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AVALIAÇÃO CLÍNICA DA
HIDROCEFALIA NO ADULTO

Eduardo Vieira
Igor Faquini
Hildo Cirne de Azevedo-Filho
José Carlos de Moura

DEFINIÇÃO losidades aracnóideas, projeções do espaço subaracnói-


deo no interior do seios venosos durais, onde, por meio
O termo hidrocefalia é derivado do grego, signifi- de mecanismo hidrostático (diferencial de pressões - a
cando "água na cabeçà' (hydro =água; kephalón =cabe- pressão dentro dos seios venosos é negativa), o LCR é
ça). Tradicional e simplisticamente, hidrocefalia (HCF) absorvido. O volume total circulante e a produção diá-
tem sido definida como um acúmulo inadequado de lí- ria de LCR é de 150 mL e 450 a 500 mL, respectivamen-
quido cefalorraquidiano (LCR) no espaço intracrania- te, percebendo-se que o volume de LCR no sistema ner-
no, gerando aumento do sistema ventricular (ventri- voso central (SNC) é renovado ao menos três vezes por
culomegalia) e hipertensão intracraniana com suas dia. Qualquer distúrbio na produção, circulação ou ab-
respectivas consequências. Tal definição é falha. Hiper- sorção de LCR pode gerar hidrocefalia e consequentes
tensão intracraniana pode ocorrer sem dilatação ven - manifestações clínicas.
tricular (como na hidrocefalia de volume normal) e Quando algum fator etiológico desencadeia hidro-
ventriculomegalia pode se desenvolver com pressão in- cefalia por intermédio dos fatores acima mencionados,
tracraniana (PIC) normal ou até mesmo negativa (como haverá, na maioria dos casos, dilatação progressiva do
na hidrocefalia de pressão negativa) - tais conceitos se- sistema ventricular, com consequente apagamento de
rão revisados adiante. Assim sendo, hidrocefalia será de- sulcos e cisternas. Em seguida, haverá transudação de
finida como uma quantidade inapropriada de LCR dentro LCR através do epêndima, gerando edema cerebral, e al-
do espaço intracraniano, gerando uma PIC inapropria- gum grau de diminuição do volume sanguíneo cerebral.
da e consequentes manifestações clínicas.5 Se não corrigidas, tais alterações podem levar à destrui-
A hidrocefalia que ocorre no paciente adulto será o ção de tratos na substância branca, gerando danos irre-
, .
foco de nossa revisão. Comparada à hidrocefalia que vers1ve1s.
ocorre na criança, a do adulto tem etiologia bastante he- Há fatores que podem interferir no processo fisiopa-
terogênea, podendo acometer desde adolescentes a ido- tológico acima citado, gerando diferentes variantes de
sos e manifestar-se de modo agudo ou crônico. O diag- hidrocefalia, tais como o turgor cerebral, fístulas liquó-
nóstico pode ser simples ou constituir-se em verdadeiro ricas, estenose de seios venosos durais, entre outros. A
desafio clínico. fisiopatologia dessas variantes de hidrocefalia será dis-
cutida mais adiante.
FISIOPATOLOGIA
CLASSIFICAÇÃO
O LCR é um filtrado do plasma produzido, em sua
maior parte, por meio do transporte ativo de água e so- Classicamente, tem-se dividido a hidrocefalia em
lutos através das células epiteliais do plexo coroide dos dois subtipos com base nos trabalhos de Dandy e Black-
ventrículos (especialmente dos ventrículos laterais). Cir- fan: comunicante, quando há livre comunicação entre o
cula pelo sistema ventricular, deixando-o através dos fo- sistema ventricular e o espaço subaracnóideo espinhal,
rames de Luschka e Magendie, atingindo as cisternas e não comunicante (ou obstrutiva), quando isso não ocor-
cerebelo-bulhar e magna e daí ganhando o espaço suba- re. 2 -4 Recentemente, no entanto, tal nomenclatura tem
racnóideo espinhal e cortical, finalmente chegando às vi- sido questionada. Ransohoff, estudando a dinâmica da
163 Avaliação clínica da hidrocefalia no adulto 1895

circulação do LCR em casos de hidrocefalia, introduziu ções agudas (meningites bacterianas) ou crônicas (tu-
o conceito de que toda hidrocefalia é obstrutiva, substi- berculose, criptococose), hemorragia subaracnóidea, car-
tuindo os termos hidrocefalia obstrutiva e hidrocefalia cinomatose meníngea e por elevação da pressão venosa
comunicante por hidrocefalia obstrutiva intraventricu- nos seios durais (estenose de seios durais). Tumores ex-
lar e hidrocefalia obstrutiva extraventricular, respectiva- tra-axiais, como schwannomas vestibulares, podem le-
mente.9 var a hiperproteinorraquia importante com aumento da
Em 2009, Rekate lançou nova classificação com base viscosidade liquórica, gerando dificuldade de absorção.
na localização do ponto de obstrução à circulação liquó- O padrão radiológico comum a toda hidrocefalia obs-
rica. Com base nessa classificação, o autor propõe, racio- trutiva extraventricular é de dilatação tetraventricular,
nalmente, métodos de tratamentos para cada subtipo. 11 sendo importante, porém nem sempre fácil, diferenciar
Vale salientar que, segundo o autor, o único subtipo de a hidrocefalia tetraventricular por obstrução na via de
hidrocefalia não obstrutiva é na presença de um papilo- saída do IV ventrículo, onde a terceiroventriculostomia
ma de plexo coroide, quando existe uma insuficiência endoscópica (TVE) pode ser um tratamento eficaz e, a
nos mecanismos de absorção de LCR, por conta da pro- PL, perigosa.
dução liquórica aumentada. Uma comparação entre os
diferentes esquemas de classificação pode ser visualiza - Situações especiais
da na Tabela 1.
A hidrocefalia obstrutiva intraventricular (não co- Algumas variantes fisiopatológicas de hidrocefalia
municante) geralmente é desencadeada por lesões neo- não se adequam de modo perfeito a nenhum esquema
plásicas intraventriculares (ependimomas, medulo- de classificação e por conseguinte serão descritas de modo
blastomas, cistos coloides) ou extraventriculares com separado.
compressão extrínseca sobre o sistema ventricular (cra-
niofaringiomas, macroadenomas hipofisários, tumores Long-standing overt ventriculomegaly in adults
da pineal), podendo também ser causada por anomalias (LOVA)
congênitas (como a estenose de aqueduto de Sylvius), ec-
tasia da artéria basilar, neurocisticercose intraventricu- Trata-se de um subtipo de hidrocefalia obstrutiva in-
lar, hemorragias (subaracnóidea ou parenquimatosa com traventricular de características peculiares, causada pri-
drenagem ventricular), entre outros. O padrão de dilata- mariamente por estenose do aqueduto de Sylvius e, mui-
ção ventricular varia de acordo com o local de obstrução to embora a lesão seja congênita, o paciente torna-se
ao fluxo liquórico. Neste subtipo, não há comunicação sintomático apenas na vida adulta. A hidrocefalia come-
entre o sistema ventricular e o espaço subaracnóideo es- ça a desenvolver-se precocemente ainda durante a infân-
pinhal, de modo que punções lombares (PL) podem ser cia, antes do fechamento das suturas cranianas, o que
extremamente perigosas em razão do risco de herniação leva à característica macrocrania observada nestes pa-
cerebelar pelo forame magno e compressão bulhar. cientes. Através de mecanismos compensatórios não mui-
A hidrocefalia obstrutiva extraventricular (comuni- to bem entendidos, o paciente permanece assintomáti-
cante) caracteriza-se por obstrução ao fluxo liquórico co durante toda a infância e adolescência, embora déficits
distalmente à via de saída do IV ventrículo (forames de cognitivos (coeficiente de inteligência - QI - abaixo da
Luschka e Magendie). Pode ser desencadeada por infec- média) sejam de ocorrência comum. Também por meios

Tabela 1 Comparação entre os diferentes esquemas de classificação da hidrocefalia


