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LEGISLAÇÃO

APLICADA À
COMUNICAÇÃO
SOCIAL - ÊNFASE EM
JORNALISMO

Rafael Sbeghen Hoff


Lei de Direitos Autorais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir direito autoral.


 Avaliar a tutela autoral na internet.
 Descrever a tutela autoral da obra jornalística.

Introdução
O direito autoral é o direito dos autores sobre as suas obras. As primeiras
discussões a respeito desse direito datam de meados do século XV, quando
constatou-se a necessidade de proteger a reprodução irregular de livros.
Atualmente, a tecnologia e a hiperconectividade têm se apresentado
como um dos principais desafios à proteção do direito autoral. Isso por-
que os diversos programas de edição que existem hoje facilitam que se
modifiquem conteúdos, com recortes e sobreposições, por exemplo.
Desse modo, rastrear os documentos originais e suas devidas autorias
se tornou mais difícil.
No Brasil, o art. 5º da Constituição Federal de 1988 prevê aos autores
“[…] direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas
obras” (BRASIL, 1988, documento on-line), enquanto a Lei nº. 9.610, de 19
de fevereiro de 1998 “[…] altera, atualiza e consolida a legislação sobre
direitos autorais e dá outras providências” (BRASIL, 1998, documento
on-line).
Neste capítulo, você vai ler sobre a história dos direitos autorais. Vai co-
nhecer os tensionamentos provocados sobre a tutela dos direitos autorais
a partir das tecnologias de informação e comunicação hiperconectadas.
Por fim, vai conferir as questões sobre direito autoral especificamente
ligadas ao campo da produção jornalística.
2 Lei de Direitos Autorais

1 Conceito de direito autoral


Nas civilizações grega e romana, os artistas eram reconhecidos e ovacionados
por suas criações literárias ou artísticas, em especial nas peças teatrais. Porém,
a defesa dos direitos autorais era ínfima e, com a lacuna deixada pela omissão
de penas à reprodução das obras sem autorização do autor (no máximo um
reconhecimento público do prejudicado e uma condenação da opinião pública
ao praticante), o plágio e a apropriação indébita eram comuns.
Havia as bibliopolas, organizações que disponibilizavam encadernações
de cópias feitas de forma manual por mão de obra escrava ou religiosa. Isso
ocorriam com a autorização dos autores, mas isso não significava que eles
detinham o direito sobre a ideia, porque entendia-se que não era possível
proteger algo imaterial. Berberi (2018, p. 19) explica que:

[…] os “frutos da inteligência” não podiam ser objetos de direitos; a criação


intelectual, na esfera estritamente abstrata não indica a possibilidade de uma
proteção legal. Para que se pudesse pensar em direito de propriedade sobre
algo, era necessária a transformação em corpus, ou seja, uma obra intelectual
teria que ser corporificada, formando uma coisa física.

Com a prensa de tipos móveis de Gutenberg (Figura 1), foi possível


reproduzir em larga escala as obras literárias, e os autores puderam vislumbrar
a possibilidade de viverem da venda de suas obras com a autoria assegurada.
Os livreiros, que na época se assemelhavam aos editores contemporâneos,
eram responsáveis pela reprodução das obras, acréscimo de ilustrações e
encadernações, bem como pela distribuição massiva das peças, enriquecendo
a partir delas.
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Figura 1. Prensa de tipos móveis de Gutenberg.


Fonte: The Áed (2015, documento on-line).

No século XV, atendendo às pressões dos editores e autores, foi editada


uma série de privilégios, indicando a necessidade de licença para a reprodução
dos livros, evitando cópias irregulares. Esses privilégios eram a garantia
dos empresários sobre os interesses econômicos relacionados às obras. No
entanto, os autores achavam que eram pouco valorizados financeiramente,
considerando que a indústria livreira estava crescendo cada vez mais. Berberi
(2018, p. 22) conta que:

A autorização dos autores para a publicação da obra restava ligada ao reco-


nhecimento da autoria e não à retribuição financeira por eles pretendida, pois
os impressores não repassavam — justo porque não lhes era obrigação —
parte dos lucros obtidos com a publicação. A concessão de privilégios sobre
obras artísticas era destinada exclusivamente aos livreiros a fim de garantir e
fomentar o comércio da impressão das suas obras. Ficavam os livreiros com
o monopólio desses direitos e a sua eventual defesa em tribunais.

