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Curso FIC - Cafeicultor

Disciplina Manejo e Fertilidade


dos Solos para Café

Professor Instrutor
Me. Frederico Luiz Pereira
Muzambinho - 2020
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica

Secretaria de Educação a Distância

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do


Sul de Minas Gerais - Campus Muzambinho.

Curso - FIC
Cafeicultor

Coordenadora do Curso
Luciana Maria Vieira Lopes Mendonça

Coordenadora de Plataforma
Elba Sharon Dias

Disciplina
Manejo e Fertilidade dos Solos para Café

Professor Instrutor
Frederico Luiz Pereira

Apostila
Manejo e Preparo do Solo
Semana 5

Professor Conteúdista
Prof. Me. Frederico Luiz Pereira

Muzambinho
Sumário

Acidez do solo, calagem e gessagem.......................................................................................... 4


Correção da acidez: Calagem ................................................................................................... 11
Gessagem .................................................................................................................................. 13
Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 14
Vimos nos assuntos anteriores sobre os
processos de formação dos solos, os fatores que
influenciam nesse processo, onde discutimos

Acidez do solo, uma ação determinante do clima, relevo e


organismos, atuando na rocha ao longo do tempo
calagem e para dar origem aos diferentes tipos de solos que

gessagem temos. Destacamos como atributo originado


desse processo de formação, a parte textural ou

Prof° Me. Frederico Luiz Pereira granulométrica do solo, constituída pelas


partículas unitárias de areia, silte e argila, onde a
união dessas em suas devidas proporções,
originam a estrutura do solo, e ainda
características como a porosidade, fundamental
quando se trata da infiltração, retenção e
disponibilidade de água para as plantas. Dentro dos estudos sobre a granulometria, foi dado
destaque para a partícula de argila devido à importância que a mesma possui, não somente no
sentido de agregação do solo e retenção de água no solo, mas também em processos
fundamentais para fins de manejo químico do solo.
Dessa forma, nos estudos dessa semana, iremos discutir alguns aspectos químicos do
solo, importantes para o correto manejo nutricional do cafeeiro, e para tal, abordaremos um
pouco mais, sobre as argilas.
As argilas devido à características da sua estrutura, são partículas constituintes do solo,
capazes de reter água e nutrientes, especialmente nas camadas mais superficiais do solo e ao
mesmo tempo, disponibilizar a água e os nutrientes para as plantas, em um processo
denominado de capacidade de troca de cátions, sendo esse representada pela sigla CTC.

Mas o que é exatamente a CTC do solo?

A capacidade de troca de cátions (CTC) corresponde à soma


das cargas negativas nas partículas microscópicas do solo
(fração argila, e matéria orgânica) retendo os cátions, tais
como cálcio (Ca2+), magnésio (Mg2+), potássio (K + ),
sódio (Na+), alumínio (Al3+) e hidrogênio (H+).

Fonte: https://www.pedologiafacil.com.br/

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Veja o esquema que ilustra a representação desse fenômeno e/ou processo:

Imagem 1: representação de uma partícula de argila,


retendo nutrientes no solo e disponibilizando para as
plantas.
Fonte: https://blog.aegro.com.br/ctc-do-solo/

Imagem 2: representação esquemática do processo de CTC do solo, que ocorre


semelhante ao imã.
Fonte: https://www.pedologiafacil.com.br/enquetes/enq23.php

Conforme está representado na imagem, a capacidade de troca de cátions ou CTC, é um


fenômeno de extrema importância, sendo um dos principais fenômenos da natureza e um dos
grandes responsáveis pela nossa existência.
Nesse processo, os nutrientes presentes no solo, sejam estes naturais do próprio material
de origem liberados através do intemperismo ou adicionados através das adubações
(fertilizantes) são transformados no solo (solubilizados) e com isso, caso não sejam absorvidos
pelas raízes das plantas, podem ser retidos “presos” pelas argilas do solo, e posteriormente
liberados novamente, por esse motivo chamado “troca” de cátions. Podemos então concluir que
as argilas através da capacidade de reter nutrientes e os disponibilizar para as plantas,
funcionam como um reservatório de nutrientes. Do contrário, se não houvesse esse processo e
as plantas não absorvessem os nutrientes presentes na solução do solo (água + nutrientes), estes
poderiam ser perdidos através da precipitação (chuva) intensa, prejudicando a adubação,

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empobrecendo o solo, e consequentemente trazendo prejuízos para a produtividade, no caso em
questão do café e assim para o produtor.

Mas falando nos nutrientes, você sabe quais são eles? Qual sua importância no
solo e nas plantas?

