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COMO TRANSFORMAR A SUA VIDA através de Ihes conceder béngaos e por meio de nossas inconté- veis emanacées. Se pensarmos profundamente sobre isso, a bo- dhichitta surgiré naturalmente em nossa mente. Contemplamos: Quero proteger todos os seres vivos do sofrimento, mas, no estado limitado em que me encontro agora, nao tenho poder para isso. Visto que somente um Buda tem esse poder, preciso me tornar um Buda, um ser iluminado, o mais rapidamente possivel. Meditamos estritamente focados nessa determinacao, que é a bodhichitta, muitas e muitas vezes, até desenvolvermos 0 desejo espontaneo de alcangar a iluminagao para beneficiar todos e cada um dos seres vivos todos os dias. Precisamos ter essa preciosa mente de bodhichitta em nosso coragao. Ela é 0 nosso Guia Espiritual interior, que nos conduz diretamente ao estado da suprema felicidade da iluminacao, e é também a verdadeira joia-que-satisfaz-os-desejos, por meio da qual podemos satisfazer nossos proprios desejos e os dos outros. Nao existe inten¢do mais benéfica do que essa. Quando queremos tomar uma xicara de cha, nosso desejo principal é tomar o cha, mas, para satisfazer esse desejo, geramos naturalmente o desejo secundario de obter uma xicara. Do mes- mo modo, 0 desejo principal daqueles que tém grande compaixao é proteger todos os seres vivos dos seus sofrimentos; mas, para satisfazer esse desejo, eles sabem que primeiro precisam, eles pro- prios, alcangar a Budeidade e, por isso, geram naturalmente o de- sejo secundério de alcangar a iluminaco. Assim como obter uma xicara é 0 meio para cumprir nossa meta de tomar cha, alcangar a iluminagcao é 0 meio para conquistarmos nossa meta Ultima de beneficiar todos os seres vivos. Inicialmente, nossa bodhichitta sera uma bodhichitta artifi- cial, ou fabricada, surgindo apenas quando fazemos um esfor- ¢0 especifico para gera-la. A melhor maneira de transforma-la na bodhichitta espontanea consiste em obter uma profunda 208 (© SUPREMO BOM CORAGAO familiaridade com essa mente por meio de pratica continua. Como passamos a maior parte do nosso tempo fora da sessdo de meditagao, é vital que fagamos uso de todas as oportuni- dades para aprimorar nosso treino na bodhichitta durante nossa vida didria. Precisamos fazer com que nossas sessGes de meditacao e nossa pratica nos intervalos entre as meditagées apoiem-se mutuamente. Durante nossa sesso de meditacao, podemos experienciar um estado mental pacifico e desenvol- ver muitas intengées virtuosas, mas, se nos esquecermos deles assim que sairmos da meditagao, nao seremos capazes de so- lucionar nossos problemas diarios de raiva, apego e ignorancia, tampouco faremos progressos em nossa pratica espiritual. De- vemos aprender a integrar nossa pratica espiritual com nossas atividades didrias, de modo que possamos manter, dia e noite, os estados mentais pacificos, intengdes puras e visdo pura que desenvolvemos durante a meditacao. No momento, podemos achar que nossas meditac6es e nossa vida didria esto nos puxando em direcées opostas. Em medita¢ao, tentamos gerar mentes virtuosas, mas, porque nao conseguimos parar de pensar em nossas outras atividades, nossa concentra¢ao é muito pobre. Os sentimentos virtuosos que conseguimos desen- volver so, entdo, rapidamente dissipados na agitacao da vida did- ria e, quando voltamos para nossa almofada de medita¢ao, estamos cansados, tensos e repletos de pensamentos distrativos. Podemos superar esse problema transformando todas as nossas atividades e experiéncias didrias em caminho espiritual através de desenvolver maneiras especiais de pensar. Atividades como cozinhar, trabalhar, conversar e descansar nao sao intrinsecamente mundanas; elas serao mundanas somente se forem feitas com uma mente munda- na. Se executarmos exatamente as mesmas agdes com uma moti- vacio espiritual, elas irao se tornar praticas espirituais puras. Por exemplo, quando conversamos com nossos amigos, nossa motiva- 40 normalmente esta