Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ORTIZ Renato Cultura Brasileira e Identidade Nacional COMPLETO
ORTIZ Renato Cultura Brasileira e Identidade Nacional COMPLETO
Ortiz
2? edição
Colação Primeiros Passos
• O que é Cultura — José Luiz dos Santos
• O que é Cultura Popular — Antonio Augusto Arantes
• 0 que é Folclore — Carlos R. Brandão
• 0 que é Nacionalidade — GuiUermo Raú! Rubem
*
Revisão:
José W, S.
Moraes
José E. Andrade
índice
______________
Alienação e cultura: o
ISEB .............................................. .... 45
Estado autoritário e
cultura ............................... .................. 79
Bibliografia ..............................................................
......... 143
brasiliense
1
para o nível sociológico. É isso que possibilita conferir ao pen-
samento uma maior abrangência ao mesmo tempo que se pode
enxergar a realidade social e política com novos olhos. Não
creio que esteja propondo com isto uma leitura eclética de
autores de tradições diferentes, simplesmente sou daqueles
que pensam, como Marx e Durkheim (deixando de lado sua
inclinação positivista), que são tênues as fronteiras entre os
campos de conhecimento, e preferem buscar o entendimento
da sociedade dentro de uma perspectiva global.
Uma última palavra. Os estudos aqui reunidos resultam
em grande parte das discussões realizadas pelo Grupo de So-
ciologia da Cultura ligado à Associação Nacional de Pós-Gra-
duação e Pesquisa em Ciências Sociais. Os vários encontros
que fizemos para tratar do problema da cultura brasileira
contribuíram em muito para o amadurecimento de minhas re-
flexões. Evidentemente assumo a responsabilidade pelas posi-
ções que pessoalmente tomo ao longo de minhas análises, mas
clologie, Paris, PUF; Oeuvres, 3 vois.. Paris, Ed. Minuit; V. Turner, The Forest
of Simbols, Londres, Cornell University Press, 1977; C. Geertz, A Interpretação
das Culturas, Rio de Janeiro, Zahar, 1978.
Memoria coletiva
e sincretismo científico:
as teorias raciais
do século XIX
*
O que surpreende o leitor, ao se retomar as teorias expli-
cativas do Brasil, elaboradas em fins do século XIX e início do
século XX, é a sua implausibilidade. Como foi possível a exis-
tência de tais interpretações, e, mais ainda, que elas tenham se
alçado ao staíus de Ciências. A releitura de Sílvio Romero, Eu-
clides da Cunha, Nina Rodrigues é esclarecedora na medida
em que revela esta dimensão da implausibilidade e aprofunda
nossa surpresa, por que não um certo mal-estar, uma vez que
desvenda nossas origens. A questão racial tal como foi colo-
cada pelos precursores das Ciências Sociais no Brasil adquire
na verdade um contorno claramente racista, mas aponta, para
além desta constatação, um elemento que me parece signifi-
cativo e constante na história da cultura brasileira: a proble-
mática da identidade nacional. Gostaria de tecer neste capí-
tulo algumas reflexões em torno da relação entre questão ra-
cial e identidade brasileira. Acredito que privilegiando um
momento da vida cultural poderei talvez apreender alguns as-
pectos mais gerais das diferentes teorias sobre cultura brasi-
leira.
Tomemos como objeto de estudo alguns autores, como
Sílvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha. Esta es-
L
CULTURA BRASILEIRA E IDENTIDADE NACIONAL 15
14 RENATO ORTIZ
(2) E sugestivo que o cap. III do livro de Silvio Romero se intitule "A
(1) Sílvio Romero, História da Literatura Brasileira, Rio de Janeiro, José
Olympio, 1943.
Filosofia de Buckiee o atraso do povo brasileiro".
16 RENATO ORTIZ
CULTURA BRASILEIRA E IDENTIDADE NACIONAL 17
25
instintos agressivos”. “
os mesmos. Sempre que há uma classe ou uma agremiação
fluência é
tal que um autor como Oliveira Viana pode, em
plena
década de 20, desenvolver um pensamento fundamen-
tado nas
premissas racistas da virada do século.^ Fica porém
uma
pergunta: qual a razão de uma mudança tão radical, que
esclarecida.
ganização que
segue os moldes dos antigos Institutos Histó-
ricos e
Geográficos. Não há ruptura entre Sílvio Romero e Gil-
berto Freyre,
mas reinterpretação da mesma problemática
41
II
que até então se encontrava de maneira esparsa na sociedade. proposta pelos
intelectuais do final do século. Arthur Ramos
Ao se cantar o/ox-rror, o cinema, o telégrafo, as asas do avião, dizia que para
se ler Nina Rodrigues bastava trocar o conceito
o que se estava fazendo era de fato apontar para uma gama de de raça pelo de
cultura. A afirmação pode talvez parecer sim-
transformações que ocorriam no seio da sociedade brasileira. plista, mas
creio que encerra uma boa dose de veracidade.