Os nutrientes são divididos basicamente em dois grupos, sendo eles: macronutrientes e


micronutrientes. Os macronutrientes são assim chamados os nutrientes exigidos em maiores
quantidades pelas plantas. Já os micronutrientes, do contrário, são os nutrientes exigidos em
menores quantidades pelas plantas.

• Macronutrientes: nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg)
e enxofre (S).

• Micronutrientes: ferro (Fe), manganês (Mn), zinco (Zn), cobre (Cu), molibdênio (Mo),
boro (B) e níquel (Ni).

Portanto, existem os nutrientes que são demandados em maiores quantidades pelas


plantas, devendo então serem aplicadas maiores quantidades de fertilizantes na adubação, em
termos de quilos por hectare (Kg/ha), bem como os nutrientes demandados em menores
quantidades na ordem de gramas ou miligramas.

Mas atenção!!!
Não existe esse ou aquele nutriente mais importante,
todos nas devidas proporções seja no solo ou na planta
são importantes, o que difere são as quantidades
exigidas de cada um.

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Vale destacar que todos esses nutrientes apresentados, associados ainda ao carbono (C),
hidrogênio (H) e o oxigênio (O2) são considerados como essenciais para as plantas, ou seja,
fazem parte de alguma forma do seu metabolismo e sem eles, a planta não consegui desenvolver
seu ciclo de crescimento e produção. É o que diz a conhecida Lei do Mínimo apresentada nos
estudos fertilidade dos solos e nutrição de plantas, proposta pelo cientista Justus von Liebig
em 1850:

“A produtividade de uma cultura é limitada pelo elemento que


estiver ausente e em quantidade limitada, em relação aos demais”

Está afirmação proposta por Liebig, tornou-se lei e até hoje é vista, estudada e praticada
no manejo da fertilidade do solo e da nutrição de plantas. Essa é representada de forma
esquemática, pelo conhecido “barril de Liebig” que expressa de forma didáticao conceito dessa
lei, vejamos:

Imagem 3: representação da lei do mínimo pelo barril de Liebig.


As barras representam os nutrientes, onde a falta se um,
compromete a produção máxima da planta.
Fonte: https://melhorbiologia.blogspot.com/2015/06/lei-do-
minimo.html

Dizemos então que, cada elemento (nutriente) tem sua importância no solo e
especialmente para a planta. Como exemplo podemos citar o nitrogênio (N), um dos
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macronutrientes mais exigidos pelas plantas, e o molibdênio, dos micronutrientes, o menos
exigido em termos de quantidade, entretanto na falta de nitrogênio na planta, a mesma não
consegui aproveitar de forma eficiente o nitrogênio.
Mas esse é apenas um dos inúmeros exemplos de importância de cada um dos 16
nutrientes essenciais, e no momento de se fazer a adubação, visando a nutrição equilibrada das
plantas, devemos observar a quantidade de cada um desses, através da análise de solo e folhas
principalmente, associado sempre a observação visual das condições da planta.
Portanto, foi tratado aqui, assuntos importantes sobre a capacidade do solo em reter
nutrientes e dos disponibilizar para as plantas através do fenômeno da CTC e assim,
apresentados os 16 elementos essenciais ao metabolismo vegetal. Trataremos agora de um
assunto muito importante que diz respeito a acidez e alcalinidade do solo, que é um fator
determinante no manejo químico do solo e regula a dinâmica dos macro e micronutrientes.

Acidez do solo

(Trecho referente ao assunto de acidez do solo, retirado da dissertação de mestrado de autoria


de Ursuléia Aparecida de Oliveira, 2019.)

A acidez ou alcalinidade de um solo, representados pelo pH, é um parâmetro que afeta


a dinâmica do solo, em termos de atividades químicas e biológicas e na disponibilidade dos
elementos que devem ser absorvidos pelas raízes. Abaixo uma representação da escala de pH:

Imagem 4: detalhe de uma escala de pH


Fonte: https://docplayer.com.br/18430917-Acidez-do-solo-e-
calagem-prof-dr-gustavo-brunetto-ds-ufsm-brunetto-gustavo-
gmail-com.html

