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PREFÁCIO

Honra-me, meu nobre e dileto amigo e discípulo Pr. Tony Bitencourt com a difícil mis-
são de prefaciar uma obra tão intensa e complexa, saída de sua lavra intelectual, já que meu
querido irmão é também um preparadíssimo mestre na arte de ensinar as verdades bíblicas,
de forma que nenhum discípulo seu sai vazio após uma de suas concorridas preleções.
Não sei se serei capaz de apresentar neste prefácio um veredicto a altura do escritor
que é o meu amado irmão. Tentarei, pelo menos.
Nestes últimos dias que vivemos nesta Terra, este período de tolas confusões teológi-
cas, Deus está restaurando na Igreja a mentalidade de Reino, e aqueles que estiverem em
sintonia, e conseguirem assimilar no seu espírito essas conexões, se moverão em tempos
acelerados no Governo de Deus.
DAS CINZAS AO SANTUÁRIO DE FOGO, é um livro rico e não é um tema fácil.
É preciso ter coragem para entrar neste campo onde vivem e sobrevivem muitas teorias e
muitas dúvidas.
Não é matéria para amadores. É tema para quem estudou o assunto e viveu e vive na
busca incessante pelo saber bíblico. O autor Tony Bitencourt tem vivenciado experiências
na sua caminhada pelos caminhos do conhecimento da Palavra.
Neste livro poderoso e cheio de revelações, o pastor Tony Bitencourt vai compartilhar
conosco um desses ensinamentos bíblicos que mudará nossa visão em relação às escolhas
que somos obrigados pelas circunstâncias da vida a fazer todos os dias.
O cristão é impulsionado diariamente a tomar decisões, algumas simples, outras mais
complexas, mas todas na condução de sua vida. E para isso é necessário estar alinhado
com o pensamento da Palavra de Deus que nos foi concedida justamente para termos um
padrão de vida excelente. Este livro nos ensina a ver essas coisas.
Todos os capítulos são profundos e tenho certeza de que aquilo que você vai ler nesta
obra dificilmente encontrará em outras publicações que tratam deste tema, porque grande
parte dos teólogos e mestres no ensino bíblico costumam fugir de questões que não pes-
quisam com profundidade.
Para entregar um livro deste porte aos leitores, o pastor Tony Bitencourt foi movido
por uma ousadia sem precedentes. Não é qualquer escritor que se arrisca a tratar de um
tema que tem sido tão desamparado pelos mestres que circulam pelas Igrejas tratando de
temas superficiais sem se aprofundarem com coragem naquilo que realmente os cristãos
precisam aprender e viver.
Embora seja o seu primeiro livro, o Pr Tony Bitencourt estreia com felicidade e nos
traz esta publicação de excelência. Isto porque sendo ainda jovem, na pujança dos seus 37
anos, ele busca com zelo e esforço concentrado estudar as Escrituras Sagradas, examinan-
do-as em seu contexto original, para não confundir os leitores. Seus discípulos da igreja
Veredas de Vida em São José dos Campos, onde exerce seu ministério, serão abençoados e
edificados por tão nobre ensino.
E além de buscar e alimentar a comunidade onde pastoreia, o Pr Tony não se descuida
em continuar estudando para aumentar o conhecimento e crescer mais e mais na presença
do Eterno, por isso continua cursando a Citizens of Kingdom Christian University (CKC
- Localizada na Flórida, EUA). Muito inteligente da parte do meu querido amigo a forma
como nos apresenta sua abençoada busca pela Lei de Deus.
Parabéns ao autor pela coragem e determinação de organizar de forma didática os
ensinamentos e as revelações adquiridos pelas suas cuidadosas pesquisas e experiências
vividas ao longo do seu ministério. E, sobretudo meu amigo, parabéns pela coragem de
lançar uma obra tão completa e rica. Este livro trará uma renovação em nossa mente e
motivação necessária para a prática desses ensinamentos divinos, no nosso viver diário no
Reino de Deus.
Eu apreciei com alegria as ideias e considerações publicadas aqui neste livro. O autor
foi profundo em todos os aspectos, mostrando a riqueza do homem que decide viver na
dimensão das decisões que nos treinam para viver no Reino. Espero que todos aqueles
que tiverem o prazer de meditar nestas linhas descubram o melhor da vida cristã enquanto
vivermos nesta Terra. Parabenizo meu amigo e discípulo Tony Bitencourt por esta joia que
coloca em nossas mãos.

Apóstolo Victor Hugo Avilés


ÍNDICE

1 - Imagens de escultura e o homem caído

2 - As duas paternidades e seus propósitos

3 - Entendendo a fé com mais profundidade

4 - Edificando um santuário para Deus

5 - Detectando a visitação

6 - A Cruz de Cristo

7 - A ressurreição e o jardim da luz

8 - A limpeza do ramo
IMAGENS DE ESCULTURA
E O HOMEM CAÍDO

“Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra ou
nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o
Senhor, o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os filhos pelo pecado de seus pais até a terceira e
quarta geração daqueles que me desprezam.” Deuteronômio 5:8-9.

Para dar nosso primeiro passo, vamos a uma simples definição: o que é imagem de
escultura? Imagem de escultura, diferentemente do conceito tradicional e religioso ao qual
temos sido expostos, não trata apenas de uma simples imagem manufaturada pelo homem
em algum material, mas é algo que tem a sua origem dentro da mente humana, algo que dá
uma proporção mais profunda em relação ao assunto abordado pelo Senhor.
Qualquer coisa, antes de aparecer no plano físico, nasce através do seguinte processo:
pensamento, vontade, manifestação. E o que isso significa? Qualquer coisa que pensemos
precisa gerar uma vontade/motivação (seja boa ou má) e, dessa forma, no alinhamento de
ambos, a qual é manifestada para que todos possam ver.
O que o Senhor estava dizendo aqui era muito mais sério que a mera formação de
um boneco para a representação de algo. Deus sempre trata as coisas pela raiz. Sejam
nossas deficiências de caráter, crenças ou maus hábitos, ele “esquadrinha o coração”
(Jr 17:10), pois sabe que “dele procede as fontes da vida” (Pv 4:23). Neste caso, devido
à velha natureza do homem, oriunda da desobediência do primeiro Adão, proveniente
da árvore do conhecimento do bem e do mal, o que foi causando no ser humano
um desalinhamento gradativo e cumulativo com relação ao Senhor, a motivação
ocorreu pelo oposto da fé: pela incredulidade. Em outras palavras, aquela imagem
nada mais era do que a expressão do que havia no coração do homem. Quanto a
isso, Paulo escreveu: “Tudo o que não provém da fé é pecado.” (Rm 14:23)Veja-
mos o Éden:

Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.
Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a
terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão”. Criou Deus
o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Deus
os abençoou, e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a
terra!”

Gênesis 1:26-28.

Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e so-


prou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente.
Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden, para os lados do leste; e
ali colocou o homem que formara. O Senhor Deus fez nascer então do solo todo tipo
de árvores agradáveis aos olhos e boas para alimento. E no meio do jardim estavam
a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal... Mas não coma da
árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente
você morrerá.”

Gênesis 2:7-9;17.

“Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens


que o Senhor Deus tinha feito. E ela perguntou à mulher: “Foi isto mes-
mo que Deus disse: Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim ?
Respondeu a mulher à serpente: Podemos comer do fruto das árvores do jardim, mas
Deus disse: Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem
nele; do contrário vocês morrerão. Disse a serpente à mulher: Certamente não morre-
rão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão
como Deus, conhecedores do bem e do mal. Quando a mulher viu que a árvore parecia
agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter
discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também.
Os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam nus; então juntaram folhas
de figueira para cobrir-se.”

Gênesis 3:1-7.

Em todo o capítulo 1 de Gênesis, Deus se revela criando o plano espiritual


e o universo. Palavra após palavra, tudo o que Deus dizia ia aparecendo, até
que chegou o momento de criar o homem. Enquanto que para todas as outras coisas
o Senhor falava e tudo se fazia, na vez do homem, dirigiu-se a Si mesmo: “Façamos o
homem”, e deu, também, em seguida, seu propósito com o auxílio de sua mulher: “Sede
fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra, sujeitai-a, dominai-a...”
Todavia, apenas em Gênesis 2 que as coisas terrenas (físicas) começaram a apare-
cer. Depois de fazer chover e preparar o jardim, foi formado o homem do pó da terra
e, pelo fôlego de vida do Criador, ele se tornou alma vivente. Ao ter plantado o jardim
no Éden, pôs nele o homem. Veja então o que veio a seguir:

“Do solo fez o SENHOR Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas
para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem
e do mal.”

Gênesis 2:9 (grifo do autor).

Para prosseguirmos, faz-se necessário que alguns pontos sejam destacados:


Note que o homem, em sua forma corpórea (bem como seu espírito e alma),
foi a última coisa criada. Curioso isso. Então, eu te pergunto: alguma vez você já
se questionou por quê? A resposta é bem simples, mas nem para todos é comum:
Deus tem seus meios e até mesmo suas lógicas (com frequência incompreensível
ao homem, devido a sua inteligência suprema), porém, por sua maravilhosa graça,
algumas vezes nos concede um pouco de compreensão. Não sei se o leitor é leigo,
ou se já tem algum entendimento espiritual, mas Deus determinou que o plano
espiritual regesse (governasse sobre) o natural. Por conta disso, Paulo escreve:

“Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois nele foram criadas
todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer
principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas.
Nele, tudo subsiste.”

Colossenses 1:15-17.

Perceba a maneira como o Espírito Santo guiou Paulo a escrever: céus e terra... visíveis
e invisíveis... Ele é antes de tudo... e João acrescenta ao relatar as palavras do próprio Jesus:

“Deus é Espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.”

João 4:24 (grifo do autor).

E Jesus acrescenta um pouco depois:


“O espírito é o que vivifica; a carne para nada se aproveita; as palavras que eu vos tenho dito
são espírito e são vida.”

João 6:63 (grifo do autor).

Observando estes três textos, não é exagero concluir que o espiritual (vida) sus-
tenta o natural. Acompanhe o meu raciocínio: vimos que em Gn 1 Deus foi falando
e “programando a sua criação”, através de suas palavras (que em Mateus 13:19 são
chamadas sementes), de modo que tudo teve a mesma origem. Deus disse e, em algum
momento depois, aquilo apareceu.
Como vimos anteriormente, Deus é Espírito e, sem esforço, damos razão a João
quando relatou Jesus, dizendo: as minhas palavras são espírito e vida - parafraseando
- origem, sustentação.
Agora quero que o leitor perceba que nem tudo apareceu “imediatamente pronto”
no plano físico, embora a palavra tornasse aquilo, da ótica de Deus, terminado no ins-
tante em que saiu de seus lábios. Veja:

“Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. E, havendo Deus
terminado no sétimo dia a sua obra que fizera, descansou nesse dia de toda obra que tinha feito.
E abençoou o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda obra que, como Criador,
fizera.”

Gênesis 2:1-3.

“Esta é a gênese dos céus e da terra quando foram criados, quando o SENHOR Deus
os criou. Não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois ainda nenhuma erva do
campo havia brotado; porque o SENHOR Deus não fizera chover sobre a terra, e também não
havia homem para lavrar o solo. Mas uma neblina subia da terra e regava toda a superfície do
solo.”

Gênesis 2:4-6 (grifo do autor).

Talvez você se pergunte: “Por que separou os trechos, se são sequenciais?”

Adianto-me esclarecendo que faço referência a dois momentos: o primeiro, para


mostrar que o SENHOR disse tudo o que faria; o segundo, para mostrar o que não
apareceu no plano físico imediatamente. Foi tudo uma espécie de processo. Deste
ponto em diante, vamos adentrar na formação do homem e sua relação com a ordem
criada, pois o fato dele ter sido feito “alma vivente” será investigado um pouco mais
a fundo como um espelho daquilo que Deus criou, para que ele governasse. Tenho
certeza que será uma viagem apaixonante. Está preparado?

O homem como alma vivente

“Mas uma neblina subia da terra e regava toda superfície do solo. 7. Então formou o
SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem
passou a ser alma vivente. 8. E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, na direção do
Oriente, e pôs nele o homem que havia formado.”

Gênesis 2:6-8.

Para o leitor leigo, quero informar que a única versão bíblica inspirada pelo Espíri-
to é a original: hebraica, para o velho testamento (VT), e grega, para o novo testamento
(NT). Daqui em diante, abreviarei esses nomes da forma como o fiz aqui. Cientes dis-
so, as traduções que temos, ainda que derivem do original, não devem ser considera-
das como inspiradas. Por isso, analisaremos algumas palavras nesses idiomas para nos
aproximarmos com maior precisão das intenções do Espírito ao inspirar seus autores.
Comecemos então pela palavra “neblina”. No idioma hebraico, é traduzida por
‘ed ade, que tem a mesma raiz de ‘uwd, no sentido de amontoar, juntar e significa tição,
marca de fogo, enquanto ‘ed ade significa vapor, neblina. Portanto, a ideia é de que a
neblina procede de uma terra quente.
Em seguida, destaco a palavra “regava” , traduzida por shaqah. Ela pode significar
algo como dar de beber, irrigar, beber, regar, levar a beber água. Por aqui, podemos
interpretar que a terra esfriava-se lentamente pelo vapor que subia, sendo o interesse
de Deus torná-la fértil e apta para formar o homem.
Preparada a terra, seguimos para o v7, com a palavra “formou”, yatsar, (que tem
em sua raiz outra palavra de mesma grafia yatsar). Esta segunda, como raiz, pode signi-
ficar atar, estar aflito, estar em aflição, estar apertado, estar restrito, estar escasso, estar
em dificuldades, tornar restrito, causar aflição, sitiar. A primeira yatsar é praticamente
idêntica à segunda, através do ato de espremer numa forma, e seu sentido principal é
formar, dar forma, moldar, podendo referir-se a atividade humana ou divina. Logo, é
possível concluir que Deus deu forma ao homem com as próprias mãos, retirando-o
de um ambiente de “aflição” (terra quente ou sob o fogo) e exercendo uma espécie de
“pressão” numa forma até atingir seu ideal. E até hoje, é “sob o fogo” que o Senhor
“conserta o vaso”. Interessante, não é mesmo?
Quero deixar uma informação preciosa, que raramente fica clara na versão traduzi-
da, a qual, ao observarmos o original, pode alterar toda ideia do texto. Enquanto no v6
a palavra traduzida por terra é ‘erets (mesma que Gn 1:1) significando ser firme, - terra,
toda terra (em oposição a uma parte), (como contrário de céu), solo, superfície etc., no
v7, “pó da terra” é outra palavra, ‘adamah, que vem de ‘adam aw-dam’ e tem derivação
desconhecida. Esta significa ser vermelho, enquanto a primeira significa terra; solo;
solo (em geral, lavrado, produzindo sustento); pedaço ou porção específica da terra
(para edificação ou construção geral). Aqui concluímos que o homem foi formado do
pó de uma terra avermelhada (fértil, preparada). Você consegue perceber que apenas
traduzir como “terra” pode nos roubar informações preciosíssimas?
Finalmente, outras três palavras quero destacar: “Alma vivente e vida”. A pala-
vra hebraica para alma é nephesh, que pode significar alma, ser, vida, criatura, pessoa,
mente, ser vivo, entre outras definições. Procedente de naphash, que significa tomar
fôlego, reanimar-se. Para entender melhor a palavra “alma”, vejamos também a palavra
para “vida”, que é chay - vivente, vivo. Ela vem de chayah - viver, ter vida, permanecer
vivo. Há uma outra raiz primitiva semelhante, chavah - contar, declarar, mostrar, tor-
nar conhecido, e também o aramaico chava’ - mostrar, interpretar, explicar, informar,
falar, declarar. Agora combinando “vivente e vida” (que são as mesmas palavras no
hebraico), temos a definição de “alma” como ser vivo que respira, criado para contar,
declarar, mostrar, falar e interpretar a Deus (como imagem e semelhança) a partir de
sua palavra (Gn 1:26-27).

Um pouco mais sobre alma vivente

Enquanto Deus criava tudo em Gênesis 1, a última coisa que ele disse (em termos
da criação) foi: Também disse Deus: façamos o homem à nossa imagem conforme a nossa seme-
lhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos,
sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam sobre a terra. Criou, pois, Deus, o homem à
sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.
De resto, foram dadas apenas instruções sobre o propósito do casal, os mantimen-
tos tanto para eles quanto para os animais, e a satisfação que Deus teve em sua obra
terminada. Em seis dias fez tudo e, no sétimo, descansou.
Agora, a partir do início de Gn 2, vemos o “interior da terra” aparecendo
lentamente.

“Não havia nenhuma planta do campo na terra, pois ainda nenhuma erva do campo havia
brotado; porque o SENHOR Deus não fizera chover sobre a terra, e também não havia homem
para lavrar o solo. Mas uma neblina subia da terra e regava toda a superfície do solo.”

Gênesis 2:5-6.

E então, finalmente, o Senhor forma o homem do pó, como vimos anterior-


mente. Mas, agora, como alma vivente, existe algo que nos precisa ser esclarecido.
Eu trouxe todo este pano de fundo para que você, meu amigo leitor, não tenha ou-
tros questionamentos e encontre segurança na resposta da seguinte pergunta: Por
que o homem foi a última coisa criada, já que Deus o fez para dominar? E uma se-
gunda pergunta: O que isso tem a ver com ele se tornar alma vivente só em Gn 2?
Essas são duas excelentes perguntas. Então vamos lá. Deus nunca mudou,
nem jamais mudará. Jesus, o Criador do universo, é revelado a nós pelo autor de
Hebreus como sendo o mesmo ontem, hoje e sempre (Hb 13:8). Quando ideali-
zou o homem a sua imagem e semelhança, fê-lo com grande prazer, pois Deus é
completo e satisfeito em si mesmo. Ao planejar “alguém como ele” (o homem),
seu propósito era que o homem não apenas governasse, mas desfrutasse com o
seu Criador de tudo o que foi preparado para ele. Deus pensou no bem estar do
homem em todas as suas dimensões e ainda o privilegiou com a possibilidade de
desfrutarem juntos do que estava pronto. Portanto, Deus deixou tudo pronto para
que a satisfação do homem fosse completa.
Entretanto, como alma vivente, o homem foi criado em três dimensões: corpo
(físico), alma (pensamentos, vontades e emoções - identidade) e espírito (condição
necessária para comunhão com seu Criador, pois Deus é Espírito). A resposta da
segunda pergunta está intrinsecamente ligada à da primeira.
Como vimos há pouco, a alma é, em outras palavras, o meio de expressão do
homem. Foi exclusivamente criada para interpretar a palavra de Deus com varia-
ções de personalidade, já que é única e, sendo assim, revelar a beleza de Deus em
suas peculiaridades.
E aqui está o âmago da nossa resposta e a conexão que há com a anterior: a
alma foi a última coisa dada ao homem porque, enquanto Deus criava todas as
outras coisas, Ele a programava com as mesmas palavras criadoras; ou seja, o lado
externo (visível) da criação estava sendo impresso simultaneamente com a Verdade
de Cristo na alma do homem, de modo que, assim como o Criador via, o homem a
visse e, assim como Deus governava, também o homem governaria. E como Deus
governa e age? Falando!
Vou ilustrar de outra forma. Um homem desenvolve um mega computador
que funciona apenas pelo comando de voz de quem o programou. Embora outros
o vejam dando comandos simples como: “ligue-se agora” , “acesse a internet” e
o computador respondendo prontamente, ao tentar dar o mesmo comando, ainda
que imitando a voz do inventor, nada acontece. Contudo, o programador, dono
do mega computador, decide chamar alguns e compartilhar a sua voz com eles e,
quando eles começam a dar ordens ao mega computador, seu sistema de reconhe-
cimento entende que quem está dando a ordem “é o meu programador”, e logo
executa o seu comando.
Assim foi programada a alma do homem: pensamentos, vontades e emoções
estavam totalmente sincronizados com a Verdade de Cristo, de modo que qualquer
coisa criada se sujeitaria à voz do homem, já que continha a autorização do Senhor
para isto, reconhecida em toda ordem criada através deste alinhamento pleno do
íntimo do homem e da Verdade de Cristo. E este seria um processo contínuo de
aprendizado infinito através da comunhão com o Criador, que, a cada nova instru-
ção, dava ao homem uma programação extra de Verdade para executar e governar
por reconhecimento de sua autoridade espiritual sobre aquilo.

Investigando as profundezas do homem

O homem foi criado do pó da terra e o propósito de sua comunhão com o


Criador era, dentre outros, fazer dele um “terreno de Verdades eternas”, para que
pudesse cumprir a sua responsabilidade de cultivar a terra e, desta forma, prestar
culto a Deus. Era algo como “Deus planta no homem e o homem manifesta na
terra”.
Permanecendo na ideia do mega computador, leiamos Gn 2.9:

“Do solo fez o SENHOR Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis a vista e boas
para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem
e do mal”.

Neste ponto, toda atenção é crucial, pois são essas duas árvores as responsáveis
pelo futuro do homem, seu mundo (acontecimentos, decisões, força interior, convic-
ções e realizações) e propósito. Perceba que as árvores foram plantadas para alimento,
primeiro, e as outras duas, claramente, colocadas no meio do jardim por serem deter-
minantes. Veja o que Deus diz:

“Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden, para culti-
vá-lo e o guardar. E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás
livremente. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que
dela comeres, certamente morrerás.”

Gênesis 2:15-17.

Duas coisas ficam claras aqui: uma é árvore de vida e outra, a árvore de morte (por
implicação). É curioso observar também que as árvores começaram a brotar depois
que o homem tornou-se alma vivente. Por quê? Como comentamos anteriormente,
Deus é Espírito; e o homem, para governar o plano físico que Deus criou, precisava
ser programado espiritualmente primeiro, de modo que pudesse interpretar adequada-
mente as instruções espirituais de seu Criador em todas as esferas de sua alma: enten-
dimento, vontades e emoções; reforço aqui que isso era necessário porque o espiritual
rege o natural, de modo que o que há no interior do homem torna-se manifesto em
algum momento em seu exterior. Veja como o Senhor é detalhista:

“Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR Deus tinha
feito disse a mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respon-
deu-lhe a mulher: do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está
no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele para que não morrais. Então,
disse a serpente à mulher: É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que, no dia em que dele co-
merdes, se vos abrirão os olhos e, como Deus, serão conhecedores do bem e do mal. Vendo a mulher
que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento,
tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu. Abriram-se, então, os olhos de
ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si”

Gênesis 3:1-7.

Amigo leitor, o Espírito Santo narra que a serpente não era qualquer animal, mas o
mais sagaz (que, segundo o dicionário Priberam significa perspicaz, agudo de espírito)
que todos os animais selváticos (v1). Segundo os relatos bíblicos, esta foi a primeira vez
que algo que não fosse divino (Deus), ou humano, dirigia-se à raça humana, falando.
Leia o v1 mais uma vez e note que não foi iniciativa da mulher o diálogo, porém ela
aproximou-se o suficiente para ouvir a voz (especulo que ela estava comendo com o
homem da árvore da vida quando foi chamada).
Nos versículos 2 e 3, a mulher responde e acrescenta uma instrução preventiva
recebida do homem “nem tocareis nele”. Então, sob influência de Satanás, a mes-
ma voz que semeou dúvida no v1 passa a argumentar contra a palavra (Verdade) de
Deus e ainda tenta convencer a mulher de que a consequência não seria morte, mas
igualdade com Deus. Eu te pergunto, amigo leitor: desde quando uma criatura pode
estar acima de seu Criador? Impossível, não é verdade? Isso porque quem criou sabe
exatamente como funciona e não pode ser surpreendido por nada. Agora, o que fa-
ria a serpente falar com tal ousadia: “foi assim que Deus disse...” e também: “é certo
que não morrereis, sereis como Deus...”, se não pelo desejo que a derrubou do plano
celestial de “subir as mais altas nuvens e ser semelhante ao Altíssimo?” (Is 14:14).

Vejamos a resposta da mulher para a primeira pergunta, feita da seguinte maneira “Foi
assim que Deus disse?”:

“... disse Deus: dele não comereis, nem tocareis nele...”

Gênesis 3:3.

Criado antes do ser humano, Satanás já havia observado que a mulher lhe estaria
mais vulnerável, já que nunca havia ouvido a voz de Deus para lhe ser por discerni-
mento (Hb 4:12). Contudo, era necessária a construção de um pensamento que lhe
fizesse duvidar daquilo que Adão a havia instruído a não comer, nem a tocar a árvore.
Então a serpente decide atacar o caráter de Deus sutilmente, começando por insi-
nuar que o Senhor era mentiroso: “é certo que não morrereis...” (Gn 3:4). E acrescenta:
“Porque Deus sabe que no dia que dele comerdes, se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhe-
cedores do bem e do mal”. (Gn 3:5)
Com este comentário, ela acrescenta uma nova característica à imagem de
Deus que ela deseja construir na cabeça da mulher: Deus não apenas é mentiro-
so, mas também egoísta. Aos poucos a mulher começa a refletir, refletir um pou-
co mais... pensa no que ouviu de Adão, e talvez tenha raciocinado: “Mas eu nun-
ca havia pensado por este lado. Deus parecia tão bom. Por que ele não ia querer
que comêssemos do fruto? O que teria de mais nesta árvore? Seria muito interes-
sante mesmo ser como Deus, porém Adão disse que morreríamos se desobede-
cêssemos. Porém a serpente disse ter certeza de que não morreríamos. E agora?”

Qualquer ser humano que nunca tenha ouvido a voz de Deus (como Eva) fica com-
pletamente vulnerável às demais vozes do mundo (das circunstâncias, das dores, sen-
timentos, vontades, do diabo, etc.), e facilmente se deixa levar por aquela que mais lhe
influenciar naquele instante. Adão havia ouvido Deus sobre quais poderia comer
e qual não. Esse tipo de palavra direta da voz de Deus que foi descrita por Moisés
em Dt 8:3 e mencionada por Jesus em Mt 4:4, onde se lê: “Está escrito: Mas não só de
pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”, é traduzida no novo
testamento por Rhema, ou seja, palavra revelada. Em outras palavras, ela é fruto de
comunhão íntima com Deus, a qual lhe ensina as suas veredas de vida.
Em oposição a ela, temos a instrução passada por alguém (o que chamamos
de conhecimento comunicado). Embora Adão tivesse ouvido o Senhor, ao trans-
mitir a Eva este conhecimento, não lhe foi transmitida a revelação (conhecimento
gerador de fé) para a obediência, sendo apenas uma “informação intelectual”. Fa-
laremos disso pormenorizadamente mais adiante. Então a intenção de construção
de pensamento da serpente passou a influenciar por três portas naturais (físicas)
de Eva: o sentido da visão “agradável aos olhos”; o desejo de obter o “entendimento de
Deus”, proposto pela serpente, que entrou pela audição; e pelo paladar, porquanto
era “boa para se comer”... Dito de outra forma, sem a voz de Deus, não há discerni-
mento; Eva se deixou levar pelos sentidos naturais, que geram raciocínios – uma
mentalidade carnal que anula ação da fé. Então...

“Vendo a mulher que a árvore era boa, agradável aos olhos e árvore desejável para dar
entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao seu marido, e ele comeu.”

Gênesis 3:6.

Quando ambos provaram do fruto, um efeito cataclísmico ocorreu. Toda or-


dem criada sofreu grande impacto, pois a glória de Deus descobriu o ser humano
que, pela primeira vez, se viu nu (Gn 3:7). Desta nudez, veio o medo de Deus (Gn
3:10), fruto do engano (Gn 3:13). Dessa forma, Satanás atingiu seu objetivo de to-
mar a terra do homem para governá-la, quando este trocou de voz para obedecer,
abrindo mão de sua autoridade legal sobre a terra que, por sua vez, deixou de ser
capaz de reconhecer seu programa interior, pois este passou a servir à criatura em
vez do Criador (Rm 1:25). O efeito cataclísmico foi tão sério que, neste instante,
foram substituídos os fundamentos no coração do homem de fé e amor para medo
e incredulidade, a partir da troca de “senhor” ou “da voz guia”.
Como isto pôde acontecer? Para entendermos melhor, precisamos saber como
Satanás chegou a fazer o que fez e conhecer um pouco sobre o que havia em seu
coração naquele momento.
O veneno da serpente e a sua origem.

Já é incomum lermos que um dia houve uma serpente falante, quanto mais pensar
que sua inteligência e sagacidade (Gn 3:1) pudessem enredar a humanidade, como obra
prima do Criador. As Escrituras afirmam que a serpente é uma forma de se referir a
Satanás (Ap 12:9), o inimigo de Deus. Falarei resumidamente o que é dito a respeito de
sua origem. Um ser extremamente belo, querubim adornado em pedras preciosas. Ao
contemplar sua beleza, teve seu coração contaminado e sua sabedoria corrompida pelo
próprio resplendor, sendo expulso do céu, do monte de Deus (Ez 28:11-19). Chegou
a pensar consigo mesmo:

“Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da
congregação me assentarei, nas extremidades do norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei
semelhante ao Altíssimo.”

Isaías 14:13-14.

E é obvio que o Senhor tomou as devidas providências, expulsando-o com os


demais anjos que deram crédito às suas palavras e não guardaram seu estado original
(Jd 6). Todavia, expulso do Reino de Deus, Satanás precisava de um reino próprio para
estabelecer seu propósito. Enquanto isso, Deus vai e cria o ser humano à sua imagem e
semelhança (exatamente o que Satanás tinha em seu coração de se tornar!). E cheio de
engano – pensando que poderia ser como Deus e percebendo claramente que jamais o
seria – além de ódio, malícia e inveja, ele observa pacientemente a ordem criada e seus
governantes (Adão e Eva), procurando uma oportunidade para interferir no propósito
de Deus. A Palavra do Senhor diz que Satanás “anda em derredor, como um leão que ruge
procurando alguém para devorar” (1Pe 5:8) e, dessa forma, foi capaz de detectar algo muito
relevante para a implantação de seus planos malignos.
Ele percebeu que o Senhor havia feito Adão e se comunicado pessoalmente com
ele por um período; passado este tempo, fez o homem dormir e criou a mulher, po-
rém esta jamais foi vista em comunhão com Deus antes da queda segundo os relatos
bíblicos. Consequentemente, ela era uma “alma virgem” a ser modelada por quem
semeasse nela seus pensamentos e propósitos. Falamos disso há pouco, porém aqui
quero relatar o que foi gerado dentro do coração de Eva.
Talvez você me pergunte: “Mas por que saber sobre isso?” Precioso leitor, o nosso
Senhor “esquadrinha o coração” quando vai julgar o ser humano. Isso significa que,
para Ele, a atitude não é tão relevante quanto é a motivação. A maturidade espiritual,
à luz da palavra de Deus, dá-nos discernimento a respeito de nossas motivações, pois
são os fundamentos de nossas obras; por elas, no último dia, virão as recompensas
(galardões) ou os danos, segundo o julgamento de Deus sobre nossas obras, assunto
este que voltaremos a mencionar mais à diante.
Retornando ao nosso assunto: vendo a serpente que a mulher nada mais era que
uma alma virgem, passou a se comunicar com ela, transmitindo a Eva o veneno que
havia em seu coração (engano, ódio, malícia, inveja), coisa que Paulo fala de modo
interessante em Romanos (12:3):

“Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si
mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus
repartiu a cada um.”