Rekate
Dandy/Blackfan Ransohoff
Local de obstrução Patologia Tratamento
Hidrocefalia não Obstrutiva Monro Tumores, assimetria pós-shunt Ressecção, septostomia, DVP
comunicante intraventricular
Aqueduto mesencefálico Congênito, tumores TVE, DVP, ressecção
(obstrutiva)
Luschka/Magendie Meningites crônicas, Chiari TVE, DVP, lise de aderências
Hidrocefalia Obstrutiva Cisternas basais Meningite, hemorragias DVP, OLP
comunicante extraventricular Granulações aracnóideas Hemorragias, infecções DVP, OLP
Drenagem venosa Anomalias da base do crânio, DVP, OLP
estenose de seios durais
Nenhum Papiloma de plexo coroide Ressecção
OLP: derivação lombo-peritoneal; DVP: derivação ventrículo-peritoneal; lVE: terceiroventriculostomia endoscópica.
1896 Tratado de Neurocirurgia

não muito bem compreendidos, em algum momento da diente de pressão transmanto. A pressão ventricular será
evolução, ocorre descompensação do quadro, gerando a maior que a pressão no espaço subaracnóideo, fazendo
sintomatologia característica da síndrome de hiperten- com que este atue como um vácuo sobre o sistema ventri-
são intracraniana. O método de tratamento de escolha é cular, uma vez que não há comunicação entre os dois com-
a TVE, uma vez que a instalação de shunts está associa- partimentos e os ventrículos expandem-se por conta da
da a alta morbid.ade, primariamente pela alta incidência diminuição do turgor cerebral. Um eventual shunt ventri-
de coleções e hematomas subdurais associadas a super- cular não funcionará por conta do baixo regime de pres-
drenagem. Se o método escolhido for a instalação de são, muito inferior ao limiar de abertura da válvula. 12
shunts ventriculares, deve-se dar preferência a válvulas O tratamento definitivo envolve a identificação e cor-
de alta pressão de abertura ou programáveis. A Tabela 2 reção da fístula liquórica, bem como estabelecimento de
resume as características chave da LOVA. 11 livre comunicação entre o sistema ventricular e o espaço
subaracnóideo (por meio da lise de fibrose no espaço su-
baracnóideo ou TVE). Em casos de urgência, a utilização
Tabela 2 Características típicas da LOVA (Long-standing overt ventriculome-
de bandas elásticas em volta do pescoço pode aliviar tem-
ga/y in adults)
porariamente os sinais e sintomas, enquanto o paciente
Lesão congênita - estenose de aqueduto mesencefálico (Sylvius)
aguarda tratamento definitivo. Tal medida causa compres-
Início dos sintomas na vida adulta
são das veias jugulares e, por conseguinte, aumenta a pres-
Fisiopatologia decorrente primariamente de hipertensão intracraniana
são no seio sagital superior, diminuindo a absorção de
Sinais e sintomas de hipertensão intracraniana + macrocrania + QI abaixo LCR no espaço subaracnóideo, reduzindo o efeito de vá-
da média
cuo que este compartimento exerce sobre o sistema ven-
Quadro clínico indolente e insidioso
tricular. O uso de bandas elásticas cervicais também au-
TVE é o tratamento de escolha
menta o conteúdo sanguíneo parenquimatoso, elevando
DVP = preferência por válvulas de alta pressão ou programáveis o turgor cerebral.

DIAGNÓSTICO
Hidrocefalia de pressão negativa
Os sinais e sintomas associados a hidrocefalia cos-
Trata-se de um subtipo de hidrocefalia caracteriza- tumam mimetizar os da síndrome de hipertensão in-
do por ventriculomegalia, PIC negativa aferida por meio tracraniana. Cefaleia, náuseas, vômitos, distúrbios da
de cateter ventricular e sinais e sintomas de hidrocefalia marcha, diminuição do nível de consciência, além de pa-
(cefaleia, vômitos, diminuição do nível de consciência). piledema, déficit do VI nervo craniano e paralisia do
Usualmente ocorre quando existe algum tipo de obstru- olhar conjugado para cima podem ocorrer.
ção entre o sistema ventricular e o espaço subaracnói- Avaliação por imagem com a tomografia computa-
deo (hidrocefalia obstrutiva intraventricular) associado dorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) de crâ-
à presença de uma fístula liquórica (craniana ou espi- nio usualmente sela o diagnóstico. Alguns critérios ra-
nhal) e diminuição do turgor cerebral. diológicos:
O turgor cerebral é a capacidade do parênquima en- • Cornos temporais > 2 mm.
cefálico de resistir a forças de distorção. Um turgor ce- • Abaulamento do III ventrículo (normalmente o
rebral = O significa um parênquima macio e deformável III ventrículo deve ser uma fend.a).
e mudanças no volume dos componentes intracranianos • Índice de Evans (CF/BP) - em que CF é a largu-
(no caso, do sistema ventricular) não causam elevação ra máxima dos cornos frontais e BP é a largura máxima
da PIC, uma vez que o parênquima irá deformar-se, aco- biparietal no mesmo corte de TC ou RM: quando > 0,3
modando-se à nova condição. Ao contrário, um turgor sugere o diagnóstico de hidrocefalia.
cerebral = 1 significa um cérebro rígido, pouco ou não • Arqueamento superior do corpo caloso no corte
deformável e um mínimo aumento no volume dos com- sagital da RM.
ponentes intracranianos elevará a PIC. 1º
O que ocorre na hidrocefalia de pressão negativa? Uma Em casos de hidrocefalia crônica, pode-se observar
fístula liquórica no espaço subaracnóideo diminui a pres- erosão da sela túrcica, herniação do III ventrículo atra-
são de LCR neste compartimento. Obrigatoriamente, ha- vés do diafragma da sela, e, em alguns casos, macrocra-
verá uma obstrução intraventricular que isola o sistema nia (circunferência occipitofrontal acima do percentil 98).
ventricular do espaço subaracnóideo, o que aliado a uma Deve-se sempre buscar um fator etiológico para hi-
diminuição do turgor cerebral, faz com que se crie um gra- drocefalia. Dilatação triventricular sugere estenose de
163 Avaliação clínica da hidrocefalia no adulto 1897

aqueduto mesencefálico e a avaliação anatômica por meio maiores são as chances de que haja melhora com a ins-
de RM de crânio com cortes sagitais (especialmente pon- tituição do tratamento.
derados em T2) pode evidenciar a presença de membra- A demência que ocorre na HPN é tipicamente sub-
nas ou cistos. Quadros de hidrocefalia comunicante (obs- cortical, caracterizada por esquecimento, lentificação do
trutiva extraventricular) sem um fator etiológico pensamento, apatia e déficit de atenção, o que difere do
evidente devem ser estudados pela análise do LCR para padrão cortical de demência observado na doença de Al-
diagnóstico de meningites crônicas. Exames invasivos zheimer, em que predominam afasia, apraxia e agnosia.
com injeção de contraste no sistema ventricular podem Incontinência urinária é uma queixa comum na popula-
definir o ponto de obstrução ao longo da via liquórica, ção geriátrica, especialmente quando associada a demên-
guiando o método de tratamento mais adequado. cia e distúrbio da marcha. Pode ocorrer urgência urinária
em vez de incontinência verdadeira e a queixa do pacien-
Hidrocefalia de pressão normal te ou dos familiares pode ser a de uma piora nos sintomas
preexistentes ao invés do surgimento de novos sintomas.
A hidrocefalia de pressão normal (HPN), pela sua Podem ocorrer apresentações clínicas algo diferentes, em
importância e dificuldade de diagnóstico, será abordada que predominam sinais e sintomas parkinsonianos ou psi-
separadamente. Inicialmente descrita por Hakim e Adams quiátricos (depressão, transtorno bipolar, mudanças de
em 1965, a HPN é uma síndrome caracterizada pela tría- comportamento). A ocorrência de papiledema ou cefa-
de de distúrbio da marcha, demência e incontinência uri- leia/vômitos indica outra etiologia, diferente da HPN.
nária, acometendo indivíduos entre a sexta e a oitava dé-
cadas de vida.6 A HPN pode ser idiopática ou secundária Diagnóstico
a trauma, hemorragia, infecções ou cirurgias intracra-
nianas. As manifestações da HPN secundária podem Exames de imagem
ocorrer tardiamente, por vezes anos após o evento de-
sencadeante. Embora dita de pressão normal, a HPN está Exames de imagem são fundamentais para confirmar
associada a aumentos transitórios da PI C, geralmente a ventriculomegalia e a suspeita clínica de HPN. A ava-
não flagrados à aferição da pressão liquórica durante PL. liação por meio do índice de Evans conforme descrito
Tais aumentos podem levar a dilatação ventricular len- acima é um bom parâmetro. Outros pontos que devem
tamente progressiva e comprometimento de tratos da ser buscados na RM ou TC (ao menos um) 7 (Figura1):
substância branca. Os exatos mecanismos fisiopatológi- • Aumento dos cornos temporais não atribuível a
cos por meio dos quais a HPN se desenvolve são moti- atrofia hipocampal.
vo de debate na literatura e uma revisão a respeito do • Ângulo do corpo caloso > 40º.
tema foge aos objetivos deste capítulo. • Alteração de sinal periventricular não atribuível
a alterações isquêmicas ou desmielinização.
Manifestações clínicas • Flow-void no aqueduto mesencefálico ou IV ven-
trículo.
Embora a HPN seja caracterizada por distúrbio da
marcha, demência e incontinência urinária, essa tríade Múltiplas hiperintensidades na substância branca
nem sempre estará presente de modo completo em um profunda e/ou atrofia cortical proeminente são fatores
dado paciente. Alteração da marcha é o sintoma mais co- de mau prognóstico para intervenção cirúrgica e devem
mumente associado à HPN e, geralmente, o primeiro a ser pesquisadas e levadas em consideração.
surgir, seguido por demência e, em seguida, por incon-
tinência urinária. Exames prognósticos
O distúrbio da marcha na HPN é caracterizado por
dificuldade para iniciar a marcha, com pequenos passos Naqueles pacientes com quadro clínico e exames ra-
e pés arrastando no chão, como se estivessem presos ao diológicos sugestivos de HPN, exames prognósticos ser-
solo - descrita como marcha magnética. A base é alar- virão para avaliar a responsividade ao tratamento defi-
gada e há dificuldade em realizar mudanças no trajeto, nitivo (shunt ventricular). Os dois principais são o Tap
levantar-se de cadeiras e subir escadas. Pode lembrar a Teste a drenagem lombar externa. Ambos os exames si-
marcha parkinsoniana, porém, na HPN, o balanço dos mulam, de certa forma, a presença de derivação ventri-
braços ao caminhar está preservado. Vale salientar que cular, drenando LCR e avaliando a resposta do paciente.
quanto mais típica e próxima ao que foi descrito acima Tap Test consiste na retirada de LCR (40 a 50 mL)
for a alteração da marcha apresentada pelo paciente, por meio de PL. Durante o procedimento, deve-se aferir
1898 Tratado de Neurocirurgia

