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LESÕES TRAUMÁTICAS DO
PLEXO BRAQUIAL EM ADULTOS
Roberto Sergio Martins
Mario Gilberto Siqueira
tura primária após lesão causada por uma fresa indus- anatomia do plexo braquial, 5•41 a maior precisão dos mé-
trial em uma jovem de 16 anos.64 Nas quatro primeiras todos de imagem e dos estudos eletrofisiológicos,40 os
décadas do século XX, apesar dos resultados positivos avanços das técnicas de transferência de músculos livres,2
publicados por alguns autores, 12•6º·6 1 uma atitude pessi- o reconhecimento da importância da reabilitação após a
mista era relacionada à cirurgia do plexo braquial. Por cirurgia11 e a ampliação das opções usadas na cirurgia
conta da complexidade associada à técnica operatória e com as técnicas de transferência de nervos a partir das
dos resultados funcionais incompletos obtidos, a cirur- décadas de 1970 e 1980.42
gia passou a ser contraindicada como tratamento das le-
sões traumáticas do plexo braquial,66 postura que só foi FISIOPATOLOGIA
modificada durante a Segunda Guerra Mundial.
Durante esse período, pelo grande número de lesões Frequentemente os termos "raiz" ou "raízes" são uti-
penetrantes ao plexo braquial e pelo aperfeiçoamento lizados para denominar as estruturas que formam o ple-
das técnicas anestésicas, o interesse pela cirurgia foi re- xo braquial a partir do forame intervertebral. De forma
novado.63 A partir dessa época, a classificação e o enten- mais adequada, essas estruturas devem receber a deno-
dimento da fisiopatologia dessas lesões foram facilitados minação de nervo ou nervos espinais, formados pela jun-
pelo desenvolvimento de novas técnicas diagnósticas ção das raízes ventrais e dorsais que se exteriorizam do
como a mielografia cervical, em 1947,38 a eletromiogra- canal vertebral pelos forames intervertebrais.
fia, em 1948,23 a mensuração do potencial de ação, em O mecanismo mais frequente, associado a 95% das
1949,15 e o teste de histamina, em 1954.6 Apesar de to- lesões do plexo braquial, é o estiramento ou a tração re-
dos esses progressos, a cirurgia de reparo do plexo bra- sultante de extremos movimentos da articulação do om-
quial era preterida por procedimentos osteoarticulares. bro e do aumento abrupto do ângulo lateral entre o seg-
O artigo publicado por Yeoman e Seddon, em 1961, ilus- mento cefálico e o ombro, o que geralmente ocorre
tra o modo de tratamento predominante na época e re- quando se atinge o solo após queda de motocicleta. 19•37
petido por vários autores, que incluía a amputação pro- Esse mecanismo é geralmente relacionado às lesões do
ximal do membro associada à artrodese do ombro.25•7º quinto e sexto nervos espinais ou do tronco superior, le-
Em geral, os resultados desses procedimentos eram de- são que também pode ocorrer com a tração caudal do
sapontadores e, consequentemente, essas técnicas foram membro superior. A tração dos nervos espinais pode oca-
progressivamente abandonadas. sionar três tipos principais de comprometimento: avul-
Apesar dos relatos ocasionais de resultados favorá- são radicular, rotura ou lesão em continuidade. Quando
veis após o tratamento cirúrgico, o tratamento conser- o membro superior é forçadamente abduzido sobre a ca-
vador dessas lesões prevalecia como consenso. 14•48-5º·66 beça, a tração é exercida sobre os elementos inferiores do
O enfoque conservador relacionado ao tratamento plexo braquial e, quanto maior a força exercida sobre os
das lesões do plexo braquial foi progressivamente aban- nervos espinhais, maior é a possibilidade de avulsão ra-
donado apenas a partir das décadas de 1960 e 197066 em dicular, presente em 75% das lesões supraclaviculares.37
decorrência de inovações que foram progressivamente Algumas características anatômicas do plexo braquial po-
incorporadas à cirurgia. Uma das novidades mais im - dem justificar certas particularidades. O quinto (C5), sex-
portantes foi a introdução do microscópio cirúrgico, uti- to (C6) e sétimo (C7) nervos espinais cervicais apresen-
lizado inicialmente na cirurgia de nervos periféricos por tam aderências entre o epineuro e o processo transverso
Smith, em 1964.52 A associação dessa nova tecnologia que proporcionam relativa proteção à tração. A ausência
com a produção de fios de sutura mais finos e o desen- desse tipo de ligamento no oitavo nervo espinal cervical
volvimento de instrumental cirúrgico adequado para ma- (CB) e primeiro nervo espinal torácico (Tl) explica a alta
nipulação de estruturas delicadas permitiu a obtenção incidência de avulsão desses nervos, enquanto que os ner-
de melhores resultados após as cirurgias de nervos e do vos espinais C5 e C6 apresentam maior incidência relati-
plexo braquial. Nesse contexto, os trabalhos e a persis- va de rotura na região dos processos transversos. 19
tência de autores como Millesi, que sistematizou a téc- As manifestações clínicas e a possibilidade de recu -
nica de enxertia nervosa nas lesões de plexo braquial,35 peração espontânea são dependentes do grau da lesão,
e os resultados das séries cirúrgicas de Narakas contri- caracterizada e classificada em capítulo prévio. Assim,
buíram para estimular muitos cirurgiões a se dedicarem nas lesões onde há predomínio de neuropraxia, a possi-
à cirurgia do plexo braquial.40 •4 1 Outros fatores também bilidade de recuperação espontânea é alta, ao contrário
concorreram para o aumento de interesse nesse tipo de das lesões caracterizadas como neurotmese. 19 O dano in-
cirurgia, como a introdução da monitoração translesio- traneural pode ser grave mesmo que não ocorra avulsão
nal intraoperatória,26 o conhecimento mais detalhado da ou rotura dos nervos espinais, resultando em lesões ex-
