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É sempre o espírito das trevas combatendo a luz, sempre a luta da mentira contra a
verdade.
Assim como Cristo, Sócrates teve também o seu Judas, que o foi denunciar aos
grandes da terra como corruptor da mocidade.
A igreja não pode mais contar os mártires da fé, e a esses mártires deve ela o seu
estabelecimento e grandeza.
A humanidade se arrebata pelos princípios; mas exige provas, que só podem ser
subministradas pelos homens de boa vontade, que creem e esperam, sabendo perdoar
aos que lhes fazem mal; que possuem as três virtudes teologais – fé, esperança, e
caridade.
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Desde a origem do mundo sempre dois homens em cena – Caim e Abel, Caifaz e
Jesus.
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O povo, que é a boca por que Deus fala, dirá oportunamente seu último verbo, e
se for para sua salvação, a liberdade virá, e a pátria será nossa, de nós os brasileiros, e
não dos portugueses.
II
Desde 1710, que os mártires pernambucanos têm derramado seu precioso sangue
pela liberdade, e pela nacionalidade.
A guerra dos mascates foi um brado levantado há 158 anos pelos pernambucanos
contra as pretensões dos portugueses, que começavam a estabelecer-se no Recife, e
desde então o sangue dos defensores do povo tem corrido em nossas ruas; e as gélidas
horas da prisão têm caído uma a uma por sobre as cabeças dos condenados políticos.
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A esse tempo me achava na capital da Paraíba, minha terra natal, e ligado ainda
jovem a todos os patriotas – entreguei-me corpo e alma a grande luta da nossa
emancipação.
III
O grande centro criou centro nas capitais das províncias; fui lembrado em 1828
para um dos nove que deviam organizar a sociedade jardineira na Paraíba, sendo meus
companheiros Bernardo Lobo de Souza Antônio Henrique de Almeida, Luiz Álvares de
Carvalho, João de Albuquerque Maranhão, Francisco José Meira, e me não lembro
agora quais os outros três.
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Novas perseguições, tentativas de assassinato por parte dos colunas contra minha
pessoa, e afinal processo por abuso de liberdade de comunicar os pensamentos pela
imprensa, prisão, e absolvição no júri.
Renovando-se o diretório central em 1830 fui eleito por ele, e ordem me foi
enviada para partir imediatamente para a corte.
Obedeci.
Eis-me em 1830 na corte, e a frente da direção suprema do partido liberal
brasileiro, partido democrata, partido republicano.
Eram membros desse grande conselho comigo, eu inda jovem, e os mais patriotas
veteranos, os seguintes – Bernardo Pereira de Vasconcelos, Padre José Custódio Dias,
José da Costa Carvalho, ao depois marquês de Monte Alegre, Manoel da Fonseca Lima
e Silva, ao depois barão de Suruhi, Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, José Joaquim
Vieira Souto, José Lino Coutinho, Francisco de Paula Souza, Padre Diogo Antônio
Feijó, Padre José Martiniano de Alencar, Manoel Odorico Mendes.
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IV
A luta que então travamos contra o primeiro império não pode ser aqui historiada:
estamos em 1831.
Toda a perseguição caiu sobre mim, nova tentativa de morte, novos processos, e
toda a casta de seduções por parte de Pedro I.
A luta se personificou.
Por parte do partido brasileiro desceu a luta pessoalmente comigo, como que,
morto eu, ficava aniquilado o partido brasileiro.
Fica Pedro I em S. Cristóvão, e ordena o massacre; marca o dia para sua entrada
triunfal.
Na rua da Quitanda somos acometidos pelos portugueses, que nos lançam das
varandas garrafas, e outros projéteis, rompendo essa execrável cena o imperador, que
me dirige um tiro de pistola,
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que ferira ao companheiro que me dava o braço direito Joaquim Feliciano Gomes.
É o dia 25 de março.
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Ri, e sentei-me, ficando aos meus lados Bernardo Pereira de Vasconcelos, e
Nicolau Pereira de Campus Vergueiro.
Desde então esta foi a maior luta, mas o povo confiava inteiramente em mim, ou
só confiava em mim.
VI
Novos acometimentos.
No dia 4 de abril saí a rondar para pôr cobro ao desmando português, e assim
fiquei no campo todo esse dia, e no dia 5.
N’esse lugar ficou Odorico, e eu com o povo fui-me acampar em frente ao paço
da Câmara Municipal no campo de Santa Anna.
