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BRASIL

Indeterminação do constitucionalismo imperial


luso-brasileiro e o processo de independência
do Brasil, 1821-1822 *

Samuel RODRIGUES BARBOSA


Prof. Doutor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP)

Proclamada em 7 de setembro de 1822, data festejada em dias de gala no


século XIX e ainda hoje feriado nacional 1, a independência do Brasil é um
objeto historiográfico com larga tradição que se confunde com o trabalho de
criação do Estado Nacional e sua crítica 2. Este artigo explora uma proble-
mática específica: o nexo entre o processo de independência e a emergência
do constitucionalismo luso-brasileiro entre 1821-1822. Alguns temas ganham
destaque: o entrelaçamento entre constitucionalismo e decisão política, as
novas oportunidades de participação na deliberação sobre o governo e o pa-
pel dos juristas em meio aos demais atores na formação da esfera pública
desta época de crise. Em razão das finalidades desta publicação, o artigo
combina, em uma exposição em grandes linhas, algumas hipóteses iniciais
sobre a importância do constitucionalismo nesto processo de independência
e algumas teses historiográficas defendidas recentemente. Duas hipóteses são

* O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvi-
mento Científico e Tecnológico - Brasil (Bolsa de produtividade). Agradeço penhoradamente a
Gilberto Bercovici, Virgílio Afonso da Silva e Danilo Carlotti pelos valiosos comentários.
1
Para o significado e construção do 7 de setembro, ver KRAAY, 2010; LYRA, 1995. Como
exemplo de um calendário dos festejos oficiais no século XIX, ver o decreto de 30 de março de
1844.
2
Para um balanço da historiografia, ver PIMENTA, 2008; COSTA, 2005; MALERBA, 2006. Para o
processo na hispano-américa, ver URAN-URIBE, 1997; HENSEL, 2003; MORELLI, 2004. Não foi pos-
sível comparar o processo luso-brasileiro com o hispano-americano, mas destaco uma coletânea
que foi valiosa em sugestões, ANNINO, 2010, em especial o artigo de GARRIGA, 2010.
2 SAMUEL RODRIGUES BARBOSA

mais desenvolvidas: em primeiro lugar, a indeterminação introduzida com


o constitucionalismo —se com o tempo a constituição moderna mostrou-se
uma persistente estrutura de longa duração que estabiliza as relações entre
o político e o jurídico, para os luso-brasileiros, na temporalidade estudada,
a constituição é estrutura indeterminada e arriscada—. Em segundo lugar,
pensar o constitucionalismo não como uma difusão do centro (Lisboa) para
a periferia (Brasil), afinal sua emergência se dá no quadro imperial, o cons-
titucionalismo é acontecimento nas várias partes da monarquia com ritmos
diferenciados.
É certamente possível enfocar o processo de independência sob o aspecto
dos interesses que pesaram a favor da emancipação política do Brasil fora do
enquadramento imperial português. Três nichos de interesses, em especial,
são destacados pela historiografia. Primeiramente, os interesses dos comer-
ciantes de grosso trato favorecidos pelos acordos comerciais internacionais
que colocaram fim ao exclusivo metropolitano. O segundo nicho é o dos be-
neficiários do tráfico de escravos, que dependiam de um centro de decisão po-
lítica e administrativa capaz de contornar a pressão da diplomacia britânica
favorável à extinção do comércio negreiro. Por fim, os interesses do quadro
de militares e civis ocupantes de repartições da administração, contingente
que se avolumou desde a chegada da corte ao Rio de Janeiro em 1808 3. Ao
dar relevo ao móbil dos interesses, uma importante historiografia abriu-se
para problemas de pesquisa que estavam ausentes nas narrativas épicas es-
critas para a glória maior dos fundadores do Estado Nacional 4. Estruturas
econômicas, alianças de classe e seus conflitos adquiriram destaque para a
explicar os desdobramentos históricos particulares nos quadros da crise ge-
ral do capitalismo 5.
Interesses explicam, é certo, mas outro aspecto central para a compreen-
são do processo histórico são os projetos normativos que conferem legitimi-
dade ao governo e às instituições, que justificam o mando na administração,
na economia e na casa, que vinculam interesses aos valores. A suposição aqui
é que uma determinada ordem social pode ser interpretada sob uma dupla
dimensão interligada: interesses e projetos normativos. Sem os projetos que
conferem legitimidade e justificação, a dinâmica dos interesses não se faz
ordem com estabilidade. Sem a ancoragem em interesses, os projetos norma-
tivos não se materializam, nem se tornam operatórios nos acontecimentos 6.
Não cabe detalhar essa premissa de teoria social, vale como ponto de partida

3
Sobre a formação da trama dos interesses econômicos no centro-sul, ver LENHARO, 1979;
FRAGOSO, 1998. Sobre o suposto projeto de recolonizar o Brasil pelas cortes portuguesas, ver RO-
CHA, 2009. Sobre a pressão britânica para a extinção do tráfico, ver BETHELL, 1976; ALENCASTRO,
1987. Sobre a presença inglesa, ver GUIMARÃES, 2011. Sobre o interesse do quadro administra-
tivo, um observador coevo assinalava que: «Todos os indivíduos expoliados dos seus empregos
pela extinção dos tribunais, converteram-se em patriotas exaltados; e como se tivessem sido
transformados por um agente sobrenatural, aqueles mesmos que haviam, durante a maior parte
da sua vida, serpejado entre os mais baixos escravos do poder, ergueram-se como ativos e estrê-
nuos defensores da independência» (ARMITAGE, 1977: 48). Para uma discussão do crescimento da
administração da justiça no período joanino, ver WEHLING y WEHLING, 2010.
4
Para uma exposição minuciosa do processo da independência nesta última perspectiva,
escrita à época das comemorações do centenário, ver LIMA, 1972.
5
Ver os trabalhos clássicos PRADO JÚNIOR, 1999; NOVAIS, 1995 e NOVAIS y MOTA, 1996.
6
Trata-se de uma formulação de inspiração weberiana. Para mais detalhes, SCHLUCHTER,
1985: 13-24.
INDETERMINAÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO IMPERIAL LUSO-BRASILEIRO... 3

para demarcar um campo de investigação. Diversas linhagens historiográfi-


cas, com matizes diversos, têm privilegiado a dimensão dos projetos normati-
vos em jogo na independência. É o caso do estudo da cultura política, seus ve-
ículos de circulação, em impressos e imagens, sua visibilidade e performances
nas festas cívicas e cerimônias oficiais, a exemplo das missas com Te Deum,
aclamações e coroação 7. Estudo dos espaços da crítica que vai dos parla-
mentos e conselhos aos clubs semi-clandestinos como a maçonaria (BARATA,
2006); estudo da apropriação das linguagens do político e seus portadores 8.
Neste caso, a dimensão da crise é interpretada no plano do significado, plano
de indeterminação, contingência, pluralidade de perspectivas, múltiplas tem-
poralidades 9. Sob o enfoque dessas pesquisas, a dimensão do projeto norma-
tivo deixa de ser considerada «fachada» dos interesses reais.
Com efeito, o constitucionalismo sintetiza um feixe de projetos normati-
vos entranhados no torvelinho de acontecimentos da independência, tecido
em tensão com interesses. Não é nada trivial destacar essa problemática de
modo enfático. É usual, ao menos para a historiografia constitucional, dar re-
levância para o constitucionalismo inaugurado com a carta de 1824, quando
muito para os debates da constituinte do ano anterior, considerando o tempo
curto entre fins de 1820 e fins de 1822 como objeto de interesse exclusivo da
história política. Além disso, no campo dos estudos sobre cultura política, o
constitucionalismo aparece disperso em meio a outros objetos e problemá-
ticas. Pesquisar a centralidade do constitucionalismo para compreender o
processo de independência é um campo que já conta com alguns trabalhos
de destaque, mas é ainda rico para ser explorado 10.

* * *
Depois de rezada uma missa, já na primeira proclamação oficial dos che-
fes militares da revolução da cidade do Porto, em 24 de agosto de 1820, a
constituição ingressa no tempo da decisão —«Vamos com os nossos Irmãos
d’Armas organisar hum Governo Provisional, que chame as Cortes a fazerem
a Constituição, cuja falta he a origem de todos os nossos males» (ARAUJO,
1846: 87)—. Em poucas semanas, a revolução ganha adesão em Portugal,
a regência colocada pelo rei é derrubada e substituída por uma junta e as
cortes são convocadas para constitucionalizar a monarquia 11. No início de ja-

