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LESÕES TRAUMÁTICAS DO
PLEXO BRAQUIAL EM ADULTOS
Roberto Sergio Martins
Mario Gilberto Siqueira

INTRODUÇÃO res descreveram de forma eloquente a natureza devasta-


dora dessas lesões que acometiam principalmente os
Lesões traumáticas do plexo braquial geralmente re- condutores de bigas. Em Roma, entre os séculos II e III
sultam em grave incapacidade funcional do membro su- a.e., Galeno de Pérgamo foi o primeiro a descrever o
perior acompanhada de dor que, muitas vezes, é incapa- diagnóstico e o seguimento de um doente portador de
citante. Além disso, pelo fato de acometerem com maior uma lesão traumática do plexo braquial, cujo déficit sen-
frequência indivíduos jovens em plena atividade profis- sitivo na mão apresentou resolução espontânea.63 Foi so-
sional, essas lesões resultam em grande sofrimento aos mente com o advento do Renascimento, na Europa, que
doentes e suas famílias. 19 Mecanismos traumáticos di- artistas e anatomistas como Leonardo da Vinci produzi-
versos podem resultar em lesão do plexo braquial, in- ram representações primorosas e detalhadas do plexo
cluindo ferimentos penetrantes e aqueles causados por braquial,66 permitindo que essas lesões fossem efetiva-
projéteis de armas de fogo. A causa mais frequente, no mente reconhecidas. No século XVIII, o tratamento das
entanto, é o estiramento do plexo após acidentes com luxações de ombro através da tração era uma causa re-
veículos de duas rodas, especialmente motocicletas e, por conhecida de lesão do plexo braquial, como consta no
esse motivo, o presente capítulo discute exclusivamente relato de Smellie, de 1768, citado por Tung e MacKin-
esse tipo de lesão. non.66 Apesar desse conhecimento, a cirurgia não era
A extensão e a localização da lesão por estiramento considerada como parte do tratamento dessas lesões. A
do plexo braquial são variáveis, resultando em diferen- caracterização anatômica da avulsão de raízes a partir da
tes manifestações clínicas e terapêuticas cirúrgicas dis- medula espinal foi descrita por Flaubert, em 1827 (cita-
tintas. Sob essa consideração, o texto a seguir discute os do por Kawai), em pacientes com graves lesões que in-
principais tópicos relacionados a essas lesões, enfatizan- cluíam roturas das artérias subclávia e axilar.25 Esse mes-
do as particularidades da avaliação e do tratamento ci- mo autor descreveu sinais e sintomas associados aos
, .
rurg1co. pacientes com lesões graves do plexo braquial, como mio-
se e oclusão parcial palpebral. Qu.a renta anos após a des-
HISTÓRIA crição de Flaubert, esses dois sinais, em associação com
a anidrose hemifacial, foram estudados na forma de uma
Relatos esparsos de lesões do plexo braquial ocorre- síndrome pelo médico e fisiologista francês Claude Ber-
ram ao longo da Idade Antiga e de grande parte da Ida- nard e pelo oftalmologista suíço Johann Horner, mani-
de Média, mas documentação mais efetiva desse tipo de festações reconhecidas como síndrome de Horner.39
lesão passou a ocorrer apenas a partir das últimas déca- No final do século IX, Duval e Guillain (1898) e Hor-
das do século IX.32 sley (1899), citados por Winfree e Kline, apresentaram
As primeiras descrições de lesões traumáticas do ple- as suas contribuições para o entendimento da fisiopato-
xo braquial ocorreram entre os séculos V ao VI a.C. e logia da lesão traumática do plexo braquial por meio da
constam na história da Guerra do Peloponeso relatada demonstração de avulsões das raízes cervicais após a tra-
por Tucídides, um general ateniense que lutou a serviço ção do plexo em cadáveres.68 Em 1900, o cirurgião inglês
da Liga de Delos contra a Liga do Peloponeso nos tem- Sir William Thorburn foi o primeiro autor a documen-
pos da Grécia Antiga, e na Ilíada de Homero.63 Os auto- tar o tratamento de uma lesão do plexo braquial com su-
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tura primária após lesão causada por uma fresa indus- anatomia do plexo braquial, 5•41 a maior precisão dos mé-
trial em uma jovem de 16 anos.64 Nas quatro primeiras todos de imagem e dos estudos eletrofisiológicos,40 os
décadas do século XX, apesar dos resultados positivos avanços das técnicas de transferência de músculos livres,2
publicados por alguns autores, 12•6º·6 1 uma atitude pessi- o reconhecimento da importância da reabilitação após a
mista era relacionada à cirurgia do plexo braquial. Por cirurgia11 e a ampliação das opções usadas na cirurgia
conta da complexidade associada à técnica operatória e com as técnicas de transferência de nervos a partir das
dos resultados funcionais incompletos obtidos, a cirur- décadas de 1970 e 1980.42
gia passou a ser contraindicada como tratamento das le-
sões traumáticas do plexo braquial,66 postura que só foi FISIOPATOLOGIA
modificada durante a Segunda Guerra Mundial.
Durante esse período, pelo grande número de lesões Frequentemente os termos "raiz" ou "raízes" são uti-
penetrantes ao plexo braquial e pelo aperfeiçoamento lizados para denominar as estruturas que formam o ple-
das técnicas anestésicas, o interesse pela cirurgia foi re- xo braquial a partir do forame intervertebral. De forma
novado.63 A partir dessa época, a classificação e o enten- mais adequada, essas estruturas devem receber a deno-
dimento da fisiopatologia dessas lesões foram facilitados minação de nervo ou nervos espinais, formados pela jun-
pelo desenvolvimento de novas técnicas diagnósticas ção das raízes ventrais e dorsais que se exteriorizam do
como a mielografia cervical, em 1947,38 a eletromiogra- canal vertebral pelos forames intervertebrais.
fia, em 1948,23 a mensuração do potencial de ação, em O mecanismo mais frequente, associado a 95% das
1949,15 e o teste de histamina, em 1954.6 Apesar de to- lesões do plexo braquial, é o estiramento ou a tração re-
dos esses progressos, a cirurgia de reparo do plexo bra- sultante de extremos movimentos da articulação do om-
quial era preterida por procedimentos osteoarticulares. bro e do aumento abrupto do ângulo lateral entre o seg-
O artigo publicado por Yeoman e Seddon, em 1961, ilus- mento cefálico e o ombro, o que geralmente ocorre
tra o modo de tratamento predominante na época e re- quando se atinge o solo após queda de motocicleta. 19•37
petido por vários autores, que incluía a amputação pro- Esse mecanismo é geralmente relacionado às lesões do
ximal do membro associada à artrodese do ombro.25•7º quinto e sexto nervos espinais ou do tronco superior, le-
Em geral, os resultados desses procedimentos eram de- são que também pode ocorrer com a tração caudal do
sapontadores e, consequentemente, essas técnicas foram membro superior. A tração dos nervos espinais pode oca-
progressivamente abandonadas. sionar três tipos principais de comprometimento: avul-
Apesar dos relatos ocasionais de resultados favorá- são radicular, rotura ou lesão em continuidade. Quando
veis após o tratamento cirúrgico, o tratamento conser- o membro superior é forçadamente abduzido sobre a ca-
vador dessas lesões prevalecia como consenso. 14•48-5º·66 beça, a tração é exercida sobre os elementos inferiores do
O enfoque conservador relacionado ao tratamento plexo braquial e, quanto maior a força exercida sobre os
das lesões do plexo braquial foi progressivamente aban- nervos espinhais, maior é a possibilidade de avulsão ra-
donado apenas a partir das décadas de 1960 e 197066 em dicular, presente em 75% das lesões supraclaviculares.37
decorrência de inovações que foram progressivamente Algumas características anatômicas do plexo braquial po-
incorporadas à cirurgia. Uma das novidades mais im - dem justificar certas particularidades. O quinto (C5), sex-
portantes foi a introdução do microscópio cirúrgico, uti- to (C6) e sétimo (C7) nervos espinais cervicais apresen-
lizado inicialmente na cirurgia de nervos periféricos por tam aderências entre o epineuro e o processo transverso
Smith, em 1964.52 A associação dessa nova tecnologia que proporcionam relativa proteção à tração. A ausência
com a produção de fios de sutura mais finos e o desen- desse tipo de ligamento no oitavo nervo espinal cervical
volvimento de instrumental cirúrgico adequado para ma- (CB) e primeiro nervo espinal torácico (Tl) explica a alta
nipulação de estruturas delicadas permitiu a obtenção incidência de avulsão desses nervos, enquanto que os ner-
de melhores resultados após as cirurgias de nervos e do vos espinais C5 e C6 apresentam maior incidência relati-
plexo braquial. Nesse contexto, os trabalhos e a persis- va de rotura na região dos processos transversos. 19
tência de autores como Millesi, que sistematizou a téc- As manifestações clínicas e a possibilidade de recu -
nica de enxertia nervosa nas lesões de plexo braquial,35 peração espontânea são dependentes do grau da lesão,
e os resultados das séries cirúrgicas de Narakas contri- caracterizada e classificada em capítulo prévio. Assim,
buíram para estimular muitos cirurgiões a se dedicarem nas lesões onde há predomínio de neuropraxia, a possi-
à cirurgia do plexo braquial.40 •4 1 Outros fatores também bilidade de recuperação espontânea é alta, ao contrário
concorreram para o aumento de interesse nesse tipo de das lesões caracterizadas como neurotmese. 19 O dano in-
cirurgia, como a introdução da monitoração translesio- traneural pode ser grave mesmo que não ocorra avulsão
nal intraoperatória,26 o conhecimento mais detalhado da ou rotura dos nervos espinais, resultando em lesões ex-
1110 Tratado de Neurocirurgia

tensas que envolvem não apenas os nervos e troncos, mas bro superior, bem como a presença ou ausência de refle-
podem se estender para as divisões e mesmo para os ele- xos. De forma ideal, essas avaliações devem ser repetidas
mentos infraclaviculares mais distais. Essas lesões po- mensalmente.51
dem também se estender proximalmente, comprome-
tendo as áreas correspondentes da medula espinal. Essa LOCALIZAÇÃO DA LESÃO
extensão proximal do comprometimento pode justificar
maus resultados observados em alguns casos após cirur- De forma geral, nas lesões traumáticas por estira-
gia, em que a raiz proximal aparentemente normal foi mento do plexo braquial, os nervos espinais e troncos
utilizada para reconstrução com enxertos. são mais comumente comprometidos em comparação
com as divisões, os cordões ou ramos terminais. Apro-
AVALIAÇÃO ximadamente 70 a 75% dessas lesões envolvem a região
supraclavicular e em cerca de 75% dos casos há compro-
A história relacionada ao trauma é importante, e uma metimento de todos os nervos espinais (C5 a Tl).37 Em
descrição completa do acidente e das lesões associadas 20 a 25% dos casos as lesões comprometem do quinto ao
deve ser obtida como parte da propedêutica inicial. A sétimo nervos espinais cervicais e em 2 a 35% há lesões
descrição de como ocorreu a lesão pode sugerir o tipo e do oitavo nervo espinal cervical e primeiro nervo espi-
a intensidade das forças envolvidas no momento do trau- nal torácico. 37 Em geral, nos pacientes com lesões clini-
ma. Detalhes relevantes a respeito da velocidade do veí- camente completas do plexo braquial há roturas do quin-
culo, do uso de cinto de segurança ou capacete, potên- to e sexto nervos espinais cervicais com avulsão do
cia do veículo (cilindradas da moto, p. ex.) e disparo do sétimo e oitavo nervos espinais cervicais e primeiro ner-
airbag, podem auxiliar na construção do cenário do aci- vo espinal torácico.
dente e sugerir o grau de impacto a que o paciente foi Um dos fatores mais importantes no planejamento
submetido.67 cirúrgico para o tratamento dessas lesões é a determina-
Idealmente, pacientes com lesão do plexo braquial ção da sua localização em relação ao gânglio da raiz dor-
devem ser avaliados precocemente, permitindo que com- sal dos nervos espinais, o que possibilita classificá-las em
parações subsequentes definam se os déficits são perma- lesões pré-ganglionares ou pós-ganglionares. As lesões
nentes ou se há melhora progressiva. Muitas vezes essa pré-ganglionares são localizadas proximalmente ao gân-
avaliação inicial não é possível pelo fato de a lesão ser glio da raiz dorsal e são mais frequentemente relaciona-
parte de um trauma multissistêmico e pelo eventual dé- das à presença de avulsão radicular a partir da medula
ficit ser negligenciado em uma avaliação inicial na sala espinal. 56 De uma forma geral, indivíduos com lesão do
de emergência. Em outros casos, a avaliação desses pa- plexo braquial secundária às avulsões radiculares apre-
cientes é postergada até que lesões mais graves, que im - sentam comprometimento importante de suas ativida-
plicam em risco à vid.a, sejam tratadas. 33 des, não só pelos déficits de sensibilidade e motricidade,
O objetivo da avaliação clínica é determinar, com a mas também pela dor que pode ser intensa e incapaci-
maior precisão possível, a extensão da lesão e definir se tante.61 As lesões pós-ganglionares são caracterizadas
o tratamento cirúrgico deve ser instituído ou se é neces- pelo comprometimento dos elementos do plexo braquial
sário período maior de observação. Nesse sentido, o exa- localizados distalmente ao gânglio da raiz dorsal e, por
me neurológico não deve ser substituído por outro tipo conta da menor associação com as avulsões radiculares,
de teste. A pesquisa do sinal de Tinel por meio da per- manifestam-se com quadros clínicos mais favoráveis em
cussão das regiões supra e infraclaviculares e a identifi- comparação com as lesões pré-ganglionares.
cação da síndrome de Horner são etapas importantes do A diferenciação entre lesão pré ou pós-ganglionar
exame desses pacientes. A identificação de sinal de Ti- tem implicação terapêutica. 19 Nas lesões pós-gangliona-
nel positivo na região supraclavicular é um indicativo in- res a recuperação espontânea ainda é possível, o que não
direto da ocorrência de nervo espinal remanescente após ocorre nas lesões pós-ganglionares. Nas lesões pós-gan-
rotura total ou parcial e a presença da síndrome de Hor- glionares, a ocorrência de fascículos viáveis em nervo es-
ner indica provável lesão pré-ganglionar do primeiro pinal remanescente de rotura parcial ou total na região
nervo espinal torácico. 36 do forame intervertebral possibilita a reconstrução das
Todos os elementos do plexo braquial devem ser ava- estruturas lesadas com a interposição de enxertos de ner-
liados nas funções sensitivas e motoras para definir a in- vo autólogo entre essas estruturas e elementos distais do
tensidade do comprometimento e sua extensão, total ou plexo braquial.32 Na ocorrência de lesão pré-ganglionar,
parcial. Essa avaliação inclui a determinação da ampli- pela impossibilidade de se utilizar o nervo espinal como
tude de movimentos de forma ativa e passiva do mem- fonte de axônios para regeneração, o procedimento uti-
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lizado é a transferência de nervos.s6 Essa técnica consis- após o trauma devem ser submetidos à avaliação eletro-
te na utilização de um nervo normal, cuja função é me- fisiológica e a estudos por imagem que auxiliarão na de-
nos importante em relação ao nervo receptor, que é cisão sobre a cirurgia.
seccionado e tem a sua extremidade distal deslocada e
coaptada na extremidade proximal do nervo com fun- Eletroneuromiografia
ção comprometida.32
O diagnóstico de uma lesão pré-ganglionar geral- A eletroneuromiografia (EMG) determina a distri-
mente é baseado em evidências indiretas obtidas da in- buição e a extensão da lesão. Pode avaliar músculos que
vestigação clínica, eletrofisiológica e por imagem. Entre são difíceis de ser avaliados clinicamente, assim como
essas evidências destacam-se: a ocorrência de dor inten- quantificar a extensão da desnervação. Adicionalmente,
sa e precoce; a presença de síndrome de Horner; ausên- a EMG pode identificar sinais de reinervação várias se-
cia de sinal de Tinel na região supraclavicular; a lesão de manas antes da detecção de contração muscular volun-
nervos que se originam em estruturas proximais do ple- tária. A EMG deve ser realizada após três a quatro sema-
xo braquial; estudo de condução sensitiva normal ape- nas da lesão por conta da ocorrência de degeneração
sar da ausência de sensibilidade nas áreas relacionadas walleriana. Nesse processo, o citoesqueleto e o axoplas-
aos nervos examinados; a desnervação de músculos pa- ma se degeneram na região distal à lesão, deixando o cor-
ravertebrais cervicais identificada na eletromiografia; e respondente tubo endoneural vazio e, por esse motivo,
a identificação de pseudomeningocele nos exames de os sinais relacionados à desnervação potencialmente
imagem.si,s6 idenficáveis na EMG só são demonstrados de forma con-
A dor ocorre em até 80% dos adultos com lesões trau- fiável após a estabilização desse processo.si
máticas do plexo braquial9•6 I e, quando intensa e de iní- Os estudos da velocidade de condução nervosa cons-
cio precoce, sugere a presença de avulsão radicular. De tituem parte do exame eletroneuromiográfico e possibi-
forma geral, esse tipo de dor neuropática responde de litam a identificação de lesões com potencial para recu -
forma pouco satisfatória ao tratamento medicamentoso peração (neuropraxia). Para tanto, a amplitude dos
e, em alguns casos, há necessidade de procedimentos potenciais motores é o melhor parâmetro a ser avaliado,
ablativos funcionais, como a eletrocoagulação da zona uma vez que se relaciona diretamente com o prognósti-
de entrada da raiz dorsal, para o controle do sintoma. co. A velocidade de condução sensitiva normal nas le-
Três nervos têm origem proximal em relação ao ple- sões puramente pré-ganglionares é outro indicativo ava-
xo braquial: o torácico longo, o escapular dorsal e o frê- liado. Apesar do resultado aparentemente contraditório,
nico. A lesão do nervo torácico longo é classicamente as- essa relação se justifica, pois os corpos dos neurônios
sociada à escápula alada, mas sua identificação pode ser sensitivos localizam-se no gânglio da raiz dorsal, possi-
dificultada em pessoas com lesão completa do plexo e bilitando que a via sensitiva esteja íntegra na avulsão do
plegia do membro superior. Nesses casos, a avaliação da nervo espinal e resultando em uma velocidade de con-
anteropulsão do ombro com o paciente em decúbito dor- dução sensitiva normal ou próxima do normal. A des-
sal, função relacionada ao nervo torácico longo, pode ser nervação da musculatura paravertebral é outro parâme-
utilizada na determinação do comprometimento do ner- tro sugestivo de avulsão radicular e ocorre pela lesão
vo. 4 A integridade do nervo escapular dorsal pode ser proximal concomitante de ramos dorsais musculares.s I
avaliada pela observação e palpação dos músculos rom-
boides ao se solicitar ao indivíduo que aproxime dorsal- Potenciais evocados somatossensitivos
mente as escápulas. A paralisia completa dos músculos
romboides ocorre na lesão por avulsão concomitante do Os potenciais evocados somatossensitivos (PESS) são
quarto e quinto nervos espinais cervicais.29 A lesão do obtidos a partir da estimulação distal dos nervos media-
nervo frênico é identificada pela assimetria de cúpula no, radial e ulnar e registro sobre o processo espinhoso
diafragmática avaliada pela radiografia simples do tó- da segunda vértebra cervical e córtex somatossensitivo
rax.sI Frequentemente, lesões pré e pós-ganglionares coe- contralateral22 (Figura1). O PESS registra a atividade dos
xistem e a definição da ocorrência de avulsão radicular axônios sensitivos e, portanto, avalia a via sensitiva. Quan-
ocorre durante a exploração cirúrgica. do presente, o PESS indica que a raiz dorsal está íntegra
e que, na maioria dos casos, a raiz ventral também está
AVALIAÇÃO ELETROFISIOLÓGICA preservada. I3 Como qualquer método eletrofisiológico
intraoperatório, a avaliação do PESS é influenciada por
Todos os indivíduos com paralisia traumática do ple- diversas fontes possíveis de interferências, o que pode di-
xo braquial sem sinais de recuperação até o primeiro mês ficultar ou inviabilizar a sua aplicação.64 Outra limitação
1112 Tratado de Neurocirurgia