1110 Tratado de Neurocirurgia
tensas que envolvem não apenas os nervos e troncos, mas bro superior, bem como a presença ou ausência de refle-
podem se estender para as divisões e mesmo para os ele- xos. De forma ideal, essas avaliações devem ser repetidas
mentos infraclaviculares mais distais. Essas lesões po- mensalmente.51
dem também se estender proximalmente, comprome-
tendo as áreas correspondentes da medula espinal. Essa LOCALIZAÇÃO DA LESÃO
extensão proximal do comprometimento pode justificar
maus resultados observados em alguns casos após cirur- De forma geral, nas lesões traumáticas por estira-
gia, em que a raiz proximal aparentemente normal foi mento do plexo braquial, os nervos espinais e troncos
utilizada para reconstrução com enxertos. são mais comumente comprometidos em comparação
com as divisões, os cordões ou ramos terminais. Apro-
AVALIAÇÃO ximadamente 70 a 75% dessas lesões envolvem a região
supraclavicular e em cerca de 75% dos casos há compro-
A história relacionada ao trauma é importante, e uma metimento de todos os nervos espinais (C5 a Tl).37 Em
descrição completa do acidente e das lesões associadas 20 a 25% dos casos as lesões comprometem do quinto ao
deve ser obtida como parte da propedêutica inicial. A sétimo nervos espinais cervicais e em 2 a 35% há lesões
descrição de como ocorreu a lesão pode sugerir o tipo e do oitavo nervo espinal cervical e primeiro nervo espi-
a intensidade das forças envolvidas no momento do trau- nal torácico. 37 Em geral, nos pacientes com lesões clini-
ma. Detalhes relevantes a respeito da velocidade do veí- camente completas do plexo braquial há roturas do quin-
culo, do uso de cinto de segurança ou capacete, potên- to e sexto nervos espinais cervicais com avulsão do
cia do veículo (cilindradas da moto, p. ex.) e disparo do sétimo e oitavo nervos espinais cervicais e primeiro ner-
airbag, podem auxiliar na construção do cenário do aci- vo espinal torácico.
dente e sugerir o grau de impacto a que o paciente foi Um dos fatores mais importantes no planejamento
submetido.67 cirúrgico para o tratamento dessas lesões é a determina-
Idealmente, pacientes com lesão do plexo braquial ção da sua localização em relação ao gânglio da raiz dor-
devem ser avaliados precocemente, permitindo que com- sal dos nervos espinais, o que possibilita classificá-las em
parações subsequentes definam se os déficits são perma- lesões pré-ganglionares ou pós-ganglionares. As lesões
nentes ou se há melhora progressiva. Muitas vezes essa pré-ganglionares são localizadas proximalmente ao gân-
avaliação inicial não é possível pelo fato de a lesão ser glio da raiz dorsal e são mais frequentemente relaciona-
parte de um trauma multissistêmico e pelo eventual dé- das à presença de avulsão radicular a partir da medula
ficit ser negligenciado em uma avaliação inicial na sala espinal. 56 De uma forma geral, indivíduos com lesão do
de emergência. Em outros casos, a avaliação desses pa- plexo braquial secundária às avulsões radiculares apre-
cientes é postergada até que lesões mais graves, que im - sentam comprometimento importante de suas ativida-
plicam em risco à vid.a, sejam tratadas. 33 des, não só pelos déficits de sensibilidade e motricidade,
O objetivo da avaliação clínica é determinar, com a mas também pela dor que pode ser intensa e incapaci-
maior precisão possível, a extensão da lesão e definir se tante.61 As lesões pós-ganglionares são caracterizadas
o tratamento cirúrgico deve ser instituído ou se é neces- pelo comprometimento dos elementos do plexo braquial
sário período maior de observação. Nesse sentido, o exa- localizados distalmente ao gânglio da raiz dorsal e, por
me neurológico não deve ser substituído por outro tipo conta da menor associação com as avulsões radiculares,
de teste. A pesquisa do sinal de Tinel por meio da per- manifestam-se com quadros clínicos mais favoráveis em
cussão das regiões supra e infraclaviculares e a identifi- comparação com as lesões pré-ganglionares.
cação da síndrome de Horner são etapas importantes do A diferenciação entre lesão pré ou pós-ganglionar
exame desses pacientes. A identificação de sinal de Ti- tem implicação terapêutica. 19 Nas lesões pós-gangliona-
nel positivo na região supraclavicular é um indicativo in- res a recuperação espontânea ainda é possível, o que não
direto da ocorrência de nervo espinal remanescente após ocorre nas lesões pós-ganglionares. Nas lesões pós-gan-
rotura total ou parcial e a presença da síndrome de Hor- glionares, a ocorrência de fascículos viáveis em nervo es-
ner indica provável lesão pré-ganglionar do primeiro pinal remanescente de rotura parcial ou total na região
nervo espinal torácico. 36 do forame intervertebral possibilita a reconstrução das
Todos os elementos do plexo braquial devem ser ava- estruturas lesadas com a interposição de enxertos de ner-
liados nas funções sensitivas e motoras para definir a in- vo autólogo entre essas estruturas e elementos distais do
tensidade do comprometimento e sua extensão, total ou plexo braquial.32 Na ocorrência de lesão pré-ganglionar,
parcial. Essa avaliação inclui a determinação da ampli- pela impossibilidade de se utilizar o nervo espinal como
tude de movimentos de forma ativa e passiva do mem- fonte de axônios para regeneração, o procedimento uti-
104 Lesões traumáticas do plexo braquial em adultos 1111
lizado é a transferência de nervos.s6 Essa técnica consis- após o trauma devem ser submetidos à avaliação eletro-
te na utilização de um nervo normal, cuja função é me- fisiológica e a estudos por imagem que auxiliarão na de-
nos importante em relação ao nervo receptor, que é cisão sobre a cirurgia.