Apenas em 1777 o rei Luís XVI editou uma série de leis que garantiam
ao autor o direito de editar e vender suas obras, além de diferenciar o direito
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perpétuo de autoria aos autores e o direito de exploração comercial por tempo


determinado aos livreiros. Esses decretos eram atribuídos apenas aos auto-
res literários, ficando de fora os compositores e dramaturgos. Em 1791, foi
editada a lei que garante a concessão dos direitos sobre a obra aos herdeiros
pelo período de cinco anos e, em 1793, a lei passou a abranger obras musicais
e teatrais, estendendo o período de concessão dos direitos aos herdeiros por
10 anos. É neste período que nasce a percepção moderna da importância da
autoria para a preservação de um legado e de uma distinção dos sujeitos no
âmbito artístico.
De acordo com Jungmann e Bonetti (2010, p. 39):

O direito autoral tem foco em interesses de caráter subjetivo, pois decorre


basicamente da autoria de obras intelectuais no campo literário, científico e
artístico, de que são exemplos: desenhos, pinturas, esculturas, livros, confe-
rências, artigos científicos, matérias jornalísticas, músicas, filmes, fotografias,
software, entre outros. O direito à proteção está relacionado com a criação da
obra e independe do registro formal, que é facultativo. Além disso, o direito
autoral protege, simultaneamente, a obra no território de todos os países
signatários da Convenção de Berna, da qual o Brasil faz parte.

O direito autoral abrange três instâncias: o direito de autor, os direitos


conexos e os programas de computador. Esse último protege as instruções
necessárias para que máquinas automáticas de tratamento da informação,
dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos possam funcionar.
Os direitos conexos estão vinculados à ideia de autoria colaborativa ou
contribuição de vários profissionais para a execução da obra. Também nesse
aspecto são protegidos os direitos dos interpretes ou executantes das obras,
os produtores mediante a execução, gravação ou veiculação das peças. Esses
direitos conexos são muito comuns entre a classe artística, principalmente
quando um letrista se encontra com um compositor para comporem juntos uma
música. Além desses, é corriqueira a contratação de musicistas para comporem
arranjos específicos para trechos ou versões de uma determinada música. A
cada contribuição dada pelos profissionais, novos contratos devem ser redigidos
preservando os direitos conexos desses que contribuem para a obra.
Por fim, o direito de autor é um “Tipo de proteção dada ao autor e suas
criações, que são chamadas de obras, expressas por qualquer meio ou fixadas
em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no
futuro” (JUNGMANN; BONETTI, 2010, p. 39). O direito do autor prevê
duas instâncias de proteção: o moral e o patrimonial. No direito moral, é
assegurado ao autor que seu nome (ou pseudônimo adotado por ele) seja
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vinculado à obra. Esse direito é inalienável, não pode ser apagado. Também
é intransferível, nenhuma obra pode ser doada ou vendida transferindo sua
autoria. O direito patrimonial é aquele que assegura ao autor a exploração
comercial da obra, ou até mesmo a sua transferência a outrem. É importante
salientar que o direito patrimonial pode ser comercializado e transferido, já o
direito moral (autoria), não. Esses direitos de autor são assegurados em todos
os países que fazem parte da Convenção de Berna.

Para saber mais sobre os tratados internacionais de defesa dos direitos autorais, pesquise
na internet “Convenção de Berna”.

O direito autoral não protege a forma subjetiva da ideia, mas a objetificação


dela em um suporte. Não basta, portanto, ter uma ideia e reivindicar a autoria,
é preciso transformá-la em algo palpável: um projeto, um texto, um áudio,
uma imagem, um vídeo. Só assim é possível registrar e assegurar sua autoria.
Segundo a Associação Brasileira da Propriedade Intelectual (ABPI, c2020,
documento on-line):

Uma obra autoral não precisa ser registrada para que esteja protegida. Mas
o registro facilita a garantia dos direitos autorais para problemas futuros na
esfera judicial. O registro pode ser feito em diferentes órgãos, conforme o tipo
de obra. As produções literárias em geral, científicas, artísticas, musicais e de
cinema são registradas na Biblioteca Nacional. Já as composições musicais,
em geral, na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
As artes visuais (desenhos, pinturas, gravuras, esculturas, etc.) na Escola de
Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Cartas geográficas,
mapas, projetos, etc. no Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agro-
nomia (CONFEA).

