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Práticas Integrativas e Complementares


em pacientes com hanseníase

Ana Virginia de Oliveira Pinto


Faculdade de Medicina do Sertão - FMS

Elâne Rafaella Cordeiro Nunes Serafim


Faculdade de Medicina do Sertão - FMS

João Francisco Vilela Neto


Faculdade de Medicina do Sertão - FMS

Aisllan Batista Albuquerque


Faculdade de Medicina do Sertão - FMS

Renatha Henrique Sousa de Araújo


Faculdade de Medicina do Sertão - FMS

Martina Gerlane de Oliveira Pinto


Centro Universitário Facisa - Unifacisa

Sílvia Renata Gomes Remígio Sousa


Faculdade de Medicina do Sertão - FMS

'10.37885/230212232
RESUMO

Hanseníase é uma doença infectocontagiosa transmissível, cosmopolita, ocasionada pelo


Mycobacterium leprae e M. lepromatosis, considerada um problema de saúde pública mun-
dial que requer esforço global para eliminar a doença. Os indivíduos que desenvolvem a
hanseníase apresentam manifestações clínicas muito variáveis, e quando não detectadas
ou tratadas de forma precoce os pacientes podem desenvolver neuropatia. Tendo em vista
uma melhor qualidade de vida para pacientes hansenianos e um tratamento eficaz que não
possua efeitos colaterais, é necessário que novas propostas de tratamento sejam desen-
volvidas para redução da dor, prevenção ou limitação do aparecimento de lesões cutâneas
e neuropatias. Entre essas propostas, estão as terapias integrativas e complementares,
como a acupuntura.

Palavras-chave: Hanseníase, Acupuntura, Dor Neuropática.


INTRODUÇÃO

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa transmissível ocasionada pelo


Mycobacterium leprae, que se manifesta com sinais e sintomas dermatoneurológicos
(BRASIL, 2020). É considerada um problema de saúde pública mundial (OLIVEIRA et al.,
2017) que acomete principalmente a população em idade economicamente ativa (NUNES,
2011). Uma outra bactéria, M. lepromatosis, descoberta no México em 2008, também tem
sido apontada como agente etiológico da hanseníase (HAN et al., 2008).
Em 2019, pouco mais de 200.000 novos casos de hanseníase foram detectados em
116 países (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020), o que corresponde a uma taxa de
detecção de 25,9 casos por 1 milhão de habitantes. Seguindo uma tendência observada em
períodos anteriores, cerca de 80% dos casos novos do mundo ocorreram na Índia (56,6%
dos casos), no Brasil (13,8%) e na Indonésia (8,6%) (BRASIL,2022).
Por esse perfil epidemiológico e pelo poder incapacitante que a doença ocasiona na
vida dos pacientes houve um esforço global iniciado pela Organização Mundial de Saúde
com intuito de eliminar a doença (NUNES, 2011), visando a interrupção da transmissão e
na obtenção de zero casos autóctones e motivar os países com alta carga a acelerar as
atividades, ao mesmo tempo em que compele os países com baixa carga a completarem a
tarefa inacabada de fazer história na hanseníase (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020).
Em âmbito nacional, a hanseníase apresenta uma distribuição heterogênea (BRASIL,
2017), no entanto, algumas regiões mantêm altas taxas de prevalência e detecção, sendo
prioritárias pelo Ministério de Saúde (DUARTE-CUNHA et al., 2012), como as regiões Norte
e Nordeste do Brasil (ARRAES et al., 2017).
As vias de transmissão do agente etiológico ainda não foram totalmente esclarecidas,
entretanto, sabe-se que através de um doente não tratado o agente etiológico pode ser pro-
pagado para meio externo pelas vias aéreas superiores (NUNES, 2011). Existem evidências
de um risco aumentado para indivíduos que vivem em contato próximo com pacientes com
hanseníase, provavelmente por aerossóis infecciosos, criados por tosse e espirro e contato
direto (PLOEMACHER et al., 2020).
Os indivíduos que desenvolvem a hanseníase apresentam manifestações clínicas muito
variáveis, que dependem da interação entre a micobactéria e o sistema imune. O diagnóstico
da doença pode ser confirmado por meio clínico-epidemiológico e/ou laboratorial (BRASIL,
2022). No Brasil, através do Sistema Único de Saúde, os pacientes diagnosticados têm direito
ao tratamento gratuito com a Poliquimioterapia (PQT), ou seja, associação do bactericida
Rifampicina e dos bacteriostáticos Dapsona e Clofazimina, e quando necessário, deve-
-se associar corticóide (prednisona) ou talidomida para o tratamento dos surtos reacionais
(ROSSI et al., 2022).

