XII SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE TRABALHO E EDUCAÇÃO

20 ANOS DO GEPTE: O GUARNICÊ DA EDUCAÇÃO E DA DEMOCRACIA NO

BRASIL

A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES DE DUAS ESCOLAS PÚBLICAS

SOBRE CONTEXTO DE TRABALHO NO MUNICÍPIO DE TOMÉ-AÇU

GT 2 - Educação Básica, Tecnologias, Trabalho e Movimentos Sociais na Amazônia

Adriani Borges Ferreira: Universidade Federal Rural da Amazônia, Tomé-Açu, PA,

adrianiborges20@gmail.com
Jaiciele da Silva Carneiro: Universidade Federal Rural da Amazônia, Tomé-Açu, PA,
jaicielesilva30@gmail.com
Gilvandro Figueiredo Souza: Universidade Federal Rural da Amazônia, Tomé-Açu, PA, e-mail:
gilvandro.figueiredo@ufra.edu.br

GT: 2
1. Introdução
O ambiente escolar sofre constantemente
influência do ambiente o qual está
inserido. Sob a perspectiva da Pandemia
do COVID19, uma nova configuração
entre os processos de ensino-aprendizagem
e gestão escolar foram colocadas em
prática pela imposição do isolamento
social. Neste contexto, tanto a escola
quanto os processos de ensino passaram a
funcionar de modo remoto, posteriormente
híbrido e com o avanço da vacinação e a
queda do número de mortes o retorno
presencial foi estabelecido para todas as
instituições de ensino brasileiras. Nos
municípios paraenses o retorno presencial
e/ou híbrido das escolas a partir do
funcionamento do Plano de Retomada
Aulas (GUEDES, 2021). Todo o corpo
discente, docente, de gestão e apoio sofreu
as consequências advindas da pandemia.
As principais preocupações dos docentes
com o retorno presencial estão alinhadas
com as desigualdades, dificuldades nas
práticas educativas curriculares e as
próprias expectativas profissionais
(CIPRIANE; MOREIRA; CARIUS, 2021).
Além de toda essa preocupação, os
docentes ainda se preocupam com a
elevada carga de trabalho, os precários
vínculos de carreira, a baixa remuneração e
os problemas de aprendizagem destes
alunos (MASSENA et al., 2020). Sob esta
concepção, é comum que muitos destes
docentes enfrentem problemas com o
estresse e as condições de trabalho, pois
muitos tiveram que se reinventar e
modificar suas estratégias pedagógicas, em
contrapartida, compartilhar de um
ambiente de trabalho emocionalmente
desgastante (SANTOS; OLIVEIRA;
SOARES; 2021). Portanto, esta pesquisa
teve como objetivo avaliar e comparar o
contexto de trabalho de professores de
duas escolas públicas, ambas de Educação
Infantil e Ensino Fundamental (1º ao 5º
ano), localizadas no Município de Tomé-
Açu, na região nordeste do Pará. Além
disso, torna-se necessário identificar o
perfil sociodemográfico dos professores,
apontar os itens mais e menos relevantes
sobre o contexto de trabalho considerados
pelos participantes. A presente pesquisa
justificou-se pelo diagnóstico do contexto
do trabalho referente à percepção dos
professores e o quanto isso pode afetar o
seu desempenho profissional,
principalmente, no que diz respeito ao
desempenho dos discentes nos processos
educacionais. Sob esta perspectiva, o
contexto de trabalho consiste no lócus
material, organizacional e social onde a
atividade de trabalho é colocada em
operação (FERREIRA, 2017). Segundo
Ferreira e Mendes (2003), o Contexto do
Trabalho pode ser avaliado por três
dimensões interdependentes. A
Organização do Trabalho (OT) é instituída
pelos elementos prescritos (formal ou
informalmente), expressos nas concepções
e práticas de gestão de pessoas, incluindo
os modos de trabalho e funcionamento do
local de operação. As Condições de
Trabalho (CT) são constituídas pelos
elementos estruturais que expressam o
modo de funcionamento do local de