Com a Revolução de 30 áS mudanças que vinham ocorrendo Gilberto Freyre
reedita a temática racial, para constituí-la,
são orientadas politicamente, o Estado procurando consolidar como se fazia
no passado, em objeto privilegiado de estudo,
0 próprio desenvolvimento social. Dentro deste quadro, as em chave para a
compreensão do Brasil. Porém, ele não vai
teorias raciológicas tornam-se obsoletas, era necessário su- mais considerá-
la em termos raciais, como faziam Euclides da
perá-las, pois a realidade social impunha um outro tipo de Cunha ou Nina
Rodrigues: na época em que escreyÇj as teorias
interpretação do Brasil. A meu ver, o trabalho de Gilberto antropológicas
que desfrutam do estatuto científico são ou-
Freyre vem atender a esta “demanda social’’. tras, por
isso ele se volta para o culturalismo de Boas. A pas-
Carlos Guilherme Mota, em seu livro Ideologia da Cub '■ sagem do
conceito de raça para o de cultura elimina uma série
tura Brasileira, considera que os anos 30 foram decisivos na ' de
dificuldades colocadas anteriormente a respeito da herança
reorienlação da historiografia brasileira. Partindo de um tes- atávica do
mestiço. Ela permite ainda um maior distancia-
temunho de Antônio Cândido, ele analisa três obras mestras mento entre o
biológico e o social, o que possibilita uma aná-
desse período: Evolução Política do Brasil, de Caio Prado Jr. lise mais rica
da sociedade. Mas, a operação que Casa Grande
(1933), Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre (1933), e e Senzala
realiza vai mais além. Gilberto Freyre transforma a
Rcízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda (1936). A negatividade do
mestiço em positividade, o que permite com-
colocação, tal como está formulada, se tornou clássica. Eu me pletar
definitivamente os contornos de uma identidade que há
pergunto, no entanto, se ao considerarmos desta forma não muito vinha
sendo desenhada. Só que as condições sociais
estaríamos tomando o testemunho de um autor pela própria eram agora
diferentes, a sociedade brasileira já não mais se
explicação histórica. A meu ver, Sérgio Buarque e Caio Prado encontrava num
período de transição, os rumos do desenvol-
Jr. estão na origem de uma instituição recente da sociedade ' vimento eram
claros e até um novo Estado procurava orientar
brasileira, a universidade. Neste sentido eles são fundadores essas mudanças.
O mito das três raças torna-se então plausí-
de uma nova linhagem, que busca no universo acadêmico uma vel e pode se
atualizar como ritual. A ideologia da mestiça-
compreensão distinta da realidade nacional. Não é por acaso gem, que estava
aprisionada nas ambigüidades das teorias ra-
que a USP é fundada nos anos 30, ela corresponde à criação cistas, ao ser
reelaborada pode difundir-se socialmente e se
de um espaço institucional onde se ensinam técnicas e regras tornar senso
comum, ritüálmente celebrado nas relações do
específicas ao universo acadêmico. Gilberto Freyre representa < , cotidiano,
ou nos grandes eventos como o carnaval e o futebol.
0 ápice de unia outra estirpe, que se inicia no século anterior, que era
mestiço torna-se nacional.
m^s que, como veremos nos outros capítulos, se prolongou até Eu havia
afirmado anteriormente que a obra de Gilberto
hoje como discurso ideológico. Sérgio Buarque e Caio Prado Fre yre
atendia a uma “demanda social” determinada. Não
Jr. significam rupturas não tanto pela qualidade de pensa- quero com isto
estabelecer uma ação mecânica entre o autor e
mento que produzem, mas sobretudo pelo espaço social que sua obra. Tenho
clara para mim a observação de Sartre de
criam e que dá suporte às suas produções. Gilberto Freyre re- que se Paul
Valéry é um burguês, nem todo burguês é Valéry.
presenta continuidade, permanência de uma tradição, e não é
por acaso que ele vai produzir seus escritos fora desta institui-
ção “moderna” que é a universidade, trabalhando numa or- (5) Ver
Arthur Ramos, Le Métissage au BrésU, Paris, Hermann, 1K2.