A drenagem lombar externa (DLE) é o exame que


apresenta maior sensibilidade (50 a 80%), especificida-
de (80%) e valor preditivo positivo (80 a 100%) para me-
lhora após derivação ventricular. Necessita de interna-
mento hospitalar, com instalação e manutenção da DLE
por 72 horas, com drenagem de LCR em torno de 5 a 1O
mL/h. É ideal uma drenagem maior que 300 mL no pe-
ríodo.
Os resultados em termos de sintomatologia serão
avaliados de dois a oito dias após o início do teste. Ao
contrário do Tap Test, o resultado observado com a DLE
tende a ser menos afetado por fatores motivacionais ou
emocionais que um teste de apenas um dia pode gerar.
Além disso, o paciente e os familiares terão uma ideia do
grau de melhora nos sintomas que pode ser esperado
após a cirurgia para drenagem ventricular e a discussão
pré-operatória sobre risco versus benefício passará a ter
bases mais concretas e um melhor entendimento por par-
Figura 1 Imagem de RM de crânio (F lair) evidenciando um
índice de Evans (AB/CD) de 0,4 associado a alteração de sinal te de paciente e familiares. Apesar de ser o exame com
periventricular e ausência de atrof ia cortical importante. Imagem melhor acurácia para o diagnóstico de HPN, também é
que, quando aliada a um quadro clínico típico, pode ser alta- o mais associado a complicações como irritação de raiz
ment e sugest iva de H PN.
nervosa, infecção e sangramento.
Outros métodos complementares têm sido utiliza-
a pressão de abertura. Valores superiores a 18 mmHg de- dos para auxílio ao diagnóstico de HPN, porém sem for-
vem suscitar investigação de outras causas de hidrocefa- necer dados prognósticos concretos, tais como: testes de
lia. Também devem ser enviadas amostras para análises resistência à drenagem de LCR (teste de infusão), moni-
citológicas e bacteriológicas de rotina. Após o Tap Test toração contínua da PIC e aferição do volume de fluxo
busca-se constatar se houve ou não melhora da sintoma- liquórico no aqueduto mesencefálico. A escolha de um
tologia do paciente, avaliada principalmente pela melho- protocolo, ou sequência de exames varia entre as insti-
ra do distúrbio da marcha, o que prediz resposta à tuições, no entanto algum teste prognóstico deve ser rea-
derivação ventricular. Um teste positivo possui valor pre- lizado antes da cirurgia definitiva para derivação ventri-
ditivo positivo para melhora após shunt de 70 a 100%, cular. Em pacientes com quadro clínico típico de HPN,
no entanto o método apresenta sensibilidade muito bai- um Tap Test positivo será suficiente. Se houver dúvida
xa (apenas 25 a 30%). Dessa forma, um resultado nega- diagnóstica ou o paciente não responder ao Tap Test, de-
tivo não pode ser utilizado como critério de exclusão. ve-se proceder à DLE (Figura 2).

+
Avaliação clínica e radiológica HPN clássica Tap Test

Acompanhamento, considerar outros diagnósticos DLE


+
i +
Cirurgia

Figura 2 A lgoritmo para utilização de t estes prognóst icos com o objetivo de selecionar pacientes que serão benef iciados pe lo
trat amento cirúrgico. Para um paciente com um quadro clínico t ípico (presença da t ríade característ ica, exames de imagem com-
patíveis), um Tap Test positivo indica t rat amento cirúrgico. Quando, no ent anto, há um quadro de possível HPN, porém sem quadro
clínico ou radiológico t ípico (t ríade incomp leta, presença de algum grau de atrofia cort ical et c.), a drenagem lombar externa deve-
rá ser real izada. Fonte: adaptada de Bergsneider et al. 1
163 Avaliação clínica da hidrocefalia no adulto 1899

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164

TRATAMENTO DA HIDROCEFALIA NO ADULTO:


DERIVAÇÕES LIQUÓRICAS

Fernando Campos Gomes Pinto


Matheus Fernandes de Oliveira

INTRODUÇÃO mentou materiais e descreveu a derivação dos ventrícu-


los laterais para a cisterna magna em 1939, procedi-
O princípio básico do tratamento de hidrocefalia mento que consta nos livros-texto até hoje. Matson27
consiste na realização de um desvio no local da obstru- introduziu a derivação lomboureteral em 1952, e Nul-
ção ao fluxo de líquido cefalorraquidiano (LCR) para um sen33e Spitz introduziram o conceito da derivação ven-
local onde possa ser melhor absorvido. 42•58 trículo-jugular, bem como descreveram a primeira vál-
A derivação ventricular é a base do tratamento de vula com bola e mola, que foi popularizada mais tarde
hidrocefalia e, mesmo em pacientes com hidrocefalia por Hakim. 56 É creditada a Holter a introdução do sili-
grave, a inserção da derivação pode ter um efeito dramá- cone nos sistemas valvulares, o que trouxe uma melho-
tico sobre a reexpansão do manto cortical, particular- ria significativa para todos os modelos de válvula pelo
mente em crianças42·58 (Figura 1). fato de o silicone ser muito bem tolerado pelo corpo hu-
Além da derivação ventricular, técnicas neuroendos- mano. Na década de 1980, os estudos de El-Shafei pos-
cópicas, particularmente a terceiroventriculostomia en - tularam as primeiras experiências com derivação ven-
doscópica (TVE), também desempenham um papel im- triculossinusal. 56 Na década de 1990, a técnica de
portante no tratamento de hidrocefalia.42·58 derivação ventriculoperitoneal foi uniformizada e um
Apesar de ser um conceito antigo, a derivação liquó- protocolo com menores complicações cirúrgicas e in-
rica foi um dos maiores avanços da neurocirurgia mo- fecção foi publicado por Choux. 6
derna e representou uma mudança no tratamento das
hidrocefalias. Consiste no procedimento neurocirúrgi- HIDRODINÂMICA DA DERIVAÇÃO
co mais largamente empregado e com maiores taxas de LIQUÓRICA
complicações.
A era moderna para o tratamento da hidrocefalia O princípio físico da derivação é simples e consiste
provavelmente se iniciou com Torkildsen, 33 que imple- em desviar o fluxo disfuncionante do sistema liquórico,
por exemplo, para a cavidade craniana, sistema jugular,
átrio cardíaco direito, pleura, peritônio e outras cavida-
des naturais, como a bolsa omental e até a bexiga uriná-
ria.9,28
Todos os sistemas de hidrocefalia funcionam por
meio de um diferencial de pressão (DP) entre o cateter
proximal (ventricular) e o distal (mais comumente o pe-
ritoneal).4·24-26·38·51Existem diversos fatores físicos envol-
vidos na drenagem liquórica, como a diferença de pres-
são entre as extremidades do cateter ventricular e
peritoneal, a posição do paciente, o diâmetro e o com-
Figura 1 Tomografia computadorizada de crânio (A) antes e
primento dos tubos e a viscosidade do líquido.4·24-26·38·51
(B) 6 semanas após a inserção de uma derivação ventriculope- Tal relação pode ser representada pela seguinte equação:
ritoneal.
164 Tratamento da hidrocefalia no adulto: derivações liquóricas 1901

F = L\P
R 1ao , ...
p = pO + d.gh
na qual F é o fluxo liquórico, L\P é a variação de pressões
-
entre as extremidades do cateter e R é a resistência do
sistema. A equação de Magen Poiseuille define mais de-
'
talhadamente os componentes dessa resistência correla-
cionando o fluxo em um sistema tubular como depen- - 1

dente de pressão, raio, comprimento e viscosidade do ••••••••• ••• 1 •• • •••


fluido, por meio da seguinte equação:4,24-26•38•51
-- -

F= 1t Pr4
8111
na qual F é o fluxo, P é a pressão, r é o raio, 11 é viscosi-
dade do fluido e 1 é o comprimento do tubo. Em relação
à drenagem liquórica, as variáveis mais importantes nes-
-
sa equação são: diâmetro, comprimento do cateter e vis-
cosidade do fluido.
lil
Equação fundamental da hidrostática
Já a lei de Stevin ou Lei Fundamental da Hidrostáti- Lei de Stevin (1548-1620)
ca (Figura 2) postula que, em sistemas hidrostáticos co-
nectados, e respeitando-se o princípio dos vasos comu- Figura 2 A pressão dist al é igual à pressão proximal mais o
resultado da multiplicação da densidade do líquido, da gravida-
nicantes, a pressão em um ponto varia de acordo com de e da altura que, quanto maior for, maior a diferença de
altura da coluna líquida.4•24-26,38•51 Dessa forma, dois lo- pressão e maior o fluxo, segundo a Lei de Stevin. 42
cais líquidos conectados por um tubo terão o fluxo dire-
cionado do local de maior altura para o de menor.

