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Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Curso de Arqueologia
Técnicas e documentação em Arqueologia

PRINCIPIOS DE
ESTRATIGRAFIA

Baseado no livro de Edward Harris

Discente: Carolina Paulino 158933


Docente: Elisa Sousa
INTRODUÇÃO

Nos estudos arqueológicos, a confeção de sequências estratigráficas são das


tarefas mais importantes para qualquer arqueológo. O estudo da estratigrafia tem vindo
a sofrer alterações com o passar do tempo.
Numa fase inicial, as teorias e leis estratigráficas eram priorizadas, devido à
influência da geologia. Numa segunda fase, a atenção dos arqueólogos passou a focar-se
na estratigrafia e nos registos das secções e planos. Por último, e mais recentemente,
para alem dos desenhos das secções e planos, a análise pós-escavação passou a ter um
papel mais central em qualquer estudo arqueológico.
Uma estratificação é concebida com o intuito de registar as circunstâncias
históricas e culturais de um determinado local arqueológico. O estudo das mesmas é
feito através dos princípios de estratigrafia geológica. Alguns arqueólogos defendem
que o estudo da estratigrafia arqueológica pode ser baseado nos mesmo princípios da
estratigrafia geológica, mas Harris definitivamente que discorda. Este defende que a
partir do momento em que o homem entrou na terra ocorreu uma revolução no processo
de estratificação que tem sido permanentemente ativo pelos agentes naturais. Segundo
Harris esta revolução deveu-se a três aspetos principais. Em primeiro lugar, a
humanidade começou a criar objetos que através da evolução natural, não seria possível
de ser fabricados. Em segundo, os seres humanos com a sua evolução começam a
preferir determinadas superfícies para a sua utilização. Em terceiro, as pessoas
começam a intervir nos solos de forma intencional e por preferências culturais e não de
forma intuitiva resultando de uma alteração do registo estratigráfico de forma não
natural e geológica.
Com isto Harris separa a estratigrafia arqueológica da geológica, a estratigrafia
cultural da natural. O vestígio humano na estratigrafia torna-a menos geológica e
natural, quando por exemplo as sociedades passam de rurais a urbanas. Devido ao vasto
aumento da urbanização, a taxa de deposição e degradação aumenta respetivamente o
que coloca em dúvida os métodos de estudo da aplicação direta da estratificação
geológica sobre a estratificação arqueológica.
Até às últimas décadas do seculo XIX a geologia ainda tinha um grande peso na
estratigrafia arqueológica e ainda hoje muitos arqueólogos estudam estratigrafias
arqueológicas, que contêm um número muito escasso de estratos geológicos, ainda
segundo os métodos de estratigrafia geológica.