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É importante mencionar que a descoberta da hanseníase desencadeia vários senti-
mentos, e pode repercutir negativamente na qualidade de vida dos pacientes (PALMEIRA
et al., 2021), pois, a doença tem um alto potencial de causar incapacidades físicas, inter-
ferindo na fase produtiva e na vida social do paciente, determinando perdas econômicas
e traumas psicológicos (SILVA et al., 2019). Essas incapacidades e a neuropatia são as
principais consequências da hanseníase, que continua sendo uma preocupação médica
global, pois apesar da terapia antimicrobiana está disponível, a neuropatia continua sendo
um problema, especialmente se o diagnóstico e o tratamento forem tardios (EBENEZER;
SCOLLARD, 2021).
Sabe-se que existe uma variedade de métodos estabelecidos e novos métodos estão
sendo implantados para o diagnóstico precoce e avaliação da neuropatia hansênica. Os cor-
ticosteróides são utilizados no tratamento primário para neurite e neuropatia subclínica na
hanseníase, mas não é eficaz se houver comprometimento da função nervosa no momento
do diagnóstico. Diante desse fato, é extremamente necessário o desenvolvimento de novas
terapêuticas para a neuropatia hansênica (EBENEZER; SCOLLARD, 2021). Santos et al.
(2018) cita que novas propostas de tratamento devem incluir capacidades de redução da dor,
prevenção ou limitação do aparecimento de lesões cutâneas, e prevenção da progressão
da doença para estágios mais graves que possam levar à perda de função ou potencializar
a resposta imune do indivíduo ao M. leprae.
Em meio científico, observa-se um crescente interesse na utilização de terapias inte-
grativas e complementares como uma nova intervenção para a neuropatias, inclusive citam
que a utilização de algumas técnicas como acupuntura está associada a uma melhora
na neuropatia periférica sem efeitos colaterais (BAVIERA et al., 2019). Nesse contexto,
questionou-se como as práticas integrativas e complementares são utilizadas em pacientes
de hanseníase. Elaborando-se uma revisão narrativa que busca abordar sobre o que é a
doença (histórico, epidemiologia, tratamento, diagnóstico), política pública nacional, práticas
integrativas e complementares de saúde, hanseníase e dor neuropática e sobre a utilização
da acupuntura como método alternativo, eficaz e de baixo-custo para o tratamento da dor
neuropática em pacientes hansênicos.

HANSENÍASE

A hanseníase é uma doença transmissível, causada pelo Mycobacterium leprae e M. le-


promatosis (HAN et al., 2008), que causa condições patológicas semelhantes, principal-
mente na pele e no sistema nervoso periférico (PLOEMACHER et al., 2020). Essa doença
é descrita desde os tempos bíblicos, com o nome de Lepra (EDIT, 2004). Seu agente

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etiológico, M. leprae, foi descoberto em 1873 (SINGH; COLE, 2011) e M. lepromatosis em
2008 (HAN et al., 2008),
O M. leprae é uma bactéria ácido resistente em forma de bastonete, intracelular obriga-
tório, de lenta multiplicação, com tropismo por macrófagos e pelas células de Schwann dos
nervos periféricos (SINGH; COLE, 2011). O M. lepromatosis tem diferenças genéticas signi-
ficativas quando comparado ao M. leprae, incluindo uma divergência de 2,1% do gene 16S
ribossomal RNA (rRNA), um marcador altamente conservado de evolução bacteriana, e 6%
a 14% de incompatibilidades entre 5 genes menos conservados. Análises filogenéticas dos
genes de 16S rRNA, rpoB e hsp65 indicaram que os dois organismos mais relacionados evo-
luíram de um ancestral comum que se ramificou de outras micobactérias (HAN et al., 2008).
Em relação a patogênese e fisiologia desse patógeno, ainda não há uma compreensão
de todos os fatores envolvidos, inclusive em relação a questões básicas como o mecanismo
de transmissão, o papel dos reservatórios ambientais (por exemplo, solo, água, animais) ou
resultados diferenciais de infecção em diferentes indivíduos (SINGH; COLE, 2011).
Em meio científico foi demonstrado por Job et al. (2008) que o M. leprae pode ser
excretado em grande número pela boca e nariz de pacientes com hanseníase lepromatosa
não tratada e, em menor extensão, pela pele. Esses dados sugerem que tanto a pele quanto
o epitélio nasal de pacientes com hanseníase não tratados contribuem para a disseminação
do M. leprae no ambiente e os contatos de casos.
Tió-Coma et al (2009) sugeriram que fontes ambientais representam reservatórios
(temporários) para o M. leprae, pois conseguiram identificar o DNA desse agente etioló-
gico perto de fontes humanas e animais. Millogo et al. (2022) detectaram por microscopia
óptica, hibridização fluorescente in situ e detecção molecular o M. leprae em fezes de um
paciente com hanseníase. Essa observação levanta questões sobre o papel da excreção
fecal do M. leprae na história natural e no diagnóstico da hanseníase, e estimula que mais
estudos sejam realizados para confirmar a prevalência de excreção fecal de M. leprae em
várias populações de hanseníase.
Ressalta-se que em alguns países como os Estados Unidos, o ciclo de transmissão
da hanseníase pode envolver animais, os tatus-galinha (Dasypus novemcinctus), que são
naturalmente infectados pelo M. leprae e estão implicados na transmissão zoonótica para
os humanos (VERA-CABRERA et al., 2022).
No Brasil, Arraes et al. (2017) investigaram a presença de M. leprae viável em fontes
naturais de água utilizadas pela população local em cinco municípios do estado do Ceará,
nordeste do Brasil. Das 30 fontes de água analisadas, o agente etiológico viável foi encontra-
do em 23 (76,7%); e o georreferenciamento mostrou relação entre as residências dos casos