Romanos 12:3 (grifo do autor).

Este veneno nasceu com o desejo de Satanás de ser como Deus ou, mais es-
pecificamente falando, ser seu próprio deus. Satanás desejou adoração e honra que
não lhe pertenciam; e isto não funciona (Pv 25:27). Tudo o que oferece oposição à
palavra de Deus é mentira, já que apenas a palavra de Deus é a Verdade (Jo 14:6);
curiosamente, a mentira é única coisa que Jesus atribui a paternidade a Satanás (Jo
8:44). E qual é o efeito da mentira (do veneno)? Ausência de confiança em Deus, ou
seja, incredulidade.
Tracemos um paralelo lógico: se a fé vem pelo ouvir, a incredulidade também;
se o ladrão vem para roubar, matar e destruir, isso nada mais é do que “distribuir
ou informar aquilo que não teve origem em Deus”, o que, no caso do Éden, foi a
distorção (ou negação) do que o Senhor disse, a transgressão da lei (1Jo 3:4). Por fim,
se não tem conexão com a lei de Deus, não há vida (Pv 3:1,17-18), e a ausência de
vida (ou morte) é o salário do pecado (Rm 6:23).
As palavras de Jesus são espírito e são vida (Jo 6:63). Por que o são? Exatamente
porque elas carregam e transmitem o que Ele é (Espírito – Jo 4:23:24 e Vida Jo 14:6).
Claro que o Senhor tem inúmeros outros atributos, mas por esses podemos tirar a
essência daquilo que quero passar, as quais se transferem pela nossa comunicação.
Logo, não é exagero concluir que tudo é uma questão de natureza: árvore boa dá
frutos bons, enquanto que a má, frutos maus.
AS DUAS PATERNIDADES
E SEUS PROPÓSITOS

Tentarei esclarecer ainda mais. Jesus, em algum momento, disse:

“Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo
fruto se conhece a árvore. Raça de víboras, como podeis falar coisas boas sendo maus? Porque a
boca fala do que está cheio o coração. O homem bom tira do tesouro bom coisas boas, mas o homem
mal do mau tesouro tira coisas más. Digo-vos que, de toda palavra frívola que proferirem os ho-
mens, dela darão conta no Dia do Juízo; Porque pelas tuas palavras serás justificado e, pelas tuas
palavras, serás condenado.”

Mateus 12:33-37

Nesse contexto, as pessoas estavam acusando-o de fazer o bem no sábado, inco-


modadas com a grandeza da Sua misericórdia que feria a tradição dos anciãos. Ainda,
acusaram-no de expulsar demônios por Belzebu, o príncipe dos demônios. Contudo,
Jesus abriu a perspectiva da chegada do Reino de Deus, o qual tinha ação direta do
Espírito de Deus. Agora, meu caro irmão, quero fazer um destaque. Jesus diz no v30:

“Quem não é por mim, é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha.”

Mateus 12:30E segue dizendo sobre blasfêmia contra o Espírito Santo. O


que isso nos mostra? Nossas palavras também fazem separação de Reinos!
Ou seja, se não falamos as palavras de Deus, nós não trazemos unidade, mas
divisão.
Agora podemos analisar o texto em destaque, começando pelo v33. Jesus se re-
fere a dois tipos de árvores; porém há uma curiosidade. Jesus não fala sobre plantar
árvores, mas sobre fazer. A palavra grega traduzida por fazer, segundo a concordância
Strong é poieo e pode significar ‘fazer (com os nomes de coisas feitas, produzir, construir,
formar, modelar, etc); ser os autores de, a causa’. Irmãos, isso é glorioso. Sabe o que Jesus
quis dizer? Que você pode ser o autor da sua realidade a partir do conhecimento dos prin-
cípios espirituais de Deus (Hb 11:3), podendo “comer” ou “desfrutar” de tudo o que disser
no seu presente futuramente. Com isso, Jesus fala de modo a trazer uma reflexão a eles,
comparando-os com árvores (coisa que eles já eram culturalmente acostumados – Sl 1 ; Jr
17:7-8) e reconhecendo suas realidades exteriores a partir de quem são (árvores e frutos).
Como Salomão escreveu:

“A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto.”

Provérbios 18:21.

Resumindo, a nossa natureza é revelada aos outros a partir do que fazemos e dizemos. E isto se
reflete também nas circunstâncias que vivemos. O hoje é a colheita do ontem. Veja como
Jesus prossegue: “Raça de víboras!” Então eu pergunto: Por que raça de víboras? Por que não
outro adjetivo? Nada está sem significado nas Sagradas Escrituras. Este adjetivo refere-se à
serpente que enganou Eva e fez de Adão seu filho:

“Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhes os desejos. Ele foi homicida desde
o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala
do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.”

João 8:44.

“Disse o SENHOR Deus a mulher: que isso que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente
me enganou e eu comi”.

Gênesis 3:13.

“Então disse ao homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore e eu
comi.”

Gênesis 3:12.

Paulo esclarece: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.”

Romanos 5:12.

E para finalizar com chave de ouro, outro texto acerca do Mestre, pouco depois de
Pedro ter recebido a revelação de ser Ele o Cristo, ao dizer que Jesus deveria ter compaixão
de si mesmo e não ir para a cruz. Note o que disse o Mestre:

“Mas Jesus, voltando-se disse a Pedro: Arreda Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço,
porque não cogitas das coisas de Deus, e sim dos homens.”
Mateus 16:23.

Aqui fica claro que o desejo natural da “autopreservação” alheia é bonito, e que Pedro
realmente não queria o mal do Senhor. No entanto, o propósito eterno de Deus envolve
momentos de grande sofrimento, à custa de perdas, ou até mesmo da morte em benefício
de muitos. Satanás utiliza-se do egoísmo dos homens para que, por meio das “fantasias de
bondade” (como o conselho de Pedro), os propósitos de Deus sejam frustrados.

E o que Satanás, a Serpente, e o Ladrão fazem?

“O Ladrão vem somente para matar, roubar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a
tenham em abundância.”

João 10:10.

Portanto, se a nossa vida se encontra um “caos”, é reflexo daquele a quem obede-


cemos, praticamos as suas obras (seja fazendo ou falando), de maneira a nos destruir e a
destruir também aos outros. Se Jesus é a Verdade, e Satanás é pai da mentira (oposto a Deus
– que espalha (Mt 12:30) obras infrutíferas (Ef 5:11 – Gl 5:19-21), um deles se manifestará
nessa realidade que estamos edificando; se na carne (falarei um pouco mais claramente
sobre ela logo) autorizamos Satanás a roubar, matar ou destruir cada área de nossas vidas;
ou Jesus, através da fé e da renovação da mente, concedidos a nossa nova natureza, poderá
redimir as nossas realidades, substituindo-as pelas do Reino de Deus, que é primariamente
estabelecido dentro de nós (Lc 17:20-21).

O antídoto para o veneno da serpente

“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte,
assim também a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram.”

Romanos 5:12.

Ao ser expulso do céu, Satanás agora necessitaria de “súditos”, para que seu Impé-
rio das trevas se estabelecesse no reino físico. E a porta de entrada que ele encontrou
foi “o engano do pecado”. Como já falamos anteriormente, ela é capaz de gerar no
homem a mais profunda rebelião, já que constrói fortes convicções e raciocínios que
resistem ao conhecimento da verdade. (2Co 10:4-5)
E isto é o que a bíblia chama de carne. Ela é 100% inimiga de Deus e não pode ser
vencida naturalmente, segundo o esforço pessoal. Para isso, é necessário poder:

“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber,
aos que creem no seu nome; aos quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da
vontade do homem, mas de Deus.”

João 1:12-13.

O que notamos aqui? Que o antídoto para tamanha rebelião foi a substituição de
natureza:

“E assim, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas antigas já passaram; eis
que se fizeram novas.”

2 Corintios 5:17.

Ou seja, Deus, em Cristo Jesus, transformou não apenas a natureza daquele quem
ouviu a palavra da fé (Rm 10:17), porém acrescentou, também, a possibilidade de se
viver uma nova realidade. Por outro lado, seria (é) necessária uma profunda renovação
mental através do desenvolvimento dessa nova natureza espiritual.

“Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito mor-
tificardes os feitos do corpo, certamente vivereis.”

Romanos 8:13.

“Ele nos transportou do império das trevas para o reino do filho do seu amor”

Colossenses 1:13.

A verdadeira guerra do nascido de novo


Enquanto a carne é filha do diabo, o espírito recriado nos dá condições de sermos
filhos de Deus. Entretanto, a salvação que este instante de novo nascimento nos traz
não é a conclusão, mas o início da obra de Deus em nós: ela quer nos ensinar a batalhar
pela nossa alma através da fé, algo que já mencionamos e nunca é demais reforçar. Isso
porque somos um ser composto de três partes: espírito, alma e corpo, conforme as
palavras escritas no Novo Testamento:

“O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam
conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.”

1 Tesssalonicenses 5:23.

Note que Paulo fala sobre uma espécie de santificação em três níveis: espírito (nos-
sa nova natureza – mentalidade), alma (responsável por interpretar as realidades espiri-
tuais ou naturais, de acordo com o espírito nela atuante. É também sede das emoções,
vontades, pensamentos), e corpo (tabernáculo de manifestação física do que é invisível
aos olhos). Por conseguinte, não se trata apenas de santificação, mas conservação na
integridade e irrepreensibilidade. Em outras palavras, não basta apenas alcançar, mas
manter-se em tal condição de santidade.
Introduzimos, então, a pergunta: Como isso acontece?
Veja como Deus analisa o homem:

“Porém, o SENHOR disse a Samuel. Não atentes para a sua aparência, nem para a sua
altura, porque o rejeitei; porque o SENHOR não vê como vê o homem. O homem vê o exterior,
porém o SENHOR, o coração.”

1 Samuel 16:7.

“Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a


cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto de suas ações.”

Jeremias 17:10.

É deste modo que somos avaliados diante do Pai. Portanto, a transformação (ou a
obra de Deus) inicia-se a partir do interior do homem, ou seja, de onde suas ações se
originam. Acompanhe as palavras de Ezequiel:

“Tomar-vos-ei de entre as nações, e vos congregarei de todos os países, e vos trarei para
a vossa terra. Então, aspergirei água pura sobre vós e ficareis purificados; de todas as vossas
imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós
espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o
meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis.”

Ezequiel 36:24-27.

Observe que o propósito inicial do Senhor em nossas vidas é nos dar um coração
novo, além de um espírito novo, a fim de que, pondo em nós o seu Espírito, andemos
em sua lei. Quanto a isso, o autor de Hebreus confirma:

“Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o
Senhor. Na sua mente imprimirei as minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e eu
serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.”

Hebreus 8:10.

E adiantando um pouco, o Senhor explica algo mais quanto a isso:

“Pois, para com as suas iniquidades usarei de misericórdia, e dos seus pecados jamais me
lembrarei.”

Hebreus 8:12.

Este último verso é essencial para aqueles que almejam ser aperfeiçoados por
Deus. A consciência de que o Senhor é fiel à sua palavra e que Ele ama a misericórdia.
Justamente por ter este caráter único é que podemos confiar naquilo que Ele diz. Leia
mais um reforço de conforto ao seu coração.

“Quem, ó Deus, é semelhante a ti? Que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão


do restante da tua herança? O SENHOR não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer
na misericórdia. Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades e lançará
todos os nossos pecados nas profundezas do mar.”

Miquéias 7:18-19.

Veja quão maravilhosas são essas palavras! O Senhor, nesta nova aliança em Cristo
Jesus, quer que tenhamos plena confiança, para que possamos caminhar rumo à matu-
ridade espiritual, recorrendo ao nosso mediador homem (1Tm 2:5) no trono dos céus.

“Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos


misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.”

Hebreus 4:16.
Como vimos, a partir do momento do nosso novo nascimento, a vontade do Pai é
que desenvolvamos a nossa salvação a partir da consciência da grandiosidade da obra
de Cristo que foi capaz de proporcionar este perdão eterno para os nossos pecados,
capaz de remover toda a condenação que o “coração velho”, com o auxílio do diabo,
tenta aplicar a nós pelo nosso passado ou pelas falhas em nossa caminhada. O “co-
ração novo” (a nossa nova natureza), à medida que se desenvolve, guerreia contra o
“velho” (velha natureza), disputando o controle das obras do corpo.

Alma x espírito

Muita gente, ao ouvir tratar do assunto de batalha espiritual, geralmente a associa


a anjos e demônios, ou a Deus e a Satanás, ou, às vezes, a todos eles. Todavia, há uma
verdade muito mais delicada que carrega este mesmo tema. A guerra interior de todo
filho de Deus, em que sua alma caída quer assumir decididamente o controle do posto
que nunca lhe foi de direito: o governo das decisões humanas, algo que Deus nunca
planejou para ela, mas sim ao espírito do homem, o qual foi recriado em Cristo Jesus
para reassumir sua posição, mortificando pelo poder da cruz a carne e as obras do dia-
bo. Paulo trata isso com profundidade e clareza, na carta aos gálatas.

“Digo, porém: Andai no Espírito e jamais satisfareis a concupiscência da carne. Porque


a carne milita contra o Espírito e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si; para que
não façais o que, porventura, seja do vosso querer.”

Gálatas 5:16-17.

Perceba que Paulo fala basicamente sobre uma guerra contra as nossas vontades.
Contudo, ele diz de uma forma que, embora esteja clara para quem lê este trecho den-
tro de seu contexto, para muitos ainda é motivo de confusão. No v16, ao dizer: “Andai
no Espírito e jamais satisfareis a concupiscência da carne”, não poucas vezes ouvi alguém co-
mentar que “temos que andar no Espírito e jamais fazer a vontade da carne”; porém não é disso
que Paulo está tratando. Ele está se referindo a uma forma de caminhar tão poderosa
que chega a destruir a vontade da carne. No grego, a palavra para carne é sarx e, em
sua etimologia (estudo da origem e formação das palavras), traz uma ideia próxima
a “um corpo que é removido de onde está, como a vassoura que varre o lixo, levado à força para ser
punido pelo juiz, por ter tomado para si algum tipo de responsabilidade que não deveria” ; ou, de
uma forma simplificada, “fazendo-se senhor de si, assumindo a posição de governo
que originalmente, era do espírito”.
A carne, portanto, pode ser considerada uma figura da alma não resgatada do cris-
tão, que é a sede dos pensamentos, vontades, sentimentos, entre outras coisas, ainda
não remodelados pela edificação pessoal. Em outras palavras, quando o homem é sal-
vo, muda-se a natureza alma vivente para espírito vivificante (1Co 15:45); porém este
não é o fim em si, conforme a igreja atual vem ensinando (salvo raras exceções), mas o
início da caminhada cristã! Quando o Senhor nos deu a fé, dentre as várias finalidades,
está aquela que foi definida por Pedro:

“obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma”.

1 Pedro 1:9.

A nossa alma é como uma “massa de modelar”, que foi exposta a influências di-
versas, as quais, por sua vez, moldaram o nosso sistema de crença. É por esta razão
que Paulo escreve:

“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este
século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus.”

Romanos 12:1-2 ( grifo do autor).

Conseguem notar a conexão? O texto anterior, o de Gálatas, fala de uma guerra


pelo âmago do ser humano: a vontade. Quem anda no Espírito vive um processo pro-
fundo de mortificação interior da nossa velha natureza:

“Assim também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita


na incorrupção, Semeia-se em desonra, ressuscita em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em
poder. Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo
espiritual. Pois assim está escrito: O primeiro Adão foi feito alma vivente. O último Adão, espírito
vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, e sim o natural; depois o espiritual. O primeiro homem,
formado da terra, é terreno. O segundo homem é do céu. Como foi o primeiro homem, terreno, tais
são também os demais homens terrenos. E como é o celestial, tais também os celestiais.”

1 Coríntios 15:42-48.

Veja que a questão agora envolve substituição de terreno para celestial. Este é o
processo de mortificação da carne. Isso explica Paulo usar, em Romanos 12, a citação
“... apresenteis o vosso corpo por sacrifício...”. Falaremos um pouco mais detalhada-
mente sobre este processo mais adiante; por enquanto, vamos nos ater sobre o acesso
à vontade do homem.
Acredito que a maioria das pessoas que adquiriram este livro tenha já, ao menos,
uma noção de que nosso Senhor Jesus Cristo viveu, desde o princípio, uma vida de
morte em benefício do ser humano. Embora Jesus tivesse uma inteligência emocional
magnífica (falo como sua forma humana), houve um momento em que as coisas co-
meçaram a tocar um pouco mais fundo o seu coração. Perto de ser entregue para ser
crucificado, ele orou:

“Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim
como tu queres... e outra vez: Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o
beba, faça-se a tua vontade.”

Mateus 26:39,42 .

Não citei a terceira vez, pois o texto em Mateus diz apenas que ele orou outra vez
repetindo as mesmas palavras. Mas, dando prosseguimento ao nosso assunto, qual é o
ponto-chave? “Não seja feito como eu quero, mas como tu queres...” O Pai se cala e ele insiste:
“Se não é possível, faça-se a sua vontade.” Foi neste instante que o peso da responsabilidade
do seu propósito se revelou. O Pai, que sempre lhe amou e amará eternamente, calou-
-se, permitindo que o Filho sofresse injustamente a severa penalidade pelos pecados de
toda a humanidade, a qual sequer merecia a visita do Santo e Perfeito Filho de Deus.
Finalizo este trecho com uma chave: o Amor de Deus não nos livra do sofrimento, pois todo
sofrimento tem o seu propósito.
Pelo exemplo de Cristo, percebemos que o resgate da alma tem início quando o
Espírito Santo guia nossos passos à cruz, como fez com Cristo:

“... muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu
sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus
vivo.”

Hebreus 9:14.

Onde foi que Cristo se ofereceu? Na cruz. Portanto, quando ele diz: “Eu sou o
caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.” (Jo 14:6), ele diz
“vem”, como quem nos chama a segui-lo. E a instrução é a seguinte:

“Dizia a todos: Se alguém quiser vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua
cruz e sigam-me.”
Lucas 9:23.

Ninguém naquela época tinha dimensão do peso dessas palavras; e o único que
usou de soberba dizendo: “Senhor, estou pronto para ir contigo tanto para a prisão quanto para
a morte.” (Lc 22:33) o negou três vezes (Lc 22:54-62). O que podemos extrair daqui?
A carne do ser humano (que simboliza a alma do ser humano modelada pelo sistema
mundano de pensamento) pode até ter boas intenções, porém não está preparada para
ir até o fim com a melhor delas. Veja as palavras do Mestre:

“Vigiai e orai para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas
a carne é fraca.”

Mateus 26:41.

E, ciente disto, nosso Senhor confirma:

“O espírito é o que vivifica; a carne para nada se aproveita; as palavras que vos tenho dito
são espírito e são vida.”

João 6:65.

Sendo assim, precioso leitor, notamos e podemos concluir que a alma do ser hu-
mano está modelada de uma forma antideus, ou seja, completamente contrária a ele.
E a solução foi o nosso Senhor ser crucificado. Mas não foi apenas uma morte vio-
lenta, como alguém querendo chamar a atenção. Em tudo, do nascimento virginal à
ressurreição, estava a manifestação de um propósito, que só se concluiu quando Jesus
tornou aos céus e se assentou como Deus-Homem, à destra de Deus Pai, como nosso
mediador. (1Tm 2:5)
Agora cabe a nós, como filhos, trilharmos o mesmo Caminho (de cruz), em busca
da Verdade (o poder da ressurreição) e da Vida (redenção da alma a partir da natureza
de espírito vivificante), e um dia nos achegarmos ao Pai como nosso Senhor mesmo o
fez. E tudo isso começa com o novo nascimento, que nos dá poder (graça) para con-
quistar a nossa alma através da fé. E, conforme houver progresso nesse caminho de
mortificação, cada vez mais será possível experimentar intimamente (por dentro) que
a vontade de Deus é boa, agradável e perfeita. (Rm 12:1-2).
ENTENDENDO A FÉ COM
MAIS PROFUNDIDADE

“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, convicção de fatos que não se
veem”.

Hebreus 11:1.

Vamos investigar algumas palavras-chave deste verso em seu idioma de origem.


Há revelações, no mínimo, bem interessantes aqui. Comecemos pela palavra certeza
“hupostasis”, que significa ato de colocar ou estabelecer sob; base, fundação. A segunda
palavra é convicção, “elegohos” (de elegcho – refutar, sentenciar; geralmente com implica-
ção de vergonha em relação a pessoa sentenciada; por meio de evidências condenató-
rias, trazer à luz, expor) verificação, pelo qual algo é provado ou testado. Analisando
esta etimologia, é possível entender que convicção é a verificação por meio de evidên-
cias condenatórias a respeito de que algo ou alguém serem uma farsa, expondo-o a
vergonha. Consegue ver que notícia maravilhosa?
No contexto de Hebreus, o autor está falando sobre a necessidade de perseveran-
ça daqueles que estavam sendo postos à prova, para que Deus pudesse cumprir a sua
vontade neles. A conquista de sua alma (Lc 21:19). Talvez você me pergunte: “Mas
como assim?” Essas pessoas estavam sendo provadas no (hupostasis – fundamento de
sua confiança [Hb 10:33]), de modo que, uma vez confirmado, as circunstâncias e
os inimigos por trás dela através da aprovação de Deus, o juiz de todos (Hb 12:23),
são condenadas, dando ao vencedor a manifestação da promessa, pois a sua alma foi
santificada (passou a concordar com Deus em pensamento e sentimento; ou seja, a
perseverança produziu um alinhamento com Deus).

A origem da fé

“E assim, a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo.”


Romanos 10:17.

Vamos ao original, novamente. Vimos o que é a fé à luz da palavra. Agora vamos


defini-la a partir do significado da palavra grega “pistis”. Leia com atenção: “pistis” é
a convicção da verdade de algo; no Novo Testamento, convicção ou crença que diz
respeito ao relacionamento do homem com Deus e com as coisas divinas (seus pen-
samentos e formas de agir, por exemplo), geralmente com a ideia inclusa de confiança
e fervor santo nascido da fé e unido com ela. Na etimologia, ainda temos a palavra
“peitho”, que significa persuadir. Quando condensamos ambas vemos que, em poucas
palavras, a fé é Deus, pela ação conjunta do Espírito e da Palavra, tentando nos con-
vencer a respeito de suas realidades, amadurecendo-nos para confiar nele e não mais
focar nos sentidos naturais, tais como: tato, olfato, paladar, visão e audição; mas nas
coisas “invisíveis” (que definiremos em breve quais são) porque são eternas. (2Co 4:18)
Nossa próxima palavra é “palavra de Cristo”. Mas, antes, cabe uma observação:
somente o idioma original é inspirado por Deus (grego para o Novo Testamento e
hebraico para o Velho Testamento). As traduções, devido à pobreza de significados
de certos idiomas, não podem trazer a intenção do Espírito ao leitor. Por isso, a me-
ditação na palavra é importante, bem como o estudo exaustivo para que alcancemos a
revelação.
Você, meu amigo e precioso leitor, talvez já saiba, mas me dirijo aos leigos agora.
Você sabia que há pelo menos duas palavras gregas que, no português, podem ser tra-
duzidas por “palavra”: Logos e Rhema?
Basicamente falando, Logos é o ato de falar ou dizer algo. Rhema refere-se ao que foi
falado, ou dito; um assunto específico, por exemplo. Porém ambos são traduzidos por
palavra, em português, sendo então Logos focado no ato de falar (verbo) e o Rhema no
assunto tratado. Talvez você se pergunte: “Que diferença faz?” Digo-te que faz toda
diferença.
Raciocine comigo: Cristo está fisicamente conosco? Claro que não. Mas Ele ainda
pode se comunicar conosco? Claro que sim. De que forma? Falando algo em nosso
interior (nossa nova natureza) e, desta forma, implantando em nosso espírito uma
nova instrução específica (Tg 1:21). Logos é o que Deus revelou a todos em sua Palavra
(bíblia), enquanto que Rhema é fruto de relacionamento, pois trata-se de uma trans-
ferência de vida de Deus para o seu filho que a recebeu, de espírito para espírito. O
Mestre falou sobre isso:

“Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda pala-
vra (Rhema) que sai da boca de Deus.”

Mateus 4:4.
O Senhor estava no deserto, com fome, sendo tentado pelo diabo, num ambiente
nada confortável e, como é comum em desertos, aparentemente sem saída. O que o
guiou? Sua fé ao ouvir da boca de Deus qual a palavra (Rhema) deveria confessar para
vencer e nela repousar seu coração até o momento do livramento.

Nascido do Rhema

Mais adiante tornaremos a romanos 10:17. A fé é um assunto bem mais complexo


e profundo e tem sido banalizado, pois Satanás conseguiu enganar as pessoas com
doutrinas superficiais (nem por isso mal estruturadas), levando as pessoas ao excesso
de ativismo ou ao excesso de estudo separado de uma vida proporcional de oração.
Homens e mulheres que não oram tornam-se endurecidos de alma, religiosos, com
espírito crítico muito superior à compaixão ou até destituídas desta. Mas foquemos em
nosso Senhor. O que aconteceu na mente de Cristo, quando Ele ouvir a orientação de
seu Pai?

“Mas ele (Jesus) lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Por isso,
pois, os judeus procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que
Deus era o seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus. Então, lhes falou Jesus: Em verdade, em
verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo senão somente aquilo que vir o Pai fazer;
porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz, e obras maiores do que esta
lhe mostrará, para que vos maravilheis.”

João 5:17-20.

Jesus, no contexto de João 5, havia acabado de curar no sábado. Leia novamente


o v19: “O Filho nada pode fazer de si mesmo senão somente aquilo que vir o Pai fazer”. Como
Jesus via Deus se Deus é Espírito? (Jo 4:24). No original grego, João usou a palavra
blepo, onde lemos vir. Entretanto, embora blepo priorize em seu significado literalmente
“ver com os olhos”, ela aceita um segundo sentido menos comum, com base no contexto
do evangelho, de ser uma metáfora para “ver com os olhos da mente.” Este é o efeito da
palavra Rhema, pois ela ilumina o nosso entendimento (Jo 1:9). Através dela, temos im-
plantado em nós a vida e o pensamento de Deus a respeito daquilo (assunto) e podemos
obedecê-lo fazendo o que Ele fez.
Mas, Tony, o que Deus fez? Ele criou, no interior de Cristo, uma nova realidade a
qual seus olhos naturais jamais poderiam contemplar; e, por ser no interior, ninguém ao
seu redor tinha ideia da perspectiva de Cristo a respeito das coisas que Ele fazia. E o que
Cristo fez? Pensando a partir do Rhema, o que Deus pensa, Ele se movimentou naquela
realidade, trazendo-a do plano espiritual (mente) para o natural (olhos), de onde todos
poderiam contemplar a sua revelação. Ou seja, Cristo lhe obedeceu, fazendo na terra o
que Deus lhe mostrou em mente. Aqui há outro segredo. A palavra Rhema procede de
Rheo que significa emanar. E Rheo tem outra palavra idêntica ligada a ela, Rheo, que, neste
caso, significa fluir. E aqui está a chave secreta que só a Rhema carrega. Quando alguém
a recebe, não se trata unicamente de ouvir e praticar uma instrução, mas há um fluir do
poder de Deus emanando daquele que o obedece. A permanência na obediência faz do
homem um verdadeiro adorador, pois ela nos une ainda mais ao Senhor (Jo 10:30), à me-
dida em que Deus vai renovando nossa mente, vontade e ainda dá ao Senhor a liberdade
de influenciar as pessoas e mostrá-las as suas gloriosas obras (Fp 2:13).
Você consegue perceber, ou ao menos ter uma ideia melhor da definição bíblica
de fé? Firme fundamento (hupostasis) e convicção (elegohos) de fatos que não se veem
(com olhos naturais, mas com a mente). E esta é a fé genuína! E só pode ser gerada
pela palavra Rhema, que sai diretamente da boca de Deus ou que é dita através de
homens que a ouviram antes de pregá-la. Paulo escreveu isso da seguinte forma:

“E, assim, a fé vêm pela pregação, e a pregação, pela palavra (rhema) de Cristo.”

Romanos 10:17.

Portanto, como falamos há pouco, no começo deste tópico, torna-se possível


detectar a causa da existência de uma fé deficiente: pouco ou nenhum relaciona-
mento com Deus, tanto do indivíduo quanto de grande parte dos pregadores da
atualidade.

A abrangência da fé no ser humano

“E, assim, se alguém está em Cristo, nova criatura é, as coisas antigas já passaram;
eis que se fizeram novas.”

2 Coríntios 5:17.

Para falarmos mais amplamente a respeito de sua abrangência e poder, é neces-


sário que comecemos pelo menos pressuposto citado no texto acima, com ênfase
em “... as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”. A versão King
James nos ajuda com sua tradução:
“Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação; as coisas antigas já passaram,
eis que tudo se fez novo”.

2 Coríntios 5:17.

Gosto desta tradução, porque aborda o novo nascimento e também a ampli-


tude do que se fez novo: TUDO! Você tem noção, querido leitor, da grandeza de
conteúdo desta palavra? Uma coisa sou eu ou qualquer ser humano dizer “tudo”,
pois nossa mente, ainda que extremamente inteligente, é finita. Agora, quando o
Senhor Todo Poderoso, criador dos céus e da terra, Pai da Eternidade diz “tudo”,
isso implica uma gigantesca diferença.
Nessa direção, até mesmo as coisas que jamais se passariam por nossas cabe-
ças fazem parte disto. Mas vamos lá, vou tentar ajudar. “Tudo” fala de cada átomo
do seu corpo, sua vida física, emocional, financeira, ministerial, familiar inseridas
numa outra realidade no que se refere à qualidade. Em outras palavras, até mes-
mo aquilo que hoje parece insolúvel para você, pode ser resolvido a qualquer
momento. Contudo, toda essa realidade está em forma de semente, assim como
está reduzida a uma nova árvore de laranja dentro de seu próprio fruto. Consegue
compreender?
Cabe a nós agora nos aplicarmos a comunhão com o Espírito Santo para que
Ele nos revele “o que por Deus no foi dado gratuitamente” (1Co 2:12). Mas Tony, como
isso funciona? Esta é uma ótima pergunta que daria outro livro, mas vou tentar
resumir aqui pelo menos o essencial. Dentro do exemplo da semente de laranja,
nós não temos dificuldade em compreender que, ainda que com uma aparência,
aquela “sementinha” contém um programa e também um propósito (Gn 1:11-12)
que a faz se multiplicar conforme o que ela é. Então, a primeira coisa que a fé traz
é uma nova identidade e um propósito que precisa ser descoberto (de reproduzir-
-se segundo a sua espécie). O Mestre disse que o espírito (nova natureza/fé) é o
que vivifica; a carne, para nada aproveita; “as palavras que eu vos tenho dito são
espírito e são vida” (Jo 6:63). Isto é relevante porque Deus é Espírito, conforme já
comentamos anteriormente, bem como é Pai dos espíritos (Hb 12:9). Logo, ele se
comunica conosco de espírito para espírito.
Tudo o que precisamos saber da parte do Senhor está depositado em nosso
espírito, porém isso não significa que esteja claro para nós, pois, ao nascer de novo,
somos como um “embrião espiritual” que precisa desenvolver-se e amadurecer
para conhecer com clareza o que somos e estamos aqui para realizar. Estes dois só
se tornarão claros para nós à medida que, através da fé, formos salvando e resga-
tando nossas almas.
Salvando e resgatando a alma através
sob o juízo de Deus

“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se veem.”