misturada com autoapre¢o e falamos tudo aquilo que nos vem a mente, sem nos importar se 0 que falamos é benéfico ou nao. No entanto, podemos conversar com os outros 209 COMO TRANSFORMAR A SUA VIDA com 0 tinico propésito de beneficid-los, incentivando-os a desen- volverem estados mentais positivos e tomando 0 cuidado para nao dizer nada que possa perturba-los. Em vez de pensar sobre como podemos causar boa impressao nos outros, devemos pensar em como podemos ajuda-los, lembrando que estao presos no samsa- ra e que carecem de felicidade pura. Desse modo, conversar com nossos amigos pode se tornar um meio para aprimorarmos nosso amor, compaixao e demais realizacdes. Se conseguirmos trans- formar habilidosamente todas as nossas atividades diarias desse modo, em vez de nos sentirmos esgotados e cansados quando nos sentarmos para meditar, iremos nos sentir alegres e inspirados e sera facil desenvolvermos concentracao pura. Desenvolver grande compaixao, compaixao por todos os seres vivos, é a causa principal, ou substancial, para gerar a bodhichitta - ela é como a semente da bodhichitta. Para possibilitar que essa semente cres¢a, precisamos também das condigdes cooperativas de acumular mérito, purificar negatividade e receber as béngaos dos Budas e Bodhisattvas. Se reunirmos todas essas causas e con- digdes, nao sera dificil desenvolver a bodhichitta. Para realizar os desejos da nossa compassiva mente de bodhichitta, precisamos nos empenhar sinceramente nas praticas de dar, disciplina mo- ral, paciéncia, esforco, concentracao e sabedoria. Quando essas praticas so motivadas por bodhichitta, elas sao denominadas “as seis perfeicdes”. Precisamos, especialmente, aplicar grande esfor- co para treinar a sabedoria que realiza a verdade ultima - a va- cuidade. Devemos saber que uma realizacao direta da vacuidade motivada por bodhichitta é bodhichitta ultima, que é da natureza da sabedoria. A bodhichitta que foi explicada acima é a bodhi- chitta convencional, que é da natureza da compaixao. Essas duas bodhichittas sao como as duas asas de um passaro, com as quais podemos voar diretamente para a Terra Pura iluminada. 210 Bodhichitta Ultima QUANDO MEDITAMOS NA verdade ultima, ou vacuidade, moti- vados por bodhichitta, estamos treinando a bodhichitta ultima. A bodhichitta ultima propriamente dita é uma sabedoria que, motivada por bodhichitta, realiza a vacuidade diretamente. Ela é denominada “bodhichitta ultima” porque seu objeto é a verdade ultima, a vacuidade, e é um dos principais caminhos a iluminagao. Se nao soubermos o significado da vacuidade, nao havera base para treinarmos a bodhichitta ultima, porque a vacuidade é 0 objeto da bodhichitta ultima. Qual é a diferenca entre vazio e vacuidade? No Budismo, a vacuidade possui grande significado. A vacuidade é a verdadeira natureza das coisas e é um objeto muito profundo e significativo. Se realizarmos diretamente a vacuidade, alcangaremos libertagéo permanente de todos os sofrimentos desta vida e das incontaveis vidas futuras; nao existe significado maior do que esse. Portanto, a vacuidade é um objeto muito significativo, mas um vazio é apenas vazio ~ ele nao possui significado especial. Ha um vazio de existéncia inerente, mas nao ha vacuidade de exis- téncia inerente, porque a existéncia inerente, ela prépria, nao existe. Je Tsongkhapa disse: O conhecimento da vacuidade é superior a qualquer outro conhecimento, O professor que ensina inequivocamente a vacuidade é superior a qualquer outro professor, Ea realizacao da vacuidade é a verdadeira esséncia do Budadharma. BODHICHITTA ULTIMA modo como aparecem. No entanto, o modo como as coisas apa- recem aos nossos sentidos é enganoso e completamente contradi- tério ao modo como elas realmente existem. As coisas aparecem como existindo do seu proprio lado, sem dependerem da nossa mente. Este livro que aparece 4 nossa mente, por exemplo, pare- ce ter sua propria existéncia objetiva, independente. Ele parece estar “fora”, ao passo que nossa mente