ARTIGO
ORIGINAL
Validação e reprodutibilidade do questionário de Baecke de
avaliação da atividade física habitual em homens adultos*
Alex Antonio Florindo1 e Maria do Rosario Dias de Oliveira Latorre1
RESUMO
O objetivo deste estudo foi verificar a validade e repro-
dutibilidade dos escores de exercícios físicos no lazer (EFL),
atividades de lazer e locomoção (ALL) e escore total (ET)
do questionário Baecke de atividade física habitual em
homens adultos. Foram avaliados 21 estudantes de Educa-
ção Física. Para a validação foram coletados o consumo
máximo de oxigênio (VO2máx) e o percentual de decrésci-
mo da freqüência cardíaca (%DFC) obtidos através do teste
de 12 minutos de Cooper, um índice de exercícios físicos
anual (IEF) e um índice de atividades físicas de locomoção
semanal (IAF). A reprodutibilidade foi verificada através
de teste-reteste com intervalo de 45 dias. Para a análise da
validação foi utilizada correlação simples de Pearson e
correlação parcial ajustada por idade e índice de massa
corporal. Para a análise da reprodutibilidade foi utilizado
coeficiente de correlação intraclasse e teste t pareado. Os
resultados indicaram que o %DFC foi correlacionado com
os escores de ALL e ET (r = 0,47 e p = 0,030; r = 0,48 e p =
0,027, respectivamente), o IEF foi correlacionado com EFL
e ET (r = 0,56 e p = 0,008; r = 0,46 e p = 0,036, respectiva-
mente) e o IAL foi correlacionado com o ALL e ET (r = 0,64
e p = 0,002; r = 0,51 e p = 0,017, respectivamente). Não
houve diferenças significativas entre as médias dos esco-
* Apoio através de bolsa de doutorado da Fapesp para Alex Antonio Flo-
rindo.
1. Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Uni-
versidade de São Paulo.
Recebido em 6/12/02
2a versão recebida em 16/2/03
Aceito em 20/4/03
Endereço para correspondência:
Alex Antonio Florindo
Departamento de Epidemiologia, Faculdade de Saúde Pública,
Universidade de São Paulo
Av. Dr. Arnaldo, 715
01246-904 – São Paulo, SP
Tel.: +55(11) 3066-7744, fax: +55(11) 3082-2920
E-mail: aflorind@usp.br
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res de EFL, ALL e ET no teste-reteste e os coeficientes de
correlação intraclasse foram todos significativos (r = 0,69;
r = 0,80 e r = 0,77, respectivamente, para EFL, ALL e ET).
Em conclusão, o questionário Baecke é válido e reprodutí-
vel para mensurar atividade física habitual em homens adul-
tos brasileiros.
Palavras-chave: Atividade física habitual. Avaliação. Questionário.
Homens.
RESUMEN
Validez y reproducibilidad del test de Baecke de evalua-
ción de la actividad física habitual en hombres adultos
El objetivo de este estudio fue verificar la validez y re-
producibilidad del puntaje de ejercicios físicos de ocio
(EFL), actividades de ocio y locomoción (ALL) y puntaje
total (ET) del test de Baecke de la actividad física habitual
en hombres adultos. Fueron evaluados 21 estudiantes de
Educación Física. Para verificar su validez fueron medi-
dos el consumo máximo de oxígeno (VO2máx) y el porcen-
taje de disminución de la frecuencia cardíaca (%DFC) ob-
tenidos a través del test de Cooper en 12 minutos, un índice
de ejercicios físicos anual (IEF) y un índice de actividades
físicas de locomoción semanal (IAF). La reproducibilidad
fue verificada mediante test-retest con un intervalo de 45
días. Para el análisis de validez, se usó la correlación sim-
ple de Pearson y correlación parcial ajustada por edad y
índice de masa corporal. Para el análisis de reproducibili-
dad fue utilizado el coeficiente de correlación intra-clase
y el test t-Student para pares de muestras. Los resultados
indicaron que el %DFC fue correlacionado con los punta-
jes de ALL y ET (r = 0,47 y p = 0,030; r = 0,48 y p = 0,027,
respectivamente), el IEF fue correlacionado con EFL y ET
(r = 0,56 y p = 0,008; r = 0,46 y p = 0,036, respectivamen-
te) y el IAF fue correlacionado con el ALL y el ET (r = 0,64
y p = 0,002; r = 0,51 y p = 0,017, respectivamente). No
hubo diferencias significativas entre las medias de los re-
sultados de EFL, ALL y ET en el test-retest y los coeficientes
de correlación intra-clase fueron todos significativos (r =
0,69; r = 0,80 y r = 0,77, respectivamente para EFL, ALL y
ET). En conclusión, el test de Baecke es válido y reproduci-
121
ble para mensurar la actividad física habitual de hombres
adultos brasileños.
Palabras clave: Actividad física habitual. Evaluación. Test. Hom-
bres.
INTRODUÇÃO
Existem diversos métodos para a avaliação da atividade
física habitual (AFH), porém os mais acessíveis para estu-
dos epidemiológicos são os questionários1. Diversos ques-
tionários propostos na literatura foram sintetizados num