CONCEITO DE ESTRATIGRAFIA EM GEOLOGIA E


ARQUEOLOGIA
A estratificação geológica é formada por um por um processo cíclico de
deposição, elevação de terras ou submersão do solo. Uma vez solidificadas, esta pode
sofrer alterações através de vários fenómenos naturais e o registo destas pode ser
detetado quando fosseis ou fragmentos minerais são encontrados em diferentes estratos.
Posteriormente à formação de novos estratos podem vir a ser detetados resíduos
sedimentares devido à submersão das camadas anteriores.
Os estudos estratigráficos para datação dos estratos baseiam-se em três
pressupostos, primeiro a lei de sobreposição assume que as camadas superiores são
mais recentes e as inferiores mais antigas, a segunda lei, “horizontalidade original”,
afirma que todos os estratos que são formados debaixo de água vão ter a sua superfície
horizontal e as camadas que são agora irregulares é porque assim foram desde o tempo
da sua deposição e por fim a terceira lei, “continuidade original”, pressupõe que os
estratos só deixam de ser homogéneos na sua formação, quando submetidos a uma
erosão ou deslocamento de depósitos.
Por conseguinte a “Lei de Sucessão Faunal” ou “Lei dos Estratos identificados
por fosseis” pode ser utilizado como opção de estudo de estrados. Esta lei assume que
os restos fosseis diferentes, mas de idades sucessivas, podem estar diretamente
relacionados com a sequência das formações estratigráficas.
Glyn Daniel no seu livro, "A Hundred and Fifty Years of Archaeology (1975)"
discutiu as origens e desenvolvimento do pensamento arqueológico e explicou a
influência da geologia na arqueologia, particularmente na estratigrafia.
O conceito da estratigrafia foi criado com base na formulação dos princípios
estratigráficos e com a conformidade do geólogo com o arqueólogo. C. J. Thomsen no
seu livro “Three Age System”, no qual o ser humano passou a fazer parte de três idades
tecnológicas nomeadamente, idade da pedra, idade do bronze e idade do ferro. O
sucessor de Thomsen, J. J. Worsaae, provou esta teoria através de realidades
estratigráficas. Embora este sistema das “Três Idades” pareça simples, permitiu otimizar
a cronologia do passado do ser humano. Por sua vez, a Idade da Pedra foi ainda
subclassificada em paleolítico e neolítico por Sir John Lubbock. Desta forma, camadas
arqueológicas, que contêm achados diferentes a cada estrato, ajudam a identificar
depósitos da mesma data em outros locais.
Na década de 1920, Mortimer Wheeler começou a produzir desenhos de secção
nos relatórios que foram considerados como um marco na arqueologia. Na continuação
da tradição de Wheeler, a sua estudante Kathleen Kenyon melhorou-a ainda mais ao
incluir aspetos como fossos, valas e outros tipos de interfaces.

TÉCNICAS DE ESCAVAÇÃO ARQUEOLÓGICA

Muitos Caçadores de tesouros ainda empregam esta estratégia, porém é


extremamente prejudicial para os locais arqueológicos pois é considerados um ato
destrutivo, resultando numa trincheira.
As escavações eram realizadas num processo arbitrário, onde não davam
importância ao relevo natural da estratificação arqueológica. No final do seculo XIX,
Pitt-Rivers aplicou a estratégia da secção em jazidas com aterros e fossos de delimitação
o que revelou ser um processo mais sistemático e seguro em relação os anteriores. Pitt-
Rivers disse: “Ao examinar fossas de campo e cemitérios, o processo adequado é limpar
o matagal de toda a área escavada, e depois começar a limpar o mato da área a ser
escavada, para que a cerâmica e as relíquias no topo sejam obtidas e registadas antes da
enxada atingir a parte mais profunda, para que não se cometam erros quanto à
profundidade dos objetos.”
Na Europa, A. E. van Giffen inventou outro tipo de estratégia de escavação, o
método do quadrado. De acordo com esta estratégia, o local seria dividido em
segmentos que seriam escavados alternadamente. O método permitiu, aos
investigadores, obter perfis ou secções de estratificação dos locais arqueológicos.
Wheeler criou o método de grade, que consistia em criar uma grelha de
quadrados sobre o local arqueológico em questão, entre os quais se deixam paredes de
solo que preservam o perfil estratigráfico. Alem disto, Wheeler viu com este método
uma forma de controlar melhor tanto a escavação como o registo, uma vez que a área de
cada supervisor estava claramente delimitada.

Fig. 1 Uma demonstração da progressão da escavação em grelha


O sistema de grelha de Wheeler foi complementado pelo processo de escavação
estratigráfica, que envolveu o levantamento de estratos em conformidade com as suas
próprias linhas de deposição, de forma a assegurar as fases estruturais e os artefactos
relevantes.