DERNAÇÕES LIQUÓRICAS INTERNAS Tabela 1 Relação dos possíveis locais distais para derivação ventricular
Locais distais para derivação ventricular
Conforme mostrado na Tabela 1, existem mais de 1. Externa
vinte opções de derivação liquórica, cada uma com suas 2. Interna
peculiaridades técnicas e funcionais. 7 A experiência e
- Região intracraniana
evolução da técnica cirúrgica transformaram a deriva- Espaço subaracnóideo
ção ventriculoperitoneal na modalidade preferida, por Espaço subdural
conta da baixa potencialidade de complicações e ampla Seio sagital superior

cavidade virtual para reabsorção do liquor. - Região extracraniana


Antro mastóideo
Apesar da existência e comercialização de diversos Dueto de glândula salivar
sistemas de derivação liquórica, todos têm característi-
- Região cervical
cas e princípios similares, e também estão sujeitos a com- Veia facial comum
plicações similares. Veia jugular interna
Os três componentes principais de um sistema de - Região torácica
derivação liquórica são: o cateter proximal (ventricular), Átrio direito 2ª
Veia cava superior
uma válvula e um cateter distal42,58 (Figura 3). Cavidade pleural 3ª
Dueto torácico
Cateter ventricular Espaço epidural espinal
Medula óssea

O cateter ventricular, constituído de um material de- - Região abdominal


Cavidade peritoneal 1ª
nominado silástico, é implantado através de uma abor- Bolsa omental
dagem frontal ou parieto-occipital, geralmente no he- Estômago
misfério cerebral direito (não dominante) (Figura 4). Bexiga
Ureter
Uma trepanação é realizada no crânio e a ponta do ca- fleo
teter é, em geral, colocada no corno anterior do ventrí- Trompa de Falópio
culo lateral. Essa região é escolhida pelo fato de possuir Adaptada de Ginsberg HU. Drake JM. Shunt hardware and surgical technique. ln:
menor quantidade de plexo coroide, e ser diminuída a Pediatric hydrocephalus. Hospital for Sick Children, University of Toronto; 2004.
1902 Tratado de Neurocirurgia

CATETER Válvulas
VENTRICULA

CATETER
O segundo componente do sistema de drenagem, a
válvula, mantém o fluxo unidirecional (craniocaudal) e
atua por meio da regulação da drenagem liquóri-
ca.1'1º'11'17'22'32'36'40'41'46'52'54'61 Tal controle ocorre sobretudo
por meio da regulação pressórica (válvulas reguladoras de
pressão), regulação de fluxo (válvulas reguladoras de flu-
xo) e de mecanismos antissifào (dispositivos antissifào).
A Tabela 2 apresenta válvulas disponíveis atualmente.
A pressão na qual a válvula é aberta é denominada
pressão de abertura. Existem válvulas de baixa, média e
alta pressão em cada categoria, referindo-se às pressões
de abertura de cerca de 5, 10 e 15 cmH20, respectiva-
mente. A maioria das válvulas é reguladora de pressão,
ÁLVULA e são projetadas para abrir e permitir o escoamento do
LCR quando a pressão intraventricular aumenta acima
da pressão de abertura da válvula.1,10,11,17,22,32,36,4o,41,46,52,s4,61
Uma vez que a pressão cai abaixo da pressão de fecha-
Figura 3 Componentes da derivação vent ricular. mento, a válvula fecha-se e o escoamento do LCR cessa.
Em contraste com as válvulas reguladoras de pressão, as
válvulas reguladoras de fluxo tentam manter constante
chance de obstrução dos orifícios laterais do cateter.42,58 o fluxo de LCR apesar de mudanças da pressão e posi-
Uma série de dispositivos está disponível para permitir ção do paciente.1,10,11,17,22,32,36,40,41,46,52,54,61
colocação do cateter no interior do ventrículo, como fios- Os dispositivos antissifão são usados para evitar o
-guia (mais comumente utilizados) e até mesmo auxílio efeito sifào e sua complicação: hiperdrenagem do LCR.
do neuroendoscópico. 14,42,58 O efeito sifão é um fenômeno que ocorre em decorrên-

Tabela 2 Tipos de válvulas de derivação liquórica


Princípio da
Tipos de válvula Exemplos
válvula
Diferencial de Fenda Codman Holter
pressão (fixas)
Codman Denver
Mitre Mueller Heyer Schulte
Bola e mola Válvula Cordis Hakim
Válvula Codman Medos Hakim
Diafragma Mueller Heyer Schulte Pudenz
Válvula com controle de fluxo
PS Medical
Codman Accu-flo
Diafragma + Válvula PS Medical Delta
dispositivo
controlador de sifão
Diferencial de Mecanismo de bola e Medos programável

' pressão
(externamente
programáveQ
mola, pressão de
abertura ajustada
pela aplicação de um
Sophysa ajustável
Progav
Strata
campo magnético
externo
Válvula Válvula de resistência Cordis Orbis Sigma
Figura 4 Ilustração demonst rando que a implant ação doca- controladora de variável
tet er proxima l geralmente é realizada por meio de uma abor- fluxo
dagem frontal ou occipita l.
164 Tratamento da hidrocefalia no adulto: derivações liquóricas 1903

eia do aumento do fluxo de LCR drenado dos ventrícu- mosférica. Quando a pressão no interior da derivação
los após mudanças posturais, como sentar-se ou levan- diminui, a membrana move-se para ocluir o lúmen da
tar-se. Esse fenômeno é decorrente do aumento da derivação. Tais dispositivos estão disponíveis como com-
pressão hidrostática (PH) e pressão de perfusão (PP) do ponentes separados para inserir abaixo da válvula exis-
sistema de drenagem. Na posição vertical, a pressão hi- tente na derivação, ou podem ser incorporados na pró-
drostática adicional aumenta a pressão diferencial e o pria válvula, como ocorre na válvula Delta (PS Medical
fluxo do LCR através da válvula. Uma das críticas de vál- Corporation, Califórnia, EUA) e na válvula Sphera (Hp-
vulas reguladoras de pressão é que elas estão sujeitas a Bio, São Paulo, Brasil), que combina uma válvula de dia-
esse fenômeno na posição vertical.1,10,11,17,22,32,36,4o,41,46,52,54,61 fragma ou bola-mola, respectivamente, e um dispositi-
Um avanço recente na tecnologia de válvulas de de- vo de controle de sifão de membrana no corpo da própria
rivação tem sido a introdução de válvulas programáveis. válvula. 1,10,11,17,22,32,36,40,41,46,52,54,61
Elas podem ser externamente ajustadas com o uso de um Uma abordagem diferente ao problema do efeito si-
dispositivo magnético especial, que altera a posição de fão é vista na válvula Orbis Sigma 17 (Cordis Corpora-
um rotor interno e, assim, modifica a pressão de abertu- tion). Em contraste com as válvulas reguladoras de pres-
ra da válvula. Isso evita a necessidade de um procedi- são, essa válvula é concebida para ser um dispositivo de
mento cirúrgico no caso de o paciente precisar de uma regulação de fluxo, permitindo uma taxa de escoamen-
válvula com uma pressão diferente. Esse tipo de válvula to relativamente constante ao longo de uma vasta gama
tende a ser bem adequado para o manejo de casos difí- de pressões diferenciais.
ceis de hiper ou hipodrenagem liquórica ou em crianças A escolha de qual válvula usar é baseada na prefe-
cujos valores de pressão devem mudar ao longo do tem- rência pessoal do neurocirurgião, geralmente com base
po. Não está claro se os benefícios superam os custos au- na formação e experiência pessoal. Não existem dados
mentados de tais dispositivos em todos os pacien- que sustentem recomendação de um dispositivo ou vál-
tes.1,10,11,17,22,32,36,4o,41,46,52,54,61 vula de derivação em particular em detrimento de ou-
Uma vez que a válvula programável contém um ímã, tro.
a maioria das válvulas precisa ser reprogramada imedia-
tamente após todos os exames de ressonância magnéti- Cateter distal
ca. Porém, uma válvula programável que não é alterada
por um campo magnético também está disponível. Ela Derivação ventriculoperitoneal (DVP)
"bloqueià' a configuração e só pode ser alterada com pro-
gramador magnético específico do fabricante. Equipa- Cateteres distais também são feitos do material si-
mentos domésticos rotineiros, como telefones celulares lástico.42,58 O silástico é um material polimérico elástico
e computadores, não são fortes o suficiente para afetar a derivado de sílicas inorgânicas não tóxicas, sendo hidro-
válvula, mas devem ser tomadas precauções especiais fílico, inodoro, amorfo e inerte. Suas propriedades con-
quando os pacientes estão em torno de fortes fontes mag- ferem a capacidade de conduzir o LCR sem reação teci-
néticas.1,10,11,17,22,32,36,4o,41,46,52,54,61 dual importante ou rejeição. Apresenta propriedades de
Tais dispositivos incluem a válvula programável Me- maleabilidade e resistência. Ainda assim, não impede a
dos (Codman Medos, Le Cocle, Suíça), a válvula regulá- formação de biofilmes bacterianos em casos de infecção
vel Sophysa (Sophysa, Orsay, França), a válvula Strata do sistema.42,58
(Medtronic, EUA) e a válvula Progav (Aesculap, Berlin, A cavidade peritoneal é o local preferido e mais co-
Alemanha). O ajuste após a implantação é realizado por mumente utilizado para posicionar o cateter distal. Exis-
meio do auxílio de radiografia simples (Medos) ou uma tem duas vantagens principais para a colocação do cate-
bússola posicionada sobre o dispositivo (Sophysa, Stra- ter distal no peritônio. Em primeiro lugar, caso ocorra
ta e Progav) .1,10,11,17,22,32,36,4o,41,46,52,54,61 uma infecção relacionada ao cateter, ela em geral fica res-
A fim de evitar a ocorrência do efeito sifão, foi de- trita à cavidade peritoneal, ao invés de se disseminar de
senvolvida uma série de modelos de válvulas. No entan- maneira sistêmica, o que poderia acontecer facilmente
to, todas elas, de maneira geral, atuam por adições de re- com derivações colocadas no coração. Em segundo lu-
sistências ao sistema de drenagem, reduzindo, dessa gar, uma grande quantidade de cateter pode ser coloca-
forma, o fluxo de LCR durante alterações posturais. O da na cavidade peritoneal, a fim de permitir o crescimen-
dispositivo, que é colocado por via subcutânea, em série to da criança e minimizar a necessidade de revisões
com as válvulas, abriga uma membrana móvel que se durante a infância. Além disso, a cavidade peritoneal é
move em resposta a uma alteração de pressão através um local extremamente eficiente de absorção, e é facil-
dela. A superfície exterior é, teoricamente, a pressão at- mente acessível para os cirurgiões.42·58
1904 Tratado de Neurocirurgia