suplemento em 19972. Porém, observa-se que são raros os
instrumentos validados para a população brasileira. Outro
problema refere-se aos padrões utilizados para validação.
Ainda não existe um padrão-ouro definido de medida de
atividade física ou aptidão física para comparação com
questionários de AFH.
Métodos como medida de gasto energético por água du-
plamente marcada ou sensores de movimento como acele-
rômetros vêm sendo utilizados nos estudos de validação.
Porém, o primeiro método é extremamente caro e de difí-
cil aplicação para a coleta. O segundo é mais viável em
termos de custos, mas também é complicado na questão de
aplicação e controle dos participantes, principalmente para
países em desenvolvimento como o Brasil, pois exige ex-
trema colaboração dos sujeitos na utilização, manuseio e
devolução dos aparelhos.
Os inquéritos de gasto energético têm sido uma alterna-
tiva para a medida de atividade física, pois os sujeitos pre-
cisam apenas recordar todas as atividades físicas durante
um período preestabelecido. Também como alternativas,
medidas de aptidão física têm sido utilizadas, pois exigem
somente o comparecimento do sujeito ao laboratório ou ao
campo para a realização do teste.
O questionário de Baecke de AFH3 é um instrumento re-
cordatório dos últimos 12 meses, de fácil aplicação e en-
tendimento, sendo proposto em escala qualiquantitativa e
abordando magnitudes como atividade física ocupacional,
exercícios físicos no lazer e atividades de lazer e locomo-
ção. Esse instrumento já foi utilizado em estudo epidemio-
lógico na população brasileira4.
O objetivo do presente estudo foi verificar a validade e
reprodutibilidade dos escores de exercícios físicos no la-
zer e atividades de lazer e locomoção do questionário Bae-
cke em homens adultos brasileiros.
MÉTODOS
Sujeitos
A população constou de alunos do sexo masculino cur-
sando o sexto semestre do curso de Educação Física da
122
Escola da Polícia Militar do Estado de São Paulo (EEFPMSP)
e a coleta de dados foi realizada entre agosto e setembro
de 2001. Do total de 26 alunos inscritos, dois foram ex-
cluídos por impossibilidade de realização da avaliação fí-
sica e três por não completar todos os testes, restando 21
alunos para a análise.
O cálculo de tamanho da amostra foi realizado assumin-
do uma correlação de 0,50 como resultado médio dos coe-
ficientes de estudos que correlacionaram o escore total de
AFH de Baecke com o consumo máximo de oxigênio5-7,
adotando-se erro tipo I (α) de 5% e erro tipo II (β) de 20%
de acordo com Browner et al. (2001)8. Este estudo fez par-
te de uma ampla pesquisa de doutoramento que foi apro-
vada pelo Comitê de Ética da Faculdade de Saúde Pública
da Universidade de São Paulo.
Questionário de atividade física habitual
O questionário de Baecke é composto de 16 questões
que abrangem três escores de AFH dos últimos 12 meses:
1) escore de atividades físicas ocupacionais com oito ques-
tões, 2) escore de exercícios físicos no lazer (EFL) com
quatro questões, 3) escore de atividades físicas de lazer e
locomoção (ALL) com quatro questões. Neste trabalho,
como a casuística foi composta por estudantes, utilizaram-
se os escores de EFL e ALL e como escore total a soma
destes dois (ET = EFL + ALL). O questionário com os esco-
res de EFL e ALL, bem como a sua fórmula de cálculo, en-
contram-se nos quadros 1 e 2, respectivamente.
Metodologia
Foi escolhida a turma do sexto semestre do curso, pela
facilidade de aplicação dos testes de avaliação, tendo em
vista que os mesmos estavam passando por disciplinas prá-
ticas de campo. A primeira abordagem foi realizada em
sala de aula. Primeiramente, o responsável pela pesquisa
explicou os objetivos do estudo e todos que concordaram
em participar assinaram o termo de consentimento livre e
esclarecido. Após essa etapa foram entregues dois questio-
nários: um sobre variáveis sociodemográficas e o questio-
nário de AFH. Os alunos foram orientados para que, caso
surgissem dúvidas, chamassem o responsável pela pesqui-
sa sem sair do lugar. O tempo médio de resposta do ques-
tionário de AFH foi de cinco minutos. Após todos entrega-
rem, os alunos foram encaminhados para a pista de atletismo
para a realização da avaliação física.
Validade de critério
Para a verificação da capacidade cardiorrespiratória foi
utilizado o teste máximo de 12 minutos de caminhada ou
corrida de Cooper9. O teste foi realizado em pista oficial
de atletismo da EEFPMSP. Com base na distância total per-
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 QUADRO 1
Questionário de atividade física habitual