é o fato de ser necessário um número pequeno de axô-


nios funcionais para o PESS ser positivo, o que pode re-
sultar em uma avaliação funcional equivocada de deter- E
minado nervo espinal. A ausência de um local adequado
para que o estímulo periférico atinja o quinto nervo es-
pinal cervical é outra limitação do método. 51 R
Estimulação e avaliação do potencial
de ação translesional

Um estimulador elétrico portátil faz parte do arse-


nal básico do cirurgião que se propõe a operar pacien-
tes com lesões traumáticas do plexo braquial. Esse apa-
rato permite confirmar o estado funcional de elementos
Figura 2 Fotografia obtida após exposição cirúrgica de região
lesados e a integridade de nervos que podem ser usados suprac lavicu lar direita em doente com lesão t raumática do
como doadores nas transferências de nervos. plexo braq uial secundária a estiramento . Not a-se neuroma em
O potencial de ação translesional é obtido a partir continuidade do tronco superior (TS) e os elet ródios de estim u-
lação (E) e registro (R) para ava liação do pot encial de ação
da estimulação elétrica proximal e da captação distal e translesional posicionados entre o quinto nervo espinal (C5) e
pode ser útil na avaliação dos neuromas em continuida- o nervo supraescap ular (*), respectivament e . L: lat era l; P:
de (Figura 2). Se o potencial é obtido, pode-se afirmar proximal.
que há axônios funcionantes que ultrapassam a lesão e
são geralmente suficientes para reinervar o órgão-alvo. ciais de ação translesionais é muito mais utilizada em le-
Nos casos em que o potencial é negativo, procede-se à sões de nervos nos membros que no plexo braquial.
ressecação da lesão e reconstrução com enxertos autó-
logos a partir dos cotos proximais. A ocorrência de in- ESTUDOS DE IMAGEM
terferências e artefatos de estímulo pela curta distância
entre os eletródios de estimulação e registro constitui, Radiografias simples
em alguns casos, um verdadeiro desafio técnico para o
registro do potencial de ação translesional.47 A técnica As radiografias simples da coluna cervical e do om-
de obtenção do potencial de ação translesional pode ser bro são úteis para demonstrar fraturas, sinais indiretos
utilizada para avaliação da integridade das raízes, mas a da intensidade do traumatismo. Fraturas do processo
correta interpretação na presença de avulsão radicular transverso são indicativas de alta energia envolvida na
exige experiência e nem sempre é definitiva.22 A ausên- tração dos elementos do plexo braquial (Figura 3). Fra-
cia completa do potencial durante o estímulo do nervo turas da clavícula podem indicar um possível local de le-
espinhal e registro 4 cm distal sugere avulsão radicular, são e a radiografia de tórax em inspiração e expiração
mas esse tipo de registro pode também ocorrer na lesão pode demonstrar paralisia do diafragma por lesão do
pós-ganglionar proximal. Adicionalmente, se existe in- nervo frênico. 51
tegridade pós-ganglionar sensitiva de determinado ele-
mento do plexo, é possível que se obtenha um registro Tomomielografia
adequado do potencial mesmo na presença de avulsão
radicular. 22 Atualmente, a técnica de obtenção de poten - Em alguns centros, a tomomielografia é utilizada de
rotina para avaliação de indivíduos com lesão traumáti-
ca do plexo braquial.3 A tração aplicada às raízes pode
ocasionar avulsão delas a partir da medula espinal e, con-
comitantemente, romper a aracnoide relacionada a essas
Gânglio
dorsal Córtex estruturas, causando extravasamento de líquido cefalor-
Estímulo \ . li
raquidiano. A pseudomeningocele é uma coleção desse
líquido extravasado que, em contraste com a meningoce-
Campo operatório Medula espinal
le, cujas paredes são constituídas por dura-máter, é limi-
tada apenas pelo tecido adjacente. A presença de pseudo-
Figura 1 Desenho esquemát ico demonst rando a rea lização
do potencial evocado som atosensitivo . Adapt ada de: Triepe l meningocele é indicativa da ocorrência de avulsão
CR, Koman A L.65 radicular, porém em 15% dos casos a pseudomeningoce-
104 Lesões traumáticas do plexo braquial em adultos 1113

lência dos métodos, a indicação da ressonância tem su-


plantado a da tomomielografia nessa investigação. 16

TRATAMENTO

Indicação da cirurgia

A cirurgia deve ser realizada na ausência de evidên-


cia clínica ou eletrofisiológica de recuperação. Como em
toda lesão fechad.a, a conduta inicial na lesão traumáti-
ca do plexo braquial é conservadora, sendo o paciente
acompanhado em avaliação periódica para identificar
Figura 3 Radiograf ia simples de coluna cervica l evidenciando eventual melhora espontânea. Durante o período de ob-
f rat ura de processo transverso da sétima vértebra cervical servação, o paciente deve ser submetido à reabilitação
(del imitada por set as) em paciente com lesão por est iramento
com fisioterapia e avaliado quanto à necessidade de uso
do plexo braq uial.
de órteses, geralmente utilizadas para corrigir posturas
anormais na mão. Praticamente todos os pacientes sem
le não está associada à avulsão completa, e em 20% das recuperação espontânea significativa têm a possibilida-
raízes com avulsão não há associação com esse achado10 de de se beneficiar com a cirurgia.
(Figura 4). Além da pseudomeningocele, a tomomielo-
grafia é útil na avaliação da presença ou não de raízes. Momento do reparo cirúrgico

Ressonância magnética O momento ideal para indicar a cirurgia depende do


mecanismo do traumatismo e do tipo de lesão. Nas le-
A ressonância magnética também possibilita a visi- sões por estiramento do plexo braquial, geralmente aguar-
bilização de pseudomeningoceles e a presença ou não de dam-se três a quatro meses antes de se indicar cirurgia,
raízes.59 A vantagem desse exame sobre a tomomielogra- período em que o indivíduo é avaliado periodicamente
fia é o fato de não ser invasivo, permitindo também a para identificação de possível recuperação. 51 Conduta
avaliação de lesões pós-ganglionares e lesões associadas, mais agressiva em relação ao momento da cirurgia tem
como traumatismo medular e desnervação dos múscu- sido preconizada nos pacientes que apresentam sinais de
los paravertebrais. 3 Até a década de 1990, era consenso lesão pré-ganglionar no exame inicial. A intervenção pre-
indicar tomomielografia como exame preferencial para coce também é indicada naqueles com piora do déficit e
a investigação das lesões traumáticas do plexo braquial. dor, condição que pode ser associada com lesões pro-
Com o desenvolvimento de novas técnicas, melhor qua- gressivamente expansivas como hematomas, pseudoa-
lidade de imagem e estudos que demonstram a equiva- neurismas ou fístula arteriovenosa, quadro mais frequen-
te em lesões penetrantes do plexo braquial.51

Prioridades para reinervação

O planejamento cirúrgico deve ser individualizado


de acordo com a extensão da lesão e opções disponíveis
para reconstrução. Nos casos de pessoas que apresentam
lesões graves e extensas, como nas avulsões multiradi-
culares, utiliza-se a técnica de transferência de nervos,
mas a reinervação de todo o plexo braquial é impossível
pela desproporção de nervos doadores disponíveis. Nes-
ses casos, é necessário estabelecer prioridades com base
na importância funcional e no prognóstico relacionado
à transferência específica. Não há consenso na literatu-
Figura 4 Tomomielograf ia demonstrando que, apesar da
ra sobre o grau de importância das diferentes funções a
pseudomeningocele (P), é possíve l a identificação das raízes serem reinervadas, exceto para as duas primeiras indi-
dorsal e ventral (set as). cações da lista detalhada abaixo. A reinervação motora
1114 Tratado de Neurocirurgia

da mão em geral não é a prioridade dessa cirurgia por tos de 30 a 35 cm de nervo em adultos, sendo que,
conta da longa distância entre os nervos doadores e re- de forma geral, a sua retirada é realizada após a de-
ceptores e da rápida atrofia que ocorre nos delicados mús- finição da distância na qual esses enxertos devem ser
culos intrínsecos da mão. A lista a seguir apresenta a nos- interpostos. A retirada do enxerto pode ser realiza-
sa sequência de prioridades:51 da por meio de incisão única ou múltiplas. A prin-
cipal desvantagem da reconstrução com enxertos na
1. Flexão do antebraço contra a gravidade é considera- cirurgia do plexo braquial é a ausência de método
da a principal função, pois seu restabelecimento per- absolutamente confiável para predizer se o coto pro-
mite o posicionamento mais adequado do membro ximal do nervo espinal possui fascículos viáveis que
superior e possibilita trazer a mão em direção ao possibilitem regeneração efetiva. Essa viabilidade é
tronco e à cavidade oral. baseada na associação de métodos eletrofisiológicos,
2. Estabilização do ombro e recuperação de abdução e de imagem e da inspeção subjetiva do cirurgião no
rotação externa, pois a ausência dessas funções im - momento da cirurgia e, por esse motivo, o método
pede o uso do membro. não é totalmente eficaz.
3. Pinça braquiotorácica com a adução do braço propor- 4. Transferência de nervos: nessa técnica, um nervo
cionada pela reinervação da musculatura peitoral. normal, cuja função é menos importante em relação
4. Extensão do antebraço. ao nervo receptor, é seccionado e tem a sua extremi-
5. Sensibilidade protetora da mão através da reinerva- dade distal deslocada e coaptada na extremidade pro-
ção da contribuição lateral para o nervo mediano. ximal do nervo com função comprometida. 32 A trans-
ferência de nervos é a única técnica possível quando
Técnica cirúrgica não há nervo espinal viável para ser utilizado como
fonte doadora de axônios, situação que ocorre na le-
Os acessos anteriores são utilizados na maioria dos são completa do plexo braquial com avulsão multir-
pacientes com lesões traumáticas do plexo braquial. De- radicular, e é utilizada frequentemente nas lesões
• •
pendendo do tipo e da extensão da lesão, o acesso pode parc1a1s.
ser supraclavicular, infraclavicular ou a combinação dos
dois. Alguns critérios são úteis para a escolha do nervo
Após o acesso ao plexo braquial, quatro técnicas ci- doador mais adequado, como: a proximidade dele ao
rúrgicas são normalmente utilizadas no reparo das le- músculo a ser reinervado; a existência de uma inervação
-
soes: redundante; a ação sinérgica em relação ao músculo a
ser reinervado; e o calibre compatível entre o nervo doa-
1. Sutura direta término-terminal: realizada em raras dor e o receptor. 1' 24' 67
ocasiões de lesões cortantes na fase aguda.
2. Neurólise externa: consiste na dissecação e liberação
dos elementos do plexo braquial do tecido fibrocica-
tricial e de aderências deste às estruturas vizinhas. O
procedimento é realizado por meio de dissecação rom-
ba e secção das estruturas com auxílio de bisturi ou
tesoura, preferencialmente iniciando-se a dissecação
em local livre de aderências e/ou tecido fibrocicatri-
cial e prosseguindo até a área da lesão (Figura 5). A
neurólise externa é um pré-requisito necessário para
a execução das outras técnicas e de estudos eletrofi-
siológicos intraoperatórios. Em raras ocasiões, a neu-
rólise pode ser o único reparo realizado.
3. Enxertos: a reconstrução com enxertos de nervos é
realizada quando há lesão pós-ganglionar por rotu-
ra ou após a ressecação de neuroma em continuida-
de (Figura 6). A viabilidade dos cotos proximais é Figura 5 Fot ografia obt ida durant e acesso anterior supracla-
vicular ao plexo braquial direito. A neurólise ext erna está sendo
pré-requisito para a reconstrução com enxertos. Na rea lizada com uso de m icrot esoura, liberando as aderências
maioria dos casos, o nervo sural é a principal fonte entre o tronco superior (TS) e o músculo escaleno médio (MEM).
de enxertos autólogos, já que pode fornecer segmen- C: c lavícula; L: lat eral.
104 Lesões traumáticas do plexo braquial em adultos 1115