Hebreus 11:1.

“... obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma”.

1 Pedro 1:9.

Aqui cabe uma breve revisão do que falamos até aqui:


O ser humano nascido de novo é composto de três partes: espírito, alma e corpo;
A alma é responsável por interpretar as realidades da carne ou do espírito, conforme
a mentalidade que caminhamos; nela residem nossos pensamentos, sentimentos, vontades,
de acordo com o nosso sistema de crenças;
É por ela que Satanás e o Senhor competem no ser humano; portanto, nossas verda-
deiras lutas são interiores.
Tendo isso em mente, aprofundaremos um pouco mais. Como nascidos de novo, pou-
ca coisa é tão urgente quanto o processo contínuo de salvação da alma, pois só assim é pos-
sível amadurecermos em Deus. Apoiar-nos-emos naqueles versos que deixei de introdução.
A certeza (hupostasis) é o fundamento de onde uma nova mentalidade (a forma de pen-
sar de Cristo – Rm 12-2) e seu sistema espiritual de crença são sustentados e construídos;
enquanto que a convicção (elegohos) refere-se a uma espécie de refutação jurídica garantida
por testamento (força de lei – ou seja, verdadeiramente eficiente), validada pela morte do
testador, de que as realidades de nossas vidas são uma farsa quando interpretadas pela carne
(nossa mente natural, que julga a partir dos cinco sentidos).
Falando de uma forma mais objetiva, quando você ouviu a Rhema de Cristo, e ela ativou
em você uma nova perspectiva de ação mediante ao novo entendimento que ela proporcio-
nou, ao agir segundo ela, você está autorizando Deus a influenciar tudo a sua volta através
da emanação do seu espírito, que se movimenta no plano natural, liberado pelo movimento
do seu corpo.
A repetição desta instrução torna-se um hábito e estabelece, em seu sistema de crenças
(subconsciente), uma nova programação que agora vai trazendo confiança (ou convicção)
de que esta situação momentânea não é a realidade de nossas vidas, a partir de uma nova
imagem dela gerada em nossa mente. Este processo, quando acontece, anula o efeito do
julgamento através dos cinco sentidos (julgamento e percepção natural) até eliminá-los para
deixar na vida de todo filho de Deus um único sentido ou norte: a fé, estabelecida numa
forma de pensar renovada que agora concorda com Deus, aceitando como verdade apenas
a palavra de Deus.
Aqui está descrita a parte inicial do processo de santificação do homem. Entretanto,
não posso deixar de comunicar que entre o processo do Rhema e da refundamentação da
verdadeira fé, existe o juízo de Deus. No Antigo Testamento, o Senhor julgava cidades
inteiras através das nações ou seus anjos. Havia muita morte, derramamento de sangue,
porém nada está escrito apenas para menção, mas como instrução de realidades espirituais
às quais os homens não tinham condição de compreender, senão somente pelo Espírito
do SENHOR ao vir sobre seus escolhidos, dentre eles reis, líderes, juízes e profetas. Como
Jesus ainda não havia preparado um novo e vivo caminho (Hb 10:20), não havia para o
homem a condição de conhecer a Deus fora de seus parâmetros legais. O homem alma
vivente estava espiritualmente morto e Deus não podia acessá-lo por dentro, para sua res-
tauração interior. Devido a isso, o SENHOR usava meios de percepção embasados nos
cinco sentidos (principalmente visão e audição) para acessar a alma do homem e tentar
quebrantá-lo, já que “os olhos são as janelas da alma”, ou seja, somos afetados e moldados
por dentro através aquilo que vemos e pelo que ouvimos. Veja que “a fé vem pelo ouvir”;
o outro extremo também é verdadeiro: “a incredulidade vem da mesma forma”. Na esfera
das percepções naturais, o SENHOR podia gerar algo no interior do homem através do
sofrimento com o intuito de conduzi-lo ao arrependimento, além de usar seu Juízo para
refazer os fundamentos e atraí-los de volta para Si.

O Fogo Consumidor e o Juízo de Deus

O Espírito Santo ou Espírito do SENHOR, no Antigo Testamento (AT), são

referências dirigidas a Terceira Pessoa da Divindade. No AT lemos sua participação


no Gênesis “... e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas” (Gn 1:2). Lemos,
também, algo mais peculiar, como sendo “Fogo Consumidor” (Ex 24:17; Dt 4:26,36; 9:3).
E quando olhamos com atenção, vemos que essas passagens vêm precedidas ou pro-
cedidas de Deus executando julgamento sobre as nações ou até mesmo sobre Israel,
por terem lhe provocado a ira. Enquanto que no AT, após a execução do Juízo, havia
mortes, destruição e perdas irreparáveis a ponto de deixar cidades desertas, no NT as
coisas não terminam na destruição. Na verdade, é nela que nasce um recomeço. Todo
juízo, na nova aliança, é voltado a produzir arrependimento. Não obstante, chegará o
grande e temido Dia da Ira do Cordeiro (Ap 6:12-16) e pouco depois o Julgamento
Final do Grande Trono Branco (Ap 20). Mas até que este Dia chegue, ao visitar alguém
ou alguma nação com seu Juízo, o Senhor vem como Fogo Consumidor, porém cheio
de graça quando termina seu juízo, atuando então como Consolador.
O mesmo Espírito que julga e destrói é o que consola e reconstrói! E isso é mara-
vilhoso, exceto se a pessoa visitada não perceber o tempo da visitação e não se arrepen-
der. Então, neste caso, no prazo determinado pelo próprio Senhor, a visitação se repete
e a pessoa passa novamente à mesma situação de perdas e danos emocionais, a qual
não venceu anteriormente. Já notou em sua vida algo semelhante? Um problema que
se repete de tempos em tempos, talvez trocando apenas personagens e lugares? Isso é
sinal de que algo ficou mal resolvido em seu passado, sendo a evidência de que Deus
veio te provar e reprovou! Ficou curioso agora? Quer saber mais? Então vamos lá.

As estruturas abaláveis versus


as estruturas eternas

Quero me dirigir aos leigos aqui mais uma vez. Você sabia que o Senhor criou
todas as coisas a partir de Si mesmo, e que, para isso, usou como matéria-prima o
invisível? Se sua resposta foi negativa, vou ajudá-lo a compreender. Se positiva, vou
reforçar o que você já sabe. Leia comigo o que escreveu o autor de Hebreus, quando
mencionava a introdução aos heróis da fé:

“Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o
visível veio a existir das coisas que não aparecem.”

Hebreus 11:3 (grifos do autor).

Veja que destaquei a palavra entendemos e também o trecho ‘o visível veio a existir das coisas
que não aparecem’. Fiz isso por dois motivos:
O entendimento das coisas de Deus só pode vir através da fé, cuja definição está es-
crita no contexto de Hebreus 11 e nós estudamos aqui, resumindo-a em hupostasis e elegohos
(firme fundamento e convicção), certo?
Logo, a fé fala do invisível, do mundo atômico, das partículas. Portanto, a partir de Seu
Conhecimento Perfeito e Completo, o Senhor, através de Sua Palavra, aglomerou as partí-
culas conforme aquilo que via em sua mente, motivado pelo Seu Santo Amor (natureza) e
tudo foi manifesto (tornado público, exteriorizado ou basicamente: criado).
O que fica claro para nós, aqui? Que o Senhor criou todas as coisas a partir daquilo
que via em sua mente; que Ele encharcou tudo em Seu Amor e disse o que gostaria de
ver, de modo que aquilo se manifestou. Como Ele é o Alfa e o Ômega, o Princípio e o
Fim, o Primeiro e o Último (Ap 22:13) e também jamais muda (Ml 3:8), podemos concluir
que o Senhor tirou tudo o que existe de Si mesmo. Dessa maneira, nós fomos feitos a sua
imagem e semelhança, ou seja, temos em nós a condição de vivermos como Ele vive, pois
foi exatamente isto que Jesus nos disponibilizou, ao nos dar a Sua Palavra e o Seu Espírito.
A própria natureza aguarda com ardente expectativa a manifestação dos filhos de Deus
(Rm 8:19). Portanto, o Senhor quer nos ensinar a sermos inabaláveis! Ele quer nos ensinar
a conhecermos aquilo que nos foi dado gratuitamente através de Seu Espírito (1Co 2:12).
Isso é algo tão maravilhoso que meu peito fica em chamas só de pensar!
Leia novamente o verso 3. A palavra traduzida por universo é aion no grego e ela possui
um significado curioso. Em sua etimologia existe uma ênfase forte no tempo eterno, algo
como se referindo à duração continuada. Em outras palavras, refere-se ao universo eterno
de Deus ou à dimensão Divina. Vou esclarecer ainda mais: através da fé, o homem passa a
ter a ciência que Deus tem de como as coisas foram e são formadas, bem como a maneira
correta de se interpretar as realidades espirituais, permitindo-lhe acessar a essas realidades
eternas a qualquer momento.
Nós, seres humanos, naturais através da descendência de Adão, fomos inseridos no
tempo. O Gênesis começa com “no princípio”, o qual é uma medida de tempo. Porém,
Salomão descobriu algo:

“Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que
este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim.”

Eclesiastes 3:11.

A palavra tempo, no hebraico é íeth e significa uma ocasião na eternidade, expe-


riência pela qual devemos passar e encontrar o tesouro eterno que ela esconde, de
modo que possamos remover o obstáculo e passar adiante. Em outras palavras, uma
espécie de processo rumo à maturidade.
Agora a palavra eternidade é ìowlam e sua etimologia traz a ideia que nos ajuda
a compreender a palavra tempo, citada há pouco: fala de algo com longa duração, de
um passado sem começo e um futuro sem fim, oculto no coração do homem. Então
levantamos a pergunta: O que é um tesouro eterno? Vamos descobrir mais adiante,
no próximo tópico. Mas quero me adiantar num ponto: desses ‘tesouros eternos’ são
construídas as coisas inabaláveis. Leia com atenção:

“Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável.
Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. Restituí-me a alegria da
tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário.”

Salmos 51:10-12.

Veja que algo inabalável não se refere a nada inerente do homem, ou seja, a nada
que proceda de seu esforço ou capacidade. Contudo, é necessária uma oração ou peti-
ção – cria em mim, ó Deus! Como falamos há pouco, o Senhor criou todas as coisas a
partir de sua palavra (Logos), e Davi sabia disso. A diferença é que hoje, por recomeçar
a obra a partir do interior do homem, a palavra precisa ser soprada em seu coração
(Rhema) para que a obra de Deus no homem tenha início, lançando dentro dele seus
‘fundamentos eternos’, os quais podem produzir coisas inabaláveis (ou, no caso, um
coração inabalável, restaurado pela Rhema de Deus), já que “passará os céus e terra, porém
as minhas palavras não passarão.” (Mt 24:35). Um coração construído na palavra de Deus
não se abala!
Davi estava demonstrando seu arrependimento neste salmo, a ponto de não ape-
nas pedir um coração inabalável, mas que o Espírito não o deixasse! Outro segredo de
Davi é que ele sabia que “na presença de Deus há plenitude de alegria e, a sua destra, delícias per-
petuamente” (Sl 16:11). Veja que ele a pede de volta: “Restitui-me a alegria da tua salvação”,
ou seja, ele reconheceu que seu ato o levou para longe da presença e trouxe grande
tristeza. Ele queria restabelecer a comunhão, porém sem um coração inabalável ‘que
pensa nas coisas eternas’, assim como sem a misericórdia de manter o Espírito sobre
ele e devolvê-lo a alegria da presença, isto não seria possível. As coisas eram bem mais
difíceis em sua época. Ainda assim, Davi tem o título exclusivo de “homem segundo o
coração de Deus” (At 13:22). Podemos perceber, sem delongas, que coisas abaláveis são
aquelas que remetem ao pecado (coisas opostas à palavra de Deus - carne) enquanto
que as inabaláveis, ou eternas, procedem daquilo que o Senhor criou através de sua
Palavra, na qual habita o seu Espírito.
Um pouco mais sobre as coisas
inabaláveis ou eternas

Davi é um ótimo exemplo. Mas houve outro que o Senhor falou de forma especial,
nem tão conhecido, porém de grande relevância para o nosso estudo. Falamos de Ciro.
Veja como Deus o chamou:

”Assim diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para
abater as nações ante a sua face, e para descingir os lombos dos reis, e para abrir diante dele as
portas, que não se fecharão. Eu irei adiante de ti, endireitarei os caminhos tortuosos, quebrarei as
portas de bronze e despedaçarei as trancas de ferro; (fortalezas); dar-te-ei os tesouros escondidos e
as riquezas encobertas, para que saibas que eu sou o SENHOR, o Deus de Israel, que te chama
pelo teu nome. Por amor do meu servo Jacó e de Israel, meu escolhido, eu te chamei pelo teu nome e
te pus sobrenome, ainda que não me conheces. Eu sou o SENHOR, e não há outro; além de mim
não há Deus; eu te cingirei, ainda que não me conheces. Para que se saiba, até ao nascente do sol
e até ao poente, que além de mim não há outro; Eu formo a luz e crio as trevas; faço o bem e crio
o mal; eu, o SENHOR, faço todas essas coisas.”

Isaías 45:1-7.

Já ouvi diversos pregadores usarem este texto como versos que fariam as pessoas
ficarem financeiramente ricas, desconsiderando toda e qualquer realidade espiritual e
verdadeira do seu contexto. Embora mencione “tesouros e riquezas”, o assunto aqui é
muito mais amplo. Não faremos uma abordagem histórica, porém espiritual e objetiva,
visando à revelação de Deus para a edificação da igreja. Acompanhe atentamente co-
migo. Vamos analisar algumas palavras-chave no seu idioma original para entendermos
melhor o que o Senhor nos revela aqui.
A primeira delas é a palavra “descingir”. No hebraico, é pathach e significa abrir,
ser aberto, ser deixado solto, libertar. Na sequência, temos a palavra “lombos”, mothen,
que remete a um quadril ou lombo ‘sem ancas’. Quando fazemos um estudo mais
aprofundado, descobrimos que Ciro foi convocado e chamado “pastor” para cumprir
o propósito de edificar Jerusalém e fundamentar o templo (Is 44:28).
Trazendo para o nosso tempo, Deus tem uma Nova Jerusalém edificada e nós so-
mos o seu templo. Mas, Tony, qual a relação tem isso com a palavra hebraica mothen? As
demais palavras trazidas para a comparação pela concordância Strong dizem que esse
‘quadril ou lombo sem ancas’ pode ser por duas situações: Cinto apertado ou prisão
emocional. Em outras palavras, “descingir os lombos dos reis” fala de remover de suas pri-
sões emocionais os reis cativos pelas circunstâncias negativas, feridas ou traumas. Isso
é fantástico! Nosso Jesus é Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Veja o que diz Isaías:

“Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo,
com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si. Por isso,
eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derra-
mou a sua alma na morte.”

Isaías 53:11-12.

Esses “poderosos” são estes reis, que terão suas mentes renovadas pela palavra
de Deus! Note que o contexto de Isaías 54 esclarecerá ainda mais isso. Eles serão li-
vres (emocionalmente) pelo conhecimento da Verdade (Cristo) e serão senhores de si
mesmos, governando sua própria alma e não mais sendo regidos pelas circunstâncias
e artimanhas de Satanás! Nosso Senhor é espetacular! Glória a Deus por Sua infinita
Sabedoria e Graça!
Retornemos a Isaías 45. A próxima palavra que analisaremos do v1 é “portas”.
Diferente do português, em que lemos apenas portas, no idioma hebraico há duas pa-
lavras que o tradutor condensou em uma, devido aos significados semelhantes, porém
nos roubando muito quanto à compreensão do texto. A primeira delas é “sha ìar”, que
significa porta de entrada a algum lugar. Mas, em sua etimologia, existe outra palavra
raiz “sha ìar” (mesma grafia) que significa partir ao meio, raciocinar, calcular, contar,
estimar. A segunda palavra condensada é “deleth” significando porta, portão; ou no
sentido figurado tampa de baú, maxilar do crocodilo, portas dos céus ou mulher de
fácil acesso. Esta, por sua vez, tem outra palavra raiz “dalah” que remete a tirar, pender;
aviso de retirada (fig). E finalizando a etimologia, existe a palavra “dalal” – pendurar,
desfalecer, pendurar, ser inferior; dependurar, de sofrimento (fig.), desfalecer, olhar de
forma cansada; ser feito humilde ou diminuído.
Combinando as etimologias de “sha ìar” e “deleth” podemos ter algo como “portas
de entrada para o raciocínio, as quais escondem avisos de retirada (uma explicação oculta da razão
de um sistema específico de pensamento) em sentimentos de inferioridade ou sofrimento”. Perceba
quantas palavras hebraicas estão contidas, mas que o tradutor simplesmente traduziu
por porta, e que em nada elas se desconectam das palavras anteriores que estudamos.
O leitor consegue perceber o quanto fica omitido quando não buscamos conhecer
as Escrituras em seu idioma original? Pois é. São essas portas que o SENHOR está
enviando Ciro (um tipo de Cristo, o qual é possível verificar um aspecto da obra da
cruz sendo revelada).
Só por este pequeno trecho estudado já é possível observar que o intento do Se-
nhor em nos conceder a mente de Cristo (a única capaz de armazenar os pensamen-
tos eternos) sempre foi nos libertar das cargas emocionais negativas que os nossos
pecados e os dos outros trouxeram à terra e assim nos realinhar com o seu propósito,
de modo que sejamos bem sucedidos emocionalmente, como João desejou a Gaio:
“Amado Gaio, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua
alma” (3Jo 2). E tal prosperidade só pode ser obtida como um reflexo do nosso interior,
não independente dele. Daí surge a necessidade de se conhecer a Verdade, pois não há
outra forma de sermos libertos destas cargas causadas pelas circunstâncias. Sigamos
então para a próxima expressão “Eu irei adiante de ti”.
Para esta expressão, o hebraico traz duas palavras “yalak paniym”. “Yalak” remete
a ir, andar, vir, enquanto que “paniyim” traz o sentido de virar a face, em sua etimolo-
gia. “Eu irei adiante de ti”, portanto, fala do Senhor Jesus se fazendo homem, abrindo
o caminho para nós, vencendo na cruz, e fazendo o Senhor tornar Sua Face (favor)
novamente a nós, já que o homem, sem o perdão dos pecados, jamais terá a face de
Deus voltada a si e nem nós acharíamos meio para libertação.
Ainda no v2, temos a palavra “endireitarei”, que é um duplo “yashar” (revelando
a intenção do Espírito em enfatizar o propósito). Esta palavra significa ser correto,
ser direito, ser plano, ser honesto, ser justo, estar conforme a lei, ser suave; ir direto;
ser agradável, estar de acordo, ser correto; endireitar, tornar suave, tornar reto, liderar,
dirigir, guiar em linha reta; desejar o correto, aprovar.
Talvez o leitor se pergunte qual a razão de tantos significados, palavras e tão pouca
objetividade? Dois pontos: o primeiro é que, deste modo, o leitor também conseguirá
tirar suas próprias conclusões e extrair com mais precisão o que Deus quer ministrar
ao seu coração; e segundo que, vendo a riqueza dos originais, fique claro quão empo-
brecida é a tradução que temos em mãos, mesmo a melhor delas.
Voltando ao assunto. Perceba que a palavra “yashar”, em seus significados primá-
rios, engloba cinco pontos referentes ao verbo ser (natureza) e um em estar (conforme
a lei). Quero esclarecer o leitor com outro verso bíblico:

“Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o
Senhor: na sua mente imprimirei as minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e eu
serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.”

Hebreus 8:10.

É deste modo que o Senhor quer fazer. Ele foi adiante de nós para resolver a
desconexão entre a Lei e o homem, que não a assimilava em seu coração, apenas como
um manual de conduta. Agora, através da nova natureza em Cristo Jesus, é possível
extrair a vida da lei para o coração do homem e, assim, tragar a morte (prisões emo-
cionais que estudamos oriundas do pecado) à medida que ela se desenvolve no íntimo
do coração humano:

“E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortali-
dade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua
vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?”

1 Coríntios 15:54-55.

Portanto, “ser” e “estar conforme a lei” está inseparavelmente conectado. Para atingir-
mos um andar correto, justo, honesto, conforme o significado de “yashar”, é necessário
estar conforme a lei ou em progressiva conformidade (processo de amadurecimento
espiritual).
Prosseguindo com o nosso mergulho na Palavra do Senhor, vamos investigar a
palavra inspirada traduzida por “caminhos tortuosos”. Curiosamente é hadar e, como
palavra raiz, significa: honrar, adornar, glorificar, ser alto; inchar; dar honra, mostrar
parcialidade. Sem descontextualizar o que temos estudado e conservando a mesma
linha de raciocínio, farei uma paráfrase combinando os significados:
“Eu (Jesus) venci por ti e adentrei em meu santuário (você), para que, de mãos dadas com o
mesmo Espírito que me guiou, sejas também guiado através dos caminhos que inscreverei em sua mente
e coração (Lei) e, na medida do teu progresso, revestir-te-ei (de dentro pra fora) dos mesmos adornos
da minha Lei, dando a esta unidade (você e a minha Lei) a honra devida e uma posição espiritual
elevada.”
Efeito disso é que o Senhor removerá de nosso coração toda soberba, bem como
todo complexo de inferioridade oriundos das experiências negativas do passado, liber-
tando nossas almas da angústia todas as vezes que o invocarmos, visando o arrepen-
dimento progressivo para trazer a cura destas dores. Então um intenso processo de
purificação (de mente e emoção) nos trará reconhecimento da parte dele como Seu
povo e nós, libertos e curados, Ele será confirmado como nosso Deus, por meio de
palavras puras, enchendo-nos do Seu Espírito de graça e súplicas. Maravilhoso, não é?
As próximas palavras do versículo 2 de Isaías 45 são “quebrarei as portas”. No
hebraico é shabar – quebrar, despedaçar, arrombar ou derrubar, destroçar, destruir,
esmagar, extinguir; irromper, dar a luz. Já portas, diferentemente do v1, é apenas a
palavra deleth – porta ou portão – conforme estudamos acima. Então a ideia é literal-
mente arrombar e destruir portas ou portões que nos mantém cativos aos nossos lixos
emocionais, de modo que, livres e vazios de nós, possamos nos preencher da plenitude
do Senhor.
Essas portas são de ‘bronze’. Na etimologia, há três palavras que nos deixam pistas
sobre sua origem. As duas primeiras n echuwshah e nachuwsh remetem ao tipo de material
cobre ou bronze, porém reforça que seja bronze. Porém a terceira, nachash (raiz), sig-
nifica praticar adivinhação, adivinhar, observar sinais, aprender por experiência, obser-
var diligentemente, tomar por presságio. Irmãos, isso é gravíssimo. Sabem o que está
sendo comunicado aqui? Que estas portas são formadas a partir dos nossos medos,
os quais são as raízes mais profundas da nossa incredulidade. E elas se estabelecem à
medida em que agimos de acordo com elas, pois o fundamento de uma casa espiritual é
a sua motivação. Enquanto que a de Cristo é fé e amor, a de Satanás é medo e incredu-
lidade. Ainda não ficou claro, meu amado leitor? Vou ilustrar com um exemplo muito
comum, certamente já experimentado por você em algum momento.
Sabe quando você está vivendo uma situação complicada, na qual existem pelo
menos duas saídas mais prováveis, sendo a primeira delas ”boa”, porém com menor
chance de acontecer, e uma ”ruim”, que você já tem praticamente certeza de que se
cumprirá? Você diz em pensamento: “Cara, já estou vendo isso terminar assim, assim
e assim” e, passados alguns dias, acontece exatamente da forma como estava em seu
pensamento a ponto de poder dizer: “Eu sabia que ia dar errado” ou: “Eu sabia que
isso iria acontecer”? Já passou por isso?
É exatamente disto que “bronze” aqui se trata. O que você viveu remete ao sig-
nificado de nachash. Quando os fatos não provêm da palavra de Deus, eles não têm a
segurança dela; ou seja, isto não é revelação, mas “adivinhação”, a qual nasceu do seu
medo, a primeira motivação que separou Adão de Deus no Éden (Gn 3:10). Veja os
demais significados de nachash novamente: observar sinais (que fala de julgar a partir
das circunstâncias) e tomar isto por presságio de uma realidade futura. Irmãos, o medo
é tão poderoso quanto a fé! E não estou exagerando em dizer que o medo é a fé no
diabo, pois ela (motivação de medo) é a porta aberta para ele “roubar, matar e destruir”
(Jo 10:10).
Se você ler o contexto de João 10, verá que Jesus está se referindo a si mesmo
como a Porta. Portanto, a Porta (Cristo) é a Verdade e Amor (1Jo 4:8), enquanto que o
oposto também é verdadeiro: Satanás é pai da mentira e do medo (Jo 8:44).
Nós somos habitualmente levados a pensar que o oposto de medo é ousadia, co-
ragem, intrepidez, porém, da perspectiva bíblica, existe algo superior atrelado a estas
definições: o Amor. Veja:
“No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora todo o medo. Ora, o medo
produz tormento; logo, aquele que teme, não é aperfeiçoado no amor.”

1João 4:18.

E o autor de Hebreus fala a respeito disso:

“Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele,
igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a
saber, o diabo e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos a escravidão por toda a
vida.”

Hebreus 2:14-15.

Veja que fomos livres do “pavor da morte – phobos, no grego”. Phobos significa
medo, temor, terror; aquilo que espalha medo; reverência ao próprio marido. ”Ma-
rido”? Talvez você se pergunte. Sim, marido! Porque o medo é a evidência da minha
aliança com Satanás em determinada área da minha vida, pois a carne é programada
por ele e por isso inimiga de Deus.
Está ficando claro para você, leitor, a necessidade de uma renovação de mente que
liberte a minha alma desta escravidão que o medo traz? Que assim como o Senhor
chamava Israel de nação adúltera, nós também podemos ser uma igreja adúltera, que
se move de modo egoísta, devido ao medo (ou vários deles) que ainda reside em nos-
sos corações? Por isso, é necessário o arrependimento do medo para o Amor, o qual
Deus produz esperança em nossos corações em meio a este processo de libertação e
purificação:

“Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração
pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.”

Romanos 5:5.