7
Sobre o nexo entre política e festa, ver LOPEZ, 2004. Sobre cultura política em impressos e
formação da esfera pública, ver LUSTOSA, 2000; MOREL, 2005; MOREL, 2005a.
8
Sobre cultura política e história dos conceitos, ver NEVES, 2003; NEVES, 2005; RIBEIRO,
2009; LYNCH, 2005; LYNCH, 2008.
9
Para uma reflexão sobre a temporalidade histórica no período deste artigo, ver ARAÚJO,
2008.
10
Destaco o importante trabalho de SLEMIAN, 2009, que trabalha com uma temporalidade
mais alargada (1822-1834), mostrando a importância estruturante do constitucionalismo mo-
derno para a construção institucional do período pós-independência; SILVA, 1988, com documen-
tação muito útil; e sob o enfoque da história dos conceitos e da cultura política, os trabalhos já
mencionados de NEVES, 2003; NEVES, 2005. Assinados por juristas, contam-se alguns importan-
tes trabalhos de teoria constitucional com forte interlocução com a história: BERCOVICI, 2008;
CATTONI, 2011; CITTADINO, 2007; LIMA, 1999; MORAES, 2011; PAIXÃO, 2002; PAIXÃO y BIGLIAZZI, 2008.
Para uma síntese da história constitucional brasileira, ver SEELAENDER, 2010.
11
Sobre a revolução do Porto e projetos do constitucionalismo, ver o trabalho fundamental
de ALEXANDRE, 1993. Sobre as cortes portuguesas e a participação dos deputados brasileiros, ver
BERBEL, 2010. Sobre a cultura política do primeiro liberalismo português, ver VARGUES, 1997.
4 SAMUEL RODRIGUES BARBOSA

neiro do ano seguinte, o ministro mais próximo do rei d. João VI na corte do


Rio de Janeiro, Thomaz Antonio Vilanova Portugal, assim interpretava este
primeiro ato de rebeldia, «os soldados confessam que foram illudidos pelo
grito de viva el-rei, viva a religião, que não entendiam o que era Constituição»
(VARNHAGEN, 1940: 42) 12. Seja como for, o entedimento do que seja e deva
ser a constituição se torna então objeto permanente de discussão e decisão
para os portugueses dos dois lados do Atlântico e depois para brasileiros e
portugueses.
Para muitos participantes dos sucessos desencadeados pela revolução, os
acontecimentos locais fazem parte de um quadro geral, o constitucionalismo
luso-brasileiro participa de um enquadramento mais amplo.
O conde Palmela, ministro joanino dos Negócios Estrangeiros e da Guer-
ra, escrevia em meado de 1821, com base na larga experiência de represen-
tante da rainha nas cortes de Cádiz, de plenipotenciário no Congresso de
Viena e embaixador em Londres 13:
«A agitação que presentemente se manifesta na Nação portugueza não
deve por certo ser considerada como um acontecimento isolado, nem como
um effeito do descontentamento produzido pela ausencia d’El-Rei, ou pelos
erros que na administração d’aquelle Reino se hajam ha alguns annos a esta
parte commettido. Estas circumstancias casuaes contribuiriam talvez para ac-
celerar o momento da crise; mas a nossa revolução é, como todas as demais
que temos presenceado no resto da Europa, uma consequencia inevitavel do
adiantamento das luzes, da nova organisação social que se tem desenvolvido
progressivamente ha seculos a esta parte, e em uma palavra, da tendencia uni-
versal da opinião publica das Nações de que se compõe a federação europea»
(ARAUJO, 1846: 200).
A junta governativa que assumiu o mando na Bahia ao aderir à revolução
portuguesa, justifica, em ofício ao rei em 12 de janeiro de 1821, a necessidade
de constitucionalização da monarquia à luz de outras experiências constitu-
cionais:
«Lance Vossa Magestade os olhos para a Grã-Bretanha, e verá si ha cousa
que em grandeza, poderio e respeito se possa comparar com o soberano da-
quella nação. Debalde as tumultuosas facções, debalde o choque dos partidos
pretenderia abalar a grandeza do monarcha britannico: escudado com a egide
sagrada da Grande Charta, elle se assemelha a um rochedo, contra o qual em
vão se quebram as ondas do oceano. Olhe Vossa Magestade para o rei Fernan-
do, seu augusto parente, e verá que elle nunca mereceu o nome de Fernando
o Grande e de Pae da Patria, sinão depois que jurou a Constituição política da
Hispanha» (VARNHAGEN, 1940: 398, grifo meu) 14.
O significado tanto da revolução quanto do constitucionalismo é dispu-
tado e interpretado nos dois lados do Atlântico. É mescla de sentidos tradi-

12
Um dos líderes civis da revolução e depois presidente das cortes constituintes, o bacharel
Manuel Fernandez Tomaz, afastava a hipótese de intervenção da Santa Aliança, com uma obser-
vação sobre o sentido indeterminado da constituição: «Eis-aqui a linguagem das tres Potencias
a respeito da Constituição. Ellas mesmas affirmão, que ainda se não sabe, qual é a natureza, que
deve ter huma Constituição do Estado: ellas mesmas dizem, que não se attrevem a decidir essa
grande questão; como é possível pois, que ellas tachassem de anarquica, e facciosa a Constituição
de Hespanha, e a que se vai formar pelo mesmo molde, se se não sabe ainda qual é a natureza de
huma Constituição?» (THOMAZ, 1822: 23).
13
Para breve informação biográfica, ver SOUZA, 2008.
14
Sobre a recepção da constituição de Cádiz, ver WEHLING y WEHLING, 2011; BERBEL, 2008.
INDETERMINAÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO IMPERIAL LUSO-BRASILEIRO... 5

cionais que fazem remissão às experiências acumuladas e de sentidos novos,


urdidura de expectativas. Por um lado fala-se em leis fundamentais do reino,
convocação das cortes para regeneração da monarquia; de outro, ainda que
algo indeterminado, cortes deliberativas e não meramente consultivas, so-
berania da nação, cidadãos e patriotas ao invés de vassalos 15. Entre experi-
ências e expectativas, decisões são tomadas nos dois lados do Atlântico, em
Portugal e nas partes do mosaico do continente do Brasil, por atores que não
se restringem à corte com rei, seus ministros e áulicos, mas abrange a tropa e
seus chefes, funcionários vários, proprietários de terras e de homens, comer-
ciantes, religiosos, escravos 16.
No palco europeu, o manifesto aos portugueses na data da revolução tra-
balhava para tecer a legitimidade das decisões, referindo-se aos dois temas
«casuais» aludidos por Palmela. Por um lado, reclamava do rei distante, «para
cumulo de desventura deixou de viver entre nós o Nosso Adoravel Soberano.
Portuguezes! desde esse dia fatal contamos nossas desgraças pelos momen-
tos, que tem durado a nossa orfandade. Perdemos tudo!»; de outro, «huma
administração inconsiderada, cheia de erros, e de vicios, havia acarretado
sobre nós toda a casta de males, violando nossos foros, e direitos; quebrando
nossas franquezas, e liberdades» (ARAUJO, 1846: 96 e 94).
Nos dois casos, significados tradicionais são invocados para tingir de le-
gitimidade tradicional o arriscado passo que foi dado: a fidelidade ao rei,
representado como pai, está ressalvada e os atos da administração atentam
contra os direitos corporativos radicados dos vassalos 17. A antiguidade da
instituição convocada, as cortes, é outro recurso à tradição, «Hum Gover-
no representativo nas Cortes da Nação», continua o manifesto, existiu em
séculos venturosos nos quais «nossos Avós forão felizes». Todavia, não há
tempo de pedi-la ao rei, «porque os males que soffremos, e mais ainda os que
devemos recear, exigem hum promptissimo remedio» (ARAUJO, 1846: 96-97).
Para esconjurar interpretações exaltadas, o manifesto dá a garantia de que: a
«Nação sustentará a cada hum no pacifico gozo de seus direitos, por que ella
não quer destruir, quer conservar. As mesmas Ordens, os mesmos Lugares,
os mesmos Officios, o Sacerdocio, a Magistratura, todos serão respeitados
no livre exercicio da authoridade, que se acha depositada nas suas mãos»
(ARAUJO, 1846: 99).
Ainda no palco europeu, a reação do conde de Amarante, do conselho de
sua majestade fidelíssima e governador das armas, não duvida da qualifica-
ção aplicável, «he hum crime reconhecer o Governo revolucionario do Porto»
e questiona a justificação proclamada:
«se não temos inimigos exteriores, temos entre nós homens ambiciosos, lo-
ucos, e perdidos, que infelizmente, com o nome de Portuguezes, querem mu-
dar de governo, e com especiosos, e falsos motivos nos querem induzir a ser
traidores ao Rei, e perjuros ao sagrado Juramento, que lhe démos, e semeando
a Anarquia na Nação, nos promettem grandes bens, com taes mudanças; mas
lembrai-vos de quaes forão os que os Francezes revolucionarios causárão á

15
Ver os estudos sobre semântica dos discursos políticos, HESPANHA, 2004; HESPANHA, 2009;
SEELAENDER, 2007; NEVES y NEVES, 2009.
16
Sobre a participação dos escravos na Bahia, ver REIS y SILVA, 1999; no Pará, MACHADO,
2005.
17
Sobre os direitos adquiridos na acepção do antigo regime, ver HESPANHA, 1995.
6 SAMUEL RODRIGUES BARBOSA

França, onde só se vírão mortes, incendios, e roubos, e por fim huma destrui-
dora guerra; mas a vossa fidelidade he tão conhecida, que não he necessario
despertalha com razões» (ARAUJO, 1846: 110).
A regência do rei em Lisboa qualificava de «horrendo crime de rebellião
contra o poder, e Authoridade legitima do nosso Augusto Soberano El-rei
Nosso Senhor» o ocorrido na cidade do Porto e questionava o penhor da legi-
timidade tradicional proclamada pelos revolucionários:
«Não vos illudais pois, fieis, e valerosos Portuguezes, com semelhantes
apparencias; he evidente a contradicção com que os revoltosos, protestando
obediencia a El-rei Nosso Senhor, se subtrahem á Authoridade do Governo
legitimamente estabelecido por Sua Magestade, propondo-se, como declará-
rão os intrusos, que a si mesmos se constituirão debaixo do titulo de Gover-
no Supremo do Reino, a convocar Cortes, que sempre serão illegaes, quando
não forem chamadas pelo Soberano; e annunciar mudanças, e alterações, que,
quando muito, devião limitar-se a pedir, por isso que só podem emanar legiti-
ma, e permanentemente do Real consentimento» (ARAUJO, 1846: 146).
Essa é também a interpretação de Thomaz Antonio na corte joanina no
Rio de Janeiro, a par das primeiras notícias da revolução em 17 de outubro
de 1820. Thomaz Antonio reitera a única interpretação possível pela gramá-
tica do antigo regime. Cabe ao rei convocar as cortes com natureza consul-
tiva para sugerir emendas, melhorias e aperfeiçoamentos na administração;
o rei somente é quem delibera para a felicidade dos seus fiéis vassalos. Para
Thomaz Antonio, constituição são os usos, costumes e leis fundamentais da
monarquia 18. A política de Thomaz Antonio informa de ponta a ponta a carta
régia aos governadores do reino, assinada pelo rei em 27 de outubro de 1820,
primeira resposta oficial da coroa à revolução 19.
Tais conselhos não são os únicos que recebe sua majestade. Vale a pena
estudar de perto os projetos do outro ministro já aludido, o conde de Palmela.
Isso permite reencontrar alguns temas aludidos acima: a mescla entre sen-
tidos de legitimidade tradicional e de uma indeterminada legitimidade em
construção, os paralelos entre acontecimentos locais e gerais da «federação
da Europa». Mas possibilita principalmente acompanhar o esforço para deci-
frar os desafios e riscos de um presente em convulsão, e de tornar operatório
na crise, as possibilidades de constitucionalização da monarquia, preservan-
do o decoro do trono.
Entre janeiro e fevereiro de 1821, Palmela responde a várias consultas do
rei. Fala em tempos de «crise que pode decidir talvez da existencia mesma da
Monarchia», do risco da «ultima e fatal scena de dissolução da Monarchia».
Situa a crise local no quadro mais geral, «há tendencia geral de todas as Na-
ções da Europa para a fórma de Governo Representativo, e emfim pela cons-
piração universal que existe contra os antigos Governos». Trabalha em favor
das decisões prontas e coerentes para o rei «salvar a sua gloria, o seu Throno,
e a Nação do abysmo de males de que estão ameaçados» 20.