A transferência de nervo é a estratégia cirúrgica mais


amplamente aceita quando não é possível a reconstru-
ção do plexo braquial com enxertos. No entanto, para al-
guns autores essa técnica deve ser considerada como te-
rapêutica inicial em determinadas situações: se, no
planejamento cirúrgico, é previsto que haverá longa dis-
tância entre a região proximal e o músculo a ser reiner-
vado;69 em casos com apresentação tardia em que o tem-
po entre a lesão e a cirurgia é superior a seis meses;46
quando há falha de cirurgia prévia do plexo braquial; 1
na ocorrência de lesão vascular ou óssea significativa na
região do plexo braquial.57 Neste último caso, a opção da
transferência de nervo como técnica terapêutica primá-
ria evitaria um dano desnecessário a uma estrutura vi-
Figura 6 Fotograf ia obtida durante acesso anterior supracla-
tal, uma vez que a manipulação prévia resulta na forma-
vicular ao plexo braquia l direito. Neste caso, havia avulsão de
todos os nervos espinais, com exceção de C5, que foi ut ilizado ção de tecido cicatricial que envolve as estruturas
como doador para reconst rução. Quat ro enxertos foram inter- neurovasculares e dificulta a dissecação. 1 Em decorrên-
postos entre C5 e as divisões anterior (DA) e posterior (DP) do cia dos resultados obtidos com as transferências distais
t ronco superior em associação com t ransferência do nervo
nas lesões incompletas do plexo braquial, alguns autores
acessório para o supraescapular (fora do campo operat ório) . C:
clavícula; L: lateral; MEA: músculo esca leno anterior; NF: ner- justificam o uso dessa técnica como tratamento inicial,
vo f rênico. prescindindo da exposição cirúrgica do plexo bra-
quial.7,17·44,69 Nesse contexto, a maior vantagem das trans-
Como toda opção de tratamento cirúrgico, as trans- ferências de nervos distais em relação ao reparo habitual
ferências de nervos apresentam vantagens e desvantagens, com enxertos seria transformar uma lesão proximal do
especialmente quando comparadas à reconstrução com o plexo braquial em uma lesão distal onde o reparo pode
uso de enxertos.24 Entre as vantagens é citada a proximi- ser realizado próximo ao órgão efetor.46 Resultados de
dade do reparo em relação ao órgão-alvo, possibilitando recentes trabalhos corroboram essa estratégia. 18·53
que os axônios em regeneração percorram curtas distân- Os nervos doadores mais comuns para transferên -
cias, resultando em redução da perda axonal e aumento cias após lesão do plexo braquial incluem o acessório,54
da eficiência do restabelecimento funcional (Figura 7).34 intercostais,70 peitoral medial,42 frênico, 21 nervo espinal
Essa proximidade permite ainda uma reinervação preco- C7 contralateral2º e, mais recentemente, fascículo do ner-
ce com maior probabilidade de ganho funcional e, na
maioria das vezes, possibilita que o reparo seja realizado
sem a interposição de enxertos, o que também reduz a
perda axonal, uma vez que os axônios em regeneração ul-
trapassam apenas um local de reparo. 43 Além disso, nas
transferências motoras os axônios em regeneração são di-
recionados diretamente para o músculo, reduzindo a per-
da de axônios em regeneração que se dirigem aos órgãos
sensitivos.8·58 Finalmente, na maioria dos casos submeti-
dos às transferências não há necessidade de retirada de
enxerto, o que elimina a potencial morbidade desse pro-
cedimento.31 Entre as desvantagens podem ser citadas a
morbidade e a perda de função secundária à secção do
nervo doador,69 a necessidade do paciente desenvolver
Figura 7 Fotografia obt ida de campo operatório, lado direito.
aprendizado específico que envolve o reconhecimento de
Neste caso, optou-se pela realização da t ransferência de fascí-
modificações da representatividade cortical secundárias culo do nervo ulnar (FU) para o ramo motor do nervo muscu-
à plasticidade do sistema nervoso central;28 e o abandono locutâneo para o m úsculo bíceps (RMB). O nervo doador e o
progressivo da exploração do plexo braquial com prejuí- receptor foram seccionados e aproximados para posterior
coaptação. Not e a proximidade do local do reparo (cabeça de
zo do treinamento desse tipo de cirurgia, resultando em
set a) com o músculo a ser reinervado (múscu lo bíceps). M :
uma limitação no conhecimento de detalhes anatômicos medial; MB: músculo bíceps; NM: nervo mediano; NU: nervo
e do manejo eletrofisiológico intraoperatório.1 ulnar; P: proximal.
1116 Tratado de Neurocirurgia

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105

TRATAMENTO CIRÚRGICO DA PARALISIA


NEONATAL DO PLEXO BRAQUIAL
Mario G. Siqueira
Carlos Otto Heise

INTRODUÇÃO A primeira discussão diz respeito à possibilidade da


lesão ser congênita.2 Embora haja descrições bem con-
As lesões do plexo braquial durante o parto foram vincentes, estas respondem por uma parcela muito pe-
inicialmente descritas por Smellie, em 1764. Mais de um quena dos casos e têm uma história natural bem diferen-
século depois, ocorreram as descrições clínicas clássicas te. 32 Nestes casos, a atrofia do membro acometido já é
da paralisia superior por Duchenne e Erb e da paralisia notada ao nascimento. A contribuição relativa das ma-
inferior por Klumpke. 83 A primeira cirurgia para trata- nobras obstétricas ou da própria propulsão uterina con-
mento de lesão neonatal do plexo braquial foi relatada tinua sendo calorosamente debatida, em parte por suas
por Kennedy, em 1903. 13 Devido à alta morbidade e re- implicações médico-legais.29•54 Existem casos bem docu-
sultados pouco convincentes, o procedimento foi aban- mentados de lesão do plexo braquial sem tração da ca-
donado após duas décadas.73 O interesse cirúrgico pela beça fetal, o que leva muitos autores a condenarem o uso
doença ressurgiu com os trabalhos de Gilbert na década do termo paralisia obstétrica.48
de 1980, que já dispunha de técnicas modernas de re- O principal fator de risco para lesões neonatais do
construção com enxertos.34 Mesmo sendo conhecidas há plexo braquial é a distócia de ombro.66 O nexo causal nes-
tanto tempo, as plexopatias braquiais neonatais conti- sa situação parece claro: a dificuldade de desprendimen-
nuam sendo um desafio à medicina. to do ombro situado sob a sínfise púbica materna leva-
Sua incidência situa-se entre 0,5 e 3 casos por 1.000 ria à tração do plexo braquial. Esta situação determina
nascidos vivos. 15•3º·36•6º A despeito dos avanços da obste- lesões do plexo braquial em cerca de 26% dos casos,23
trícia moderna não houve redução significativa do nú- mas a distócia de ombro é relatada em apenas metade
mero de ocorrências nas últimas décadas. Paradoxalmen- dos doentes. 28 As lesões podem ocorrer também com a
te, houve aumento expressivo da incidência na Suécia, apresentação posterior, possivelmente por dificuldade de
país que conta com vigilância epidemiológica direciona- desprendimento em relação ao promontório.29
da a este problema. 15,60 O aumento do peso fetal na po- O peso ao nascimento é o fator fetal com maior im-
pulação pode ter contribuído para isto. Não há dados pacto na incidência da paralisia braquial neonatal e apre-
brasileiros disponíveis, mas é provável que a incidência senta relação direta com a ocorrência de distócia de om-
não seja alta devido ao grande número de cesarianas em bro.23 Na série sueca, enquanto a incidência de distócia
nosso meio. Mesmo assim, atendemos mais de 350 ca- de ombro em fetos com menos de 3,5 kg foi de apenas
sos em nosso ambulatório nos últimos 12 anos. 0,04%, a incidência com peso fetal superior a 4,5 kg ele-
vou-se para 1,8%.15 O diabetes mellitus materno é causa
FATORES DE RISCO E PREVENÇÃO comum de macrossomia e também é um fator de risco
bem conhecido. 36
Vários fatores de risco para lesões do plexo braquial Os partos vaginais instrumentados, ou seja, com uso
ao nascimento foram claramente identificados, mas o de fórceps ou extração a vácuo, também estão relaciona-
evento continua sendo essencialmente imprevisível.29•94 dos à maior incidência de lesões do plexo.36 Contudo, é
Na maior parte dos casos não há fatores de risco eviden- incerto se esses fatores determinam maior incidência de
tes e apenas uma minoria das situações de risco resul- lesão ou se são apenas fatores associados no contexto de
tam em lesão do plexo braquial. parto difícil. O parto pélvico também é fator de risco im-
105 Tratamento cirúrgico da paralisia neonatal do plexo braquial 1119

portante, mas o mecanismo de lesão é distinto e parece A proporção relativa dessas formas clínicas depen-
estar relacionado à hiperextensão cervical.88 Adicional- de da casuística, particularmente da idade dos doentes,
mente, não há relação com o peso fetal, são comuns le- fonte de encaminhamento e critérios para o diagnósti-
sões bilaterais e avulsões radiculares altas. O parto cesa- co.81 Muitos doentes apresentam quadros transitórios ra-
riana apresenta evidente efeito protetor, mas não evita pidamente reversíveis, que são observados no período
completamente as lesões. 36 Cerca de 1% dos doentes com neonatal ainda no berçário, mas que provavelmente nem
plexopatia braquial neonatal nascem por cesariana. II chegarão aos ambulatórios de especialidades.40 No caso
A ocorrência de distócia de ombro ou paralisia neo- de encaminhamento sistemático de todos os casos sus-
natal em parto anterior é outro fator de risco significati- peitos, vários doentes apresentarão exame neurológico
vo, o que evidencia a importância dos fatores maternos9 • normal após poucas semanas.
Além do diabetes mellitus, outros fatores maternos in- As crianças com comprometimento isolado do nível
cluem obesid.a de, ganho de peso excessivo na gestação, superior do plexo (C5-C6) apresentam uma postura as-
multíparas, primíparas e baixa estatura.29 simétrica característica. O membro permanece aduzido
A indicação de cesariana para fetos macrossômicos junto ao tronco com o cotovelo em extensão e em rota-
esbarra em dificuldades como a acurácia da estimativa ção interna.3 Pode haver flexão do punho por compro-
do peso fetal pelo ultrassom. 38'6 º Uma análise de custo- metimento dos extensores radiais do carpo, configuran-
-benefício para indicação de cesariana em fetos com peso do a postura clássica "em gorjeta de garçom'' (Figura 1).9º
estimado de 4,5 kg concluiu que seriam necessários 3.695 Os movimentos de abdução e rotação externa do braço
partos operatórios para prevenção de cada lesão defini- podem ser testados por meio do reflexo de Moro.72 A fle-
tiva.71 Existe recomendação baseada em evidência para xão do antebraço é fisiologicamente presente em recém-
indicação de cesariana em apresentação pélvica.35 Para -nascidos ou lactentes jovens, mas pode ser evocada pela
apresentações cefálicas, o Colégio Americano e o Colé- manobra de tração, na qual o tronco é levemente suspen-
gio Britânico de Obstetrícia recomendam a cesariana so pela tração dos membros superiores. A flexão dos de-
para fetos com mais de 4,5 kg em mães diabéticas ou com dos é normal nestes doentes e pode ser testada pelo re-
mais de 5 kg em mães não diabéticas.29 flexo de preensão palmar. Em doentes maiores, a rotação
externa pode ser testada em decúbito ventral comam-
FORMAS CLÍNICAS bos os braços aduzidos. A criança fará a rotação externa
E EXAME NEUROLÓGICO dos mesmos para elevar a cabeça. A abdução pode ser
testada colocando algum objeto de interesse acima do
As plexopatias braquiais neonatais relacionam-se ao nível da cabeça da criança, ou pedindo colo. Para avaliar
aumento do ângulo entre a clavícula e a coluna cervical,
levando à tração das estruturas supraclaviculares do ple- •
xo. 54 Pela distribuição anatômica das estruturas, existe
um gradiente de tração que é maior para o nível supe-
rior do plexo e menor para o nível inferior. Isso justifica
a distribuição das formas clínicas. Cerca de metade dos
casos apresentam comprometimento isolado dos elemen-
tos superiores do plexo (raízes C5 e C6), conhecido como
paralisia de Erb. Lesões combinadas das raízes superio-
res e média (C5-C6-C7, ou Erb estendida) ocorrem em
cerca de um terço dos casos e lesões totais (C5-Tl) nos
casos restantes.90 O comprometimento isolado do nível
inferior do plexo, ou paralisia de Klumpke, é extrema-
mente raro, tendo sua existência questionada por alguns
autores.6 A situação mais comum é de lesões totais que
evoluem com recuperação do nível superior, contudo,
lesões isoladas do nível inferior são possíveis. 72 O lado Figura 1 Postura assimétrica característica em criança com
direito é acometido em dois terços dos casos devido à com prometim ento isolado da quinta e sexta raízes do plexo
apresentação fetal mais comum, que posiciona o ombro (C5-C6). Not a-se que o membro permanece ad uzido junto ao
tronco com o cotovelo em extensão e em rotação interna. Há
direito sob a sínfise púbica materna. Cerca de 5% dos ca- f lexão do punho por comprometimento dos músculos exten-
sos apresentam lesão bilateral, mas geralmente assimé- sores radiais do carpo, configurando a postura clássica "em
trica, sendo mais comum em partos pélvicos.75 gorjet a de garçom':
1120 Tratado de Neurocirurgia