Os três elementos fundamentais de uma DVP são: o cateter distal é preso à ponta da vareta e tracionado por
cateter proximal (ou ventricular), a válvula unidirecio- esse trajeto até sua exteriorização, quando a válvula é en-
nal e o cateter distal, demonstrados na Figura 5. tão conectada ao cateter distal.42,58
A técnica cirúrgica para a colocação de uma DVP foi A seguir é realizada a punção ventricular, com cole-
sistematizada por Choux e é dividida em três etapas: 6•42,58 ta de LCR para exame. Conecta-se o cateter ventricular
à válvula e esta é acomodada ao interior da loja. Confir-
• preparo dos acessos (crânio e abdome); mado o gotejamento distal adequado, o cateter é coloca-
• passagem do cateter distal e conexão à válvula; do dentro da cavidade peritoneal e fecham-se as incisões
• punção ventricular e conexão à válvula. por planos (Figura 6).
No entanto, caso a cavidade peritoneal não seja apro-
Os acessos são preparados simultaneamente. A par- priada para o posicionamento do cateter distal, por con-
tir de uma incisão transversa paramediana no quadran- ta de uma malformação abdominal, aderências pós-ci-
te superior do abdome, o cirurgião disseca plano por pla- rúrgicas, infecção ou reabsorção inadequada, a segunda
no, através do músculo reto abdominal, até abrir o e a terceira opções para a colocação do cateter distal po-
peritônio. Esses planos são: o tecido subcutâneo, a apo- dem ser o átrio direito do coração ou a cavidade pleural,
neurose superficial do músculo reto abdominal, o mús- respectivamente.42'58
culo, a aponeurose profunda e o peritônio parietal.
A trepanação pode ser realizada no osso frontal (pon- Derivação ventriculoatrial
to de Kocher: 2-3 cm lateral à sutura sagital e 1 cm ante-
rior à coronária) ou no osso parietal (ponto de Frazier: Derivações ventriculoatriais são implantadas atra-
3 cm lateral e 7 cm superior à protuberância occipital ex- vés do pescoço, no interior da veia jugular interna ou ex-
terna - ínio). A incisão é arciforme, com a base voltada terna, passando pela veia cava superior até o átrio direi-
para a região retroauricular, onde ficará a válvula, de to42·58 (Figura 7). A ponta do cateter deve ficar um pouco
modo que o cateter não cruze a linha de sutura. Por ser acima da valva tricúspide e, na radiografia simples de tó-
mais segura e fácil de puncionar, a trepanação frontal é rax, deve ser visualizada na veia cava superior e átrio di-
a nossa escolha. Em crianças abaixo de 1 a 2 anos, como reito. A ponta do cateter pode ser avaliada também por
a sutura bregmática pode se encontrar aberta e o arca- sua localização no nível da sexta ou da sétima vértebra
bouço ósseo ainda imaturo, opta-se por trepanação no torácica. Se for superior a esse nível, um procedimento
ponto de Frazier.42·58 de alongamento do cateter pode ser indicado. Os bebês
A vareta metálica é passada no plano do tecido sub- devem ser submetidos a radiografia simples a cada 6 me-
cutâneo, entre as feridas abdominal e no crânio. O cirur-
gião disseca uma loja subgaleal retroauricular, incluin-
Válvula _ .,.,.n'-"-1',,.. ,,_ Proximal
do o plano da vareta, criando espaço para a válvula. O
l --- .v.-......._-Ventrícu lo
lateral

Distal - ----4

Figura 5 Tomografia com reconst rução 30 de um paciente


portador de DVP. O cateter proxima l est á inserido no ventrícu-
lo latera l esquerdo através de uma trepa nação front al. Note os
t rês componentes do sistema (catet er proximal, vá lvu la e ca-
teter distal).42 Figura 6 Aspecto f inal da DVP implantada. 42
164 Tratamento da hidrocefalia no adulto: derivações liquóricas 1905

ses e crianças mais velhas a cada ano, para garantir que


a posição distal do cateter está em uma localização ade-
quada. 42·58 Em casos de dificuldade para progressão do
cateter na região cervical, pode ser utilizada a ultrasso-
nografia com Doppler para facilitar cateterização da veia
jugular interna ou externa. 14
Em casos extremos, com múltiplas revisões da deri-
vação com extensa fibrose tanto peritoneal quanto do
trajeto cervical para DVA, pode-se tentar recursos agres-
sivos, como a derivação ventriculoatrial aberta por es-
ternotomia ou toracotomia, com abertura de átrio direi- J

to e posicionamento do cateter distal. 2


\
A derivação ventriculoatrial (DVA) era a técnica fa-
vorita antes da introdução dos cateteres de silástico, vis-
to que os materiais utilizados nos cateteres anteriores
tendiam a incitar reações teciduais, resultando frequen-
temente em sua oclusão. Porém, como já citado, uma
grande desvantagem da localização atrial do cateter con-
siste no fato de que diante de infecções as consequências
eram responsáveis por significativa morbidade e morta-
Figura 7 Trajeto e loca l de implantação do cat eter distal na
lid.a de, por meio de elevada incidência de insuficiência
derivação vent riculoatrial.
renal e sepse grave.42,58
Uma complicação importante e insidiosa da DVA
cronicamente infectada é a deposição de imunocomple- to respiratório secundário a hidrotórax, por isso é geral-
xos na circulação sistêmica e nos glomérulos renais, de- mente aplicada em situações temporárias e emergenciais,
terminando glomerulonefrite por imunocomplexos. 16,21 para garantir desvio liquórico enquanto programa-se ci-
Seu diagnóstico precoce e o tratamento com antibióti- rurgia definitiva para derivação. 42,58
cos endovenosos e a pronta retirada do cateter são fun- Menos frequentemente utilizada na população pe-
damentais para o melhor resultado terapêutico. A infec- diátrica, a derivação lomboperitoneal é por vezes adota-
ção da DVA é uma situação especialmente grave, uma da em pacientes com hidrocefalia comunicante, síndro-
vez que existe risco de endocardite, embolia séptica e me do ventrículo em fenda ou hipertensão intracraniana
sepse grave. 16'21 benigna (pseudotumor cerebral). Tal procedimento pode
Como o tamanho do cateter é limitado para chegar ser realizado por meio de duas técnicas: classicamente
até o átrio direito, podem ser necessários a revisão e o por meio de uma laminectomia limitad.a, e também por
aumento do tamanho do cateter com o crescimento do inserção percutânea em crianças com mais de 2 anos de
paciente. idade42•58 (Figura 8).
Outras complicações importantes, porém com me- Seu emprego encontra-se restrito a situações nas
nor frequência, incluem: hipertensão pulmonar, trom- quais a cateterização ventricular seja difícil do ponto de
boembolismo pulmonar, embolização de fragmentos de vista técnico. Só pode ser utilizada em casos de hidroce-
cateteres, calcificação de paredes atriais e válvula tricús- falia comunicante, pelo risco de herniação tonsilar atra-
pide e migração do cateter. 16,21 vés do forame magno. Apesar de ser geralmente bem to-
lerada, enfrenta os mesmos riscos de disfunção por
Derivação ventriculopleural e lomboperitoneal obstrução, infecção com meningite e coleções epidurais
e subdurais. A aracnoidite é uma complicação bastante
A derivação ventriculopleural é guiada por via sub- associada à infecção do sistema, podendo complicar com
cutânea a uma área abaixo do mamilo, onde é feita uma siringomielia.42•58
incisão e o tubo é inserido no espaço pleural.42,58 Tal de- Deve ser evitada em crianças em fase de crescimen-
rivação pode ser mal tolerada na criança jovem, pela fal- to, pois quando realizada com laminectomia pode estar
ta de absorção da superfície pleural. Além disso, o pe- associada à gênese de escoliose em cerca de 10% dos pa-
ríodo de tempo em que a cavidade pleural retém a sua cientes. Pode também causar neuropatia de nervos ab-
capacidade de absorção varia de indivíduo para indiví- dominais, como ilioinguinal, ilio-hipogástrico e genito-
duo. As complicações podem incluir comprometimen- femoral. 42•58
1906 Tratado de Neurocirurgia