seccionado e tem a sua extremidade distal deslocada e
coaptada na extremidade proximal do nervo com fun- Eletroneuromiografia
ção comprometida.32
O diagnóstico de uma lesão pré-ganglionar geral- A eletroneuromiografia (EMG) determina a distri-
mente é baseado em evidências indiretas obtidas da in- buição e a extensão da lesão. Pode avaliar músculos que
vestigação clínica, eletrofisiológica e por imagem. Entre são difíceis de ser avaliados clinicamente, assim como
essas evidências destacam-se: a ocorrência de dor inten- quantificar a extensão da desnervação. Adicionalmente,
sa e precoce; a presença de síndrome de Horner; ausên- a EMG pode identificar sinais de reinervação várias se-
cia de sinal de Tinel na região supraclavicular; a lesão de manas antes da detecção de contração muscular volun-
nervos que se originam em estruturas proximais do ple- tária. A EMG deve ser realizada após três a quatro sema-
xo braquial; estudo de condução sensitiva normal ape- nas da lesão por conta da ocorrência de degeneração
sar da ausência de sensibilidade nas áreas relacionadas walleriana. Nesse processo, o citoesqueleto e o axoplas-
aos nervos examinados; a desnervação de músculos pa- ma se degeneram na região distal à lesão, deixando o cor-
ravertebrais cervicais identificada na eletromiografia; e respondente tubo endoneural vazio e, por esse motivo,
a identificação de pseudomeningocele nos exames de os sinais relacionados à desnervação potencialmente
imagem.si,s6 idenficáveis na EMG só são demonstrados de forma con-
A dor ocorre em até 80% dos adultos com lesões trau- fiável após a estabilização desse processo.si
máticas do plexo braquial9•6 I e, quando intensa e de iní- Os estudos da velocidade de condução nervosa cons-
cio precoce, sugere a presença de avulsão radicular. De tituem parte do exame eletroneuromiográfico e possibi-
forma geral, esse tipo de dor neuropática responde de litam a identificação de lesões com potencial para recu -
forma pouco satisfatória ao tratamento medicamentoso peração (neuropraxia). Para tanto, a amplitude dos
e, em alguns casos, há necessidade de procedimentos potenciais motores é o melhor parâmetro a ser avaliado,
ablativos funcionais, como a eletrocoagulação da zona uma vez que se relaciona diretamente com o prognósti-
de entrada da raiz dorsal, para o controle do sintoma. co. A velocidade de condução sensitiva normal nas le-
Três nervos têm origem proximal em relação ao ple- sões puramente pré-ganglionares é outro indicativo ava-
xo braquial: o torácico longo, o escapular dorsal e o frê- liado. Apesar do resultado aparentemente contraditório,
nico. A lesão do nervo torácico longo é classicamente as- essa relação se justifica, pois os corpos dos neurônios
sociada à escápula alada, mas sua identificação pode ser sensitivos localizam-se no gânglio da raiz dorsal, possi-
dificultada em pessoas com lesão completa do plexo e bilitando que a via sensitiva esteja íntegra na avulsão do
plegia do membro superior. Nesses casos, a avaliação da nervo espinal e resultando em uma velocidade de con-
anteropulsão do ombro com o paciente em decúbito dor- dução sensitiva normal ou próxima do normal. A des-
sal, função relacionada ao nervo torácico longo, pode ser nervação da musculatura paravertebral é outro parâme-
utilizada na determinação do comprometimento do ner- tro sugestivo de avulsão radicular e ocorre pela lesão
vo. 4 A integridade do nervo escapular dorsal pode ser proximal concomitante de ramos dorsais musculares.s I
avaliada pela observação e palpação dos músculos rom-
boides ao se solicitar ao indivíduo que aproxime dorsal- Potenciais evocados somatossensitivos
mente as escápulas. A paralisia completa dos músculos
romboides ocorre na lesão por avulsão concomitante do Os potenciais evocados somatossensitivos (PESS) são
quarto e quinto nervos espinais cervicais.29 A lesão do obtidos a partir da estimulação distal dos nervos media-
nervo frênico é identificada pela assimetria de cúpula no, radial e ulnar e registro sobre o processo espinhoso
diafragmática avaliada pela radiografia simples do tó- da segunda vértebra cervical e córtex somatossensitivo
rax.sI Frequentemente, lesões pré e pós-ganglionares coe- contralateral22 (Figura1). O PESS registra a atividade dos
xistem e a definição da ocorrência de avulsão radicular axônios sensitivos e, portanto, avalia a via sensitiva. Quan-
ocorre durante a exploração cirúrgica. do presente, o PESS indica que a raiz dorsal está íntegra
e que, na maioria dos casos, a raiz ventral também está
AVALIAÇÃO ELETROFISIOLÓGICA preservada. I3 Como qualquer método eletrofisiológico
intraoperatório, a avaliação do PESS é influenciada por
Todos os indivíduos com paralisia traumática do ple- diversas fontes possíveis de interferências, o que pode di-
xo braquial sem sinais de recuperação até o primeiro mês ficultar ou inviabilizar a sua aplicação.64 Outra limitação
1112 Tratado de Neurocirurgia
TRATAMENTO
Indicação da cirurgia
da mão em geral não é a prioridade dessa cirurgia por tos de 30 a 35 cm de nervo em adultos, sendo que,
conta da longa distância entre os nervos doadores e re- de forma geral, a sua retirada é realizada após a de-
ceptores e da rápida atrofia que ocorre nos delicados mús- finição da distância na qual esses enxertos devem ser
culos intrínsecos da mão. A lista a seguir apresenta a nos- interpostos. A retirada do enxerto pode ser realiza-
sa sequência de prioridades:51 da por meio de incisão única ou múltiplas. A prin-
cipal desvantagem da reconstrução com enxertos na
1. Flexão do antebraço contra a gravidade é considera- cirurgia do plexo braquial é a ausência de método
da a principal função, pois seu restabelecimento per- absolutamente confiável para predizer se o coto pro-
mite o posicionamento mais adequado do membro ximal do nervo espinal possui fascículos viáveis que
superior e possibilita trazer a mão em direção ao possibilitem regeneração efetiva. Essa viabilidade é
tronco e à cavidade oral. baseada na associação de métodos eletrofisiológicos,
2. Estabilização do ombro e recuperação de abdução e de imagem e da inspeção subjetiva do cirurgião no
rotação externa, pois a ausência dessas funções im - momento da cirurgia e, por esse motivo, o método
pede o uso do membro. não é totalmente eficaz.