A legislação que define as premissas do direito autoral preconiza que todo


autor é detentor dos direitos morais e materiais sobre a obra a partir de sua
criação. O art. 5º da Constituição Federal brasileira de 1988, inciso XXVII,
prevê que “[…] aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publi-
cação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo
que a lei fixar” (BRASIL, 1988, documento on-line). De acordo com Berberi
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(2018, p. 29), a Lei nº. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, “Regula a matéria,


infraconstitucionalmente”.
Essa condição só pode ser modificada mediante contrato (instrumento
jurídico reconhecido por lei) para transferência dos direitos materiais. Porém,
existem situações em que a reprodução de obras protegidas pelo direito autoral
não constituem ofensa. Destas condições, algumas tocam diretamente o campo
jornalístico, tal como prevê a Lei nº. 9.610/1998 em seu art. 46 (BRASIL,
1998, documento on-line):

a) na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publi-


cado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados,
e da publicação de onde foram transcritos;
b) em diários ou periódicos, de discursos pronunciados em reuniões públicas
de qualquer natureza;
c) (suprimido deliberadamente por se aplicar o direito de imagem da Cons-
tituição);
d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de defi-
cientes visuais, sempre que a reprodução, sem fins comerciais, seja feita
mediante o sistema Braille ou outro procedimento em qualquer suporte para
esses destinatários.

Ainda em seu inciso III, a legislação permite que trechos de outras obras
sejam citados em livros, jornais, revistas ou outros meios de comunicação,
com o objetivo de estudo, crítica ou polêmica, desde que seja indicado o nome
do autor e a origem da obra (BRASIL, 1998). Isso permite e implica que o
jornalista cite suas fontes quando empregar trechos de outras obras em suas
produções.

2 Avaliando a tutela autoral na internet


A conexão mundial entre computadores ampliou exponencialmente o alcance
de arquivos compartilhados, assim como o volume de material a que se tem
acesso pela hiperconectividade de dispositivos e artefatos da cultura digital.
Além disso, programas de edição permitem a mistura, o recorte, a sobreposi-
ção, a modificação e a edição desses conteúdos, dificultando a rastreabilidade
sobre os arquivos originais e suas autorias. Esse é um dos principais desafios
à proteção do direito autoral na contemporaneidade.
O cunho econômico do direito autoral, previsto pela propriedade material
da obra ou invenção, mostra-se como propulsor da observância sobre a tutela
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do direito autoral por parte dos operadores do campo do direito. De acordo


com Peck (2002 apud HUNDERTMARCH; GREGORI, 2013, p. 7):

[…] a questão de propriedade intelectual é um desafio para o Direito há


muito tempo, uma vez que a não proteção destes direitos provoca verdadeira
paralisia na iniciativa de descoberta do novo, pois seu inventor ou autor não
poderá colher o fruto de seus esforços se suas obras forem copiadas e plagia-
das impunemente. Segundo a autora, o direito deve proteger o autor visando
a proteção da própria evolução da sociedade. Diante disso, verifica-se que a
proteção das obras intelectuais deve permanecer como alvo dos operadores
de direito, uma vez que a tutela das obras intelectuais acabam por servir de
incentivo aos autores a continuarem produzindo e como consequência disso, a
sociedade como um todo acaba por se beneficiar das pesquisas e informações
levadas ao acesso da população.

No entendimento dos legisladores, a tutela do direito autoral garante as


condições de incentivo e livre concorrência que alimentam o mercado e a
própria sociedade no mundo capitalista ocidental. Como descrevem Reis e
Pires (2010, p. 29 apud HUNDERTMARCH; GREGORI, 2013, p. 9):

Evidencia-se assim, uma conflituosidade sem proporções e de difícil solução,


em que de um lado tem-se o autor, que requer a tutela sobre as suas criações,
para que possa receber a remuneração pela utilização de seus bens provenientes
de seu intelecto, inclusive como meio de incentivo à criação; de outro lado
tem-se a coletividade que pretende continuar a se beneficiar das tecnologias
ora existentes para fins de acesso e difusão da informação e do conhecimento,
como meio de promoção do desenvolvimento da sociedade.