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de hanseníase e fonte de água contendo a bactéria, sugerindo que o ambiente desempenha
um papel importante na manutenção da endemia da hanseníase na região de estudo.
O M. leprae têm tropismo pelas fibras nervosas sensitivas, motoras e autonômicas e
instala-se em um ou vários nervos. A resposta do tecido varia, desde uma mínima resposta
sem alterações funcionais, até uma resposta intensa com infiltração granulomatosa de todo
o parênquima neural, resultando em destruição importante dos nervos periféricos com nítidas
alterações de sua função (BRASIL, 2008), incluindo complicações como deficiências físicas
e deformidades de acordo com o grau de comprometimento dos troncos nervosos (SANTOS
et al., 2015). Estima-se que 3 a 4 milhões de pessoas no mundo vivam com deficiências
físicas visíveis causadas pelas complicações da hanseníase (NARDI, 2021).
Os indivíduos que desenvolvem a hanseníase apresentam manifestações clínicas muito
variáveis que dependem da interação entre a microbactéria e o sistema imune (BRASIL,
2022). A doença evolui de forma lenta e progressiva, podendo ocasionar incapacidades
físicas e se não tratada se torna transmissível, atingindo qualquer pessoa. Pode-se classi-
ficar a hanseníase em 4 tipos, no qual a indeterminada e a tuberculóide são categorizadas
em paucibacilar, enquanto os tipos dimorfa e virchowiana são classificadas em multibacilar
(PROPÉRCIO et al., 2021).
Na forma indeterminada as lesões clínicas surgem após um período de incubação,
que varia, geralmente, de dois a cinco anos. As principais características são manchas hi-
pocrômicas, em pequeno número e surgir em localizações variadas na pele, e alterações na
sensibilidade, sem comprometimento dos troncos nervosos (ARAÚJO, 2003). Já na forma
tuberculóide, observa-se nas lesões da pele placas com bordas nítidas, elevadas, geral-
mente eritematosas e micropapulosas, que surgem como lesões únicas ou em pequeno
número. A resposta inflamatória é intensa, com a presença de granulomas tuberculoides na
derme e acentuado comprometimento dos filetes nervosos, o que se traduz clinicamente por
acentuada hipoestesia ou anestesia nas lesões dermatológicas (BRASIL, 2022).
A hanseníase virchowiana possui evolução crônica e tem como característica a infiltra-
ção difusa e progressiva da pele, mucosa das vias aéreas superiores, testículos, linfonodos
e o baço (ARAÚJO, 2003). Os nervos periféricos podem estar espessados difusamente e
de forma simétrica, frequentemente com hipoestesia ou anestesia dos pés e mãos, além de
disfunções autonômicas, com hipotermia e cianose das extremidades. Há relatos também
de queixas neurológicas, dormências, câimbras e formigamentos nas mãos e pés, compro-
metimento difuso da sudorese (BRASIL, 2022).
A forma clínica dimorfa caracteriza-se por variação das manifestações clínicas situando-
-se entre os pólos tuberculóide e virchowiano no espectro clínico e baciloscópico da doença,
apresentando características imunológicas mistas e sinais intermediários (BRASIL, 2022).

