Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
I624 Investigação defensiva / Coordenado por Bárbara Mo-
stachio Ferrassioli, Ronaldo dos Santos Costa. – Curitiba :
OABPR, 2022. (Coleção Comissões).
46 p.
ISBN: 978-65-89157-30-4
Vários autores
CDD: 341.433
IDEALIZADORES
COORDENADORES/REDATORES
Revisor
GUSTAVO ALBERINE PEREIRA
Membro da 11ª Turma do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PR
Diagramação e Capa
SOFIA VITÓRIA THOMÉ DA CRUZ SILVA
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS 09
OBSERVAÇÕES FINAIS 41
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O Provimento nº 188, aprovado pelo Conselho Federal da Ordem
dos Advogados do Brasil em 11/12/2018 e publicado no Diário Ele-
trônico da Ordem dos Advogados do Brasil no dia 31/12/2018, regu-
lamentou o exercício da atividade investigativa no âmbito da advo-
cacia, o que se denominou “investigação defensiva”.
9
Investigação Defensiva
Por se tratar de uma prática ainda não tão usual, até mesmo por
desconhecimento dos próprios operadores jurídicos, a postura ativa
do(a) advogado(a) na seara investigativa tem encontrado resistência
das autoridades atuantes na persecução penal, o que não deve de-
sencorajar o desenvolvimento ético da investigação defensiva pela
classe, senão apenas estimular o debate necessário em torno do
tema, ainda timidamente enfrentado pelos tribunais pátrios.
10
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
11
Investigação Defensiva
1 O QUE É
INVESTIGAÇÃO DEFENSIVA?
De acordo com o art. 1º do Provimento nº 188/2018 do Conselho
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, “compreende-se por
investigação defensiva o complexo de atividades de natureza inves-
tigatória desenvolvido pelo advogado, com ou sem assistência de
consultor técnico ou outros profissionais legalmente habilitados,
em qualquer fase da persecução penal, procedimento ou grau de
jurisdição, visando à obtenção de elementos de prova destinados à
constituição de acervo probatório lícito, para a tutela de direitos de
seu constituinte”.
2 QUAIS OS
MOMENTOS EM QUE A
INVESTIGAÇÃO DEFENSIVA
PODE SER REALIZADA?
O próprio Provimento nº 188/2018 do CFOAB contempla, em seu art.
2º, os momentos de cabimento da investigação defensiva dentro da
persecução penal, admitindo sua instauração “na etapa da investi-
gação preliminar, no decorrer da instrução processual em juízo,
na fase recursal em qualquer grau, durante a execução penal e,
ainda, como medida preparatória para a propositura da revisão
criminal ou em seu decorrer”.
12
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
4 O(A) ADVOGADO(A)
PODE CONTAR COM AUXÍLIO
DE COLABORADORES PARA
REALIZAÇÃO DOS TRABALHOS
DE INVESTIGAÇÃO DEFENSIVA?
Sim. Há previsão expressa no parágrafo único, do artigo 4º, do Pro-
vimento nº 188/2018 do CFOAB, no sentido de que o(a) advogado(a)
13
Investigação Defensiva
5 QUAL A FINALIDADE DA
INVESTIGAÇÃO DEFENSIVA?
O art. 3º do Provimento nº 188/2018 prevê um rol, não exaustivo, de
possíveis finalidades da investigação defensiva, a saber:
14
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
6 QUAIS OS FUNDAMENTOS
NORMATIVOS DA INVESTIGAÇÃO
DEFENSIVA?
Apesar da ausência de legislação específica até o momento, a in-
vestigação criminal defensiva retira fundamentos inquestionáveis
de validade dos princípios – e garantias – constitucionais da ampla
defesa e do contraditório (art. 5º, LV, CRFB). Para materialização
destes princípios, o próprio legislador constitucional assegura o
exercício da ampla defesa “com os meios e recursos a ela inerentes”,
no que se insere, por evidente, o direito à produção de provas des-
tinadas a infirmar a acusação ou a demonstrar o direito da parte
interessada.
15
Investigação Defensiva
Outro suporte normativo à investigação defensiva pode ser extraído
dos tratados internacionais de proteção de direitos humanos dos
quais o Brasil é signatário, notadamente a Convenção Americana
de Direitos Humanos (art. 8º, itens 1 e 2, “b”, “c”, “d”, “e” e “f’), as-
segurando, dentre diversas garantias judiciais, o direito do acusado
à preparação de defesa técnica com todos os “meios adequados”,
além do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (art. 14,
itens 1, 2 e 3, alíneas “b”, “d” e “e”), também assegurando a defesa
técnica do acusado com todos os meios necessários.