Por favor, circule a resposta apropriada para cada questão pensando nos últimos 12 meses:
1. Você pratica ou praticou esporte ou exercício físico nos últimos 12 meses:
sim/não
Qual esporte ou exercício físico você pratica ou praticou mais freqüentemente?

– quantas horas por semana?

– quantos meses por ano?

Se você faz ou fez um segundo esporte ou exercício físico, qual o tipo?

– quantas horas por semana?

– quantos meses por ano?

2. Em comparação com outros da minha idade, eu penso que minha atividade física duran-
te as horas de lazer é: 5 4 3 2 1
muito maior/maior/a mesma/menor/muito menor
3. Durante as horas de lazer eu suo: 5 4 3 2 1
muito freqüentemente/freqüentemente/algumas vezes/raramente/nunca

4. Durante as horas de lazer eu pratico esporte ou exercício físico: 1 2 3 4 5

nunca/raramente/algumas vezes/freqüentemente/muito freqüentemente

5. Durante as horas de lazer eu vejo televisão: 1 2 3 4 5

nunca/raramente/algumas vezes/freqüentemente/muito freqüentemente

6. Durante as horas de lazer eu ando: 1 2 3 4 5

nunca/raramente/algumas vezes/freqüentemente/muito freqüentemente

7. Durante as horas de lazer eu ando de bicicleta: 1 2 3 4 5

nunca/raramente/algumas vezes/freqüentemente/muito freqüentemente

8. Durante quantos minutos por dia você anda a pé ou de bicicleta indo e voltando do tra-
balho, escola ou compras? 1 2 3 4 5
< 5/5-15/16-30/31-45/> 45
Total em minutos

corrida, foi estimado o consumo máximo de oxigênio através da fórmula adaptada de Oliveira et al.11 e utilizada
(VO2máx) em mililitros por quilograma de peso corporal por Florindo12:
por minuto (ml/kg/min), de acordo com a fórmula propos-
ta por Cooper e descrita em Leite10: %DFC = (FCfinal-FCrecuperação)*100/FCfinal

VO2máx (ml/kg/min) = (distância percorrida em metros – 504)/45 Validade concorrente

Foram coletados valores de freqüência cardíaca final
(FCfinal) logo após o teste e freqüência cardíaca de recupe-
ração (FCrecuperação) um minuto após o teste através de moni-
tores da marca Polar modelos Beat e Favor. Foi calculado
o percentual de decréscimo da freqüência cardíaca (%DFC)
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Para analisar a validade concorrente foi utilizado um re-
cordatório de exercícios físicos dos últimos 12 meses. Ques-
tões detalhadas sobre a prática de exercícios físicos, como
freqüência em meses por ano e duração em horas por se-
mana, foram perguntados para duas principais modalida-
123
 QUADRO 2
Fórmulas para cálculo dos escores do questionário Baecke de AFH

Exercícios físicos no lazer (EFL)