Para retornarmos a Isaías 45, o que estas coisas nos esclarecem? A resposta é sim-
ples. Que “se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8:36) e onde “o Senhor é o
Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2Co 3:18). A forma de libertação
vem através desta nova natureza que recebemos, a qual nos compartilha o Espírito,
do qual podemos beber o quanto quisermos para a nossa própria satisfação. E onde
ele habita, o medo é expulso e dá liberdade ao amor para se estabelecer; não podem
compartilhar o mesmo espaço (o medo e o amor), já que ninguém pode servir a dois
senhores (Mt 6:24). Portanto, somos preenchidos e livres pelo amor de Deus na mesma
proporção em que o conhecemos genuinamente.
Que assunto denso, não é verdade? Todavia, não é nada perto daquilo que o Se-
nhor ainda nos quer ensinar. Voltemos a Isaías:
“Despedaçarei as trancas de ferro” é o trecho que abordaremos aqui. A expressão
hebraica é “gada ì b eriyach barzel”, sendo que a primeira “gada Í” (raiz), que pode signi-
ficar cortar, derrubar, separar, cortar em dois. Por sua vez, “B eriyach” pode significar
tranca (de madeira); dos portões das cidades; ou no figurado referindo-se a tribulação,
uma fortaleza, tendo a terra como uma prisão. Há outra palavra em sua etimologia,
“barach”, (raiz) que pode significar atravessar, fugir, escapar, perseguir, afugentar, pôr
em fuga, alcançar, disparar (estender), apressar. Já a terceira, “barzel” pode significar
ferro, em geral, ferramenta ou, no sentido figurado, aspereza, força, opressão. Ela tem
uma possível raiz em “birzowth” (Birzavite em português), significando “em inclinação:
oliveira seleta”.
O que começa a ficar interessante é que “gada ì” fala de “fazer separação, cortar, dividir
em dois”; no contexto daquilo que o Senhor nos tem mostrado até aqui, apenas um ins-
trumento tem tal eficiência: A palavra de Deus (ver Hb 4:12). A separação necessária
está conectada ao verso 1 de Isaías 45, em que o Senhor deseja “descingir o lombo dos reis”
do governo mentiroso das “circunstâncias temporárias”, e o sentimento de incapacidade
diante delas para a nossa própria libertação e crescimento espiritual. Basicamente fa-
lando, fala de dar a pessoa o poder de escolher (ver Jo 1:12, onde Deus “deu-lhes poder
de serem feitos filhos de Deus”, sendo que “poder”, no grego – exousia -, traz a ideia de
“poder de escolha”) através da separação de natureza.
Por sua vez, aqui conectamos a palavra “b eriyach” e sua raiz “barach” em um signi-
ficado próximo a “fugir ou escapar das trancas interiores de uma tribulação, as quais não deixam
ninguém entrar nem sair como numa fortaleza em estado de alerta por estar sob ataque”.
Por fim, a última palavra, “barzel”, e sua provável raiz “birzowth”, como uma luva,
revelam o propósito de tal libertação: “mudar a inclinação interior do coração para a de uma
oliveira seleta através da palavra que rompeu a tranca de ferro”. Portanto, “despedaçarei as trancas
de ferro” pode significar algo como: “Farei uma separação de naturezas, de modo que a sua nova
possa escapar das prisões interiores pelo ajuste da inclinação do coração para o de uma oliveira seleta”.
Prossigamos para o v3: “dar-te-ei os tesouros escondidos”. Precioso leitor, aqui as coi-
sas começam a ficar ainda mais interessantes. A expressão hebraica é “nathan ‘owtsar
choshek”, sendo que “nathan” significa dar, pôr, estabelecer; conceder, garantir, per-
mitir, atribuir, empregar, devotar, consagrar, dedicar, pagar salários, vender, negociar,
emprestar, comprometer, confiar, presentear, entregar, produzir, dar frutos, ocasionar,
prover, retribuir a, relatar, mencionar, afirmar, esticar, estender. Por sua vez,“‘owtsar”
significa tesouro, depósito (de ouro, prata, comida ou bebida) e tem sua raiz em “atsar”
– guardar, poupar, acumular (um tesouro). Agora “choshek” remete à escuridão, obscu-
ridade, lugar secreto, e tem como raiz “chashak” – ser ou tornar-se escuro, tornar obs-
curo, ser preto, estar oculto; ocultar, esconder. Então vamos analisar a iluminação do
Espírito, ou seja, o que foi ministrado ao meu coração para que eu escrevesse a você.
“Nathan”, portanto, fala de algo que nos foi concedido e estabelecido, ou seja,
confirmado eternamente. Agora note os demais significados de “nathan”. Notou algo
em comum entre eles? Não? Certo, não tem problema. Leia mais uma vez e perceba
que todos os seus significados são verbos no infinitivo, ou seja, não conjugados e ex-
pressam as mais diversas ações: conceder, permitir, consagrar, dar frutos etc. Clareou
alguma coisa por aí? A minha oração agora é que isso aconteça e você compreenda a
grandeza da revelação que escreverei a seguir. Irmãos, quem é o Verbo de Deus? Jesus
Cristo!
Agora vamos construir um pensamento aqui. Se Cristo é o Verbo, e se Deus faz
todas as coisas por intermédio dele (Jo 1:3), os “tesouros escondidos” falam de o Senhor
nos entregar não apenas uma benção exterior, mas a “fonte geradora daquilo que é deseja-
do bem como de toda a Criação, Sua Palavra, a qual será implantada em nós no ouvir de sua voz
(Rhema)!” (Tg 1:21). Observe a quantidade de “verbos” (palavras espirituais que causam
reações espirituais, ou seja, faz com que as partículas atômicas existentes em toda a
criação se reorganizem para a composição física daquilo que foi dito) estão contidos
no significado da palavra nathan!
Como já citado anteriormente, o Senhor começa a obra no ser humano de dentro
para fora; portanto, quando o Senhor falar em “dar-te-ei”, basicamente está dizendo
“imprimirei em seu espírito (o meu Verbo), para que toda a criação reconheça a minha voz quando
sair da sua boca e cumpra o que foi dito”. Outra forma mais simples de dizer isso é que somos auto-
rizados por Deus a governar. Não é fantástico? Quando o Senhor quer nos dar ou realizar
algo, Ele fala! É deste modo que Ele trabalha. Não obstante, existe um longo e dolo-
roso processo que todo filho de Deus passa até que isto se torne validado, assunto este
que será tratado mais adiante neste livro.
Acompanhe que estes tesouros são “escondidos (choshek)”. Mas escondidos,
onde? Esta palavra hebraica citada acima, analisada com sua etimologia, traz a ideia de
algo que “por natureza ou feito escuro (prática do pecado), ocultou ou escondeu algo de valor (tesou-
ro)”. Isso nos mostra que as lições mais preciosas que podemos receber do Senhor vêm dos nossos
piores momentos emocionais, os quais a carne nos guiou (Sl 23:4) e dos quais ele deseja nos abrir os
olhos para que vejamos a sua luz. Jó chegou a dizer:

“Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem.”

Jó 42:5.
“A vida estava nele e a vida era a luz dos homens”

João 1:4.

Como faço para encontrar tais tesouros, então? A resposta é: aceitando passar os
processos de Deus, assunto que discutiremos mais tarde, porém que, aqui, ainda darei
uma pincelada. Quanto às “riquezas encobertas”, temos a palavra hebraica é “matmown” –
tesouro oculto, tesouro. Sua raiz é “taman” – ocultar, esconder, enterrar; secretamente
colocado (particípio); escuridão (particípio). Já a palavra hebraica para encobertas é
“mictar” – lugar secreto, esconderijo; “Catar” é a sua raiz e significa esconder, ocultar,
esconder-se, ser escondido, esconder cuidadosamente. Note que esta expressão, tra-
duzida por “riquezas encobertas”, devido a nossa tradução, faz-nos pensar em coisas
semelhantes a “tesouros escondidos”, porém o original vem com ênfase em “algo que está
oculto”. Portanto, isso nos mostra que não são todos os que as encontrarão, pois há
propósitos que não atraem a toda a humanidade, os quais são descritos na própria
sequência do versículo:

“Dar-te-ei os tesouros escondidos e as riquezas encobertas, para que saibas que eu sou o
SENHOR, o Deus de Israel, que te chama pelo teu nome.”

Isaías 45:3 (grifo do autor).

Vemos aqui que o principal propósito do SENHOR é se fazer conhecido, não


apenas a Ciro, conforme o texto relata, mas a todo o mundo. Lembrando que nossa
abordagem aqui não é histórica, mas espiritual, visando à edificação da igreja. Não
nos aprofundaremos nos próximos três versos, já que o objetivo maior do livro para
este texto foi alcançado, revelando ao amigo leitor a importância da comunhão com o
nosso Senhor e a importância de ouvir a sua voz. Ademais, de igual modo, porque os
próximos versos se resumem ao Senhor se fazer conhecido em toda a terra. Porém,
para finalizar este trecho de Isaías 45, quero mencionar o verso 7:

“Eu formo a luz e crio as trevas; faço o bem e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas
essas coisas.”

Isaías 45:7.

Até aqui, falamos de muitas coisas, porém se faz necessário que abordemos aqui
esta questão: o Senhor quer se fazer conhecido e, para muitos, soa estranho Ele dizer
que “cria as trevas” ou “cria o mal”. Vamos olhar com mais atenção. A palavra hebraica
para “formo” é yatsar, significando formar, dar forma, moldar; pela atividade humana;
pela atividade divina. Esta palavra é idêntica a “yatsar” (através do ato de espremer
numa forma) – atar, estar aflito, estar em aflição, estar apertado, estar restrito, estar
escasso, estar em dificuldades, tornar restrito, causar aflição, sitiar; sofrer aflição. Ao
interpretá-las, temos algo como “formar, moldar ou dar forma a algo através da aflição ou
sofrimento”.
Quando olhamos para “luz”, temos, também, duas palavras de mesma grafia ‘owr,
sendo a segunda delas a raiz. A primeira delas significa luz, luz do dia, luminosidade
das luminárias celestes (lua, sol, estrelas); raiar do dia, alvorada, aurora. Já a segunda,
sua raiz, traz-nos a ideia de natureza: ser ou tornar-se claro, brilhar; tornar claro (dia);
brilhar (referindo-se ao sol); tornar brilhante; ser iluminado; tornar claro. Entendeu o
segredo? Esta palavra hebraica foi usada na origem, quando Deus disse: “Haja luz e
houve luz”.
Em Hb 10:1, vemos que a lei “tem sombra dos bem vindouros e não a imagem real das
coisas”, ou seja, o Senhor no Antigo Testamento usava figuras para dar a entender algo
sobre os seus mistérios que só poderiam ser mais claramente compreendidos em Cris-
to Jesus. Em Gênesis, a expressão hebraica é “hayah ‘owr”, de modo que hayah significa
ser, tornar-se, vir a ser, existir, acontecer; ocorrer, tomar lugar. Portanto, a melhor
tradução seria: “Seja luz; e a luz tomou o seu lugar”.
Ao conectando isso com o texto de Isaías, fica mais fácil compreender por-
que ‘yatsar’ na hora de dizer “formo a luz” – a ideia do Senhor foi dizer que ele nos
formou a partir de um molde e isso envolveu momentos de sofrimento e aflição,
conforme a palavra raiz “yatsar”. Sei que este trecho está um pouco exaustivo, mas
meu amado leitor, certamente isso fará toda a diferença em sua vida quando o Se-
nhor lhe trouxer compreensão.
Em Gn 2:7, quando se diz: “Então, formou o Senhor Deus o homem do pó da terra...”,
a palavra hebraica também é yatsar. Até aqui, fica confirmado que o Senhor fez o
homem a partir de uma forma. Todavia, surge a pergunta: Qual? Adão não foi o
primeiro ser humano criado? Antes de responder essa pergunta, averiguemos o
verso 8, do capítulo 13, de Apocalipse:

“e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram
escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.”

Apocalipse 13:8.

Talvez algum leigo pergunte: Cordeiro morto desde a fundação do mundo?


Como? A expressão chave neste verso é “morto desde a fundação” – “sphazo apo apo’ ka-
tabole’” no grego. “Sphazo” remete a matar, assassinar, abater; matar pela violência.
‘Apo apo’ traz a ideia de separação, podendo ser uma separação local, depois de
verbos de movimento de um lugar, isto é, de partir, de fugir.
“Katabole” significa lançamento; injeção ou depósito do sêmen viril no útero;
da semente de plantas ou animais; fundamento (lançamento de uma fundação).
Em sua etimologia, há “kataballo” – lançar para baixo; lançar em terra, prostrar;
colocar em um lugar inferior; assentar um fundamento.
Unindo as palavras e as etimologias, temos algo semelhante à “(Cordeiro)
morto para fazer separação entre fundamentos – luz (espírito) e trevas (alma/car-
ne)”. Ver (Ef 5:3-13). Qual foi o instrumento usado por Deus para esta separação?
O autor de Hebreus revela:

“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante que qualquer espada de dois
gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir
os pensamentos e propósitos do coração.”

Hebreus 4:12.

Portanto, assim como a palavra aqui separa alma e espírito, em Gênesis, separa
luz e trevas, algo que, figuradamente, tem o mesmo sentido. O que podemos concluir
então? Que o Cordeiro (A Palavra de Deus) se fez carne e, de modo misterioso, foi
sacrificado antes da fundação do mundo, para que o homem (Adão) fosse formado
(no “yatsar” ou “molde” de Cristo, o primogênito [Cl 1:15], e também fosse recriado em
tempo oportuno, quando experimentasse o poder da ressurreição (representado figu-
rativamente, no gênesis, pela expressão que estudamos a pouco “hayah ‘owr”), de modo
que vemos a luz brilhar ou ser luz a partir das trevas, colocando o homem ressurreto,
assim como Cristo, em posição de governo e neutralizador das trevas (poder da carne).
Depois de vermos tudo isso, nossa compreensão de como Deus “forma a luz”, a
partir das trevas (choshek), está melhor. Jesus é a luz do mundo; nós, quando conforma-
dos a sua imagem, também o somos. O homem natural (carnal) “anda em trevas”, mas
se experimentar Jesus, “terá a luz da vida” (Jo 8:12).
Agora vamos analisar a parte que diz “crio as trevas”, em Isaías 45:7. Curiosamente,
a palavra hebraica para “crio” é bara’, que signfica criar, moldar, formar. Ela é geralmen-
te usada tendo Deus como sujeito. Ela é uma espécie de sinônimo de “yatsar”, exceto
pelo fato de não ter o sentido de espremer numa forma. Bara’ fala de fazer ou formar
as coisas “fora de padrão”, ou seja, subjetivamente. As “trevas”, aqui em contexto, falam
das consequências do pecado, porém moldado (bara’) ao contexto de vida do indiví-
duo. Em outras palavras, é a retribuição ou “lei do retorno” a partir do coração de cada
pessoa, a qual está ligada, também, a partir de sua perspectiva de vida. Se uma pessoa
“roubar”, e outra, também, as consequências esperadas são ruins para as duas, porém
não há um padrão de retribuição nem momento estabelecido para elas. Cada uma co-
lherá algo específico, ainda que pelo mesmo motivo. Disso se trata bara’.
A palavra hebraica para “trevas” é “choshek” (a mesma usada para tesouros escon-
didos no v3). Portanto, essas trevas trazem algo como “esconder o sentido (luz) da vida, a
partir de um entendimento obscurecido”. Ou seja, isso justifica o porquê de tantas pessoas
estarem abrindo mão de suas vidas, devido ao seu caminhar distante do Senhor, seja
por não conhecê-lo, ou por estar enganado quanto a Ele. Nosso próximo trecho é “faço
a paz”.
A palavra ‘faço’, “ìasah”, no hebraico, significa fazer, manufaturar, realizar, fabricar.
Enquanto que “paz” é “shalom”, e remete a completo; saúde; bem estar; paz; totalida-
de (em número); segurança e saúde (no corpo); bem estar, saúde, prosperidade; paz,
sossego, tranquilidade, contentamento. Esta tem raiz em “shalam” (raiz) significando
basicamente estar em uma aliança de paz, estar em paz. Que coisa interessante! Para
se obter a tão famosa saudação de Cristo (tradicionalmente judaica), é necessário estar
em uma aliança de paz com Deus, coisa que só é possível através da fé em Cristo Jesus.
Mas, Tony, onde se encaixa a palavra “faço”, neste significado? A resposta é simples:
Sem a condição de paz com Deus, citada acima (em forma de aliança), o Senhor não
pode fabricar ou gerar a paz dentro de nossos corações.
Vou clarear o raciocínio. Você se lembra quando Jesus fazia seu discurso sobre o
Espírito Santo aos discípulos em João 14. Veja o que ele diz:

“Eu vos deixo a paz, a minha paz vos dou; não vô-la dou como a dá o mundo. Não se
turbe o vosso coração, nem se atemorize.”

João 14:26.

Aqui Jesus estava reconciliando os homens com Deus em si mesmo. Como Media-
dor, Ele assumiu a responsabilidade de carregar as nossas culpas pelo pecado e prover
livramento a todo aquele que nele cresse. Deste modo, após consumar a sua obra, a
paz foi deixada aos homens, que passariam a acessá-la através da fé (novo nascimento).
Enquanto, no conceito mundano, a palavra “paz” trata-se superficialmente de “ausência
de guerra”, ou seja, algo exterior, a de Cristo fala de uma paz interior, como fruto (ver
Gl 5:23).
Falamos um pouco mais exaustivamente neste trecho em Isaías porque algo preci-
sava ser esclarecido de uma vez por todas, em nossos corações. Não há como construir
coisas inabaláveis se não tivermos paz com Deus, por intermédio de Cristo Jesus. Ou
seja, a paz faz parte dos alicerces da fé cristã.
As coisas abaláveis

“Vendo a mulher que a árvore era boa, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendi-
mento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao seu marido, e ele comeu.”

Gênesis 3:6.

“E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que te ordenara
não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua
vida.”

Gênesis 3:17.

Aqui começam dois pontos cruciais entre a sugestão do inimigo e a manifestação do


juízo de Deus. Já abordamos um pouco a respeito destes textos no início do livro, agora
abordaremos de forma prática, ou seja, como isso ocorre em nosso dia a dia. Recapitulando
um pouco: há vozes que guiam, mas três delas se destacam:
1. De Deus (que rege meu espírito por meio da fé);
2. Minha voz (tendência da alma);
3. Do diabo (toca diretamente a minha carne / tendência da alma)
Vimos também que há paternidades (filhos do diabo x filhos de Deus). A Verdade
(Rhema) é o que nos liberta de nós mesmos e do diabo, posto que é poderosa para nos dar
vida em abundância (Jo 10:10), do mais íntimo do meu ser até transbordar para todo o
universo. Ademais, vimos que a fé é a conexão gerada por Deus entre Ele e o meu espírito
(que é nutrido essencialmente por sua voz e outras práticas espirituais), a qual é poderosa
para resgatar a minha alma da escravidão do pecado e ainda me purificar, no derramar do
seu sangue, a consciência de obras mortas (abaláveis) para servir ao Deus vivo (Hb 9:14).
Agora abordaremos os efeitos da caminhada segundo a carne.
Vamos tratar o versículo 17 em duas etapas e associá-lo com outros trechos da palavra
de Deus:
1. A troca de senhor (voz de Deus para a voz da mulher / serpente);
2. A consequência da influência que estaria sobre o homem.
O homem ali recebe a sentença de Deus proporcional ao seu grau de respon-
sabilidade. Da forma como a reação cósmica se manifestou, deixou claro que, para
abalar toda uma estrutura organizada (a criação), o fundamento foi comprometido.
Em outras palavras, assim que o Senhor soprou nas narinas do homem seu fôlego
de vida, inseriu no homem de barro um íntimo semelhante ao dele (pensamentos
e vontade), de modo que isto sustentasse a sua autoridade e domínio (conforme
já mencionamos no início do livro). Todavia, quando o mal “entrou”, mediante a
sugestão da serpente, tudo se comprometeu, e Satanás se assenhoreou dos pensa-
mentos e desejos do homem gradativamente, estabelecendo o seu próprio Reino,
reconhecido por Jesus:

“Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Todo reino dividido contra si


mesmo ficará deserto e toda cidade ou casa dividida contra si mesmo não subsistirá. Se Satanás
expele a Satanás, dividido está contra si mesmo; como, pois, subsistirá o seu reino?”

Mateus 12:26-27.

Quanto a isso, o apóstolo João também confirma:

“Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, àquele
que nasceu de Deus o guarda, e o Maligno não lhe toca. Sabemos que somos de Deus e que o
mundo inteiro jaz no Maligno”

1 João 5:18-19.

A versão NVI aproxima-se ainda mais da ideia original:

“Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não está no pecado; aquele que
nasceu de Deus a si mesmo se protege, e o Maligno não o atinge”.

1 João 5:18-19.

Nas três passagens acima, minha intenção foi destacar que existe um reino
onde Satanás é o senhor, o que é confirmado em Mateus e 1João, bem como é
nossa responsabilidade proteger a nossa alma de seu sistema mundano de pensamento
(a carne). E o Senhor providenciou apenas uma forma de vencer (conservar a alma
segura) o mundo:

“Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus
mandamentos não são penosos, porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é
a vitória que vence o mundo: a nossa fé.”

1 João 5:3-4.
“Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé,
para a conservação da alma.”

Hebreus 10:39.

Vemos aqui de forma clara que a fé tem diversos propósitos em nós, ou seja,
não busca apenas nos fazer “crer em Deus”. Contudo, ela não é o nosso alvo nes-
te tópico. Apenas destaquei sua eficiência exclusiva em vencer a carne. Veja uma
situação interessante que Judas descreve em sua carta referindo-se a determinados
“cristãos” dos últimos dias:

“Os quais vos diziam: No último tempo, haverá escarnecedores, andando segun-
do as suas ímpias paixões. São estes os que promovem divisões, sensuais, que não têm o
Espírito.”

Judas 1:18-19.

“... Eles diziam a vocês: nos últimos tempos haverá zombadores que seguirão os seus
próprios desejos ímpios. Estes são os que causam divisões entre vocês, os quais seguem a ten-
dência da sua própria alma e não têm o Espírito.”

Judas 1:18-19.

Aqui Judas destaca algumas características deste tipo de pessoa. Coloquei as


duas versões para comparação e para que estudemos algumas palavras individual-
mente em seu conteúdo original:
1. Escarnecedores: (empaiktes, no grego);
2. Andando segundo as suas ímpias paixões: (poreuomai, asebeia, epithumia);
3. Promovem divisões: (apodiorizo);
4. Seguem a tendência de sua própria alma: (psuchikos);
5. Não tem o Espírito: (pneuma);
Vamos analisar essas palavras em seu idioma original para entendermos que tipo
de gente está sobre a terra nestes últimos dias.
Quanto Judas refere-se a escarnecedores “empaiktes” – zombador, escarnecedor;
em sua etimologia está também a palavra “empaizo” – brincar com, gracejar com; es-
carnecer, zombar; enganar, iludir. Esta palavra grega divide-se em duas “en’ + ‘paizo”,
trazendo uma ideia básica de “alguém que é como criança e só quer passar o tempo enquanto
se diverte, desferindo assim leves golpes na vida espiritual de seus ouvintes.” Em outras palavras,
trata-se de pessoas descompromissadas com a Verdade que liberta.
Sobre a expressão “Andando segundo as suas ímpias paixões”, temos três palavras con-
forme vimos. A primeira delas é poreuomai, que significa conduzir, transportar, trans-
ferir; persistir na jornada iniciada, continuar a própria jornada; achar o caminho ou
ordenar a própria vida. Esta palavra, em sua etimologia, carrega a ideia de “perfuração”
e é uma voz média. Relembrando, voz média envolve a participação de duas pessoas
(uma agindo e outra auxiliando). Contudo, neste contexto, abarca que é feito de modo
não natural, como alguém que deseja alcançar algo a qualquer custo, forçando a barra,
tentando a Deus (Mt 4:7). Qual é o fim disso? Destruição certa!
A segunda palavra é “asebeia”– falta de reverência a Deus, impiedade, maldade; ela
vem de “asebes” – destituído de temor reverente a Deus, que condena a Deus, ímpio;
ou seja, é o tipo de pessoa que só quer o que Deus pode dar, não quer ser como Ele é;
deseja apenas atender ao seu egocentrismo (Fp 3:19).
E a terceira é “epithumia” – desejo, anelo anseio, desejo pelo que é proibido, luxú-
ria. A etimologia ainda traz “epithumeo” – girar em torno de algo; cobiçar (coisas
proibidas). Somando as demais palavras envolvidas, temos a ideia de “alguém que
gira em torno de desejos proibidos e se sacrifica para alcançá-lo”.
Então, querido leitor, embora Judas relate que estes são os falsos mestres, não
é exagero concluir que estes possuem discípulos a sua semelhança. Portanto, como
é o sacerdote, assim é o povo (Os 4:9-10). Vejamos as consequências que este povo
traz à igreja.
A palavra para divisões é “apodiorizo”– separar, partir, separar de outro; fazer
divisões, separações. Sua etimologia é interessante, pois tem a combinação de “Ale-
xandros” (defensor do homem) + horizo – definir, determinar; marcar as fronteiras
ou limites (de lugares e coisas); determinar, designar. Em outras palavras, “apodio-
rizo” traz consigo o sentido de “estabelecer novas fronteiras para o homem, superiores a
verdade de Deus”.
Agora veremos sensuais “psuchikos” - de ou que faz parte da respiração; que
tem a natureza e características daquilo que respira; o principal da vida animal, o
que os seres humanos têm em comum com os animais; governado pela respiração;
a natureza sensual com sua dependência dos desejos e das paixões. A etimologia
comprova que a tradução NVI, conforme citada acima, aproxima-se melhor do
texto original: as duas palavras que a compõem “psuche” e “psucho” apresentam
a ideia de “tendência da alma”, ou seja, trata-se de alguém que vive pelos próprios
desejos como se fosse sua própria respiração.
Talvez você me pergunte: Por que ver tantas palavras? Qual a relação que isto
tem com as coisas abaláveis ou da carne? A resposta é simples, amado leitor. São
pessoas que carregam estas coisas em seu coração que geram o engano na igreja.
Apresentam e defendem a graça de Deus como libertinagem (ver Jd 4) e negligen-
ciam a cruz de Cristo (Fp 3:18-19).
O que podemos concluir disso tudo? Essa é a forma de pensar de Satanás e
estes são seus súditos em seu reino de trevas. E qual o fundamento deste reino?
Egoísmo! Desejar ser o próprio senhor de sua vida, anulando o senhorio de Cristo.
Pessoas deste tipo são “donas de tudo o que tem”. Elas não compreendem que,
ao receber verdadeiramente Jesus por fé, perderam todos os seus direitos de saciar
seu próprio ser fora da vontade de seu Senhor.

Um pouco mais sobre coisas abaláveis

Mais uma vez, vamos ao exemplo de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, no
momento em que decidiu perguntar aos seus discípulos sobre sua identidade:

“Indo Jesus para os lados de Cesareia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz
o povo ser o Filho do Homem? E eles responderam: Uns dizem João Batista; outros: Elias; e
outros: Jeremias ou algum dos profetas. Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou? Res-
pondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou:
Bem-aventurado és tu Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas
meu Pai, que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos
céus; o que ligares na terra, terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desli-
gado nos céus. Então, advertiu os discípulos de que a ninguém dissessem ser ele o Cristo. Desde
esse tempo em diante, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário
seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas,
ser morto e ressuscitado no terceiro dia. E Pedro, chamando-o a parte, começou a reprová-lo,
dizendo: Tem compaixão de ti Senhor, isso de modo algum te acontecerá. Mas Jesus, voltando-se,
disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas
de Deus, e sim das dos homens. Então disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após
mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida
perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á. Pois que aproveitará o homem se
ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”
Mateus 16:13-26.

Aqui vemos o Senhor conversando com seus discípulos após certo tempo de
caminhada, contemplando eles seus milagres de cura e multiplicação. Veja que as
respostas são as mais diversas possíveis, porém Pedro recebe uma revelação:

“Respondendo Simão Pedro, disse: Tú és o Cristo, o Filho do Deus vivo”

Mateus 16:16.

E nosso Senhor, imediatamente, reconhece:

“Bem aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas
meu Pai, que está nos céus.”

Mateus 16:17.

A reação do Mestre revela a sua surpresa com a resposta de Pedro, pois Ele sabia
que a carne jamais poderia o conhecer por si só, conforme disse:

“Tudo me foi entregue por meu Pai; ninguém conhece o Filho senão o Pai; e ninguém co-
nhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar.”

Mateus 11:27.

E, ao ser “revelado pelo Pai a Pedro”, Jesus tornou público uma parte do mistério:

“Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela.”

Mateus 16:18.

Aqui eu quero fazer um pequeno esclarecimento: muita gente pensa que a


menção de Cristo é relacionada à pessoa de Pedro, quando, na verdade, não é.
Pedro estava com Jesus desde o início da caminhada, e Jesus poderia ter dito a
ele essa frase, se por este motivo fosse, em qualquer outro momento. Entretanto,
apenas quando o Pai revelou a Pedro a identidade do Filho que Jesus foi e men-
cionou sobre edificar a igreja sobre ela, a revelação de quem Ele é. Portanto, daqui
extrairemos duas pedras preciosas sobre este tema:
1. Sem revelação a respeito do Filho, não existe igreja;
2. A revelação é o fundamento da igreja (ver 1Pe 2:6-8);
Contudo, como se sabe, Pedro não se tornou igreja ali, pois Jesus ainda não havia
sido crucificado, morto, ressurreto e assunto aos céus. Apesar disso, eles tiveram essa
informação precoce como “resposta” a uma revelação. Voltando ao texto. Imagine
comigo a surpresa dos discípulos ao ouvirem todas essas coisas da boca do próprio
Senhor sobre Pedro. Comentários como: “Olha o Pedrão, tá por dentro dos mistérios”
ou então “Uau! Pedrão tá ouvindo o Pai falando com ele. Que privilegiado!” podem
ter feito parte daquele ambiente.
Então o Mestre finaliza o versículo:

“e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.

Mateus 16:18b.

E aqui nós nos aprofundaremos um pouco. Antes, mencionarei algo, a título de


referencial. Jesus também se revela em sua palavra como a porta (Jo 10:7). São duas
palavras gregas distintas usadas para “porta”, em português. Em Mateus 16:18 é “pule”
– portão, porta, do tipo mais largo; no muro da cidade; num palácio; numa cidadezi-
nha; no templo; na prisão; portas do inferno (semelhante a uma enorme prisão). Já
em João 10:7, é “thura”, que significa porta, vestíbulo (porta principal de um edifício);
usado de qualquer abertura como uma porta, entrada, caminho ou passagem; em for-
ma de parábola ou metáfora, como porta por onde entram as ovelhas e saem, nome
daquele que traz salvação para aqueles que seguem a sua orientação; porta como opor-
tunidade; porta do reino do céu.
Para facilitar o nosso entendimento de “pule”, vejamos o adjetivo que segue: “por-
tas do inferno” ou “pule hades”, no grego. “Hades” significa Hades ou Pluto, o deus das
regiões mais baixas; Orcus, o mundo inferior, o reino da morte. No grego bíblico, as
regiões infernais estão associadas a Orcus, um lugar escuro e sombrio nas profundezas
da terra, o receptáculo comum dos espíritos separados do corpo. Geralmente Hades
é apenas a residência do perverso (Lc 16:23; Ap 20:13,14), um lugar muito desagra-
dável. Todavia, em sua etimologia, temos como raiz “eido” – ver; perceber com os
olhos; por algum dos sentidos; notar, discernir, descobrir; ver, isto é, voltar os olhos,
a mente, a atenção a algo; prestar atenção, observar; determinar o que deve ser feito
a respeito de. Quando interpretamos a expressão “pule hades”, temos algo como uma
forma de ver, perceber, discernir e interpretar as coisas a partir do deus Hades ou
Pluto, por exemplo, e deste modo determinar o que deve ser feito a respeito da vida.
“Thura”, por sua vez, tem como sua primeira definição vestíbulo (porta principal
para um edifício). Quando Jesus disse “Eu sou a porta” (thura) (grifo do autor), em
João 10, estava comunicando sobre o “ser” ou, em outras palavras, acerca de “uma
natureza”. Ou seja, ele está comunicando que é através dele que se acessa “o edifício”
ou “a condição de ser igreja”. Sem perder de vista a definição de “pule”, podemos ter
mais clareza quando ele diz: “Sobre esta pedra (revelação) edificarei a minha igreja e as portas
do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16:18). Enquanto que “pule” fala de uma pers-
pectiva de um falso deus atuando sobre a minha carne a respeito da vida, “thura” fala
sobre a maneira de Deus de ver, pensar e interpretar as coisas a partir de sua natureza
espiritual (ver Jo 4:24), da qual, através da fé, fomos feitos participantes (2Pe 1:4).
Mas, Tony, aonde você quer chegar? Jesus disse a Pedro, basicamente, que veio
apresentar a libertação da prisão estabelecida por Satanás sobre os pensamentos hu-
manos (construídos ou edificados por seus demônios em sua mente – ver 1Jo 5:19),
a partir da ótica do Reino de Deus de se viver.
Sigamos interpretando o texto, avançando para o trecho que quero realçar. Leia
novamente os versos 21 a 23. Jesus começa a se abrir com os discípulos sobre o seu
propósito, seu sofrimento e sua ressurreição. E o mesmo Pedro, que ouviu a voz de
Deus, reprova-o:

“... tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo nenhum te acontecerá.”

Mateus 16:22.

Meu amigo leitor, quem é que, empolgado com a revelação recente que recebeu,
não teria atitude semelhante à de Pedro? Viu sinais e milagres e, agora ciente do Mes-
sias, não queria perdê-lo de perto de si, já que provavelmente estava empolgado com
o que havia ouvido do Mestre. Não obstante, note a reação do Senhor:

“Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de trope-
ço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens.”

Mateus 16:23.