sendo desnecessária a colocação de válvula. Antes do


procedimento, é obrigatória a avaliação da árvore vascu-
lar intracraniana. 12·13,49

l • \' \
Terceiroventriculostomia endoscópica
''\ \ \ \

A TVE pode ser empregada no tratamento primá-


rio de hidrocefalia (TVE primária) ou como uma alter-
nativa à revisão da derivação no manejo de complica-
ções da derivação (TVE secundária).8,15,30,31,34,45,47,55,57
Considerada uma derivação interna, tal técnica con-
siste na fenestração por visão endoscópica do túber ci-
néreo (assoalho do terceiro ventrículo), permitindo que
o LCR passe diretamente do terceiro ventrículo para o
compartimento anterior das cisternas interpeduncular e
pré-pontina, aumentando o fluxo sistólico de saída dos
ventrículos (o que resulta em diminuição de LCR intra-
ventricular).29,37,39 Dessa forma, caso haja alguma obstru-
ção no trânsito liquórico na região do aqueduto (esteno-
Figura 8 Posicionamento proxima l e distal do cateter de se idiopática de aqueduto, tumor de tecto mesencefálico)
derivação lomboperitonea 1. ou no quarto ventrículo (tumores da fossa posterior,
Dandy-Walker), o liquor não seria mais represado e a hi-
Derivação ventriculossinusal (DVS) drocefalia seria tratada. As maiores taxas de sucesso des-
se procedimento (90% aproximadamente) sucedem nos
Nas últimas décadas do século XX, houve uma bus- casos de estenose idiopática de aqueduto.8,15,30,31,34,45,47,55,57
ca de locais alternativos e mais fisiológicos para deriva- A TVE é o método de escolha para tratamento de
ção ventricular interna. Nesse intento, alguns locais in- hidrocefalia obstrutiva. Alguns estudos inclusive apon-
tra e extracranianos foram estudados.7 tam para um hipotético benefício em casos de hidroce-
Respeitando a hidrodinâmica do líquido cefalorra- falia comunicante, como no caso da hidrocefalia de pres-
quidiano (LCR) e a circulação sanguínea intracraniana, são normal.8,15,30,31,34,45,47,55,57
a DVS promove um meio fisiológico para o tratamento As indicações incluem:8,15,3o,31,34,45,47,55,57
de hidrocefalia de qualquer causa, tipo, grau ou duração,
independentemente da idade do paciente. 12,13,49 Ela con- 1. Estenose idiopática do aqueduto cerebral.
siste em derivar diretamente os ventrículos laterais com 2. Cistos aracnoides.
o seio sagital superior (SSS) na direção oposta à do flu-
xo sanguíneo. Ela é realizada com uma incisão arquea- Outras etiologias são questionáveis, porém com cres-
da parietal e dois orifícios de trepanação posteriores, um cente experiência:
no ponto de Frazier e outro na linha média. Uma peque-
na abertura da dura na região parietal é seguida por pun- 1. Malformação de Chiari I.
ção ventricular com um cateter de silástico. Após a pun- 2. Hemorragia intraventricular.
ção, a outra extremidade é inserida aproximadamente 2 3. Infecção do sistema nervoso central.
cm no sentido inverso do fluxo sanguíneo no SSS atra-
vés de outra pequena abertura da dura. Um retalho de Destaca-se que, como o endoscópio tem visão dire-
pericrânio sela ambas as superfícies antes do fechamen- ta, apresenta uma vantagem em casos de hidrocefalia as-
to da pele.12,13,49 sociada a tumores talâmicos, mesencefálicos, pineais, do
Seu principal estudioso foi o médico egípcio Hassan terceiro ventrículo, placa quadrigêmea e fossa posterior,
El Shafei, que acrescentou a punção do seio sagital em permitindo o tratamento da hidrocefalia obstrutiva e
sentido retrógrado e, por isso, a técnica se chama deri - biópsia da lesão, além de eventualmente ressecação to-
vação ventriculossinusal retrógrada ou cirurgia de El tal ou subtotal.8,15,30,31,34,45,47,55,57
Shafei.12,13,49 Por muito tempo foi evitada a realização de TVE em
Hipoteticamente, a derivação de El Shafei diminui crianças menores de 2 anos e em prematuros. Atualmen-
os riscos de efeito sifão, infecção e disfunção do sistema, te, sabemos que a contraindicação se relaciona muito
164 Tratamento da hidrocefalia no adulto: derivações liquóricas 1907

mais à etiologia da hidrocefalia do que à idade do pa-


ciente, sendo bem documentados casos bem-sucedidos
de TVE até em recém-nascidos prematuros e de baixo
peso.s,34,47
Em casos selecionados, a cauterização do plexo co-
roide (plexectomia) pode ser adicionada à TVE, aumen-
tando o índice do sucesso do procedimento.57
O esquema básico da aparelhagem para neuroendos-
copia está ilustrado na Figura 9.
Por meio da punção cerebral, o ventrículo lateral é
acessado e, com precisão e delicadeza, o endoscópio pas-
sa pelo forame de Monro, atingindo o terceiro ventrícu-
lo e viabilizando a terceiroventriculostomia endoscópi- .. -....
ca (Figuras 10 e 11).
A taxa de complicações é geralmente menor que 1%
nas mãos de neurocirurgiões experientes na técnica neu-
roendoscópica. A taxa de mortalidade é de 0,22 e 2% de
morbidade.3.23 Entre outras, as principais complicações são:

• neurológicas, como hemiparesia, paralisia de ner-


vos oculomotores, alterações de memória/consciência; Figura 10 Trajeto do neuroendoscópio realizando a terceiro-
ventri culostomia. 42
• hipotalâmicas, como perda ou ganho de peso, dia-
betes insipidus e puberdade precoce;
• hemorrágicas, como sangramentos incontroláveis, • autonômicas e anestésicas, incluindo bradicardia
hematomas subdurais, extradurais e intraparenquimato- e hipotensão;
sos. A complicação mais grave é a lesão da artéria basilar; • por disfunção do eixo hipotalâmico-hipofisário,
• isquêmicas, como infartos talâmicos e de núcle- incluindo hiponatremia fatal;
os da base; • morte súbita por hidrocefalia aguda secundária
• infecciosas, incluindo fístulas liquóricas, ependi- ao fechamento da estomia.
mites, meningites, ventriculites e abscessos;

Gravador de imagem

Irrigação

Pinças

\J Canais de trabalho

,,.. _ _
lilllli.... Câmera Processador
de imagem
Camisa do
endoscópio e
lentes 0°, 30° ou 60°
Fonte de luz
1
Figura 9 Esquema do neuroendoscópio montado para uso. As lentes de diversos graus podem oferecer uma visão especial de
ângulos diferentes; através dos canais de t rabalho, as pinças cirúrgicas são introduzidas e os procediment os podem ser execut a-
dos. O cirurgião opera olhando para a tela onde a imagem é produzida .42
1908 Tratado de Neurocirurgia

Ventrículo lateral direito Terceiro ventrículo Terceiro-WJitriculostomia


Figura 11 Etapas na rea lização da terceiroventriculostomia. À esquerda: visão do vent rículo lateral direito; a veia septa l, o plexo
coroide e a veia t álamo-estriada convergem no forame de Monro (seta pret a). Ao centro: visão do assoalho do terceiro vent rículo;
a base do triângulo está nos corpos mamilares, e o ápice, no infundíbulo; no centro do triângulo está o túber cinéreo - local ade-
quado para a rea lização da fenestração endoscópica. À direita : t erceiroventriculostom ia rea lizada; nota-se seu f uncionamento
adequado mediant e a presença do sinal da "boca de peixe" do estorna, caracterizado por movimentos para cima e para baixo das
bordas do orifício. 42