Cálculo da primeira questão referente à prática de esportes/exercícios físicos:

• Intensidade (tipo de modalidade) = 0,76 para modalidades com gasto energético leve ou 1,26 para
modalidades com gasto energético moderado ou 1,76 para modalidades com gasto energético vigoro-
so (determinado pela resposta do tipo de modalidade: o gasto energético da modalidade deve ser
conferido no compêndio de atividades físicas de Ainsworth13)
• Tempo (horas por semana) = 0,5 para menos de uma hora por semana ou 1,5 entre maior que uma
hora e menor que duas horas por semana ou 2,5 para maior que duas horas e menor que três horas por
semana ou 3,5 para maior que três e até quatro horas por semana ou 4,5 para maior que quatro horas
por semana (determinado pela resposta das horas por semana de prática)
• Proporção (meses por ano) = 0,04 para menor que um mês ou 0,17 entre um e três meses ou 0,42 entre
quatro e seis meses ou 0,67 entre sete e nove meses ou 0,92 para maior que nove meses (determinado
pela resposta dos meses por ano de prática)
Para o cálculo do escore desta questão, os valores devem ser multiplicados e somados:
Modalidade 1 = (Intensidade*Tempo*Proporção) + Modalidade 2 = (Intensidade*Tempo*Proporção)
Para o valor final, será estipulado um escore de acordo com os valores obtidos na fórmula:
0 (sem exercício físico) = 1/entre 0,01 até < 4 = 2/entre 4 até < 8 = 3/entre 8 até < 12 = 4/≥ 12,00 = 5

Os escores das questões dois a quatro serão obtidos de acordo com as respostas das escalas de Likert
O escore final de EFL deverá ser obtido de acordo com a fórmula especificada abaixo:

questão 1 + questão 2 + questão 3 + questão 4

Escore de EFL =
Escore de EFL = 4

Atividades físicas de lazer e locomoção (ALL)

Os escores das questões cinco a oito serão obtidos de acordo com as respostas das escalas de Likert
O escore final de ALL deverá ser obtido de acordo com a fórmula especificada abaixo:

(6 – questão 5) + questão 6 + questão 7 + questão 8

Escore de ALL =
Escore de AAL = 4

Escore total (ET) = EFL + ALL

des. O valor da intensidade das modalidades em mets foi
determinado de acordo com o compêndio de atividades fí-
sicas de Ainsworth et al.13. Foi calculado um índice total
de exercícios físicos dos últimos 12 meses (IEF) em quilo-
calorias anuais (kcal/anual) seguindo um modelo proposto
por Kriska2:
FREQÜÊNCIA (meses/ano)*DURAÇÃO (horas/mês)*
INTENSIDADE (mets horas/anual)*PESO (kg)
mets destas duas atividades determinados pelo compêndio
de atividades físicas13 e pelo peso corporal:
DURAÇÃO (horas/semana)*INTENSIDADE (mets horas/semana)*PESO (kg)
↓
ÍNDICE DE ATIVIDADES DE LOCOMOÇÃO
(dispêndio energético em kcal/semanal)

↓ Reprodutibilidade
ÍNDICE DE EXERCÍCIOS FÍSICOS (dispêndio energético em kcal/anual)
A questão de atividades de locomoção do questionário
(última questão) foi transformada no índice de atividades
de locomoção (IAL) em kcal multiplicando o valor total em
horas por semana de caminhada ou bicicleta para ir e vol-
tar do trabalho, escola ou compras pelo valor médio dos
124
Após 45 dias a medida foi repetida (reteste) seguindo os
mesmos critérios da primeira aplicação.
Análise estatística
Para as análises de validação, foi utilizado o coeficiente
de correlação de Pearson e coeficiente ajustado para a ida-
de e índice de massa corporal (IMC) entre os escores de
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AFH com o VO2máx, IEF e IAL, após a verificação de que os
dados possuíam distribuição normal através do teste de
Kolmogorov-Smirnov.
Para as análises de reprodutibilidade, foi utilizado coe-
ficiente de correlação-intraclasse e teste t pareado.
Para todas as análises, foi adotado nível de significância
de p < 0,05. Para todos os cálculos foi utilizado o progra-
ma Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) ver-
são 10.0.
RESULTADOS
A tabela 1 apresenta a caracterização da amostra. Ob-
servou-se que a idade variou entre 27 e 37 anos, com mé-
dia de 32,6 anos (DP = 3,2 anos). O peso variou entre nor-
mal até sobrepeso, com nenhum estudante obeso. Com re-
lação ao VO2máx, observou-se que a média deste índice foi
alta, indicando que o grupo possuía boa capacidade car-
diorrespiratória. Observou-se que o gasto energético mé-
dio anual em exercícios físicos do grupo foi alto, porém
com grande variação entre os sujeitos. O gasto energético
médio semanal em atividades de locomoção foi relativa-
mente baixo, porém, também teve grandes variações.
Observou-se que os escores de EFL e ET foram correla-
cionados com o IEF e a correlação melhorou após o ajuste
pela idade e IMC (tabela 2). Os escores de ALL e ET foram
correlacionados com o IAL e a correlação foi melhorada