O quê? Aquele homem que acabou de ser elogiado pelo Senhor, agora, aparente-
mente sem motivo, já que apenas “demonstrou preocupação” é reprovado com tamanha
severidade? Como pode?
É aqui que muitos têm se enganado em sua interpretação. Leia com atenção outra
vez e não perca o contexto da conversa de vista, pois, do contrário, falhará em seu en-
tendimento. Recapitulando: Pedro ouviu o Pai dizer que Jesus era o Cristo, Seu Filho.
Recebeu elogios públicos, provavelmente a ponto de impressionar todos a sua volta, já
que era um pescador de pouca cultura. Então, movido por um sincero amor, simples-
mente diz “... tem compaixão de ti; isso de modo algum te acontecerá”, e é reprovado? Não faz
sentido! Só que esta é uma faceta do que a bíblia chama de engano do pecado: quando
uma pessoa baseia-se em seu coração não regenerado (carnal) para aconselhar e, por
melhor que seja o conselho, não envolve a perspectiva de Deus dos fatos.
Agora acompanhe o possível pensamento do Mestre. Jesus sempre foi ciente de
seu propósito na terra, sabendo desde o dia de seu nascimento até o dia de sua morte,
até mesmo a forma dela. Além do mais, por ter elogiado a Pedro publicamente, dis-
cernindo-o como inspirado pelo Pai em sua resposta, usou do mesmo princípio para
repreender a Pedro, pois “não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem,
porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana” (Jo 2:25). Quando Pedro abriu a boca
para dizer o que pensava a respeito da revelação feita por Cristo sobre o seu propósi-
to, Jesus percebeu que Satanás encontrou uma “pule” na alma de Pedro, devido a seu
egoísmo (meio de autopreservação ante ao sofrimento), que aniquilaria o propósito de
Deus por completo, o qual envolvia o Seu sofrimento, caso nosso Mestre lhe desse ou-
vidos. Outro fato importante na situação era a influência de Pedro sobre os demais que
o viram ser elogiado e, caso o Mestre desprezasse expor a situação, poderia fermentar
os demais a fazerem o mesmo. Então, Jesus, ao contrário do que muitos pensam, não
repreende Pedro nem o chama de Satanás, mas repreende Satanás por trás da carne
(engano) de Pedro, alegando que “ele não cogita das coisas de Deus, mas sim das dos homens”,
quebrando, assim, toda e qualquer influência negativa e vantajosa para o inimigo que
pudesse ser gerada ali.
É por isso que Cristo emenda:

“Então disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue,
tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a
vida por minha causa achá-la-á. Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder
a sua alma?”

Mateus 16:24-26.

Aqui Jesus revela o antídoto que remove de qualquer coração o fundamento das
coisas abaláveis (carnais, fundamentadas no egoísmo e autopreservação) e permite que
o sigamos como sua igreja: a Cruz! Ademais, ainda revela que a forma de se ganhar e
perder, na perspectiva de Deus, tem sentido antagônico ao que se ensina na terra. Quem
quer ganhar, vai perder; quem quer perder, vai ganhar! Ou seja, a perspectiva da carne nunca
me levará a Deus e aos seus benefícios, porque somente a revelação de Jesus Cristo po-
derá me fazer desfrutar da verdadeira vida e satisfação, a qual pode salvar a minha alma
(1Pe 1:9). Esta revelação só é acessível verdadeiramente após a cruz. Sem ela, tudo o
que alguém pode viver é religião ou engano; e uma boa definição para esta é quando a
carne tenta dar forma à espiritualidade (ver 2Tm 3:5). Contudo, antes de avançarmos,
podemos extrair um princípio aqui: o Senhor não vai nos poupar do sofrimento, se
este fizer parte de Seu propósito eterno. Quem remove a cruz do evangelho remove,
também, a única esperança de salvação dada ao homem.
EDIFICANDO UM
SANTUÁRIO PARA DEUS

Agora que tratamos um pouco sobre as coisas abaláveis e as inabaláveis, podemos


resumir assim:
Abaláveis são todas as coisas que nasceram da voz do diabo (gerando increduli-
dade/engano quanto a Deus) ou da minha carne, motivadas por emoções egoístas
(medo, tristeza, ansiedade, ódio, por exemplo).

Inabaláveis procedem da voz de Deus, Rhema, a qual gera a fé e, ao nos compor-


tarmos conforme a instrução, ela se estabelece, substituindo nossos pensamentos e
emoções pelos de Cristo e seu fruto – (Gl 5:22-23)
Ambos são fundamentos. Sabendo disto, vamos agora entender como edifica-
mos uma casa para Deus ou para Satanás, a partir do fundamento que estabelecemos,
conforme citamos no tópico “investigando as profundezas do homem”. Entretanto,
agora iremos um pouco mais fundo e entenderemos alguns porquês pouco ou nada
compreendidos anteriormente. Quero deixar claro uma linha de raciocínio para que
possam compreender o que será escrito daqui em diante:
Deus é amor e criou o homem a sua imagem e semelhança. O homem foi criado
cheio do amor de Deus e cresceria de fé em fé, a partir de seu relacionamento com Seu
Criador. Portanto, o processo é o seguinte:
Ouvir Cristo gera fé (sua natureza em nós); obedecer, por conseguinte, gera vida e
estabelece a Verdade em nós, trazendo o reino de Deus para a terra. Edificar a fé nos
preenche do amor de Deus (ver Jd 20-21).

Ouvir Satanás gera incredulidade; obedecer, portanto, produz engano e estabelece


a mentira (Jo 8:44/ 2Co 11:3). Este processo produz carnalidade (natureza odiosa por
Deus – (ver Gl 5:19-21) e estabelece o reino das trevas na terra).
E o apóstolo Paulo nos escreveu:

“Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu
amor.”

Colossenses 1:13.

E comenta em outra carta:

“Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família
de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a
pedra angular; no qual todo edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no
qual também vós juntamente estas sendo edificados para habitação de Deus no Espírito.”

Efésios 2:19-22.

Pedro traz mais detalhes:

“Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte


de maledicências, desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas o genuíno leite espiritual,
para que, por ele, vos seja dado crescimento para a salvação, se é que já tendes a experiência de
que o Senhor é bondoso. Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens,
mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados
casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis
a Deus por intermédio de Cristo Jesus. Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma
pedra angular, eleita e preciosa; quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado.”

Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes, a pedra
que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular e: pedra de tropeço e rocha
de ofensa. São estes os que tropeçam na palavra sendo desobedientes, para o que também foram
postos. Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva
de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua ma-
ravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis
alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.”

1 Pedro 2:1-10.

Se você, precioso leitor, observou com atenção, o texto bíblico por si só diz cla-
ramente sobre construirmos uma “casa espiritual” para Deus. Vamos nos ater à carta
de Pedro, pois traz muita riqueza espiritual e nos auxiliará para abordarmos este as-
sunto. O início da construção, portanto, começa com o “despojar da maldade...” A pa-
lavra grega traduzida por maldade é “kakia” – maldade, malícia, malevolência, desejo
de injuriar; iniquidade, depravação; iniquidade que não se envergonha de quebrar
a lei. Em sua etimologia, existe a palavra “kakos” – de uma natureza perversa; não
como deveria ser; no modo de pensar, sentir e agir. E o que ficou nítido agora? Todo
início de construção precisa haver fundamento. E, pela definição da palavra malda-
de, temos algo como despojar “de uma natureza perversa, que não se envergonha
de quebrar a lei (de Deus, por exemplo), devido a sua maldade e desejo de injuriar”.
Portanto, o início do fundamento fala da necessidade de “mudança de natureza ou
mentalidade”, está claro?
Percebendo que a questão é um tipo de mentalidade, não é exagero compreender
que, na verdade, eu sou uma consciência (seja ela terrena/depravada ou espiritual/
em processo de purificação). Talvez eu tenha te chocado com esta definição, porém
peço que, antes de me julgar, ore para que o Senhor revele ao teu coração a preciosi-
dade desta compreensão. Por agora, veremos como Deus faz para nos auxiliar neste
processo de substituição de mentalidade.

A visitação de Deus e sua forma de agir

“Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua
força, nem o rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto; em me conhecer e saber que
eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado,
diz o SENHOR.”

Jeremias 9:23-24.

Aprecio bastante o livro do profeta Jeremias. O Senhor o levantou para realizar


um propósito dividido em seis partes:

“Olha que hoje te constituo sobre as nações e sobre os reinos, para arrancares e derribares,
destruíres e arruinares, e também edificares e plantares.”

Jeremias 1:10

Não vamos nos ater a este ponto, porém é necessário saber que há ciclos espiri-
tuais, definidos pelo profeta Daniel por tempos e estações (Dn 2:21-22), nos quais o
Senhor levanta novos profetas em uma geração específica com a mesma unção, para
realizar propósitos semelhantes. E as seis etapas acima descrevem o que a unção realiza
através do ministério de homens assim. Releia o texto de Jeremias 9. Vamos averiguá-lo
mais a fundo, pois o Senhor age assim periodicamente na terra.
Quando lemos “Não se glorie o sábio na sua sabedoria”, a palavra hebraica para glorie é
“halal”, uma palavra raiz, que significa brilhar (fig. do favor de Deus); louvar, vangloriar,
ser vaidoso. Agora tenho uma informação interessante para compartilhar: a palavra
equivalente, no idioma grego, a “halal” é “allelouia,” ou o nosso aleluia! Esta, por sua
vez, significa “louve ao Senhor”. Prossigamos para a próxima palavra para entendermos a
primeira parte. A palavra para sábio, em sua etimologia, é “chakam + chakam” (mesma
grafia, porém raiz), que nos trazem a ideia combinada da pessoa ter se tornado sábio
segundo o seu próprio conhecimento intelectual. Algo nos nossos dias como domínio
em filosofia, sociologia, psicologia, etc. (lembrando que não estou menosprezando
nenhuma destas áreas, apenas mencionando que é disto que se trata a proposta desta
palavra hebraica). Agora, a palavra hebraica para sabedoria é “chokmah + chakam, (raiz)”
reforçando a definição anterior, com o acréscimo de sabedoria para guerra, ou seja,
semelhante a alguém hábil para resolver qualquer problema por si só, independente de
Deus. Portanto, a frase inicial “Não se glorie o sábio na sua sabedoria” expressa algo como
“Não louve a si mesmo porque alcançou sua própria sabedoria e se julga grande por isso”.
O segundo trecho do versículo “nem o forte na sua força” traz um significado seme-
lhante à primeira expressão que estudamos, diferenciando apenas que não se trata de
sabedoria, mas força. Forte, no hebraico, está traduzido por “gibbowr” – forte e valente;
sua raiz é “gabar” - prevalecer, ter força, ser forte, ser poderoso, ser valente, ser gran-
de; agir orgulhosamente. Já a palavra para “força” é “g ebuwrah” - força, poder; valentia,
bravura; e tem “gabar” como raiz. Por conseguinte, a expressão “nem o forte na sua força”
remete a algo como “não aja orgulhosamente confiando apenas em sua própria valentia, força e
capacidade para prevalecer”.
E a terceira parte da confiança humana descrita é “nem o rico nas suas riquezas”. A
palavra traduzida por rico, no hebraico, é “Íashir”, com raiz em “Ìashar”, trazendo um
sentido de “nascido rico ou tornado rico”. Então temos a seguinte intenção, até o presente
momento: “Nada que o homem adquire por si mesmo é motivo de se vangloriar”. Contudo,
em seguida, o verso prossegue dizendo “mas aquele que se gloriar, glorie-se nisto: em me co-
nhecer e saber que eu sou o SENHOR...” pronto. Aqui começa a chave do que Deus está
propondo.
Desde o princípio, o Senhor sempre quis se revelar aos Seus, mesmo antes de dar
a lei aos hebreus. Ele sempre teve em mente um relacionamento íntimo e pessoal. Não
obstante, o homem temeu e “forçou o Senhor a dar a lei” (Ex 19:7-9; Dt 5:22-27), fazendo
de Moisés o mediador entre Deus e o povo. Tempos depois, o Senhor levanta o profeta
Jeremias para anunciar ao povo que o juízo estava a caminho e que, se eles não per-
cebessem a tempo ou se arrependessem, o “bicho ia pegar.” Nos capítulos anteriores
(Jr 1 a 8), o Senhor já havia revelado, por meio de visão ao profeta, o que se sucederia.
Diante disso, tamanha foi tristeza da visão que ele chegou a ponto de chorar (ver Jr
4:15-19). Logo, um povo sem intimidade não discerne as coisas e acaba ficando refém
daquilo que as circunstâncias propõem.
Jeremias foi levantado para falar que vinha o juízo sobre o povo que vivia no
engano (ver Jr 8:4-12), como forma de confrontá-los, a fim de gerar arrependimento.
Voltemos, então, à sequência do nosso texto em estudo: “... glorie-se em me conhecer e sa-
ber...”. São utilizadas, aqui, duas palavras hebraicas: “sakal” e “yada ì”, que remetem a
conhecer e saber respectivamente. Entretanto, “sakal” significa ser prudente, ser caute-
loso, compreender sabiamente, prosperar; olhar para, discernir; ter discernimento, ter
entendimento. Veja que as definições de “sakal” começam com “ser”, como quem se re-
fere a um conhecimento que procede de sua natureza, e só, então, fala de compreender
sabiamente e prosperar. Como o povo não dava (e ainda hoje, curiosamente, continua
não dando) ouvido aos profetas que falavam contra as expectativas do povo, sendo
aqueles capacitados e chamados para alertar do que estava por vir, estavam à mercê das
consequências destrutivas dos seus próprios atos. Quanto a isso, Salomão escreveu:

“Não havendo profecia, o povo se corrompe; mas o que guarda a lei, esse é feliz”.

Provérbios 29:18.

A palavra hebraica para profecia é “chazown” – visão, visão em (estado de êxtase);


visão (à noite); visão, oráculo, profecia (comunicação divina). Sua raiz é “chazah” – ver,
perceber, olhar, observar, profetizar, providenciar; ver como um vidente em estado de
êxtase. Portanto, a ideia do versículo, na etimologia da palavra, remete a “não havendo
quem perceba a comunicação divina (profecia) e a comunique...” Já a palavra hebraica para cor-
rompe é “para Ì” (raiz) – liderar, atuar como líder; deixar ir, libertar, ignorar, deixar só.
Combinando as palavras “chazown + para Ì”, temos uma tradução semelhante a “Não
havendo quem perceba a comunicação divina (profecia) e a comunique, o povo lidera-se a si mesmo”.
Esta definição carrega consigo um aparente tom de liberdade, porém é exatamente este
o sonho de Satanás para as nossas vidas: uma vida sem parâmetros é perigosa tanto
para quem a vive quanto para quem está a sua volta.
O nosso Senhor Jesus Cristo, quando levanta seus profetas para nos confrontar,
é para nos trazer de volta ao centro da Sua vontade, onde aconteça o que acontecer,
ele poderá nos proteger ou limitar a ação do Maligno. Ele tem em mente o perigo a
nossa frente, para o caso de não haver arrependimento em nós, e faz o possível para
nos alertar. Veja que o verso segue: “... mas o que guarda a lei, esse é feliz”. Este é o centro
da vontade de Deus para nós, e também a nossa demonstração de amor por ele (ver Jo
14:15). Davi disse em seu maior salmo:
“Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos.”

Salmos 119:71.

E mais adiante, no mesmo salmo:

“Bem sei, ó SENHOR, que os teus juízos são justos e que com fidelidade me
afligiste.”

Salmos 119:75.

Está ficando clara a intenção de Deus com o seu juízo ou visitação? Assim como
foi com Israel, Ele almeja trazer a Sua igreja à obediência tanto da instrução profética
quanto de seus mandamentos, por meio da expressão do ser, não como um conjunto
de regras.

As plantas e construções do diabo

Talvez, ao ler este subtítulo, você tenha pensado: Do que esse cara está falando?
Eu compreendo a sua pergunta, porém explico que este livro me foi trazido por reve-
lação. São meditações de anos, às quais o Senhor me ordenou a organizá-las e a trans-
miti-las com o máximo de clareza possível. Portanto, não se assuste! Abra seu coração
para entender um pouco mais sobre como o diabo trabalha com a carne do homem
(seus pensamentos enraizados no egoísmo, medo e incredulidade), para poder escravi-
zá-lo e ter “súditos obedientes” para o seu império das trevas.
Tenha em mente que é exatamente para o propósito de destruir essas construções
que Jeremias foi levantado. Embora neste livro não abordaremos todos os tipos de
construção, falaremos do básico, para que o leitor possa perceber a grandeza oculta
atrás das aparências.
O diabo sempre foi um imitador. Nunca foi capaz de criar nada, a não ser a men-
tira, única coisa a qual Jesus lhe atribuiu paternidade. Quanto ao resto, ele apenas
copia, profana e compromete o propósito das coisas criadas pelo Senhor. Portanto,
para entendê-las, precisamos conhecer como se faz um santuário para Deus (ou casa
espiritual), para ver como o princípio aplicado de forma impura se cumpre para seus
propósitos de destruição e morte. Acompanhe:
“Despojando- vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas, e de toda
sorte de maledicências, desejais ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite es-
piritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação, se é que já tendes a ex-
periência de que o Senhor é bondoso. Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim,
pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que
vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifí-
cios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. Pois isso está na Escritura:

Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será de modo
algum, envergonhado. Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas para os des-
crentes: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular e Pedra
de tropeço e rocha de ofensa. São estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que
também foram postos. Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de proprie-
dade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para
a sua maravilhosa luz.”

1 Pedro 2:1-9.

Pedro começa nos trazendo a orientação para o “despojar de toda a maldade...”, que a
nada mais se assemelha que o abandono de nossa velha mentalidade. E acrescenta que
este é o único jeito de gerar o desejo pelo “leite espiritual”, que genuinamente nos faz
crescer para a salvação da nossa alma, ou seja, rumo à maturidade espiritual. Quando
ele cita “chegando-vos para ele”, eu levanto a primeira pergunta: Como me achego a Deus?
A resposta é simples. Através do arrependimento. Portanto, a salvação pode ser defi-
nida como um processo contínuo de arrependimento até que a mente de Cristo seja
também o nosso pensar, sentir e agir.
Este processo funciona por aproximação de Cristo, ou seja, de “arrependimento em
arrependimento”. Quanto mais ele conseguir me fazer concordar com ele, mais próximo
e unido a ele estarei. Santidade é isso: concordar com Deus, é ser “separado na verdade”.
Portanto, agora fica mais fácil pensar que, na verdade, um “santuário para Deus” en-
volve cruz (para mortificar os feitos do corpo – hábitos construídos sob a mentalidade
carnal) , bem como o fortalecimento do homem interior através da batalha da fé (Jd
3, 20-21).
Como já mencionamos anteriormente, Pedro foi o homem que recebeu a primeira
revelação e ouviu do Senhor que “sobre a tal revelação de quem Ele era, seria construída a sua
igreja” (Mt 16:18; 1Pe 2:4). A partir desta experiência, nasce em nós algo que chamamos
de “identidade” (Jesus mudou o nome de Pedro – Mt 16:18). Esta é a pedra de funda-
mento, angular. Perceba que Pedro ainda cita que “vós também, como pedras que vivem, sois
edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo”. Aqui está o segundo ponto da nossa
conversa. Nossa identidade é de “sacerdotes santos” ou “sacerdotes que pensam com a mente de
Cristo”. A finalidade deste tipo de sacerdócio é “oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a
Deus por intermédio de Cristo”.
Mas, Tony, o que são os sacrifícios espirituais? O apóstolo Paulo pode nos dar uma
força para entendermos isso:

“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por
sacrifício vivo, santo e agradável à Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com
esse século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja
a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”

Romanos 12:1-2.

Basicamente falando, irmãos, quando nascemos de novo, tornamo-nos espírito


vivificante, não mais alma vivente (1Co 15:45). Isso porque Jesus ofereceu a si mesmo
em nosso favor e “pelo penoso trabalho de sua alma ficará (Deus Pai) satisfeito; o meu Servo, o
Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si”. (Is
53:11 – grifos do autor). Assim, pelo conhecimento desta própria forma de entrega,
Paulo chega a dizer: “Sedes meus imitadores assim como eu sou de Cristo” (1Co 11:1). O que
isso nos mostra? Que sacrifícios espirituais envolvem a submissão das minhas vonta-
des e sistemas programados de pensamento e interpretação da vida à obediência ao
Espírito Santo, que me conduzirá através da fé a cruz, no intuito de “purificar a nossa
consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!” (Hb 9:14).
Em outras palavras, é assim que se cultua a Deus por “sacrifício vivo, santo e agradá-
vel... que é o vosso culto racional” (Rm 12:1). Vemos por esta abordagem que o verdadeiro
culto está principalmente na forma como nos relacionamos com as pessoas, e não ex-
clusivamente quando nos reunimos aos domingos. Portanto, não há como se iniciar a
construção de uma casa espiritual para Deus sem que antes não haja demolição, limpe-
za e preparação para a construção da nova. Além disso, fica claro, também, que “casas
espirituais” são mentalidades (hábitos) sobre as quais nos apoiamos para viver, sejam
as de Cristo, para Sua habitação, ou as do mundo (carne), como morada de Satanás.
Tanto uma quanto a outra habitam em nossos hábitos diários. Ficou claro?
Definidos estes conceitos, agora vamos entender como funciona a construção de
uma casa espiritual (a mudança de hábito a partir da revelação) ou um templo satânico
(onde Deus tenta estabelecer morada, porém a carnalidade – velhos hábitos – são ig-
norados e governam o crente).
Plantando e construindo

“Hipócritas: Bem profetizou Isaías, a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com
os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram, ensinando doutrinas que
são preceitos de homens. E, tendo convocado a multidão, lhes disse: Ouvi e entendei: não é o que
entra pela boca que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto sim, contamina o homem.
Então, aproximando-se dele os discípulos, disseram: Sabes que os fariseus, ouvindo a tua palavra,
se escandalizaram? Ele, porém, respondeu: Toda planta que meu Pai celestial não plantou será
arrancada.”

Mateus 15:7-13.

João Batista anunciou:

“Produzi, pois frutos dignos de arrependimento e não comeceis a dizer entre vós mesmos:
Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a
Abraão. E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz
bom fruto é cortada fora e lançada ao fogo.”

Lucas 3:8-9.

Observando o contexto do capítulo, vemos que os fariseus e escribas argumenta-


vam com Jesus sobre o fato de seus discípulos não cumprirem a tradição dos anciãos,
porém o próprio Senhor rebate com uma pergunta sobre eles mesmos quebrarem os
mandamentos de Deus com a mesma tradição. E então, temos o primeiro versículo ci-
tado no texto acima: “Povo que honra com os lábios, mas tem o coração distante...” Agora, algo
interessante: “... em vão me adoram, ensinando...”. Está aqui algo que me chamou a atenção:
“adoração por meio do ensino”.
Não poucas vezes, ouvimos ou associamos adoração com música, embora isto
esteja longe de ser o conceito bíblico de adoração. Contudo, aqui, Jesus acrescenta que
esta pode existir por intermédio do ensino, apesar de que, neste caso, ela era vã. A jus-
tificativa para isso era porque estavam “ensinando doutrinas que são preceitos de homem”. Que
coisa surpreendente! Esses homens eram vistos como referenciais da época, homens
de grande influência e respeito. Tinham a admiração do povo, porém não a de Jesus.
Enquanto que os homens os tinham como alguém relevante na sociedade, o Senhor
os reprovava.
Veja o que ele diz a multidão: “Ouvi e entendei: não é o que entra pela boca o que conta-
mina... mas o que sai...”. Isso significa que o problema procede do interior do homem
(o que sai dele). Depois, os discípulos comentam que os fariseus se escandalizaram e
ouvem que “toda planta que meu pai celestial não plantou será arrancada.” Conforme o que
foi dito pelo Mestre, talvez você me pergunte: Afinal, o que contamina o homem? E
qual a relação com o comentário de “toda planta que o Pai não plantou serão arrancadas?”
Você fez duas excelentes perguntas, meu amigo leitor. Vamos ao original, para
buscar a resposta e a iluminação do Espírito. A palavra grega para contamina é “koi-
noo”, que significa tornar comum; tornar (leviticamente) imundo, fazer impuro, cor-
romper, profano. Em sua etimologia, ela procede de “koinos” – comum; ordinário,
que pertence a generalidade; para os judeus, impuro, profano, imundo leviticamente.
Ou seja, era como se a pessoa fosse “destituída” dos privilégios levíticos, revelando-se
como alguém comum ou impuro por não praticar a tradição dos anciãos. Ou seja, no
conceito dos fariseus e escribas, ser puro era cumprir a tradição.
Mas Jesus falou que o homem se contamina por suas palavras (o que sai dele), pois,
anteriormente, chegou a dizer: “raça de víboras, como podeis falar coisas boas, sendo maus? Por-
que a boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12:34). Pela perspectiva de Lucas, Ele disse
que “o homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o mau, do mau tesouro, tira o mal;
porque a boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6:45). Sem muito esforço, podemos en-
tender que “falamos exatamente daquilo que somos”. Talvez isto seja um choque para
você, porém o Senhor está sendo bem transparente aqui. Veja, então, que o problema
raiz do homem é “a natureza de sua árvore – sua própria natureza” (confira lendo o
contexto dos versículos citados aqui).
Podemos retornar ao texto de Mateus 15, quando os fariseus se escandalizaram,
e compreendê-lo. A versão NVI diz que ficaram “ofendidos”; e aqui nos é revelada
uma realidade: só podemos ser feridos pelas coisas que as palavras acessam em nosso
coração. Se não há conexão entre o que foi dito e o que está dentro, não há o que ser
machucado. Entendes, meu amigo leitor?
Quando Jesus falou o que falou, os fariseus e escribas entenderam claramente.
Então o Mestre diz sobre “arrancar as plantas que não foram plantadas pelo Pai”. Mas, afi-
nal, que plantas são essas? No grego, a palavra para planta é “phuteia”, que significa
plantação, algo plantado, planta. Em sua etimologia há outras duas palavras “phuteuo” e
“phuo”, sendo esta última com a ideia de soprar ou inchar, isto é, encher; que podem se
resumir ao ato de plantar, gerar, dar a luz, produzir. Em outras palavras, temos o senti-
do de “gerar ou plantar através do ato de soprar para encher (transferência de espírito), como quando
o Senhor soprou nas narinas do homem o fôlego de vida e este se tornou alma vivente, transferindo do
que Ele é para o homem” (Gn 2:7). Logo, não se trata de um mero plantar normalmente
com atividade manual, mas de algo que envolve “fôlego ou sopro”, ou seja, palavras.
Portanto, plantas, neste contexto, são as palavras (como sementes crescidas – ver Mt
13) que Deus não disse, mas que cresceram na mente do homem e o fazem adorar de
modo vão.
Para mais esclarecimentos, releia o capítulo sobre “o veneno da serpente”. Tudo o
que Deus faz, Ele o faz falando. Da mesma forma, Satanás procura o imitar, lançando
ideias e pensamentos nas mentes humanas, buscando exercer discretamente domínio
sobre os que lhe obedecerem. Como também já falamos, ele cogita das coisas “dos
homens, mas não das de Deus” (Mt 16:23). O que concluímos, então? Que a voz que ouvi-
mos nos preenche daquilo que contém a sua fonte/origem, por meio da palavra, e que
isso se mede na proporção em que “amadurece” em nós, no processo de “pensamen-
to, vontade/desejo, ação”. Quanto mais tempo e nutrida for a semente (palavra) em
nós, mais influência em nossos pensamentos, vontades e ações. Basicamente falando,
por não terem sua origem em Deus (Rhema), essas palavras têm em sua semente uma
“instrução gravada” para produzir morte (recompensa do pecado – Rm 6:23), ou seja,
plantas destituídas de fruto, às quais João Batista confirmou que tem um machado
posto às suas raízes (Lc 3:9).
Citei tudo isto para que o leitor compreenda o que está embutido na palavra “plan-
ta”, que foi mencionada por Jesus. Condensando tudo, plantas são “transferências de
natureza em forma de semente, a ponto de haver frutos ou obras (morte – Gl 5:19-21)
em seu estágio final”. Veja algo semelhante ao que disse João Batista pelas próprias
palavras de Jesus:

“Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa,
para que produza mais fruto ainda.”

João 15:2.

A palavra grega para “fruto” é “karpos” e, em sua etimologia, carrega a ideia de


“fruto reivindicado para si mesmo ansiosamente e escolhido como que por voto, capaz de eleger para
governar um cargo público”. Irmãos, isso é espetacular! É como se a Plena Divindade
(Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo) avaliasse e atestasse ao fruto e, como
recompensa, promovesse publicamente aquela árvore a uma nova esfera de governo.
Caso o leitor necessite relembrar algum conceito sobre “árvores”, releia o capítulo
sobre “As duas paternidades e seus propósitos”. Antes de continuar a análise deste
verso, quero firmar aqui que “karpos” também é a mesma palavra grega citada por
Paulo, em Gálatas (5:22-23), ao discorrer sobre o fruto do Espírito, e por Jesus na
parábola dos lavradores maus (Mt 21:33-46). Portanto, ao falar de árvores ou pessoas,
notamos que a bíblia fala por alegorias (representações), e que ambas, neste contexto,
têm a mesma finalidade. Contudo, o que vai gerar uma árvore (pessoa) com ou sem
fruto é definido unicamente por quem originou o pensamento nela associado à forma
de resposta dela (reação).
Tendo isso em mente, continuemos analisando Jo (15:2). A palavra grega para
“ramo” é “klema”, que significa ramo novo, flexível; especificamente ramo ou broto
de uma videira, rebento da videira. Em sua etimologia está a palavra “klao” (verbo
primário), que significa quebrar (usado no Novo Testamento para o partir do pão ou
comunhão). E a palavra grega para “corta” é “airo” (raiz), que remete a cortar ou afas-
tar o que está ligado. Logo, a expressão aqui diz que haverá “quebra de comunhão com
o ramo novo, caso este não frutifique”. Note que, no contexto da videira (ler Jo 15), Je-
sus fala de um chamado dado aos discípulos (porém aplicável a todos nós), mediante a
graça, para frutificar a partir da intimidade e obediência; porém, caso não houvesse res-
posta frutífera, haveria remoção. Assim, o objetivo final é definido no mesmo capítulo:

“Nisto é glorificado o meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos tornareis meus
discípulos.”

João 15:8.

E em seguida:

“Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos
designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes
ao Pai em meu nome, ele vô-lo conceda.”

João 15:16.