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A acidez dos solos é determinada pela presença de elementos H+ e Al3+, sendo este
último, tóxicos para as plantas quando em altas quantidades (BRADY; WEIL, 2013) e constituí
problema para o manejo da fertilidade (RAIJ, 2011). Em 58% do território brasileiro
predominam os solos classificados como Latossolos e Argissolos, caracterizados por serem
altamente intemperizados, ácidos e por possuírem baixa fertilidade natural, principalmente na
região do cerrado (EMBRAPA, 2018).
Além dos prejuízos gerados em solos cultivados, destaca-se também os ambientais, à
maior lixiviação de nutrientes principalmente o K, das camadas mais superficiais para as mais
profundas no perfil do solo, empobrecendo camada superficial, podendo causar contaminações
no lençol freático. No processo de acidificação do solo, há a formação de cátions ácidos H+,
sendo estes retido fortemente nas cargas negativas das superfícies coloidais, causando redução
de cátions básicos, como Ca2+, Mg2+ e K+, presentes na solução do solo, podendo estes, serem
carreados pela infiltração da água da chuva para camadas subsuperficiais (RANST et al., 2017).
Portanto, a perda de nutrientes, empobrece o solo, e pode resultar, em baixa fertilidade e menor
atividade microbiológica, influenciando na estruturação do solo, devido aos teores de óxidos de
Al, com efeitos negativos para a produção vegetal.
Uma das causas da acidez, é a ocorrência de solos degradados, sendo este um problema
global desencadeado muitas vezes pela má gestão dos solos (CERDA et al., 2016) devido às
práticas intensivas, mudança de uso da terra, excesso de pastoreio (YAN; CAI, 2015). Dessa
forma, práticas de manejo adequadas, são necessárias para proteger e conservar os solos (XIE
et al., 2015).
Conforme Rivera et al., (2016) a calagem e/ou a adição de resíduos orgânicos, são
estratégias para melhorar a produção agrícola em solos com problemas de acidez e toxicidade
de Al3+. A acidez resulta em perda da eficiência das adubações, gerando prejuízos na nutrição,
crescimento e desenvolvimento das plantas.
De acordo com Castro e Crusciol (2013), Abate et al., (2017) e Baquy et al., (2018)
aproximadamente 70% das terras agrícolas no Brasil, além 30% de terras livres de gelo em todo
o mundo, são ácidas, ou seja, apresentam pequenas quantidade de bases trocáveis como Ca2+ e
Mg2+ associados a elevados teores de Al3+ e Mn2+ , sendo estes associados a condições de solos
ácidos, apresentando ainda problemas de fitotoxicidade às plantas. Consequentemente há a
limitação da produtividade entre as culturas devido a toxicidade provocada por esses íons,
gerando efeitos negativos à produção agrícola, uma vez que a acidificação do solo leva a
diminuição dos teores de nutriente, devido à lixiviação das bases e aumento da atividade do
alumínio (GRUBA; SOCHA, 2016; PÉRTILE et al., 2017). Esse desequilíbrio se deve
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parcialmente ao intemperismo natural e também às práticas inadequadas de manejo do solo,
caracterizado pela necessidade de suprir a demanda alimentar, recursos humanos, bens e
serviços que dependem de maior exploração solos. Em contrapartida apensar de haver grande
quantidade de terras que ainda estão aptas a serem exploradas para fins de produção agrícola,
agricultores abandonam as práticas de gestão de fertilizantes, com exemplo dos criadores de
gado que durante a estação chuvosa os encurrala a noite, como método de obtenção e aplicação
de estrume tornando o solo seco, propenso a erosão e alterações climáticas (ABATE et al.,
2017; BAQUY et al., 2018).
É imprescindível que haja conhecimento específico sobre as propriedades químicas dos
solos tropicais e que estes sejam relacionados à acidez e ao crescimento das plantas, pois é
critério determinante para o desenvolvimento de práticas adequadas para uma calagem, visando
sempre o uso eficiente de fertilizantes e água (FAUZIAH, 2013; CORREIA, 2018).

Veja um esquema que ilustra a condição de solos ácidos e neutro, com pH, próximo da
neutralidade:

Imagem 5: representação esquemática de solo neutro e ácido.


Fonte: https://www.indagacao.com.br/2018/11/unesp-2019-o-processo-de-
acidificacao-do-solo-e-predominante-em-areas-de.html

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Como visto, a acidez elevada, constitui
um sério problema para o manejo da adubação.

Correção da Solos com pH em 5,0 unidades ou abaixo,


possuem uma elevada acidez, sendo esse grau de
acidez: acidez prejudicial para a maioria das cultivos,
inclusive o cafeeiro, pois associado a essa
Calagem acidez, haverá a presença de altos teores de
alumínio (Al3+) sendo este tóxico às plantas,
Prof° Me. Frederico Luiz Pereira
podendo ainda ocorrer teores elevados de
manganês, podendo chegar também em níveis
tóxicos às plantas. Além disso, a acidez elevada,
é prejudicial para a absorção de muitos
nutrientes como cálcio, nitrogênio, fósforo,
magnésio, potássio, com isso, causando
ineficiência da adubação e prejuízos ao produtor.
Portanto, a correção da acidez do solo, de modo a manter o pH com valores próximos a
6,0, sendo este, ideal para o café, é de máxima importância, pois nesse pH, os nutrientes
provenientes da adubação, são melhor aproveitados. A prática agrícola, comumente realizada
na correção da acidez do solo, é a calagem, através da aplicação de calcário. Para tanto, a
realização da amostragem de solo para fins de verificação das condições químicas do solo,
incluindo o pH, são muito importantes, especialmente para se determinar a necessidade ou não
de se corrigir o solo.