TABELA 1
Estatística descritiva das variáveis de estudo dos sujeitos

Variáveis Homens (N = 21)

Mínimo-máximo Média (DP)

Idade (anos) 27-37 32,6 (3,1)

Índice de massa corporal (kg/m2) 19,7-27,7 23,5 (2,2)
Escore de exercícios físicos no lazer 2,750-4,500 4,002 (0,464)
Atividades de lazer e locomoção 2,250-4,250 3,417 (0,526)
Escore total 5,000-8,750 7,429 (0,881)
Consumo máximo de oxigênio (ml/kg/min) 45,5-62,1 55,4 (4,1)
Distância percorrida no teste de Cooper (metros) 2.550-3.300 2.999,0 (185,8)
Índice de exercícios físicos (kcal/anual) 35.280,0-430.080,0 196.016,4 (115.023,6)
Índice de atividades de locomoção (kcal/semanal) 96,0-5.085,0 1.386,4 (1.139,4)
Freqüência cardíaca final (bpm) 154-198 181 (11)
Freqüência cardíaca de recuperação (bpm) 122-177 150 (15)
Percentual de decréscimo da freqüência cardíaca 7,0-30,0 16,9 (6,0)

TABELA 2
Valores dos coeficientes de correlação de Pearson e coeficientes ajustados
entre os escores de AFH e os padrões de aptidão física e de atividade física

Medidas EFL ALL ET

r(p) r(p) r(p)

Correlação simples
VO2máx (ml/kg/min) 0,04 (0,867) 0,24 (0,285) 0,17 (0,470)
%DFC 0,38 (0,091) 0,47 (0,030)* 0,48 (0,027)*
IEF (kcal/anual) 0,56 (0,008)* 0,28 (0,224) 0,46 (0,036)*
IAL (kcal/semanal) 0,25 (0,264) 0,64 (0,002)* 0,51 (0,017)*

Correlação ajustada pela idade e IMC

VO2máx (ml/kg/min) 0,15 (0,539) 0,42 (0,069) 0,33 (0,169)
%DFC 0,32 (0,172) 0,51 (0,026)* 0,47 (0,043)*
IEF (kcal/anual) 0,61 (0,005)* 0,25 (0,292) 0,47 (0,043)*
IAL (kcal/semanal) 0,22 (0,355) 0,69 (0,001)* 0,52 (0,022)*

* p < 0,05; EFL (escore de exercícios físicos no lazer); ALL (atividades de lazer e locomoção); ET (escore total); %DFC (percen-
tual de decréscimo da freqüência cardíaca); IEF (índice de exercícios físicos); IAL (índice de atividades de locomoção).

Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 3 – Mai/Jun, 2003 125

 TABELA 3
Valores de significância do teste t pareado e coeficientes
de correlação intraclasse para medidas repetidas
Escores Medida 1
Média (dp)
EFL 4,011 (0,464)
ALL 3,417 (0,526)
ET 7,429 (0,881)
* p < 0,05; EFL (escore de exercícios físicos no lazer); ALL (atividades de lazer e locomoção); ET (escore total).
após o ajuste pela idade e IMC na análise do ALL e mantida
na análise do ET. Não houve correlação significativa entre
os escores de EFL, ALL e ET com o VO2máx. Com relação
ao %DFC, observou-se correlação significativa com o ALL e
ET, melhorando após o ajuste pela idade e IMC na análise
do ALL e mantendo-se a significância com o ET.
Com relação às medidas de reprodutibilidade (tabela 3),
observou-se que os coeficientes de correlação intraclasse
foram significativos para todos os escores de AFH, sendo
as maiores magnitudes encontradas, respectivamente, nos
escores de ET, ALL e EFL. Não houve diferenças significati-
vas entre as médias dos escores na comparação da primei-
ra com a segunda medida entre todos os escores de AFH.
DISCUSSÃO
No presente estudo utilizaram-se padrões de atividade
física (IEF e IAL) e aptidão física (VO2máx e %DFC) para
comparação com os escores do questionário de AFH de Bae-
cke.
O VO2máx está relacionado com o gasto energético e é
influenciado principalmente pela idade14 e nível de apti-
dão física. No presente estudo, nenhum escore de AFH foi
significativamente correlacionado com o VO2máx. Resul-
tados significativos foram encontrados na análise de ho-
mens adultos belgas na correlação do escore de exercícios
físicos com o VO2 de pico (r = 0,47)5 e em mulheres e ho-
mens adultos norte-americanos com o VO2máx (r = 0,52)7.
Na análise do questionário de Baecke modificado, foram
obtidos valores de correlação de 0,45 para mulheres e 0,67
para homens norte-americanos15. Acredita-se que a não
obtenção de valores significativos neste estudo aconteceu
em virtude da homogeneidade dos valores de VO2máx (po-
pulação de estudantes de Educação Física da EEFPMSP),
em que a média do grupo foi alta sem muita variação, pre-
judicando a análise.
É interessante ressaltar a magnitude dos valores de cor-
relação obtidos em cada escore. Acredita-se que, por ser
uma medida de aptidão física, o VO2máx discrimine me-
126
Medida 2 Teste t Correlação intraclasse
Média (dp) P r (IC)
3,952 (0,640) 0,542 0,69 (0,40-0,86)*
3,440 (0,713) 0,797 0,80 (0,57-0,91)*
7,393 (1,286) 0,832 0,77 (0,52-0,90)*
lhor os exercícios físicos em relação a outros tipos de ati-
vidades físicas. Porém, de acordo com os resultados deste
estudo, os valores mais altos foram obtidos na comparação
com as atividades de lazer e locomoção. Outros trabalhos
têm encontrado correlações baixas entre os escores de ati-
vidades de lazer e locomoção com o VO2máx5,7.
O questionário de Baecke é estruturado por questões de
comparação e de auto-análise. Essas questões podem ge-
rar algumas dificuldades nas respostas16. Tendo em vista a
importância de questões que enfocam o relato de suor ou
transpiração para a avaliação da AFH16,17, foi testada a cor-
relação entre o valor bruto da questão de auto-análise de
suor nas horas de lazer com o VO2máx. Houve correlação
positiva após o ajuste pela idade e IMC (r = 0,51; p = 0,027)
(dados não mostrados). Esses resultados são parecidos com
os encontrados na análise do relato de suor obtido através
da correlação do escore total do questionário de Paffenbar-
ger com o VO2máx (r = 0,54) em homens adultos e idosos
norte-americanos16.
A freqüência cardíaca e seus processos de recuperação
são considerados indicadores de aptidão física11. O %DFC
está correlacionado com o VO2máx12. Neste estudo, nova-
mente um resultado interessante foi mostrado com as cor-
relações significativas obtidas entre %DFC com os escores
de AFH, ressaltando a maior magnitude que foi obtida com
as atividades de lazer e locomoção. Utilizando como indi-
cador a carga de trabalho obtida em teste máximo em es-
teira, Jacobs et al. (1993)7 mostraram correlação significa-
tiva com o escore de exercícios físicos (r = 0,57) e escore
total (r = 0,51) e, por último, com o escore de atividades de
lazer e locomoção (r = 0,33). Outros estudos com o ques-
tionário Minnesota obtiveram correlações significativas na
análise do escore total com a freqüência cardíaca submá-