18
Thomaz Antonio Vilanova Portugal, nasceu em Lisboa (ca. 1755), formou-se em direito
por Coimbra e exerceu vários cargos na magistratura. No Rio de Janeiro, entre 1818 e 1820,
cumulou os ministérios de Negócios do Reino, dos Estrangeiros e Guerra e do Erário. Sintetiza-
va na corte joanina a defesa das estruturas políticas da monarquia do antigo regime em oposição
à revolução do Porto e o liberalismo moderado de Palmela. Ver NEVES, 2008.
19
Transcrita em VARNHAGEN, 1940: 37-38.
20
VASCONCELLOS, 1851: passim.
INDETERMINAÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO IMPERIAL LUSO-BRASILEIRO... 7

No essencial, para Palmela, o rei deve dirigir o processo de constituciona-


lização, definindo as bases da constituição. Faz um paralelo entre o facasso
espanhol que levou a uma «constituição democrática» e a sorte de Luis XVIII,
que com
«a concessão de uma Carta Constitucional limitada conseguiu até agora man-
ter em França a tranquillidade, aplacar os partidos, conciliar os animos, sa-
tisfazer ao mesmo tempo os interesses revolucionarios e os da antiga nobre-
za, e emfim conter os progressos da democracia, difficuldades que pareciam
quasi insuperaveis em 1814, epocha da sua restauração» (VASCONCELLOS,
1851: 145-146).
O sistema de decisões idealizado por Palmela propõe que o rei publique
um manifesto com as bases da constituição e ordene o envio do príncipe real
a Portugal para dirigir o governo e a feitura da constituição pelas cortes. Para
os vassalos do Brasil e dos demais domínios ultramarinos, seria formado um
conselho consultivo com representantes que se reuniriam na corte do Rio de
Janeiro para serem ouvidos sobre os melhoramentos na administração no
reino do Brasil e das colonias. Esta medida seria suficiente «para tranquilli-
sar a effervescencia que por desgraça se manifesta em diversas provincias do
Brasil» (VASCONCELLOS, 1851: 147).
Mas em 17 de fevereiro, quando chegam ao Rio de Janeiro as notícias
da sublevação militar na Bahia, a constitucionalização de todas as partes da
monarquia entra nos cálculos de Palmela. O rei necessita publicar um mani-
festo dirigido a todos «os portuguezes da Europa e da América» e lhes dizer
a necessidade de evitar a dissolução da monarquia «e de se reunirem todos
os leaes portuguezes com o seu legitimo Soberano á roda de uma Arca da
Salvação». O rei declara que as bases «serão desde já consideradas como Lei
fundamental do Reino-Unido», e que
«para proceder á obra mais difficil e melindrosa, de applicar quanto for possi-
vel essas bases ao Reino do Brasil e Dominios ultramarinos, ordena V.M. que
dentro de seis mezes se reunam n’esta Côrte do Rio de Janeiro Representantes
eleitos pelas Camaras, a fim de consultar com elles sobre os meios que convirá
adoptar para tão saudavel fim» (VASCONCELLOS, 1851: 169).
Antes das notícias da Bahia, pelo cálculo de Palmela o manifesto do rei
se destinaria aos portugueses em Portugal, merecendo ser divulgado em toda
a monarquia; o conselho consultivo não estava com data de reunião e forma
de escolha definidos. Palmela detalha ao rei um conjunto de medidas para
lidar com a crise, adaptando às novas circunstâncias, as sugestões já emiti-
das. Continuava necessária a ida do príncipe real a Portugal, deveria tocar na
Bahia, publicar o manifesto e «fazer eleger os Deputados da Camara d’aquella
cidade, que hão de vir a esta Côrte». Chegando em Portugal, o príncipe deve-
ria dissolver as cortes e «convoca-las segundo os antigos usos da Monarchia»,
a depender da lealdade conquistada naquele reino e caso obtivesse apoio da
tropa, do contrário, seria prudente transigir.
Uma das versões das bases sugeridas ao rei é a seguinte:
«Finalmente declaro que em meu nome e no de meus successores recon-
heço e concedo os artigos seguintes, para servirem de base á Constituição da
Monarchia, a qual, depois de me ser apresentada pelas Côrtes, será por mim
jurada, sanccionada e promulgada com a devida solemnidade:
8 SAMUEL RODRIGUES BARBOSA

1.º O poder executivo residirá indiviso e inviolavel na pessoa d’El-Rei.


2.º O poder legislativo, com a faculdade de impôr tributos, será exercido
collectivamente por El-Rei e pelas Cortes, reunindo-se em uma só Camara os
dois braços do Clero e Nobreza, e em outra os Representantes da Nação.
3.º O poder judicial será administrado publicamente por tribunaes inde-
pendentes e inamoviveis, em nome d’El-Rei.
4.º A liberdade individual, a segurança da propriedade, a liberdade mo-
derada da imprensa, a igualdade de todos os portuguezes perante os tribu-
naes, e a igualdade da repartição dos impostos, sem distincção de privilegios,
nem de classes, serão garantidas e asseguradas pelas leis fundamentaes da
Monarchia.
5.º A residencia do Soberano será alternativamente em Portugal, ou no
Brasil, conforme as circumstancias o exigirem, devendo sempre o Principe her-
deiro da Coroa, ou pelo menos algum outro Principe da Real Familia, residir
como Regente n’aquelle dos dois Reinos-Unidos onde não estiver o Soberano.
Adoptar-se-hão medidas promptas e adequadas para applicar o espirito d’esta
Lei fundamental ao Reino do Brasil e ás ilhas das Madeiras e dos Açores, quan-
to seja compativel com a diversa situação e circumstancias d’aquellas porçoes
da Coroa portugueza» (VASCONCELLOS, 1851: 163-164).
No entender de Palmela, as concessões do rei não eram indecorosas, «es-
tas são as bases geraes de todas as Monarchias temperadas e representativas
no dia de hoje», a exemplo do legislativo bicameral inglês.
O caso inglês é modelar para Palmela por outra razão que ilumina outro
aspecto do constitucionalismo. As revoluções do «nosso tempo», a começar
da francesa, fundam-se em «theorias da legislação e doutrinas abstractas»
que aspiram a inovações, projetam «de um jacto só codigos constitucionaes
perfeitos», erro fatal que causou desgraças à nação francesa. Em contraste,
veja-se o que fizeram «com tão feliz sucesso os auctores da revolução da In-
glaterra, a emendar e aperfeiçoar o edificio existente, em vez de o alevanta-
rem de novo desde os alicerces».
O elogio ao gradualismo do constitucionalismo inglês, sedimentação de
experiências jurídicas e políticas, vai fazer fortuna no debate luso-brasilei-
ro século a dentro. Ajusta-se bem, neste primeiro momento, ao ideal de um
constitucionalismo que deve transigir com o passado e manter fundamentos
intocados, como a monarquia.
Porém há uma dificuldade aqui. A posição de Palmela é que as bases
são uma decisão para o futuro, desenham instituições novas, regulam ro-
tativamente a sede da monarquia. É um projeto de futuro entranhado com
concessões ao passado. Mas se se admite a possibilidade de dar bases por
uma decisão, assume-se como permanente o risco de decisões contra o pas-
sado. Paradoxalmente, propor bases significava correr o risco de perigosas
inovações. Este não é outro do que o paradoxo envolvido com a positivação
do direito.
Os projetos de Palmela não vingaram, os acontecimentos de fevereiro a
abril de 1821 no Rio de Janeiro seguiram um curso que precipitou o retorno
do rei a Lisboa. Em 26 e 27 de fevereiro, a tropa que ocupou o Rossio e li-
deranças civis impuseram o juramento à constituição portuguesa a ser feita
pelas cortes e a substituição do ministério. Ato semelhante já ocorrera em di-
versas províncias, agora a corte aderia às cortes. Em 20 de abril, nas eleições
dos deputados para as cortes, uma comissão conseguiu do rei um decreto que
INDETERMINAÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO IMPERIAL LUSO-BRASILEIRO... 9