PRIMEIROS MÉTODOS DE REGISTO EM ESCAVAÇÃO

O objetivo dos primeiros registos da escavação era recuperar informações sobre


a disposição das principais estruturas e a posição dos artefactos. Mas o destaque foi
dado às plantas das paredes ou às características estruturais, tais como fossos ou buracos
postiços. Os níveis arqueológicos, a menos que incluíssem uma característica óbvia,
como um pavimento ou uma rua, quase não foram desenhados.
Por semelhança com a estratificação geológica, baseada em estratos de espessura
considerável e deposição uniforme, presumiu-se que quanto mais baixo era um
artefacto, mais antigo era, algumas destas ideias foram consideradas óbvias nas
escavações que Pitt-Rivers.
Pitt-Rivers nas suas escavações realizava o seguinte processo de registo. Antes
de começar a escavar, o arqueólogo desenhava linhas de contorno do local. O objetivo
deste registo era mostrar os padrões de drenagem do local e a disposição geral do
terreno. Pitt-Rivers dava um uso adicional às suas planimetrias, uma vez que "através
destas linhas de contorno pode ser desenhada uma secção de qualquer área e em
qualquer direção". Foi então que as equipas procederam à remoção dos estratos do
depósito.
O registo escrito das escavações consistia frequentemente num diário e em notas
descritivas. Os diários registavam uma compilação de factos sobre o decurso da
escavação, enquanto as notas descritivas se focavam em registar os resultados da
escavação. Em muitas explorações e escavações, há poucas referências relativamente à
estratigrafia na descrição dos estratos, presumia-se, então, que as relações estratigráficas
do sítio estavam implícitas no desenho da secção e, portanto, não foram especificadas
por escrito. Considera-se assim que, por esta forma de registo, qualquer relação
estratigráfica que não apareça na secção significa que não foi registada.
As primeiras secções eram também registos de importância estrutural. Os
registos escritos foram considerados como descrições da composição dos estratos e não
como uma indicação do seu significado estratigráfico. Por outras palavras, a ideia de
estratigrafia, que é o que dá validade a uma escavação arqueológica, foi a última coisa a
ser considerada no registo.

LEIS DA ESTRATIGRAFIA ARQUEOLÓGICA


As técnicas arqueológicas derivam de duas regras, primeira se o estrato A cobre
o estrato B, então B foi depositado mais cedo. Segunda, cada nível de estrato, data de
um tempo mais tarde do que o fabrico do objeto mais recente encontrado no mesmo.
Estas são as leis da estratigrafia e, em teoria, nunca falham. A terra foi formada por uma
série de estratos, alguns depositados pelo homem e outros pela natureza, e a função da
escavação é desmontá-los na direção oposta àquela em que foram depositados.
A aplicação destas leis geológicas, sem terem sido adaptadas à estratigrafia
arqueológica pode ser questionada por duas razões. Em primeiro lugar, estas leis
referem-se a estratos que normalmente solidificavam debaixo de água e têm uma
extensão de muitos quilómetros quadrados. Em contraste, os estratos arqueológicos não
se solidificaram, ocupam uma área limitada e são de composição variável. Em segundo
lugar, os artefactos não podem servir de critério para identificar os estratos no sentido
implícito pelas leis geológicas, porque os objetos não evoluem de acordo com a seleção
natural. As leis geológicas não podem ser consideradas adequadas para fins
arqueológicos e devem ser corrigidas e aumentadas de acordo com os critérios.
As três primeiras leis, de seguida apresentadas, são adaptadas da geologia. O
quarto axioma/principio, a "lei da sucessão estratigráfica", provém de uma fonte
arqueológica.
LEI DA SOBREPOSIÇÃO
Numa sequencia de camadas, tal como originalmente criadas, as unidades
estratigráficas superiores são as mais recentes e as inferiores são as mais antigas.
Esta lei pode ser aplicada à estratificação arqueológica independentemente do
seu conteúdo artefactual, uma vez que a estratificação pode perfeitamente existir sem
artefactos.
LEI DA HORIZONTALIDADE ORIGINAL
Qualquer camada arqueológica depositada numa forma não consolidada tenderá
para uma posição horizontal. Os estratos que são encontrados com superfícies inclinadas
foram originalmente depositados dessa forma, ou estão em conformidade com os
contornos de uma bacia de deposição pré-existente.
Em geologia, a Lei da Horizontalidade Original assume que quando os depósitos
formados por processo sedimentar debaixo de água ou nas condições de terra seca, os
estratos tenderão para a horizontalidade. Na estratigrafia arqueológica, deve-se
considerar tanto as condições de terra seca como os depósitos artificiais. Na superfície
horizontal, os depósitos são feitos na posição horizontal. Se uma bacia de deposição for
um declive ou uma vala, então a deposição estará numa posição inclinada. À medida
que o enchimento das valas ou declives avança, os depósitos aproximar-se-ão
gradualmente da posição horizontal. Existem também outras possibilidades, após a
deposição, o terreno pode inclinar-se devido a algumas outras causas como o terramoto.
LEI DA CONTINUIDADE ORIGINAL
Cada depósito arqueológico será originalmente delimitado por uma bacia
deposicional ou a sua espessura diminuirá progressivamente de lado até terminar numa
cunha. Portanto, se qualquer extremidade de um depósito ou característica interfacial
tiver uma face vertical, significa que parte da sua extensão original foi perdida, seja por
escavação ou por erosão.