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VII
S. Cristóvão estava abandonado, e Pedro II com suas irmãs ali ficaram sós nos
vastos salões d’esse palácio: tinha ele então 5 anos.
Coube-me cuidar dos príncipes, e por mim n’essa noite foram eles entregues ao
visconde de Goiana.
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Dissolvi a reunião, que estava prestes a praticar excessos, que marchariam para
sempre a gloriosa e incruenta revolução de 7 de abril.
VIII
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É 1833.
Por influência d’este se havia tirado a tutela dos príncipes ao meu venerado amigo
José Bonifácio, e se lhe fez processo por caramurú, ou restaurador.
Valia muito para os novos dominadores meu depoimento contra José Bonifácio, e
me é deputado o cônego Januário para consegui-lo; atira-se-me a cara a presidência do
Pará.
E nessa luta só tive por mim o ministro da fazenda Cândido José de Araújo
Vianna, hoje visconde de Sapacahy.
Devi em 1834 tomar assento na câmara dos deputados como suplente pela
Paraíba, travou-se a luta, o ministério tudo empenhou; depois de longa discussão, 41
votos contra 40 negou-me entrada na câmara, tendo eu apenas dos deputados do sul o
meu amigo, o grande Bernardo Pereira de Vasconcelos, e contra quatro deputados do
norte.
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IX
Resigna Feijó o poder, e nova eleição vai ter lugar, são os candidatos Holanda e
Araújo Lima, decido-me por este.
E n’esse ano foi Urbano nomeado deputado a assembleia geral por esta província,
e eu pela Paraíba.
Em 1838 a comissão de poderes em minha ausência, ou antes – Honório Ermeto
Carneiro Leão e José Clemente Pereira – deram parecer contra mim, e excluíram-me, e
levaram a perversidade a ponto de tirarem-me do primeiro suplente para quinto, embora
a aritmética bradasse contra tão grande absurdo.
O deputado Urbano estava escravo na câmara, e com os corcundas, pois que foi
sempre, e é corcunda.
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Desde então até 1841 votou o deputado Urbano contra as liberdades públicas, e
concorreu poderosamente para a promulgação de todas essas leis de arbítrio e de
sangue, que têm levado o país ao abismo em que se acha.
Minas e São Paulo levantam-se contra essas leis de sangue, e sempre ao lado da
tirania esteve Urbano Sabino.
XI
Estamos em 1844
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Mas a propaganda era também social, era para a aquisição do comércio a retalho
para os brasileiros.
Urbano lança-se com fúria insana na câmara dos deputados contra mim,
representa-me como chefe do norte em combinação com o imortal Rosas chefe supremo
então em Buenos Aires, estando na corte acreditado para com o imperador o
plenipotenciário Tomaz Guido, que deu como igualmente acreditado ante mim em
Pernambuco.
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XII
Foi grane a luta em 1845; Urbano estabeleceu como princípio para o seu partido –
todo Cavalcante e Regos Barros e ladrão assassino.
Como princípio; pois Urbano faz do homem princípio, e com razão; porque só
crendo ele no seu egoísmo, foge tratar das questões sociais; estando seguro o seu eu,
tudo o mais é de nem um valor.
Então levantou-se aqui quanta paixão ruim e desregrada podia ser levantada no
ânimo do povo, e os homens sérios e graves se viram comprometidos e assaltados.
Em agosto fui posto em liberdade, porque ante o júri o povo se agitou, e a relação
desprezou a apelação do juiz de direito.
A reação devia vir; sou procurado por Sebastião do Rego Barros, tenente coronel
José Antônio Lopes e Martins Pereira, a fim que fique neutro no pleito, e os deixe tomar
vingança da praia, sob promessa de clientela como advogado, visto como não queria ter
parte na administração.
Não eram passados 30 dias depois que havia eu saído da cadeia em que me pôs a
praia; prevaleceu em mim o meu dever, e não a minha paixão.
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Felix Peixoto de Brito e Melo provoca a rebelião, convida-me para ela por
intermédio do meu amigo João Batista do Amaral e Melo; não amo (?), por não
descobrir causa legítima de revolta, e peço-lhe de reconsiderar a matéria.
Meus amigos Amaral e Moraes estão comprometidos; parte desta cidade no dia 13
com José Francisco Carneiro para Inhamã, a ali dou começo a reunião do povo.
XIII
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Enquanto estive com minha gente ao Norte, a vitória acompanhou sempre nossas
armas.