adotava a constituição espanhola enquanto se elaborasse a constituição pelas


cortes. A cidade do Rio de Janeiro mostrava, por meio dos dois episódios, a
politização inaugurada pela revolução portuguesa com os ingredientes co-
muns às outras partes da monarquia: o recurso à tropa para a adesão às
cortes, o aparecimento de novos atores fora do círculo do rei, a participação
da câmara e dos povos na formação da vontade política. Os dois episódios
mostraram que o campo das alternativas não se resumia a Vila Nova Portugal
e Palmela, visto que novos protagonistas e figurantes entraram em cena. A
reunião dos eleitores foi dissolvida a bala, a constituição de Cádiz vigorou um
dia na corte e em 26 de abril o rei partia para Lisboa 21.
O rei deixava o príncipe como regente no governo e administração do rei-
no do Brasil. O reconhecimento de jure e de fato do governo geral provisório
será abertamente contestado.
A base para o reconhecimento de jure é o decreto do rei da véspera (MO-
RAES, 1982: vol. 1, 124-126). Muito embora haja a concessão «enquanto pela
constituição se não estabelece outro sistema de regime», o real decreto repete
as fórmulas usuais de antiga legitimidade: reconhece a «prudência e mais
virtudes» do príncipe que será «amigo e pai» dos povos do reino; pressupõe
os direitos inerentes ao monarca para estabecer o governo que deve reger
seus vassalos. A tópica da polícia também está presente: o príncipe firmará «a
pública segurança e tranquilidade, promovendo a prosperidade geral» 22. O
príncipe, o mui amado e prezado filho D. Pedro de Alcântara, um rapazinho
de 22 anos, recebe o título de lugar-tenente de sua majestade.
Enquanto o decreto condensa uma teologia política da antiga legitimida-
de, as instruções que acompanham o real decreto especificam com mais por-
menor o que apraz a sua majestade. Encarrega dois nobres para ministros,
um para os Negócios do Reino do Brasil e Negócios Estrangeiros e outro para
o Estado dos Negócios da Fazenda, e dois militares, um para a Guerra e ou-
tro para a Marinha. O príncipe tomará as suas resoluções em conselho com
eles; terá todos os poderes para administração da justiça, fazenda e governo
econômico, proverá de todos os lugares, ofícios ou empregos; proverá as dig-
nidades eclesiásticas à exceção dos bispados; poderá fazer guerra ofensiva
ou defensiva contra qualquer inimigo que atacar o Reino do Brasil; poderá
distinguir com graças honoríficas as pessas que julgar dignas.
Que o rei, em substituição às cortes, pudesse escolher o regente do reino,
será questionado pelas próprias cortes e por várias juntas nas províncias do
Brasil, a exemplo da junta da Bahia. Até mesmo na cidade do Rio de Janei-
ro, a autoridade do príncipe seria desafiada pela tropa. Em junho de 1821, é
obrigado a jurar as bases da constituição aprovadas pelas cortes, conhecida
na cidade em fins do mês anterior, a demitir um dos ministros colocados
pelo rei, o conde dos Arcos, a constituir um junta civil e outra militar respon-
sáveis perante as cortes de Lisboa —esta última exigência, uma aplicação
direta das bases—. Acrescem outros obstáculos: a grave crise financeira da

21
Ver a devassa em BIBLIOTECA NACIONAL, 1923: 277-325: «hum ajuntamento tumultuozo e
Sediciozo de homens mal intencionados... se revoltarão contra a Constituição actual do Estado,
bradando que só querião serem regidos pela Constituição d’Hespanha, emquanto não chegava a
que se estava organizando em Portugal» (p. 278).
22
Sobre Polizei, SEELAENDER, 2010a.
10 SAMUEL RODRIGUES BARBOSA

província do Rio, o fato das províncias, no geral, se recusarem a reconhecer


as despesas.
Por fim, um decreto das cortes de abril reconhecia «como legítimos todos
os governos estabelecidos ou que se estabelecerem nos estados portuguezes
do ultramar e ilhas adjacentes, para abraçarem a sagrada causa da regenera-
ção politica da nação portugueza, e serão declarados benemeritos da patria
os que tiverem premeditado, desenvolvido e executado a mesma regenera-
ção» (DOCUMENTOS, 1883: 187), uma justificativa a mais para estreitar os la-
ços com Lisboa, em prejuízo do Rio de Janeiro. A bem da verdade, desde a
primeira hora, os governos nas províncias encontraram na adesão à causa da
constituição uma justificava para ensaiar autonomia em relação ao Rio de
Janeiro, para exercer o autogoverno. Vale frisar que o enquadramento do mo-
saico das partes (governos) era o enquadramento imperial e não o Brasil. O
constitucionalismo, em razão de sua indeterminação inerente, possibilitava
precisamente a discussão do arranjo institucional entre as partes, a exemplo
do federalismo 23. Desafiar a regência do príncipe, o que aliás ocorre dos dois
lados do Atlântico, não significa por si só romper com a unidade política. E
para o direito político do constitucionalismo que se adensava mais e mais,
era duvidosa a legitimidade do real decreto que conferia «governo geral e in-
teira administração de todo o reino do Brasil» ao príncipe. De fato e de jure,
não havia um poder comum no reino do Brasil. E isto é o que reconhece o
mesmo príncipe em carta de 17 de julho ao rei:
«Espero que vossa magestade me faça a honra de mandar apresentar esta
minha carta em cortes, para que ellas, de commum accordo com vossa mages-
tade, dêem providencias tão necessarias a este reino, de que eu fiquei regente,
e hoje sou capitão general, porque governo só a província, e assim assento que
qualquer junta o poderá fazer, para que vossa magestade se não degrade a si,
tendo o seu herdeiro como governador de uma provincia só» (DOCUMENTOS,
1883: 245).
Algumas premissas que pautaram a historiografia de longa data têm sido
criticadas pela literatura mais recente. É o caso da reificação de identidades
coletivas postas em confronto, como o antagonismo entre brasileiros (filhos
de uma nação já constituída) e portugueses no processo de independência;
ou a suposição de uma teleologia do processo de independência, na qual o
destino das partes americanas seria a adesão ao Brasil, cuja cabeça seria o
Rio de Janeiro; ou sobreposição entre a espacialidade geográfica e a espa-
cialidade política que supõe o Brasil (unidade geográfica e política) como
portador da independência. Muitos historiadores com variados recortes e en-
foques têm questionado essas premissas. Nem a identidade nacional, nem a
unidade geográfico-política são dados prévios. Identidades se constroem por
diferenças e novas diferenças são introduzidas e se combinam às identidades
abarcantes. Assim, na identidade da nação portuguesa que se constitui pela
diferenciação em face de outras nações, se diferencia o português brasílico
do português reinol; e na pátria do Brasil, o país do paulista se diferencia
do pernambucano. Afora outros significados, nação, pátria, país expressam
identificações de pertencimento político. István Jancsó e João Pimenta assim
comentam uma manifestação de deputados brasileiros nas cortes: «Bahia e

23
Ver, por exemplo, MELLO, 2004.
INDETERMINAÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO IMPERIAL LUSO-BRASILEIRO... 11

São Paulo são suas pátrias, o Brasil é seu país, mas a nação à qual pertencem
é a portuguesa» (JANCSÓ y PIMENTA, 2000: 130). A expressão «mosaico», que
tem adquirido foros de categoria historiográfica, designa a complexa forma-
ção das múltiplas identidades políticas e serve ainda para introduzir a con-
tingência no processo de independências das províncias e regiões do império
português na América 24. Para províncias como Pará, Bahia, Pernambuco, o
alinhamento com o Rio de Janeiro, São Paulo e Minas, é um projeto dentre
outros. E para nossos fins, a hipótese é que o constitucionalismo introduz
indeterminação ao desnaturalizar a cogência das estruturas de ordenação
política do antigo regime, possibilitando a deliberação sobre novas configu-
rações do político. Com efeito, André Roberto Machado cita a advertência
do bispo do Pará em outubro de 1823, «Para ele, o constitucionalismo havia
dado “demasiada ânsia e liberdade às paixões”, quebrando assim a “mola real
das sociedades bem constituídas”» (MACHADO, 2005: 316).
Em meados de 1821, a vitória das cortes era patente. Um ano atrás, a
revolução dera o passo arriscado de desafiar as estruturas políticas do an-
tigo regime. As cortes funcionavam com regularidade, as bases já estavam
aprovadas, o rei voltara e estava submetido às cortes, chegavam notícias do
outro lado do Atlântico dando conta da adesão das várias províncias à causa
constitucional, reforço militar foi enviado à Bahia a pedido, e o príncipe
regente fora derrotado pela tropa que o obrigou a jurar as bases. Nas cortes
têm início os debates para dar uma configuração ao governo no ultramar
adequado à regeneração. Estes debates culminarão nos decretos de 29 de
setembro 1821 que, unintended consequences, precipitarão acontecimentos
decisivos.
Um dos decretos dava uma nova regulação ao governo das províncias do
reino do Brasil; mandava criar juntas provisórias de governo, eleitas pelas
paróquias, com autoridade e jurisdição civil, econômica, administrativa e de
polícia. Vale lembrar que a criação de juntas à medida que as províncias
aderiam à revolução não obedeceu uma formação uniforme, agora o decreto
ordenava uma configuração comum. Mais importante, o decreto dividia as
competências: o governo da fazenda, das armas e dos magistrados no exercí-
cio do poder contencioso e judicial ficavam independentes das juntas gover-
nativas e passavam a responder diretamente a Lisboa. O outro decreto orde-
nava o regresso do príncipe real a Portugal, vez que as províncias deveriam
responder a Lisboa e não ao Rio de Janeiro 25.
Em dezembro as ordens são conhecidas no Rio de Janeiro e São Paulo,
provocando reações na imprensa, em panfletos e pelos canais institucionais
utilizados com frequência nos últimos tempos: manifestos e representação
das câmaras e juntas 26.