42 RENATO ORTIZ
(6j Ver Lúcia Lippi (coord.), Bite Intelectuale Debate Político nos Anos
(7) Ver Ruben Oliven, Violência e Cultura no Brasil, Petrópolis, Vozes,
30, Rio de Janeiro, Ed. Fundação Getúlio Vargas, 1980,
e Claudia Matos, Acertei no MHhar: Samba e Malandragem no Tempo de
Alienação e
cultura; o ISEB
Roland
Corbisier costumava dizer que antes do movi-
mento modernista
o que tínhamos no Brasil era simplesmente
pré-história. A
afirmação, de inspiração hegeliana, mostra
como os
intelectuais dos anos 50 estabeleciam sua filiação a
uma corrente de
pensamento distinta daquela representada
por Sílvio Romero
ou Gilberto Freyre. Os isebianos, ao cons-
truírem uma
teoria do Brasil, retomam a temática da cultura
brasileira, mas
vão imprimir novos rumos à discussão. Vimos
como 0 conceito
de raça cede lugar ao de cultura, é necessário
agora
compreendermos como nos anos 50 o conceito de cul-
tura é
remodelado. Contrários a uma perspectiva antropoló-
gica, que toma o
culturalismo americano como modelo de re-
ferência, os
intelectuais do ISEB analisam a questão cultural
dentro de um
quadro filosófico e sociológico. A crítica que
Guerreiro Ramos
faz do estudo do negro realizado por autores
como Arthur Ramos
revela uma posição epistemológica dife-
rente daquela
proposta anteriormente. Categorias como
“aculturação” são
pouco a pouco substituídas por outras
como
“transplantação cultural”, “cultura alienada", etc. Se-
guindo os passos
da sociologia e da filosofia alemãs, Manheim
e Hegel, por
exemplo, os isebianos dirão que cultura significa
as objetivações
do espírito humano. Mas eles insistirão sobre-
tudo no fato de
que a cultura significa um vir a ser. Neste sen-
46 RENATO ORTIZ
CULTURA BRASILEIRA E IDENTIDADE NACIONAL 47
tido eles privilegiarão a história que está por ser feita, a ação
bitscheck se caracteriza por uma internacionalização da eco-
social, e não os estudos históricos; por isso, temas como pro-
nomia brasileira justamente no momento em que se procura
jeto social, intelectuais, se revestem para eles de uma dimensão
“fabricar" um ideário nacionalista para se diagnosticar e agir
fundamental. Ao se conceber o domínio da cultura como ele-
sobre os problemas nacionais. Por outro lado, o golpe de 64
mento de transformação sócio-econôraica, o ISEB se afasta do
encerrou, definitiva e autoritariamente, as atividades deste
passado intelectual brasileiro e abre perspectivas para se pen-
grupo de intelectuais.’ O que se propunha, portanto, como
sar a problemática da cultura brasileira em novos termos.
ideologia reformista da classe dirigente que procurava moder-
A leitura dos isebianos nos traz um misto de sentimento
nizar 0 país é estancado, e paradoxalmente no momento em
de atualidade e passado sem que muitas vezes saibamos nos
que 0 capitalismo brasileiro irá tomar uma força até então
situar de maneira segura no tempo. Quando, nos artigos de
nunca vista em nossa história. A crítica que Maria Sílvia Car-
jornais, nas discussões políticas ou acadêmicas, deparamos
valho Franco faz a Álvaro Vieira Pinto sobre sua concepção da
com conceitos como “cultura alienada”, “colonialismo” ou
alienação do trabalho é correta; “ ele certamente não percebe
“autenticidade cultural”, agimos com uma naturalidade es-
que, ao erigir a nação, como categoria central de reflexão, en-
pantosa, esquecendo-nos de que eles foram forjados em um
cobre as diferenças de classe e elabora uma ideologia que uni-
determinado momento histórico, e creio eu, produzido pela
fica capitalista e trabalhadores. Porém, apesar da justeza da
intelligentsia do ISEB. Penso que não seria exagero considerar
crítica, seria difícil argumentar que esta ideologia serviu de
0 ISEB como matriz de um tipo de pensamento que baliza a
algum modo para que se desse uma hegemonia da classe diri-
discussão da questão cultural no Brasil dos anos 60 até hoje.
gente no país. Para que isso pudesse ocorrer, seria necessário
O livro de Corbisier Formação e Problema da Cultura Bra-
que os trabalhadores intemalizassem a ideologia produzida; a
sileira é, neste sentido, paradigmático, pois desenvolve filoso-
própria história se encarregou de eliminar no entanto essa
ficamente uma argumentação que se tornou familiar nos meios
possibilidade. O golpe de 64 erradicou qualquer pretensão de
do cinema, do teatro, da literatura e da música.' Apesar de
oficialidade das teorias do ISEB, entretanto, curiosamente
alguns estudos recentes estabelecerem uma crítica profunda
esta ideologia encontrou um caminho de popularização que
da ideologia dos intelectuais isebianos, o trabalho de Caio Na-
ganhou pouco a pouco terreno junto aos setores progressistas
varro Toledo é pioneiro e abre uma perspectiva nova, perma- e
de esquerda. A meu ver esta é a atualidade de ura pensa-
nece um descompasso entre a realidade e a crítica, uma vez
mento datado, produzido por um grupo de intelectuais, mas
que os conceitos são articulados a nível político e a crítica é
que se popularizou, isto é, tomou-se senso comum e se trans-
sobretudo de caráter filosófico,’ Eu diria que o que é atual no
formou em "religiosidade popular” nas discussões sobre cul-
pensamento do ISEB é justamente que ele não se constitui em
tura brasileira.