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A suspeita diagnóstica e tratamento dessa doença ocorre predominantemente a nível
ambulatorial da Atenção Básica de Saúde (OLIVEIRA et al., 2017), sendo importante como
estratégia a busca de casos ativos e rastreamento de contatos durante as visitas domiciliares
dos profissionais de saúde que atuam nas Unidade Básicas de Saúde (PAULA et al., 2019),
principalmente avaliando os contatos familiares, devido a maior possibilidade de transmissão
intradomiciliar devido o contato íntimo e prolongado (OSTI; CAVALCANTE; DAMAZO, 2021).
Boigny et al. (2020) citam que falhas operacionais na vigilância de contatos de han-
seníase em áreas de alta endemicidade reforçam o caráter de vulnerabilidade institucional/
programática em contextos de redes de convívio domiciliar com mais de um caso de han-
seníase, em municípios dos estados da Bahia, Piauí e Rondônia, Brasil.
Em relação ao diagnóstico, a sensibilidade dos métodos de diagnóstico direto (coloração
de bacilos, DNA do M. leprae) e indireto (níveis de anticorpos, ensaios de células T) varia de
acordo com a forma clínica. Nos últimos anos a detecção direta de DNA do M. leprae baseada
em Reação em Cadeia da Polimerase vem sendo evidenciada como método que auxilia no
diagnóstico clínico e diferencia a hanseníase de outras condições dermatológicas. Já há evi-
dências científicas que o kit para diagnóstico molecular que combina lise mecânica e química
remove eficientemente o DNA do hospedeiro e enriquece o DNA do M. leprae, permitindo
uma melhor detecção precoce de casos iniciais da doença, contribuindo nas estratégias de
monitoramento da doença (MANTA et al., 2020).
Em relação ao tratamento, podem ocorrer as chamadas reações hansênicas, que re-
sultam de alterações no balanço imunológico entre o hospedeiro e o M. leprae. Em relação
a essas reações, foi constatado que o tratamento com a prednisolona fez com que houvesse
um intervalo de 16 semanas entre o último aparecimento e o novo episódio, com surtos menos
graves, e menor necessidade de aumento nas doses de prednisolona. É perceptível que o
tratamento da hanseníase envolve desafios, sobretudo, socioeconômicos, pois o nível socioe-
conômico baixo está diretamente associado a um maior abandono (PROPÉRCIO et al., 2021)
Além disso, é importante refletir sobre a abrangência das ações em municípios sem
acesso a serviços especializados, gerando impactos, de diferentes ordens, entre as pessoas
acometidas (BOIGNY et al., 2020), principalmente na identificação dos serviços de saúde que
podem ser utilizados para garantir o atendimento aos indivíduos com sequelas ocasionadas
pela hanseníase (NARDI,2021).

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA PREVENÇÃO, CONTROLE E TRATA-


MENTO DA HANSENÍASE

Estima-se que 3-4 milhões de pessoas vivem com incapacidades físicas causadas
pela hanseníase e, potencialmente, um número maior sofrem estigmatização e exclusão

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social. Os impactos sociais, emocionais e econômicos da hanseníase são indiscutivelmente
um fardo maior do que a própria doença. As pessoas afetadas pela hanseníase precisam
de acesso a serviços de reabilitação integrados e comunitários com foco na mitigação do
efeito das incapacidades, possibilitando meios de subsistência e otimizando a inclusão na
comunidade (WHO, 2007).
Nesse contexto, para enfrentar a hanseníase e reduzir os números de casos, todos os
entes federados (federal, estadual e municipal) precisam fazer sua parte, assim como deve
existir articulações com organizações como a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD),
com esforços para combater a doença. As Políticas Públicas de Saúde coordenam os es-
forços no combate à doença emergente e reemergente na realidade brasileira. De acordo
com a linha do tempo das Doenças Epidemiológicas relatada pelo Senado Federal no Brasil
(2020), a hanseníase aparece pela primeira vez em 1832 (BRASIL, 2000).
Segundo Santos e Ignotti (2020), no Brasil, o primeiro documento publicado foi o
Decreto-lei nº 968, de 07 de maio de 1962, da Presidência da República intitulado “Normas
Técnicas Especiais Relativas ao Combate à Lepra no País”. Depois, a Divisão Nacional de
Dermatologia Sanitária do Ministério da Saúde (MS), publicou a Portaria nº 165, de 14 de
maio de 1976 que estabeleceu a “Política de Controle da Hanseníase”. Um ano depois, esse
mesmo órgão divulgou o primeiro “Manual de Prevenção e Tratamento das Incapacidades
Físicas, Mediante Técnicas Simples”. Em 1984 foi publicado, pelo MS, o “Guia para Controle
da Hanseníase” e nos anos de 1997, 2001 e 2008 o MS publicou edições reformuladas do
“Manual de Prevenção de Incapacidades”.
Em 2020, a partir da Portaria nº 1.073, de 26 de setembro de 2000, cita que o trata-
mento da hanseníase deixa de ser restrito aos centros de referências específicos, através da
implantação do Programa Nacional de Controle da Hanseníase (PNCH) na Atenção Básica
à Saúde (BRASIL, 2000).
Após a divulgação do programa, foi publicado pelo Ministério da Saúde a Portaria nº
125 de 26 de março de 2009 que definiu as ações de controle da hanseníase, estabelecendo
a assistência integral ao paciente de hanseníase em todas as instâncias e nos diferentes
níveis de complexidade, de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS); e
o diagnóstico precoce da doença como ação capaz de prevenir incapacidades e determinou
a inclusão da proporção de casos com grau 2 (dois) de Incapacidades Físicas (IF) como
indicador de monitoramento e avaliação da hanseníase, com as prioridades, os objetivos, e
as metas (SANTOS; IGNOTTI 2020).
Em 2010, a portaria nº 3.125 aprovou as diretrizes para vigilância, atenção e controle
da hanseníase e a portaria nº 594 de 29 de outubro de 2010 que aborda sobre a atenção
integral em hanseníase. A portaria nº 3.125 definiu as técnicas de autocuidados no domicílio e