24
Ver o artigo citado na nota anterior; ver também JANCSÓ, 2005; JANCSÓ, 2002.
25
Ver os decretos em MORAES, 1982: vol. 1, 205-208.
26
É o caso de dois panfletos/jornais de José da Silva Lisboa Despertador Brasiliense; Recla-
mação do Brasil; Representação da junta de governo de São Paulo de 24 de dezembro; os Mani-
festos do governo, senado da câmara e clero de S. Paulo de janeiro de 1822, a Representação do
bispo do cabido da Sé e do clero de São Paulo, 1º de janeiro de 1822; o Manifesto do povo do Rio
de Janeiro sobre a residência de Sua Alteza Real no Brasil, com mais de oito mil assinaturas; a
Memória dirigida a Sua Alteza Real o Príncipe Regente do Brasil pelos pernambucanos residen-
tes no Rio de Janeiro de 9 de janeiro. Ver BERNARDES, 2006: 526.
12 SAMUEL RODRIGUES BARBOSA

A representação da junta de São Paulo de 24 de dezembro, de autoria


de José Bonifácio 27, questiona o projeto urdido pelas cortes para o reino do
Brasil:
«Como ousam desmembrá-lo em porções desatadas, isoladas, sem lhes dei-
xarem um centro comum de força e de união? Como ousam roubar a V. A. Real
o lugar-tenente que seu augusto pai, nosso rei concedera-lhe? Como querem
despojar o Brasil do desembargo do paço, e mesa da consciência e ordens, con-
selho da Fazenda, junta do Comércio, Casa da Suplicação, e de tantos outros
estabelecimentos novos, que já prometiam futuras prosperidades?» (MORAES,
1982: vol. 1, 225).
O ato das cortes é qualificado como «inaudito despotismo», de «horroro-
so perjúrio político»; a política das cortes é chamada de «novo maquiavelis-
mo constitucional». Bonifácio busca analogia com o reino da Irlanda, parte
do Reino-Unido da Grã-Bretanha, que conserva um governo geral que repre-
senta o poder executivo do rei; isso tanto é mais necessário no «vastíssimo
reino do Brasil».
O chamado Dia do Fico, em 9 de janeiro de 1822, é conhecido pelas pala-
vras do edital do Senado da Câmara do dia seguinte, na qual o príncipe resol-
ve o impasse: «Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou
pronto; diga ao povo que fico». Não é decisão pela emancipação, antes man-
tém o projeto da preservação do império luso-brasileiro, se bem que desafian-
do a soberania das cortes portuguesas que há tempos manietava a coroa.
Às festas que se seguiram ao 9 de janeiro, a divisão auxiliadora tentou
sujeitar o príncipe, como fizera no ano anterior. Sob o comando do general
Jorge de Avilez, ocupou o morro do Castelo, pretendia coagir o príncipe a em-
barcar para a Europa. Mas fracassou. Cidadãos armados e soldados deram
lastro à autoridade do príncipe rebelde. Em 15 de fevereiro, a divisão auxilia-
dora embarcava para Portugal.
O primeiro semestre de 1822 compreende várias iniciativas para fabricar
a autoridade do príncipe, conferindo institucionalidade ao governo sediado
no Rio de Janeiro. São processos que vão firmar um polo de governo em opo-
sição ao polo representado pelas cortes em Lisboa. As elites provinciais no
mosaico do continente do Brasil vão singrar entre Cila e Caríbdis, ou buscar
novas alternativas regionais, federativas, depois serão forçadas a escolher a
primeira alternativa (Rio de Janeiro) quando fracassar o projeto da monar-
quia dual.
Primeira iniciativa, formar um ministério com José Bonifácio à frente,
na Pasta do Reino, Justiça e Estrangeiros. Em 21 de janeiro, portaria do
ministro declara que as leis das cortes sejam submetidas ao beneplácito do
Príncipe-regente para se fazerem obrigatórias. Outra medida, visando atar
as províncias ao centro comum, é o decreto do príncipe de 16 de fevereiro

27
Uma das figuras centrais do processo de independência, o mais velho dos três irmãos
Andradas, José Bonifácio nasceu em Santos em 1763, filho de rico comerciante e funcionário da
administração. Formado em direito e filosofia por Coimbra, seguiu em viagens pela Europa para
estudo de química e mineralogia. Acumulou funções em Portugal após a invasão francesa contra
qual se alistou. De volta ao Brasil em 1819, foi membro da junta governativa de São Paulo, um
dos articuladores do Fico, ministro do príncipe regente. Foi peça central para a consolidação do
pólo político representado pelo Rio de Janeiro em oposição às Cortes. NEVES, 2002. Ver ainda,
CAVALCANTE, 2002.
INDETERMINAÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO IMPERIAL LUSO-BRASILEIRO... 13

criando o conselho de procuradores das províncias. Em 3 de junho é decre-


tada a convocação de uma assembleia constituinte. Decreto de 1º de agosto
declarava inimigas todas as tropas portuguesas que desembarcassem sem o
consentimento do príncipe. São decisões que, de um lado, criam novas confi-
gurações institucionais para a regência americana, e, de outro, desafiam com
desenvoltura crescente a tutela das cortes.
As cartas do príncipe ao rei são reveladoras da mudança de colorido dos
acontecimentos. Todavia são epístolas de natureza pública e oficial, eram
apresentadas às cortes e nela debatidas; neste caso, é de se observar a mudan-
ça de qualificação imputada às cortes, indicador da dissolução dos vínculos
entre os dois reinos.
Ao primeiro conhecimento dos decretos das cortes, em 10 de dezembro, o
príncipe escrevia «não cessarei de tomar medidas para tudo se cumprir com
socego» (DOCUMENTOS, 1883: 272). Em 14 de dezembro, o príncipe dava conta
do clima da opinião que se formava:
«Dou parte a vossa magestade que a publicação dos decretos fez um cho-
que mui grande nos brazileiros e em muitos europeus aqui estabelecidos, a
ponto de dizerem pelas ruas “Se a constituição é fazer-nos mal, leve o diabo
tal cousa, havemos fazer um termo para o príncipe não sair, sob pena de ficar
responsavel pela perda do Brazil para Portugal, e queremos ficar responsaveis
por elle não cumprir os dois decretos publicados”» (DOCUMENTOS, 1883: 272).
Após o Fico e a expulsão das tropas fiéis às cortes, escreve em 14 de
março,
«Desde que a divisão auxiliadora saiu, tudo ficou tranquillo, seguro e per-
feitamente adherente a Portugal; mas sempre conservando em si um grande
rancoro a essas côrtes, que tanto têem, segundo parece, buscado aterrar o Bra-
zil, arrasar Portugal e entregar a nação á Providencia... / Os brazileiros e eu
somos constitucionaes, mas constitucionaes que buscamos honrar o soberano
por obrigação de subditos e para nos honrarmos a nós; portanto, a raiva é só a
essas facciosas cortes» (DOCUMENTOS, 1883: 308).
Na carta de 19 de junho, o príncipe escreve que o Brasil «não quer ser
escravo de lusos-hespanhoes, quaes os infames despotas (constitucionaes
in nomine) d’essas facciosas, horrorosas e pestiferas côrtes» (DOCUMENTOS,
1883: 359). No discurso político da época, os epítetos polêmicos de despo-
tismo e tirania são atribuídos com frequência aos ministros, preservando a
irresponsabilidade da coroa, e nesta passagem, às cortes.
Diferentes projetos de constitucionalismo disputam a proeminência na
política americana. Denis Bernardes destaca três principais:
«O grupo paulista, representado por José Bonifácio pode ser identificado
a uma monarquia centralizadora e cuja soberania é dada pela legitimidade
da dinastia de Bragança. O grupo dos liberais do Rio de Janeiro, representa-
do por José Clemente Pereira explicita o reconhecimento do príncipe regente,
mas com a salvaguarda da existência de um poder legislativo. A Memória dos
Pernambucanos residentes no Rio de Janeiro invoca, de maneira explícita, a
teoria do pacto e firma a teoria da soberania residindo na Nação, o que faz da
legitimidade sua emanação. Nenhum indivíduo, nenhuma parte do corpo so-
cial detém a soberania, somente a Nação a detém. É concepção defendida por
João Soares Lisboa e por frei Caneca, para citar apenas dois pensadores que
iriam até o confronto armado com Dom Pedro para defendê-la e que pagaram
tal defesa com suas próprias vidas» (BERNARDES, 2006: 532).
14 SAMUEL RODRIGUES BARBOSA

Esses partidos continuam em competição depois de proclamada a inde-


pendência e da coroação de d. Pedro I em 1º de dezembro. 1822 não conclui o
processo de independência, nem assegura a vitória dos liberais em Portugal.
No começo de 1823, correm as guerras de independência no Brasil, que dei-
xavam incerta a trajetória de províncias como Pará e Bahia. Em Lisboa, as
cortes são extintas pelo rei, d. João, que toma a direção da revolta absolutista
conhecida como Vilafrancada. O nexo entre constitucionalismo e política en-
che a história seguinte 28.
* * *
O discurso do constitucionalismo ocorre em novos espaços, com novos
veículos e novos atores, para além do padrão conhecido do Antigo Regime.
Ganha publicidade e amplia-se o campo do debate político. Pela antiga prá-
tica, a opinião política é construída pelos agentes —ministros, diplomatas,
altos funcionários— que produzem uma documentação burocrática que ir-
radia as decisões de governo, opina e reflete sobre seu sucesso. Essa opinião
política pode adensar-se, acumular experiências locais e globais, produzir
efeitos no governo. Censura e devassas abafam o discurso político para além
dos canais de comunicação oficial 29.
No começo do século XIX, periódicos impressos na Inglaterra por por-
tugueses, sem o controle da censura, exemplificam a ampliação do debate
sobre o governo. É o caso do Correio Brasiliense (editado por Hipólito José
da Costa entre 1808 e 1822), O Investigador Português em Inglaterra (fundado
em 1812, editado por José Liberato Freire de Carvalho desde 1814 até 1818),
O Português ou Mercúrio Político, Comercial e Literário (editado de 1814 a
1821 por João Bernardo da Rocha Loureiro), O Campeão Português ou Ami-
go do Rei e do Povo (editado entre 1819 e 1821 por José Liberato Freire de
Carvalho) 30.
Novos periódicos e uma massa considerável de panfletos são produzidos
nos dois lados do Atlântico após a revolução do porto e, especialmente, após
as cortes aprovarem a lei de liberdade de imprensa em 1821. Periódicos da
Bahia como Diário Constitucional (depois chamado apenas como O Constitu-
cional), Minerva Bahiense, Semanário Cívico, Sentinela Bahiense; periódicos
do Rio de Janeiro, O Bem da Ordem, O Amigo do Rei e da Nação, O Concilia-
dor do Reino Unido, O Espelho, A Malagueta, Revérbero Constitucional Flumi-
nense, O Correio do Rio de Janeiro; de Pernambuco como Segarrega e Aurora
Pernambucana; do Pará como O Paraense. Eles discutiam as decisões das
cortes para o Brasil, tomavam partido sobre o desenrolar dos acontecimen-
tos (o Fico, a expulsão da Divisão Auxiliadora, a convocação do Conselho de
Procuradores, etc.), divulgavam a tópica do discurso político com ecletismo
e virulência.
Vou comentar brevemente um panfleto que não é dos mais conhecidos
mas que pode interessar aos historiadores do direito pela referência ao plu-