3. Pinça braquiotorácica com a adução do braço propor- 4. Transferência de nervos: nessa técnica, um nervo
cionada pela reinervação da musculatura peitoral. normal, cuja função é menos importante em relação
4. Extensão do antebraço. ao nervo receptor, é seccionado e tem a sua extremi-
5. Sensibilidade protetora da mão através da reinerva- dade distal deslocada e coaptada na extremidade pro-
ção da contribuição lateral para o nervo mediano. ximal do nervo com função comprometida. 32 A trans-
ferência de nervos é a única técnica possível quando
Técnica cirúrgica não há nervo espinal viável para ser utilizado como
fonte doadora de axônios, situação que ocorre na le-
Os acessos anteriores são utilizados na maioria dos são completa do plexo braquial com avulsão multir-
pacientes com lesões traumáticas do plexo braquial. De- radicular, e é utilizada frequentemente nas lesões
• •
pendendo do tipo e da extensão da lesão, o acesso pode parc1a1s.
ser supraclavicular, infraclavicular ou a combinação dos
dois. Alguns critérios são úteis para a escolha do nervo
Após o acesso ao plexo braquial, quatro técnicas ci- doador mais adequado, como: a proximidade dele ao
rúrgicas são normalmente utilizadas no reparo das le- músculo a ser reinervado; a existência de uma inervação
-
soes: redundante; a ação sinérgica em relação ao músculo a
ser reinervado; e o calibre compatível entre o nervo doa-
1. Sutura direta término-terminal: realizada em raras dor e o receptor. 1' 24' 67
ocasiões de lesões cortantes na fase aguda.
2. Neurólise externa: consiste na dissecação e liberação
dos elementos do plexo braquial do tecido fibrocica-
tricial e de aderências deste às estruturas vizinhas. O
procedimento é realizado por meio de dissecação rom-
ba e secção das estruturas com auxílio de bisturi ou
tesoura, preferencialmente iniciando-se a dissecação
em local livre de aderências e/ou tecido fibrocicatri-
cial e prosseguindo até a área da lesão (Figura 5). A
neurólise externa é um pré-requisito necessário para
a execução das outras técnicas e de estudos eletrofi-
siológicos intraoperatórios. Em raras ocasiões, a neu-
rólise pode ser o único reparo realizado.
3. Enxertos: a reconstrução com enxertos de nervos é
realizada quando há lesão pós-ganglionar por rotu-
ra ou após a ressecação de neuroma em continuida-
de (Figura 6). A viabilidade dos cotos proximais é Figura 5 Fot ografia obt ida durant e acesso anterior supracla-
vicular ao plexo braquial direito. A neurólise ext erna está sendo
pré-requisito para a reconstrução com enxertos. Na rea lizada com uso de m icrot esoura, liberando as aderências
maioria dos casos, o nervo sural é a principal fonte entre o tronco superior (TS) e o músculo escaleno médio (MEM).
de enxertos autólogos, já que pode fornecer segmen- C: c lavícula; L: lat eral.
104 Lesões traumáticas do plexo braquial em adultos 1115
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105
portante, mas o mecanismo de lesão é distinto e parece A proporção relativa dessas formas clínicas depen-
estar relacionado à hiperextensão cervical.88 Adicional- de da casuística, particularmente da idade dos doentes,
mente, não há relação com o peso fetal, são comuns le- fonte de encaminhamento e critérios para o diagnósti-
sões bilaterais e avulsões radiculares altas. O parto cesa- co.81 Muitos doentes apresentam quadros transitórios ra-
riana apresenta evidente efeito protetor, mas não evita pidamente reversíveis, que são observados no período
completamente as lesões. 36 Cerca de 1% dos doentes com neonatal ainda no berçário, mas que provavelmente nem
plexopatia braquial neonatal nascem por cesariana. II chegarão aos ambulatórios de especialidades.40 No caso
A ocorrência de distócia de ombro ou paralisia neo- de encaminhamento sistemático de todos os casos sus-
natal em parto anterior é outro fator de risco significati- peitos, vários doentes apresentarão exame neurológico
vo, o que evidencia a importância dos fatores maternos9 • normal após poucas semanas.