parece estar “dentro”. Sen- timos que o livro pode existir sem a nossa mente; nao sentimos que nossa mente esteja, de algum maneira, envolvida em trazer o livro a existéncia. Esse modo de existéncia, independente da nossa mente, recebe varias denominacées: “existéncia verdadeira’, “existéncia inerente’, “existéncia do seu proprio lado” e “existéncia do lado do objeto”. Embora as coisas aparecam diretamente aos nossos sentidos como sendo verdadeiramente existentes, ou inerentemente exis- tentes, na verdade todos os fendmenos carecem, ou sao vazios, de existéncia verdadeira. Este livro, nosso corpo, nossos amigos, nés préprios e 0 universo inteiro sio, em realidade, apenas apa- réncias 4 mente, como coisas vistas em um sonho. Se sonharmos com um elefante, o elefante aparecer4 vividamente com todos os seus detalhes - poderemos vé-lo, ouvi-lo, cheird-lo e toca-lo; mas, quando acordarmos, realizaremos que ele era apenas uma aparéncia 4 mente. Nao iremos perguntar “Onde esta o elefan- te, agora?” porque entenderemos que ele era simplesmente uma projecao da nossa mente e nao tinha existéncia fora da nossa mente. Quando a percep¢ao onirica que apreendia o elefante cessou, 0 elefante nao foi para lugar algum - ele simplesmente desapareceu, pois era apenas uma aparéncia & mente e nao exis- tia separado da mente. Buda disse que isso também é verdadeiro para todos os fendmenos; eles sao meras aparéncias 4 mente, em total dependéncia das mentes que os percebem. O mundo que experienciamos quando estamos acordados e o mundo que experienciamos quando sonhamos sao, ambos, meras aparéncias 4 mente e que surgem das nossas concep¢des equivocadas. Se quisermos afirmar que 0 mundo do sonho é falso, 213, COMO TRANSFORMAR A SUA VIDA teremos também que dizer que o mundo da vigilia é falso; e se quisermos afirmar que 0 mundo da vigilia é verdadeiro, também teremos que dizer que 0 mundo onirico, ou mundo do sonho, é verdadeiro. A unica diferenga entre eles é que o mundo onirico é uma aparéncia para a nossa mente sutil do sonho, ao passo que o mundo da vigilia é uma aparéncia para a nossa mente densa da vigilia. O mundo onirico existe apenas enquanto existir a percep- ¢do onirica para a qual ele aparece, e o mundo da vigilia existe apenas enquanto existir a percepcao da vigilia para a qual ele apa- rece. Buda disse: “Deves saber que todos os fendmenos sao como sonhos”. Quando morremos, nossas mentes densas da vigilia se dissolvem em nossa mente muito sutil, e o mundo que experien- ciévamos quando estavamos vivos simplesmente desaparece. O mundo tal como os outros 0 percebem continuara existindo, mas 0 nosso mundo pessoal desaparecera tao completa e irrevogavel- mente como o mundo do sonho da noite passada desapareceu. Buda também declarou que todos os fenémenos sao como ilu- s6es. Ha muitos tipos diferentes de ilusio, como miragens, arco-iris e alucinagées provocadas por drogas. Em tempos antigos, era costu- me haver magicos que podiam lancar um encantamento sobre uma plateia, fazendo com que as pessoas vissem um objeto qualquer - um pedaco de madeira, por exemplo - como se fosse um tigre ou qualquer outra coisa. Os que estavam iludidos pelo encantamen- to viam 0 que aparecia como um tigre de verdade e desenvolviam medo, mas as pessoas que chegassem apés 0 encantamento ter sido lancado viam, simplesmente, um pedaco de madeira. O que todas as ilusdes tem em comum é que 0 modo como elas aparecem nao coincide com 0 modo como elas existem. Buda comparou todos os fenémenos a ilusdes porque, devido a forga das marcas da ig- norancia do agarramento ao em-si acumuladas desde tempos sem inicio, o que quer que apare¢a 4 nossa mente aparece, naturalmente, como verdadeiramente existente e, instintivamente, concordamos com essa aparéncia; mas, em realidade, tudo é totalmente vazio de existéncia verdadeira. Assim como uma miragem, que aparece como sendo Agua quando, de fato, nao é agua, as coisas aparecem 214

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