a flexão do antebraço, o teste do biscoito26 pode ser usa-


do a partir dos nove meses de vida.26 Nesse teste a crian-
ça sentada deve colocar um biscoito na boca com o mem-
bro comprometido. O teste da toalha, a partir dos seis
meses de vida, 17 também pode ser pesquisado e é avalia-
do com a criança em decúbito dorsal, que deve retirar
um pano ou toalha colocada sobre a face (Figura 2). Em
ambos os casos, para realizar a manobra é necessário al-
gum grau de rotação externa e supinação, além da flexão
do cotovelo e dos dedos. É importante que o examina-
dor isole o lado não comprometido.
A rotação externa é o movimento de mais difícil re-
Figura 2 Teste da toalha. Este teste pode ser rea lizado a
cuperação. Pode ser testado em crianças maiores através
partir dos seis meses de vida e é pesquisado com a criança
da escala de Mallet, 14 solicitando à criança para colocar em decúbito dorsal. A toalha colocada cobrindo os olhos deve
a mão na nuca ou avaliando a presença do sinal do trom- ser retirada pela criança com o c uidado de se isolar o membro
pete, caracterizado pela abdução do braço ao levar a mão não comprometido. Para realizar a manobra, é necessário algum
grau de rot ação externa e supinação, além da f lexão do cot o-
à boca. A avaliação do grau de rotação externa passiva velo e dos dedos.
com o braço abduzido e aduzido é fundamental para mo-
nitorar as retrações em rotação interna e consequente
deformidade em retroversão da articulação glenoume-
ral, sendo esta a complicação musculoesquelética mais
comum nestes casos.42 A cabeça umeral projeta-se para
trás do plano escapular e o doente precisa rodar a escá-
pula para abduzir o membro.
Nos pacientes com comprometimento dos níveis su-
perior e médio (CS-C7), em adição aos déficits descritos
acima, observa-se paralisia da extensão do antebraço, ex-
tensão do punho e dos dedos. 90 A postura em flexão do
punho é bem marcante, mas a extensão do cotovelo tor-
na-se menos pronunciada.86 A flexão dos dedos ainda é
presente, porém é mais fraca em comparação ao lado sa-
Figura 3 Manobra do carrinho de mão: avaliação da extensão
dio. 3 A extensão do antebraço pode ser testada em recém- do antebraço em lact ente jovem. O corpo é projetado para a
-nascidos e lactentes jovens em decúbito lateral com o frente na direção da maca e observa-se a extensão do antebra-
membro comprometido para cima. Em lactentes maiores, ço, punho e dedos para aparar a queda. Crianças com déficit
usa-se a manobra do carrinho de mão (Figura 3). O cor- de extensão do pun ho apoiam o dorso da mão ao invés da
pa lm a. O m úscu lo tríceps pode ser ef icientem ente ava liado
po é projetado para a frente em direção da maca e obser- pela capacidade da criança de sustentar o corpo com o coto-
va-se a extensão do antebraço, punho e dedos para aparar velo em extensão.
a queda. Crianças com déficit de extensão do punho apoiam
o dorso da mão ao invés da palma. O músculo tríceps pode
ser eficientemente avaliado pela capacidade da criança de to da postura em garra, com hiperextensão das articula-
sustentar o corpo com o cotovelo em extensão. ções metacarpofalangeanas e flexão das interfalangeanas.
Nos casos de lesão total (CS-Tl), o membro com- Em crianças maiores, desenvolve-se uma postura em fle-
prometido é totalmente flácido (braço de boneca de xão do antebraço, supinação, extensão do punho e mão
pano). 3 Não há preensão palmar e com frequência ob- em garra, configurando a chamada "mão de mendigo". 1º
serva-se comprometimento autonômico caracterizado Além do exame motor e autonômico já descrito, é
pela síndrome de Claude-Bernard-Horner (miose, se- importante avaliar os reflexos miotáticos, tipicamente
miptose e enoftalmo) do mesmo lado da lesão.49 Não cos- abolidos nestes casos. A ausência de assimetria de refle-
tuma haver anidrose facial como na síndrome clássica, xos ou a presença de reflexos vivos do lado comprome-
pois esta é integrada em níveis torácicos mais inferio- tido devem levantar sérias dúvidas quanto ao diagnósti-
res. 6 1 Além disso, o membro geralmente é mais frio e a co. Não é incomum receber doentes com paralisia
pele pode ter aspecto marmóreo. 49 O comprometimen- cerebral erroneamente encaminhados como portadores
to da musculatura intrínseca da mão leva ao aparecimen- de lesões do plexo braquial.
105 Tratamento cirúrgico da paralisia neonatal do plexo braquial 1121

A avaliação da sensibilidade é difícil em crianças,


mas pode ser muito útil em recém-nascidos e lactentes
jovens. Esses doentes têm uma resposta muito estereo-
tipada à estimulação dolorosa e ainda não possuem re-
ceio do médico. Os dermátomos C6 (polegar), C7 (dedo
médio) e C8 (dedo mínimo) podem ser facilmente tes-
tados pela compressão do leito ungueal. A presença de
anestesia dolorosa é dado de mau prognóstico, pois tor-
na improvável a presença de neurapraxia.44
As lesões neonatais do plexo braquial podem ser clas-
sificadas segundo a escala de N arakas, de acordo com a
apresentação clínica.42 Esta classificação tem grande re-
levância prognóstica. O grau I corresponde ao compro-
metimento isolado C5-C6 e o prognóstico geralmente é Figura 4 Radiografia de tórax de criança com lesão do plexo
bom. O grau II corresponde ao comprometimento C5-C6- braquial relacionada ao part o que evidencia elevação da cúpula
-C7 e já se observa evolução desfavorável em proporção diafragmática direita (seta) consequent e a lesão do nervo frê-
.
nico.
expressiva dos casos. Nas lesões grau III há comprome-
timento total, porém incompleto do nível inferior. Nas
lesões grau IV observam-se paralisia total e síndrome de força muscular e o resultado funcional. 46 A presença de
Horner. O prognóstico é desfavorável nas lesões totais, potenciais de unidade motora no músculo bíceps bra-
particularmente nas lesões grau IV.8 quial com um mês de idade é critério de bom prognós-
tico e é utilizada no algoritmo para indicação cirúrgica
EXAMES COMPLEMENTARES da Universidade de Leiden.56 A presença de dissociação
sensitivomotora (degeneração motora acentuada asso-
O diagnóstico da paralisia neonatal do plexo bra- ciada à preservação dos potenciais sensitivos) é indica-
quial é clinicamente óbvio, sendo desnecessária confir- tiva de comprometimento pré-ganglionar e relaciona-se
mação por exames complementares.49 Os exames de ima- a mau prognóstico.89
gem e neurofisiológico são importantes na detecção de A avaliação de avulsões radiculares é a principal in-
lesões associadas, na avaliação prognóstica e no plane- dicação para os estudos de imagem por ressonância mag-
jamento cirúrgico. nética ou tomomielografia computadorizada.67 O acha-
A radiografia simples de tórax é recomendada ain- do clássico é a presença de pseudomeningoceles, que são
da no berçário, sendo possível avaliar a presença de fra- divertículos do espaço subaracnoide na topografia dos
tura de clavícula ou elevação da cúpula diafragmática su- manguitos radiculares,22 porém a correlação entre pseu-
gestiva de lesão do nervo frênico (Figura 4).83 A fratura domeningoceles e avulsões radiculares não é absoluta.
de clavícula não tem implicação prognóstica em relação Cerca de 15% das pseudomeningoceles não estão asso-
à plexopatia e geralmente consolida-se rapidamente. 5 A ciadas a avulsões radiculares, enquanto 20% das avulsões
lesão do nervo frênico, por outro lado, é um dado de mau não apresentam pseudomeningoceles.67 Os estudos de
prognóstico e tem implicações importantes no planeja- imagem atualmente não se limitam a identificar pseudo-
mento cirúrgico7 • Em alguns casos, lesões clinicamente meningoceles, mas sim a verificar a continuidade das ra-
não identificadas como fratura de úmero podem ser re- dículas sensitivas e motoras dentro do canal raquidiano.79
veladas na radiografia simples. Persiste alguma controvérsia sobre o método de ima-
A eletroneuromiografia classicamente era solicitada gem ideal na avaliação desses doentes. Embora a resso-
aos três meses, como parte da avaliação pré-operatória. nância magnética não necessite da injeção de contraste,
Dificuldades técnicas relativas ao procedimento em lac- permita reconstruções multiplanares e possibilite a vi-
tentes e resultados excessivamente otimistas levaram sualização de estruturas extradurais, alguns autores ain-
muitos cirurgiões a abandonar esse procedimento.26,34,45 da preferem a utilização da tomomielografia computa-
Contudo, artigos mais recentes indicam que o exame dorizada, pois a resolução desta seria melhor e
pode ser útil na avaliação prognóstica se pedido mais permitiria maior acurácia na avaliação da continuidade
precocemente, com cerca de um mês de vida. O estudo das radículas dentro do canal raquidiano (Figura 5).2º·89
comparativo da condução nervosa motora pode estimar Outros autores observaram desempenho semelhante en-
a porcentagem de degeneração axonal motora dos mús- tre os dois exames. 58•72 O desenvolvimento das técnicas
culos-alvo, o que se correlaciona com a recuperação de de ressonância magnética tende a suplantar a tomomie-
1122 Tratado de Neurocirurgia

o reintrodutor da cirurgia do plexo braquial em lacten-


tes, consagrou a indicação cirúrgica aos três meses de
idade,34 mas há trabalhos criticando a baixa especifici-
dade do seu critério. 18,8º
Há pouca controvérsia em relação aos pacientes com
lesões totais. 42 Esses apresentam mau prognóstico de re-
cuperação espontânea e precisam de maior período para
reinervação das porções distais do membro acometido.
Alguns autores recomendam que a cirurgia seja realiza-
da antes dos três meses para este grupo, 86 enquanto a
maioria prefere aguardar os três meses para maior segu-
rança anestésica.
Figura 5 Mielotomografia computadorizada da região cervica l, Para os doentes com lesões C5-C6 ou C5-C6-C7,
demonstrando a raiz ventral (RV) e a raiz dorsal (RD) no lado
aguarda-se algum tempo para avaliar o grau de recupe-
sadio. No lado comprometido, evidencia-se pequena pseudo-
meningocele (PM) e a ausência das raízes dorsal e vent ral . ração espontânea, mas o tempo necessário e os movi-
mentos avaliados variam entre os autores. O critério clás-
sico de Gilbert baseia-se nos estudos prognósticos de
lografia e consagrar aquele método de imagem como o Tassin e recomenda cirurgia para os pacientes sem fun-
ideal na avaliação de lactentes. ção do músculo bíceps aos três meses de idade.34 Clarke
também indica cirurgia aos três meses, mas visando di-
PROGNÓSTICO E minuir o número de falsos-positivos, utiliza uma escala
INDICAÇÃO CIRÚRGICA combinada que inclui a extensão do cotovelo, punho e
dedos, além da flexão do cotovelo.2º'59 Al-Qattan reco-
Os dados da literatura sobre o prognóstico da para- menda cirurgia aos quatro meses para pacientes sem fle-
lisia neonatal do plexo braquial são surpreendentemen - xão do antebraço contra a gravidade.4 O'Brien indica a
te contraditórios, variando de 7 a 97% de recuperação cirurgia aos seis meses em pacientes sem força antigra-
completa.1·64 Os trabalhos mais antigos tinham uma vi- vitacional dos músculos bíceps, tríceps e deltoide, ba-
são sombria sobre o tema, que se seguiu a um período seando-se nos estudos prognósticos de Noetzel.65,67 Wa-
de otimismo exagerado a partir da década de 1970.39 Os ters realizou uma análise econômica e concluiu que a
trabalhos mais recentes apontam para cerca de 50% de cirurgia aos seis meses apresenta melhor relação de cus-
recuperação completa. 30,83 Sequelas motoras significati- to-benefício quando comparada à cirurgia aos três me-
vas ocorrem em cerca de 15% dos casos, mas até 35% das ses.19 O próprio Clarke indica cirurgia aos nove meses
crianças têm alguma limitação de função do ombro, par- para os pacientes incapazes de realizar o teste do biscoi-
ticularmente para rotação externa.42 Não há relação sig- to. 2º·26 Kline também indica cirurgia entre seis e nove me-
nificativa entre fatores de risco perinatais e o prognósti- ses para pacientes com recuperação insatisfatória.13 Ci-
co destas plexopatias. 43·53,62 A apresentação clínica tem rurgias em pacientes com mais de doze meses de idade
grande relevância prognóstica, conforme assinalado na são consideradas ineficazes por vários autores, embora
classificação de Narakas.31 algumas transferências nervosas possam exibir bons re-
Não existem estudos perfeitos para avaliar a história sultados mesmo quando realizadas tardiamente.72
natural destas lesões. Idealmente, estes deveriam ser es-
tudos prospectivos populacionais, com o diagnóstico rea- RECONSTRUÇÃO PRIMÁRIA
lizado ainda no período neonatal, sem intervenções
cirúrgicas e com protocolo de reabilitação bem implan- Técnica cirúrgica16•20•42•55
tados e homogêneos, com período de seguimento míni-
mo de três a cinco anos e no máximo 10% de perdas, e A criança é posicionada em decúbito dorsal, na ex-
com um protocolo de avaliação final bem definido, de- tremidade da mesa cirúrgica, o mais próximo possível de
talhado e reprodutível.69 um dos lados. Em crianças maiores, um coxim é coloca-
Não existe consenso sobre os critérios para seleção do sob o ombro para elevar a região clavicular, enquanto
dos pacientes para cirurgia. Cirurgias precoces têm me-
. . ' .
que em cnanças menores, uma compressa crrurgica en-
lhor possibilidade de recuperação, contudo, tendo em rolada é posicionada longitudinalmente sob a coluna cer-
vista a alta proporção de recuperações espontâneas, pa- vicotorácica. A cabeça é estendida e rodada para o lado
cientes podem ser operados desnecessariamente. Gilbert, oposto. São realizadas antissepsia e assepsia de todo o
105 Tratamento cirúrgico da paralisia neonatal do plexo braquial 1123

membro superior comprometido, do pescoço e do hemi- culo esternocleidomastoide, podendo ser dividida, se
tórax ipsilaterais, além de ambos os membros inferiores. houver necessidade. O músculo omo-hioide é identifica-
Na colocação dos campos cirúrgicos, o membro superior do, dissecado e retraído inferiormente. Se necessário, pode
deve permanecer visível em toda a sua extensão para per- ser dividido na condensação tendinosa encontrada no
mitir a inspeção visual de contrações musculares em res- meio do músculo. Profundamente a esse músculo posi-
posta à estimulação elétrica intraoperatória. ciona-se um coxim de tecido adiposo e linfático, que é
Os procedimentos cirúrgicos são realizados sob anes- dissecado e retraído lateralmente para expor o plexo bra-
tesia geral, evitando o emprego de relaxantes muscula- quial supraclavicular. A veia e a artéria cervicais transver-
res, que podem interferir na estimulação elétrica intrao- sas, localizadas no centro do campo, devem ser disseca-
p eratória. Realizamos o procedimento sempre sob das e, se necessário, dividid.as, para facilitar a exposição.
magnificação: com lupa (X 3,5) durante a dissecação e A dissecação inicial tem por finalidade expor as raízes CS
com microscópio cirúrgico no momento do reparo do e C6 e o tronco superior. A identificação do nervo frêni-
plexo. co, posicionado sobre a superfície anterior do músculo
Na grande maioria dos casos, a exploração cirúrgi- escaleno anterior e localizado com o auxílio de estimula-
ca supraclavicular é suficiente para exposição e reparo ção elétrica, pode facilitar a dissecação do plexo, especial-
apropriados da lesão. O plexo braquial supraclavicular mente quando o mesmo é envolto em densa fibrose cica-
pode ser exposto através de uma incisão posterior ao tricial. A dissecação proximal do nervo, o único com
músculo esternocleidomastoide, que tem início no pon- trajeto de lateral para medial no pescoço, alcança CS, na
to médio de uma linha traçada da ponta do processo borda lateral do músculo escaleno anterior, ponto de par-
mastoide até a clavícula. Ao alcançar a borda superior tida para a exposição do restante do plexo. Essa disseca-
dessa estrutura óssea, a incisão curva-se lateralmente e ção deve ser cuidadosa para minimizar o risco de lesão
prossegue até o sulco deltopeitoral. Outra opção é uma ao nervo. O nervo acessório também pode ser identifica-
incisão reta, com cerca de 4 cm proximal e paralela à cla- do no limite superior da incisão, quando esta se estende
vícula, na base do triângulo posterior do pescoço, que se um pouco mais proximal, no ponto em que emerge por
estende desde a borda lateral do músculo esternocleido- trás do músculo esternocleidomastoide, na junção de seus
mastoide até a borda medial do músculo trapézio. Essa terços superior e médio, no seu trajeto no sentido do mús-
incisão é realizada 1 ou 2 cm cranial à clavícula em ca- culo trapézio. Outro nervo que deve ser preservado é o
sos de lesões completas do plexo ou na paralisia de Erb, torácico longo, que se posiciona posteriormente ao ple-
respectivamente. xo e atravessa o músculo escaleno médio.
O acesso supraclavicular expõe de forma satisfatória A individualização da raiz CS, dissecada até o fora-
o conteúdo do triângulo posterior do pescoço, onde es- me intervertebral correspondente, é o marco anatômico
tão localizados tanto os elementos do plexo braquial que para a dissecação das raízes C6 e C7 de posicionamento
mais frequentemente são comprometidos (CS, C6, ± C7), mais inferior, que também são dissecadas até seus fora-
como os elementos mais inferiores (C8, Tl). De forma mes. Quanto mais inferior o forame, mais posterior é sua
infrequente, especialmente em casos de lesões completas localização. Em casos de raízes avulsionadas, o forame
do plexo, pode ser necessária a extensão da incisão sobre pode estar vazio ou ocupado por tecido fibroso. Outra
o sulco deltopeitoral, para permitir uma melhor exposi- evidência de avulsão é a visualização do gânglio da raiz
ção de C8 e Tl/tronco inferior e de elementos infraclavi- dorsal no campo operatório. Nessa altura da cirurgia os
culares do plexo. Nessas incisões combinad.as, supra e in- troncos superior e médio estão visíveis, além do nervo
fraclaviculares, os elementos do plexo braquial localizados supraescapular, que se origina da superfície lateral do
nestas duas regiões são conectados por meio de disseca- tronco superior. Habitualmente o trajeto craniocaudal
ção romba sob a clavícula. desse nervo é discretamente oblíquo, no sentido da in-
A incisão é feita através da pele e do músculo platis- cisura da escápula; no entanto, devido ao deslocamento
ma, que em crianças muito pequenas pode ser difícil de caudal do tronco superior decorrente da tração, seu tra-
visualizar, e o retalho triangular é rebatido lateralmente. jeto em crianças com paralisia neonatal do plexo bra-
Pequenos ramos neurais são vistos cruzando o limite in- quial é mais horizontal. A artéria subclávia, de posicio-
ferior do campo (nervos supraclaviculares) e podem ser namento mais inferior, pode impedir a visualização
divididos. O músculo esternocleidomastoide é identifi- adequada do tronco inferior e seu deslocamento cuida-
cado e a dissecação é iniciada imediatamente lateral ao doso permite a inspeção não só deste tronco, como das
mesmo. A cabeça clavicular do músculo é dividida e re- raízes C8 e Tl até seus forames. A raiz Tl posiciona-se
batida medialmente para facilitar a exposição. A veia ju- imediatamente superficial à cúpula pleural. Por vezes é
gular externa é localizada sobre a borda lateral do mús- necessária a ressecção parcial ou total do músculo esca-
1124 Tratado de Neurocirurgia