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trabalho, sua infraestrutura, apoio
institucional e operacional. As Relações
Socio-profissionais (RS), por sua vez, são
constituídas pelos elementos interacionais
que expressam as relações socio-
profissionais de trabalho, presentes no
ambiente laboral, caracterizado pela
dimensão social. Nesse cenário, essas
dimensões constituem os alicerces teóricos
para a definir os fatores que compõem a
Escala de Avaliação do Contexto de
Trabalho (EACT).
2. Materiais e Métodos
Participaram deste estudo, 20 professores,
de duas escolas públicas, de ambos os
sexos, contratados em regime de concurso
público e/ou temporário, sendo 6
professores de uma Escola (A) e 14
professores de uma Escola (B). Todos os
participantes assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) e foram excluídos desta pesquisa
aqueles que não quiseram participar
espontaneamente da coleta de dados, ou
estavam afastados do trabalho por motivos
de saúde, férias, etc. O ambiente de coleta
de dados foram duas referidas escolas,
ambas localizadas no município de Tomé-
Açu, nordeste do Pará. As escolas
oferecem Ensino na Educação Infantil e
Fundamental (1º ao 5º ano), no entanto, a
Escola A obteve o número de alunos
matriculados suficientes para todas as
turmas, devido a isso, três turmas
funcionam apenas em um período. A
pesquisa foi autorizada pelas gestoras
escolares e a coleta de dados foi feita por
meio de um questionário Googleforms, que
continha o TCLE, questões
sociodemográficas e a Escala de Avaliação
do Contexto de Trabalho – EACT
(FERREIRA; MENDES, 2003),
constituída por 30 itens, distribuídos nas
três dimensões: Organização do Trabalho -
OT (itens de 1 a 9), Condições de Trabalho
CT (itens de 10 a 19) e Relações Socio-
profissionais (RS) (itens de 20 a 30). Esta
escala tinha avaliação Likert de 5 pontos.
Os dados serão apresentados em termo
percentuais para as questões
sociodemográficas, médias aritméticas
para as menores e maiores questões por
fator e média fatorial para a descrição das
dimensões da EACT. Os parâmetros da
EACT serão definidos por 1,00 a 2,39
(Satisfatório), 2,40 a 3,70 (Crítico) e 3,71 a
5,00 (Grave). Os indicadores
“Satisfatórios” demonstram um resultado
positivo e produtor do bem-estar no
trabalho. Os indicadores “Críticos”
revelam uma “situação-limite”,
potencializando o mal-estar no trabalho.
3. Resultados e Discussão
Todos os 20 professores das duas escolas
públicas participaram desta pesquisa. As
informações sociodemográficas apontam
que a maioria dos participantes é do sexo
feminino (90%). Nas duas unidades de
ensino a maioria é casado (a), a Escola A
(50%) e Escola B (72%). Ambas as escolas
tem a faixa etária entre 31 a 45 anos
(50%). Em relação a escolaridade, nas duas
escolas a maioria possui Ensino Superior
Completo, Escola A (100%) e Escola B
(93%). Na Escola A, o número de
concursados é maior (67%), enquanto que,
a Escola B a maioria dos professores são
contratados em regime temporário (64%).
A grande diferença entre as duas escolas é
referente ao contrato de trabalho, em que a
Escola B os docentes na sua maioria são
servidores públicos contratados em regime
temporário. De acordo com Seki et al.
(2017) esse tipo de contrato pode
contribuir sobre a precarização do trabalho,
desvalorização e instabilidade profissional
e financeira, além disso, essa situação de
contrato, sem plano de carreira com pouco
incentivo pode afetar na carreira
profissional deste educador.
Em relação a OT observa-se uma
percepção crítica para ambas as escolas
(A=3,57 e B= 3,21) (Ver Tabela 1).
Tabela 1. Médias da Dimensão Organização
do Trabalho da EACT.
Dimensões Escolas Médi Situação
a
Organização A 3,57 Crítica
do Trabalho B 3,21 Critica
(OT)
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Fonte: Dados da Pesquisa (2022).
Este cenário revela um ambiente potencial
para o risco de mal-estar no trabalho e
adoecimento sobre compreensões do
funcionamento do local de trabalho e das
práticas de gestão de pessoas, incluindo os
modos de trabalho. Portanto, a organização
do trabalho deve ser revista com a
finalidade de modificar os potenciais
problemas. Nesse contexto, o menor