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em outros ambientes, assim como, manteve a orientação para a avaliação do grau de IF dos
casos novos de hanseníase no diagnóstico e na saída por encerramento da poliquimiote-
rapia (PQT), preconizada desde o manual de 1977. Já a portaria nº 594 definiu o conceito
de integralidade da assistência à saúde e também definiu serviços para prevenção das
incapacidades (SANTOS; IGNOTTI 2020).
Além dessas, em 2016 houve a publicação da portaria nº 149 que aprovou as diretrizes
para vigilância, atenção e eliminação da hanseníase; e do manual técnico-operacional, inti-
tulado “Diretrizes para Vigilância, Atenção e Eliminação da Hanseníase como Problema de
Saúde Pública”, que orienta sobre a prevenção de incapacidades por hanseníase no Brasil
(SANTOS, IGNOTTI, 2020)
Recentemente a Organização Mundial de Saúde (OMS) está desenvolvendo proce-
dimentos operacionais padrão para verificar a eliminação da transmissão, nos quais um
elemento-chave será o compromisso com a vigilância pós-eliminação. Ao incorporar os
objetivos de zero incapacidade e zero discriminação, essa estratégia global 2021-2030, in-
titulada “Rumo à Zero Hanseníase”, apresenta uma direção básica, as metas, os desafios e
os pilares estratégicos em âmbito global, onde estão no centro a interrupção da transmissão
e a eliminação da doença. Os programas nacionais de doenças tropicais negligenciadas
e hanseníase em ambientes de alta e baixa incidência devem adotar a estratégia global,
adaptar seus pilares estratégicos ao contexto do país e selecionar metas e indicadores
apropriados para a nação. Todos esses programas visam contribuir para o alcance dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que está estruturada em quatro pilares:
(i) implementar roteiro zero hanseníase próprio do país, em todos os países endêmicos; (ii)
ampliar a prevenção da hanseníase juntamente com a detecção ativa integrada de casos;
(iii) tratar a hanseníase e suas complicações e prevenir novas incapacidades; e (iv) com-
bater o estigma e garantir que os direitos humanos sejam respeitados (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2020).

HANSENÍASE E DOR NEUROPÁTICA

Os pacientes acometidos com hanseníase possuem uma alta frequência de dor, seja
ela nociceptiva ou neuropática. Aproximadamente 70% dos pacientes hansenianos apresen-
tam algum tipo de dor. A dor nociceptiva atinge em torno de 10% dos indivíduos (SANTOS
et al., 2016), enquanto que a dor neuropática pode afetar mais da metade dessa população,
podendo aparecer até mesmo após a conclusão do tratamento (TOH et al, 2018).
No que se refere a etiologia das dores em pacientes hansenianos, sabe-se que a dor
nociceptiva é decorrente de inflamação tecidual, frequentemente encontrada em episódios