28
Para o Brasil, ver SLEMIAN, 2009; para Portugal, HESPANHA, 2009.
29
A exemplo da sedição bahiana de 1789, para isso ver JANCSÓ, 1996: 157 ss. Para um exem-
plo de uma devassa no período joanino e suas implicações para a cultura política, ver SLEMIAN,
2006. Sobre opinião pública, NEVES, 2009a.
30
Para mais detalhes, ver VARGUES, 1993. Sobre o Correio Brasiliense, com discussão perti-
nente a este a artigo, ver JANCSÓ y SLEMIAN, 2002.
INDETERMINAÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO IMPERIAL LUSO-BRASILEIRO... 15

ralismo jurídico no final do antigo regime na América Portuguesa 31. O título


principal é «Carta do Compadre do Rio de S. Francisco do Norte, ao Filho
do Compadre do Rio de Janeiro», assinado por J. J. do C. M., talvez Joaquim
José da Costa de Macedo (1777-1867), publicado no Rio de Janeiro pela Im-
prensa Nacional em 1821. O autor escreve uma «justa defensão dos desvali-
dos Pretinhos, e pobres Indios» contra um panfleto que saiu em Lisboa que
não concedia aos «homens pretos maior dignidade que a de Reis do Razario»
e que comparava os «indios com os cavallos». Menciona façanhas militares
dos pretos, bem como sua aptidão para as letras, artes e ofícios. Sobre os
índios, lembra que as riquíssimas minas do Brasil foram conquistas e des-
cobertas pelos paulistas «Mistiços filhos de Indias»; aduz ainda outra prova
favorável a eles:
«Eu tenho tranzitado por algumas d’essas Aldêias, e Villas, onde prezidem
esses Juizes Brancos e Indios, que Vm. figura, que os Juizes brancos condu-
zem os Indios, como o Cavalleiro conduz o cavallo pelas redeas: perdoar-me
há Vm. a liberdade de assegurar-lhe, que está mal informado d’esses factos.
/ Os Juizes n’essas Villas são de facto hum Branco, e hum Indio; servem por
semanas alternadas, com a diferença, que o Indio só conhece, e despacha ver-
balmente diferenças dos seus Indios, ou destes com algum Branco, Preto, ou
Pardo; com as decizões deste Juiz nada tem o Juiz Branco, assim como o Indio
senão embaraça nas decizões daquele, o qual conhece dos feitos contenziosos,
e discussões forences, e he para ver, e admirar, que o Juiz Indio sem revolver
Bartallos, Nem Acursios, quasi sempre julga com Justiça, retidão, e equidade,
quando o Juiz Branco enredado nos intricados trocicollos da manhoza chica-
na raras vezes acerta; por mais que para isso se desvelle, quando se desvella»
(CARTA, 1821: 7).
Vale menção que o pluralismo jurídico que admitia o jus commune
imbricado com o direito local será desafiado ao longo do século XIX pela
afirmação da lei positiva 32. Afora isso, aparece mais explícito o espinhoso
problema à época da definição de quem devem ser membros da nação por-
tuguesa 33.
Além dos novos veículos, novas formações institucionais catalisam o de-
bate político. Das mais importantes são as juntas governativas criadas nas
províncias. Desafiavam a subordinação ao tradicional centro político (corte),
ensaiavam a legitimidade do poder local baseado em eleições ao invés da
nomeação real, permitiam a articulação de demandas e projetos. Afora as
juntas, as câmaras nas várias províncias se politizaram, tornando-se palco de
juramentos ao constitucionalismo, são destinatárias e produtoras de repre-
sentação, manifestos e proclamações políticas.
A crise aberta com a revolução do Porto promoveu a constitucionalização
das províncias. Isso se manifesta nas decisões institucionais —formação de
juntas, adesão às cortes—, na liberação do discurso político para além dos
canais tradicionais de deliberação. Mas também porque, nas várias provín-
cias, fez-se uso das bases da constituição, aprovadas em meados de março
de 1821 pelas cortes. As bases têm as características formais e materiais das
constituições modernas: definem direitos e garantias individuais do cidadão,

31
Para a discussão teórica do pluralismo, ver WOLKMER, 1997.
32
Sobre o conceito de lei, ver HESPANHA, 1993; HOMEM, 2003: 212 ss; LOPES, 2004.
33
Ver para essa discussão no período imediatamente seguinte, SLEMIAN, 2005.
16 SAMUEL RODRIGUES BARBOSA

organizam os poderes e o regime político 34. As províncias americanas, pois,


experimentam estruturas do constitucionalismo antes da independência e da
política sob a constituição de 1824 outorgada por d. Pedro I.
Um exemplo disso é o direito de representação apoiado no artigo 14 das
bases: «Todo Cidadão poderá apresentar por escrito às Cortes e ao Poder
Executivo reclamações, queixas, ou petições, que deverão ser examinadas».
Escudados nas bases, militares e civis representam ao senado da câmara da
cidade de Salvador:
«não duvidamos, amparados no artigo 14 das bases juradas, em reclamar e
pedir a V. S. haja de não conferir por ora a posse do governo das armas ao bri-
gadeiro Inácio Luís Madeira de Melo e sim fazer patente este negócio a todas
as Câmaras da Província, a fim de que estas, conformando-se com o parecer e
vontade dos povos, dêem os seus acordos, os quais V. S. levará ao conhecimen-
to do soberano Congresso para que, novamente tomando em sua alta conside-
ração, delibere o que for melhor» (TAVARES, 2005: 53) 35.
No Rio de Janeiro, o direito de representação garantido pelas bases vai
ser invocado pelo príncipe para se opor o general Avilez que pedia a prisão e
remessa para Portugal das pessoas que representaram em favor do Fico. Tal
prisão, argumenta o príncipe, seria privar os habitantes do Rio de Janeiro
do gozo do direito que estava garantido pelas bases da constituição jurada
(MORAES, 1982: vol. 1, 242).
Outro artigo das bases servirá a José Bonifácio para se opor aos decretos
de 29 de setembro:
«Se pelo art. 21 das bases da constituição que aprovamos e juramos, por se-
rem princípios de direito público universal, os deputados de Portugal se viram
obrigados a determinar que a constituição que se fizesse em Lisboa só obriga-
ria por ora aos portugueses residentes naquele reino, e quanto aos que residem
nas outras três partes do mundo ela somente se lhes tornaria comum quando
seus legítimos representantes declarassem ser esta a sua vontade: como agora
esses deputados de Portugal, sem esperarem pelos do Brasil, ousam já legislar
sobre os interesses mais sagrados de cada província e de um reino inteiro?» 36.
Em outro texto de janeiro, Bonifácio é explícito ao usar as bases para
firmar um juízo de inconstitucionalidade sobre os decretos:
«Os Cidadãos sensatos, e livres da minha Província passarão depois a exa-
minar, se hum tal Decreto era justo e conforme com as Bases da Constituição
por elles approvadas e juradas; e o resultado deste exame foi o pleno conheci-
mento da sua clara e manifesta anticonstitucionalidade» 37.
O mesmo princípio de direito público é invocado no manifesto do povo
do Rio de Janeiro sobre a residência de S. A. Real no Brasil, dirigido ao sena-
do da câmara em 2 de janeiro de 1822:
«Há uma distância muito considerável entre o meio-dia da Europa e o
meio-dia da América; a natureza humana aqui experimenta uma mudança sen-
sível, um novo céu, e por isso, mesmo uma nova influência sobre o caráter de

34
Sobre as bases, ver HESPANHA, 2009: 70 ss.
35
A posse do brigadeiro fundava-se nos decretos de 29 de setembro de 1821.
36
FALCÃO, 1963: vol. 2, 222, passagem da representação da junta de São Paulo de 24 de
dezembro de 1821.
37
FALCÃO, 1963: vol. 2, 237. passagem da representação do governo, câmara, clero e povo
de São Paulo.
INDETERMINAÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO IMPERIAL LUSO-BRASILEIRO... 17

