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22:37.) Se o cumprirmos, nossas


Consagrar a ações serão então plenamente
consagradas para o bem-estar eterno
Vossa Ação de nossa alma. (Ver 2 Néfi 32:9.) Essa
consagração plena envolve uma
convergência submissa de
pensamentos, palavras e ações, que é
exatamente o oposto do afastamento:
“Pois como conhece um homem o
mestre a quem não serviu e que lhe é
estranho e que está longe dos
pensamentos e desígnios de seu
coração?” (Mosias 5:13)
Muitos ignoram a consagração por
parecer algo muito abstrato ou
Élder Neal A. Maxwell desanimador. Contudo, a pessoa
Do Quórum dos Doze Apóstolos cônscia de suas imperfeições sente o
Ao ponderarmos e buscarmos a descontentamento divino em relação
consagração, é compreensível que as a seu pequeno progresso associado à
exigências nos deixem atemorizados. procrastinação. Seguem-se, portanto,
Mas o Senhor nos reconfortou, dizendo: alguns conselhos para os membros da
“Minha graça vos basta”. (D&C 17:8) Igreja, confirmando essa orientação,
incentivando-os a prosseguirem a
Dirijo meu discurso aos membros da jornada e consolando-os ao
Igreja que são imperfeitos mas têm encontrarem algumas dificuldades.
consciência disso e se esforçam por
A disposição de sermos
melhorar. Como sempre, a pessoa que
espiritualmente submissos não é algo
mais se beneficiará com meus
que desenvolvemos
conselhos sou eu mesmo.
instantaneamente, mas, sim,
Temos a tendência de pensar na gradualmente, subindo os degraus
consagração somente como a doação que, afinal de contas, foram feitos
de bens materiais, quando Deus assim mesmo para serem galgados um a
nos ordena. Mas a consagração final é cada vez. Nossa vontade pode chegar
a entrega de si mesmo a Deus. a ser “absorvida pela vontade do Pai”
Coração, mente e alma foram as e estaremos “dispostos a submeter-
abrangentes palavras de Cristo ao [nos] (…) como uma criança se
descrever o primeiro mandamento, submete a seu pai”. (Ver Mosias 15:7;
que deve ser cumprido Mosias 3:19.) Caso contrário, embora
constantemente e não apenas de nos esforcemos, continuaremos
modo esporádico. (Ver Mateus sendo fustigados pela turbulência do
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mundo por estarmos parcialmente ao fim. João Batista, porém, foi um


afastados do rumo. grande exemplo, ao declarar o
seguinte acerca do crescente número
Seria útil analisarmos alguns de seguidores de Jesus: “É necessário
exemplos de consagração temporal. que ele cresça e que eu diminua”.
Quando “Ananias e Safira venderam (João 3:30) A falsa noção de que
suas propriedades, eles “[retiveram] nossas designações são o único
parte do preço”. (Ver Atos 5:1–11.) indicador de quanto Deus nos ama
Muitos de nós nos apegamos aumenta nossa relutância em
firmemente a uma “parte” específica desapegar-nos delas. Irmãos e irmãs,
de nós mesmos, tratando nossas nosso valor individual já foi
obsessões como se fossem divinamente determinado como
propriedades. Assim sendo, não sendo “grande”, e não varia com as
importa quanto já tenhamos dado, a oscilações da bolsa de valores.
última porção é a mais difícil de ser
ofertada. É claro que uma oferta Outros degraus ficam sem ser
parcial continua sendo louvável, mas galgados, como no caso do jovem rico,
se assemelha muito a uma desculpa pois não estamos dispostos a encarar
do tipo “já contribuí no ano passado”. o que ainda nos falta. (Ver Marcos
(Ver Tiago 1:7–8.) 10:21.) Um certo resquício de
egoísmo torna-se assim evidente.
Podemos ter, por exemplo, um
conjunto específico de habilidades e Existem muitas maneiras pelas quais
talentos que, sem dúvida alguma, são podemos diminuir. O Reino Terrestre,
nossos. Se continuarmos a apegar-nos por exemplo, incluirá pessoas
a eles mais do que a Deus, estaremos “honradas”, que certamente não
deixando de obedecer plenamente ao prestaram falso testemunho.
primeiro mandamento. Como Deus Contudo, elas não foram “valentes no
está nos “apoiando de momento a testemunho de Jesus”. (D&C 76:75,
momento”, o excesso de apego e 79) A melhor forma de prestarmos
devoção a essas coisas não são um valente testemunho de Cristo é
recomendáveis! (Mosias 2:21) tornar-nos mais semelhantes a Ele, e
é a consagração que molda nosso
Outra pedra de tropeço surge quando caráter para seguirmos Seus passos.
servimos a Deus generosamente com (Ver 3 Néfi 27:27.)
nosso tempo e dinheiro, mas
continuamos retendo parte de nosso Ao enfrentarmos os mencionados
eu interior, o que implica que ainda desafios, a disposição de submeter-
não somos inteiramente Seus! nos espiritualmente muito nos ajuda,
às vezes auxiliando-nos a ceder ou
Alguns encontram muita dificuldade oferecer alguma coisa, até mesmo a
quando determinadas tarefas chegam
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vida mortal, em outras ocasiões a [Ensinamentos do Profeta Joseph Smith,