“fábrica de ideologia” do governo Kubitscheck. Se de fato o
Na esfera cultural a influência do ISEB foi profunda. Ao
Estado desenvolvimentista procurou uma legitimação ideoló- me
referir a este pensamento como matriz, o que procurava
gica junto a um determinado grupo de intelectuais, não é me-
descrever é que toda uma série de conceitos políticos e filosó-
nos verdade que os avatares desta ideologia caminharam em
ficos que são elaborados no final dos anos 50 se difundem pela
um sentido oposto ao do Estado brasileiro. O período Ku-
sociedade e passara a constituir categorias de apreensão e
tão da consciência.
50 RENATO ORTIZ
CULTURA BRASILEIRA E IDENTIDADE NACIONAL 51
ISEB, 1960.
(11) Sobre a presença de Hegel na França consultar Mark Póster, Sxis-
52 RENATO ORTIZ
Ver
A. V, Pinto, cap. IV, "A Categoria de Totalidade", in Cons-
•^isncia
efíeahdadeNacional, op. c/f., vol. II.
(29) Corbisier, op. cZt, pp. 29-30.
60 RENATO ORTIZ
CULTURA BRASILEIRA E IDENTIDADE NACIONAL 61
*
tribais e a emergência de uma burguesia local. Incapaz de
apreender corretamente esta nova situação, ele chega inclu- Nosso
estudo comparativo nos permite retomar a proble-
sive a afirmar em suas críticas que “a vocação histórica de mática do
capítulo "Memória Coletiva e Sincretismo Cientí-
uma burguesia nacional seria de se negar enquanto burguesia, fico: As Teorias
Raciais do Século XIX”. a que Roberto
de se negar enquanto instrumento do capital para se tomar Schwarz se
referia como as idéias e suas viagens. Temos agora
totalmente escrava do capital revolucionário que constitui o um quadro mais
amplo que nos possibilita avançar algumas
povo”. O que é evidentemente um contra-senso. Porém, o conclusões sobre
a questão nacional. O primeiro ponto que
que permite a Fanon este contra-senso é sua própria concep- chama a atenção
é que os conceitos de situação colonial e de
ção de nação enquanto mito-utopia que realizaria integral- alienação são
preparados e difundidos durante os anos 50
mente as potencialidades do gênero humano. Quando ele per- (evidentemente a
origem hegeliana é anterior). Existe por-
cebe que a realidade não concretiza esse ideal, novamente se tanto uma
correspondência entre a assimilação e produção
coloca em um ponto futuro que age como referência para a dessas idéias e
o processo de descolonização que se realiza na
transformação social presente. Asia entre 1943
e 1951 e na África entre 1954 e 1963. No início
Os intelectuais do ISEB falam a partir de uma outra rea- dos anos 50, a
França sofre uma grande derrota na batalha de
lidade política e social. A nação brasileira não é algo que se
(42)
Roberto Campos, "Cultura e Desenvolvimento", in Introdução aos
Prob/emas do
Brasil, Rio de Janeiro, ISEB, 1956,
(41) Fanon, LesDamnés..., p. 96.
66 RENATO ORTIZ
CULTURA BRASILEIRA E IDENTIDADE NACIONAL 67
recuperam, sob
os auspícios do pensamento mannheimiano,
uma^wncepção
leninísta de vanguarda. Isto permite ao CPC
desenvolver toda
uma ideologia a respeito da vanguarda artís-
tica, e
compreender o tema da tomada da consciência dentro
de uma ação
politicamente orientada à esquerda.
É
importante porém sublinhar que a análise da ideolo-
gia do CPC deve
ser referida ao momento histórico a que cor-
responde. Dois
pontos me parecem fundamentais no que diz
respeito a este
período: 1) a efervescência política, que em
última instância
permitiu o desenvolvimento do CPC como
Da cultura desalienada ação
revolucionário-reformista definida dentro de quadros
artísticos e
culturais: 2) a ideologia nacionalista que trans-
à cultura popular: passa a
sociedade brasileira como um todo e consolidava um
bloco nacional
que congregava diferentes grupos e classes so-
o CPC da UNE ciais. A
proposta de organização da chamada “cultura popu-
lar’’ se insere,
portanto, dentro de limites precisos de um de-
terminado
momento histórico. Não pretendo porém, com mi-
nha reflexão,
reatuaiizar um movimento, que sem dúvida ne-
Gostaria neste capítulo de abordar um aspecto particu-
nhuma foi rico
em experiências, mas que a meu ver esgotou
lar do debate sobre a cultura brasileira, ou seja, a temática da
historicamente
sua própria razão de existir. O que me inte-
cultura popular. Para tanto, retomarei de maneira crítica uma
ressa é
compreendê-lo criticamente, e na medida do possível
experiência histórica concreta desenvolvida no Brasil entre os
trazer elementos
para uma análise atual do campo da cultura
anos 1962 e 1964: a ação do Centro Popular de Cultura, que
brasileira.