leno anterior para permitir adequada visualização das


raízes mais inferiores do plexo. As raízes devem ser ex-
ploradas e inspecionadas em sentido proximal, até que
se alcancem os forames intervertebrais. Fitas de silicone
são posicionadas ao redor das raízes para sua identifica-
ção e tração. Muitas vezes os troncos estão envolvidos
por tecido fibrótico e pelos músculos escalenos cicatri-
zados, sendo necessário remover esta fibrose antes de
prosseguir na dissecação.
A estimulação intraoperatória direta é utilizada para
auxiliar na dissecação de nervos íntegros próximos a
áreas de fibrose, para identificar ramos específicos e para
avaliar a condutividade de neuromas em continuidade.
Para tal utiliza-se o equipamento para estimulação Sti-
muplex® (BBraun, Melungen, Alemanha) utilizado pe-
los anestesiologistas na realização de bloqueios de ner-
Figura 6 Fotografia cirúrg ica de criança com lesão do plexo
vos periféricos. Esse aparelho libera uma corrente braquial direito relacionada ao parto. Not a-se volumoso neuro-
monofásica direta com duração de 0,1 mseg e frequên- ma em cont inuidade do t ronco superior (N) que foi ressecado
cia de 1ou2 Hz e, em geral, utiliza-se intensidade variá- para rea lização de reconst rução com enxertos . A raiz C6 en-
contra-se posterior ao neuroma. C5: ra iz C5; D: dista l; DA: di-
vel de 5 a 1O mA.
visão ant erior do t ronco superior; D P: divisão post erior do
Na maioria dos casos não há necessidade de seccio- tronco superior; L: lateral; NS: nervo supraescapu lar.
nar a clavícula para permitir o reparo do plexo, pois a
simples retração inferior da mesma fornece a visualiza-
ção necessária. Além disso, ao se evitar essa osteotomia, tido proximal quanto distal até que se obtenha superfí-
reduz-se o risco de complicações como pseudoartrose e cie de corte do elemento neural de aspecto normal, isto
compressão por calo ósseo hipertrófico do plexo subja- é, sangrante e com padrão de fascículos. A técnica de re-
cente reparado. paro direto após ressecção do neuroma raramente pode
Em geral as raízes superiores do plexo são mais pas- ser utilizada devido à quase impossibilidade de coapta-
síveis de rotura e as avulsões são mais frequentes nas in- ção dos cotos neurais sem tensão. No entanto, há relato
feriores.47·76·84·87 Tais lesões, juntamente com a progressi- do emprego dessa técnica com bons resultados.50
va retração do plexo pelo neuroma ou pela lesão difusa, Na maioria das vezes utiliza-se o nervo sural antólo-
provocam distorção significativa da anatomia normal. go para os enxertos que, em uma criança com peso de 1O
As opções técnicas para reconstrução cirúrgica do kg, geralmente fornecem de 13 a 15 centímetros de mate-
plexo braquial incluem o emprego isolado ou combina- rial para a enxertia em cada perna.2°Como em geral as
do da neurólise externa, da ressecção de neuroma em distâncias entre os cotos após ressecção dos neuromas es-
continuidade e reparo com interposição de enxertos, das tão entre 2,5 e 4,5 cm, de seis a dez segmentos de nervo
transferências intra e extraplexuais de nervos e dos tu- sural estarão disponíveis para serem utilizados como en-
bos condutores. Na maioria das vezes a decisão sobre a xertos (Figura 7). Se não for suficiente, outros nervos,
melhor técnica a ser empregada é realizada durante o ato como ramos do plexo cervical ou nervos retirados do mem-
operatório, após exposição completa da lesão. bro comprometido (p. ex., nervo cutâneo medial do ante-
O tipo de lesão mais frequentemente encontrado é braço), também podem ser utilizados como enxertos.
um neuroma em continuidade do tronco superior loca- A transferência de nervos é técnica de reconstrução
lizado na junção das raízes C5 e C6 (Figura 6). Clarke do plexo braquial que foi idealizada para o reparo nos
comparou os resultados em longo prazo da ressecção do casos em que não existe coto proximal viável disponível
neuroma e reconstrução com enxertos com a neurólise para reinervar, através de enxertos, um coto distal des-
externa e observou resultados melhores com a primeira nervado. Para tal podem ser utilizados nervos dentro
técnica.27 Desde então, a neurólise externa como proce- (transferência intraplexual) ou fora (transferência extra-
dimento isolado não é mais indicada no tratamento da plexual) do plexo braquial como doadores de axônios.
paralisia neonatal do plexo braquial, mesmo quando exis- Como o ocorrido nos adultos, os procedimentos de trans-
tem algumas fibras condutoras. Em geral o neuroma é ferências de nervos tomam-se cada vez mais utilizados
seccionado em sua porção média com um bisturi lâmi- no tratamento da paralisia neonatal do plexo braquial.
na 11 e secções subsequentes são realizadas tanto em sen- Utilizadas em conjunto ou substituindo a técnica deres-
105 Tratamento cirúrgico da paralisia neonatal do plexo braquial 1125

Figura 8 Fotografia cirúrgica de criança com lesão do plexo


braquial esquerdo relacionada ao parto submet ida à transferên-
cia nervosa dist al para recuperação da flexão do antebraço. A
foto mostra o preparo das est ruturas previamente à coaptação
Figura 7 Fotograf ia cirúrgica de criança com lesão do plexo
de um fascículo do nervo ulnar (FU) com o ramo motor para o
braquial direito relacionada ao parto. Após ressecção de neu-
músculo bíceps (RM), ambos seccionados. D: dist al; L: lateral;
roma em continu idade do tronco superior, a reconstrução com
MB: músculo bíceps; NM: nervo mediano; NU: nervo ulnar.
enxertos foi realizada a part ir da raiz C5 para a divisão anterior
do tronco superior. Associadament e, foi realizada a transferên-
cia do nervo acessório para o nervo supraescapu lar. C5: raiz
C5; D: dist al; DA: divisão anterior do tronco superior; L: lat eral. alternativa para os enxertos autólogos em reparos de pe-
quenos segmentos do plexo braquial. Embora ainda não
existam trabalhos comparando esses tubos com os en-
xertos autólogos de nervos em crianças, os tubos, apesar
secção e enxerto, as transferências têm somente uma li- de caros, apresentam as vantagens de não produzirem
nha de sutura, em geral a coaptação dos nervos é mais morbidade no local de retirada do enxerto, de estarem
próxima do músculo alvo e a conexão neural é direta, de disponíveis em qualquer quantidade necessária e de pro-
ramo motor para ramo motor, constituindo não só uma verem uma via direta para que os fatores de crescimen-
excelente opção para a cirurgia primária em diversos ca- to neural do coto proximal atinjam o coto distal.
sos, como também é uma opção para casos de encami- A planificação terapêutica para cada caso de paralisia
nhamento mais tardio. As transferências de nervos mais neonatal do plexo braquial deve ser individualizada, de
comumente realizadas em casos de paralisia neonatal in- acordo com a localização e a extensão da lesão. Em geral,
cluem: 1) ramo terminal do nervo acessório para o ner- o tipo de procedimento reconstrutor que vai ser empre-
vo supraescapular; 2) ramo do nervo radial para a cabe- gado só é decidido após completa exploração do plexo.
ça longa do músculo tríceps para a porção anterior do
nervo axilar; 3) fascículo motor do nervo ulnar para o RECONSTRUÇÃO NA PARALISIA DE ERB
músculo flexor ulnar do carpo para o ramo motor do
nervo musculocutâneo para o músculo bíceps (Figura A meta da cirurgia nas crianças com paralisia supe-
8); 4) fascículo motor do nervo mediano para o múscu- rior do plexo (CS, C6, ± C7) é a estabilização do ombro
lo flexor radial do carpo para o ramo motor do múscu- e o retorno de sua abdução, assim como a restauração do
lo bíceps ou do músculo braquial; S) nervos intercostais movimento de flexão do cotovelo. Com frequência exis-
para o nervo musculocutâneo; 6) nervos intercostais para te um neuroma no tronco superior que deve ser resseca-
o ramo do nervo radial para a cabeça longa do músculo do e o intervalo entre os cotos neurais deve ser preen-
tríceps; 7) nervo peitoral medial para o nervo musculo- chido com enxertos de nervo sural. Em geral, os enxertos
cutâneo; e 8) raiz contralateral de C7 principalmente para coaptados em CS são direcionados à divisão posterior
o nervo mediano. do tronco superior e aqueles coaptados em C6 devem ser
Independentemente do tipo de técnica (enxertos ou conectados com a divisão anterior do mesmo tronco. O
transferências) que foi utilizada para a reconstrução do nervo supraescapular deve ser reinervado diretamente,
plexo, as coaptações são efetuadas com sutura de náilon seja por enxerto conectado ao quadrante rostroventral
monofilamentar 10-0 ou 11-0 e/ou com adesivo de fibri- do corte transverso da raiz CS (Figura 9)77 ou por meio
na. Mais recentemente surgiram trabalhos empregando de transferência da porção distal do nervo acessório di-
tubos sintéticos, principalmente os de colágeno, 12 como retamente para o nervo supraescapular.85 Quando exis-
1126 Tratado de Neurocirurgia

a reinervação da mão, a função máxima que pode ser


alcançada com o membro afetado é semelhante à de um
gancho. Depois da mão o foco do procedimento cirúr-
gico é direcionado para a reinervação da flexão do co-
tovelo, da função do ombro e finalmente para o nervo
radial.33,41,s 7,68
Como na criança a reinervação distal é uma perspec-
tiva real, provavelmente devido à menor distância dos
músculos-alvos, à maior velocidade de regeneração e à
maior plasticidade, é preferível utilização de doadores in-
traplexuais, devido ao maior número de fibras disponí-
veis para a reinervação. 24 Se a raiz CS estiver viável, é uti-
lizada para a reinervação da mão, através de sutura
direta na raiz C8, que em geral está avulsionada. Por ve-
zes a raiz Tl, também avulsionada, ainda apresenta-seco-
nectada ao forame intervertebral e a liberação desta co-
nexão geralmente permite a sutura direta mencionada
Figura 9 Fotograf ia cirúrgica de reconst rução do plexo braquial
anteriormente. Alguns fatores priorizam a reinervação da
com múltiplos enxertos de nervo sural , em criança com para-
lisia de Erb. Os enxertos coaptados à raiz C5 est ão direcionados raiz C8 em relação à raiz Tl. O nervo mediano, que re-
à divisão posterior do t ronco s uperior (DPTS) e ao nervo s u- cebe fibras principalmente de C8, inerva os músculos ex-
praescapular (SE), enquanto que os enxertos coapt ados à raiz trínsecos flexores dos dedos e a flexão e oposição do po-
C6 foram suturados à divisão anterior do tronco superior (DATS).
legar, movimentos de importância primária quando a
mão não dominante é utilizada para auxiliar a mão do-
te avulsão da raiz C6, mas a raiz C7 está intacta, a divi- minante em tarefas bimanuais. Por outro lado, o nervo
são anterior de C7 pode ser transferida diretamente para ulnar, que recebe fibras principalmente de Tl, fornece
o cordão lateral e sua divisão posterior poderá ser coap- inervação da musculatura intrínseca da mão, necessária
tada no cordão posterior.82 Nas paralisias grau II de Na- para movimentos finos, mas de menor relevância na fun-
rakas (ou Erb estendida), em que há comprometimento ção de apoio. Além disso, a trajetória mais longa e conse-
também da raiz C7, a reinervação do músculo tríceps é quentemente mais demorada que os axônios em regene-
a próxima prioridade e pode ser realizada pela transfe- ração percorrerão até alcançar a musculatura intrínseca
rência de nervos intercostais ipsilaterais. A progressiva da mão certamente redundará em maior atrofia desta
utilização e os bons resultados obtidos com as transfe- musculatura, em comparação com a musculatura extrín-
rências de nervos no tratamento de lesões do plexo bra- seca da mão de posicionamento mais proximal. Assim
quial em adultos têm motivado emprego crescente des- sendo, a prioridade deve ser pela reinervação da raiz C8.68
ta técnica nas crianças. Além das transferências Outros alvos para reinervação da mão, como a divisão
mencionadas (acessório e intercostais), devem ser cita- anterior do tronco médio, a divisão anterior do tronco
das as transferências do nervo peitoral medial para o ner- inferior, o cordão medial, a contribuição lateral para for-
vo musculocutâneo93 e a técnica de Oberlin, que consis- mação do nervo mediano e os próprios nervos mediano
te na transferência de fascículo do nervo ulnar para e ulnar também podem ser utilizados em casos selecio-
reinervar o ramo motor para o bíceps, do nervo muscu- nados (Figura 10). Contudo, a musculatura extrínseca da
locutâneo,63•78 ambas apresentando bons resultados em mão, de inervação pelo nervo mediano, deve sempre ser

crianças. priorizada. Se a raiz C6 também estiver viável, ela é uti-
lizada para reconstruir as divisões anterior e posterior do
RECONSTRUÇÃO NA PARALISIA GLOBAL tronco superior, visando à recuperação funcional do co-
tovelo e do ombro. Uma raiz C7 eventualmente íntegra
A reinervação da mão em crianças com paralisia pode ser utilizada para a reinervação da mão ou para a
neonatal do plexo braquial é possível e por isso, diferen- reinervação do tronco médio.
temente da conduta em adultos, a prioridade nas crian- Nos raros casos de avulsão de todo o plexo, não exis-
ças com paralisia global é a reinervação da mão. Uma tem doadores intraplexuais adequados, havendo neces-
flexão adequada dos dedos, em combinação com boa sidade de utilizar transferências de nervos com doado-
flexão do cotovelo é mandatória para função de apoio res extraplexuais. Em geral o nervo acessório distal é
na execução de atividades bimanuais do dia a dia. Sem utilizado para reconstruir diretamente o nervo supraes-
105 Tratamento cirúrgico da paralisia neonatal do plexo braquial 1127

plicações não apresentavam maior gravidade, sendo que


a mais séria foi extubação acidental, presente em 2,9%
dos casos. Ocorridas no início da série, o risco da com -
plicação por extubação foi eliminado desde que se pas-
sou a suturar o tubo ao septo nasal membranoso e a usar
campo transparente sobre o rosto da criança.

CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS

Completada a cirurgia, o membro superior afetado


é imobilizado com o ombro em adução e a mão manti-
da próxima ao ombro oposto usando uma tipoia simples,
do tipo Velpeau, feita com malha tubular,37 com cuida-
Figura 10 Fotograf ia cirúrgica de tentativa de reinervação da do para não comprometer os movimentos respiratórios.
mão em criança com para li sia com pleta do p lexo braqu ial . Não existe consenso sobre o melhor tipo de imobiliza-
Enxert os de nervo sural (S) interpostos entre a raiz C5 e a di- ção pós-operatória, com alguns autores preconizando
visão ante rior do t ronco inferior (TI) . F: nervo f rênico.
imobilizações mais rígidas, feitas com gesso ou material
termoplástico. 55 O contraponto à argumentação a favor
dessas imobilizações mais rígidas é o fato de que duran-
capular (Figura 11) e três nervos intercostais são empre- te a cirurgia a criança já está posicionada de forma em
gados para reinervar o nervo musculocutâneo (Figura que o plexo está em distensão máxima e que a maior par-
12). Nos casos em que a transferência de nervos inter- te da movimentação do pescoço para permitir a mobili-
costais é feita para os nervos mediano ou ulnar, a crian- zação da cabeça ocorre em Cl e C2.2º
ça recupera a sensibilidade protetora da mão na maioria Ao acordar a criança é encaminhada ao quarto, po-
dos casos e alguns podem recuperar flexão ativa de pu- dendo ser alimentada por via oral assim que recobrar
nho e dedos.84 Apesar de a transferência da raiz de C7 plenamente a consciência. Após três semanas a imobili-
contralateral ter sido empregada em alguns casos de pa- zação é removida, e um programa de reabilitação pro-
ralisia neonatal do plexo braquial com bons resultados,21,24 gressiva é iniciado.
não é uma conduta muito difundida. A toxina botulínica tem sido utilizada para evitar
contraturas no período pós-operatório imediato.7 º'92 O
COMPLICAÇÕES OPERATÓRIAS efeito da toxina ocorre por meio da redução da força e
tônus muscular para permitir a restauração da amplitu-
Em análise retrospectiva, o grupo de Toronto obser- de passiva de movimento e o alinhamento articular.
vou uma incidência de 33,5% de complicações em sua As primeiras avaliações ambulatoriais pós-operató-
série, sem mortalidade. 52 Na maioria das vezes as com- rias são feitas com uma e duas semanas para se acompa-

T3

T4

T5

Figura 12 Fotograf ia cirúrgica de transferência do terceiro


Figura 11 Fotograf ia c irúrgica de t ransferência da porção (T3), quarto (T 4) e quinto (T5) nervos intercost ais para o nervo
dist al do nervo acessório (XI) para o nervo supraescapular (SE). musculocutâneo (NMC).
1128 Tratado de Neurocirurgia

nhar a cicatrização da ferida operatória. Posteriormen- CONCLUSÃO


te, os retornos ambulatoriais são programados para um
mês após a cirurgia e depois, a cada seis meses, até a As lesões do plexo braquial relacionadas ao parto são
criança completar três anos de idade. eventos comuns e não há perspectivas de desenvolvimen-
A recuperação dos movimentos é monitorada exclu- to de estratégias eficazes para sua prevenção, pelo me-
sivamente com exame neurológico convencional, auxi- nos no curto prazo. A maioria dos recém-nascidos por-
liado pela aplicação da escala do Medical Research Coun- tadores de lesão do plexo braquial apresentam
cil Modificada para mensuração da recuperação da força recuperação espontânea até os três a seis meses de ida-
motora, da escala de Mallet para avaliação da recupera- de; no entanto, alguns persistem com deficiências sensi-
ção do ombro e da escala de Al-Qattan para avaliação da tivomotoras e deformidades importantes.
recuperação da mão.78 Não são realizados estudos eletro- Não existe consenso com relação à indicação e ao
diagnósticos de forma rotineira no pós-operatório. A re- momento ideal para o tratamento cirúrgico, mas em ca-
cuperação motora pode ter início muito precocemente sos bem selecionados a reconstrução cirúrgica direta dos
(três a quatro meses), dependendo da distância entre o elementos comprometidos do plexo braquial associada
coto proximal e a junção neuromuscular, e geralmente é ou não às transferências distais de nervos pode produ-
mais intensa no primeiro ano de pós-operatório. No en- zir bons resultados funcionais.
tanto, a recuperação adicional, menos exuberante, pode Tendo em vista a complexidade do tratamento das
estender-se até os três anos de idade. lesões do plexo braquial ao nascimento é recomendável
que as crianças sejam encaminhadas precocemente a cen-
RECONSTRUÇÃO SECUNDÁRIA tros especializados, que contam com equipes multidisci-
plinares experientes para o atendimento, tratamento ci-
Até 35% das crianças com paralisia neonatal do ple- rúrgico, reabilitação e acompanhamento de longo prazo.
xo braquial apresentarão algum grau de fraqueza, con-
tratura ou deformidade articular no ombro,69 consequen- REFER:SNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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106

SÍNDROMES COMPRESSIVAS DE NERVOS


PERIFÉRICOS DO MEMBRO SUPERIOR
Ricardo de Amoreira Gepp
Márcio de Mendonça Cardoso

INTRODUÇÃO APRESENTAÇÃO CLÍNICA GERAL

Os nervos do membro superior podem ser subme- Os sinais e sintomas variam de acordo com o nervo
tidos à compressão em canais naturais desde a sua ori- acometido, dependendo da característica funcional, in-
gem, no plexo braquial, até os ramos mais distais. A com- tensidade, duração e local onde ocorre a compressão. A
pressão desses nervos desencadeia sinais e sintomas que dor é o principal sintoma na maioria das compressões
resultam em dor, perda funcional sensitiva e motora. nervosas, geralmente de piora noturna. Os sinais e sin-
Neste capítulo, analisaremos as principais síndromes tomas clínicos de cada compressão serão discutidos de
compressivas dos nervos do membro superior, incluin - forma detalhada para cada nervo.
do fisiopatologia, sintomatologia, exames diagnósticos e
tratamento. EXAMES COMPLEMENTARES

FISIOPATOLOGIA GERAL O diagnóstico das síndromes compressivas de ner-


vos é clínico, mas os exames têm um papel importante
A compressão é a principal causa de afecção nervo- na avaliação e no seguimento. A eletroneuromiografia
sa nos membros superiores, podendo atingir praticamen- (ENMG) é uma das formas mais efetivas de avaliação e
te todos os grandes nervos e a fisiopatologia é relativa- classificação das alterações dos nervos periféricos. O exa-
mente semelhante, independentemente do nervo me é dividido em duas partes: avaliação da condução ner-
comprometido. A compressão direta sobre o nervo gera vosa e estudo por agulha da musculatura, a eletromio-
isquemia e processo inflamatório local, desencadeando grafia. A atividade insercional da agulha e a análise em
o quadro clínico de forma intermitente ou crônica. Os repouso são as duas etapas do exame eletromiográfico.
casos agudos são raros. Nas situações em que a compres- Os exames de imagem dos nervos periféricos têm
são é leve, a sintomatologia pode ser intermitente em de- sido cada vez mais utilizados para avaliação inicial ou
corrência do posicionamento e da compressão dinâmi - quando há recidiva dos sintomas após descompressões.
ca do nervo, causando isquemia temporária. O processo A radiografia simples pode ser utilizada para avaliação
de desmielinização ocorre quando essa compressão tor- óssea ou articular em casos de fraturas ou em síndromes
na-se mais intensa e prolongada, momento a partir do compressivas secund.árias, como na artrite reumatoide.
qual os sintomas são persistentes e pioram por conta do A ultrassonografia é outro método que pode ser bastan-
posicionamento e do movimento. A dor é o principal te útil, sendo um exame de baixo custo, mas que depen-
sintoma na maioria das situações clínicas, assim como de do examinador. Outra vantagem da ultrassonografia
parestesia, que pode estar presente também de forma é a possibilidade de avaliação dinâmica do nervo no lo-
precoce. Em geral, a perda de função motora e atrofia cal da compressão. A ressonância magnética (RM) pode
muscular ocorre tardiamente e é relacionada à maior per- ser utilizada para avaliação dos nervos nas síndromes
da axonal. Caso a compressão continue, o processo de compressivas, mas, em decorrência do custo e da dispo-
degeneração walleriana se instala e, se não houver rege- nibilidade, geralmente é realizada apenas nos casos de
neração, pode resultar em comprometimento do nervo recorrência da compressão. Aumento de sinal e espessa-
de forma grave e irreversível. mento do nervo são alguns dos sinais identificados nas
1132 Tratado de Neurocirurgia

síndromes compressivas. A neurografia por RM é um SÍNDROMES COMPRESSIVAS


exame ainda mais específico e útil para avaliação de re- ESPECÍFICAS
lações anatômicas do nervo e estruturas vizinhas, inclu-
sive de forma dinâmica. Pode ser indicada também quan- Nervo mediano no punho
do os sintomas são atípicos ou quando há suspeita de
quadro secundário. Trata-se de um exame que permite Introdução
obtenção de imagens com alta definição, propiciando
melhor avaliação quanto às causas de possíveis recidivas. A síndrome do túnel do carpo é a neuropatia com-
Exames laboratoriais devem ser utilizados para ava- pressiva mais frequente nos membros superiores. 13 Sua
liação de causas secundárias de síndromes compressivas. primeira descrição foi feita por Paget em 1854. 13 Apre-
Doenças como diabetes mellitus, amiloidose, hipotireoi- valência varia de 1a3% nos EUA e seu custo pode ultra-
dismo, gota, artrite reumatoide, acromegalia, polimial- passar dois bilhões de dólares por ano. 13 É caracterizada
gia reumática e outras podem estar associadas à síndro- por compressão do nervo mediano em seu trajeto pelo
me compressiva, e devem ser investigadas pelo exame túnel do carpo na região do punho. Apresenta prevalên-
clínico e, se necessário, por exames laboratoriais (Tabe- cia estimada de 16% na população geral. A relação de gê-
las 1e2). nero masculino:feminino é de 1:3, e em 50% das vezes é
bilateral. 13

Tabela 1 Condições sistêmicas associadas à síndrome do túnel do carpo Anatomia


Deficiência de piridoxina Doença de Lyme
(VIT B 6) O túnel do carpo é um espaço localizado na região
Amiloidose Hipotireoidismo do punho e da mão. Seu assoalho é formado proximal-
Mucopolissacaridose Gota mente pelos ossos pisiforme e escafoide e distalmente
Tenossinovite tuberculosa Acromegalia pelos ossos hamato e trapézio, com os ligamentos asso-
Gravidez Obesidade
ciados. O teto é composto pelo retináculo dos flexores,
ou ligamento transverso do carpo, que tem 3 a 4 cm de
Diabetes Fenômeno de Raynoud
comprimento. O retináculo é fixado lateral e medialmen-
Menopausa Artrite reumatoide
te nos ossos do carpo, estabelecendo íntimo contato com
Uso de anticoncepcional Dermatomiosite
a aponeurose palmar, estrutura de forma triangular, com
Esclerodermia Polimialgia reumática
o vértice contínuo com o tendão do músculo palmar lon-
go. O túnel do carpo contém o nervo mediano e seu su-
primento vascular e os tendões dos músculos flexores
Tabela 2 Fatores locais associados à síndrome do túnel do carpo dos dedos e flexor longo do polegar (Figura 1).
O nervo mediano emite de seu lado lateral, na par-
Tenossinovite hipertrófica
te distal do antebraço antes do nervo penetrar no túnel
Diminuição congênita do canal do carpo
do carpo, o ramo cutâneo palmar que recebe aferências
Lesões expansivas no canal do carpo como neurofibroma, cisto
gangliônico, lipoma, hemangioma da pele sobre a eminência tenar. O nervo segue para a
mão e antes de entrar no túnel, situa-se lateral ao tendão
Espessamento familiar ou idiopático do ligamento transverso do carpo
do músculo palmar longo e medial ao tendão do mús-
Calo ósseo decorrente de fratura do rádio ou dos ossos do carpo
culo flexor radial do carpo. Imediatamente distal ao re-
Persistência de artéria mediana com ou sem trombose
tináculo dos flexores o nervo mediano emite, no seu lado
Subluxação do punho ou de ossos do carpo
radial, o ramo recorrente tenar para os músculos da emi-
Movimentos repetidos da mão ou do pun ho nência tenar (músculos abdutor, flexor curto e
Presença de comunicação arteriovenosa associada à hemodiálise oponente do polegar). Em casos raros esse ramo pode
Hemorragia local ser originado no lado ulnar do nervo mediano e atraves-
Compressão por órtese mal posicionada sar o nervo sob o retináculo. Em outros casos o ramo
Infecção no espaço tendíneo-palmar pode ser originado no interior do túnel do carpo e per-
Cicatriz hipertrófica no punho furar o retináculo e a aponeurose palmar em direção aos
Anomalias de músculos e tendões músculos tenares (Figura 1). 13 É importante lembrar a
possibilidade de essa musculatura ser inervada pelo ner-
vo ulnar por uma comunicação entre este nervo e o ner-
106 Síndromes compressivas de nervos periféricos do membro superior 1133

vo mediano denominada anastomose de Riche-Cannieu.