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de ativação imune, e a dor neuropática é consequência de um dano no sistema nervoso
(PRNAG; DALBEN, 2012).
Atualmente, está bem definido que o comprometimento dos nervos periféricos está
presente em todas as formas de hanseníase. O M. leprae tem predileção pelas células de
Schwann, as principais células gliais do nervo periférico (GIRARDI et al., 2023). A adesão
ou ligação da lâmina basal às células de Schwann mantém a integridade das fibras nervo-
sas no sistema nervoso periférico. A infecção pelo M. leprae irá ocasionar uma disrupção
entre a lâmina basal e a célula de Schwann, de modo que provoca alterações nas funções
fisiológicas e neuronais, que às vezes, são irreversíveis (CHACHA et al., 2009).
Os nervos podem ser afetados desde as terminações nervosas da derme até a região
dos plexos e gânglios sensitivos. No entanto, existe uma predileção pelas terminações
nervosas sensitivas-autonômicas da derme e por regiões do tronco nervoso situadas em
regiões mais superficiais e distais (PANDIA, 1994).
A lesão nos nervos na hanseníase provoca aumento da nocicepção devido ao proces-
so inflamatório ou a destruição das fibras sensitivas causado pelo bacilo de Hansen. Essa
condição clínica pode ocasionar dor crônica de vários graus. A dor nociceptiva resultante
do processo inflamatório agudo pode ser acompanhada por dor neuropática, fazendo com
que o paciente hansênico apresente uma dor mista, tanto nociceptiva quanto neuropáti-
ca. Devido a este fato, é importante que ao avaliarmos um paciente com hanseníase que
apresente dor persistente por mais de 3 meses, investiguemos a existência de uma dor
neuropática. A presença deste tipo de dor é decorrente do aumento da sensibilização de
fibras centrais e periféricas de dor associadas à uma deficiência central na regulação da dor
periférica que é caracterizada como dor espontânea em queimação, alodínia (percepção de
um estímulo não nocivo como um estímulo doloroso) ou dor do tipo choque que geralmente
indica a presença de lesão permanente no nervo (MACEDO, 2007).
A Associação Médica Brasileira (AMB) preconiza para o tratamento para a dor neuropáti-
ca em pacientes com hanseníase a utilização de antidepressivos tricíclicos, anticonvulsivantes
e neuroepilépticos que podem ser associados ou não aos analgésicos e antiinflamatórios
de acordo com a condição de cada paciente (LASRY-LEVY et al., 2011). Essas drogas são
administradas inicialmente em doses baixas e aumentadas de maneira progressiva em casos
de persistência da dor. Embora o tratamento medicamentoso seja eficaz, muitos pacientes
abandonam o tratamento devido aos efeitos colaterais da droga causados pela média ou
alta dosagem. Drogas mais eficazes e que possuem menos efeitos colaterais, mas não são
disponibilizadas pelo governo, e devido ao alto valor econômico são inacessíveis à população
de baixa renda (PASCHOAL et al, 2011). Adicionalmente a esses fatores supracitados, alguns

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pacientes mesmo utilizando a medicação específica para seu tratamento, não apresentam
regressão do quadro álgico (ARCO et al., 2016).
A identificação clínica da dor neuropática no paciente hansênico é de extrema im-
portância para o profissional de saúde, uma vez que esse tipo de dor não responde aos
medicamentos anti-inflamatórios hormonais e não-hormonais. Portanto, o quanto antes seja
identificada a dor neuropática no paciente com hanseníase, medidas terapêuticas mais
adequadas podem ser adotadas pelo profissional de saúde (ALVES et al, 2014). Diante do
exposto, a utilização de práticas integrativas e complementares para o tratamento da dor
neuropática na hanseníase surge como método alternativo e complementar ao tratamento
convencional medicamentoso, reduzindo os efeitos colaterais provocados pelas drogas e
diminuindo o abandono dos pacientes ao tratamento.

PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES NA HANSENÍASE

A presença de dor relatada por pacientes hansenianos gera inconscientemente altera-


ções nos sinais vitais, estresse e ansiedade no paciente (DIK; LOHMANN, 2020), além de
restrições físicas diárias que impactam diretamente na sua qualidade de vida e que causam
um impacto negativo na sociedade (SANTOS et al., 2016, TOH et al., 2018).
O tratamento medicamentoso para a dor nos pacientes hansenianos é ofertado pelo
governo brasileiro, porém, alguns dos medicamentos não são bem tolerados pelos pacien-
tes em virtude de seus efeitos colaterais (DEL ARCO et al., 2016). Na busca por oferecer
uma melhor qualidade de vida aos pacientes com hanseníase através de métodos que não
envolvam o uso de fármacos, surge no Sistema Único de Saúde, as práticas integrativas e
complementares (PICs) que ampliam a oferta de cuidados em saúde, de modo econômico
e eficaz, e proporcionam maior resolutividade nos serviços de saúde (BRASIL, 2015).
As PICs surgiram em 2006 quando o governo brasileiro instituiu a Portaria 971 GM/
MS sobre a Política Nacional de Saúde Integrativa e Práticas Complementares (PNPIC)
e apresentou diretrizes para o uso de práticas integrativas e complementares (PICs) no
sistema público de saúde. Dentre as PICs implantadas, foram a acupuntura, homeopatia,
plantas medicinais e fitoterapia, medicina antroposófica e crenoterapia. Em 2017, outras prá-
ticas foram incluídas nos PICs: arteterapia, Ayurveda, biodança, dança circular, meditação,
musicoterapia, reflexologia, reiki, yoga e shantala (BRASIL, 2017). O uso de PICs tem sido
ampliado na rede pública e redes privadas de saúde com a finalidade de contribuir para o
alívio dos sintomas de forma humanizada, reduzir o uso de medicamentos e promover uma
melhora na qualidade de vida dos usuários (DO VAL SILVA et al., 2020).
Em um estudo realizado com 170 pessoas com dor hansênica no Hospital Universitário
e Centro de Especialidades Médicas de Sergipe entre fevereiro e junho de 2019 na cidade de