“Vale aqui frisar que, um bom programa de adubação do solo, começa


pela realização de uma boa amostragem do solo, e posterior quantificação
química no laboratório, seguida de uma boa interpretação dos resultados e
caso seja necessário, de uma boa correção do solo”

A prática da calagem, através da aplicação de calcário (corretivo mais comum do solo),


além de promover a correção dos níveis elevados de acidez, ainda fornece cálcio e magnésio

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para as plantas, sendo estes, dois macronutrientes essenciais para as plantas. Podemos então
dizer que a calagem, entre outros benefícios, corrige o pH promovendo melhor eficiência das
adubações e ainda funciona como fonte de nutrientes para o cafeeiro.
É importante destacar, que o calcário, dependendo e algumas características, é um
produto de lenta reação no solo e ainda possui um certo limite de dose para ser aplicado, pois o
excesso de calcário aplicado no solo, processo conhecido como supercalagem, promove efeitos
negativos no solo, costuma-se inclusive ser dito que: os efeitos gerados por um excesso de
calagem no solo, são até piores do que um solo em condições de elevada acidez. A calagem
então, é uma prática de máxima importância e que promove muitos benefícios, mas, desde que
seja realizada conforme critérios técnicos adequados.

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Vimos que o excesso de alumínio no solo
é prejudicial, pois em altos teores, especialmente
em camadas mais profundas do solo, torna-se
tóxico para o cultivo, pelo fato de comprometer
o desenvolvimento normal do sistema radicular.

Gessagem Sendo o cafeeiro uma cultura que pode


apresentar desenvolvimento de raízes de até 1,20
metros, a presença do alumínio em camadas
Prof° Me. Frederico Luiz Pereira
mais profundas do perfil (abaixo de 40 cm) pode
tornar um impedimento químico severo para
esse crescimento e desenvolvimento da raiz em
profundidade.
Nesse sentido, a prática da gessagem,
através do uso de gesso agrícola, sendo este um
subproduto da fabricação de adubos fosfatos,
promove a neutralização desse alumínio nessas camadas abaixo de 40 – 60 cm, e ao mesmo
tempo fornece cálcio para o solo, pois o cálcio, ao contrário do alumínio, promove o
desenvolvimento das raízes. Sendo assim, se o gesso neutraliza os efeitos do alumínio e ao
mesmo tempo fornece cálcio, isso irá promover um melhor desenvolvimento radicular. Como
benefício a essa prática, tendo o cafeeiro apresentado maior desenvolvimento de raízes, isso
fará que com que suas raízes busquem água disponível em maiores profundidades, com isso
podendo tolerar melhor períodos secos do ano, com déficits de chuva.
Da mesma forma que o calcário, o uso do gesso, apesar de ser um excelente produto
agrícola, pelos benefícios que promove, deve ser feito com critérios técnicos, pois aplicações
em excesso, podem ser prejudiciais.

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Referências Bibliográficas

BRUNETTO, G. Acidez do solo e calagem. Universidade Federal de Santa Maria. Disponível


em: https://docplayer.com.br/18430917-Acidez-do-solo-e-calagem-prof-dr-gustavo-brunetto-
ds-ufsm-brunetto-gustavo-gmail-com.html. Acesso em: 23 de julho de 2020.

LAVOURA 10 / CTC-do-solo. Disponível em: https://blog.aegro.com.br/ctc-do-solo/. Acesso


em: 22 de julho de 2020.

LEPSCH, I. F. Formação de Conservação do Solo (2002). Adaptado. Disponível em :


https://www.indagacao.com.br/2018/11/unesp-2019-o-processo-de-acidificacao-do-solo-e-
predominante-em-areas-de.html. Acesso em: 23 de julho de 2020.

MELHOR BIOLOGIA – Lei-do-mínimo: Disponível em:


https://melhorbiologia.blogspot.com/2015/06/lei-do-minimo.html. Acesso em: 23 de julho de
2020.

OLIVEIRA, U. A. et al. Potencial remineralizador do solo de um pó de granito/gnaisse em


latossolo no cultivo de braquiária. Dissertação (MESTRADO). 54p. Programa de Pós
Graduação em Ciências Ambientais, Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL, 2019.

PEDOLOGIA FÁCIL. Disponível em:


https://www.pedologiafacil.com.br/enquetes/enq23.php. Acesso em: 22 de julho de 2020.

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