Agora vou conectar esses pontos com o que disse João Batista, destacando apenas
a parte dos “frutos dignos de arrependimento”. A palavra para frutos também é “kar-
pos”, mas a expressão grega completa é “karpos axios metanoia”. “Axios” significa que é
pesado, que tem peso, que tem peso de outra coisa de valor semelhante, que vale tanto
quanto. Sua etimologia diz que ele provavelmente seja originado de “ago”, que significa
guiar, conduzir; conduzir segurando com as mãos, levando, deste modo, ao destino
final: de um animal; seguir acompanhado até um lugar; comandar com a personalidade
de alguém, nomear alguém como um ajudante. Quando combinamos os significados,
temos algo semelhante a “frutos que tem peso de outra coisa de valor semelhante, os quais podem condu-
zir ou comandar com a personalidade de alguém”. Ao acrescentar “metanoia”, que significa mudança
de mente, a expressão traz a ideia de “frutos nascidos de uma mudança de mente carregando o peso
de algo de valor semelhante, capazes de conduzir ou comandar com a personalidade de alguém”, ou, nas
palavras do próprio Senhor, “pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7:16). A expressão da vida
recebida na semente (palavra ouvida – Rhema, quando é a de Cristo – é o fruto do amor em
seus mais diversos gomos: amor, alegria, paz, longanimidade, bondade, benignidade, fide-
lidade, mansidão, domínio próprio). Selamos este comentário citando Hebreus 1:2-3, onde
se lê que “nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual
também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas
as coisas pela palavra (Rhema) do seu poder...” (grifos e acréscimos do autor).
Para finalizarmos, plantas (em nosso estudo definidas como “sementes de palavras”)
geralmente são postas ao redor de uma construção, certo? E o que isto nos mostra? Mostra
que estas plantas nos dão uma ideia do que está sendo construído ou foi construído. Pense
por um minuto: quando você vai ou passa por hotéis de luxo, geralmente vê, em primeiro
lugar, as árvores e seus jardins, sendo muitos deles admiráveis. Por aí é possível você imagi-
nar a qualidade do hotel. É em cima dessa ideia que eu quero que o leitor me acompanhe.
Plantas, aqui, são “ideias ou sugestões”, as quais nós usamos para construir gestos
ou hábitos. Elas têm como nutrientes os sentimentos que nos foram gerados quando as
ouvimos ou nelas pensamos. Sabendo disso, vamos falar de construção de casas para Deus
(santuário, no espírito), ou para Satanás (casa, na carne).

Os fundamentos da construção

A primeira carta de Pedro é a chave para uma compreensão clara deste assunto. Fa-
zendo um breve resumo do início desta carta, temos Pedro mencionando a quem a carta
é dirigida, o propósito da regeneração, a provação da fé com sua finalidade e recompensa.
Ademais, ele diz sobre a curiosidade dos profetas e dos anjos a respeito deste assunto, de
modo a nos orientar a nos revestirmos deste entendimento e sermos santos com Deus É.
De igual modo, fala da morte do cordeiro na eternidade e diz que o sangue derramado traz
o poder de purificação a alma que obedece a verdade (palavra revelada – Rhema). Então,
fecha o primeiro capítulo dizendo que só há de permanecer diante de Deus aquilo que o
ser humano ouviu do Filho (a sua Rhema) e, deste modo, estabeleceu como verdade para
a construção do seu santuário.
Pedro ainda fala sobre a importância de abrir mão da forma antiga de pensar e desejar
o leite espiritual. No entanto, ele ressalta uma condição “se é que já tendes a experiência de
que o Senhor é bondoso” (1Pe 2:3). Ciente disto, inicia-se a menção da construção:

“Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com
Deus eleita e preciosa.”

1 Pedro 2:4.
Aqui é bom lembrar que isso faz parte do processo de maturidade, e não da experiência
do novo nascimento. Pedro foi específico sobre o público de sua carta, como quem já tem
uma noção do que é ou virá a passar por estes processos, os quais devem estar conscientes
de que fazem parte de provação da fé e a salvação da alma, para, então, herdar as promes-
sas. Agora vamos ao que interessa: a aproximação que Pedro menciona no versículo acima
é chave para a nossa compreensão. Ninguém pode fazer nada pelo Senhor nem para o
Senhor que lhe seja aceitável e agradável “mantendo-se distante”, ou, em outras palavras,
permanecendo no pecado. Portanto, para que possamos nos aproximar, é necessária “a
santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12:14). E santificação é a evidência do poder
atuante de Cristo em nossos corações, por meio da fé, mortificando a nossa carne, pois esta
é a única forma de nos achegarmos a Ele.
A palavra grega para “chegando-vos” é “proserchomai”, que significa vir a, aproximar-se;
chegar perto de; concordar com. Duas palavras se combinam aqui para formá-la: pros (for-
ma fortalecida de “pro” – antes), que significa em benefício de, em, perto, por; e “erchomai”
(voz media usada no tempo presente e imperfeito), que significa vir; de pessoas, vir de um
lugar para outro”. Usado tanto para pessoas que chegam quanto para aquelas que estão
retornando; aparecer, apresentar-se, vir diante do público. Estudar a etimologia de cada pa-
lavra é um pouco desgastante, porém é a melhor forma de garimpar os tesouros de Cristo.
O que podemos concluir aqui? Que “proserchomai” traz a ideia de “uma aproximação que, antes
de qualquer coisa, é em nosso próprio benefício, a qual nos leva cada vez mais do império das trevas para
dentro do Reino de Deus” (ver Jo 3:3,5). Aqui, ainda usando a carta de Pedro, quero dizer que
a evidência da verdadeira aproximação é “a purificação da alma através da obediência a verdade,
tendo em vista o amor não fingido” (1Pe 1:22). Pureza e o amor (fruto) andam juntos. O oposto
também é verdadeiro: impureza e ódio. Assim como o primeiro par evidencia quem habita
em mim ativamente, o segundo par, também. Logo, não há como me chamar de “casa de
Deus ou santuário dele”, se eu ando na impureza e não cumpro os mandamentos dele.
Agora lançaremos os fundamentos do santuário de Deus. O fruto do Espírito, o qual
Paulo escreveu: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domí-
nio próprio (Gl 5:22-23). Cada um desses “gomos” faz parte de um fruto único. Uma alma
recém-convertida os possui ocultamente no interior desta semente, que é a nova natureza.
Todavia, já se percebe, em seu coração, uma paz e alegria tão grande que deseja sair com-
partilhando com todos a respeito do que lhe aconteceu. Foi ou não foi assim contigo? Este
é o primeiro efeito da graça. Esse poder interior, depositado em nós para nos trazer de volta
para o Pai. Por outro lado, esta alma vem cheia de marcas, as quais já enterraram dentro de
si amargura, tristeza, mágoa, rancor, medo, complexos de inferioridade, orgulho, dentre muitas outras feridas
emocionais. E cada uma delas se torna um fundamento para a construção de uma casa para Satanás,
bem como o fruto o é para o santuário de Deus; feridas são da carne, a vida é do Espírito; o pecado nutre
o primeiro, a fé o segundo; o primeiro ainda é alma vivente, o segundo é espírito vivificante (1Co 15:45).
Portanto, para nos fazer retornar, a semente da nova natureza (espírito vivificante) precisa
ser desenvolvida, a fim de que o Senhor comece a trazer cura por intermédio de um fluir de
vida interior, o qual não existirá sem comunhão íntima com o Mestre.

Pensamentos, vontades e
ações na construção

Toda a nossa ação nada mais é do que a manifestação de nossos pensamentos e quase
sempre das nossas vontades. O corpo apenas expressa aquilo que está dentro de nós. E são
esses movimentos que constroem realidades em nossas vidas. Se trabalhar, o dinheiro é
certo. Do contrário, não haverá mágica. Se viajar, poderá conhecer novos lugares. De forma
oposta, os lugares não virão até você.
Embora esses sejam exemplos exteriores, vamos nos ater ao que está oculto: as moti-
vações, vontades e desejos que aquilo que pensamos nos gera. Algo curioso é que podemos
fazer coisas “sem vontade”, bem como podemos “não fazer algo que temos vontade”. Mas
quem saberá disso, se não comunicarmos com os lábios? Pois bem, o Senhor o sabe.
Porém, nós não temos esta consciência. Fazemos (ou já fizemos) coisas feias e repro-
váveis, de maneira escondida, às vezes motivados pelo prazer, outras por algum tipo das
emoções doentes citadas acima, das quais pensamos que ninguém jamais saberá, porém o
Senhor o sabe e há um registro sobre isso, do qual prestaremos contas ante o tribunal de
Cristo. Essas coisas acontecem, porque há casas para Satanás construídas em nossa carne
ou em processo de construção, as quais ele usa para expressão de sua vontade. Uma pessoa
que é traída, por exemplo, seja por namorado, amigo ou parente, não importa, é marcada na
alma com profunda tristeza. A tendência do ser humano é refletir: “Eu sabia que não devia
ter confiado nele. Abri meu coração e olha só o que aconteceu, estou acabado...” e então
vem a decisão: “nunca mais me abrirei nem confiarei em ninguém”. E então, passamos a
evitar falar de nós mesmos desde aquele dia, ainda que a vontade de compartilhar seja enor-
me, porém o medo de ser ferido novamente nos detém. Vejamos isto de forma pontuada:
1. Ataque à alma em forma de traição;
2. Causou profunda tristeza (efeito de ataque bem sucedido – alma aberta à progra-
mação mental)
3. Sugestão de programa (voz de Satanás somada à autopreservação, o que culmina
na concordância de nunca mais confiar em ninguém, pois do contrário, será terri-
velmente ferido – medo inserido)
4. Aceitação de programa (medo estabelecido no coração – cerne da incredulidade
atingido – ver Gn 3:10)
5. Comportamento defensivo quanto a abrir seu coração (prisão de alma e início de
construção de casa para Satanás)
Agora a pessoa passa a repetir o comportamento sempre que alguém se inte-
ressa em saber sobre ela e, a cada repetição, essa combinação interior de ação é ati-
vada, acrescentando um “tijolinho por vez” na carne do ser humano até que a mo-
rada se torne completa. O leitor consegue notar o quão grave é um procedimento
como este e o número de vezes que já o praticamos em suas mais diversas variáveis?
Cada pensamento que ele sugestiona, e é aceito por nós como “verdade”, tem o
poder de estabelecer uma casa para ele iniciar a conquista da nossa mente. Quan-
do a casa se estabelece, ele pode, então, produzir um hábito, fazendo com que a
pessoa passe a comportar-se desta maneira automaticamente quando necessário,
dando, ao diabo, a permissão para possessão e permanência naquela área de pen-
samento da pessoa.
Por outro lado, quando alguém tenta “acessar” esta casa, com uma simples
pergunta, há uma resistência brusca ou até mesmo uma reação abrupta da pessoa,
revelando o que Paulo denominou por “ochuroma” (traduzido no português por
fortalezas), significando, na etimologia: apegar-se a algo ou a alguma ideia com fir-
meza com a finalidade de manter fora de perigo. Ou seja, neste caso, foi a ideia de
“nunca mais se abrir” que gerou uma autopreservação (fortaleza), a qual mantém
o coração ferido, “fora de perigo”, ação esta que aprisiona a alma da pessoa. É este
tipo de programa mental que está por traz de certos comportamentos construídos
por Satanás em nós ou nas pessoas em geral.

Tipos de construção: fortalezas,


sofismas e altivez

Dando continuidade ao nosso assunto, vamos ao trecho bíblico ao qual me


refiro quando menciono as “fortalezas”, no final do tópico anterior:

“Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para
destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento
de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo, e estando prontos para
punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão.”
2Coríntios 10:4-6.

O apóstolo Paulo estava enfrentando oposição de falsos apóstolos (2Co 11:13) que se
comparavam com ele, procurando denegrir sua imagem diante do público que o Senhor lhe
havia dado para apascentar, além de estarem contaminando seus ensinos. A despeito disso,
Paulo falava a respeito da importância de ser generoso ao introduzir este assunto. Enquanto
que os falsos apóstolos o caluniavam, ele diz que sua forma de guerrear era outra. E então
começa o texto acima.
Há algo extremamente revelador aqui: Paulo foi um homem cheio do Espírito, que
ensinou algo básico sobre o discernimento de espíritos, que escreverei com as minhas
palavras:

“Quem anda na carne, guerreará sempre contra as circunstâncias ou contra pessoas.


Quem anda no Espírito, sabe que a guerra motriz é principalmente interior e, quando é exterior,
é contra principados, potestades, dominadores”

Efésios 6:12.

Se você ler todo o contexto de 2Co 10, perceberá que os falsos atacavam Paulo e se
mediam uns com os outros, o que ele argumenta posteriormente e finaliza dizendo que
o verdadeiro apóstolo é aquele a quem “o Senhor louva” (2Co 10:18). Talvez o leitor se
pergunte: Mas qual relação isso tem com o nosso assunto? E a resposta TODA. Muitos
ensinam e até mesmo entendem que essas “armas da nossa milícia” são para guerrear na
conquista de territórios espirituais, guerras contra demônios, e em parte eles têm razão.
Porém, antes que isso se torne uma “verdade exterior”, precisa ser uma “verdade interior”.
Já sei a sua pergunta: “Como assim, Tony?”. É necessário que o Senhor nos desconstrua
nas “fortalezas, sofismas, altivez e qualquer outra coisa que nos impeça de conhecê-lo in-
timamente”, purifique-nos pelo sangue de Jesus, lance um novo fundamento e comece a
edificar nosso homem interior, antes que possamos ministrar algo com eficiência espiritual,
coisa que os falsos não tinham.
Já falamos um pouco sobre fortalezas, mas agora vamos conectá-la aos sofismas. En-
quanto fortaleza, remete a uma ideia tomada como verdade protetora. Sofisma refere-se
ao sistema de raciocínio ao redor dessa ideia. A palavra grega é “logismos” - conta, cálculo;
pensamento, razão: hostil a fé cristã. Esta palavra procede de “logizomai”, que significa
recontar, contar, computar, calcular, conferir; avaliar, somar ou pesar as razões, deliberar.
Na etimologia, encontramos algo como “alguém que tem um pensamento ou razão
fundamentado numa ferida ou experiência negativa anterior para combater a fé
cristã, agregando razões a uma ideia principal para resistir ao evangelho”. Logo, é
deste modo que Satanás progride em desenvolver em nós pensamentos enganosos
antideus, bem como nos escraviza no medo e no ódio, principalmente. Todavia,
existe ainda outro aspecto desta construção: a altivez.
O dicionário Priberam define altivez por “manifestação do orgulho ofendido;
orgulho nobre; arrogância”. Já o grego é um pouco mais detalhado. A palavra para
altivez é “hupsoma”, que significa algo elevado, altura; de espaço; estrutura elevada,
isto é, barreira, proteção, reduto. Ela contém mais três palavras em sua etimologia,
que trazem uma noção geral de “barreiras de proteção elevadas, criadas por posi-
ção ou acúmulo de riquezas e pautados num orgulho ofendido, nas quais as pes-
soas encontram segurança”. Portanto, o que podemos notar, aqui, é um processo
de construção mental hostil à fé cristã, de modo a tornar as pessoas independentes
de Deus para viver nesta terra, colocando o Dinheiro (ou Mamom) como senhor
de suas vidas (ver Mt 6:24), como um suposto “reflexo do sucesso”. Ou seja,
quando chega no estágio de altivez, a pessoa serve ao dinheiro explicitamente. E
o pior: no contexto de Paulo, eram estes falsos apóstolos que acabavam, por isso,
tumultuando a ordem de pensamento da genuína fé cristã.
E, como vimos, a raiz disto tudo é “orgulho ofendido”, isto é, “algum tipo de
ferida não tratada e usada como motivação para autopromoção”; agindo dessa for-
ma, a pessoa que ministra não apenas está estabelecendo em si mesmo o engano,
mas também edificando uma resistência com relação ao verdadeiro evangelho na
mente dos incrédulos, bem como lançando confusão sobre os pensamentos dos
novos convertidos. Portanto, é gravíssimo ser ministrado ou ministrar o evangelho
por uma mentalidade não renovada, pois isto torna a fonte impura.
Vamos prosseguir com o texto de 2Co 10:4: “... levando cativo todo pensa-
mento a obediência de Cristo...”. Até o presente momento, vimos as construções
bem como seus propósitos e efeitos. Agora estudaremos a forma de combater essa
oposição. A palavra grega para “levando cativo” é “aichmalotizo”, que em sua eti-
mologia, traz a ideia de “levar cativo o pensamento, tendo em mente a necessidade
da mortificação e a ferida no corpo morto do Senhor, preferindo assim elevar o
pensamento ao nível de Deus, imitando-o”.
É complexo expressar, em português, todo o significado que esta palavra car-
rega em seu idioma original. Entretanto, tentarei melhorar, ampliando a abrangên-
cia da percepção bíblica. O pensamento é cativo a Cristo pelo simples fato de que
as armas da nossa milícia são poderosas em Deus para produzir outras convicções
no coração do filho de Deus, a ponto de fazê-lo lembrar das feridas do seu Senhor,
todas as vezes que for ferido, tendo em mente que, mesmo depois de morto, uma
lança perfurou suas costelas, testificando a genuinidade de sua morte. Em outras
palavras, “mortos” não reagem como os ofensores, mas por meio de pensamentos
elevados de levarem sobre si mesmos as suas ofensas como o Senhor o fez.
Com relação à palavra “obediência”, temos no grego “hupakoe”. Em sua
etimologia, temos, literalmente, a “submissão ao que se ouviu de alguém”. Então
Paulo crava aqui algo sério: é muito mais do que conhecer teologia, do que ouvir
bons pregadores. Mas trata-se de uma obediência a algo que se ouviu de alguém,
ou seja, direto do próprio Cristo, pois “a fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de
Cristo” (Rm 10:17) e ainda “obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma” (1Pe 1:9).
O Senhor Jesus ainda mencionou: “é na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma”
(Lc 21:19). Portanto, fica claro que a chave deste processo de levar o pensamento a
obediência de Cristo refere-se a nossa resposta ao que ouvimos diretamente Dele
e perseverarmos nesta obediência até que a nossa alma seja ganha.
E o verso termina assim “estando prontos para punir toda a desobediência,
uma vez completa a vossa submissão”. No grego são duas palavras usadas para
traduzir “estando prontos”. São elas: “en” e “hetoimos”; combinadas, elas trazem
resumidamente a ideia de “aptidão interior”, isto é, capacidade de não reagir se-
gundo a carne por haver consciência de uma identidade construída segundo os
pensamentos de Deus.
Por fim, temos a expressão “ekidikeo parakoe” traduzida por “punir toda a de-
sobediência”. Aqui, antes do significado, cabe uma observação: Jesus tomou sobre
si toda a responsabilidade pela nossa desobediência e nos deu a chance da reden-
ção ao pedir ao Pai perdão por nós.
Se as nossas armas são poderosas em Deus, o segredo é semelhante para um
procedimento aprovado pelo Senhor. Absorver, neutralizar e reagir, segundo a
nossa nova natureza, liberando o poder de Deus para a renovação da mente do
ofensor (depois da nossa submissão a instrução recebida). É algo semelhante a isto
que a expressão “ekidikeo parakoe” remete. A primeira palavra “ekidikeo” refere-se
a “defender o direito de alguém, fazer justiça; proteger, defender (uma pessoa ou
outra); vingar algo; punir alguém por algo”. Em sua etimologia, ela expressa que a
ação de “ekidikeo” procede do mais íntimo do coração e termina com um movi-
mento público em forma de retidão ou justiça. Já a palavra “parakoe” significa exa-
tamente “indisposição para ouvir; desobedecer”. Sabe o que isso significa, amado
leitor? Que o único meio de transformar vidas é reagindo em amor (ação que só
pode ser manifesta ou tornada pública quando edificada sobre o fruto do Espírito,
que, por sua vez, vem da submissão e permanência na palavra revelada).
Concluímos aqui, de uma forma geral, como Satanás constrói habitações para
si na mente do ser humano e os controla discretamente para satisfazerem o seu
egoísmo (vontade regida pelo diabo), que produz breve satisfação pessoal.
Neste ponto entra o Juízo ou a visitação cíclica de Deus (de tempos em tem-
pos) para “a remoção do que é abalável”, ou aquilo que foi construído sobre a car-
ne, para ser estabelecido o seu santuário (Reino inabalável - ver Hebreus 12:25-29)
em nosso espírito.
DETECTANDO A VISITAÇÃO

“... mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam
contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia
da visitação.”

1 Pedro 2:12.

Nós vimos anteriormente como Satanás faz para se apoderar da mente hu-
mana, escravizando-a para cumprir a sua vontade e mantê-la cega quanto à luz do
evangelho (2Co 4:3-6). Agora quero que o leitor veja a seguinte situação hipotética:
Em outubro de 1990, nasceu Raul. Seus pais não eram crentes e ele conviveu
por 18 anos numa casa onde o amor era só um conceito. Pai e mãe brigavam cons-
tantemente e poucas vezes lhe demonstravam afeto. Por muitas vezes, ele ouviu
ofensas entre seus pais e até mesmo contra si, enquanto percebia seus amigos com
os olhos de que ‘eles são mais felizes do que eu, sem problemas em casa’.
Certa vez, seu pai lhe disse: você só faz burrada! Como pode ser tão novo e
tão tolo!, conversa esta que o marcou nos seus 8 anos de idade, pois gerou nele um
complexo de inferioridade, medo de falhar nas tarefas que lhe passavam e, embora
sua avó sempre o abençoasse com aquela frase famosa “Deus te abençoe, meu
neto”, ele passou a questionar até mesmo Deus que não impedia o seu pai de ser
tão insensível. Contudo, Raul pensou consigo: quando fizer 18 anos, sairei de casa
e estarei livre destes problemas. Serei independente e constituirei uma família dife-
rente da que morei; darei ao meu filho tudo o que não ganhei de meu pai; amarei
a minha esposa e a tratarei com honra.
Então, aos 16 anos, Raul se apaixona e começa a namorar, planejando se casar
pela simples finalidade de sair de casa (conforme planejava há anos). Sem expe-
riência com o sexo oposto, ele vê Marina, sua namorada, como alguém que cer-
tamente o auxiliará no seu desejo de ter uma família feliz. Trabalhando desde os
15 anos, Raul guardava um pouco de dinheiro todo mês para quando fizesse seu
aniversário de maioridade, pudesse dar seu passo para o futuro.
Certa vez, já namorando, Raul tinha constantes desentendimentos com o seu
chefe, que repetiu as palavras de seu pai: você só faz burrada! Como pode ser tão
novo e tão tolo!. E aquilo fazia um ódio enorme crescer dentro dele, pois a ver-
dadeira motivação de Raul não era se dedicar ao que fazia, mas juntar dinheiro até
seus 18 anos e mudar de cidade para fugir de tanta gente difícil.
Menino, ainda, sem experiência com a vida, Raul ia falhando e culpando os
outros. Seu único consolo era Marina, que o amava verdadeiramente nos fins de
semana em que se encontravam.
Faltando 6 meses para completar a maioridade, Raul já tinha acumulado R$
7.000,00 e pensava consigo mesmo estar de bom tamanho para começar uma nova
vida. Seu relacionamento estava perfeito, Marina era muito carinhosa, incentivado-
ra e acalentava seu coração decepcionado com o patrão e com o pai. Raul já tinha
em mente a cidade onde moraria, um emprego ajeitado para quando lá chegasse
e uma surpresa especial para Marina: pedi-la oficialmente em casamento. Estava
tudo caminhando perfeitamente até que, faltando 2 meses para o seu aniversário
de mudança, sem explicação, tudo vira de pernas para o ar: ele perde o emprego;
Marina decide recuar da decisão de mudar-se de cidade e ambos terminam o re-
lacionamento; o emprego da nova cidade foi cancelado, devido à escassez finan-
ceira da empresa; sua grana guardada foi roubada, enquanto a casa de seus pais
foi assaltada; e a casa prometida para ele quando se mudasse foi alugada antes do
prazo. Raul entra em desespero profundo, o medo gera um enorme desequilíbrio
emocional nele e, em lágrimas, se pergunta: Meu Deus, o que aconteceu? Por que
isso agora?”
Essa estória dá para termos uma ideia do tamanho da frustração de Raul.
Todavia, trazendo para as nossas vidas, quem nunca se viu numa situação de uma
virada brusca de realidade, do céu para o inferno? Aqui começa o nosso assunto.
Vejamos dois trechos nas Escrituras para agregar:

“O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do SE-
NHOR. Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos, mas o SENHOR pesa o
espírito. Confia ao SENHOR as tuas obras, e os teus desígnios serão estabelecidos”.

Provérbios 16:1-3.

“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto;


quem o conhecerá? Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto
para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto das suas ações”.

Jeremias 17:9-10.
Certo. Veja que Salomão esclarece três pontos que a maioria das pessoas não con-
sidera antes de qualquer decisão, no primeiro verso acima,:
1. Que o Senhor tem a resposta certa;
2. Ele pesa o espírito;
3. Ele é confiável para estabelecer;
A palavra hebraica para “pesa” é uma raiz, “takan”, que significa regular, medir,
estimar, ponderar, equilibrar, igualar, nivelar, pesar, ser igual, ser pesado, examinar, pro-
var. A NVI (Nova Versão Internacional) traduz por “avalia”, enquanto a (King James)
amplia dizendo “o Senhor julga as verdadeiras motivações do coração”. Apesar das
diferenças, todas as traduções abrangem uma ideia do que o Senhor considera na hora
de responder ao homem, porém vamos nos ater a versão que temos usado até aqui
ARA (Almeida Revista e Atualizada), sem perder de vista as demais, pois acrescentarão
luz ao nosso entendimento.
Por causa da Sua Santidade, o Senhor não responde a qualquer um somente que o
buscou em oração; ele tem os seus critérios, dentre os quais: “Sede santos, porque eu,
o Senhor, sou santo” (1Pe 1:16; Lv 11:44-45).
Quando Salomão menciona “pesa o espírito”, significa que se algo estiver fora do
propósito do tempo presente ou desalinhado com a Sua vontade, a petição lhe será ne-
gada, por mais “bem aparente” que esta pareça ao indivíduo. Aqui, outro ponto torna-
-se claro: o espírito é o fundamento (motivo pelo qual algo é realizado), e Deus, como
prudente construtor, não faz nem estabelece nada que não tenha nascido em Cristo
Jesus por meio de sua Rhema, pelo simples fato de que Deus nunca põe a “mão na mas-
sa” quando vai trabalhar. Quando algo lhe é necessário, para fazer, ele apenas fala! O
capítulo 1 de Gênesis é um exemplo claro disso. Somente a Rhema está habilitada para
ser o fundamento, a pedra angular, sobre o qual Deus constrói seu santuário. Então,
olhando para Raul, não o vimos buscar a Deus em nenhum momento e também re-
conhecemos a sua verdadeira motivação (espírito): fugir dos problemas familiares (ou
seja, uma ferida emocional não tratada).
Raul tinha planos egoístas. Nem mesmo seu casamento era porque amava Marina,
mas somente por desejar sair de casa logo. Seu complexo de inferioridade escondia,
dentro da ferida, o medo e a incredulidade (raiz de todo pecado). O Senhor tem seus
olhos em todo lugar, seja sobre justos ou injustos (Pv 15:3) e decidiu esquadrinhar o
coração, ainda que sem petição de Raul, para lhe dar segundo as suas obras, porém em
resposta as orações de sua avó, que sempre desejava a sua salvação. E visitou a realida-
de de vida de Raul, o que não suportou a sua presença e ruiu completamente.
A visitação e seus efeitos

A sensação de quem está passando o processo de visitação (juízo de Deus) é como


a de quem é levado para um lugar deserto, pois a vida literalmente vira de “pernas para
o ar”. Tudo sai do controle, em todas as áreas de nossas vidas. Alguns quando veem
isso acontecendo, pensam que é Satanás, porém não é, haja vista que ele não tem esse
poder. Apenas o Senhor é poderoso para tal. Então, para que entendamos como as coi-
sas funcionam, faz-se necessário tornar ao Éden, quando o Senhor visitava o homem
na viração do dia (Gn 3:8).
Apesar de ser alma vivente na ocasião, o homem não possuía pecado e podia co-
mungar com o seu Criador sem reservas. Mas há algo revelador aqui, que eu desejo
compartilhar com você:

“Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia,
esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do
jardim”.

Gênesis 3:8.

Destaco aqui a expressão “viração do dia”. No original hebraico foi usado o termo
“ruwach”, o qual, por sua vez, contém muitos significados, dentre eles: vento, hálito,
mente, espírito. Em sua etimologia, a palavra raiz é de mesma grafia “ruwach”, porém
significando cheirar, perfumar, sentir cheiro, aceitar; referindo-se ao cavalo; referindo-
-se ao prazer (metáfora). Essa palavra hebraica também é usada para se fazer menção
ao Espírito Santo (Ruwach Kadosh). Aqui, embora o hebraico não traga “ruwach kadosh”,
apenas “ruwach”, a palavra ‘dia - yowm’ ajuda neste raciocínio.
“Yowm” vem de uma raiz com o sentido de “ser quente” e significa: dia, tempo,
ano; dia (em oposição à noite); dia (período de 24h); como divisão de tempo. Então,
temos aqui na expressão “viração do dia” um sentido de “alguém que vem cheirar
periodicamente para discernir o vento ou hálito (talvez o perfume) que determinado
objeto ou ação produz sob o efeito de calor da presença”. Talvez ainda não tenha fica-
do claro para você, por isso acenderei o segundo holofote:

“Por que o SENHOR, teu Deus, é fogo que consome, é Deus zeloso”

Deuteronômio 4:24.
“Dos céus te fez ouvir a sua voz, para te ensinar, e sobre a terra te mostrou o seu grande
fogo, e do meio do fogo ouviste as suas palavras.”

Deuteronômio 4:36.

Conseguiu notar a semelhança? Mas para ficar ainda mais nítido, acenderei o pró-
ximo holofote:

“Porque o nosso Deus é fogo consumidor”

Hebreus 12:29

Amado leitor, o Espírito Santo tem essa característica de ser “fogo consumidor”
como lemos há pouco. Entretanto, no Éden, a revelação dele desta forma se fazia des-
necessária, já que tudo era puro e santo. Quando o pecado foi introduzido, fez separa-
ção entre Deus e os homens, e o homem foi lançado para fora do jardim, demandando
de Deus que agora anunciasse a sua faceta de juízo sobre o que é abalável (ou oriundo
da carne do ser humano) e, pelo próprio bem do homem, o afastasse de Si, para que
também não se consumisse diante de sua face, pois “...homem nenhum verá a minha
face e viverá” (Ex 34:20).
Em Cristo a humanidade foi reconciliada e as coisas mudaram! Hoje, ao partilhar-
mos da justiça de Jesus, somos aceitos diante do Senhor, podendo ainda prosseguir
sendo transformados contemplando a sua face (2Co 3:18). Contudo, nem sempre foi
assim. Toda a criatura que não nasceu de novo está sob a antiga aliança da Lei, pois
vive na carne e “os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8:8). Isso ex-
plica claramente o que aconteceu com Raul. Sem partilhar a justiça de Cristo, todo o
seu contexto de vida era fundamentado em seu próprio entendimento. Logo, quando
Deus decidiu visitá-lo, seu mundo, ou melhor, a sua realidade não teve estrutura para
suportá-Lo. E o que aconteceu então? Seu coração foi exposto, ou seja, ele perdeu o
chão e foi dominado pelo medo. Este é um dos propósitos da visitação: esquadrinhar
e manifestar o coração do homem a si mesmo. Quando o mundo desmorona, as mo-
tivações são reveladas; o verdadeiro ‘eu’ aparece!