• Colheita de depoimentos;
17
Investigação Defensiva
18
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
8 É POSSÍVEL UTILIZAR A
INVESTIGAÇÃO DEFENSIVA
PARA SUBSIDIAR PEDIDOS
CAUTELARES NO PROCESSO
PENAL?
Sim. A reserva de jurisdição impõe ao advogado e à advogada, tal
qual ao Ministério Público e à polícia judiciária, o dever de requerer
autorização judicial para obtenção de determinados elementos de
prova.
9 O(A) ADVOGADO(A)
PRECISA DE AUTORIZAÇÃO DAS
AUTORIDADES PÚBLICAS PARA
PROMOVER INVESTIGAÇÃO
DEFENSIVA?
Não. A investigação defensiva insere-se no rol de atividades priva-
tivas da advocacia “compreendendo-se como ato legítimo de exer-
cício profissional, não podendo receber qualquer tipo de censura ou
impedimento pelas autoridades” (art. 7º, Provimento nº 188/2018,
CFOAB).
19
Investigação Defensiva
20
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
21
Investigação Defensiva
12 É POSSÍVEL A UTILIZAÇÃO
SOMENTE PARCIAL DOS
ELEMENTOS DE PROVA
COLETADOS EM INVESTIGAÇÃO
DEFENSIVA?
Sim. O(a) advogado(a) responsável pela investigação decidirá se o
resultado do trabalho investigativo será compartilhado – e em qual
extensão – com os demais atores da persecução penal. Evidente-
mente, o(a) advogado(a) não deverá juntar aos autos de inquérito
policial/procedimento investigatório criminal ou processo penal
provas incriminatórias que tenham sido eventualmente produzidas
em desfavor de seu cliente, sob pena de violação do princípio cons-
titucional da vedação à autoincriminação (art. 5º, LXIII, CRFB), além
de infração de deveres ético e de sigilo, impostos pelo instrumento
de mandato.
Isso não significa que o(a) advogado(a) poderá adulterar, editar, fal-
sear ou manipular as provas produzidas em investigação defensi-
va, o que pode configurar infração disciplinar (art. 34, XIV, da Lei
nº 8.906/94). Trata-se, em resumo, da faculdade (legítima) de o(a)
advogado(a) descartar o uso de provas incriminatórias ou desfavo-
ráveis ao seu constituinte, mormente porque a investigação defen-
siva, embora possa seguir uma linha imparcial de desenvolvimento
durante a coleta de provas, tem uma finalidade claramente parcial,
que não pode se distanciar do compromisso assumido pelo(a) advo-
gado(a) perante seu contratante, no sentido de sempre se valer dos
meios éticos e legais para melhorar a situação do cliente.
22
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
13 QUAIS OS ASPECTOS
FORMAIS DO PROCEDIMENTO
DE INVESTIGAÇÃO DEFENSIVA?
O Provimento nº 188/2018 do CFOAB nada dispõe a respeito da ado-
ção de uma determinada metodologia investigativa, não trazendo a
exigência de formalização e procedimentalização dos atos investi-
gativos em um “caderno” próprio de investigação defensiva.
23
Investigação Defensiva
14 É OBRIGATÓRIA A GRAVAÇÃO
AUDIOVISUAL DO DEPOIMENTO
COLHIDO EM SEDE DE
INVESTIGAÇÃO DEFENSIVA?
Não há qualquer menção à necessidade de gravação, no Provimen-
to nº 188/2018, tampouco existe vedação a tal formato. Cabe ao ad-
vogado analisar e decidir, portanto, em cada caso concreto, confor-
me critérios discricionários, qual o método que melhor atende aos
interesses de seu constituinte e a escorreita coleta da prova. Em se
optando pela gravação audiovisual do depoimento, importante que
se registre a voluntariedade do ato e a autorização do uso da mídia
24
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
15 QUAL A RELEVÂNCIA DO
USO DA ATA NOTARIAL NA
INVESTIGAÇÃO DEFENSIVA?
A ata notarial, prevista no art. 384, do Código de Processo Civil,
pode ser um instrumento interessante para atribuir presunção de
veracidade, por extensão da fé pública inerente à função do Tabe-
lião, a conteúdos extraídos de aplicativos de conversas em celula-
res, postagens realizadas em redes sociais e, até mesmo, decla-
rações prestadas na presença do notário, mitigando a disparidade
relacionada à ausência de presunção de legitimidade e veracida-
de dos atos praticados pelo(a) advogado(a) em comparação com os
atos de polícia.