Além do diabetes mellitus, outros fatores maternos in- As crianças com comprometimento isolado do nível
cluem obesid.a de, ganho de peso excessivo na gestação, superior do plexo (C5-C6) apresentam uma postura as-
multíparas, primíparas e baixa estatura.29 simétrica característica. O membro permanece aduzido
A indicação de cesariana para fetos macrossômicos junto ao tronco com o cotovelo em extensão e em rota-
esbarra em dificuldades como a acurácia da estimativa ção interna.3 Pode haver flexão do punho por compro-
do peso fetal pelo ultrassom. 38'6 º Uma análise de custo- metimento dos extensores radiais do carpo, configuran-
-benefício para indicação de cesariana em fetos com peso do a postura clássica "em gorjeta de garçom'' (Figura 1).9º
estimado de 4,5 kg concluiu que seriam necessários 3.695 Os movimentos de abdução e rotação externa do braço
partos operatórios para prevenção de cada lesão defini- podem ser testados por meio do reflexo de Moro.72 A fle-
tiva.71 Existe recomendação baseada em evidência para xão do antebraço é fisiologicamente presente em recém-
indicação de cesariana em apresentação pélvica.35 Para -nascidos ou lactentes jovens, mas pode ser evocada pela
apresentações cefálicas, o Colégio Americano e o Colé- manobra de tração, na qual o tronco é levemente suspen-
gio Britânico de Obstetrícia recomendam a cesariana so pela tração dos membros superiores. A flexão dos de-
para fetos com mais de 4,5 kg em mães diabéticas ou com dos é normal nestes doentes e pode ser testada pelo re-
mais de 5 kg em mães não diabéticas.29 flexo de preensão palmar. Em doentes maiores, a rotação
externa pode ser testada em decúbito ventral comam-
FORMAS CLÍNICAS bos os braços aduzidos. A criança fará a rotação externa
E EXAME NEUROLÓGICO dos mesmos para elevar a cabeça. A abdução pode ser
testada colocando algum objeto de interesse acima do
As plexopatias braquiais neonatais relacionam-se ao nível da cabeça da criança, ou pedindo colo. Para avaliar
aumento do ângulo entre a clavícula e a coluna cervical,
levando à tração das estruturas supraclaviculares do ple- •
xo. 54 Pela distribuição anatômica das estruturas, existe
um gradiente de tração que é maior para o nível supe-
rior do plexo e menor para o nível inferior. Isso justifica
a distribuição das formas clínicas. Cerca de metade dos
casos apresentam comprometimento isolado dos elemen-
tos superiores do plexo (raízes C5 e C6), conhecido como
paralisia de Erb. Lesões combinadas das raízes superio-
res e média (C5-C6-C7, ou Erb estendida) ocorrem em
cerca de um terço dos casos e lesões totais (C5-Tl) nos
casos restantes.90 O comprometimento isolado do nível
inferior do plexo, ou paralisia de Klumpke, é extrema-
mente raro, tendo sua existência questionada por alguns
autores.6 A situação mais comum é de lesões totais que
evoluem com recuperação do nível superior, contudo,
lesões isoladas do nível inferior são possíveis. 72 O lado Figura 1 Postura assimétrica característica em criança com
direito é acometido em dois terços dos casos devido à com prometim ento isolado da quinta e sexta raízes do plexo
apresentação fetal mais comum, que posiciona o ombro (C5-C6). Not a-se que o membro permanece ad uzido junto ao
tronco com o cotovelo em extensão e em rotação interna. Há
direito sob a sínfise púbica materna. Cerca de 5% dos ca- f lexão do punho por comprometimento dos músculos exten-
sos apresentam lesão bilateral, mas geralmente assimé- sores radiais do carpo, configurando a postura clássica "em
trica, sendo mais comum em partos pélvicos.75 gorjet a de garçom':
1120 Tratado de Neurocirurgia
membro superior comprometido, do pescoço e do hemi- culo esternocleidomastoide, podendo ser dividida, se
tórax ipsilaterais, além de ambos os membros inferiores. houver necessidade. O músculo omo-hioide é identifica-
Na colocação dos campos cirúrgicos, o membro superior do, dissecado e retraído inferiormente. Se necessário, pode
deve permanecer visível em toda a sua extensão para per- ser dividido na condensação tendinosa encontrada no
mitir a inspeção visual de contrações musculares em res- meio do músculo. Profundamente a esse músculo posi-
posta à estimulação elétrica intraoperatória. ciona-se um coxim de tecido adiposo e linfático, que é
Os procedimentos cirúrgicos são realizados sob anes- dissecado e retraído lateralmente para expor o plexo bra-
tesia geral, evitando o emprego de relaxantes muscula- quial supraclavicular. A veia e a artéria cervicais transver-
res, que podem interferir na estimulação elétrica intrao- sas, localizadas no centro do campo, devem ser disseca-
p eratória. Realizamos o procedimento sempre sob das e, se necessário, dividid.as, para facilitar a exposição.
magnificação: com lupa (X 3,5) durante a dissecação e A dissecação inicial tem por finalidade expor as raízes CS
com microscópio cirúrgico no momento do reparo do e C6 e o tronco superior. A identificação do nervo frêni-
plexo. co, posicionado sobre a superfície anterior do músculo
Na grande maioria dos casos, a exploração cirúrgi- escaleno anterior e localizado com o auxílio de estimula-
ca supraclavicular é suficiente para exposição e reparo ção elétrica, pode facilitar a dissecação do plexo, especial-
apropriados da lesão. O plexo braquial supraclavicular mente quando o mesmo é envolto em densa fibrose cica-
pode ser exposto através de uma incisão posterior ao tricial. A dissecação proximal do nervo, o único com
músculo esternocleidomastoide, que tem início no pon- trajeto de lateral para medial no pescoço, alcança CS, na
to médio de uma linha traçada da ponta do processo borda lateral do músculo escaleno anterior, ponto de par-
mastoide até a clavícula. Ao alcançar a borda superior tida para a exposição do restante do plexo. Essa disseca-
dessa estrutura óssea, a incisão curva-se lateralmente e ção deve ser cuidadosa para minimizar o risco de lesão
prossegue até o sulco deltopeitoral. Outra opção é uma ao nervo. O nervo acessório também pode ser identifica-
incisão reta, com cerca de 4 cm proximal e paralela à cla- do no limite superior da incisão, quando esta se estende
vícula, na base do triângulo posterior do pescoço, que se um pouco mais proximal, no ponto em que emerge por
estende desde a borda lateral do músculo esternocleido- trás do músculo esternocleidomastoide, na junção de seus
mastoide até a borda medial do músculo trapézio. Essa terços superior e médio, no seu trajeto no sentido do mús-
incisão é realizada 1 ou 2 cm cranial à clavícula em ca- culo trapézio. Outro nervo que deve ser preservado é o
sos de lesões completas do plexo ou na paralisia de Erb, torácico longo, que se posiciona posteriormente ao ple-
respectivamente. xo e atravessa o músculo escaleno médio.