funcionou durante esse período junto à sede da União Nacio-
nal dos Estudantes, na Guanabara. O que é interessante na
experiência do CPC é que ela está teoricamente vinculada à Folclore e
cultura popular
filosofia isebiana, muito embora seja uma radicalização à es-
querda dessa perspectiva. Por exemplo, o conceito de aliena- Antes de
abordarmos a questão do CPC, seria interes-
ção terá em Marx e Lukács, e não mais em Hegel, seus repre- sante situar a
problemática da cultura popular em sua assimi-
sentantes principais. No entanto, a importância que os isebia- lação á noção de
folclore, estabelecida em particular pelos fol-
nos atribuíam ao papel do intelectual, sua ligação com o des- cloristas. Tem-
se assim, numa certa medida, uma visão mais
tino mais amplo do país, permitiu, a um movimento cultural abrangente do
problema da organização da cultura, ao mesmo
de inspiração marxista, estabelecer uma ponte entre tradições tempo que se
realça a originalidade do CPC enquanto movi-
teóricas que muitas vezes são apresentadas como contraditó- mento ideológico
na história da cultura brasileira. São inú-
rias. Para o ISEB os intelectuais têm um papel fundamental meras as
definições de folclore. Ela é enciclopedista para Sé-
na elaboração e na concretização de uma ideologia do desen- billot,
àurkheimiana para o 1 Congresso de Folclore (Rio de
volvimento; são eles que devem explicitar o processo de to- Janeiro, 1951),
psicologista para Câmara Cascudo.' Entre-
mada de consciência, e, por conseguinte, viabilizar o projeto
de transformação do país. Mas, quando autores como Guer-
^^^'^^^'■•l-'^^'^f'J^OraleetEthnOgraphie, Paris, 1913: Renato de
reiro Ramos ou Álvaro Vieira Pinto afirmam que sem teoria Cadernos de
Folclore, MEC. 1976; Cimara Cascudo, ÍVcw-
realidade social. ,.
uma necessidade histórica da burguesia européia.’ Para o au-
(12)
Carlos Estevam, op. cit., pp. 90-91.
(13)
Sebastião Uchôa Leite, "Cultura Popular; Esboço de uma Resenha
(10) Entrevista com Oduvaido Vianna Filho, Opinião, 29.7.1974. ,
Revista Civilização Brasileira, n? 4, set. 1965, pp. 269-289.
(11) Ver Carlos Estevam, op. at.,p. 90 (parte II). (14)
Ferreira Gullar, op. cit., p. 8.
76 RENATO ORTIZ
CULTURA BRASILEIRA E IDENTIDADE NACIONAL 77
.
inadequado na abordagem da problemática da cultura
para a grande massa. Basta observar-se o enredo de peças 7 jça
realidade, definir as manifestações populares
como o Auto dos 99%, ou músicas como Subdesenvolvido -falsa
consciência” implica necessariamente eleger-se
Canção do Trilhão zinho, para se perceber como se articula a
arWtrariamente valores da “veracidade” e de “autenticidade”
oposição de uma cultura nacional à cultura estrangeira. Di-
cultural. Fatos sociais, como o futebol, o carnaval, a religião,
versas manifestações culturais passam assim a compor o es- aue
dominam grande parte da vida das classes subalternas,
pectro de fenômenos considerados sob a classificação de "cul- são
desta forma hipostasiados em categorias que no fundo os
tura popular”; o cinema novo que reivindica a implantação de
concebem como epifenômenos. A análise da cultura se encerra
uma indústria cinematográfica nacional; o teatro que revalo- assim
num círculo vicioso. Um autor que rompe com as limi-
riza os temas brasileiros; as tradições populares regionais. No tações
deste tipo é Gramsci; com efeito, como já havíamos
que diz respeito às tradições folclóricas, pode-se apontar uma
(11 Sobre
a política de cultura do Estado ver; Octávio lanni, OE^adoe
a Organização da
Cultura", fnc. Ovihzação Brasileira, n? 1. julho 78; A. No-
vais, "O Debate
ideológico e a Questão Cultural", foc. Civilização Brasileira,
nf 12, junho 79;
J,-C. Bernardet, Cinema Brasileiro: Propostas para uma His-
tória, Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1979; J. M. Ortiz, "Cinema, Estado, Lutas
Culturais”, tese
de mestrado. São Paulo, PUC, 1982.
(21
Gabriel Cohn foi talvez um dos poucos pesquisadores que procura-
ram elaborar uma
análise do discurso governamental. Ver "A Concepção da
Política Cultural
nos Anos 70", Encontro sobre CuKura e Estado, IDESP, Sao
Paulo, ago.-set.
1982.