Alguns exemplos desses desafios ao direito podem ser encontrados nas


discussões relativas à proteção de páginas da web, links, criptografia de in-
formações, proteção sobre frames, ao comércio eletrônico e do uso privado
de conteúdos dispostos digitalmente na internet. Derivada dessa percepção
sobre o valor moral e positivo do compartilhamento de saberes (sob proteção
autoral) via rede mundial de computadores, emergem movimentos como o
de copyleft (em oposição ao copyright, ou direito de cópia). Inspirado no
movimento ciberpunk e hacker, o copyleft (e seus agentes) defende que todo o
conhecimento deve ser compartilhado e que a internet é o espaço privilegiado
para esse compartilhamento. “Os movimentos em favor do copyleft (software
livre), as plataformas colaborativas e as redes solidárias indicam um desejo de
praticar a interatividade criativa fora dos marcos mercantis e mercadológicos”
(RÜDIGER, 2011, p. 178).
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Segundo Soilo (2019), os desafios à defesa da propriedade intelectual e


do direito autoral foram amplificados com a crescente hiperconectividade
mundial. Soilo (2019, p. 113) afirma que:

[…] os arranjos de controle da propriedade intelectual se percebem impotentes


diante da miríade de composições sociotécnicas, tais como: a reprodução
massiva de conteúdo protegido por direitos autorais; a variedade de meios/
portais ‘piratas’ a disponibilizarem tais conteúdos; o crescente acesso à inter-
net no mundo; a dificuldade de identificação de agentes “piratas” por atores
interessados; e até mesmo dificuldade de identificação dos detentores dos
direitos autorais na internet.

É nesse contexto que a tutela do direito autoral se mostra insuficiente, a


partir da legislação vigente e dos mecanismos de proteção de que dispõe o
Estado, para dar conta das práticas comunicacionais na internet.
Ainda que seja difícil, a preservação dos direitos autorais na internet não
é impossível. Já existem, inclusive, decisões jurídicas em favor dos autores
nacionais que tiveram seu material furtado na rede mundial de computadores.
É o caso do fotógrafo que teve uma imagem utilizada sem sua permissão pela
Academia de Letras de São José dos Campos (SP), após publicá-la na internet.
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça condenou a entidade a pagar
uma indenização no valor de cinco mil reais ao profissional por danos morais.
A ministra Nancy Andrighi (STJ), relatora do caso, afirmou que:

[…] o fato de a fotografia estar acessível mediante pesquisa em mecanismo de


busca disponibilizado na internet não priva seu autor dos direitos assegurados
pela legislação de regência, tampouco autoriza a presunção de que ela esteja
em domínio público, haja vista tais circunstâncias não consubstanciarem
exceções previstas na lei (MOSCA, 2020, documento on-line).

Hoje, o papel de vigilância e preservação dos direitos autorais está nas


mãos do autores e não do Estado. Se, por um lado, essa perspectiva dificulta
o monitoramento e a preservação desses direitos, por outro, coloca em xeque
a versão oposta, em que há uma institucionalização de modelos de vigilância e
controle sobre o uso da internet por parte de órgãos reguladores e estatais, o que
implicaria em um cerceamento da liberdade de uso e expressão dos usuários.
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3 Tutela autoral na obra jornalística


Em uma coletiva de imprensa, vários jornalistas são reunidos em um mesmo
local para juntos dirigirem perguntas a um mesmo entrevistado. Todos os
profissionais presentes terão acesso, neste caso, às perguntas formuladas pelos
outros repórteres e também às respostas dadas pela pessoa questionada. O que
faz, então, uma cobertura jornalística diferente da outra se os dados são os
mesmos? Essa pergunta é dirigida, com frequência, aos iniciantes no campo
do jornalismo, sem que haja unanimidade sobre as respostas. Para encurtar
o processo, a diferenciação entre os conteúdos dos diferentes profissionais (e
veículos) se dará pela construção da notícia.
A edição é o nome dado ao processo de seleção, corte, hierarquização das
informações coletadas pelo jornalista para transformar dados (informação)
em reportagem (notícia). Além dos dados acessíveis a todos os jornalistas
presentes na coletiva, cada profissional vai construir seu material a partir
de experiências particulares, sensibilidade e aprofundamento sobre o tema
abordado, outras fontes de pesquisa, outras fontes entrevistadas, documentos
consultados, capacidade de transpor os conteúdos para a linguagem (suporte)
em que a notícia será veiculada, adequação ao tempo/espaço disponível, entre
tantos outros fatores. Como afirma Piccinin (2008, p. 14):

Contar uma boa história jornalisticamente implica em escolhas que pressu-


põem cortes, ênfases, omissões; enfim, operações que resultam de complexas
e sucessivas decisões em busca do tratamento e linguagem mais adequados à
narrativa. Ou seja, contar uma boa história é, sobretudo, editá-la, sejam em
qual for o suporte. O processo editorial da notícia, portanto, inicia-se pelos
desafios de escolher o que contar, e, a partir de então, como contar.