xima em homens adultos norte-americanos (r = 0,59)16 e
em mulheres e homens norte-americanos em conjunto (r =
0,45)7.
Houve correlação significativa entre o gasto energético
medido pelo IEF e o escore de exercícios físicos, a qual se
Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 3 – Mai/Jun, 2003
manteve constante mesmo após o ajuste pela idade e IMC.
O padrão utilizado neste estudo foi um recordatório deta-
lhado de exercícios físicos dos últimos 12 meses. Isso in-
dica que este é representativo desse tipo de atividade física
no último ano. É interessante ressaltar que os dados de li-
teratura são controversos com relação à magnitude de cor-
relação desse escore com recordatórios e com outros pa-
drões de comparação. Na análise com diário de gasto
energético, foi obtido índice r = 0,58 com escore de exercí-
cios físicos em homens adultos norte-americanos15 e r =
0,51 com o escore total em mulheres idosas holandesas18.
Com relação a outras medidas padrão como acelerômetro,
foram obtidos valores de r = 0,34 com o escore de exercí-
cios físicos em homens adultos belgas5 e r = 0,34 com o
escore de exercícios físicos em homens adultos norte-ame-
ricanos15. Com água duplamente marcada, foi obtido r =
0,46 na correlação com o escore de exercícios físicos em
homens adultos belgas19. Nessa mesma população foi cal-
culado um índice de atividade física com base no gasto
energético dividido pela taxa metabólica em horas de sono
e foi obtido um índice de correlação r = 0,55 com o escore
de exercícios físicos19.
Observou-se correlação significativa entre o gasto ener-
gético medido pelo IAF e o escore de atividades físicas de
lazer e locomoção. Também foram obtidas correlações sig-
nificativas do diário de gasto energético com o escore de
atividades de lazer e locomoção em mulheres (r = 0,42) e
homens (r = 0,37) norte-americanos15 e com o escore total
em mulheres holandesas (r = 0,52)6. Na comparação com
acelerômetro, foi obtida correlação de r = 0,285 e com água
duplamente marcada r = 0,5019 com o escore de atividades
de lazer e locomoção em homens adultos belgas.
Vários trabalhos têm mostrado bons índices de reprodu-
tibilidade do questionário de AFH de Baecke. No escore de
exercícios físicos foram obtidos valores de r = 0,92 e r =
0,88, respectivamente para mulheres e homens norte-ame-
ricanos15 e r = 0,93 em homens adultos belgas20. O escore
total acompanha os demais índices, atingindo valores de
correlação de r = 0,93 em mulheres e homens adultos nor-
te-americanos7 e r = 0,86 em homens adultos belgas20. Va-
lores analisados com intervalo de 15 dias não sofrem gran-
des alterações, como mostrado em homens adultos belgas,
com valores de r = 0,79 para exercícios físicos19. Na análi-
se do escore de atividades físicas de lazer e locomoção
com intervalo de 30 dias, valores altos de correlação foram
obtidos em mulheres e homens norte-americanos (r = 0,87
e r = 0,86, respectivamente)15 e em homens adultos belgas
(r = 0,87)20. Com intervalo de 15 dias foram obtidos valo-
res de r = 0,66 em homens belgas19. Na análise de interva-
los mais longos, como entre cinco e 11 meses, foram ob-
tidos coeficientes de r = 0,88 e r = 0,81 respectivamente
Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 3 – Mai/Jun, 2003
para EFL e r = 0,76 e r = 0,71, respectivamente, para ALL
em homens adultos e idosos holandeses18. Esses resulta-
dos de reprodutibilidade dos escores de AFH de Baecke são
semelhantes aos encontrados para a população do presente
estudo.
CONCLUSÃO
Pelos resultados mostrados na população do presente
estudo, bem como a comparação com os resultados já en-
contrados em pesquisas de países desenvolvidos, conclui-
se que o questionário Baecke de AFH é uma boa opção para
avaliar atividade física habitual em homens adultos brasi-
leiros.
AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp), pela bolsa de doutorado concedida a Alex Antonio Flo-
rindo (processo no 00/09482-8), e ao Conselho Nacional de Pes-
quisas (CNPq), pela bolsa de pesquisa concedida a Maria do Ro-
sario Dias de Oliveira Latorre. Ao Prof. Raul Santo, pela ajuda
no acesso à Escola de Educação Física da Polícia Militar, e ao
Prof. Paulo Merino, pelo auxílio na aplicação dos instrumentos.
Todos os autores declararam não haver qualquer poten-
cial conflito de interesses referente a este artigo.
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