Após emitir o ramo recorrente tenar, o nervo mediano
se divide em porções lateral e medial que inervam o pri-
meiro e o segundo músculos lumbricais e recebem afe-
rências cutâneas da face palmar e extremidade dorsal do
I, II e III dedos e parte lateral do IV dedo. 13

Etiologia

Uma série de fatores locais pode levar a um aumen-


to da pressão sobre o nervo mediano, tanto por aumen-
to do volume de estruturas localizadas dentro do túnel
do carpo como por diminuição direta do espaço. Exis- Figura 1 Fotografia obt ida em dissecção de cadáver previa-
tem também condições sistêmicas que podem estar as- mente f ixado, após incisão longitudinal no punho e na mão
esquerda, evidenciando o nervo mediano após abertura do li-
sociadas à síndrome do túnel do carpo.2•13 O diabetes, gamento transverso do carpo . LTC: ligamento t ransverso do
por exemplo, pode levar a edema perineural do nervo carpo; est re la verme lha: ramo recorrente motor do nervo
mediano decorrente do acúmulo de sorbitol, contribuin- mediano.
do para a lesão. Há controvérsia sobre a contribuição das
atividades manuais para o desenvolvimento da síndro-
me. Atividades que levam à vibração ou força excessiva geralmente suscita parestesia e sensação de choque no
sobre a mão, associada ou não à atividade repetida, po- território do nervo mediano na mão, o chamado sinal
dem aumentar o risco de desenvolver a síndrome.2 de Tinel. Esse sinal apresenta uma sensibilidade bastan-
te variada dependendo de uma série de fatores, como a
F isiopatogenia força aplicada na percussão do nervo. 13 Outro sinal nor-
malmente presente é o sinal de Phalen, que resulta em
Na síndrome do túnel do carpo ocorre um aumen- parestesia ou dor na mão acometida ao solicitar que o
to de pressão sobre o nervo mediano decorrente de uma doente permaneça com os punhos fletidos com o dor-
diminuição do espaço do túnel ou aumento de volume so das mãos em oposição no período de 1 minuto. 13 Esse
do nervo. 19 Os dois pontos mais comuns de compressão tipo de resposta também pode ser desencadeado quan-
ocorrem na porção proximal do retináculo dos flexores do um manguito de pressão é colocado proximal ao pu-
e adjacente ao hâmulo do osso hamato. O aumento de nho e insuflado por 30 a 60 segundos. O teste de Dur-
pressão leva a menor perfusão sanguínea e contribui para kan consiste em realizar pressão sobre o nervo mediano
ocorrência de alterações isquêmicas no nervo. 23 Estudos com a face palmar do I dedo do examinador sobre a
relacionam valores específicos de pressão com diferen - prega distal do punho. O teste é considerado positivo
tes graus de lesão, de forma que uma pressão maior que quando provoca ou piora os sintomas no período de 30
60 mmHg leva a isquemia intraneural completa. segundos. Alguns trabalhos consideram este último tes-
te como o mais sensível. 2°Cabe destacar que todos es-
Quadro clínico ses testes apresentam sensibilidade e especificidade va-
riáveis, devendo ser considerados em conjunto com
Os pacientes podem apresentar diversos sintomas, outros fatores para o diagnóstico da síndrome do túnel
como disestesia e parestesia, acometendo o território do do carpo. 13
nervo mediano. Geralmente esses sintomas são mais in- No exame neurológico a sensibilidade da mão pode
tensos à noite, provocando o acordar, e podem ser pre- estar reduzida principalmente na face palmar dos dedos
cipitados por atividades manuais que levam a um au- I a III e na porção lateral do IV dedo. Em alguns casos a
mento da pressão no túnel do carpo. 25 Pode haver sensibilidade da área relacionada ao ramo cutâneo pal-
irradiação proximal desses sintomas ao braço e, nesses mar, que se origina antes do nervo mediano entrar no
casos, deve-se considerar a radiculopatia como diagnós- túnel do carpo, está preservada e corresponde à pele da
tico diferencial.25 Alguns doentes se queixam de dificul- eminência tenar. Em casos avançados há diminuição de
dade para realizar tarefas manuais e relatam que deixam força e atrofia da musculatura tenar, músculos que po-
cair objetos das mãos com frequência. dem estar preservados na presença da comunicação de
No exame físico alguns testes provocativos podem Riche-Cannieu a partir da inervação originada do ner-
ser positivos. A percussão do nervo mediano no punho vo ulnar.
1134 Tratado de Neurocirurgia

Diagnóstico diferencial Tratamento conservador

O diagnóstico diferencial inclui: O tratamento conservador geralmente é indicado em


casos leves da síndrome do túnel do carpo. 1 A primeira
1. Radiculopatia cervical: geralmente os sintomas se medida consiste em orientar os pacientes quanto aos cui-
originam na região cervical e irradiam até a mão. O dados e formas de evitar o aumento de pressão no túnel
acometimento do sexto nervo espinal cervical pode do carpo. 16 O uso de órteses para imobilizar o punho é
levar a sintomas mais parecidos com a síndrome do preconizado por vários autores. O punho deve ser man-
túnel do carpo. A ausência de sinal de Tinel ou Pha- tido em posição neutra e o uso por 24 horas tem melhor
len pode contribuir para a elucidação do diagnósti- resultado em relação ao uso exclusivamente noturno,
co, além da exarcebação da dor com manobras que mas com o inconveniente de haver maior limitação na
diminuam os forames cervicais, como a manobra de realização de atividades de vida diária. O tempo de uso
Spurling. da órtese pode variar de 2 a 4 semanas.
2. Síndrome do desfiladeiro torácico: há o acometimen- O uso de algumas medicações por via oral, como an-
to principal do oitavo nervo espinal cervical e do pri- ti-inflamatórios não esteroides, pode contribuir para a
meiro nervo espinal torácico, levando a atrofia dos melhora dos sintomas. Os corticosteroides também po-
músculos intrínsecos da mão, incluindo os interós- dem ser prescritos, mas a alta incidência de efeitos cola-
seos. As alterações sensitivas acometem principal- terais limita o seu uso. Infiltração local com corsticoste-
mente a porção medial da mão. roide e anestésico local adjacente ao nervo mediano leva
3. Síndrome do pronador redondo: pode levar a dor à melhora clínica, mas, na maioria das vezes, o resulta-
mais intensa na região palmar por conta da compres- do é paliativo. 13 O bloqueio local pode ter utilização se-
são do nervo mediano proximal à saída do ramo cundária como teste diagnóstico.3 A localização precisa
cutâneo palmar. da posição da agulha é importante para evitar infiltração
4. Tenossinovite de De Quervain: caracterizada por dor dentro do nervo e, consequentemente, lesão. Alguns au-
na região do tendão do músculo abdutor longo do tores contraindicam o uso de anestésico local, argumen-
polegar e extensor curto do polegar. O estudo eletro- tando que isso pode dificultar a percepção caso haja in-
fisiológico é normal e o teste de Finkelstein é positi- filtração intraneural. Laserterapia, aplicação de ultrassom
vo. Esse teste consiste na realização de abdução for- e acupuntura são terapêuticas de aplicação controversa
çada do I dedo, que provoca dor na região do tendão. e apresentam resultados variáveis no alívio dos sinto-
mas.12,21
Exames complementares Vale destacar que, quando a síndrome do túnel do
carpo está associada a doenças sistémicas, o tratamento
A avaliação por eletroneuromiografia auxilia no diag- dessas condições é fundamental. Em casos de sintomas
nóstico e indica o grau de comprometimento do nervo iniciados na gestação, muitas pacientes melhoram no pe-
mediano.26 A latência sensitiva e motora palmar geral- ríodo pós-gestacional, entre um e três anos após o parto.14
mente é prolongada, sendo a primeira mais sensível. 13
Em casos mais graves, fibrilações e diminuição do recru- Tratamento cirúrgico
tamento dos músculos da eminência tenar podem ser
identificados. O exame inclui a avaliação comparativa O principal objetivo do tratamento cirúrgico da sín-
com outros nervos do membro superior, como o radial drome do túnel do carpo consiste na descompressão do
e o ulnar. 12 Alguns estudos indicam que até 13% dos nervo mediano, geralmente por meio da secção do liga-
doentes com a síndrome do túnel do carpo evidente ao mento transverso do carpo. Nos Estados Unidos, a inci-
exame clínico apresentam eletroneuromiografia normal. dência de procedimentos cirúrgicos para tratamento da
Exames de imagem raramente são necessários, mas síndrome é de 134/100 mil habitantes. Em casos associa-
são indicados principalmente quando há dúvida diag- dos à presença de tumores ou cistos no interior do túnel
nóstica. Nesses casos, esses exames permitem avaliar a do carpo procede-se à ressecção da lesão após secção do
espessura do nervo e eventual alteração de sinal. Os exa- retináculo dos flexores.
mes mais utilizados são a ultrassonografia, de realização Nos casos de compressão sem que haja lesão identi-
mais simples, e a RM. 13 Com a suspeita clínica, exames ficad.a, alguns estudos indicam que, quando comparado
laboratoriais também podem ser solicitados, lembrando ao tratamento conservador, o procedimento cirúrgico
a associação da síndrome do túnel do carpo com várias apresenta melhor resultado em relação à melhora dos
doenças sistémicas (Tabelas 1 e 2). sintomas, mas com maior risco de complicações. 1 Quan-
106 Síndromes compressivas de nervos periféricos do membro superior 1135

to menor a intensidade dos sinais e sintomas, melhor é


o resultado do tratamento.2
Caso haja indicação cirúrgica em pacientes com aco-
metimento bilateral, o procedimento pode ser realizado
simultaneamente. Entretanto, essa conduta é questioná-
vel por conta das limitações que os doentes apresentam
para realização de atividades de vida diária nas primei-
ras semanas de pós-operatório. 3 Atualmente o procedi-
Figura 2 Fot ografias cirúrgicas demonstrando a incisão na
mento pode ser realizado pela via tradicional, aberta, ou região da mão. Na imagem à direita, observa-se a exposição
com auxílio de endoscopia. do retináculo dos flexores.

Via aberta tradicional


de instrumentos para secção do ligamento transverso. II
As técnicas anestésicas podem variar desde aneste- A imobilização do punho no período pós-operatório não
sia local até anestesia geral, dependendo da preferência é recomendada. II
do cirurgião. O uso de um torniquete é opcional. O pa-
ciente é mantido em decúbito dorsal, com o ombro ab- Via endoscópica
duzido e o membro superior apoiado em uma mesa com
a mão em supinação. Alguns cirurgiões colocam um pe- O objetivo do uso da endoscopia na descompressão
queno coxim sob o punho para mantê-lo em leve dorsi- do nervo mediano no punho é proporcionar uma via me-
flexão. A cirurgia pode ser realizada com auxílio de mag- nos invasiva. Pode ser feita através de uma (técnica uni-
nificação com lupa. portal) ou duas (técnica biportal) pequenas incisões. Is
A incisão pode ter comprimento variável e inicia-se No caso da técnica uniportal, a incisão é realizada adja-
na altura da prega distal do punho, seguindo distalmente cente à prega do punho, permitindo-se a colocação de
até uma linha imaginária que vai da borda distal do I dedo cânula e do endoscópio. O endoscópio passa inferior-
estendido até a proeminência do pisiforme (Figura 2). mente ao retináculo dos flexores.
Uma referência útil para localizar o nervo mediano é o Vários trabalhos comparam a via tradicional aberta
tendão do músculo palmar longo, já que o nervo está lo- e a endoscópica e não há um consenso sobre qual é a me-
calizado logo inferior ou lateralmente a essa estrutura. lhor, tanto em termos de resultados como de custos.II
Imediatamente inferior ao tecido subcutâneo, a fás- Assim, alguns autores sugerem que a via a ser escolhida
cia palmar pode ser identificada com suas fibras orienta- depende da experiência do cirurgião.2
das longitudinalmente em relação à incisão e, mais pro-
fundamente, o retináculo dos flexores é diferenciado pela Resultados após a cirurgia
disposição de suas fibras em sentido perpendicular ao eixo
da incisão. Em alguns casos o ramo cutâneo palmar pode No geral, a taxa de melhora após a cirurgia é eleva-
ser identificado e deve ser preservado. A seguir, o retiná- d.a, principalmente quando consideradas dor e alteração
culo é dividido na linha média com dissecção romba e uso de sensibilidade. O prognóstico é pior em relação às al-
de tesoura ou bisturi até a identificação do nervo media- terações motoras, quando presentes no pré-operatório.
no. Essa divisão segue proximal e distalmente até a iden-
tificação do seu final (Figura 2). Deve-se evitar seguir com
a incisão linear na região do punho a fim de prevenir al-
terações cicatriciais. Durante a abertura do retináculo a
atenção deve ser redobrada para não haver lesão do ramo
recorrente motor do nervo mediano (Figura 1).
Ao final do procedimento o cirurgião certifica-se de
que o nervo mediano está descomprimido, procede à revi-
são de hemostasia e ao fechamento por planos (Figura 3).
O tipo de fio usado para o fechamento da pele tem sido
motivo de estudos e, até o momento, não há diferença
de resultados quando comparado o uso de fio absorví-
vel com não absorvível. 3 Uma variação da técnica aber- Figura 3 Fotografia cirúrgica demonst rando a exposição do
ta utiliza pequenas incisões que propiciam a passagem nervo mediano após a abertura do ret ináculo dos f lexores.
1136 Tratado de Neurocirurgia

A necessidade de reoperação para tratamento de sinto- O nervo ulnar origina-se dos ramos anteriores dos
mas recorrentes ou persistentes é próxima de 5%. 1 nervos espinais C8 e Tl, com algumas contribuições de
C7. No braço o nervo segue próximo ao nervo mediano
Complicações cirúrgicas e à artéria braquial e não emite ramos até a região do co-
tovelo. Na porção média do braço o nervo ulnar passa
Muitas das complicações envolvem lesão do nervo sob o septo intermuscular medial. Em alguns casos, nes-
mediano ou seus ramos durante a cirurgia, principalmen- sa região existe um espessamento da fáscia do braço que,
te dos ramos recorrente motor e cutâneo palmar. Atenção juntamente com fibras da cabeça medial do músculo trí-
no momento do acesso é fundamental para evitar esse tipo ceps, cobrem o nervo ulnar e caracterizam a chamada
de lesão, assim como restringir a dissecção do nervo no arcada de Struthers. Distal a este segmento, o nervo ul-
lado ulnar da linha média no punho. O conhecimento das nar segue no sulco retroepicondilar do cotovelo, poste-
variações anatômicas do nervo mediano e seus ramos tam- romedial ao epicôndilo medial e, a seguir, entra no túnel
bém é muito importante. Em caso de lesão, além de alte- cubital. O teto do túnel cubital é formado pelo músculo
rações motoras e sensitivas, pode haver formação de neu- flexor ulnar do carpo e por uma aponeurose fibrosa de-
roma. Existem também relatos de desenvolvimento de nominada arcada aponeurótica úmero-ulnar, que conec-
síndrome de dor complexa regional após a cirurgia. ta as cabeças umeral e ulnar do mesmo músculo. Os ra-
Lesões vasculares, principalmente relacionadas à le- mos motores para o músculo flexor ulnar do carpo
são do arco arterial palmar ou seus ramos, podem ser originam-se imediatamente antes ou na região do túnel
observadas e levar à formação de hematomas. Existem cubital. Após seu trajeto nesse túnel o nervo ulnar per-
também complicações cutâneas, decorrentes de incisões fura a aponeurose flexora-pronadora profunda e segue
transversas no punho que podem resultar em cicatriz hi- pelo antebraço em direção ao punho.
pertrófica e nova compressão do nervo mediano. A dor No punho o nervo ulnar passa pelo canal de Guyon
palmar pode estar presente em 12,7% dos pacientes ope- junto com a artéria ulnar. O teto do canal é formado pelo
rados.4 Infecção também pode ser observada. ligamento carpal volar, que é uma continuação da fáscia
Alguns pacientes não apresentam melhora mesmo do antebraço, e pelo músculo palmar curto. O assoalho
após a cirurgia. Nesses casos, deve-se reavaliar se o diag- é constituído pelo ligamento transverso do carpo e pe-
nóstico está correto, e em caso afirmativo, avaliar a pos- los ligamentos piso-hamato e pisometacarpal. No canal
sibilidade de secção incompleta do retináculo dos flexo- de Guyon o nervo ulnar se divide em ramos superficial
res. Em alguns casos ocorre um espessamento da fáscia e profundo.
do antebraço proximal ao retináculo que, se não for sec- A região do cotovelo é o local mais frequente de com-
cionada, pode levar à perpetuação de sintomas. Nesses pressão do nervo ulnar. Nessa região, fatores dinâmicos,
casos, a RM do punho pode ajudar a avaliar se ainda exis- em associação com as estruturas anatômicas existentes,
te algum ponto de compressão no nervo mediano. Em ca- atuam na gênese da compressão.
sos de recorrência da dor após meses da cirurgia, há a pos-
sibilidade da ocorrência de fibrose adjacente ao nervo que, Diagnóstico
muitas vezes, é motivo de indicação de reoperação.3
O diagnóstico de compressão do nervo ulnar é clí-
Nervo ulnar nico e obtido por meio de história e exame físico. A pre-
sença de hipoestesia e parestesia no 4° e 5° dedos que
A compressão do nervo ulnar ocorre em dois locais piora com a flexão do cotovelo sugere o diagnóstico. A
principais, no punho e na região do cotovelo. 15 A com- ENMG e os exames de imagem podem auxiliar na con-
pressão do nervo ulnar na região do cotovelo é a segun- firmação diagnóstica diante da suspeita clínica.
da neuropatia compressiva mais comum do membro su-
perior, sendo apenas superada pela compressão do Quadro clínico
nervo mediano no túnel do carpo. Em estudo realizado
na Itália, a incidência anual de compressão do nervo ul- A sintomatologia dependerá do local da compressão
nar na região do cotovelo foi de 24,7 casos por 100 mil e sua intensidade. Na compressão do nervo ulnar na re-
pessoas, sendo o comprometimento duas vezes mais fre- gião do cotovelo a classificação de McGowan pode ser
quente no sexo masculino.7 Outro estudo realizado na utilizada (Tabela 3). Na maioria dos casos, parestesia ou
Inglaterra demonstrou incidência de 25,2 homens e 18,9 hipoestesia leve no território de inervação do nervo ul-
mulheres por 100 mil pessoas com esta síndrome.2 nar caracterizam o quadro clínico inicial. 8
106 Síndromes compressivas de nervos periféricos do membro superior 1137