LEI DA SUCESSÃO ESTRATIGRÁFICA


Uma unidade de estratificação arqueológica ocupa o seu lugar exato na
sequência estratigráfica de um local, entre a mais baixa (ou mais antiga) das unidades
que a cobrem e a mais alta (ou mais recente) de todas as unidades que cobre, tendo
contacto físico com ambas, e sendo redundante qualquer outra relação de sobreposição.
Para ilustrar a lei da sucessão estratigráfica, serão introduzidos o conceito de
Harris Matrix e o conceito de "sequência estratigráfica".

MATRIZ DE HARRIS E AS SEQUENCIAS ESTRATIGRÁFICAS

A Harris Matrix é composta por uma grelha, em papel, de caixas rectangulares.


O seu formato foi concebido para mostrar as relações estratigráficas encontradas no
local. A Matriz é o diagrama resultante e representa a sequência estratigráfica escavada.
A sequência estratigráfica é, portanto, a ordem de deposição das camadas e a criação de
interfaces de características ao longo do tempo.
A Harris Matrix é, portanto, um método de registo estratigráfico, de um local de
escavação, onde a cada depósito é atribuído um número. Cada depósito pode ser visto
como um indicador único de evidência que abrange dados culturais, ambientais e
cronológicos. A análise estratigráfica dá uma escala relativa, um tempo estratigráfico
que é estabelecido durante a escavação e o registo.
Fig. 3 Um exemplo de folha de matriz de Harris

OS DEPÓSITOS COMO UNIDADES DE ESTRATIFICAÇÃO

O estudo, o registo e a interpretação primária da estratificação não precisam de


ter em conta o significado histórico dos vários estratos e características. Os princípios da
estratigrafia arqueológica devem ter em consideração os aspetos não-históricos da
estratificação, que são universalmente aplicáveis. De facto, muitas unidades de
estratificação individuais não têm significado geral como elementos históricos, e é
principalmente através da comparação das sequências culturais de diferentes locais que
o arqueólogo estuda o desenvolvimento de sociedades passadas. Saber como interpretar
uma estratificação arqueológica significa conhecer os aspetos não-históricos da mesma.
Os estratos naturais, antrópicos e verticais têm as seguintes características
estratigráficas e não-históricas em comum:
1- Um "rosto" ou superfície original. Esta ideia é utilizada para distinguir entre
a superfície superior original de um estrato e a superfície inferior. Foi
desenvolvido em geologia como uma forma de determinar a ordem original
da sobreposição.
2- Contornos do estrato. Estas linhas ou contornos definem a extensão de cada
unidade de estratificação, tanto em dimensões horizontais como verticais.
3- Relevo de superfície. Estas linhas mostram o relevo topográfico da superfície
do estrato ou de um grupo de unidades de estratificação, e são desenhadas a
partir de uma série de elevações ou profundidades registadas em planta.
4- Volume e massa. O volume e massa de uma unidade estratigráfica
arqueológica pode ser determinado pela combinação das dimensões dos seus
contornos com as do seu relevo. A maioria dos estratos irá abranger, dentro
da sua massa, uma série de achados ou objetos de valor cronológico, cultural
ou ecológico.