O acesso supraclavicular expõe de forma satisfatória A individualização da raiz CS, dissecada até o fora-
o conteúdo do triângulo posterior do pescoço, onde es- me intervertebral correspondente, é o marco anatômico
tão localizados tanto os elementos do plexo braquial que para a dissecação das raízes C6 e C7 de posicionamento
mais frequentemente são comprometidos (CS, C6, ± C7), mais inferior, que também são dissecadas até seus fora-
como os elementos mais inferiores (C8, Tl). De forma mes. Quanto mais inferior o forame, mais posterior é sua
infrequente, especialmente em casos de lesões completas localização. Em casos de raízes avulsionadas, o forame
do plexo, pode ser necessária a extensão da incisão sobre pode estar vazio ou ocupado por tecido fibroso. Outra
o sulco deltopeitoral, para permitir uma melhor exposi- evidência de avulsão é a visualização do gânglio da raiz
ção de C8 e Tl/tronco inferior e de elementos infraclavi- dorsal no campo operatório. Nessa altura da cirurgia os
culares do plexo. Nessas incisões combinad.as, supra e in- troncos superior e médio estão visíveis, além do nervo
fraclaviculares, os elementos do plexo braquial localizados supraescapular, que se origina da superfície lateral do
nestas duas regiões são conectados por meio de disseca- tronco superior. Habitualmente o trajeto craniocaudal
ção romba sob a clavícula. desse nervo é discretamente oblíquo, no sentido da in-
A incisão é feita através da pele e do músculo platis- cisura da escápula; no entanto, devido ao deslocamento
ma, que em crianças muito pequenas pode ser difícil de caudal do tronco superior decorrente da tração, seu tra-
visualizar, e o retalho triangular é rebatido lateralmente. jeto em crianças com paralisia neonatal do plexo bra-
Pequenos ramos neurais são vistos cruzando o limite in- quial é mais horizontal. A artéria subclávia, de posicio-
ferior do campo (nervos supraclaviculares) e podem ser namento mais inferior, pode impedir a visualização
divididos. O músculo esternocleidomastoide é identifi- adequada do tronco inferior e seu deslocamento cuida-
cado e a dissecação é iniciada imediatamente lateral ao doso permite a inspeção não só deste tronco, como das
mesmo. A cabeça clavicular do músculo é dividida e re- raízes C8 e Tl até seus forames. A raiz Tl posiciona-se
batida medialmente para facilitar a exposição. A veia ju- imediatamente superficial à cúpula pleural. Por vezes é
gular externa é localizada sobre a borda lateral do mús- necessária a ressecção parcial ou total do músculo esca-
1124 Tratado de Neurocirurgia
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS
T3
T4
T5
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106
Os nervos do membro superior podem ser subme- Os sinais e sintomas variam de acordo com o nervo
tidos à compressão em canais naturais desde a sua ori- acometido, dependendo da característica funcional, in-
gem, no plexo braquial, até os ramos mais distais. A com- tensidade, duração e local onde ocorre a compressão. A
pressão desses nervos desencadeia sinais e sintomas que dor é o principal sintoma na maioria das compressões
resultam em dor, perda funcional sensitiva e motora. nervosas, geralmente de piora noturna. Os sinais e sin-
Neste capítulo, analisaremos as principais síndromes tomas clínicos de cada compressão serão discutidos de
compressivas dos nervos do membro superior, incluin - forma detalhada para cada nervo.
do fisiopatologia, sintomatologia, exames diagnósticos e
tratamento. EXAMES COMPLEMENTARES
Etiologia
A necessidade de reoperação para tratamento de sinto- O nervo ulnar origina-se dos ramos anteriores dos
mas recorrentes ou persistentes é próxima de 5%. 1 nervos espinais C8 e Tl, com algumas contribuições de
C7. No braço o nervo segue próximo ao nervo mediano
Complicações cirúrgicas e à artéria braquial e não emite ramos até a região do co-
tovelo. Na porção média do braço o nervo ulnar passa
Muitas das complicações envolvem lesão do nervo sob o septo intermuscular medial. Em alguns casos, nes-
mediano ou seus ramos durante a cirurgia, principalmen- sa região existe um espessamento da fáscia do braço que,
te dos ramos recorrente motor e cutâneo palmar. Atenção juntamente com fibras da cabeça medial do músculo trí-
no momento do acesso é fundamental para evitar esse tipo ceps, cobrem o nervo ulnar e caracterizam a chamada
de lesão, assim como restringir a dissecção do nervo no arcada de Struthers. Distal a este segmento, o nervo ul-
lado ulnar da linha média no punho. O conhecimento das nar segue no sulco retroepicondilar do cotovelo, poste-
variações anatômicas do nervo mediano e seus ramos tam- romedial ao epicôndilo medial e, a seguir, entra no túnel
bém é muito importante. Em caso de lesão, além de alte- cubital. O teto do túnel cubital é formado pelo músculo
rações motoras e sensitivas, pode haver formação de neu- flexor ulnar do carpo e por uma aponeurose fibrosa de-
roma. Existem também relatos de desenvolvimento de nominada arcada aponeurótica úmero-ulnar, que conec-
síndrome de dor complexa regional após a cirurgia. ta as cabeças umeral e ulnar do mesmo músculo. Os ra-
Lesões vasculares, principalmente relacionadas à le- mos motores para o músculo flexor ulnar do carpo
são do arco arterial palmar ou seus ramos, podem ser originam-se imediatamente antes ou na região do túnel
observadas e levar à formação de hematomas. Existem cubital. Após seu trajeto nesse túnel o nervo ulnar per-
também complicações cutâneas, decorrentes de incisões fura a aponeurose flexora-pronadora profunda e segue
transversas no punho que podem resultar em cicatriz hi- pelo antebraço em direção ao punho.