DERIVAÇÃO LIQUÓRICA EXTERNA de discussão, uma vez que algumas séries demonstram
impacto positivo e outras não evidenciam benefí-
A derivação ventricular externa (DVE) representa o cio. 5,18,20,43,48,59
"padrão-ouro" para o tratamento neurocirúrgico da hi- Embora as medidas intraoperatórias e de cuidados
drocefalia e da hipertensão intracraniana agudas. 42·58 A de UTI tenham impacto na redução das complicações
derivação liquórica para um meio externo é feita por infecciosas, estas são graves, envolvendo meningite pós-
meio de um procedimento cirúrgico que consiste na im- -operatória, ependimite e ventriculite, com altas taxas de
plantação de um sistema de drenagem (Figura 12) morbimortalidade. Em casos de necessidade de longa
composto, basicamente, por um cateter ventricular (tubo permanência da DVE, é recomendável coleta de LCR pe-
proximal), válvula antirrefluxo, cateter distal e bolsa co- riódica para vigilância infecciosa. A remoção da DVE e
letora, sendo o funcionamento regido pelo princípio de implante contralateral também pode ser realizad.a, uma
vasos comunicantes.42•58 vez que evita a perpetuação do biofilme bacteriano no
O acesso ao sistema ventricular é semelhante ao rea- cateter ventricular.5·18·2º·43·48·59
lizado no procedimento de DVP. Esse sistema permite Outras complicações podem ser hemorragias e po-
não só a drenagem liquórica, mas também a monitora- sicionamento inadequado do cateter ventricular.
ção da pressão intracraniana (PIC), a coleta do material
(líquido cefalorraquidiano drenado) para análise e a in- COMPLICAÇÕES DAS DERIVAÇÕES
fusão de medicamentos por via intratecal. A DVE é um LIQUÓRICAS
desvio temporário de LCR, e é um dos procedimentos
mais realizados na prática neurocirúrgica. Sua inserção As principais complicações das derivações liquóri-
é um procedimento simples que pode ser realizado em cas são demonstradas na Tabela 3. De maneira geral, as
um tempo relativamente curto.
As principais indicações são: hidrocefalia aguda, hi-
drocefalia associada à neuroinfecção, hemorragia intra-
ventricular, como dreno liquórico em cirurgias intracra-
nianas e como medida controladora de pressão
intracraniana.
Apesar de ser um procedimento padronizado, a co-
municação entre o meio externo e o interno promove al-
if
Cateter
tas taxas de infecção, inviabilizando o procedimento em ventricular
médio-longo prazo(> 5-7 dias).5,18,20,43,48,59
Os principais fatores relacionados ao risco de infec-
ção envolvem técnica cirúrgica e manejo pós-operató-
Válvu la de
rio. A manipulação excessiva do sistema coletor para co- três vias
leta de LCR ou esvaziamento da bolsa também pode
aumentar os índices de infecção.5·18·2º· 43·48·59 A utilização Figura 12 Posic ionamento proxima l e dista l do cateter de
de cateteres impregnados com antibiótico ainda é tema derivação ventricular externa, bem como de seus componentes.
164 Tratamento da hidrocefalia no adulto: derivações liquóricas 1909

complicações mais frequentes relacionam-se de alguma Tabela 3 Principais complicações das derivações liquóricas
forma à falha mecânica da derivação, infecção e hiper- Infecção
drenagem. Além disso, dependendo da localização do Obstrução da derivação (proximal, válvula, distal)
Ruptura ou desconexão
cateter distal da derivação, os riscos de outras complica- Migração
ções são possíveis.1,10,11,19,32,35,42,44,50,52,58 Drenagem excessiva
Isolamento (aprisionamento) dos ventrículos
Mau posicionamento
Obstrução da derivação Hemorragia intracraniana
Perfuração de víscera
Obstrução da derivação é a indicação mais comum
para a revisão do sistema e, na maioria dos casos, a cau-
sa é o bloqueio do cateter ventricular. O plexo coroide, O agente etiológico mais comum é o estafilococo. Sta-
o tecido cerebral e os detritos celulares são frequente- philococcus epidermidis (estafilococo coagulase-negativo)
mente responsáveis pela oclusão. Obstrução da deriva- é visto em 50-75% de todas as infecções de derivação. Sta-
ção pode, no entanto, ocorrer em qualquer nível do sis- phylococcus aureus (estafilococo coagulase-positivo), os
tema de derivação. O risco de falha mecânica está microrganismos Gram-negativos (normalmente Escheri-
relacionado com o tempo a partir da cirurgia de deriva- chia coli, Klebsiella, proteus e pseudomonas), espécies es-
ção, com a maioria dessas complicações ocorrendo du- treptocócicas, Neisseria, Haemophilus influenza e fungos
rante 0 primeiro ano após a cirurgia.1,10,11,19,32,35,42,44,50,52,58 compõem o restante das infecções. As infecções com or-
A apresentação clínica é geralmente dominada por ganismos Gram-positivos correlacionam-se com um re-
sinais de elevação da PIC - cefaleia, vômitos e sonolên- sultado melhor do que aquelas com organismos Gram-
cia são os mais comuns. Na população infantil, aumen- -negativos. A infecção geralmente ocorre em uma das três
to do perímetro cefálico, fontanela tensa, tumefação ao formas: (1) pela contaminação intraoperatória; (2) pela
longo do trajeto do cateter a montante do local de obs- disseminação hematogênica; ou (3) por meio de dissemi-
trução e, raramente, crises convulsivas são indicadores nação retrógrada por um cateter distal contamina-
adicionais de mau funcionamento da derivação. O de- do.1,10,11,19,32,35,42,44,5o,52,58
curso de tempo de aparecimento dos sintomas é extre- A apresentação clínica de um paciente com infecção
mamente variável. Em alguns pacientes, o início pode no sistema de derivação pode variar em intensidade. Ele
ser insidioso ao longo de dias ou semanas, enquanto nos pode manifestar sinais e sintomas locais e sistêmicos de
indivíduos mais dependentes da derivação, os sintomas infecção e a derivação infectada pode ou não apresentar
rapidamente progressivos podem se desenvolver no es- disfunção. Portanto, o paciente pode ou não ter sinais e
paço de poucas horas.1,10,11,19,32,35,42,44,50,52,58 sintomas de uma disfunção da derivação, incluindo ce-
A obstrução do cateter distal pode resultar da infec- faleia, náuseas, vômitos e letargia. Se a porção distal da
ção distal, cicatrização, adesões ou gordura dos epíplons derivação estiver infectada, o paciente pode ter sintomas
ocluindo a derivação. Outras complicações como desco- abdominais, incluindo dor, sensibilidade à palpação, dis-
nexão ao longo do sistema de derivação, calcificação e tensão e secreção purulenta na ferida operatória. Uma
migração do cateter (para diversos locais como bolsa tes- TC abdominal ou uma ultrassonografia (USG) de abdo-
ticular, umbigo, estômago, boca, intestino, tórax, ânus, me podem revelar coleção septada de LCR intra-abdo-
útero, veia jugular interna e seio coronário) podem ocor- minal, formando cistos ou pseudocistos. A infecção pode
rer. 1,1o,11, 19,32,35,42,44,50,52,58 ser confirmada por meio de culturas colhidas do próprio
sistema de derivação. Em seguida, são administrados an-
Infecção da derivação timicrobianos de amplo espectro por via endovenosa (até
que o microrganismo específico seja isolado), e o siste-
A infecção é a segunda complicação mais comum ma de derivação geralmente é retirado e substituído por
nas derivações de LCR. A incidência é maior no primei- uma DVE temporariamente.1,10,11,19,32,35,42,44,50,52,58
ro ano após a colocação, com 80% surgindo nos primei-
ros 6 meses. As taxas de infecção variam de 2 a 39%, com Hiperdrenagem
média de 5 a 10%. As características dos pacientes po-
dem influenciar o risco. Lactentes e crianças jovens, pa- Apesar do avanço notável na engenharia e tecnologia
cientes com infecção concomitante, com infecção prévia das válvulas, as derivações não conseguem reproduzir in-
da derivação, e aqueles com complicações pós-operató- teiramente o equilíbrio entre a produção e a absorção fi-
rias da incisão expondo o sistema de derivação têm maior siológicas de LCR, gerando quadros de hipodrenagem e,
risco de infecção.1,10,11,19,32,35,42,44,50,52,58 mais comumente, hiperdrenagem. Drenagem excessiva
1910 Tratado de Neurocirurgia

de LCR pode resultar em sintomas de cefaleia, náuseas, válvula e o cateter distal. Seu mecanismo de funciona-
vômitos, diplopia e letargia. Esses sintomas podem ser mento pode ser por membranas ou esferas gravitacio-
difíceis de distinguir da elevação da PIC. A resolução dos nais (Figuras 13 e 14), a fim de que, quando o paciente
sintomas quando o paciente assume a posição de decú- assumir a posição ortostática, a resistência do sistema
bito dorsal horizontal é um indicador ocasional de hipo- aumente e a drenagem de LCR diminua, evitando a hi-
tensão intracraniana.1,10,11,19,32,35,42,44,50,52,58 perdrenagem por sifonagem.1,10,11,19,32,35,42,44,50,52,58
Existem mecanismos antissifão que podem evitar a
hiperdrenagem ao serem implantados em série entre a