“apegar-nos firmemente” ou, em pp. 295-296]
outros momentos, a galgar o próximo Como frequentemente os joelhos
degrau. (1 Néfi 8:30) dobram-se bem antes da mente, a
retenção de uma “parte” priva a obra
Mas se não mantivermos a
de Deus de alguns dos melhores
perspectiva correta, os próximos
intelectos da humanidade. Seria bem
passos podem parecer
melhor que fôssemos humildes como
extraordinariamente difíceis. Embora
Moisés, que aprendeu coisas “que
tivessem conhecimento de que Deus
nunca havia imaginado”. (Moisés
abençoara Israel para que escapasse
1:10) Infelizmente, porém, no sutil
do poderoso Faraó e seus exércitos,
inter-relacionamento entre arbítrio e
Lamã e Lemuel, por sua falta de visão,
personalidade, há muita relutância. A
não tiveram fé na capacidade de Deus
desistência de certas atitudes e ideias,
de ajudá-los a lidar com um mero
na verdade, é uma vitória, porque nos
líder local, como Labão.
leva aos caminhos mais elevados de
Também podemos ser desviados do Deus. (Ver Isaías 55:9.)
caminho por ficarmos
Ironicamente, uma dedicação
demasiadamente ansiosos por
demasiada, inclusive para coisas
agradar nossos superiores no
boas, pode diminuir nossa devoção a
ambiente de trabalho ou emprego.
Deus. Podemos, por exemplo,
Colocar “outros deuses” à frente do
envolver-nos demasiadamente nos
Deus verdadeiro é algo que também
esportes e na adoração do corpo
viola o primeiro mandamento. (Êxodo
físico. Uma pessoa pode reverenciar a
20:3)
natureza, mas negligenciar o Deus
Muitas vezes até defendemos nossas que a criou. Outro pode dar atenção
manias ou hábitos, como se essas exclusiva à boa música ou a uma
coisas de certa forma fizessem parte profissão digna. Nessas
de nossa personalidade. Ser um circunstâncias, as “coisas mais
discípulo é, de certo modo, um importantes” são frequentemente
“esporte de contato”, como testificou negligenciadas. (Ver I Coríntios 2:16;
o Profeta Joseph: Mateus 23:23.) Só o Altíssimo pode
guiar-nos plenamente para o melhor
“Sou como uma enorme pedra bruta que podemos fazer de bom.
que vem descendo de uma alta
montanha, que vai-se polindo à Todas as coisas dependem dos dois
medida que suas arestas se alisam ao grandes mandamentos, declarou
esfregar em alguma coisa. (…) E Jesus, e não vice versa! (Ver Mateus
assim, chegarei a ser um dardo polido 22:40.) O primeiro mandamento não
na aljava do Todo-Poderoso”. é cancelado simplesmente por causa
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da vigorosa busca de um bem menor, que a Expiação O aguardava,