pertrófica e nova compressão do nervo mediano. A dor No punho o nervo ulnar passa pelo canal de Guyon
palmar pode estar presente em 12,7% dos pacientes ope- junto com a artéria ulnar. O teto do canal é formado pelo
rados.4 Infecção também pode ser observada. ligamento carpal volar, que é uma continuação da fáscia
Alguns pacientes não apresentam melhora mesmo do antebraço, e pelo músculo palmar curto. O assoalho
após a cirurgia. Nesses casos, deve-se reavaliar se o diag- é constituído pelo ligamento transverso do carpo e pe-
nóstico está correto, e em caso afirmativo, avaliar a pos- los ligamentos piso-hamato e pisometacarpal. No canal
sibilidade de secção incompleta do retináculo dos flexo- de Guyon o nervo ulnar se divide em ramos superficial
res. Em alguns casos ocorre um espessamento da fáscia e profundo.
do antebraço proximal ao retináculo que, se não for sec- A região do cotovelo é o local mais frequente de com-
cionada, pode levar à perpetuação de sintomas. Nesses pressão do nervo ulnar. Nessa região, fatores dinâmicos,
casos, a RM do punho pode ajudar a avaliar se ainda exis- em associação com as estruturas anatômicas existentes,
te algum ponto de compressão no nervo mediano. Em ca- atuam na gênese da compressão.
sos de recorrência da dor após meses da cirurgia, há a pos-
sibilidade da ocorrência de fibrose adjacente ao nervo que, Diagnóstico
muitas vezes, é motivo de indicação de reoperação.3
O diagnóstico de compressão do nervo ulnar é clí-
Nervo ulnar nico e obtido por meio de história e exame físico. A pre-
sença de hipoestesia e parestesia no 4° e 5° dedos que
A compressão do nervo ulnar ocorre em dois locais piora com a flexão do cotovelo sugere o diagnóstico. A
principais, no punho e na região do cotovelo. 15 A com- ENMG e os exames de imagem podem auxiliar na con-
pressão do nervo ulnar na região do cotovelo é a segun- firmação diagnóstica diante da suspeita clínica.
da neuropatia compressiva mais comum do membro su-
perior, sendo apenas superada pela compressão do Quadro clínico
nervo mediano no túnel do carpo. Em estudo realizado
na Itália, a incidência anual de compressão do nervo ul- A sintomatologia dependerá do local da compressão
nar na região do cotovelo foi de 24,7 casos por 100 mil e sua intensidade. Na compressão do nervo ulnar na re-
pessoas, sendo o comprometimento duas vezes mais fre- gião do cotovelo a classificação de McGowan pode ser
quente no sexo masculino.7 Outro estudo realizado na utilizada (Tabela 3). Na maioria dos casos, parestesia ou
Inglaterra demonstrou incidência de 25,2 homens e 18,9 hipoestesia leve no território de inervação do nervo ul-
mulheres por 100 mil pessoas com esta síndrome.2 nar caracterizam o quadro clínico inicial. 8
106 Síndromes compressivas de nervos periféricos do membro superior 1137
A compressão do nervo ulnar na região do cotovelo Tabela 3 Classificação de McGowan para neuropatia compressiva do nervo
geralmente ocasiona dormência e choques na altura do ulnar na região do cotovelo
4° e 5° dedos da mão com piora dos sintomas com a fle- Grau Sintomas sensitivos Exame motor
xão do cotovelo. A dor é comum e inicialmente localiza- 1 Parestesia ou Sem fraqueza
hipoestesia leve
da na região do cotovelo, podendo irradiar gradativamen-
te para a face medial do antebraço até a mão. Os sintomas 2A Hipoestesia moderada Sem atrofia dos músculos intrínsecos
e/ou fraqueza leve
motores variam de fraqueza dos músculos intrínsecos da
2B Hipoestesia moderada Fraqueza moderada e diminuição de
mão até uma deformidade do tipo "garra ulnar". Inicial-
força dos músculos intrínsecos
mente os pacientes referem uma perda de habilidade ma-
3 Parestesia ou Atrofia dos músculos intrínsecos e
nual em decorrência das alterações e fraqueza dos mús- hipoestesia grave fraqueza importante
culos intrínsecos da mão. Essa alteração difere da perda
de habilidade pela alteração do nervo mediano, que é se-
cundária à alteração importante da sensibilidade. pode auxiliar na confirmação diagnóstica e na localiza-
A palpação do nervo ulnar no seu trajeto é impor- ção da compressão, além de determinar o grau de aco-
tante para avaliação de sinais de espessamento. A avalia- metimento do nervo. Alterações do nervo ulnar distal
ção da sensibilidade e da força dos músculos extrínsecos sem sinais de acometimento proximal ao punho indicam
e intrínsecos inervados pelo nervo ulnar, associada com comprometimento do nervo no canal de Guyon.
a avaliação das funções do nervo mediano, é importan- A ultrassonografia e a RM podem ser úteis quando
te para descartar lesões dos nervos espinhais C8 e Tl ou a ENMG não é conclusiva ou não permite localização
do plexo braquial. precisa da região da compressão. A ultrassonografia pode
Os testes provocativos também são importantes na demonstrar aumento do volume do nervo e alteração da
análise da compressão do nervo ulnar. Alguns testes são sua ecogenicidade. A RM pode ser útil em pacientes com
realizados durante o exame clínico, como pesquisa de si- quadro atípico e com suspeita de compressão por lesão
nal de Tinel no sulco retroepicondilar, realização do tes- secundária, como cistos e tumores.