O primeiro traidor foi o Dr. Felipe Lopes Neto; ou antes d’aquela gente da praia
só não traíram – Antônio Afonso Ferreira, Antônio da Costa Regos Monteiro, o mártir,
o dedicado e venerando mártir Joaquim Nunes Machado, e o Dr. Jerônimo Vilela de
Castro Tavares, o Dr. Joaquim Francisco de Farias.
Marchamos sobre Água-Preta, ali fizemos junção com o glorioso mártir Pedro Ivo
Velozo da Silveira, e com a força ao mando de Felix Peixoto.
Não é d’aqui histórias a revolução.
XIV
Estou neste bairro de Santo Antônio com uma força de 450 homens.
Lopes Neto, que devia ter o cartuchame no Aterro dos Afogados, e na casa de
José Hijino de Miranda, traiu-nos, e escondeu o cartuchame; briguei aqui o dia com a
pouca pólvora, que tínhamos nas cartucheiras.
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A força imperial apesar de sua valentia ficou quase aniquilada em Santo Antônio,
e tanto que retirando-me não pôde perserguir-me: - tinha quase dois mil homens fora de
combate entre mortos e feridos.
A notícia de tão doloroso massacre tive-a eu em Timbó distante daqui pouco mais
de três léguas.
Tosta põe minha cabeça a prêmio, oferece a meus assassinos seis contos de réis ao
lhe apresentarem minha cabeça, e creio que dois, se só lhe apresentassem minhas
orelhas.
No dia 30 de março entro preso nesta capital, sou levado de Herodes para Pilatos,
e representavam bem a cena, pois que estávamos na semana da paixão de Jesus.
Neto estava na câmara do comandante dessa fragata, que era Joaquim José Inácio,
e outros
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Conspiram contra a minha vida, e fazem-me descer para a enxovia, a fim de ali ser
assassinado por um miserável já a isto disposto.
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Sabendo dessa traição, como ajudante general do diretório ordenei a Pedro Ivo de
continuar a revolução, e fui obedecido.
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Instaram, cedi.
XVII
Por minha parte a mandei entregar ao meu amigo o Sr. Dr. Afonso de
Albuquerque Melo, tendo por adjuntos o infeliz Dr. Estevam de Albuquerque Melo
Montenegro, e o Sr. Dr. Vicente Ferreira Gomes.
Nove dias depois está em Fernando a Euterpe; Neto com os mais falam contentes
de anistia, e se espanta quando lhe respondo – anistia é ordem de eu ir para a Ilha Rata.
O comandante Doudain salta, e diz-me, não sei o que trago, o negócio é com V.
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Esses galés, esses homens perdidos, eram filhos do povo, e um dia nas extorsões
da fome me disseram: - fazem isto para que o desespero nos leve a matá-lo, enganam-
se, morremos todos cinco juntos.
XVIII
E quereis fidalgos, que me junte convosco para massacrar o povo... e dizeis, que o
povo me abandona!!...
Quando muito me tivesse feito sofrer o povo, aquela dedicação dos quatro galés,
aquela amizade profunda que me consagraram em tal ermo, aquele padecer por mim de
quatro homens, que a sociedade repudiara como réprobos... aquela paciência nas
extorsões de fome e da sede... aquela boa vontade com que por mim se martirizavam...
ah! Impôs-me o dever de nunca deixar de ser povo!
Oh! Quantas vezes escondidamente derramava eu lágrimas por ver por mim
sofrerem aqueles quatro galés!
XIX
Ao depois de 10 meses sou passado para a ilha de Fernando, onde estive até
agosto de 1852.
Aqui chegando encontrei anistia, e fui solto.
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Os revolucionários apenas saídos dos ferros já estavam brigados; Neto era o pomo
da discórdia; já ele havia brigado com seus companheiros em Fernando – havia
suscitado a raiva de um oficial da guarnição para insultar a Cazumbá, somente porque
não era instrumento, – sedo mister que eu intimasse a esse oficial de não insultar a
companheiro algum meu, pena de tomar eu o insulto para mim.
Continuou a traição ao partido liberal; não se quis ir a urna nesse ano, quando
tínhamos tantos elementos de vitória.
Escrevi aqui por algum tempo a Revolução de Novembro para contestar as falsas
doutrinas dos que vendidos ao governo pretendiam desvirtuar a gloriosa revolução de
1848.
