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A MÃES, PAIS E

RESPONSÁVEIS
PELOS LEITORES DIANTE DOS RECENTES ataques jornal para crianças e jovens
DO JOCA do Brasil, para com os assi-
ocorridos a escolas no Brasil,
nós nos preocupamos com a nantes e do compromisso de
reação de nossos leitores pe- os manter informados em mo-
rante notícias tão trágicas den- mentos de crise.
tro de um ambiente comum ao Por isso, retomamos aqui
dia a dia deles. Em virtude da um material elaborado em
brutalidade dos fatos, seguin- 2019, na ocasião do ataque
do a postura que já adotamos ocorrido na cidade de Suzano
anteriormente, tomamos a de- (SP), e, agora, atualizado pe-
cisão de não trazer o assunto rante o cenário do momento.
para os conteúdos direciona- Trata-se de um conteúdo di-
dos aos leitores. recionado às mães, aos pais
Acreditamos que a dimen- e aos responsáveis com o ob-
são da violência vista poderia jetivo de servir de apoio para
causar temor entre nossos lidar com a questão diante do
leitores se noticiada no Joca. questionamento que pode sur-
Não faz parte de nossa linha gir de crianças e jovens.
editorial a divulgação cons- O material a seguir foi ela-
tante e sistemática de temas borado com a colaboração de
que envolvem extrema vio- Natércia M. Tiba Machado,
lência, como os ataques em psicóloga clínica, psicotera-
ambiente escolar. No entanto, peuta de casal e família. Con-
temos ciência da nossa res- tato: nexuspsicologiaecompor-
ponsabilidade, como principal tamento@gmail.com.

SE A CRIANÇA não sabe o que está acontecendo e não teve


contato com as notícias, não leve o assunto para ela. Mas é
fundamental que os responsáveis fiquem atentos se, mesmo
sem ter tido contato com a notícia, a criança tem sentido um
clima diferente, de medo, por exemplo. “Muitas vezes, o que
não é dito é sentido. Caso perceba que a criança está sentin-
do que há algo diferente acontecendo, é importante que seja
conversado, que se confirme para ela a percepção de que há
algo diferente no ar. Nesse caso, a notícia deve ser colocada
de maneira genérica, sem descrição dos fatos, com uma fala
mais abrangente, mas que confirme que coisas muito tristes
aconteceram em escolas e que, com isso, os adultos estão
preocupados e pensando em como lidar”, explica Natércia.
CASO A CRIANÇA tenha tido contato com a notícia, é importante que se conver-
se para saber o que ela está sabendo e esclarecer eventuais mal-entendidos
ou fantasias que se misturam com a realidade. “As situações que ocorreram
recentemente são de difícil compreensão e elaboração por nós, adultos, ima-
gine para uma criança. Não seremos capazes de explicar por completo o que
houve, mas é importante dar espaço para a criança falar sobre o que esse as-
sunto suscita de emoções. É fundamental acolhê-la e, mais ainda, pensar com
ela em como ficamos e o que podemos fazer diante de situações de tristeza e
violência”, continua a psicóloga.

NO CASO DE ADOLESCENTES, é praticamente impossível que não tenham tido


contato não só com as notícias, como também com imagens dos crimes pela
internet e outros conteúdos sensacionalistas. “Toda essa divulgação inade-
quada de notícias e imagens propicia um contágio da violência e uma perda
de referência. Os adolescentes têm mais autonomia e independência do que
as crianças pequenas, e é necessário conversar e pensar com eles sobre os
acontecimentos e, principalmente, refletir de modo mais amplo, ajudando-os a
perceber que os fatos são porta-vozes de uma sociedade que cultua e bana-
liza a violência. Dentro, ainda, desta reflexão, é importante ajudá-los a pensar
sobre como vivemos, sobre os pontos da nossa vida em que há violência pre-
sente, mesmo que de forma lúdica. A maneira como vivemos e nos relaciona-
mos perpetua a violência ou favorece o amor e bem-estar social?”, questiona
Natércia para o trabalho de abordagem do assunto com os jovens.
Além disso, a especialista pontua que, como os adolescentes são muito reati-
vos, conversar sobre as possíveis medidas a serem tomadas a partir do ocor-
rido é muito importante. “Como respondemos a uma violência assim? Também
com violência ou devemos pensar e esperar que autoridades tomem atitudes
de prevenção que vão muito além das tragédias vividas nos últimos tempos?
Tudo o que houve pode abrir espaço para uma conversa profunda e reflexiva,
sem recriminações. Caso o adolescente só veja saídas usando a violência,
ajude-o a encontrar novos caminhos”, esclarece.
DEIXE UM CANAL ABERTO para que se fale mais sobre o assunto. “Às vezes,
as dúvidas e emoções vão vindo aos poucos, e é fundamental que as crianças
e os adolescentes se sintam à vontade para continuar a falar sobre o tema”,
indica Natércia. “Além da conversa sobre violência, cabe aqui uma importante
reflexão sobre como nossos filhos veem a escola e os professores. A escola é,
sim, um ambiente seguro de aprendizado e desenvolvimento. Momentos como
esses são exceções, situações trágicas, em geral provocadas por pessoas
doentes (psicopatas ou sociopatas) que acabam tendo sua violência reforçada
pelo tipo de cultura em que vivemos. Devemos ajudar nossos filhos a enxergar
nos professores figuras fundamentais de cuidado e sabedoria, que merecem
nossa admiração e respeito”, explica.

NÃO DEIXE A TELEVISÃO ou o rádio ligados em noticiários, especialmente os


que relatam muitos casos de crime e violência. “Eles não são adequados para
nenhuma criança, ainda mais quando se trata de tragédias como as que estamos
vendo agora”, ressalta Natércia. Além disso, tenha cuidado com o acesso a con-
teúdos em redes sociais, que podem não ser adequados para os mais jovens.

“A FORMA COMO OS PAIS reagem às dos os dias, é ameaçadora. “Não pode-


notícias interfere diretamente na reação mos reagir de modo a nos fechar e proi-
das crianças e dos adolescentes. Por bir nossos filhos de sair de casa. Não
mais difícil que esteja sendo a elabo- podemos colocá-los nesse lugar de pa-
ração de tudo o que está acontecendo, vor. Toda a nossa reflexão deve cami-
precisamos evitar reações histéricas e nhar no sentido de união e construção
exageradas, reações de cobrança de para uma sociedade melhor, lembrando
atitudes drásticas da escola, que farão que, para isso, todas as nossas atitudes
com que a criança ache que este é um contam”, conclui a psicóloga.
local ameaçador para ela. Este é um Sabemos que muitos dos nossos lei-
momento de mostrar o quanto o diálo- tores podem precisar de mais atenção,
go entre responsáveis e escolas pode apoio e solidariedade neste momento.
ajudar a pensar em como lidar com tudo Como sempre, sinta-se à vontade para
isso para que todos se sintam seguros. entrar em contato caso tenha qualquer
Vamos lembrar que não só os pais estão dúvida sobre como abordar o tema.
sofrendo, como também, principalmen-
te, os professores”, pontua Natércia.
Todos ficamos tristes e chocados com
os acontecimentos, mas não podemos
transmitir para as crianças a ideia de
que a escola, local para o qual vão to- EQUIPE DO JORNAL JOCA

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