25
Investigação Defensiva
26
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
17 A INVESTIGAÇÃO DEFENSIVA
E O RESPEITO ÀS GARANTIAS
CONSTITUCIONAIS DO
INVESTIGADO
Assim como ocorre na investigação pública, a investigação defen-
siva deve respeitar os limites legais e constitucionais na produção
e obtenção dos elementos de informação a serem colhidos. Em se
tratando do investigado ou acusado, devem ser observados, sobre-
maneira, o direito à não autoincriminação e o de fazer-se assistido
por profissional da advocacia, se assim o desejar.
27
Investigação Defensiva
18 A INVESTIGAÇÃO DEFENSIVA
POSSUI, COMO REGRA,
NATUREZA SIGILOSA?
Sim. O art. 5º do Provimento nº 188/2018 impõe ao advogado(a) o
dever de sigilo das informações colhidas, bem como da dignidade,
privacidade, intimidade e demais direitos e garantias individuais das
pessoas envolvidas.
28
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
19 QUAIS OS CUIDADOS
RECOMENDADOS QUANTO
À PROTEÇÃO DE DADOS NO
ÂMBITO DA INVESTIGAÇÃO
DEFENSIVA?
A Lei Geral de Proteção de Dados (Lei nº 13.709/2018) dispõe sobre
o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por
pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou privado,
tendo por objetivo proteger os direitos fundamentais de liberdade e
de privacidade, bem como o livre desenvolvimento da personalida-
de da pessoa natural.
De acordo com o art. 4º, inciso III, alínea “d”, essa Lei não se aplica-
rá ao tratamento de dados pessoais quando realizado para os fins
exclusivos de atividades de investigação e repressão de infrações
penais.
29
Investigação Defensiva
30
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
21 EXISTE PERSPECTIVA
DE PREVISÃO LEGAL
DA INVESTIGAÇÃO DEFENSIVA?
Uma das maiores críticas realizadas à iniciativa de investigação
criminal defensiva, atualmente disciplinada pelo Provimento nº
188/2018 do CFOAB, consiste na ausência de previsão legal. Ques-
tiona-se, em resumo, a criação da investigação defensiva por via de
provimento do Conselho Federal da OAB, por pretensa violação de
competência material da União para legislar em matéria processual
penal, além da ausência de regulamentação própria dos limites de
atuação do(a) advogado(a) no exercício investigativo.
31
Investigação Defensiva
32
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
22 JURISPRUDÊNCIA SOBRE
INVESTIGAÇÃO DEFENSIVA
Em que pese seja um tema bastante novo, é possível localizar al-
gumas decisões judiciais importantes a respeito da investigação
defensiva.
33
Investigação Defensiva
34
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
35
Investigação Defensiva
36
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
37
Investigação Defensiva
23 “INVESTIGAÇÃO DEFENSIVA” x
“INVESTIGAÇÃO CORPORATIVA”:
ASPECTOS GERAIS E DISTINTIVOS
Conquanto fuja ao escopo da presente Cartilha dissertar, em espe-
cífico, sobre investigações desenvolvidas no ambiente corporativo
– o que demandaria um trabalho aprofundado, dada a complexi-
dade do tema –, algumas ressalvas se mostram pertinentes neste
limitado espaço, a título de acréscimo, dada a confusão conceitual
revelada na prática.
Vale ressalvar que a investigação corporativa tanto pode ter seu uso
restringido ao ambiente empresarial (interno), a exemplo de uma
investigação que resulte no reconhecimento da prática de ilícitos
por colaboradores da empresa e seja concluída com uma reco-
mendação, do advogado(a) ao administrador, de demissão por justa
causa, quanto pode ser utilizada para mitigar a responsabilidade
administrativa do ente empresarial, a partir da celebração de
38
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
39
Investigação Defensiva
40
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
OBSERVAÇÕES FINAIS
As recomendações e sugestões apresentadas na presente Cartilha
não possuem caráter obrigatório, tampouco representam o posicio-
namento oficial da Ordem dos Advogados do Brasil a respeito das
questões abordadas, ostentando caráter informativo e explicativo,
tendente a auxiliar o(a) advogado(a) na condução da sua investiga-
ção criminal particular.
41
Investigação Defensiva
REFERÊNCIAS
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. RHC 40.875/RS, relator Mi-
nistro Marco Aurélio Bellizze, DJe de 2/5/2014. Disponível em: ht-
tps://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_regis-
tro=201303145374&dt_publicacao=02/05/2014.
42
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
43
Investigação Defensiva
LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal. 17ed. São Paulo: Sa-
raiva Educação, 2020.
44
Comissão da Advocacia Criminal - OAB/PR
STEIN, L. M., & Memon, A. (2006). Testing the efficacy of the cog-
nitive interview in a developing country. Applied Cognitive Psy-
chology, 20, 597–605. doi:10.1002/acp.1211.
45