80 RENATO ORTIZ HF
CULTURA BRASILEIRA E IDENTIDADE NACIONAL 81
F
primeira vez na história brasileira, das diferentes
QUADR01
tura brasileira. “
(431 Ver Interpretação do BrasH, op. cit., onde o autor resume seu
(45) C. Guilherme Mota, Ideologia da Cultura Brasileira, São Paulo,
ponto de vista em relação à história do Brasil. Ática,
1977.
(44) Ibidem, p. 115.
(48) A. C. F. Reis, “Programa de Ação em Favor da Cultura", op. cit.,
p. 16.'
100 RENATO ORTIZ
CULTURA BRASILEIRA E IDENTIDADE NACIONAL 101
21,jul./ago. 1972.
(73) "INC Hora Primeira", Filme-Cultura, n? 5, jul.-ago. 1967.
112 RENATO ORTIZ CULTURA
BRASILEIRA E IDENTIDADE NACIONAL 113
(84) Ver documentos como: "Bases para uma polícia nacional Inte-
zaçâo. Poder-se-ia pensar que esta ideologia voltada para o
grada", doc. Interno, SEAC, s.d.p.; "O Desenvolvimento Cultural — Objeti-
público consumidor fosse característica de uma arte dispen-
vos”, doc. interno, SEAC, s.d.p.; "Diretrizes para uma Política Nacional de
diosa como 0 cinema, porém, quando Gustavo Dahl enuncia
Cultura", doc. interno, MEC, s.d.p.; "Encontro Nacional de Cultura", SEAC,
Rio
de Janeiro. 1977, e vários outros.
sumo dos bens culturais. Não é por acaso que a revista Cul-
uma visão dicotômica, se contrapõe à dimensão quantitativa
tura, órgão oficial do CFC, passa para as mãos do MEC, e que da
produção cultural. Da mesma forma que o INC critica o
logo após a divulgação do Plano Nacional de Cultura sofre
“esteticismo” do cinema novo, as instituições culturais gover-
uma reformulação no seu projeto gráfico e na sua linha edi-
namentais em sua crítica ao “elitismo” procuram dinamizar a
torial. O número 20 da revista abre com uma introdução do
esfera da distribuição e do consumo. Uma entrevista do dire-
ministro Ney Braga que sugestivamente se intitula “Cultura
tor da FUNARTE ilustra bem este tipo de ideologia: “Antes
para o Povo”. Na apresentação o ministro esclarece: "O lan- da
qualidade é preciso provocar, desenvolver o interesse pela
çamento da revista Cultura sob a nova forma que esta edição
manifestação cultural... Nossa política se baseia em dois as-
inicia responde a essa preocupação. Ela continuará saindo na
pectos principais. Facilitar as condições de trabalho e criar
sua forma originária, destinada a quem já procurava desde o
possibilidades de consumo deste trabalho. A nossa preocupa-
começo. E sem abandonar os velhos amigos (os intelectuais
ção maior não é com a qualidade do artista, mas com o acesso
tradicionais?) estamos aqui saindo em busca de novos, mais da
cultura ao maior número possível de pessoas”. O “acesso
numerosos e mais jovens de todas as classes sociais”. E refe- à
cultura” se apresenta pois como argumento ideológico es-
rindo-se ao primeiro ponto de uma política de cultura, o edi-
sencial, ele define o grau de “democratização” da própria so-
torial afirma: “O Ministério rejeita a tese de que a atividade
ciedade brasileira. Vários documentos oficiais insistem na ne-
criadora e a função de seus benefícios é privilégio das elites.
cessidade de se vincular o sistema de ensino ao desenvolvi-
Essa concepção corresponde a regimes sociais estratificados,
mento cultural; a escola é vista como um espaço importante
aristocráticos ou oligárquicos. Uma das manifestações mais de
formação de hábitos e de expectativas culturais, o que pos-
elevadas de qualquer regime que busca a democracia como
sibilita uma extensão do consumo. Ao se afirmar, por exem-
meta a atingir ou a realidade a aperfeiçoar é a da difusão das
plo, que o “homem brasileiro precisa se habituar a consumir
atividades culturais”. Os aspectos de difusão e de consumo
cultura em sua vida diária”,®’ o Estado se propõe, por um
dos bens culturais aparecem assim como definidores da polí-
lado, realizar uma potencialidade cultural do mercado consu-
tica do Estado, a eles se associa ainda a idéia de “democra-
midor, por outro assegurar uma ideologia de “democratiza-
cia”. O Estado seria democrático na medida em que procura-
ção” que concebe a distribuição cultural como núcleo de uma
ria incentivar os canais de distribuição dos bens culturais pro-
política governamental.
duzidos. O mercado, enquanto espaço social onde se realizam
O problema crucial que deve enfrentar o Estado para im-
as trocas e o consumo, torna-se o local por excelência, no qual
plementar uma política de difusão cultural diz respeito, po-
se exerceriam as aspirações democráticas.