porque não adoramos um deus implorando com compreensão: “Pai
menor. salva-me desta hora; mas para isto
vim a esta hora”. (João 12:27; ver
Antes de desfrutarmos a colheita do também João 5:30; João 6:38.)
trabalho digno, devemos primeiro
reconhecer a mão de Deus. Caso Quanto mais desenvolvermos o amor,
contrário, estaremos racionalizando: paciência e humildade, mais teremos
“A minha força, e a fortaleza da minha a ofertar a Deus e à humanidade. Além
mão, me adquiriu este poder”. disso, ninguém possui os mesmos
(Deuteronômio 8:17) Ou “gloriando- talentos ou se encontra em nossa
nos”, como a antiga Israel teria feito oportuna esfera de ação em meio às
(se não fosse pelo deliberadamente pessoas.
pequeno exército de Gideão),
dizendo: “A minha mão me livrou”. É evidente que os degraus nos levam
(Juízes 7:2) Valorizar a nossa própria para um território novo, o qual talvez
“mão” faz com que seja duplamente estejamos relutantes em explorar.
difícil confessarmos a mão de Deus Assim sendo, as pessoas que
em todas as coisas! (Ver Alma 14:11; conseguem ter sucesso em galgar
D&C 59:21.) esses degraus são uma vigorosa
motivação para o restante de nós.
Num lugar chamado Meribá, um dos Geralmente damos mais atenção às
maiores homens que já existiu, pessoas que admiramos. O faminto
Moisés, ficou cansado do clamor do filho pródigo lembrou-se das boas
povo pedindo água. Por um momento, refeições que tinha em sua casa, mas
Moisés “falou imprudentemente”, também foi mais motivado por outras
dizendo: “Porventura tiraremos água lembranças ao decidir: “Levantar-me-
desta rocha para vós?” (Salmos ei e irei ter com meu pai”. (TJS Lucas
106:33; Números 20:10; ver também 15:18)
Deuteronômio 4:21.) O Senhor
chamou a atenção de Moisés por ter Ao esforçar-nos para tornar-nos
usado a segunda pessoa do plural, plenamente submissos, nossa
“tiraremos”, em vez da terceira vontade, no final das contas, é tudo
pessoa, “Ele tirará”, e depois o que realmente temos a oferecer a
magnificou ainda mais. Bem faríamos Deus. As dádivas usuais que
em ser tão humildes quanto Moisés. oferecemos a Ele e seus resultados
(Ver Números 12:3.) poderiam muito bem levar o carimbo
“Devolver ao Remetente”, com ‘R’
Jesus jamais perdeu a perspectiva maiúsculo. Mesmo quando Deus
correta das coisas! Embora fizesse recebe essa única dádiva, aqueles que
muito de bom, Ele sabia o tempo todo são plenamente fiéis receberão em
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troca “tudo o que Ele possui”. (D&C Pensem nisto. O que seria do
84:38) Que imensa vantagem ministério de Jesus se Ele tivesse
levamos! realizado muitos outros milagres mas
não o milagre transcendental do
Até lá, as seguintes verdades Getsêmani e do Calvário? Seus outros
continuam válidas: Deus nos deu milagres ampliaram a vida de alguns
nossa vida, nosso arbítrio, nossos e diminuíram os sofrimentos de
talentos e oportunidades, Ele nos deu outros. Mas como esses milagres
nossas propriedades, Ele nos deu o poderiam se comparar ao milagre,
tempo de vida mortal que nos foi maior de todos, a ressurreição
designado com todas as coisas universal? (Ver I Coríntios 15:22.) A
necessárias para chegarmos até o fim multiplicação de pães e peixes
dele. (Ver D&C 64:32.) Orientados por alimentou uma multidão faminta.
essa perspectiva, evitaremos graves Mesmo assim, as pessoas logo ficaram
erros de proporção. Alguns deles com fome novamente, ao passo que
podem ser bem menos divertidos do aqueles que recebem o Pão da Vida
que ouvir um grupo de oito pessoas jamais terão fome novamente. (João
cantando e confundi-los com o Coro 6:51, 58)
do Tabernáculo!
Ao ponderarmos e buscarmos a
Não admira que o Presidente consagração, é compreensível que as
Hinckley tenha enfatizado nossa exigências nos deixem atemorizados.
condição de povo do convênio, Mas o Senhor nos reconfortou,
salientando os convênios do dizendo: “Minha graça vos basta”.
sacramento, dízimo, templo e (D&C 17:8) Será que cremos
referindo-se ao sacrifício como “a realmente nele? Ele também
própria essência da Expiação”. prometeu que tornaria fortes as
(Teachings of Gordon B. Hinckley, coisas fracas. (Éter 12:27) Será que
1997, p. 147.) estamos realmente dispostos a
O Salvador alcançou um nível submeter-nos a esse processo? Mas se
extraordinário de submissão, ao desejamos a plenitude, não podemos
enfrentar a angústia e agonia da reter uma parte!
Expiação e “[desejar] não ter de beber
a amarga taça e recuar”. (D&C 19:18) Deixarmos que nossa vontade seja
Em nossa pequena e imperfeita cada vez mais absorvida pela vontade
escala, enfrentamos coisas que do Pai, na verdade, significa uma
precisamos superar e desejamos que personalidade ampliada e mais capaz
elas sejam de alguma forma de receber “tudo o que [Deus] possui”.
removidas de nossa vida. (D&C 84:38) Além disso, como
poderemos receber “tudo” que Ele
possui enquanto nossa vontade não
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for muito mais semelhante à Dele? E o


Seu “tudo” não pode ser plenamente
compreendido por aqueles que estão
apenas parcialmente comprometidos.
Na verdade, estaremos traindo nosso
“eu” futuro ao retermos qualquer
“parte” agora. Não precisamos
perguntar: “Porventura sou eu,
Senhor?” (Mateus 26:22) Em vez
disso, deveríamos perguntar quais
são nossas pedras de tropeço:
“Senhor, que parte de minha vida
preciso melhorar?” Talvez já há muito
tempo saibamos qual é a resposta e
precisamos mais de determinação do
que de Sua resposta.
A maior felicidade no generoso plano
de Deus é reservada no final para
aqueles que estão dispostos a se
empenhar ao máximo e pagar o preço
da jornada até Seu glorioso reino.
Irmãos e irmãs, prossigamos sempre
nesta jornada. (“Come, Let Us
Anew”, Hymns, n.o 217.)
Em nome do Senhor que está de
braços abertos (ver D&C 103:17;
136:22), sim, Jesus Cristo. Amém!

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