida. A Sefirá de Yessod é também
a ligação suprema do ser humano com o Divino.
O sexto dia da Criação é associado com Yessod, pois foi o dia em que o
homem foi criado. O homem é o fundamento e propósito da Criação. Em nossa
vida, D’us está constantemente nos dando algo (Netzach), pois Ele está
constantemente recriando e sustentando toda a existência. Mas, ao mesmo tempo,
fazendo uso do livre arbítrio que Ele nos deu, nós podemos dar-Lhe algo em troca
(Hod): podemos trabalhar para aperfeiçoar o Seu mundo e viver de acordo com Sua
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Vontade, cumprindo, assim Seu objetivo ao criar o Universo. Desta forma, por
assim dizer, nós Lhe damos prazer. Yessod, portanto, é um relacionamento de
reciprocidade. A relação ideal de Yessod é aquela de um Tzadik com D’us.
O Tzadik, o homem justo, é aquele que está constantemente ligado a D’us: ele
dedica sua vida a cumprir a Vontade Divina e D’us atende praticamente todos os
seus pedidos.
Segundo um antigo Midrash, os primeiros seis dias da Criação podem ser
vistos como dois blocos de três dias, sendo que o segundo deles aperfeiçoa e
completa o primeiro. Esse Midrash afirma que no primeiro dia (Chessed), D’us
criou a luz. No quarto dia (Netzach), três dias mais tarde, Ele criou as luminárias.
No segundo dia, Guevurá, D’us criou os oceanos ao dividir as águas. No quinto
dia, Hod, Ele criou os peixes, que são a perfeição da água. No terceiro dia, Tiferet,
D’us criou a terra seca. No sexto dia, Yessod, Ele criou o homem, senhor da terra
seca.
7 – Malchut: As seis primeiras Sefirot emocionais, de Chessed a Yessod,
constituem uma estrutura única, unificada, que é chamada, na Cabalá, de Ze’ir
Anpin ("Rosto Pequeno").
A sétima e última Sefirá emocional é Malchut, traduzida como Realeza.
Enquanto as seis primeiras Sefirot emocionais são "masculinas", Malchut é
uma Sefirá "feminina". As seis primeiras, Ze’ir Anpin, são vistas como os poderes
básicos de dar e criar, ao passo que a feminina, Malchut, representa o poder de
receber. Em linguagem cabalística, Malchut é também chamada de Nukvá de Ze’ir
Anpin (o feminino de Ze’ir Anpin). Nukvá é o termo em aramaico para a palavra
hebraica para feminino, Nekevá, e se refere à noiva de Ze’ir Anpin.
A Criação do universo ocorreu através da Sefirá de Malchut. Esta última de
todas as Sefirot, intelectuais e emocionais, é comparada ao útero feminino:
representa o poder de receber Ze’ir Anpin, abrigá-lo e, em algum momento futuro,
devolver algo mais completo e perfeito. O dia da semana que corresponde
a Malchut é o sétimo, o dia sagrado: Shabat. Malchut relaciona-se ao sétimo dia da
Criação, que é o dia que nos dá o poder de recebermos a energia de todas
as Sefirot e integrá-las em nossa vida. As primeiras seis Sefirot emocionais, além
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de se relacionarem aos seis dias da Criação, representam as seis direções básicas
do universo físico tridimensional: Norte-Sul, Leste-Oeste, para cima-para abaixo.
Representam, também, os modos fundamentais de se alcançar as seis direções da
Criação. Malchut, por outro lado, é o eixo ou ponto focal que reside no centro das
seis direções, e de onde, ao invés de olhar para fora, a pessoa olha para dentro de
si, absorvendo iluminação espiritual sobre si própria.
Malchut é a idéia de receber: é a idéia de ser um Kli, um "receptáculo".
Esta Sefirá é o poder que D’us nos dá para que possamos ter condições de receber
d’Ele. E, mais importante, é em Malchut que se realiza o propósito de doar: o
relacionamento em que o receptor pode retribuir, tornando-se, assim, doador. Por
esta razão, Malchut é vista como uma Sefirá feminina. Por outro lado, Malchut é o
"receptáculo" mais sublime, que foi criado para conter a Luz Divina. Representa a
epítome do ato de receber, sendo, portanto, caracterizada como a Sefirá que "não
possui nada de seu". Malchut literalmente precisa receber tudo o que possui
das Sefirot que a precedem. Mas, por outro lado, representa o poder que, em última
instância, unifica todos os diferentes poderes das Sefirot, mantendo-os todos
unidos. Sem Malchut, a Criação estaria incompleta.
O Sefer Yetzirá ensina que os seis dias da semana, que são masculinos, são
as seis direções que apontam para o exterior. O Shabat, por sua vez, que é feminino,
é o pólo que atrai todos os seis pontos, unindo-os. Durante toda a semana, em nosso
empenho para adquirir a espiritualidade, permanecemos no nível "masculino".
No Shabat, chegamos ao nível "feminino" porque conseguimos absorver os frutos
de todo o empenho da semana que transcorreu. Sem o Shabat, não teríamos
condições de receber a espiritualidade: isto pode ser comparado a uma situação em
que nos empenhamos por algo, sem nunca atingi-lo. Daí a importância suprema do
Shabat para o judaísmo. Ensinam-nos, pois, que este dia é a fonte de todas as
bênçãos: é o dia que recebe o trabalho espiritual realizado durante os dias da
semana, gerando, assim, ainda mais bênçãos para a semana vindoura.
O Shabat pode ser comparado ao solo onde se planta uma semente. Sem o solo, a
semente não poderá virar uma planta.