Já que as mesmas condições dificilmente serão repetidas em redações


diferentes, é natural que os conteúdos produzidos, ao final, sejam diferentes
e possuam marcas de distinção, como abordagem, trechos de entrevistas
utilizados, conexões entre ideias, suitagem, etc. Seja ela em texto, áudio ou
vídeo, ao final, a obra jornalística poderá ser caracterizada como resultado
do espírito criativo e sensível do jornalista e, portanto, protegida pela lei do
direito autoral.
Isso implica, em última instância, que o material deverá ser acompanhado
sempre do nome do autor. Além disso, a edição do material só poderá ser
realizada com autorização expressa (verbalmente ou por contrato) do autor do
conteúdo. Essa premissa do direito autoral garante a integridade do material,
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que poderia sofrer adaptações e cortes, comprometendo o trabalho realizado


e difamando a imagem do profissional.
Nas redações modernas, com a hiperconectividade e a possibilidade de
transmissão de grande volume de dados pela internet para qualquer lugar do
mundo, a comercialização de conteúdos jornalísticos já se tornou prática. As
redações passaram a funcionar como agências de notícias para veículos de
menor porte ou para empresas noticiosas de outros países. Como forma de
garantir a criatividade e a produção de conteúdos passíveis de venda por parte
dos jornalistas, em geral as redações partilham os lucros da venda do material
produzido com os autores. Essa distribuição dos dividendos funciona, na lógica
capitalista, como um incentivo aos profissionais para continuarem produzindo.
Entre as métricas estabelecidas para comercialização e remuneração desses
conteúdos está a extensão, a diversidade de linguagens (áudio, texto, fotografia,
vídeo), o impacto noticioso e o ineditismo.
A mesma lógica tem motivado os profissionais freelancers a produzirem
e comercializarem conteúdos derivados de projetos autônomos. Oferecendo
a diferentes veículos e suportes, o mesmo material pode ser comercializado
para vários veículos e/ou países (desde que expresso em contrato), ou mesmo
mantida a exclusividade (desde que os valores compensem). Seja qual for
o caso, a preservação da identidade do autor junto ao material veiculado é
protegida por lei em diferentes países. Isso significa que o jornalista tem o
direito de manter seu nome vinculado ao material, ainda que não exista relação
empregatícia entre o veículo e o profissional.
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ABPI. O que é propriedade intelectual? Rio de Janeiro, c2020. Disponível em: https://abpi.
org.br/blog/o-que-e-propriedade-intelectual/. Acesso em: 27 abr. 2020.
BERBERI, M. A. L. A arte após a morte do artista: sucessão hereditária e direitos autorais.
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25 abr. 2020.
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BRASIL. Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação
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www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm. Acesso em: 25 abr. 2020.
HUNDERTMARCH, B.; GREGORI, I. C. Direitos autorais: a necessidade de uma nova con-
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JUNGMANN, D. M.; BONETTI, E. A. Proteção da criatividade e inovação: entendendo a
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MOSCA, A. Z. Importante decisão do STJ sobre direito autoral e internet. [S. l.]: Jusbrasil, 2020.
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T.; SOSTER, D. A.; PICCININ, F. (org.). Edição de imagens em jornalismo. Santa Cruz do Sul:
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RÜDIGER, F. As teorias da cibercultura: perspectivas, questões e autores. Porto Alegre:
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SOILO, A. N. Habitando a distribuição do entretenimento: o regime de propriedade intelec-
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THE ÁED. Printing press: how the renaissance was caused (5 of 5). 2015. Disponível em:
https://jryantheaed.wordpress.com/2015/09/05/printing-press-how-the-renaissance-
-was-caused-5-of-5/. Acesso em: 27 abr. 2020.
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local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
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