rém, ao financiamento dos programas culturais. Como vere-
Dentro desta perspectiva, o consumo transforma-se em
mos mais adiante, a distância entre a ideologia e a realidade é
índice de avaliação da própria política cultural; um relatório
muito grande. No caso da indústria cinematográfica, apesar
sobre as atividades culturais do Estado dirá: “O rendimento
dos riscos, a conversão do bem cultural em um bem rentável
de uma política cultural se mede pelo aumento do índice de
está, de alguma forma, assegurada pelo consumo de massa. O
consumo e não pelo volume de iniciativas”. “ Novamente en-
mesmo não ocorre com as áreas atendidas por instituições
contramos a oposição qualidade/quantidade, mas o elitismo a
como a FUNARTE ou a Fundação Pró-Memória. Nesses ca-
que se referem os documentos oficiais das Secretarias de Cul-
sos, o retorno do capital aplicado não está imediatamente as-
tura diz respeito à qualidade, que, analisada em termos de
segurado. Os setores culturais do aparelho estatal têm. assim,
a
necessidade de convencer as outras áreas de influência de
(87) Ney Braga, "Cultura para o Povo", Cultura, n? 20, jan.-mar. 1976.
(88) Bases para uma Política Nacional Integrada de Cultura, MEC/
SEAC.
(69) Ver os documentos da SEAC, "O Desenvolvimento Cultural no III
Jrode -se
dizer que a relação entre a temática do popular
e do nacional é
uma constante na história da cultura brasi-
leira, a ponto de
um autor como Nelson Werneck Sodré afir-
mar que só é
nacional o que é popular. Em diferentes épocas,
e sob diferentes
aspectos, a problemática da cultura popular
se vincula à da
identidade nacional. Silvio Romero, precursor
dos estudos sobre
o caráter brasileiro, definiu o seu método de
trabalho como
“popular e étnico”, isto porque o conceito de
povo que
predominava junto aos intelectuais do final do sé-
culo XIX era o da
mistura racial, o brasileiro se apresentando
como raça mestiça.
Não é por acaso que Câmara Cascudo,
considera Sílvio
Romero como um dos fundadores da tradição
dos estudos
folclóricos, ele na verdade procura encontr^ na
cultura popular os
elementos que em princípio constituiriam, o
homem brasileiro.
‘ Os escritos de Gilberto Freyre retomam,
nos anos 30, as
mesmas preocupações dos intelectuais do final
do século. É bem
verdade que os argumentos racistas que
pontilham as
análises de Sílvio Romero, Nina Rodrigues e Eu-
clides da Cunha
são deixados de lado. Não obstante, o brasi-
(1) Câmara
Cascudo, op. cit. Ver também Basflio Magalhães, O Fol-
clore no Brasil,
Rio de Janeiro, 1939.
128 RENATO ORTIZ
Soviética que de uma certa forma retoma o problema que estamos colocando.
entre identidade nacional e Estado nacional; como vimos, so-
Refiro-me ao Proletkultur, movimento artístico e cultural que procurou desen-
mente desta forma poderia dar-se a libertação do homem afri-
volver logo após a revolução socialista uma "autêntica" cultura "proletária" no
cano. A literatura marxista nos fornece ainda um rico mate- país.
O que me parece importante sublinhar neste exemplo é que a busca de
uma
cultura proletária coincide com o nascimento do novo Estado socialista
rial para reflexão. É bem verdade que o marxismo clássico
soviético. Ver Bogdanov, La Science, L 'Art et la Classe Ouvrière, Paris, Mas-
demonstrou pouco interesse no estudo da problemática que pero,
1977; B. Arvatov, Arte, Produção e Revolução Proletária, São Paulo,
estamos considerando. A razão disto é talvez devida ao fato
Moraes Ed., 1977; S. Fiizpatrick, Lunacharskyy la Organiración Soviética de ia
Recife, Civilização
Ed. Alter-
nativa, 1978.
Os Brasileiros. Brasileira
1981.
dade. que é o ponto de referência para esta orientação polí-
Bastide, Roger, As
UNICAMP, Religiões
Dep. Africanas
mimeo.
tica, pode ser diversificada; por exemplo, ela é nacional, ét-
1971.Jean-Claude, Cinema Brasileiro: Proposta para uma História,
Bernardet,
nica ou sexual (no caso do movimento feminista). O que im-
Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979.
em Revista, n? 6,1980.
, Os Candomblés da Bahia, Rio de Janeiro, Ed. Ouro, s.d.p.
Saga, 1960.
As Ciências
Nogueira,
Sociais
Luiz,Malandros
___ Carnaval.
e os Política
“O Brasile Heróis.
e sua Rio
Problemas de Após-Guerra,
Rio de Janeiro,
de Comunicação”,
de Janeiro, Zahar, 1981.
tese de mes- Introdução
M. Diegues, à Sociologia no as
Centro de
CEB, 1944. Matos,trado. ECA,
Cláudia, USP, no
Acertei 1978.