Sentido do fluxo liquórico

Válvula
Mecanismo antissifão

Pressão
60° ângulo da válvula

30° 30° 4 + 12 = 16

u 45° 4 + 14 = 18

60° 4 + 17,2 = 21,2

90° 4 + 20 = 24

Figura 13 Mecanismo ant issifão por esferas, implant ado em série no sistema de DVP. Note que, com a m udança de posição do
paciente da posição de decúbito horizont al para ortost ática, as esferas aumentam a resistência ao fl uxo liquórico e a sifonagem
diminui (válvula proGAV®, da Aesculap, Alemanha). 1

Proteção para
punção
••

••

Mecanismo
Sphera


7

Figura 14 Mecanismo antissifão por membrana: pela ação da gravidade do aument o do fluxo na posição ort ost ática, a membra-
na tende a deprimir para dent ro do sist ema, evitando a sifonagem (válvula SPHERA®, da HP Bio, Brasil).42
164 Tratamento da hidrocefalia no adulto: derivações liquóricas 1911

Complicações específicas são de um hematoma ou síndrome do ventrículo em fen-


da1,10,11,19,32,35,42,44,50,52,58 (Figura 15).
Derivação ventriculoperitoneal Os pacientes com pseudotumor, por exemplo, po-
dem ter uma imagem sugerindo drenagem excessiva e
As complicações relacionadas ao procedimento de pressão intracraniana normal ou ligeiramente negativa.
DVP são, sobretudo, de natureza biológica e mecânica, A hiperdrenagem está associada com alterações hemo-
sendo que a infecção ainda é a figura mais temida, no dinâmicas compensatórias intracranianas e intraespinais,
caso das complicações biológicas. Qu.a nto às complica- principalmente em território venoso. As manifestações
ções de natureza mecânica (como obstrução, síndrome clínicas nem sempre ocorrem, o que depende de fatores
dos ventrículos colabados, hematomas subdurais ou ex- como turgor cerebral antes da derivação, grau de atrofia
tradurais e craniossinostose iatrogênica), a maioria é atri- cerebral, sensibilidade à dor e velocidade de drena-
buída a alterações relacionadas com a própria força físi- gem. 1,10,11,19,32,35,42,44,50,52,58
ca do sistema de drenagem, que dependem Para reduzir a hiperdrenagem, a escolha da pressão
principalmente de variações de pressão, fluxo e resistên- de abertura da válvula de pressão fixa deve ser apropria-
cia, descritos anteriormente.1,10,11,19,32,35,42,44,5o,52,58 da para cada paciente e garantir o fluxo de LCR neces-
A DVP é um procedimento de alta eficácia e com sário para tratar o distúrbio hidrodinâmico, no entanto,
baixa frequência para complicações agudas, no entanto sem causar excessiva drenagem e hipotensão intracra-
podem ocorrer complicações técnicas relacionadas, por niana sintomática.1,10,11,19,32,35,42,44,50,52,58
exemplo, à passagem da vareta ou à punção ventricular. As válvulas programáveis oferecem a possibilidade
As principais complicações agudas entre as crianças, prin- de adaptação após a cirurgia, sem a necessidade de reo-
cipalmente os recém-nascidos prematuros, são a fístula peração (Figura 16). A derivação de fluxo autorregula-
liquórica e a infecção bacteriana. Por outro lado, as com- do (válvula Orbis Sigma) assegura um fluxo constante e,
plicações tardias da DVP são causas frequentes de com- em teoria, seria melhor ajuste para cada paciente, mas
parecimento ao serviço de urgência, culminando em no- grandes amostras não demonstraram desempenho su-
vas operações; cerca de 30% dos pacientes derivados perior. Por outro lado, o mecanismo antissifão pode ser
apresentarão uma dessas complicações em até cinco anos. implementado em série com qualquer tipo de válvula e
A principal é a hiperdrenagem.1,10,11,19,32,35,42,44,50,52,58 age aumentando a resistência ao fluxo sempre que o di-
Hiperdrenagem é um fenômeno que ocorre em toda ferencial de pressão (pO = ventriculares - pf = local dis-
DVP, mas nem sempre gera sintomas. Quando opa- tal) aumenta, impedindo drenagem excessiva e reduzin-
ciente fica em posição ortostática, o cateter distal fun- do o efeito de sifão. Uma série de dispositivos de
ciona como uma coluna líquida de até 40 cm, gerando regulação do sifão tem sido desenvolvida ao longo das
um gradiente de pressão sobre a válvula muito superior últimas duas décadas. Basicamente, existem dois tipos
à pressão de trabalho. Ocorre, portanto, um esvazia- de mecanismos de antissifão: os gravitacionais (esferas
mento dos ventrículos e todo o sistema passa a funcio- ou partes que se movem com a força da gravidade, o que
nar sob pressão inferior à atmosférica. Os sintomas da dificulta e reduz o fluxo) e os de membrana (membrana
hiperdrenagem são cefaleia e vômitos dependentes da fina e flexível, que provocam a oclusão do sistema quan-
posição ortostática. Podem haver complicações como
a formação de hematomas extra-axiais ou subdurais
(Figura 15), ou a síndrome dos ventrículos colabados,
na qual os ventrículos assumem conformação diminuí-
da em fenda e a complacência cerebral é extremamen-
te baixa.1,10,11,19,32,35,42,44,50,52,58
Todos os implantes ventriculares podem ter um efei-
to de sifão, quando o paciente se encontra na posição or-
tostática, uma vez que existe diferença de pressão entre
as duas extremidades do sistema que ultrapassa a pres-
são de abertura da válvula. A hiperdrenagem é o termo
geralmente utilizado para descrever o mecanismo fisio-
patológico pelo qual uma derivação do LCR interno ou
Figura 15 Tomograf ia computadorizada de crânio de pacien-
externo gera achado radiológico específico ou uma das
t e (A) antes de ser submetido à derivação ventriculoperitoneal
síndromes clínicas relacionadas: hipotensão liquórica, e (B) 5 meses após o procedimento, apresent ando hematoma
hipertensão intracraniana decorrente do efeito de expan- subdural (setas) em hemisfério cerebral esquerdo.
1912 Tratado de Neurocirurgia

do a diferença de pressão aumenta por conta de uma di- 3. Bouras T, Sgouros S. Complications of endoscopic third ven-
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minuição na pressão distal).1,10,11,19,32,35,42,44,50,52,58 113: 149-53.
Muitos fatores podem influenciar a dinâmica da dre- 4. Bouzerar R, Tekaya I, Bouzerar R, Balédent O. Dyna-
nagem de LCR, e eles podem ser tanto hidrodinâmicos mics ofhydrocephalus: a physical approach. J Biol Phys 2012;
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quanto relacionados a características fisiológicas indivi- 5. Camacho EF, Boszczowski I, Freire MP, Pinto FC, Guimaraes
duais, que fazem o seu conhecimento essencial ao esco- T, Teixeira MJ, et al. Impact of an educational intervention im-
lher o sistema de drenagem mais adequado para cada pa- planted in a neurological intensive care unit on rates of infec-
tion related to external ventricular drains. PLoS One 2013; 8:
ciente e até mesmo para identificar as causas prováveis de e50708.
hipodrenagem ou drenagem excessiva. As principais for- 6. Choux M, Genitori L, Lang D, Lena G. Shunt implantation:
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e o resultado da correlação entre essas forças: pressão de 8. Costa Val JA, Scaldaferri PM, Furtado LM, de Souza Baptista
perfusão (PP), que pode ser calculada utilizando a seguin- G. Third ventriculostomy in infants younger than 1 year old.
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te fórmula: pp = HP + (PIC _ PIA).1,10,11,19,32,35,42,44,50,s2,58 9. de Oliveira MF, Pinto FC, Nishikuni K, Botelho RV, Lima AM,
O mecanismo antissifão gravitacional reforça esse Rotta JM. Revisiting hydrocephalus as a model to study brain
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até 21 % dos casos, dos quais 5% estão relacionados com 305-17.
hipodrenagem.1,10,11,19,32,35,42,44,50,52,58 13. El-Shafei IL, El-Shafei HI. The retrograde ventriculovenous
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após derivação ventricu lar. Nota-se em (A) o aspecto pré-
20. Kang DH, Park J, Park SH, Kim YS, Hwang SK, Hamm IS. Ear-
-operatório, em (B) a formação do hematoma e em (C) a reso-
ly ventriculoperitoneal shunt placement after severe aneurys-
lução quase comp leta do hematoma após reajuste da vá lvula
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