A compressão do nervo ulnar na região do cotovelo Tabela 3 Classificação de McGowan para neuropatia compressiva do nervo
geralmente ocasiona dormência e choques na altura do ulnar na região do cotovelo

4° e 5° dedos da mão com piora dos sintomas com a fle- Grau Sintomas sensitivos Exame motor
xão do cotovelo. A dor é comum e inicialmente localiza- 1 Parestesia ou Sem fraqueza
hipoestesia leve
da na região do cotovelo, podendo irradiar gradativamen-
te para a face medial do antebraço até a mão. Os sintomas 2A Hipoestesia moderada Sem atrofia dos músculos intrínsecos
e/ou fraqueza leve
motores variam de fraqueza dos músculos intrínsecos da
2B Hipoestesia moderada Fraqueza moderada e diminuição de
mão até uma deformidade do tipo "garra ulnar". Inicial-
força dos músculos intrínsecos
mente os pacientes referem uma perda de habilidade ma-
3 Parestesia ou Atrofia dos músculos intrínsecos e
nual em decorrência das alterações e fraqueza dos mús- hipoestesia grave fraqueza importante
culos intrínsecos da mão. Essa alteração difere da perda
de habilidade pela alteração do nervo mediano, que é se-
cundária à alteração importante da sensibilidade. pode auxiliar na confirmação diagnóstica e na localiza-
A palpação do nervo ulnar no seu trajeto é impor- ção da compressão, além de determinar o grau de aco-
tante para avaliação de sinais de espessamento. A avalia- metimento do nervo. Alterações do nervo ulnar distal
ção da sensibilidade e da força dos músculos extrínsecos sem sinais de acometimento proximal ao punho indicam
e intrínsecos inervados pelo nervo ulnar, associada com comprometimento do nervo no canal de Guyon.
a avaliação das funções do nervo mediano, é importan- A ultrassonografia e a RM podem ser úteis quando
te para descartar lesões dos nervos espinhais C8 e Tl ou a ENMG não é conclusiva ou não permite localização
do plexo braquial. precisa da região da compressão. A ultrassonografia pode
Os testes provocativos também são importantes na demonstrar aumento do volume do nervo e alteração da
análise da compressão do nervo ulnar. Alguns testes são sua ecogenicidade. A RM pode ser útil em pacientes com
realizados durante o exame clínico, como pesquisa de si- quadro atípico e com suspeita de compressão por lesão
nal de Tinel no sulco retroepicondilar, realização do tes- secundária, como cistos e tumores.
te de flexão do cotovelo e pressão com palpação do ner-
vo. O teste da flexão do cotovelo consiste em mantê-lo Tratamento
em flexão máxima por um minuto com o punho em po-
sição neutra. O teste é considerado positivo quando oca- O tratamento da neuropatia compressiva do nervo
siona dor ou parestesia no território do nervo ulnar na ulnar inicialmente é clínico. O tratamento conservador
mão. O exame deve ainda avaliar sinais de atrofia na re- está indicado quando os sintomas são leves e intermiten-
gião hipotenar. tes e não há fraqueza muscular. Recomenda-se que os
pacientes evitem manter o cotovelo em flexão e como
Neuropatia ulnar na região do punho - síndrome apoio por período prolongado. Mudanças posturais, evi-
do canal de Guyon tar sobrecarga e movimentos repetitivos no cotovelo po-
dem também melhorar a sintomatologia nesses casos. A
Os sintomas decorrentes de compressão do nervo ul- utilização de uma toalha no cotovelo pode prevenir a fle-
nar na região do punho resultam em atrofia da mão e al- xão noturna indesejada que aumenta a compressão e pio-
teração de sensibilidade no 4° e 5° dedos. A lesão do tron- ra os sintomas.
co principal do nervo ulnar no canal de Guyon leva a
alterações de sensibilidade nos ramos terminais e compro- Cirurgia
metimento dos músculos da iminência hipotenar, todos
os músculos interósseos, o terceiro e quarto lumbricais, o A cirurgia está indicada na persistência dos sinto-
músculo adutor do primeiro dedo e o músculo flexor cur- mas e quando há comprometimento da sensibilidade e
to do primeiro dedo. A mão em garra na neuropatia do motricidade.
nervo ulnar no canal de Guyon é mais intensa em relação As principais técnicas utilizadas na cirurgia são a des-
à compressão na região do cotovelo por conta da função compressão simples e as técnicas de transposição do ner-
preservada do músculo flexor profundo dos dedos. vo. A descompressão simples, na qual o nervo é exposto
e liberado em todo o seu trajeto na região do cotovelo (Fi-
Exames complementares gura 4). A transposição do nervo ulnar é realizada após
a descompressão simples, com mobilização do nervo do
A ENMG é importante na avaliação complementar sulco retroepicondilar e deslocamento anteriormente para
dos pacientes com quadro clínico duvidoso. Esse exame a região do tecido subcutâneo ou inferiormente à mus-
1138 Tratado de Neurocirurgia

Figura 5 Dissecção em cadáver f ixado. Observa-se mais


Figura 4 Fotografia obtida de cirurgia demonst rando descom- superiormente o ramo profundo entrando na região do t únel
pressão do nervo ulnar na região do cotovelo. radial e, na parte inferior, o ramo superficial.

culatura flexora-pronadora. Pacientes que apresentam do nervo radial é infrequente, sendo descritas duas apre-
subluxação do nervo ulnar podem se beneficiar com a sentações clínicas importantes no antebraço: síndrome
transposição. A utilização da epicondilectomia medial é do interósseo posterior e síndrome do túnel radial. A
uma opção terapêutica e está indicada em casos selecio- compressão do ramo superficial do nervo radial também
nados, principalmente em compressões após fratura e em é descrita e conhecida como síndrome de Wartenberg. 13
alterações ósseas no epicôndilo medial.
Alguns autores relataram o uso da endoscopia como Síndrome do nervo interósseo posterior
técnica para descompressão do nervo ulnar na região do
cotovelo com bons resultados, mas as complicações des- A síndrome do nervo interósseo posterior é carac-
critas chegam a 30% em alguns estudos. 24 Em publica- terizada por compressão do nervo interósseo posterior
ção relatada por Ward e Siffri, seis pacientes necessita- na região em que o nervo se relaciona com o músculo
ram que a cirurgia fosse convertida para técnica aberta supinador no terço proximal do antebraço. O nervo in-
em uma série de 21 casos.24 terósseo posterior situa-se entre as camadas superficial
A maioria dos estudos demonstra resultados seme- e profunda do músculo supinador. A arcada de Frohse é
lhantes quando se comparam as técnicas de descompres- descrita como um espessamento fibroso da porção mais
são e transposição, mas maior índice de complicações proximal da camada superficial do músculo supinador
ocorre nas transposições. 5•27 Diante dos dados de litera- e é considerada um possível local de compressão do ner-
tura, a descompressão simples do nervo ulnar é a técni- vo na região. Outras causas ou locais de compressão in-
ca indicada para tratamento da compressão desse nervo cluem: bandas fibrosas; vasos radiais recorrentes; borda
na região do cotovelo. As transposições do nervo, sub- fibrosa do músculo extensor radial curto do carpo; bor-
cutânea ou submuscular, são indicadas em casos de re- da distal do músculo supinador 10•
cidiva ou em situações específicas como na presença de O quadro clínico é caracterizado por dor local asso-
alterações anatômicas da região. ciada a alterações motoras. Há fraqueza da extensão dos
dedos, mas a extensão do punho e a supinação do ante-
Nervo radial braço estão preservadas, pois os ramos do nervo interós-
seo posterior para esses músculos são emitidos antes da
O nervo radial é o ramo final do cordão posterior do compressão (Figura 5). 17 Os sintomas podem ser inter-
plexo braquial. Na região do braço o nervo cursa um tra- mitentes e relacionados à pronação do antebraço. 17 O tra-
jeto espiral ao redor do úmero seguindo de posterior para tamento inicial é clínico com utilização de anti-inflama-
anterior. 13 No antebraço segue anteriormente dividindo- tório, repouso articular e modificação de atividades
-se em ramo superficial e profundo. O ramo profundo, físicas. A cirurgia pode ser realizada na falta de respos-
ou nervo interósseo posterior, passa inferiormente ao ta ao tratamento conservador e consiste na secção de
músculo supinador (Figura 5). O ramo superficial rela- eventuais estruturas responsáveis pela compressão do
ciona-se com o músculo braquiorradial. A compressão nervo na região. 13
106 Síndromes compressivas de nervos periféricos do membro superior 1139

Síndrome do túnel radial

A síndrome do túnel radial suscita ainda controvér-


sias na literatura, pois alguns autores questionam sua real
ocorrência. Nos casos suspeitos, a compressão pode ocor-
rer no nervo radial ou no interósseo posterior. O moti-
vo principal pelo qual a existência dessa síndrome é ques-
tionada é sua caracterização clínica, pois trata-se de
síndrome dolorosa subjetiva sem comprometimento mo- Figura 6 Fot ografia cirúrgica em um caso de compressão do
tor. Qualquer fraqueza que eventualmente é identifica- ramo superficial do nervo radial. Houve necessidade de des-
da pode ser creditada à dor e os estudos eletrofisiológi- compressão do nervo com melhora dos sintomas. Neste caso,
f oi rea lizada ressecção de parte da fáscia que compri mia o
cos são negativos.
nervo.
O túnel radial é definido pelo local de passagem dos
nervos radial e interósseo posterior na fossa cubital e re-
gião proximal do antebraço, incluindo o trajeto do ner- SÍNDROMES COMPRESSIVAS RARAS
vo interósseo posterior no interior do músculo supina-
dor. Dentro dessa região o nervo interósseo posterior Algumas neuropatias compressivas mais raras po-
pode ser comprimido dinamicamente pelo movimento dem acometer os nervos do membro superior. A maio-
associado dos tendões de origem dos músculos extenso- ria dessas síndromes é baseada em relatos de casos e pe-
, .
res do punho e dos dedos e pelas outras causas já descri- quenas series.
tas na síndrome do nervo interósseo posterior. Em qual-
quer nível o nervo interósseo posterior pode ser Nervo supraescapular
comprimido por cistos, lipomas ou edema acentuado da
cápsula da articulação do cotovelo resultante de artrite A compressão do nervo supraescapular é uma sín-
reumatoide. drome bem conhecida, mas pouco frequente. Ocorre
Em geral, o paciente se queixa de dor na região pro- quando o nervo é comprimido na incisura supraescapu-
ximal e lateral do antebraço que piora com movimentos lar ou, mais raramente, na incisura espinoglenoide da es-
de pronação e supinação repetidos e diferencia-se da sín- cápula.13 O diagnóstico costuma ser tardio, pois a dor ge-
drome do interósseo posterior por não ocorrer fraque- ralmente não é relacionada à compressão do nervo. As
za muscular. 10 O tratamento inicial é conservador com causas mais frequentes de compressão são trauma, prin-
anti-inflamatórios, repouso articular e afastamento de cipalmente quando há luxação da articulação do ombro
atividades que cursam com movimentos repetitivos so- e fraturas da escápula, variações anatômicas no curso do
bre a região. 1º· 13 Apesar de controversa, a descompressão nervo, lesões extrínsecas como tumores ou lipomas, di-
cirúrgica é realizada na falha do tratamento conservador latações varicosas e cistos sinoviais. Em geral, o quadro
e associada com bons resultados em até 70% dos casos. é insidioso e cursa com dor no ombro de difícil caracte-
rização, profunda e difusa, preferencialmente nas regiões
Síndrome de Wartenberg posterior e lateral do ombro e braço. A dor pode irradiar
para a região cervical, ombro e para a região superior da
Essa síndrome ocorre pela compressão do ramo su- parede anterior do tórax. Nos casos mais graves há défi-
perficial do nervo radial. A maioria das compressões cit motor e atrofia dos músculos supra e infraespinho-
ocorre quando o ramo se direciona ao tecido subcutâ- sos. A ENMG deve ser realizada para confirmação diag-
neo do terço distal do antebraço após perfurar a fáscia nóstica.13
do músculo braquiorradial. Neste local, o nervo situa-se O tratamento inicial é conservador, a não ser que
no ângulo formado pelos tendões dos músculos braquior- haja déficit motor na apresentação inicial ou lesão ex-
radial e extensor radial longo do carpo. O movimento de pansiva identificada nos exames de imagem. A cirurgia
supinação aproxima esses tendões em um movimento também é indicada quando a dor é incapacitante. A des-
semelhante ao fechar de uma tesoura. Os pacientes apre- compressão pode ser realizada por via aberta com sec-
sentam parestesias na região dorsal radial do antebraço ção do ligamento e liberação do nervo. Alguns autores
irradiando-se para a face dorsal dos dedos 1 a III. Em ge- têm utilizado a descompressão assistida por endoscopia
ral, o sinal de Tinel é positivo no trajeto do nervo. O tra- com bons resultados e benefícios, como menor atrofia
tamento é clínico, sendo a cirurgia indicada em casos que dos músculos trapézio e supraespinhoso em compara-
não respondem ao tratamento conservador (Figura 6). 13 ção com a cirurgia tradicional aberta. 13
1140 Tratado de Neurocirurgia

Síndrome do pronador redondo durecida do músculo é descrita em alguns casos. O


exame pode demonstrar sinal de Tinel positivo sobre a
No cotovelo, o nervo mediano situa-se inferior à apo- localização do nervo mediano no terço proximal do an-
neurose biccipital e, a seguir, passa entre os dois ventres tebraço. Redução da sensibilidade pode estar presente e
do músculo pronador redondo; segue, então, profunda- inclui o território do nervo mediano na mão e na área
mente à arcada fibrotendínea que corresponde à origem relacionada ao ramo cutâneo palmar. O déficit motor é

do músculo flexor superficial dos dedos. O nervo me- incomum.
diano pode ser comprimido em qualquer parte desse tra- O momento operatório para o tratamento cirúrgico
jeto, caracterizando a síndrome do pronador redondo. é ainda controverso, pois alguns autores indicam obser-
As manifestações clínicas se caracterizam por alteração vação por pelo menos um ano antes de indicar a descom-
sensitiva na face palmar dos três primeiros dedos da mão, pressão cirúrgica.6 Na cirurgia é realizada a exploração
podendo haver diminuição de força da musculatura iner- do nervo mediano nos possíveis pontos de compressão. 6•1º
vada pelo nervo mediano no antebraço e mão, principal-
mente do flexor longo e abdutor curto do 1 dedo. Em al- REFER:SNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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