indicador foi o item 04. “As normas para
execução das tarefas são rígidas?” (2,67) e
o maior foi o item 03. “A cobrança por
resultados é presente?” (4,83), sendo o
primeiro considerado crítico e o segundo
grave, simultaneamente. A Escola B teve
como menor indicador o item 07. “Os
resultados esperados estão fora da
realidade?” (2,36) e o maior foi o item 03.
“A cobrança por resultados é presente?”
(3,93), sendo primeiro considerado crítico
e o segundo grave, respectivamente. Os
menores indicadores das duas escolas estão
relacionados a execução das normas e aos
resultados esperados, os docentes
percebem de maneira crítica em relação as
formas como os gestores estão
implementando as normas e metas, um dos
motivos pode ser a ausência de um plano
de gestão superior da educação pública. Na
visão dos professores o excesso de
cobranças por resultados está no nível
grave em ambas as escolas, isso sugere que
esses profissionais estão insatisfeitos com
a prática das ações no ambiente do
trabalho. Nesse sentido Marinho, Schmidt,
Vasconcelos (2021) apontam que
mudanças requerem novos procedimentos
relacionados a estrutura da organização
escolar e o comportamento dos gestores
nas unidades de ensino, tendo em vista o
bem estar dos docentes.
Sobre a dimensão CT observa-se também
uma percepção crítica para ambas as
escolas (A=2,65 e B= 2,37) (Ver Tabela 2).
Tabela 2. Médias da Dimensão Condições do
Trabalho da EACT.
Dimensões Escolas Média Situação
Condições A 2,65 Crítico
do B 2,37 Crítico
Trabalho
(CT)
Fonte: Dados da Pesquisa (2022).
Neste cenário, também há potenciais riscos
de adoecimento e mal-estar no trabalho,
pois os resultados revelam a ausência de
compreensão do modo de funcionamento
do local de trabalho, da infraestrutura e o
modo de como o apoio institucional e
operacional funcionam no ambiente
escolar. Neste caso, os gestores da escola
precisam rever e realinhar os objetivos da
escola para que sejam adequados às
perspectivas de trabalho dos docentes.
Pode ser que os professores não saibam
exatamente o que a gestão programou
como metas para este retorno presencial,
visto que, os formatos de ensino foram
completamente desajustados durante a
pandemia. Neste caso, pode ser que nem a
gestão superior tenha ideia de quão grande
foi o prejuízo educacional deixado pela
pandemia, portanto, um diagnóstico sobre
a situação atual e o estabelecimento de
novos objetivos sejam necessários para
garantir um processo educacional de
qualidade. Com relação ao menor
indicador foi item 18. “As condições de
trabalho oferecem riscos à segurança física
das pessoas?” para Escola A (1,17) e
Escola B (1,36), sob a percepção dos
professores os dois itens foram
considerados satisfatórios. O maior
indicador foi o item 12 “Existe barulho no
ambiente de trabalho?” para a escola A
(3,67) e Escola B (3,71), em que o
primeiro foi considerado crítico e o
segundo grave, respectivamente. Na visão
dos docentes as condições de trabalho não
oferecem riscos à segurança física, o
grande problema está no alto nível de
poluição sonora identificado pelos
pesquisados, cujo o qual, é um dos mais
nefastos para a transmissão do
conhecimento, prejudicando o aprendizado
dos alunos. Corrobora com o trabalho de
Jesus, Freitas, Auth (2014) no qual
explicam que esse fator age de forma
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silenciosa e pode ocasionar uma série de
doenças laborais, e sua causa está ligado a
diversos fatores, tanto externo quanto
interno ao ambiente de ensino, como por
exemplo escolas localizadas em lugares de
muita movimentação ou a quantidade
excessiva de alunos dentro da sala de aula.
Em relação às Relações Socioprofissionais
(RS) observa-se uma percepção satisfatória
para ambas as escolas (A=2,11 e B= 2,05)
(Ver Tabela 3).
Tabela 3. Médias da Dimensão Relações
Socioprofissionais da EACT.
Dimensões Escola Média Situação
s
Relações A 2,11 Satisfatório
Socioprofissionais B 2,05 Satisfatório
(RS)
Fonte: Elaborada pelo pesquisador (2022).
Este cenário revela um ambiente de
trabalho favorável e produtor do bem-estar
social, com elementos que constituem
interações de qualidade entre os
professores, proporcionando o acolhimento
e compreensão entre os membros desta