Fogo Consumidor versus Consolador

Este é um ponto crucial da visitação, pois o Senhor vem como Ele é, o fogo con-

sumidor das coisas que são abaláveis. No entanto, graças à obra redentora de nosso
Senhor e salvador Jesus Cristo, esta mesma expressão de “destruição” se revela imedia-
tamente como “favorável e consoladora”, por encontrar a justiça concedida em nossa nova
natureza. Agora, ele paira sobre as águas em meio às trevas (Gn 1:2), ou seja, ele vai
“quebrantando a pessoa”, para nascer de novo ou para recomeçar a sua vida, já sendo
filho de Deus. De qualquer forma, o objetivo é único: gerar arrependimento. No caso
de Raul, era preparar-lhe para o novo nascimento.
Veja como Moisés refere-se a algo semelhante aos hebreus:

“Recordar-te ás de todo o caminho pelo qual o SENHOR, teu Deus, te guiou no deserto
estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se
guardarias ou não os seus mandamentos. Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com
o maná, que tu não conhecias, nem teus pais conheciam, para te dar a entender que não só de pão
viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do SENHOR viverá o homem.”

Deuteronômio 8:2-3.

Quero me ater ao trecho que enfatiza o propósito e a execução do mesmo: “...


humilhar, provar, conhecer o coração... Ele humilhou, deixou com fome e lhe deu a comer algo des-
conhecido mesmo pelos patriarcas para trazer entendimento...” Note que a ideia de Deus não
estava voltada a si, porém a mostrar ao homem que, mesmo tendo visto tudo o que viu
na libertação do Egito, na travessia do mar vermelho e muitos outros milagres, havia
um problema no coração que lhes precisava ser revelado, bem como a importância de
um novo entendimento.
Dessa forma, concluímos que um dos métodos mais eficientes que o Senhor tem
para nos moldar, ensinar e amadurecer o coração é a tribulação ou, em outras palavras,
o deserto. Aqui está o caminho entre o passado e o futuro. Trazendo para a nova alian-
ça, deserto é tempo de conhecer a nova natureza (identidade), de ter os pensamentos
de Deus implantados em nosso espírito (Tg 1:22), de ser purificado através da obediên-
cia a eles (1Pe 1:22) e de estabelecer o novo fundamento, sobre o qual é possível herdar
as promessas (entrada na terra prometida – Cl 1:13; Mt 24:35; Dt 7:12; 8:1).
Hoje o Espírito Santo está disponível para auxiliar neste processo inicial de ar-
rependimento ou na produção de maturidade, coisa que não acontecia antes da obra
da cruz de Cristo. Antes Ele vinha apenas sobre alguns, hoje, porém, habita em quem
nasce de novo e convence o mundo (não o nascido de novo) do pecado, da justiça e
do juízo (Jo 16:8-11) para que estes que habitam no mundo venham a nascer, caso este
do nosso Raul.
A revelação do Consolador

Depois da assustadora faceta de Fogo Consumidor, é hora de conhecer o Con-


solador, o lado restaurador e amoroso que traz ordem ao caos que a vida se torna
quando o Fogo a visita. Ele vem para substituir o fundamento da incredulidade à
fé, bem como do medo ao amor. Neste processo, somos cooperadores com Cristo
(1Co 3:9).
Como falamos anteriormente, nosso amigo Raul teve seu coração exposto e
agora estava totalmente dominado pelo medo em todas as suas facetas, dentre as
quais algumas podem ser expressas por perguntas do tipo:
1. Como farei pra prosseguir com o meu sonho? (Medo de não conseguir sair
de casa);
2. Onde arrumarei outra mulher tão doce?(Medo de ficar solteiro);
3. Como contarei aos meus pais que tudo isso aconteceu?(Medo de ser
envergonhado).
Entre muitas outras que fazemos, quando há uma mudança brusca de reali-
dade, aparentemente “sem explicação”, porém agora esclarecida a nós como “dia
da visitação”. A boa notícia é que Jesus venceu esses medos tão aprisionadores na
cruz e também pode nos libertar deles (Hb 2:14-15), além de enviar a nós o Con-
solador para substituí-los pela vida que há na verdade:

“Quando vier o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não
falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que as coisas que
hão de vir...Em verdade, em verdade eu vos digo que chorareis e vos lamentareis, e o mundo se
alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria.”

João 16:13,20.

A primeira pergunta a ser levantada é: O que, ou qual, é a verdade? E por que co-
nhecê-la? Deixemos que as próprias Escrituras nos respondam:

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”

João 8:32.

“Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”


João 8:36.

“Respondeu-lhes Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai se


não por mim”

João 14:6.

A verdade traz libertação. O Filho é a verdade que liberta. E ainda temos:

“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o unido Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo,
teu filho, a quem enviaste.”

João 17:3.

A palavra grega para “verdade” é aletheia – algo que é objetivamente a verdade


sobre qualquer assunto em consideração. Em sua etimologia, há outras duas palavras:
“alethes” (verdadeiro; que ama a verdade) e “lanthano” (estar escondido; estar escondido
de alguém, secretamente, que não percebe, sem conhecer). Ou seja, essa verdade tra-
ta-se de algo que está oculto até o presente momento de alguém, porém é a verdade
absoluta sobre qualquer coisa.
Já a palavra para “libertará” e “libertar” se complementam no estudo da etimo-
logia. A primeira é “eleutheroo” – tornar livre; colocar em liberdade: do domínio do
pecado; a segunda é a próxima palavra da primeira na etimologia, “eleutheros”, nascido
livre; livre, isento, liberto, desimpedido, não atado por uma obrigação. E ainda temos
a palavra “erchomai” (que pode substituir a segunda) significando vir de pessoas; de um
lugar para outro, tanto de pessoas que chegam quanto daquelas que estão retornando;
aparecer, apresentar-se, vir diante do público. Portanto, temos uma ideia semelhante
a “tornar alguém livre através de um novo nascimento, seja para alguém que nunca o
experimentou ou para alguém que “se perdeu” e agora precisa retornar a este conhe-
cimento (ou lugar, já que Cristo Jesus, como Verdade, também é um lugar, conforme
Paulo – ver Ef 1:3).
Então, temos que conhecer Jesus me liberta (do medo da morte) a ponto de, atra-
vés de seu conhecimento, conduzir-nos a um lugar de vida plena, pois este também foi
parte de seu propósito. E este conhecimento libertador só é acessível por intermédio
do Espírito Santo (ou da verdade).

O papel do Consolador
Agora supomos que Raul teve a oportunidade de ouvir o evangelho neste período

e que, por estar quebrantado, recebeu Jesus genuinamente por Senhor e Salvador (não
só Salvador, como se confessa em muitos lugares), convertendo-se e sendo bem acom-
panhado por um mentor cheio do Espírito Santo, experimentado na palavra da justiça,
que o decide guiar desde o início de sua vida cristã a uma comunhão íntima com Jesus.
Este homem o ensina sobre a importância de se recomeçar a vida com fé, mediante
um relacionamento intenso com o Espírito Santo, renovando sua mente e crescendo
em arrependimento que produz santificação.
Ainda abalado com os acontecimentos de sua vida, Raul, porém, experimenta a
graça vivificante de sua nova natureza e, apesar de suas feridas, vê esperança para o
seu futuro. Então, seu mentor esclarece que, deste momento em diante, apenas sua
edificação pessoal (desenvolvimento sadio da fé) poderá auxiliá-lo a vencer sua guerra
interior, até que “o corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista
de imortalidade” (1Co 15:53). Com isso, revela-lhe que o senhorio de Cristo sobre o nas-
cido de novo implica em obediência progressiva até que ela se torne parte daquilo que
somos e se expresse naturalmente a lei de Deus através de nós, pois esta é a evidência
da nova aliança onde o Senhor diz:

“Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Se-
nhor: na sua mente imprimirei as minhas leis; também no seu coração as inscreverei; e eu serei o seu
Deus e eles serão o meu povo. E não ensinará cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão,
dizendo: conhece ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior. Pois para
com as suas iniquidades, usarei de misericórdia e dos seus pecados jamais me lembrarei”

Hebreus 8:10-12.

Como um bom mentor, esclarece a Raul que ele não é o seu salvador, mas que
Jesus é; que ele não tem todas as respostas, mas que o Espírito pode revelar; e diz ain-
da que o Espírito Santo agirá proporcionalmente à dedicação que ele aplicar em sua
edificação pessoal. Por fim, diz que o primeiro passo é “liberar a ação do Espírito”,
para que ele venha a atuar na mortificação da minha carne, enquanto que o segundo é
“nunca deixar de orar”.
Agora vejamos por quais caminhos bíblicos Raul foi orientado. A edificação pes-
soal é a verdadeira batalha da fé:

“O que fala em outra língua a si mesmo se edifica”

1 Coríntios 14:4a.
“Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito
Santo, guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de Jesus Cristo para a vida
eterna.”

Judas 1:20-21.

Aqui dei duas bases bíblicas apenas sobre isto, porém há muitas outras. A
ideia não é ser exaustivo, porém objetivo e convincente. Um recém-convertido não
precisa de teologia no início de sua caminhada, mas necessita de aprender a ouvir
a voz do Espírito Santo, pois este é o único Espírito que pode nos guiar à verdade
que liberta, preencher-nos do amor de Deus (fundamento para a construção do
santuário de Deus em nosso espírito), fortalecer-nos e guiar-nos à cruz, sem a qual
jamais se poderá vencer a carne.
Veja como o mentor de Raul foi objetivo ao embasar as suas palavras:

“Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito,
mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.”

Romanos 8:13.

Lembrando que feitos do corpo referem-se às construções de pensamento,


hábitos, fortalezas e outras formas de programas mentais não nascidos da voz
de Deus. A cruz é a única capaz de destruir definitivamente isto. Mesmo se você
for um coaching de renome, conhecedor das ciências da neurolinguística e física
quântica, suas técnicas não estabelecem a eternidade no coração homem, nem no
teu. Não há nada nesta terra que tenha eficiência semelhante Cruz, o Espírito e a
Rhema de Cristo para a reprogramação mental humana. Não estou desvalorizando
com isto o seu trabalho, muito pelo contrário, muitos de vocês são excelentes e
tem ajudado muita gente. Não obstante, a sabedoria deste mundo não é reconhe-
cida por Deus como boa (ver 1Co 1:19-30).
É deste modo que o Espírito age quando é ativado através da oração, guiando
o velho homem à cruz, como foi com Jesus. Desde o seu nascimento, nosso Se-
nhor viveu uma vida de serviço e rejeição até a morte (da alma), e morte de cruz
(rendição do Espírito a Deus). Veja:

“Muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu
sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus
vivo!”

Hebreus 9:14.
“A si mesmo se ofereceu pelo Espírito eterno”, ou seja, foi o Espírito que inse-
riu poder no coração de Cristo para renunciar a sua vontade e ceder-se inteiramen-
te a Deus (Mt 26:39-44). E este poder nos está disponível para o mesmo objetivo:
a santificação da vontade.
A CRUZ DE CRISTO

Quando o Senhor Jesus estava para ser crucificado, no evangelho de João, pode-
mos ler um trecho de suas palavras:

“Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao pai senão por mim”.

João 14:6.

Cientes de que Jesus veio restabelecer a comunhão entre Deus e os homens, nas-
cido do Espírito e de mulher, ele tinha ambas as naturezas em seu ser. A de Deus para
representar a parte ofendida, e a de homem, para a ofensora, além de reconciliar em si
mesmo todas as coisas (2Co 5:19). Por possuir esta responsabilidade em seus ombros
(Is 9:6), as suas palavras citadas por João fazem todo o sentido, porque ele viveu uma
vida “reversa, da morte para a vida” (morrendo emocionalmente pelas dores da huma-
nidade até morrer fisicamente e ressuscitar, ou, em poucas palavras, “tornando-se obe-
diente até a morte e morte de cruz” (Fp 2:8), para que pudéssemos trilhar o caminho
que ele abriu, no rasgar do véu, isto é, a sua carne (Hb 10:20) e, assim, retornarmos
ao Pai.
Contudo, Cristo não foi sem que lhe houvesse uma recompensa ou “estímulo”,
como revela o autor de Hebreus ao mencionar sobre a carreira que nos está proposta:
“olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe
estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra de Deus.”
(Hb 12:2 – grifo do autor).
Podemos ver aqui que não se trata de um caminho de morte pelo mero prazer divi-
no no sofrimento do homem, menos ainda no intuito de retirar coisas do ser humano,
como se Deus precisasse delas. Vemos que o Senhor Jesus tinha uma alegria que o re-
compensaria tão grandiosamente que lhe servia de estímulo para ir até o fim, custasse
o que custasse. Graças a Deus por Sua vitória, pois agora podemos experimentar como
Ele o poder da ressurreição, o poder da vida indissolúvel (Hb 7:16), o poder interior
que “traga a morte pela vitória” (1Co 15:54b). Poder este localizado logo após a cruz,
aquele mesmo que ressuscitou ao Senhor Jesus dentre os mortos (Rm 8:11), dando-lhe
“o nome que está sobre todo o nome, nos céus, na terra e debaixo da terra, abaixo do qual todo joelho
se dobrará e toda língua confessará que ele é Senhor, para a glória de Deus Pai.” (Fp 2:10)
Ele nos deu o Evangelho de seu Filho, bem como o mesmo Espírito. Cabe a nós,
portanto, batalharmos pela nossa fé (Jd 3), algo que é totalmente nossa responsabilida-
de, haja vista que “pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira
que o visível veio a existir das coisas que não aparecem.” (Hb 11:3).
Note o que acontece antes da cruz, na parábola do semeador:

“Então, se aproximaram os discípulos e lhe perguntaram: Por que lhes falas por parábo-
las? Ao que respondeu: Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas
aqueles não lhes é isto concedido. Pois ao que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas, ao que
não tem, até o que tem lhe será tirado. Por isso, lhes falo por parábolas; porque, vendo, não veem;
ouvindo, não ouvem, nem entendem. De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías:

Ouvireis com os ouvidos e de modo nenhum entendereis; vereis com os olhos e de nenhum
modo percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvi-
dos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam
com o coração, se convertam e sejam por mim curados.”

Mateus 13:10-15.

Veja que, no final das contas, quem revela o evangelho é o próprio Senhor, ou
seja, não procede do homem. Segunda coisa, a raiz de todo problema do povo está
na “dureza de coração”, causa esta que não lhes permite compreender segundo o
entendimento da fé (Hb 11:3). Em outras palavras, antes da cruz, ninguém poderia
compreender o evangelho, pois este nos é revelado pelo Espírito (1Co 2:9), o qual só
seria derramado após a ascensão de Cristo aos céus na Festa de Pentecostes. E aqui
quero fazer uma pausa para falar do momento espiritual da igreja mundial, salvo um
número de exceções cada vez maior, para a glória de Deus, porém ainda bem comum.
Há muitos líderes, que ainda não se converteram, propagando o evangelho como
mera doutrina desprovida de verdade e vida. Não experimentaram a cruz, menos ainda
o poder da ressurreição; são zombadores que são orientados pelos próprios desejos
ímpios. A respeito disso, é dito que “estes são os que causam divisões entre vocês, os quais seguem
a tendência da sua própria alma e não têm o Espírito” (Jd 18-19 – NVI). Esse, curiosamente,
era o mesmo problema relatado por Paulo, justificando a incompreensão por parte dos
judeus sobre o ministério da justiça:

“Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. Quando,
porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado.”

2 Coríntios 3:15-16.
Sem a genuína conversão, tudo o que temos nos púlpitos são professores elo-
quentes e desprovidos do amor de Deus; com magnífica instrução bíblica, porém de
alma vazia e maculada. Fluem nos dons, não na verdade, segundo Deus, poderosa para
purificar a alma (1Pe 1:22-25). E o revés disto é que cada árvore produz fruto segundo
a sua própria espécie. Homens com o DNA de Adão continuam ignorando a ferida do
povo e dizendo “paz, paz; quando não há paz” (Jr 6:14-15) e nutrem, em seus ouvintes,
os mesmos desejos que carregam em seus corações. A cruz de Cristo é para aniquilar a
carne com seu egoísmo e nos revelar aquilo que “por Deus nos foi dado gratuitamen-
te” (1Co 2:12), algo que só nos é esclarecido através da mente de Cristo.
Esses homens estão sendo levantados nos quatro cantos da terra para este tempo.
Eles são cheios do Espírito Santo, experimentados e crucificados. Estão escondidos,
mas em breve serão manifestos com poder e glória. E assim prepararão o caminho e
despertarão o coração daqueles que farão parte da colheita final, para o retorno do
Soberano Senhor Jesus Cristo.

A nossa cruz

“Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue,
tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem quiser
perder a vida por minha causa achá-la-á. Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro
e perder a sua alma?”

Mateus 16:24-26.

Reatando a estória de Raul, esta foi a orientação que ele recebeu de seu mentor.
Aceitar os processos, vencer suas mazelas emocionais, principalmente o medo, para que
houvesse uma mudança de perspectiva da incredulidade para a fé, de alma vivente para
espírito vivificante. Então, seu mentor o orientou a oração em línguas e Raul passou a
ser guiado pelo Espírito de Deus a cruz.
Na passagem acima, a palavra “negue-se” é “aparneomai”. É literalmente negar;
declarar não conhecimento ou ligação com alguém, esquecer de si mesmo, perder a
visão ou interesse próprio. Entretanto, ao analisar sua etimologia, a ideia é de “negar e
separar da emanação da carne aquilo que se fala, seja por impulso ou consciente”. Vale ressaltar
que o contexto não mencionado nesta seção remete a Pedro, que falou da parte de
Deus por revelação e, em seguida, influenciado por Satanás, para boicote do propósito
de modo mascarado de algo bom e bem-intencionado. Essa é justamente a influência
daquela árvore mencionada no início deste livro, a qual Adão e Eva comeram e levaram
a humanidade às consequências do pecado. Agora o caminho de Cristo é reverso, ou
seja, ao invés de “buscar conhecimento e ser como Deus, conhecedor do bem e do
mal” (Gn 3:5), a questão foi desaprender tudo e voltar à origem, ou seja, ser remode-
lado pelo desenvolvimento da nova natureza na verdade até atingir a estatura de varão
perfeito em Cristo Jesus (Ef 4:13-24).
Raul estava literalmente sendo ‘prensado’ pelo Senhor, porém, mesmo sem en-
tender, tinha segurança que de fato este era o caminho a ser seguido. Sua vida estava
de pernas para o ar, mas ele entrou na jornada sem volta das pegadas de Abraão, ou
pegadas da fé, pois foi anunciado que o justo viveria pela fé (Rm 1:17). Em alguns
momentos o sofrimento era tão intenso que Raul passava dias em pranto, mas estava
aceitando os primeiros passos da escola do Espírito. Orando em línguas e se dedicando
a meditação nas Escrituras, meses e meses foram se passando. Raul estava sendo forta-
lecido em seu espírito na oração, até que recebeu sua primeira Rhema. E desde então,
nunca mais foi o mesmo.
A Palavra de Deus se abriu no espírito dele, pois finalmente o véu lhe foi rasgado,
ou seja, a cruz penetrou sua vontade, liberando o poder da ressurreição. Deste dia em
diante, ele passou a contemplar a genuína glória de Deus, a qual passou a lhe mostrar
quem de fato ele era, expondo-lhe amorosamente os seus pecados e lhe dando graça
para se arrepender e for transformado de glória em glória. Raul, que antes não conhe-
cia ao Senhor, apaixonou-se como nunca por ele, o qual iniciou uma profunda obra de
cura e restauração em sua alma.

O poder da ressurreição

Neste ponto, Raul entrou no Reino de Deus, porque, quem nasce de novo, passa
a vê-lo. Todavia, só entra no Reino quem ressuscita (experimenta o poder da ressurrei-
ção – liberação interior do espírito vivificante - Jo 3:3-5; 1Co 15:42-49).
Neste instante, quando o véu (vontade) da carne é rasgado pela cruz, o espírito é
liberado, de maneira que o suprimento de graça, agora, torna-se ilimitado, pois a nova
natureza não tem limites em Deus. As revelações das Escrituras (Rhema) passam a
ser cada vez mais abundantes e uma nova condição interior passa a ganhar clareza. O
que antes era obscuro passa a ser, aos poucos, esclarecido. É como se houvesse uma
nova bíblia dentro da antiga bíblia. Tudo começa a ser reaprendido, mas desta vez com
o fundamento correto, proveniente da fé, a qual vem pelo ouvir a Rhema de Deus
(Rm 10:17). Raul passa a experimentar um derramar do amor de Deus singular, que
só acontece de modo perceptível para os poucos que acessam a porta estreita e seu
caminho equivalente.
Aqui o arrependimento cresce na proporção da revelação que ele recebe, levando
Raul progressivamente a concordar com Deus de mente e coração. De repente, chega
uma mensagem no seu zap de seu mentor, guiando-o:
Raul, muito me alegra que esteja experimentando o poder da ressurreição. Quero
que tome cuidado com os cães e que entenda esta novidade de vida, a partir da palavra
de Deus. Veja o seguinte texto:

“Acautelai-vos dos cães! Acautelai-vos da falsa circuncisão, nós que adoramos a Deus no
Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus e não confiamos na carne. Bem que eu poderia confiar
também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncida-
do ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei,
fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja: quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Mas
o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo
como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do
qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não
tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que pro-
cede de Deus baseada na fé; para conhecê-lo, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus
sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição
dentre os mortos.”

Felipenses 3:2-11.

Vemos que Paulo trata de um assunto extremamente relevante e começa o seu


alerta com “acautelai-vos dos cães”. Antes de qualquer coisa, é sábio que você, leitor,
leia toda a carta aos filipenses ou ao menos os capítulos anteriores ao trecho em estu-
do, porque Paulo desenvolve um assunto que, se o leitor não tiver fresco em sua mente,
pode deixar “buracos” em seu entendimento, e ele não ficar claro para você.
A cruz de Cristo não é apenas um sinal de que fomos perdoados pelo Senhor,
mas é também por este caminho que o Senhor nos salvou (e o deixou aberto para que
pudéssemos resgatar a nossa alma através da fé). Em outras palavras, esta é a porta
estreita (Mt 7:13-14). Foi se entregando a ela, no Getsêmani, que Jesus foi capaz de
renunciar sua vontade e de se render à vontade de Deus Pai (Mt 26:39). Tendo-o como
exemplo, percebemos que a cruz é responsável por mortificar a nossa vontade e que,
por meio dela, é possível reconfigurar o ser humano a partir de Sua Palavra (Rhema),
com o auxílio do Espírito Santo (Rm 8:13 / Hb 9:14).
De volta aos cães agora. Paulo faz menção deste tipo de falsos irmãos neste mes-
mo capítulo, dizendo:

“Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, vos digo, até
chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre,
e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas”

Felipenses 3:17-19.

Portanto, irmãos, concluímos que “cães” são “lambedores de feridas”, que prefe-
rem anestesiar o povo fazendo promessas terrenas e vãs ao invés de ensinar ao povo a
necessidade da cruz para quebrar as falsas convicções e demais construções interiores
(pensamentos, percepções, vontades, emoções, etc.). Talvez você se pergunte: “Como
isto se aplica a vida de Raul?”
Pois bem, Raul agora passa a ver que as coisas que estavam começando a melho-
rar passam a “piorar”. Ainda que intensamente apaixonado pelo Senhor, ele se pega
sentindo coisas que nunca sentiu ou que há muito tempo não sentia. Mergulhado e
vigilante quanto ao “orar sem cessar” (1Ts 5:17), em meio a aflições inexplicáveis, per-
manece na oração em línguas, pois entendeu sua preciosidade na construção da fé e no
estabelecer da mente de Cristo em seus filhos.
Pregadores de Youtube, conforme ele assistia com frequência, começaram a ser
“desmascarados” pelo próprio Espírito Santo, pois falavam muito sobre as coisas ter-
renas. Raul foi notando que a cruz era pouco, ou nem era mencionada. À medida que
crescia na graça e no conhecimento do Senhor, ouvindo e praticando a palavra revela-
da que recebia, seu discernimento foi aumentando e algo saltou dentro dele: uma nova
percepção de realidade. Raul entendeu que “essas novas guerras interiores que surgiram, sem
que nenhuma circunstância as tivesse gerado dentro dele, faziam parte de construções mentais que já
havia dentro dele; ou seja, ele passou a se ver por dentro e entender, sob a bondade infinita do Espírito
Santo e do amor de Deus, quem era de fato Raul aos olhos de Deus e a necessidade de arrependi-
mento”. E muitas lágrimas de arrependimento começaram a rolar por dias, sempre nos
momentos em que Raul decidia entrar no secreto com o Senhor. Deste dia em diante,
um profundo processo de cura se espalhou em seu coração. Foram longos meses, con-
templando a glória de Deus e recebendo o consolo do Espírito Santo, até Raul ter sido
forjado e aprovado para o novo tempo de visitação do Senhor.

Contemplando a glória de Deus


“Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado. Ora, o Senhor é o

Espírito, e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. E todos nós, com o rosto desvendado,
contemplando como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na
sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.”

2 Coríntios 3:16-18

Como mencionado anteriormente na seção ‘Fogo consumidor e o juízo de Deus’, du-


rante o período de visitação, quando a vida literalmente vira “de pernas para o ar”,
embora sob juízo, a pessoa que se encontra sob visitação (em nosso caso Raul) tem
a oportunidade de redimir a área de sua vida pela qual a situação ruiu, desde que se
assente à mesa com o Senhor e aceite os processos (Sl 23:4-5). Em meio às guerras
que começaram a se manifestar, ele agora precisa se posicionar firmemente, pois as
revelações do Senhor tornaram-se para ele “a luz que ilumina todo homem” (Jo 1:9). No
contexto desta passagem, ele fala a respeito da Palavra que desceu dos céus e se fez
carne; que tinha a vida em si mesmo e era a luz dos homens. E esta é a luz da revelação
interior, o espelho mencionado por Paulo no trecho em estudo. É por este espelho que
entendemos o mistério “Cristo em vós, a esperança da glória” (Cl 1:27). Quando Cristo é
revelado dentro de nós (ou seja, quando ouvimos a Rhema do Senhor), vemo-nos como
o Jesus nos vê, porém, neste instante de contemplação, recebemos a substituição de
um pensamento raiz – um péssimo hábito, uma memória que abriga profunda tristeza
ou qualquer coisa do tipo – por outro da mente do Senhor. E quando isso passar a ser
praticado, começa a transformar a nossa forma de pensar à imagem de Cristo e, na
perseverança, conquista definitivamente a alma ao curá-la. (Lc 21:19).
Era nesse instante que Raul se encontrava. Descobriu que, na verdade, seus maio-
res problemas nunca estiveram em suas circunstâncias, mas em seu coração, que não
sabia filtrá-las como mentirosas, e que a solução para tudo isso era a renovação de
mente, pois somente assim ele poderia enxergar as coisas com os óculos da fé, ou me-
lhor, da mesma perspectiva de Deus.
Embora atribulado, Raul estava disposto a aceitar o tratamento do Senhor em sua
vida, pois ansiava mais do que tudo cumprir seu propósito. Aqui cabem uns parênteses.
Muitos irmãos verão o Mestre voltar e sequer experimentarão o poder da ressurreição.
Além do mais, há outros que são apenas chamados por irmãos, mas nunca se conver-
teram, de modo que, devido a isso, demonstram uma pequena mudança desde o dia em
ouviram a palavra pela primeira vez, “aceitaram Jesus”, fizeram a oração de salvação,
mas se estagnaram em sua evolução espiritual, pois “o véu ainda não lhes foi tirado
(nunca se converteram)”. Em minha opinião, estes não são exclusivamente culpados.
Penso que este mal também está localizado em corações de muitos pregadores, alguns,
inclusive, que o Senhor nem sequer os chamou. Por terem corações assim, obviamente
não podem produzir fruto de outra espécie, já que o evangelho é de “coração para cora-
ção” (2Co 3:2-3), e Deus é servido e adorado em espírito (Rm 1:9/ Jo 4:23-24). Entre-
tanto, o Santo Espírito está levantando uma nova geração que falará no espírito e no
poder de Elias (Ml 4), o qual preparará o caminho através da santificação e da pureza
para o retorno do Messias.
Raul é um desses. E oro para que você também seja. Um daqueles que já passaram,
ou tem passado, passam ou passarão ainda por uma visitação do Senhor e se renderão
a Sua vontade, para que também seja habilitado a servi-lo de modo eficiente (Cl 1:29).
Raul estava sendo totalmente desconstruído em seus pensamentos, conceitos e cren-
ças, além de quebrantado em suas convicções; estava sendo completamente refeito por
dentro, até mesmo ao nível de suas motivações. Literalmente tornou-se casa de oração
(Mt 21:13) e, ao casar esta prática com a meditação constante e disciplinada da palavra,
trabalha como cooperador de Deus para a construção do santuário Dele (1Co 3:9).
Tendo todas essas esferas interiores sob um processo de intensa pressão, o Senhor
extraía dele óleo para o habilitar, em seu devido tempo, a reinar em seu propósito. Sem
mais delongas, este é um dos papéis da glória de Deus mais ignorados (ou talvez deva
dizer desconhecidos) por boa parte da igreja: aplicar a palavra de Deus aos nossos
corações, expondo-nos quem somos e quão amados somos, transferindo substância
espiritual (Jo 6:63) para a nossa verdadeira transformação à semelhança de Cristo (Rm
8:28-30).

Do império das trevas para


o Reino do Filho

“Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu
amor”

Colossenses 1:13.

No instante em que somos mudados de lugar, recebemos uma carga graciosa do


amor de Deus, bem como uma capacitação especial para retornarmos para o caminho
da obediência em amor, já que permanecer no amor dele é questão “de guardar os seus
mandamentos” (Jo 15:10), por meio da “obediência por fé” (Rm 1:5). E nessa mudan-
ça, a partir das revelações que recebemos, passamos a nos enxergar a partir deste espe-
lho interior que é a palavra do Senhor. É ela que nos revela quem somos e nos capacita
para uma transformação genuína; quando amadurecidos, podemos entender pela fé
(perspectiva de Deus) o que Jesus quis dizer ao comentar “a quem pouco é perdoado,
pouco ama” (Lc 9:47).
O oposto é equivalente. A maturidade nos faz ver o quão mal de fato somos e
nos revela progressivamente que temos tanta necessidade de perdão quanto qualquer
outro ser humano nesta terra. É a partir desta contemplação que o amor de fato ganha
força para usarmos de misericórdia, pois cresce a consciência da nossa humanidade
na mesma proporção que o amor do nosso Senhor é derramado em nossos corações.
Esse é o verdadeiro efeito de se “contemplar a glória de Deus com o rosto desvendado” (2Co
3:18). Nesse estágio, torna-se possível a construção do santuário do Senhor em nosso
espírito, pois Cristo, que é a Pedra Angular (1Pe 2:4-8) ou, a nível de conceitos, a Ver-
dade (Jo 8:32,36), habilitou-nos a enxergarmos todas as coisas a partir da perspectiva
da luz (ou a partir de coisas que não se veem, também conhecidas por ‘fé’ – Hb 11:1-3)
e a renovarmos a nossa mentalidade (Rm 12:1-2).