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Sergipe foi avaliado o uso de práticas complementares e integrativas para a dor relacionada
à hanseníase. Os autores identificaram que dos 170 pacientes hansenianos investigados no
estudo, 119 deles apresentaram dor neuropática (o que corresponde a 70% dos indivíduos).
Adicionalmente, metade dos pacientes informaram utilizar alguma prática integrativa para o
alívio da dor, como: dieta restrita, exercícios, massagens, e compressas frias. Diante desses
resultados, os autores concluíram que diversas práticas complementares e integrativas estão
sendo utilizadas para o alívio da dor, mas fatores sociodemográficos, clínicos e assisten-
ciais podem influenciar na adesão dessas intervenções pelos pacientes com hanseníase
(SANTOS et al., 2021).
Embora não existam muitas evidências científicas que mostrem a utilização de PICs
no tratamento da dor neuropática em hansenianos, a utilização de práticas complemen-
tares e integrativas (PICs) têm se mostrado úteis no tratamento da dor (BRAIN et al.,
2019; STEIN, 2016).

BENEFÍCIO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DA DOR NEURO-


PÁTICA

A Associação Internacional de Estudo da Dor (IASP) define a dor neuropática como


uma sensação dolorosa causada por lesão ou doença do sistema nervoso somatossensi-
tivo. No caso de pacientes hansênicos, a dor neuropática se deve à disfunção ou dano ao
sistema nervoso causado devido às agressões nas fibras nervosas pelos bacilos de hansen.
Por se tratar de um processo doloroso crônico oriundo do comprometimento direto das vias
nervosas, é imperativo a indicação do tratamento medicamentoso aliado à politerapia, haja
vista o alto índice de efeitos colaterais descritos, bem como a insuficiência do combate a
dor com a utilização de apenas uma droga (DEL ARCO et al., 2016).
Dentre as técnicas não farmacológicas que apresentam bons resultados no tratamento
de quadros dolorosos crônicos, a Acupuntura (AC) e a Eletroacupuntura (EA) se destacam
como técnicas promissoras complementares e/ou substitutivas às terapias farmacológicas.
Ambos os tratamentos têm sido amplamente utilizados no tratamento de diversas patologias,
como ansiedade (ZATESCO; RIBAS-SILVA, 2016), depressão (SANTOS et al. 2021), e doen-
ças que cursam com dor aguda e crônica, como ocorre na fibromialgia (PEREIRA et al., 2021).
A auriculoterapia é uma técnica de acupuntura na qual se utiliza de pontos situados
no pavilhão auricular para tratar diversas patologias (PRADO et al., 2012). Na visão oci-
dental, o pavilhão auricular contém a representação de todos os órgãos e estruturas do
corpo, de modo que a estimulação desses pontos é capaz de influenciar todo o organismo.
Considerando que as doenças causam um desequilíbrio energético corporal, a estimulação

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de pontos relacionados à parte do organismo que se encontra em desequilíbrio possibilitará
a regularização do fluxo de energia e restabelecimento da saúde (SOUZA, 2007).
O efeito antinociceptivo produzido pela aplicação de agulhas na acupuntura é funda-
mentado pela ativação de vias opióides e não-opióides, o que resulta na liberação de neu-
rotransmissores como serotonina e norepinefrina nos sistemas descendentes, acarretando
o efeito modulatório da nocicepção em estruturas do sistema nervoso central, a exemplo do
mesencéfalo (ADACHI et al., 2017). A estimulação em um determinado acuponto promove
uma resposta neuro-humoral que libera substâncias opióides como endorfina, serotonina e
encefalina, propiciando o alívio das dores e a sensação de bem-estar (MENEZES et al., 2010).
Dessa forma, a acupuntura se mostra como uma ótima opção terapêutica não farma-
cológica no tratamento da dor neuropática, sobretudo, em pacientes que sofrem com os
variados efeitos adversos das medicações habituais para o alívio da dor (FRANCO et al.,
2011). A eficácia da técnica no modelo da dor neuropática pode ser compreendida pela ação
local e sistêmica de substâncias que têm seu estímulo dado pela ativação de acupontos,
bem como pelo estímulo natural ao aumento da circulação local.
Haja vista os benefícios do efeito de modulação nociceptiva gerado pela estimulação
reflexa dos acupontos durante a aplicação da técnica de acupuntura (ADACHI et al., 2017),
entende-se que a associação desta técnica ao tratamento medicamentoso pode trazer me-
lhora significativa na qualidade de vida do paciente, caso haja a utilização de um protocolo
farmacológico assertivo quanto à posologia e droga utilizada.