INTERFACES COMO UNIDADE DE ESTRATIFICAÇÃO


A estratificação arqueológica é a combinação entre estratos e interfaces e é
necessário saber distingui-los para o seu estudo estratigráfico.
Existem dois tipos de elementos das interfaces, verticais e horizontais, formados
a partir da destruição da estratificação pré-existente, tendo criado as suas próprias
superfícies e áreas.
Os elementos das interfaces horizontais estão associados a estratos verticais e
marcam os níveis a que os depósitos sofreram destruição. São criados quando, por
exemplo, uma parede cai, embora também possam resultar da demolição parcial de um
edifício em reparação.
As características das interfaces verticais são o resultado da escavação do solo e
encontram-se na maioria dos locais, enquanto as características das interfaces
horizontais existem apenas em locais onde os restos de construção foram preservados.
Esta atividade de escavação pode tomar a forma de fossos, poços, valas, sepulturas,
buracos de postes, etc.
Qualquer local que tenha sofrido uma atividade de escavação terá visto
determinadas partes dos seus estratos e períodos destruídos. Trata se das interfaces de
destruição ou interfaces abstratas que registam os níveis de destruição de determinados
períodos ou unidades de estratificação sujeitas a remoção ou escavação.

SECÇÕES ARQUEOLÓGICAS

Uma secção arqueológica é um desenho de perfil vertical do terreno, que mostra


o corte vertical de uma massa estratificada. Portanto com uma secção é possível ter uma
visão do plano vertical dos estratos e das várias relações entre eles.
Existem três tipos principais de perfis arqueológicos: secções de parede, secções
ocasionais e secções cumulativas. O tipo mais utilizado é o primeiro, secções de parede,
uma vez que está associado ao método Wheeler.
Graham Webster definiu três processos de desenho de secções: o realista,
estilizado e de compromisso.
Na análise da estratificação em seções, é irrelevante se o investigador utiliza o
tipo de secção de parede, ocasional ou cumulativa, uma vez que qualquer uma delas
pode ser registada de acordo com o método estilizado. Por analogia, pouco importa, na
realidade, qual a estratégia de escavação que um arqueólogo adota, desde que trabalhe
de acordo com os critérios da escavação estratigráfica. A direção que um arqueólogo
toma em todos estes assuntos depende dos objetivos do projeto. Se não estiver
interessado em utilizar as secções para análise estratigráfica, pode desenhá-las com tinta
e pincel, ou da forma que melhor se adapte aos seus propósitos. Se os desenhos das
secções forem utilizados para fins estratigráficos, então são as linhas de interfaces que
são mais importantes, uma vez que é através da sua análise que faremos sentido da
estratificação de um depósito.
A utilização de secções foi sobrevalorizada na estratigrafia arqueológica,
enquanto que o valor estratigráfico dos desenhos das plantas foi desvalorizado.

