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A tensão entre marido e mulher era visível quando entraram em minha sala. No
início, sua história desenrolou-se aos poucos, com o marido falando hesitante e a
mulher chorando em silêncio e falando bem pouco.
Quando o menino estava com uns 18 meses, resolveram tirar uns dias para visitar
os parentes que moravam longe dali. Nessa época quase não se ouvia falar em
cadeirinhas para levar bebês no carro nem em cintos de segurança para os adultos
e quase ninguém os usava. O pai e a mãe viajavam no banco da frente levando o
bebê entre eles.
Ele não acertou a mulher, mas o brinquedo atingiu o filho, e o ferimento resultou
em uma lesão cerebral que deixou a criança deficiente pelo resto da vida.
Essa foi uma das situações mais trágicas que já vi. Dei-lhes conselhos e incentivo.
Conversamos sobre compromisso e responsabilidade, sobre aceitação e perdão.
Falamos do afeto e do respeito que precisavam voltar a existir naquela família.
Lemos palavras de consolo nas escrituras. Oramos juntos. Apesar de eu não ter
mais sabido notícias deles desde aquele dia, há tanto tempo, eles já sorriam em
meio às lágrimas ao saírem de minha sala. Todos esses anos desejei que eles
tivessem tomado a decisão de ficar juntos, com o consolo e a bênção do evangelho
de Jesus Cristo.
Penso neles sempre que leio as palavras: “A raiva não resolve nada. Não constrói
nada, mas pode destruir tudo”. 2
Todos já sentiram raiva — às vezes porque as coisas não saíram como queríamos,
outras vezes como reação a algo falado de nós ou para nós. Às vezes, ficamos com
raiva quando as pessoas não agem como queremos que elas ajam, outras vezes
quando temos que esperar algo por mais tempo do que imaginávamos e outras
vezes ficamos com raiva quando outras pessoas não veem as coisas como nós
vemos. São inúmeras as situações que nos causam raiva.
Ele contou o ocorrido a um amigo mais velho que lhe perguntou: “Esse homem
tinha a intenção de ofender você?”
O Presidente Grant respondeu: “Não. Ele disse aos meus amigos que me pagou
uma bela quantia”.
O amigo mais velho replicou: “É tolo aquele que se ofende quando não há intenção
de ofender”. 3
O Apóstolo Paulo pergunta, em Efésios capítulo 4, versículo 26 da Tradução de
Joseph Smith: “Podeis irar-vos e não pecar? Não se ponha o sol sobre a vossa ira”.
Eu lhes pergunto: Será possível sentir o Espírito do Pai Celestial quando estamos
irados? Não sei de nenhuma situação em que isso aconteça.
Pois em verdade, em verdade vos digo que aquele que tem o espírito de discórdia
não é meu, mas é do diabo, que é o pai da discórdia e leva a cólera ao coração dos
homens, para contenderem uns com os outros.
Eis que esta não é minha doutrina, levar a cólera ao coração dos homens, uns
contra os outros; esta, porém, é minha doutrina: que estas coisas devem cessar”. 4
Acredito que a maioria de nós conheça a triste história de Thomas B. Marsh e sua
esposa, Elizabeth. O irmão Marsh foi um dos primeiros apóstolos modernos a ser
chamados após a Restauração da Igreja na Terra. Ele chegou a tornar-se o
Presidente do Quórum dos Doze Apóstolos.
Quando os santos estavam em Far West, no Missouri, Elizabeth Marsh, que era
mulher de Thomas, e uma amiga, a irmã Harris, decidiram fazer uma troca de leite
entre si para produzirem mais queijo do que conseguiriam normalmente. Para
garantir que tudo fosse justo, elas concordaram em não guardar o último leite da
ordenha, mas ceder o leite todo, inclusive o do final da ordenha. Esse leite do final
da ordenha é o mais gordo, o que tem mais nata.
A irmã Harris cumpriu o acordo, mas a irmã Marsh queria que seu queijo ficasse
ainda mais gostoso, e guardava meio litro desse leite mais gordo de cada vaca e
mandava o restante para a irmã Harris. Por causa disso as duas brigaram. Já que
elas não conseguiram chegar a um acordo, o caso foi levado à apreciação dos
mestres familiares. Eles acharam que Elizabeth Marsh era culpada de não cumprir
o acordo. Ela e o marido não gostaram dessa decisão e o caso foi levado ao bispo
para ser julgado pela Igreja. O tribunal do bispo concluiu que o leite gordo fora
indevidamente retido e que a irmã Marsh violara o acordo feito com a irmã Harris.
Após dezenove anos de rancor e perdas, Thomas B. Marsh foi ao Vale do Lago
Salgado e pediu perdão ao Presidente Brigham Young. O irmão Marsh também
escreveu a Heber C. Kimball, Primeiro Conselheiro na Primeira Presidência,
contando a lição que aprendera. O irmão Marsh disse: “O Senhor poderia
prosperar sem mim e Ele (…) nada perdeu com minha saída de Suas fileiras; mas,
oh, quanto perdi! Riquezas, riquezas maiores do que este mundo ou muitos
planetas como este poderiam proporcionar”. 6
São certas as palavras do poeta John Greenleaf Whittier: “De todas as palavras
tristes que a língua humana poderia ter dito, as mais tristes são: “Poderia ter
sido!” 7
Irmãos, todos estamos sujeitos a sentimentos que, se não forem refreados, podem
levar à ira. Sentimos descontentamento, irritação ou hostilidade e, se assim
decidirmos, perdemos a paciência e ficamos irados com os outros. Ironicamente, as
pessoas com quem nos iramos muitas vezes são de nossa própria família, são as
pessoas a quem mais amamos.
Há muitos anos, li no jornal a seguinte nota da Associated Press: “Um senhor idoso
revelou no funeral do irmão com quem dividia desde a juventude uma cabana de
um cômodo perto de Canisteo, em Nova York, que depois de uma briga eles
traçaram uma risca de giz dividindo o cômodo ao meio e que nenhum deles jamais
cruzara a linha ou dirigira uma única palavra ao outro depois disso (…) e isso foi
há 62 anos”. Pensem nas consequências dessa raiva. Que tragédia!
Que tomemos a decisão consciente, sempre que for preciso, de não nos enraivecer e
de não dizer as palavras ásperas e agressivas que ficarmos tentados a dizer.
Gosto muito da letra do hino escrito pelo Élder Charles W. Penrose, que fez parte
do Quórum dos Doze e da Primeira Presidência no início do Século XX:
“Pois aqueles que forem fiéis de modo a obter estes dois sacerdócios de que falei e a
magnificar seu chamado serão santificados pelo Espírito para a renovação do
corpo.
E também todos os que recebem este sacerdócio a mim me recebem, diz o Senhor;
E aquele que recebe a meu Pai, recebe o reino de meu Pai; portanto tudo o que
meu Pai possui ser-lhe-á dado.” 9