te de flexão do cotovelo e pressão com palpação do ner-
vo. O teste da flexão do cotovelo consiste em mantê-lo Tratamento
em flexão máxima por um minuto com o punho em po-
sição neutra. O teste é considerado positivo quando oca- O tratamento da neuropatia compressiva do nervo
siona dor ou parestesia no território do nervo ulnar na ulnar inicialmente é clínico. O tratamento conservador
mão. O exame deve ainda avaliar sinais de atrofia na re- está indicado quando os sintomas são leves e intermiten-
gião hipotenar. tes e não há fraqueza muscular. Recomenda-se que os
pacientes evitem manter o cotovelo em flexão e como
Neuropatia ulnar na região do punho - síndrome apoio por período prolongado. Mudanças posturais, evi-
do canal de Guyon tar sobrecarga e movimentos repetitivos no cotovelo po-
dem também melhorar a sintomatologia nesses casos. A
Os sintomas decorrentes de compressão do nervo ul- utilização de uma toalha no cotovelo pode prevenir a fle-
nar na região do punho resultam em atrofia da mão e al- xão noturna indesejada que aumenta a compressão e pio-
teração de sensibilidade no 4° e 5° dedos. A lesão do tron- ra os sintomas.
co principal do nervo ulnar no canal de Guyon leva a
alterações de sensibilidade nos ramos terminais e compro- Cirurgia
metimento dos músculos da iminência hipotenar, todos
os músculos interósseos, o terceiro e quarto lumbricais, o A cirurgia está indicada na persistência dos sinto-
músculo adutor do primeiro dedo e o músculo flexor cur- mas e quando há comprometimento da sensibilidade e
to do primeiro dedo. A mão em garra na neuropatia do motricidade.
nervo ulnar no canal de Guyon é mais intensa em relação As principais técnicas utilizadas na cirurgia são a des-
à compressão na região do cotovelo por conta da função compressão simples e as técnicas de transposição do ner-
preservada do músculo flexor profundo dos dedos. vo. A descompressão simples, na qual o nervo é exposto
e liberado em todo o seu trajeto na região do cotovelo (Fi-
Exames complementares gura 4). A transposição do nervo ulnar é realizada após
a descompressão simples, com mobilização do nervo do
A ENMG é importante na avaliação complementar sulco retroepicondilar e deslocamento anteriormente para
dos pacientes com quadro clínico duvidoso. Esse exame a região do tecido subcutâneo ou inferiormente à mus-
1138 Tratado de Neurocirurgia
culatura flexora-pronadora. Pacientes que apresentam do nervo radial é infrequente, sendo descritas duas apre-
subluxação do nervo ulnar podem se beneficiar com a sentações clínicas importantes no antebraço: síndrome
transposição. A utilização da epicondilectomia medial é do interósseo posterior e síndrome do túnel radial. A
uma opção terapêutica e está indicada em casos selecio- compressão do ramo superficial do nervo radial também
nados, principalmente em compressões após fratura e em é descrita e conhecida como síndrome de Wartenberg. 13
alterações ósseas no epicôndilo medial.
Alguns autores relataram o uso da endoscopia como Síndrome do nervo interósseo posterior
técnica para descompressão do nervo ulnar na região do
cotovelo com bons resultados, mas as complicações des- A síndrome do nervo interósseo posterior é carac-
critas chegam a 30% em alguns estudos. 24 Em publica- terizada por compressão do nervo interósseo posterior
ção relatada por Ward e Siffri, seis pacientes necessita- na região em que o nervo se relaciona com o músculo
ram que a cirurgia fosse convertida para técnica aberta supinador no terço proximal do antebraço. O nervo in-
em uma série de 21 casos.24 terósseo posterior situa-se entre as camadas superficial
A maioria dos estudos demonstra resultados seme- e profunda do músculo supinador. A arcada de Frohse é
lhantes quando se comparam as técnicas de descompres- descrita como um espessamento fibroso da porção mais
são e transposição, mas maior índice de complicações proximal da camada superficial do músculo supinador
ocorre nas transposições. 5•27 Diante dos dados de litera- e é considerada um possível local de compressão do ner-
tura, a descompressão simples do nervo ulnar é a técni- vo na região. Outras causas ou locais de compressão in-
ca indicada para tratamento da compressão desse nervo cluem: bandas fibrosas; vasos radiais recorrentes; borda
na região do cotovelo. As transposições do nervo, sub- fibrosa do músculo extensor radial curto do carpo; bor-
cutânea ou submuscular, são indicadas em casos de re- da distal do músculo supinador 10•
cidiva ou em situações específicas como na presença de O quadro clínico é caracterizado por dor local asso-
alterações anatômicas da região. ciada a alterações motoras. Há fraqueza da extensão dos
dedos, mas a extensão do punho e a supinação do ante-
Nervo radial braço estão preservadas, pois os ramos do nervo interós-
seo posterior para esses músculos são emitidos antes da
O nervo radial é o ramo final do cordão posterior do compressão (Figura 5). 17 Os sintomas podem ser inter-
plexo braquial. Na região do braço o nervo cursa um tra- mitentes e relacionados à pronação do antebraço. 17 O tra-
jeto espiral ao redor do úmero seguindo de posterior para tamento inicial é clínico com utilização de anti-inflama-
anterior. 13 No antebraço segue anteriormente dividindo- tório, repouso articular e modificação de atividades
-se em ramo superficial e profundo. O ramo profundo, físicas. A cirurgia pode ser realizada na falta de respos-
ou nervo interósseo posterior, passa inferiormente ao ta ao tratamento conservador e consiste na secção de
músculo supinador (Figura 5). O ramo superficial rela- eventuais estruturas responsáveis pela compressão do
ciona-se com o músculo braquiorradial. A compressão nervo na região. 13
106 Síndromes compressivas de nervos periféricos do membro superior 1139