AS PLANTAS ARQUEOLÓGICAS

Um desenho de secção não é uma planta de uma superfície vertical, mas o


registo de um corte vertical feito através da estratificação. A planta é o registo de uma
superfície, não a vista de uma superfície.
As secções contêm apenas os contornos das unidades estratigráficas, enquanto
que os plantas podem também indicar o relevo superficial do estrato.
Numa planta, apenas aparecerá representados os contornos dos depósitos mais
recentes; por outro lado, devido à sobreposição dos estratos, os depósitos mais antigos
serão mostrados parcialmente. Se não se disponibilizarem os contornos totais dos
estratos, é quase impossível determinar as relações estratigráficas entre os estratos
registados numa planta composta.
As plantas são um registo do comprimento e largura dos restos arqueológicos, e
as secções documentam a sua espessura. O que as plantas, realmente, registam são as
interfaces do sítio, uma vez que falta espessura a uma superfície.
Existem vários tipos de plantas arqueológicas: a de múltiplos elementos, a
composta e a de estrato simples. A planta de múltiplos elementos, é mais que uma
planta propriamente dita, é um índice de todos os elementos de interfaces encontrados
no sítio, seja qual for o seu período. A planta composta documenta uma superfície
formada por mais do que uma unidade estratigráfica. A planta de estrato simples é o
mínimo que um arqueólogo deve fazer para documentar corretamente os aspetos
topográficos de cada unidade de estratificação.

CORRELAÇÃO, ORDENAÇÃO E SEQUENCIAS


ESTRATIGRÁFIAS

A estratigrafia arqueológica está dividida em três temas principais. O primeiro


trata dos aspetos teóricos, das leis estratigráficas e das unidades de estratificação. O
segundo trata do registo da estratificação através de secções, planos e notas escritas. A
terceira parte agrupa as várias análises efetuadas após a escavação.
Kathleen Kenyon, em 1952, criou um sistema de correlação de estratos que se
baseia em dois tipos de correlação. O primeiro refere-se às camadas que num
determinado momento foram uma só, mas que por algum motivo natural ou artificial,
tenha sido destruída. Quando isto acontece e se deteta as várias partes de uma mesma
camada então os números de partes encontradas vão ser correlacionadas entre si. Esta
correlação so será realizada se as partes selecionadas em questão, do estrato original,
tiverem a mesma composição do solo ou apareçam, na coluna estratigráfica, com uma
cota semelhante. O segundo método de correlação, é aplicado quando a estratificação é
inacessível porque está escondida nos núcleos da grelha criada pelo sistema de
escavação de Wheeler. Em muitos casos, é bastante claro que se trata do mesmo
depósito e, portanto, a análise dos diferentes números de estrato pode ser efetuada
utilizando o sistema Harris Matrix. A menos que não seja absolutamente certo que os
depósitos de ambos os lados do núcleo sejam a mesma unidade, eles não devem ser
correlacionados ou assim representados na sequência estratigráfica. Se a relação for
incerta, é preferível manter separadas as sequências estratigráficas de cada área.
"O primeiro passo, a que chamo ordenação, é estabelecer a sequência de
depósitos e estruturas. Deve ser feito de forma absolutamente objetiva através da
interpretação das secções e estruturas, trabalhando de baixo para cima. As secções
mostram quais os níveis que podem ser ligados.... É um estudo de grande detalhe, onde
todos os níveis têm de encontrar o seu lugar e as paredes têm de encaixar
convenientemente” – KENYON, 1971
O principal objetivo do estudo da estratificação de um local arqueológico é a
produção de uma sequência estratigráfica. Pode ser feito através da escrita, diagramas
ou tabelas, sendo atualmente mais utilizado o método “Harris Matrix”.