UTILIZAÇÃO DA ACUPUNTURA COMO MÉTODO ALTERNATIVO, EFI-


CAZ E DE BAIXO-CUSTO PARA O TRATAMENTO DA DOR NEUROPÁ-
TICA EM PACIENTES HANSÊNICOS

Como mencionado anteriormente, a dor neuropática não responde aos medicamentos


anti-inflamatórios hormonais e não-hormonais (ALVES et al., 2014), e os medicamentos
administrados em média ou alta dosagem causam efeitos colaterais que fazem com que
muitos pacientes abandonem o tratamento (PASCHOAL et al., 2011). Diante desse cená-
rio, a utilização da acupuntura e da eletroacupuntura surgem como um método alternativo
e de baixo custo para os pacientes hansênicos que apresentam dor neuropática e que não
respondem ao tratamento farmacológico.
Desde 1986 já se falava sobre os benefícios da acupuntura em pacientes com hanse-
níase, especialmente no que se refere ao tratamento da dor neuropática em pacientes que
não respondem ao tratamento farmacológico (JAGIRDAR et al., 1986). Em 1994, Pandia e
Bhatki descreveram o mecanismo de ação da eletroacupuntura sem agulhas como sendo
um método no qual a estimulação dos acupuntos produz impulsos elétricos semelhantes

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aos impulsos nervosos. Para os autores, a eletroacupuntura realizada em pontos corretos
pode proporcionar exercícios físicos aos músculos paralisados, evitando a atrofia por desu-
so ocasionada pela lesão dos nervos motores na hanseníase. Adicionalmente, os autores
sugeriram que além da eletroacupuntura servir como método eficaz para prevenção e tra-
tamento das deformidades advindas da hanseníase, a acupuntura também poderia aliviar
a dor neurítica na hanseníase.
Em um artigo mais recente, foi analisado a eficácia da craniopuntura de Yamamoto no
tratamento de parestesias em um paciente hansênico, utilizando na face Yin e Yang acu-
pontos referentes ao tratamento da parestesia nos membros superiores (A e C), membros
inferiores (D), dorso do pé (J) e planta do pé (K). Após 4 sessões, os autores observaram que
houve uma restituição completa da sensibilidade nos dermátomos dos membros superiores
e inferiores (NETO et al., 2014). Diante desse resultado, os autores sugerem a craniopuntu-
ra de Yamamoto como um método eficaz para o tratamento das parestesias presentes em
pacientes hansênicos.
Embora tenha sido sugerido o uso da acupuntura como método eficaz para alívio da dor
neurítica em pacientes hansenianos, poucos trabalhos foram publicados até então. No en-
tanto, a acupuntura faz parte das práticas integrativas e complementares disponíveis pelo
Sistema Único de Saúde que possui um baixo custo e apresenta bons resultados no trata-
mento da dor neuropática. Diante disso, sugere-se que a aplicação da acupuntura possa ser
benéfica ao tratamento da dor neuropática em pacientes hansenianos que não respondem
ao tratamento medicamentoso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tratamento para alívio da dor neuropática na hanseníase inclui o tratamento con-


vencional medicamentoso, terapia física, cirurgia e abordagens terapêuticas. A escolha do
tratamento dependerá da sintomatologia e das queixas do paciente (ALVES et al., 2014).
Várias práticas complementares e integrativas distintas estão sendo utilizadas por indivíduos
com dores decorrentes da hanseníase, no entanto, são escassos os trabalhos que fazem
o uso da acupuntura como prática integrativa e complementar para a dor neuropática em
hansenianos. Entretanto, baseado nas pesquisas realizadas sobre os efeitos benéficos da
acupuntura e da eletroacupuntura na dor neuropática e conhecendo-se as bases neuro-
fisiológicas da acupuntura no tratamento desse tipo de dor, sugere-se que a acupuntura
seja um método eficaz e de baixo-custo, que surge como alternativa ao tratamento da dor
neuropática em pacientes hansenianos que não respondem ao tratamento farmacológico.

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