XX
Um criado do paço entendeu-se com o Sr. Urbano, e outros genuínos hoje, foi a
Laje, de lá tirou Pedro Ivo, levou-o para uma chácara ao Pão d’Açúcar, onde morava o
subdelegado de polícia, entregou-a o esse subdelegado.
Daqui andou por seca e meca, e afina embarcado, tudo sob direção e inspeção do
Sr. Urbano, em um navio genovês e por esse navio genovês, e por esse navio lançado ao
mar cozido num saco de lona na Bahia da Traição.
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Pedro Ivo era acaso um vulto pequeno, para que seu assassinato passasse
desapercebido?
Eis porque não me querem na câmara dos deputados, – eu teria que tomar conta
aos genuínos, aos chamados históricos do mal que nos hão feito – se não de suas
traições.
XXI
Tendo voado pela lei de interpretação do ato adicional, com a mesma consciência
com que havia votado na Assembleia provincial desta província a lei da prefeitura,
votou também pela lei de reforma, que pôs a porta de cada cidadão um beleguim, e um
espião.
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Não havia ainda impossibilidade de ergue-se o partido liberal, que o Sr. Urbano e
a corte criam morto tendo morrido os mártires Nunes Machado e Pedro Ivo.
No fim desse ano volto a Pernambuco, onde deixo minha família, e sigo para a
Europa.
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XXIII
Inda mal se firmava a liga, na qual representou o Sr. Urbano o papel de coveiro do
partido liberal de Pernambuco, já este Senhor brigava com o conselheiro Francisco
Xavier Paes Barreto, porque não era incluído na lista para senador.
XXIV
Dois meses passados, do dia em que o Sr. Urbano entregara o partido liberal a
ditadura do Sr. Paes Barreto, Rompia ele por amor do seu eu a unidade do novo partido,
e destacava dele um grupo, denominando-o genuíno.
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Mas o Sr. Urbano por proteção do conselheiro Paes Barreto tinha obtido uma
cadeira na câmara quatrienal.
Na câmara foi nulo o Sr. Urbano, e tão nulo que a coroa chamando para o
ministério as criançolas, a até juízes municipais, nunca fez caso desse especulador,
velho nas lides parlamentares.
Os anais do parlamento ali estão para provarem que o Sr. Urbano foi sempre
deputado medíocre, ainda mesmo nas questões pessoais, únicas a que se dá; porquanto
na câmara não se tem distinguido – nem como político, nem como juris-consulto.
Doente, e quase a morrer todos os dias, conservei-me alheio aos negócios da liga
a qual não quis anuir como se me pôs, e só em novembro de 1865 pude vir a esta cidade
assistir ao bacharelamento de meus filhos e parentes, e aqui fiquei.
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Não há exemplo de um povo, que seja em sua terra escravo do estrangeiro, e que
não chora tamanha degradação.
Jeremias orando ao Senhor pelos seus, no excesso de sua dor, assim fala:
“Lembra-te, Senhor, do que nos tem acontecido: considera e olha para o nosso
opróbio.
Estamos feitos órfãos sem pai: nossas mães se acham com viúvas.
A nossa água por dinheiro a temos bebido: a nossa lenha por preço a temos
comprado.
Nossos pais pecaram, e não existem: nós sofremos ainda hoje as iniquidades
deles.
Os servos nos dominaram: não há quem nos resgate das mãos deles.
Com perigo de nossas vidas, vamos buscar o de que temos mister no deserto por
baixo do fio da espada.
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“Por causa do monte de Sião, que foi assolado, as raposas andam nele.”
Se todos vemos nossa herança passada aos portugueses, não podemos deixar de
clamar, clamaremos sempre, até que nos ouça Deus; se os homens não nos quiserem
ouvir.
XXVI
Todo o meu empenho durante o ano de 1866 foi o de unificar o antigo partido
liberal de Pernambuco, para o que solicitei de vários membros do diretório genuíno a
junção do seu partido com o partido popular.
Pediu-se-me de esperar pela Sr. Urbano; esperei até que afinal chegou.
Entendi-me pessoalmente com esse chefe genuíno; e homem sempre, como tem
disso, das conveniências pessoais, perguntou-me-se eu fazia questão da minha
candidatura.
Respondi-lhe afirmativamente.
O fim que visava o Sr. Urbano conhecia-o eu, queria ganhar tempo, e propôs-me
de esperar, que consultasse aos seus amigos.