rede de apoio. Para esse fator, o item 20.
“As tarefas não claramente definidas?” foi
considerado o indicador de menor média
(1,33). Os itens seguintes: 26. “Existe
individualismo no ambiente de trabalho?”
e o item 27. “Existe conflitos no ambiente
de trabalho” foram indicadores com maior
e mesma média (2,67). Isso mostra que o
indicador com menor média foi
considerado satisfatório e o de maior
média crítico. Para a Escola B, o item 30.
“Falta apoio das chefias para o meu
desenvolvimento profissional?” teve
menor média (1,50) e o item 26. “Existe
individualismo no ambiente de trabalho?”
como maior relevância (2,71), sendo o
primeiro item apontado com satisfatório e
o segundo grave, respectivamente. Os
indicadores de menos relevâncias relevam
que na percepção dos professores as tarefas
são claramente definidas e que há apoio
das chefias no desenvolvimento
profissional, que preocupa são os
indicadores de maior relevância entre as
duas escolas que estão relacionados a
relação social entre os indivíduos
indicando um estado de alerta diante do
contexto das relações de trabalho. Em seu
trabalho Aires; Peixoto; Pachú (2021)
afirmam que as disputas profissionais
contribuem no risco de adoecimento dos
professores, pois o coletivo entre os
docentes é considerado um ponto forte no
contexto escolar, dessa forma, quando não
se tem uma relação harmoniosa no
trabalho, tende-se a haver uma maior
desconfiança e desunião, prejudicando o
bom desempenho dos profissionais.
No geral ambas as escolas precisam se
atentar para melhorias em suas técnicas de
gestão e organização do trabalho e na sua
infraestrutura e ergonomia. Os professores
necessitam de um suporte de qualidade
para que possam executar com excelência
às suas atividades laborais.
4. Conclusão
Os resultados demonstram que nestas
escolas, os professores percebem o
contexto de trabalho, de forma crítica para
a forma como os gestores estão
implementando as metas e ações do
ambiente de trabalho, talvez seja, por
ausência de um plano de gestão superior da
educação pública, ou pela dificuldade dos
gestores em direcionar aos professores e
técnicos de apoio, as metas educacionais
que foram estabelecidas pela entidade
superior. Essa ausência de feedback entre o
planejado e o executado pode ser um dos
principais problemas que levam a esta
percepção crítica. Além disso, os
professores percebem como crítico a
própria infraestrutura do ambiente de
trabalho, que pode não fornecer o aparato e
apoio adequados para a realização da
atividade docente. Neste caso, o esforço do
docente para manter a qualidade do
trabalho acaba exigindo um maior esforço
do professor, que precisa muitas vezes se
desdobrar sob condições não tão
favoráveis. Contudo, os professores
relatam que mantém satisfatórias relações
socio-profissionais no ambiente de
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trabalho, caracterizando um clima de
interação social saudável.
Esta pesquisa pode revelar um apelo dos
professores em relação ao seu ambiente de
trabalho e que a pandemia pode ter trazido
uma confusão sobre as metas educacionais
previstas pelo poder público. No entanto,
cabe verificar se os professores estão ou
estavam realmente cientes da situação
atual dos desempenhos dos estudantes
nestas escolas e se a pandemia afetou de
fato o desempenho acadêmico destes. Essa
ausência de alinhamento dos objetivos
estabelecidos para essas escolas e os
objetivos dos próprios docentes precisam
de fato ser compreendidos.
Para que o ambiente dessas escolas se
torne mais produtivo e satisfatório, as
formas de planejar as atividades e as
demandas gerenciais precisam ser revistas
para melhorar o desempenho dos
profissionais. Conclui-se que os
professores das duas escolas se encontram
em estado crítico de alerta para os fatores
OT e CT, o que muitas vezes pode
prejudicar a saúde física e mental dos
mesmos e a qualidade do desempenho
docente e, por consequência, afetar a
aprendizagem dos estudantes.
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20 ANOS DO GEPTE: O GUARNICÊ DA EDUCAÇÃO E DA DEMOCRACIA NO
BRASIL

12, núm. 3, pp. 942-959, 2017.

Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Ponta Grossa-PR, 2017.