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A dinâmica entre as seis primeiras Sefirot emocionais (Ze’ir Anpin)
e Malchut (Nukvá) pode ser comparada ao relacionamento biológico entre um
homem e uma mulher que geram a vida: o homem é o doador, mas é a mulher quem
recebe e acalenta, e, ao gerar um ser humano, acaba doando muito mais do que o
início plantado pelo homem.
Malchut é, pois, não apenas um vaso contentor, que apenas recebe: para ser
perfeita, precisa também dar daquilo que recebe. O receptor precisa se transformar
em doador. Em termos monárquicos, por exemplo, Malchut poderia representar a
aceitação pelo povo da soberania do rei, bem como do fato de ele ser o seu
provedor. Eles seriam dependentes de seu rei, mas se este quisesse que seus súditos
interagissem com ele, teria que dar-lhes alguma forma de liberdade e autonomia.
Tornar-se-iam, assim, seus parceiros na condução do reino.
Nosso Rei verdadeiro e eterno é D’us. Como Ele é a Origem de tudo, estamos
constantemente recebendo tudo d’Ele. Mas somos, também, obrigados a fazer
nossa parte na obra de aperfeiçoar o Seu mundo. Se tomarmos o que D’us nos dá –
recursos, talentos e oportunidades que nos são ofertados – e os utilizarmos para nos
aperfeiçoarmos, bem como ao mundo, estaremos fazendo bom uso de Malchut.
Malchut é associada à boca, pois, para verdadeiramente liderar, é preciso
comunicar-se bem para servir de inspiração a seus adeptos. A Realeza está
intimamente ligada às palavras, como se comprova no fato de que D’us, Rei do
Universo, criou e continua a recriar o Universo através da Fala Divina. Ademais, o
homem é rei na Terra porque ele, mais do que qualquer outra criatura, pode, de
fato, comunicar-se de forma efetiva e sofisticada.

Conclusão
O homem está ligado a um sistema de mundos superiores, apesar de este
sistema não lhe estar revelado. Cada um de nós é composto por fluxos espirituais
de energia que definem nossa personalidade. Através de nossas ações e como
resposta a estas, que estabelecemos (ou não) um equilíbrio entre o espiritual e o
material nossa mente e nossas emoções, assim como entre nós e o mundo que nos

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cerca. A jornada mística da busca do 'eu verdadeiro' se inicia com a conscientização
deste fato espiritual da vida.
Para a Cabalá, as Sefirot não são um sistema teológico abstrato, mas sim um
mapa da consciência humana através do qual poderão ser descobertas as dimensões
do ser, pois a totalidade espiritual e psicológica do ser humano pode ser obtida pela
meditação nas qualidades de cada Sefirá e pela imitação dos atributos Divinos.
Estas descobertas poderão levar a uma revolução na percepção do sentido da vida.
Um dos preceitos básicos do Judaísmo é que a vida tem sentido, e a meta do
homem é se aperfeiçoar e aperfeiçoar ao mesmo tempo o mundo à sua volta. A
Cabalá nos ensina que o homem é a única criatura que tem como superar sua
natureza interna, suas inclinações, aperfeiçoar-se espiritualmente aproximando-se
desta forma de seu Criador.D's disse a Abraão: "Vai". Segundo nossos sábios, este
versículo tem uma mensagem que se destina a todas as pessoas... "Vai para dentro
de ti mesmo; conhece-te e completa-te". Terminamos com um pensamento do Rav
Abraham Kook, erudito deste século que disse: "Quanto mais forte és, mais
precisas procurar-te".

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