A RESSURREIÇÃO
E O JARDIM DA LUZ

“Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos
designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes
ao Pai em meu nome, ele vô-lo conceda.”

João 15:16.

Depois que Raul experimentou o poder da ressurreição, passou a contemplar com


clareza a glória de Deus. Sendo assim, disciplinado em suas práticas espirituais para
o desenvolvimento da sua fé, passou a notar que sua alma não apenas vinha sendo
progressivamente curada, mas que seu caráter estava sendo gradualmente restaurado.
Ele, que sempre foi egoísta e ferido, via-se, agora, tendo compaixão das pessoas, sendo
paciente com elas. Também passou a ser generoso com os seus recursos. Apesar dis-
so, toda essa mudança, para ele, ainda era como mágica, pois ele já se via como outra
pessoa completamente diferente. Finalmente concluiu que o amor de Deus o estava
preenchendo como nunca antes e todos estes reflexos exteriores em seu caráter e con-
duta tinham um nome: fruto. Um segredo que Raul descobriu sobre o amor de Deus
foi este:

“Se permanecerdes nas minhas palavras, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi-
reis o que quiserdes e vos será feito. Nisto é glorificado o meu Pai, em que deis muito fruto; e assim
vos tornareis meus discípulos. Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu
amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu
tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço. Tenho-vos dito estas coisas
para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo.”

João 15:7-11 (grifos do autor).

Raul entendeu o ponto crucial da vida cristã. Entendeu que nunca houve rompimento
ou anulação de alianças (a graça anulou ou extinguiu a lei), porém houve um aperfeiçoa-
mento na segunda aliança que ampliou a primeira, o que deu ao homem uma nova natureza
que pudesse cumprir nele a primeira, ou seja, que não mais roubasse do homem o direito
a vida e a agradabilidade que a obediência promete a quem compreende, com a mente
renovada, o que lhe foi dado gratuitamente (v11). Ele entendeu que a graça o capacita a
obedecer e extrair vida desta obediência, a qual anteriormente, devido ao senso de justiça
própria (satisfação ao obedecer ou condenação ao desobedecer), não era possível por di-
vergências de natureza (a lei espiritual, o homem carnal – Rm 7:14). A vitória de Cristo em
nosso favor, por intermédio de seu sangue vertido, aplicou ao homem, que crê em sua Sua
justiça, proveniente da nova natureza que lhe foi concedida, uma lei exclusiva dela: a lei do
Espírito da vida em Cristo Jesus.

Lei do Espírito da Vida versus


a Lei do pecado e da morte

“Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do
Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.”

Romanos 8:1-2.

Aqui há um divisor de águas pouco notado pelos irmãos em Cristo da atualidade. Para
entendê-lo, farei menção de alguns versos do contexto do capítulo anterior (inclusive, re-
comendo ao leitor que faça a leitura de todo o capítulo sete de Romanos, para lhe facilitar
a compreensão). Veja:

“Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom. Acaso o bom se me tornou
em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma
coisa boa, causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno. Por-
que bem sabemos que a lei é espiritual; eu todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado.”

Romanos 7:12-14.

A palavra pecado acima, no grego, é “hamartia” e, em poucas palavras, significa errar o


alvo, estar errado ou desviar-se de retidão e honra, desviar-se da lei de Deus. Estudando
a etimologia, temos “hamartano” (palavra composta de partícula negativa ‘a’ e a raiz de
‘meros’) significando exatamente a mesma coisa de hamartia (ou seja, ela revela intensidade).
Contudo, “meros” aponta para “obter uma seção ou divisão”; parte, parte devida, ou desig-
nada a alguém; sorte, destino; uma das partes constituintes de um todo, entre outros. Sabem
o que isso significa, meus irmãos? Veja a definição que o apóstolo João recebe do Espírito
para nos ensinar:
“Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão
da lei”.

1 João 3:4.

A palavra para pecado, neste trecho, é a mesma usada em Romanos. E agora, vendo
isso, podemos concluir a profundidade que Paulo traz ao mencionar que “o pecado, como
mandamento quebrado (transgressão da lei), à medida que é praticado, vai tomando para si partes da natu-
reza humana; no caso do ser humano, que vive em desobediência desde a queda, TODA a sua natureza foi
tomada e hoje é, em sua plenitude, O PRÓPRIO PECADO”.
Continue esta reflexão comigo:

“Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu todavia, sou carnal, vendido ao pecado.”

Romanos 7:14.

A diferença entre a constituição da lei de Deus para a constituição da natureza do


homem – espiritual e carnal.
E perceba o conflito:

“Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro,
e sim o que detesto; ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem
faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na
minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; porém não o efetuá-lo.
Porque não faço o bem que prefiro, mas o mau que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não
quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o
bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho pra-
zer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha
mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Desventurado homem que
sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Cristo Jesus, nosso Senhor. De
maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas segundo a carne,
da lei do pecado.”

Romanos 7:14-25 (grifos do autor).

Conseguem compreender com mais clareza a seriedade deste assunto? A ques-


tão da natureza é tão grave que, mesmo fazendo o bem, posso estar pecando, uma
vez a questão é o que regula a minha vontade (ver também Fp 2:13). Paulo esclarece
que, quando ele não está preso na atitude, se pega aprisionado à vontade. Portanto,
o ponto central é a natureza (mentalidade) com a qual alguém obedece ao Senhor;
e cada uma delas traz consigo uma lei que atua para a regulação da vontade.
O último verso ele pergunta: “quem me livrará do corpo desta morte”, ou seja,
já faz parte da constituição da velha natureza o pecado (transgredir a lei), por isso,
para a carne, o antídoto é a cruz! Quando usamos a ‘arma da cruz’ (2Co 10:4-6) de
maneira correta, a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus vai prevalecendo contra
a lei do pecado e da morte, removendo a condenação do coração daquele que é
surpreendido no pecado através de uma crescente consciência de que o que trans-
grediu era amado enquanto ainda era pecador (Rm 5:6 / Ef 2:1-10).
Agora Paulo descreve de que forma Deus resolveu o problema da lei do peca-
do e da morte:

“Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez
Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao peca-
do; e, com efeito, condenou Deus na carne o pecado, a fim de que o preceito da lei se cumprisse
em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito”.

Romanos 8:3-4 (grifos do autor)

A palavra grega para tocante é “peri” e pode significar a respeito de, concer-
nente a, por causa de, entre outros. Sua raiz é “peran”, uma palavra acusativa com
o sentido de “furar”, que pode significar através, do outro lado. Ou seja, Deus
resolveu isso perfurando a ponto de atravessar aquela natureza de pecado que Ele
próprio fez de Cristo enquanto estava crucificado (2Co 5:21), permitindo ao ho-
mem que crê fazer esta transição pelo mesmo caminho de Cristo (Mt 16:24-26),
porém usando sua nova natureza (Rm 8:13).
Raul entendeu isso. Foi desenvolvendo o seu espírito que passou a progredir
no cumprimento dos mandamentos e assim prossegue. Ele está sendo refunda-
mentado, reconstituído (Is 28:11-13), aniquilando através da “teshuvá” (retorno as
raízes hebraicas – mandamentos) todo o programa de transgressão que Satanás
implantou no homem desde a queda e tendo sua transformação enquanto a sua
mente se renova, ganhando cada vez mais consciência que, de fato, é verdade o que
Paulo escreveu sobre a vontade de Deus ser “boa, agradável e perfeita” (Rm 12:1-2).
De outro modo, Raul jamais estaria desfrutando de tamanha transformação
interior, pois a lei do pecado e da morte (oriunda da programação mental da carne
– mentiras do diabo) estaria roubando sua vida e lhe trazendo morte e condena-
ção através da desobediência, bem como mantendo o seu coração contrariado,
enquanto ele obedecesse com a velha mentalidade.
A falta de clareza atualmente

Há um nó de limitação no evangelho ministrado na atualidade. Jesus disse que


deveríamos permanecer em seu amor, para que tivéssemos o seu gozo, ou seja, a sua
satisfação em servir a Deus, mesmo a custas de si mesmo. Todavia, este nó é como que
um teto. Quanto à isso, Jesus discursa na sequência do trecho em questão:

“O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Nin-
guém tem amor maior do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. Vós
sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. Já não vos chamarei servos, porque o servo não
sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai
vos tenho dado a conhecer. Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi
a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto. E o vosso fruto permaneça; a fim de que
tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vô-lo conceda. Isto vos mando: que vos ameis uns
aos outros.”

João 15:12-17 (grifos do autor).

Ninguém planta sementes frutíferas em terreno sujo. Antes limpa, prepara, adu-
ba e assim o faz. Este é o processo que todo filho de Deus passa. Deus arranca toda
planta que ele não plantou (Mt 15:13) e começa a plantar novas sementes (rhema) com
esta finalidade. Tanto na construção do santuário quanto no processo de frutificação,
as etapas são as mesmas já mencionadas anteriormente:
1. Ao nascer de novo, a pessoa recebe o Espírito prometido (graça de Deus – Gl
3:14) e é guiada para a cruz para a purificação de sua consciência (Hb 9:14).
2. Aceita as suas perdas até encontrar o Reino de Deus (Lc 15:8-10 / Rm 14:17)
3. Experimenta o poder da ressurreição; (Fp 3)
4. Passa a frutificar permanentemente ao permanecer em obediência; (Jo 15)
E o terreno onde este jardim frutífero é plantado é a nova natureza. O santuário
(pensamentos de Cristo em nós) é construído para a habitação de Deus, mas os frutos
não são apenas para ele; frutificamos para o mundo.

Os frutos excelentes
“Levanta-te, vento norte, e vem tu, vento sul; assopra no meu jardim, para que se derramem os seus aro-

mas. Ah! Venha o meu amado para o seu jardim e coma os seus frutos excelentes”

Cânticos 4:16; 5:1.

Preparado o jardim, pelos processos de Deus, após o dia da visitação, ela ordena
duas coisas: ao vento norte, que se levante; ao vento sul, que venha. Vamos entender
isso um pouco melhor. Muitas vezes, quando a palavra de Deus refere-se a “ventos”, é
uma tipologia do Espírito Santo. O nosso contexto de estudo aceita essa interpretação,
portanto eu a conservarei. Sabendo disso, vejamos as ordens “levanta-te” e “vem”.
A palavra hebraica para “levanta-te” é iwur, uma raiz primitiva (idêntica a iuwr –
com a ideia de “abrir os olhos”: que significa ser exposto, despido ou deixado desco-
berto). A primeira iwur remete a agitar, despertar, acordar, incitar; estar entusiasmado
ou triunfante. Já a segunda é o sentido descrito acima. Só que não para por aí. A pala-
vra hebraica traduzida por “vem” é “bow”, que pode significar ir para dentro, entrar,
chegar, ir, vir para dentro; trazer, fazer vir, aproximar, causar vir, trazer contra, trazer
sobre; ser trazido para dentro, introduzido ou colocado. A expressão para vento sul,
com suas raízes, traz uma forte ideia de “coisas centralizadas a direita” – lado direito, mão
direita, ir para direita, ser destro. Já notou algo aquecendo o seu coração pelo que ire-
mos desvendar? Espero que sim. Juntando ‘vem tu, vento sul’, entendemos algo como:
“traga para dentro aquilo que está a sua destra”. Precioso irmão, quem está assentado
à destra de Deus, o qual tem todas as coisas centralizadas nele? Jesus Cristo! Ou, para
melhor contextualizar, é a Palavra de Deus. (Rm 8:34/ Ef 1:10)
Portanto, ‘levanta-te vento norte, e vem tu, vento sul’ é a noiva desejando o “Es-
pírito e a Palavra”, para que juntos, atraíam o noivo para o seu jardim! Mas não para
por aqui. Ela o quer para comer dos seus frutos excelentes. Vejamos o restante do
versículo:

“... assopra no meu jardim para que se derramem os seus aromas. Ah! Venha o meu
amado para o seu jardim e coma os seus frutos excelentes”.

Cânticos 4:16.

Temos notado a importância da atuação do Espírito e da Palavra na vida da noiva


(como um todo, bem como sobre o filho de Deus), pois não há outra forma de atrair-
mos o noivo. Agora entenda o resultado da passagem:
“Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós,
manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque nós somos para com Deus o bom
perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem.”

2 Coríntios 2:14-15

A que conclusão se pode chegar? Quanto mais o Espírito e a Palavra atuarem em


nossas vidas, mais da Verdade (a natureza de Cristo) é estabelecida em nós É daqui,
desta realidade em nós, que é exalado o bom perfume de Cristo. Ademais, a intensidade
desta atuação em nós é proporcional a nossa proximidade e intimidade com noivo (o
Senhor) no lugar secreto de oração. O nosso espírito de entrega determinará a mani-
festação dele em nossas vidas.
Quero destacar algo que falamos há pouco. O dia da visitação, quando o Espírito
Santo (como fogo consumidor) decide visitar o nosso “mundo particular” e perma-
necer ali para reorganizá-lo por meio da nossa edificação até estabelecer Jesus Cristo a
este versículo, existe uma conexão formidável quando a noiva diz “venha o meu amado
para o seu jardim”. A palavra hebraica para “amado” é “dowd” e significa primeiramen-
te “ferver” – amado, amor, querido . Ao combinarmos a intenção mais o significado,
tem-se algo semelhante a “amor de natureza quente ou fervorosa”. Ou seja, o amado
aqui tem a mesma natureza do Espírito (fogo consumidor). Temos, portanto, reforça-
do diante de nós a participação de duas pessoas da Divindade neste relacionamento: o
Espírito e a Palavra.
Eles cooperam, agora, não apenas estabelecendo a Verdade, mas produzindo fru-
tos excelentes. No original hebraico, a palavra para frutos é “p eriy” e sua raiz é “parah”.
Sendo assim, os frutos aqui são de modo passivo, isto é, são cultivados e não próprios.
Já quando lemos “excelentes” – meged – trata-se de frutos superiores; de sementes
excelentes (ou selecionadas). Fica nítido, portanto, que não se trata, no contexto es-
piritual, de morango ou laranja, por exemplo, mas de alguma nova realidade de vida,
plantada pela semente da palavra e nutrida com a substância do Espírito (a fé gerada
pela Rhema).

Nas palavras do Mestre

“Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade,


fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.”

Gálatas 5:23.
Paulo aborda, já no fim da carta aos gálatas, a evidência daquele que permanece
no caminhar espiritual: uma vida frutífera. Ele fala que este caminhar trata-se de uma
vida de crescente vitória sobre as “vontades pessoais ou carnais”, concluindo o verso
com “contra estas coisas não há lei”. O que ele quer dizer aqui é que a vida frutífera
não envolve uma “obediência seca” (como quem cumpre a regras), mas de alguém
tem na expressão do seu ser a lei escrita progressivamente em seu coração, conforme
a instrução da nova aliança (Jr 31:33-34).
Perceba a sequência de evolução do fruto: amor... alegria... paz... Cada um destes
precisa, em alguma medida, aparecer na vida daquele que está desenvolvendo a sua
salvação. E o segredo é um só:

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim,
não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa para que produza mais fruto ainda. Vós
já estais limpos pela palavra que vos tenho falado; permanecei em mim, e eu permanecerei em vós.
Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós
o podeis dar, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanecer
em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não perma-
necer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará. E o apanham, lançam no fogo
e o queimam. Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o
que quiserdes e vos será feito. Nisto é glorificado o meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos
tornareis meus discípulos. Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor;
Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho
guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço. Tenho-vos dito estas coisas para
que o meu gozo esteja em vós e o vosso gozo seja completo. Não fostes vós que me escolhestes a mim;
pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto
permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vô-lo conceda. Isto vos
mando: que vos ameis uns aos outros.”

João 15:3-4,8-11,16-17.

Duas palavras, neste trecho, receberam destaque do Mestre: fruto (7x) e permanecer
(9x). É interessante também ressaltar a dependência que há entre elas. Há também uma curio-
sidade que enriquece ainda mais: Jesus não inicia falando sobre dar frutos, mas sobre ser lim-
po primeiramente, pois “toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada” (Mt
15:13). Para que os frutos sejam de fato excelentes, é necessária a limpeza. Mas ainda resta
uma pergunta: Que tipos de frutos são esses? A palavra grega “karpos” refere-se a frutos de
várias espécies, sendo mais comumente usada como oriundos de árvore. Esta palavra aceita fru-
to como obras e até mesmo fruto do ventre. No contexto do assunto, é obviamente aquele que
procede de uma árvore. Esta é a mesma palavra usada por Paulo em Gálatas. Portanto, fica
entendido que o desejo e a intenção de Cristo é que sejamos frutíferos interiormente, ou seja,
aperfeiçoados e amadurecidos no decorrer da caminhada. Não se trata, portanto, de aparência
exterior, embora esta maturidade apareça posteriormente em forma de obras. O Senhor olha o
coração, o homem interior, desde a eternidade. Veja como ele avaliou orientou o profeta Samuel:

“Porém o SENHOR disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura,
porque o rejeitei. Porque o SENHOR não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém
o SENHOR o coração.”

1 Samuel 16:7.

Como o Senhor não muda (Ml 3:6), Ele permanece olhando para o mesmo lugar.
O objetivo é reorganizar o íntimo do homem, removendo as mentiras, fortalezas e
estabelecendo a Verdade, de modo que a própria vida contida nela se expresse através
do corpo físico do homem em forma de obediência aos mandamentos. O nome disto?
Evangelho! A Divindade decidiu compartilhar com o homem criatura a sua natureza,
fazendo-o, assim, com grande poder seu próprio filho, ou melhor, família; com direito
a herança, usar o nome e até mesmo a autoridade. Porém, tudo começa com a ilumi-
nação do Espírito Santo sobre a nova condição do homem, alcançada através da edi-
ficação pessoal da fé (elo que acessa e manifesta o poder do Reino de Deus na terra).
A LIMPEZA DO RAMO

A primeira fase da frutificação é a limpeza do ramo, que é realizada pela palavra


que vos tenho falado. Note que não se trata de meramente ler, mas de ouvir a voz,
conforme já falamos anteriormente. Dos versos 3 a 5, lemos a segunda etapa: a depen-
dência de Cristo. Primeiro somos limpos de tudo o que o Pai não plantou e então chega
o momento de reaprender, ou melhor, iniciar uma nova vida no Espírito, caminhando
por fé. Nesta fase, a nossa mente entra em processo de renovação, pois a limpeza vai
equalizando a voz de Cristo com o nosso espírito, coisa que na verdade sempre existiu,
embora fosse obstruída pela mentalidade adâmica; e, sendo assim, torna-se mais nítida
a voz, facilitando o recebimento da palavra revelada (rhema), a única capaz de remo-
ver as raízes mais profundas da nossa alma e substituir pela vida abundante (zoe) que
Cristo veio trazer.
O processo que nos conduz fase a fas e nesta jornada chama-se edificação. Assim
sendo, o tempo que permanecemos em determinada etapa é diretamente ligado a mi-
nha entrega às práticas espirituais que dão liberdade ao Espírito Santo de trabalhar em
nós e de gerar seus frutos através de seu rio de águas vivas, fluindo em nosso interior
(Jo 7:38-39). Há algo que vale a pena destacar: nosso personagem Raul, em todo o
processo em que passou, teve a clareza de discernir o que comentaremos abaixo.
A frequente repetição da palavra “permanecer” não é vã. O Mestre deseja que
tenhamos consciência de duas coisas: permanecer nele (pessoa), referindo-se a nova
natureza sendo diariamente edificada e ele em nós (a substituição da mente adâmica
pela mentalidade dele, de modo que pensemos, sintamos e queiramos tudo o que ele
quer ou faz). Em outras palavras, envolve iniciativa e disciplina – senso de responsa-
bilidade individual. O segundo é consequência (resultado) do primeiro. Mas há uma
situação negativa aqui:

“Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e
o apanham, lançam no fogo e o queimam.”

João 15:6.

Quero destacar duas possibilidades:


1. Não houve novo nascimento;
2. É um crente carnal e tem muita dificuldade em se edificar; ou não sabe como
fazê-lo.
O contexto dessa passagem é o anúncio do Consolador e seu papel em promover
comunhão e unidade com a Palavra (cap. 14 a 16). O Senhor não deseja prejudicar
ninguém, mas trazer consolo (que vem exclusivamente através de Sua Palavra e Seu
Espírito). Por outro lado, se o período estabelecido para frutificação não produzir o
que se espera, há um corte, um desligamento, onde o ramo é entregue ao seu próprio
modo de viver (Rm 1:18-32).
Já nos v7 e 8:

“Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que


quiserdes e vos será feito. Nisto é glorificado o meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos tor-
nareis meus discípulos”.

Vamos pensar um pouco aqui. Qual a finalidade de uma palavra? De modo pro-
gressivo, podemos descrever o seguinte processo:
1. Palavra – pensamento (construção da visão) – visão (imagem completa)
– reflexão.
2. Alegria, tristeza, prazer, euforia, ansiedade (diversos sentimentos) – sentimen-
to regente na maior parte da reflexão – decisão (aceito ou não realizar).
Este é o processo interior (demorado ou instantâneo) que cada ser humano passa
até externar (falar ou fazer). Portanto, o que podemos concluir aqui? Palavras servem
para reger o interior do ser humano, construir cadeias de pensamentos e administrar
emoções. Elas são trazidas à luz, pela fala ou ato.
Retornando agora ao texto, ao dizer “permanecer na palavra e ela em vós”, o que
isso quer dizer? Se cada instrução que eu receber a partir do consolo do Espírito for
considerado e se estabelecer em minha nova natureza, terei meu interior transformado
por este poder e serei atendido nas minhas petições, quando o versículo 8 se compro-
var: “nisto é glorificado o meu Pai... frutos”. Ou seja, a evidência da minha permanência e de
que alguém carrega consigo a glória de Deus (Cl 1:27) é que seu caráter é transforma-
do no percurso. E por carregar esta glória, é capaz de glorificar ao Pai, já que Ele não
aceita a glória dos homens (Jo 5:41).
Veja que esta é a finalidade dele nos ter escolhido:
“Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos
designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes
ao Pai em meu nome, ele vô-lo conceda.”

João 15:16.

Portanto, a limpeza ou a poda não acontecem para produzir servos, mas filhos
semelhantes em caráter ao primogênito Yeshua (Rm 8:28-30). Sabendo o objetivo, fica
mais fácil identificar em qual condição se enquadra uma pessoa que não frutifica no
decorrer do tempo, quando esta quer ensinar muito e nunca amadureceu nada: ela não
nasceu de novo.

A questão não é fazer, mas ser

Meu amigo leitor, isso ficou claro pra você? Fazer a coisa certa não é o objetivo
do Senhor para as nossas vidas, mas levar-nos a uma profunda transformação interior,
a ponto de seus mandamentos serem puramente a expressão do nosso ser através da
atuação do Espírito, escrevendo-os em nossas mentes e corações; ou, em termos bí-
blicos, como Yeshua em sua vida terra, a “expressão exata da glória” (Hb 1:3). Neste
processo a alma é gradativamente transferida do “império das trevas para o reino do Filho do
seu amor” (Cl 1:13), pois o fruto do Espírito a sustém em meio à adversidade, nutrindo-
-a das consolações recebidas em meio à visitação. Não há um tempo claro e específico
de “maturação”, afinal, cada um se entrega na proporção do que entende.
Podemos voltar a fazer menção de Raul. A esta altura, seu mentor já se alegra em
vê-lo compreender mais profundamente as realidades espirituais, bem como a evidente
mudança de postura ante aos desafios da vida. Raul já não é mais avarento, nem menti-
roso, nem egoísta. Já perdoou seus familiares, superou a experiência dolorosa que teve
com sua ex-noiva e agora vive sobre a ótica eterna da vida. Entendeu o que significa
“buscar em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça e as demais coisas vos serão acrescentadas”
(Mt 6:33).
Já se passaram quase 5 anos desde que Raul recebeu a visitação que virou sua vida
de pernas para o ar e agora ele se vê pronto para viver dentro do propósito geral do
Senhor para o homem: o de frutificar para as nações (Jo 15:16). Podemos caminhar
então para os últimos capítulos deste nosso breve estudo.
O Santuário do Fogo

Tendo Raul sido aperfeiçoado no amor de Deus através da fé e da obediência aos

mandamentos, vive hoje uma vida frutífera (ainda que sua realidade exterior não tenha

mudado quase nada). Ele já não murmura mais, pois sabe fazer a leitura eterna da vida
e tem palavras de consolo para aquele que lhe pergunta como ele consegue ser como
é, passando o que passa. Hoje, tendo clareza do que é “carne” e do que é “espírito”,
Raul consegue discernir seus motivos e assim erra muito menos. Porém, o trabalhar do
Senhor em sua vida ainda não acabou, pois ainda nos resta algo.
Como mencionado anteriormente, em tempos específicos, o Senhor visita seus
filhos para recolocá-los na rota de salvação novamente. Neste período, o Fogo Con-
sumidor destrói, mas se esforça para se revelar também como Consolador ao que foi
visitado, quando ele está disposto a buscá-lo. Assim, a pessoa passa a reaprender todas
as coisas a partir do Espírito Santo, que é o genuíno Espírito da Torá (da letra) através
das revelações que este traz. O Tabernáculo de Deus (Santuário) é refeito dentro do
coração do homem sobre estas revelações e mandamentos para que frutifique e revele
o pai às nações. E finalmente, na data marcada pelo Senhor, novamente Ele vem vi-
sitar seu tabernáculo em busca dos seus “frutos excelentes” (Ct 4:16). Mas veja o que
acrescenta Tiago:

“Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com
paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas. Sede vós também
pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima. Irmãos, não vos quei-
xeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas. Irmãos, tomai por
modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram em nome do Senhor. Eis que
temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o
Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo.”

Tiago 5:7-11.

O apóstolo Paulo também traz uma explicação relacionada:

“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus
Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos
firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloria-
mos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e
a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em
nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado”

Romanos 5:1-5.

Estudarei com você a parte mais profunda das menções acima em outro livro. Mas
o essencial que precisamos ter em mente é o objetivo e a dinâmica deste “trabalhar”
ou “processo” rumo à maturidade cristã. Processos não são superados com o tempo,
mas com entrega perseverante e comunhão com o Criador. Tribulações são indicativos
de quem trilha as pegadas do propósito de viver piedosamente. Perceba que o lavrador
mencionado em Tiago aguarda com paciência; no grego, esta palavra também é usada
quando Yeshua faz menção de seu pai ser o agricultor. Portanto, Deus cultiva a vinha
(para produção de frutos) enquanto ergue, com a nossa cooperação, o Seu Santuário
em nós.

Após certo período, o Senhor “vem em nova visitação” ave-


riguar a qualidade da obra que cada um construiu nesta cooperação:

“Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós. Segundo a graça
de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele.
Porém cada um veja como edifica. Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi
posto, o qual é Jesus Cristo. Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata,
pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a
demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o
provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão;
se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que
através do fogo.”

1 Coríntios 3:9-15.

Nesta nova visitação, o que foi construído no interior da pessoa será manifesto.
Deus criou os céus e a terra a partir de sua palavra, o espiritual e depois o natural. Essa
dinâmica nunca mudou. Porém, o homem carnal é moldado a partir do que lê, vê ou
sente; ou seja, por instruções Satânicas, já que este tipo de molde é conforme a “árvore
do conhecimento do bem e do mal, a qual Deus ordenou que nunca fosse comida” (Gn 2:9,15-17).
Em outras palavras, duas realidades espirituais, a de bênção e a de maldição (Dt 28),
estão disponíveis e suscetíveis à manifestação quando o Dia (dia da visitação) chegar
para revelar. Se houve entrega no período da primeira visitação, disciplina, renúncia e a palavra
de Deus foi implantada (Tg 1:21), passando a reger o coração do homem, neste Dia
tudo o que foi prometido e visualizado na mente do ser humano se tornará fatos, não
mais sonhos. Este é o galardão daquele que confiou, mesmo em meio a intensas ad-
versidades na Palavra da Verdade, aceitando os processos de humilhação, perseguição
e muitas perdas.
O poder de Deus simplesmente tornará tudo o que era somente “mental ou imagi-
nário” em situações físicas e habitará com este indivíduo deste momento em diante (Jo
14:21-24). Além disso, recompensas eternas também virão, das quais falarei também
no próximo livro. Neste estágio, o homem não é mais apenas alma vivente, mas espí-
rito vivificante, labaredas de fogo (Hb 1:7). O Fogo Consumidor que julgou e repro-
vou da primeira vez, agora encontrou Verdade e pôde residir nesta nova mentalidade,
tornando o homem um instrumento de justiça e juízo por onde passa. Mas, edificado
o Santuário, agora o Fogo Santo passa a residir naquela pessoa, tornando-a em laba-
redas de fogo. Com o auxílio dos anjos, este fogo se espalha pelo serviço ministerial
deste Santuário. Aonde ele vai, o próprio Deus se manifesta a partir dele, pois habitam
juntos. É este o verdadeiro Santuário do Fogo, quando o “edifício” do qual Paulo faz
menção é erguido por meio de se ouvir a voz de Deus e guardar a sua aliança.
De modo semelhante, se o indivíduo “perdeu a visitação”, confiou em seus
próprios esforços e emoções, não erguendo o santuário do Senhor, ele verá o que
construiu (os fatos que gerou em seus próprios esforços, desde seu sucesso finan-
ceiro, passando por seus relacionamentos, ministério, família e tudo mais) quei-
marem (ou saírem de suas mãos). Isso lhe causará mais uma vez profundo sofri-
mento, o que é sinal de uma nova oportunidade de circuncidar verdadeiramente o
coração através da cruz, para, deste modo, ser recolocado no Caminho da Salva-
ção em Yeshua. Portanto, não discernir os tempos e as estações da vida pode cus-
tar a eternidade. Para isso o Senhor nos chama como seus sacerdotes; para que
possamos guiar os cegos a enxergarem o que não entendem através das Escrituras
Sagradas, até que atinjam sua “maioridade espiritual” e sejam pais para os outros.

Que você também erga um Santuário ao Senhor onde o fogo arderá continuamente,
sem nunca se apagar...

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