Milhar: Samba e Malandragem no Tempo de
1957.
ÁTthoT, Le "Cinema,
MétissageEstado e Lutas Paris,
Hermann, mes-
Mendes, e junho 1979.
Desenvolvimento,
à Antropologia
Oliven.IBEAA,
Ruben,
1963.Violência e Cultura no Brasil, Petrópolis,
Vozes, 1982.
Petrópolis,
Brasil, Vozes,
Desenvolvimentista, RioPau-
de pio, 1943.
lo, IDESP,
Janeiro, ago.-set. Brasileira.
Civilização 82. 1980.
___ , Cantos Populares no Brasil, Rio de Janeiro, José Olympio, 1954.
Pereira
Mota, C. de Queiroz,Ideologia
Guilherme, M. Isaura, O Campesinato
da Cultura Brasileira,
SâoBrasileiro, Petrópolis, Vo-
um Projeto ti? de
3.
Investigação da Produção Cultural no Brasil",
Cadernos do CERU, 17, nov. 1979.
ago. 1965.
Schwarz, Roberto, Ao Vencedor as Batatas, São Paulo, Duas Cidades,
------ ,USP, n? 17,que
"Debate: set. 1982.
Caminhos Seguir?”, Revista Civilização
Brasileira, n?
Pessoa de Morais,
7, nov. 65. Tradição e Transformação do Brasil, Rio de
Janeiro, Ed. 1977.
Leitura,Abdias,
Nascimento, 1965. O Quilombismo, Petrópolis, Vozes, 1980.
, “Complexo, Moderno, Nacional e Negativo”, trabalho apresentado
Prado, Paulo, Retrato
Nina Rodrigues, R., do
AsBrasil, São Paulo, Anormaes.
Colectividades Brasiliense, Rio
1978.
1959.
Valle, Ed. e Queiroz, J. (org.), A Cultura do Povo. São Paulo. Cortez Ed.,
1979.
Viana. Oliveira, Evolução do Povo Brasileiro, São Paulo, Cia Ed. Nacio-
nal, 1938.
Revistas Pesquisadas:
— Movimento. UNE.
— Cultura, Conselho Federa] de Cultura.
— Boletim, Conselho Federal de Cultura.
— Revista de Cultura Brasileira. CFC.
— Cultura, Ministério de Educação e Cultura.
— Filme-Cultura, EMBRAFILME e Instituto Nacional de Cinema.
— Dionísios, Serviço Nacional de Teatro.
— Revista de Teatro, SBAT.
Biografia
o OUTRO LADO
DA A POLÍTICA DOS
OUTROS — O Cotidiano dos
Moradores da
Periferia e o que Pensam do
COMUNICAÇÃO
Poder e dos Poderosos
Massimo Canevacci
A partir da busca
do "espirito do cinema", dos seus
ILUSÃO ESPECUUm - Uma Introdução à mecanismos de
reprodução de estereótipos, e de toda
Fotografia mitologia que o
cerca, o autor lança nova luz sobre a
Arlindo Machado questão do
indústria cultural no capitalismo.
Através de um profundo estudo do código fotográfico,
são discutidos os conceitos de realidade e objetividade
atribuídos á fotografia, fazendo uma cntica dos seus
suportes ideológicos, de modo que se possa esclarecer
por que não podem existir sistemas significantes
neutros nem inocentes.
brasilíense
‘v.
Constituinte e
Democracia no Brasil hoje
Conhecidos intelectuais, políticos e jornalistas refletem, neste momento
histórico, sobre o futuro da democracia no Brasil. Textos de: Raymundo
Faoro, Ruy Mauro Marini, Cláudio Abramo. Paulo Sérgio Pinheiro, D.
Paulo Evaristo Arns. Severo Gomes, Fábio Konder Comparato, Dalmo
de
Abreu Dallari, Emir Sader (org.). Márcio Thomaz Bastos, Theotônio dos
Santos, Hélio Bicudo, Fernando Gabeira e Clóvis Rossi.
Leia também:
O QUE É CONSTITUINTE
Marília Garcia
O QUE SÃO DIREITOS DA PESSOA
Dalmo Dallari
O QUE É PARTICIPAÇÃO POLÍTICA
Dalmo Dallari
QUALÉ A QUESTÃO DA DEMOCRACIA
Denis Rosenfield
COMO RENASCEM AS DEMOCRACIAS
A. Rouquié, B. LamouniereJ. Schvarzer (orgs.)
OS DEMOCRA TAS AUTORITÁRIOS — Liberdades individuais, de
associação política e sindical na Constituinte de 1946
João Almino
EXPLODE UM NOVO BRASIL — Diário da campanha das diretas
Ricardo Kotscho
Itnpreaso