seus indivíduos; é impossível que povos classificados em oposição física se pos-


sam reunir debaixo do mesmo sistema de governo: a Indústria, a Agricultura,
as Artes, em geral exigem no Brasil uma legislação particular, e as bases deste
novo código devem ser esboçadas sobre os locais onde depois hão de ir ter sua
execução» (MORAES, 1982: vol. 1, 249).
No palco de Lisboa, a comissão especial dos negócios políticos do Brasil
enfrenta os argumentos que justificaram o «exemplo terrível da insubordina-
ção» de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais cujo desfecho foi o Fico:
«O artigo 21.º das bases da constituição diz que a lei fundamental da mo-
narchia se tornará commum aos portuguezes residentes fóra da Europa, logo
que pelos seus legítimos representantes declarem ser esta a sua vontade. Existe
já esta declaração? Por certo que sim, ella não foi feita pelos representantes,
mas sim pelos povos representados, o que lhe dá ainda maior força; todas as
províncias do Brazil (se exceptuarmos a do Matto Grosso e do Rio Grande
do Sul, de cujo estado político a commissão não está bem informada), todas
as provincias declararam expressamente que adheriram á causa de Portugal,
juraram as bases da constituição, obediência ás côrtes e a el-rei» (DOCUMENTOS,
1883: 314).
Um último exemplo, o entrevero entre o rei e as cortes logo após a sua
chegada a Lisboa. Ao discurso do rei que advogava o «princípio fundamental
de toda Monarchia Constitucional, que o exercicio do Poder Legislativo não
pode residir separadamente em nenhuma das partes integrantes do Governo;
mas sim na reunião do Monarcha e Deputados escolhidos pelos Povos», as
cortes oficiam em discordância às
«ideas e expressões alheias dos principios sanccionados nos artigos 21, 23 e 24
das Bazes da Constituição, nos quaes, estabelecendo-se a linha de demarcação
entre os poderes Legislativo e Executivo, se attribue sómente ás Cortes a repre-
sentação nacional e o poder Legislativo, com a exclusão das iniciativa direta
do Rey, e só com a dependencia subsequente da sua sancção, e de um veto,
que não será absoluto, tudo na forma declarada nos mesmos artigos» (COSTA,
2002: 101).
Em resposta às cortes, a força normativa resta explícita,
«Sua Majestade manda declarar, que, tendo jurado as dictas Bazes, pelo
modo mais geral e indistincto, não podia ser da sua intenção, que houvesse no
seu discurso expressoens ou ideas, que não fossem de accordo, e conformes
com as mesmas Bazes, e com o seu juramento» (COSTA, 2002: 102).
As bases, verdadeiras constituições com validade empírica 38, são inter-
pretadas nos dois lados do Atlântico, revelam a constitucionalização dos dois
reinos e a estreita imbricação entre constitucionalismo e política 39.
* * *
38
Este conceito é retirado de Weber que propõe uma definição de ordem jurídica adequada
às «ciências empíricas da ação», em contraposição à definição usual oferecida pela dogmática
jurídica. Enquanto a dogmática trabalha com um conceito ideal de validade, a sociologia se
ocupa com «o que de fato ocorre, dado que existe a probabilidade de as pessoas participantes
nas ações da comunidade (...) considerarem subjetivamente determinadas ordens como válidas
e assim as tratarem, orientando, portanto por elas suas condutas» (WEBER, 1999: vol. 1: 209. Ver
ainda, SCHLUCHTER, 2003).
39
Sobre a caracterização das bases como constituição, ver HESPANHA 2009: 85, que compar-
tilha a mesma opinião: «Uma vez que, nas determinações finas das Bases de 1821, se estabelece
que elas ficarão “servindo provisoriamente de Constituição”, ressalvados os três artigos relativos
à liberdade de imprensa, esta foi a primeira constituição portuguesa, em vigor desde 09.03.1821
18 SAMUEL RODRIGUES BARBOSA

A coroa não criou instituições de ensino superior na América até a vinda


da família real. A elite colonial fazia sua formação universitária na Europa,
majoritariamente na Universidade de Coimbra, na Real Academia de Ma-
rinha e no Colégio dos Nobres. Entre 1808-1820, a corte no Rio de Janeiro
criou a Real Academia dos Guardas-Marinhas e Academia Real Militar, as
Escolas de Medicina do Rio de Janeiro e Salvador e a Academia de Belas-
Artes. Somente em 1827 foram criadas duas faculdades de direito, uma em
Pernambuco e a outra em São Paulo 40. A formação dos letrados em direito se
fazia principalmente em uma única instituição (Coimbra), o que promoveu
um universo comum de referências ideológicas e de treinamento, além de
fomentar laços de sociabilidade, alianças e oposições, que vão influenciar a
atuação dessas elites no governo americano. A formação de letrados na me-
trópole foi um obstáculo importante à formação de uma elite letrada criou-
la. A geração dos juristas forjada nas guerras de independência e educadas
em Coimbra vai ser protagonista no Brasil independente até cerca de 1853,
quando já estará substituída pelos letrados formados nas faculdades de di-
reito brasileiras 41.
Lúcia Maria Bastos das Neves procurou delinear, a partir de uma inves-
tigação prosopográfica, a elite política do continente do Brasil que atuou
entre 1820 e 1823. Do total de 94 deputados americanos eleitos (efetivos e
suplentes) para as cortes constituintes de Lisboa, investigou detalhadamen-
te 76 deputados. Agregou ao universo para análise os 13 representantes pro-
vinciais eleitos para o conselho de procuradores das províncias, convocado
por decreto do príncipe de 16 de fevereiro de 1822. Deste total de 89 atores
políticos, 42 possuíam curso superior, dos quais 39 haviam estudado em
Coimbra. Desses 39 atores, 28 frequentaram o curso jurídico (NEVES, 2003:
cap. 2).
Ainda no conjunto dos 89 atores, segundo o recorte profissional, o maior
número, 30, exercia a advocacia, 26 atores pertenciam ao clero, 24 eram
funcionários públicos e 23 eram proprietários de terras. Não raro havia
cumulação entre as atividades: Nicolau de Campos Vergueiro era advogado
e dono de fazendas em São Paulo. A carreira de advogado não estava restrita
a quem havia cursado a universidade, mas havia o contingente de práticos
(rábulas) 42.

até 01.10.1822». As passagens citadas no corpo do texto mostram o uso efetivo das bases como
constituição também no reino do Brasil.
40
Em 10 de junho de 1822, a junta do governo provisório de Minas Gerais representava o
príncipe regente, «a urgente necessidade de ser provida a Magistratura de Ouvidor de Paracatu
um homem Literato, e bem intencionado por se achar a mesma atualmente ocupada pelo Juiz
Ordinário mais velho, não tendo ainda a mais Superficial tintura das Letras, e nem das Leis, nem
havendo Letrados formados no País» (JUNTAS, 1973: vol. 2, 909).
41
Sobre a formação da elite letrada e a importância da sua coesão para a construção do
Estado, ver CARVALHO, 2003: 63 ss. Sobre a cultura jurídica no Império do Brasil, ver FONSECA,
2006; MOTA, 2006.
42
Exemplo de rábula e protagonista nas lutas de independência, foi Antônio Pereira Re-
bouças, nascido em 1798 em Maragogipe no Recôncavo Baiano, filho de um alfaiate português
e de uma liberta. De infância pobre, aprendeu o direito na prática como escriturário e como
escrevente de cartório. Foi um dos líderes do governo provisional da cidade de Cachoeira. De-
putado provincial muitas vezes, abandonou a política partidária após 1848, dedicando-se exclu-
sivamente à advocacia. Faleceu em 1880. Ver ainda, GRINBERG, 2002; GRINBERG, 2002a; BLAKE,
1970: vol. 1, 282-284.
INDETERMINAÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO IMPERIAL LUSO-BRASILEIRO... 19

Outro universo de análise foi construído a partir dos redatores dos perió-
dicos (de 1808 a 1822) 43 e autores dos panfletos (de 1821 a 1823) conhecidos.
Do total de 58 indivíduos, 18 eram portadores de diplomas de Coimbra, dos
quais 14 bacharéis em direito. Quanto à ocupação, estavam representados os
professores (17), clero (14), advogados (13), funcionários públicos (13), nego-
ciantes (7), militares (6), proprietários de terra (4) e médico (1) 44.
A constitucionalização das províncias e do império abriu oportunidades
para os juristas nas juntas, conselhos e câmaras, como redatores de peri-
ódicos e panfletos. Mas os usos do direito e a reprodução da comunicação
jurídica não são monopólio dos letrados 45. Algo que fica por merecer maior
aprofundamento, a redundância e reiteração da forma jurídica —que será
importante para a criação de rotinas— conta com a atuação de rábulas, se-
cretários das câmaras e juntas, jornalistas que igualmente dizem o direito,
disputam sobre o legal e o legítimo.
* * *
A leitura da documentação constata a profusão e o uso enfático de pala-
vras como «constituição», «constitucional»: o rei, príncipe, deputados, au-
toridades das câmaras e juntas se apresentam como «constitucionais» ou
«amigos da constituição»; periódicos são publicados com títulos como, O
Constitucional, Réverbero Constitucional, Borboleta dos Campos Constitucio-
naes, Genio Constitucional, Mnemosine Constitucional. Interpretar a semânti-
ca e a pragmática dessas expressões e conceitos coligados é uma tarefa com-
plexa, para a qual este trabalho apresenta algumas sugestões.
O discurso do constitucionalismo luso-brasileiro dos anos 1821 e 1822
opera com indeterminação. Por um lado desafia e transige com estruturas e
práticas políticas do antigo regime, e, de outro, possibilita o experimentalis-
mo institucional 46. Quando se tem como referência a história constitucional
e institucional posterior, é saliente que algumas formas estruturais vão se
estabilizar traduzindo-se em rotinas. Neste período, porém, «constituição»
não designa uma estrutura já conhecida e assentada, mas é possibilidade de
escolhas colocadas à deliberação e à disputa, ora argumentada ora violenta.
Dizer-se «constitucional» significa assumir a agência na fabricação do políti-
co. Agência dos muitos estratos, dos áulicos aos pobres e escravos; em espa-
ços diferentes, de Lisboa às províncias passando pelos arranjos regionais; em
instituições diferentes, como as cortes, juntas, conselhos, câmaras. O nexo

43
Editados no Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Maranhão e Pará, além do Correio Bra-
siliense editado em Londres.
44
Igualmente ao universo anterior, havia acumulação entre as ocupações: Luis Augusto
May foi arrolado como militar e funcionário público; José da Silva Lisboa, como advogado e
professor; Januário da Cunha Barbosa, como professor e membro do clero, etc.
45
Ver reflexão teórica para o mundo português em HESPANHA, 1983.
46
Hespanha, que tanto tem escrito contra as ilusões de ruptura do liberalismo, matiza que
«frequentemente, porém, o texto agora jurado [bases] não consegue ocultar prenúncios de novi-
dades, pelo menos vocabulares, inconsistentes com a ideia de uma simples regeneração: quanto
ao conceito de comunidade política (“nação”), quanto à soberania e à fonte do poder constituin-
te, quanto à natureza do processo constituinte e da constituição, quanto à relação entre esta e
os direitos. Em todos estes pontos —e ainda noutros— damo-nos conta de indícios de sentidos
novos, ou apenas da combinação entre dois horizontes do sentido das palavras e das práticas: o
novo horizonte intelectual e político criado pela era das revoluções dos finais do século XVIII e o
horizonte da tradição» (HESPANHA, 2009: 71, grifo meu).
20 SAMUEL RODRIGUES BARBOSA

entre constitucionalismo e independência não é a aplicação de estruturas já


constituídas aos acontecimentos. Em outras palavras, utilizando-se um es-
quema da teoria social sistêmica, a sugestão é que só posteriormente a cons-
tituição vai se tornar uma estrutura estabilizada; e, com essa normalização, o
uso de «constituição» e «constitucional» ganha um sentido mais específico e
localizado, perdendo o uso enfático aludido. Entre 1821 e 1822, está em jogo
um conjunto de acontecimentos que desafiam estruturas políticas tradicio-
nais (introduzem variação), mesclam a semântica antiga com a nova, fazem
seleção arriscadas dentre as possibilidades. Será preciso tempo, história e
memória para que as seleções se estabilizem como rotinas 47.