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E até ali os genuínos contestassem não terem feito junção com os vermelhos,
porque lhes convinha iludir e trair o povo.
Fora inépcia minha, se continuasse a esperar... abri pois a luta franca e lealmente
como é meu costume.
XXVII
O povo manteve-se firme; e não deu ouvidos aos mercenários dos galegos, que
tudo empenharam em pró de seu constante advogado.
Aqui há alguns homens, que com o crédito de cabalistas são pagos nas épocas
eleitorais para intrigarem e insultarem; essa horda de saltimbancos políticos foi posta
em cena, mas sea (?) tempo estava feito, e, não obstante sua arrogância e atrevimento, o
povo escarneceu deles.
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E nas eleições, que acabamos de pleitear, todos esses votaram com os vermelhos.
Não é verdade.
O órgão da facção Vinte cinco de Março aprovou o assassinato, o que deu lugar a
alguns a declararem órgão do padre Campos, e não dos conservadores.
E os genuínos.
Os tribunos portanto nada devem aos vermelhos e genuínos como partidos; são
porém muito gratos ao Sr. Dr. João Teixeira de Sá, e a alguns outros moços distintos,
que manifestaram mui (?) claramente sua repulsão a degradante tragédia de 30 de
Setembro de 1866.
XXVIII
Eis pois o Sr. Urbano de origem conservadora voltando ao seio dos seus, da qual
saiu para desgraça de Pernambuco, do qual não devera ter saído para bem de
Pernambuco.
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Chefe nefasto da praia, o Sr. Urbano tem sempre sublevado todas as más paixões
contra os brasileiros, e só contra os brasileiros, defensor extremoso que ele é dos
portugueses.
Assim e que ousou perguntar-me, se a agitação era meio eleitoral, porque segundo
ele não havia justiça na propaganda do comércio a retalho para os brasileiros.
O Sr. Urbano porém dois meses depois, porque julgou ofendido o seu eu,
segregou da liga partidos liberais, que denominou genuínos.
Em 1867 por amor do seu eu, entrega esses genuínos amarrados de pés e mãos aos
conservadores e galegos; e dá assim o derradeiro golpe no seu próprio filho, e o
assassina.
Deus quis por esse modo por termo aos padecimentos do partido liberal
pernambucano, nulificando para sempre o homem mais astuto e mais pernicioso, que
tem andado em política.
No cumuio (?) de seu desespero, o Sr. Urbano ousou dizer-me – que eu só tinha a
dar-lhe a poeira, enquanto que o Sr. de Camaragibe entre as muitas graças, que havia
feito, entrava com o valioso contingente da guarda nacional, cujos oficiais sendo
vermelhos obedeciam antes ao honrado visconde de Camaragibe, do que ao presidente
da província.
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XXIX
De tudo resulta:
1º. Que sempre tenho militado nas bandeiras do verdadeiro partido liberal,
defendendo sempre a democracia, e a causa da nacionalização do comércio a retalho.
2º. Que o Sr. Urbano Sabino Pessoa de Melo, de origem conservadora, foi sempre
hostil a liberdade, a causa popular, e a nacionalização do comércio à retalho.
Pelo que desde que está em cena há sempre gozado, e nada sofrido.
3º. Que o Sr. Urbano anda não deu contas ao país do assassinato do venerando
mártir Pedro Ivo Velozo da Silveira.
4º. Que o Sr. Urbano tem jogado com o povo pernambucano como se ele fosse em
suas mãos um baralho de cartas; mas que no seu derradeiro jogo perdeu para sempre.
XXX
Conclusão
Por pouco que me deem, dar-me-ão no Recife e votos suficientes para ter decidido
o pleito eleitoral em favor do governo.
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Fui a Boa-Vista pleitear, encontrei na matriz o meu nobre amigo o Sr. Antônio
Carneiro Machado Rios, sube (?) dele, que auxiliava a oposição – era muito poderoso
esse socorro, concordei com meus amigos de retirar nossa chapa para votarmos todos na
progressista.
Na luta entre o passado e o presente, não hesitei, aceitei o presente, esperando dele
melhor futuro.
A experiência está feita: sou elemento de poder e de ordem nesta província, não
devo preterido por homens, que só tenham por si o favoritismo.
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É tempo de atendê-lo.
Espero, confiado nos eleitores do primeiro distrito, que aceitarão meu nome, e me
concederão um diploma para ter entrada no parlamento brasileiro.