SEQUÊNCIAS ESTRATIGRÁFICAS E ANÁLISES POS


ESCAVAÇÃO

A análise dos restos encontrados numa escavação deve basear-se na sequência


estratigráfica do local, uma vez que esta mostra a posição relativa em que foram
encontrados. As sequências estratigráficas são formadas sem qualquer referência ao
material que irão conter; por conseguinte, as análises artefactuais não podem alterar as
relações estratigráficas encontradas em tais sequências.
"Os fósseis das rochas de uma determinada idade têm sido frequentemente
desgastados, transportados e depositados novamente em sedimentos de uma era mais
recente. Estes fósseis reutilizados podem assim ser misturados com os da deposição
primária.... Em algumas circunstâncias, as rochas podem conter fósseis mais recentes do
que o material em que estão contidas.” (ISSC, 1976)
Do mesmo modo, na arqueologia podem definir-se vários tipos de objetos não-
históricos vários ou recorrentes:
1. Achados originais: Objetos cuja data de fabrico coincide com o mesmo período
de formação do nível em que foram depositados.
2. Achados residuais: Objetos fabricados num período anterior à formação do
estrato em que foram encontrados. A sua presença pode ser explicada pela
contribuição da terra no local arqueológico ou porque se trata de objetos de
longa duração e circulação, tais como heranças familiares.
3. Achados infiltrados: Objetos fabricados num período posterior à formação do
depósito em que foram encontrados.
De acordo com o método estratigráfico, os artefactos são geralmente registados
com o número do estrato, e a documentação tridimensional é reservada para achados
especiais. Uma vez feita a gravação, o passo seguinte é determinar a data do objeto e
finalmente a data do estrato em que foi encontrado. A estratificação arqueológica em si
não pode ser datada sem primeiro examinar os materiais nela contidos.
Uma vez concluído o estudo estratigráfico e artefactual do sítio, é necessário
comparar o material resultante com o de outros sítios do mesmo período.

CONCLUSÃO

Os sítios de escavação arqueológica variam de acordo com as características do


solo e o conteúdo da cultura material, profundidade e extensão dos depósitos
estratificados. As sequências estratigráficas também mostram exemplos variáveis sobre
objetos não-históricos. Em primeiro lugar, os vestígios indígenas são os da época da
formação da camada, o que implica que os objetos e a camada são contemporâneos. Em
segundo lugar, os restos residuais são objetos feitos durante um período anterior à
formação da camada. Isto sugere que tais objetos estavam presentes em camadas
anteriores, mas foram escavados ou perturbados posteriormente. Em terceiro lugar, os
restos infiltrados são criados numa data posterior à formação da camada. A
estratificação arqueológica é, portanto, uma camada de depósitos devido à atividade
humana, enquanto que a estratigrafia arqueológica é a relação cronológica e sequencial
entre os depósitos, os estratos e as interfaces associadas. A utilização da Matriz Harris
ajuda a determinar a história cultural de um local através do registo das sequências num
diagrama. A essência do sistema Harris Matrix é a colocação de cada unidade (no
diagrama) no seu lugar estratigráfico, em relação às características acima e abaixo. Um
diagrama de Harris Matrix ilustra e encapsula o registo do sítio arqueológico dentro de
um diagrama.
Finalmente, a análise artefactual tem de ser contextualizada durante e após uma
escavação. Não se trata simplesmente de colocar um artefacto ou objeto numa sequência
estratigráfica. A descrição, desenho e manuseamento de um artefacto a partir de um
estrato pode evitar a realização de interpretações. Este processo pode perder detalhes
importantes e ignorar que, para além de artefactos individuais, existe um contexto.
Assim, as sequências estratigráficas e o sistema Harris Matrix permitem que se façam
perguntas, será que o artefacto foi encontrado num poço, num túmulo, numa vala? Além
disso - como é que foi lá parar e porquê? Que outros artefactos estavam associados a
ele? Foram os achados rituais de associação, mundanos e quotidianos, ou "com"
achados mais ricos? A menos que os artefactos sejam colocados no registo arqueológico
desta forma, o artefacto tornar-se-á descontextualizado. Retirar um artefacto do seu
contexto topográfico, geográfico, social e histórico deixa-o órfão. Se for retirado fora do
tempo, é desencarnado com as suas circunstâncias físicas negadas. Neste sentido, a
Harris Matrix é um meio pelo qual artefactos e sítios permanecem dinâmicos em vez de
se tornarem objetos passivos e abertos a todo o tipo de interpretações pessoais
imprecisas.

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