CRONOLOGÍA

Em fins de 1807, sob a iminência da invasão das tropas de Napoleão, a


família real portuguesa transfere a sede a monarquia para o Rio de Janeiro,
viaja para a colônia a rainha d. Maria I, louca, e o príncipe regente depois rei,
d. João VI, que só retornam a Portugal em abril de 1821. Em fins de 1822, é
proclamada a independência, sob a forma de Império do Brasil e d. Pedro I,
filho do rei português, é coroado imperador. Em 1823, funciona uma cons-
tituinte que é dissolvida por d. Pedro que outorga uma constituição no ano
seguinte. Com a morte de d. João, durante poucos dias entre abril e maio de
1826, d. Pedro I do Brasil cumula o título de rei de Portugal como d. Pedro IV.
Em 1831, d. Pedro I abdica ao trono brasileiro em favor de seu filho ainda
criança que permanece no Brasil; assume no ano seguinte a regência de Por-
tugal em nome de sua filha d. Maria II. Durante 1831 e 1840, o império do
Brasil é governado por regências. Em 1840, com a maioridade antecipada,
assume como imperador do Brasil, d. Pedro II. Em 1889, é proclamada a
República Federativa dos Estados Unidos do Brasil. Em 1891, promulga-se a
segunda constituição brasileira e primeira da república.

1820
24 de agosto: revolução do Porto.
17 de outubro: chega à corte, sediada no Rio de Janeiro desde 1808, as
primeiras notícias da revolução.
27 de outubro: carta régia aos governadores do reino acerca da revo-
lução.
11 de novembro: mais notícias sobre o triunfo completo da revolução em
portugual.

1821
1º de janeiro: adesão do Pará à revolução.
24-26 de janeiro: instalação das cortes constituinte em Lisboa.

47
Entre outros trabalhos, ver LUHMANN, 2007: 360 ss, ver ainda THORNHILL, 2010. Sobre o
uso desta teoria social para o estudo do constitucionalismo, ver NEVES, 2009: cap. 1 e 47-55.
INDETERMINAÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO IMPERIAL LUSO-BRASILEIRO... 21

10 de fevereiro: adesão da Bahia à revolução.


9-29 de março: discussão e juramento das bases da constituição política
da monarquia portuguesa.
18 de março: instalação de junta de governo provisório na capitania de
Sergipe.
15 de fevereiro: 1.ª carta das cortes ao rei acerca da sua instalação.
16 de fevereiro: o direito de petição é declarado direito individual do ci-
dadão.
24-26 de fevereiro: movimento constitucional na corte (Rio de Janeiro)
por pressão das tropas portuguesas.
8 de março: adesão de Pernambuco à revolução.
6 de abril: adesão do Maranhão.
26 de abril: saída do Rio de Janeiro para Portugal da esquadra com o rei
d. João VI.
15 de maio: juramento das bases nos Açores.
Fins de maio: chegaram ao Rio de Janeiro as bases da constituição, decre-
tadas pelo Congresso de Lisboa.
5 de junho: juramento das bases no Rio de Janeiro por pressão das tropas
portuguesas comandadas pelo general.
3-4 de julho: chegada e desembarque do rei, d. João IV, a Lisboa; juramen-
to das bases; as cortes proíbem o desembarque de Thomaz Antonio, Conde
Palmela e outras figuras que acompanhavam o rei.
25 de junho: projeto de constituição é apresentado às cortes.
9 de julho: início da discussão do projeto de constituição.
26 de julho: é proclamada a necessidade de um «catecismo civil» para
instrução da mocidade.
29 de agosto: chegada às cortes dos primeiros deputados brasileiros (per-
nambucanos).
15 de setembro: sai no Rio de Janeiro o primeiro número do Revérbero
Constitucional Fluminense, editado por Joaquim Gonçalves Ledo e Januário
da Cunha Barbosa.
29 de setembro: decretos das cortes ordenando o regresso do príncipe re-
gente, a criação de juntas de governo nas províncias e governadores de armas
responsáveis diretamente a Lisboa.
26 de novembro: Bentham oferece às cortes os seus projetos de códigos
criminal, civil e constitucional.
9 de dezembro: conhecimento no Rio de Janeiro dos decretos de 29 de
setembro.
10 de dezembro: carta de d. Pedro ao rei comunicando-lhe que deixa o
Brasil.
24 de dezembro: ofício da junta de governo de SP de autoria de José Bo-
nifácio relativos aos decretos de 29 de setembro, conhecido no Rio de Janeiro
em 1º de janeiro seguinte.
22 SAMUEL RODRIGUES BARBOSA

1822
9 de janeiro: manifesto do povo do Rio de Janeiro sobre a residência de
S. A. Real no Brasil, dirigido ao Senado da Câmara. D. Pedro atende às repre-
sentações e declara ficar no Brasil, desobedecendo as cortes.
11 de janeiro: oposição da tropa portuguesa às decisões do príncipe; os
deputados de São Paulo tomam posse nas cortes.
13 janeiro: lei das cortes extinguindo os tribunais criados no Brasil por
d. João VI.
16 de janeiro: Novo Ministério. José Bonifácio na pasta do Reino, Justiça
e Estrangeiros.
21 de janeiro: Portaria de José Bonifácio prescreve «que de hoje em dian-
te não deve fazer cumprir as leis que vierem de Portugal, sem que primeiro
sejam submetidas ao beneplácito do Príncipe-regente».
8 de fevereiro: A câmara do Rio de Janeiro representa ao príncipe-regente
sobre a necessidade da criação de um conselho de procuradores-gerais das
províncias.
16 de fevereiro: decreto de d. Pedro convocando o conselho de procura-
dores das províncias.
18 de fevereiro: início da guerra da Bahia entre tropas brasileiras, leais a
d. Pedro, e as tropas do general Madeira, fiéis às cortes.
9 de abril: d. Pedro vai a Vila Rica para conseguir o reconhecimento da
autoridade do governo do Rio de Janeiro.
13 de maio: d. Pedro aceita o título de «Defensor Perpétuo do Brasil»,
oferecido pela câmara do Rio de Janeiro.
23 de maio: o príncipe recebe representação do câmara do Rio de Janeiro
pedindo a convocação de uma assembleia constituinte. Em São Paulo, come-
ça a chamada «bernarda de Francisco Inácio».
1º de junho: decreto de d. Pedro convocando os procuradores das provín-
cias.
2 de junho: inauguração da sociedade secreta Nobre Ordem dos Cavalei-
ros da Santa Cruz, chamada de Apostolado, sob liderança de José Bonifácio.
3 de junho: requerimento dos procuradores para convocação de uma as-
sembléia geral constituinte e legislativa. Assinatura pelo príncipe de decreto
a respeito.
18 de junho: decreto assinado pelo príncipe regulando o julgamento dos
crimes de imprensa.
19 de junho: instruções de José Bonifácio regulando a eleição de deputa-
dos constituintes.
24 de julho: as cortes permitem que o príncipe d. Pedro fique no Brasil,
governando sujeito ao rei e às cortes.
1º de agosto: decreto do príncipe declarando inimiga qualquer força ar-
mada que viesse de Portugal. Manifesto aos povos do Brasil, assinado por d.
Pedro e redigido por Gonçalves Ledo.
INDETERMINAÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO IMPERIAL LUSO-BRASILEIRO... 23

6 de agosto: Manifesto às nações amigas redigido por José Bonifácio.


20 de agosto: sessão da loja maçônica do Grande Oriente, presidida por
Gonçalves Ledo que discursa ser chegada a hora de proclamar-se a indepen-
dência..
7 de setembro: proclamação da independência do Brasil por d. Pedro no
episódio conhecido como o Grito do Ipiranga.
18 de setembro: decreto criando a bandeira e o novo escudo de armas do
Brasil independente.
23 de setembro: a constituição é aprovada e assinada nas cortes.
1º de outubro: a constituição é jurada pelo rei.
5 de outubro: alguns deputados brasileiros fogem de Lisboa para não ju-
rar a constituição.
12 de outubro: d. Pedro é aclamado imperador constitucional do Brasil.
2 de novembro: início a devassa contra os inimigos políticos de José Bo-
nifácio.
1º de dezembro: sagração e coroação de d. Pedro I.

1823
3 de junho: proclamação do rei português dissolvendo as cortes.
12 de novembro: d. Pedro I dissolve a constituinte.
13 de dezembro: carta de lei revogando legislação das cortes liberais por-
tuguesas.

1824
25 de março: d. Pedro I outorga a carta constitucional.

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