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ISSN 2595-8941 Seminário da Oficina de Paleografia 

 
S471a Seminário da Oficina de Paleografia (5.: 2019 : Mariana, MG).
Anais do V Seminário da Oficina de Paleografia [recurso eletrônico] /
Comissão Científica: Andressa Antunes... [et al.]. – Mariana, MG: Oficina de
Paleografia da UFOP/ICHS, 2020.
65 p.
Disponível em: https://paleografia.ufop.br/anais-paleografia
Seminário realizado nos dias 29 e 30 de agosto de 2019.
Eixos: Cultura escrita e circulação de ideias. Memória e ensino de história.
Historiografia das sedições: debates e novas perspectivas. Festas e sedições.
Temática livre.
ISSN 2595-8941
1. Brasil – História - Conjuração mineira, 1789 . 2. Brasil - História -
Conjuração dos Alfaiates, 1798 . 3. Paleografia. I. Oficina de Paleografia. II.
Universidade Federal de Ouro Preto – (UFOP). III. Título.
CDU: 94(81).034

Bibliotecário(a) Responsável: Michelle Karina Assunção Costa – CRB 6 -2164


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Oficina de Paleografia 

Instituto de Ciências Humanas e Sociais - ICHS/UFOP 


 

Anais do V Seminário da Oficina de Paleografia da Universidade Federal de 


Ouro Preto 

1​ª​ Edição 

ISSN 2595-8941 Seminário da Oficina de Paleografia 


 

Mariana  
2020 
 

ISSN 2595-8941 Seminário da Oficina de Paleografia 


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Expediente 

 
Responsável pela publicação: Oficina de Paleografia da UFOP 

Anais da Oficina de Paleografia da UFOP 

Endereço: Universidade Federal de Ouro Preto - Instituto de Ciências Humanas e Sociais 

Rua do Seminário s/n. 

CEP: 35420-000 

E-mail: oppufop@gmail.com 

Telefone: + 55 (31) 3557 9406 

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Comissão Científica 

Andressa Antunes 

Júlia Matos 

Luis Maiolini 

Monalisa Silva 

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Sumário 

Apresentação 7 
Realização do evento  8 
Apoio 8 
Monitores e Monitoras 8 
Programação 9 
Dia 29 de Agosto 9 
Dia 30 de Agosto 11 
 
Resumos 14 
Eixo 1: Cultura escrita e circulação de ideias 14 
Real Mesa Censória de Portugal e Ilustração setecentistas: tensionamentos entre 
colonização e independência 14 
Leitura e edição de documentos manuscritos setecentistas portugueses 15 
Christiane Benones de Oliveira  
O campo jurídico do Direito das Gentes em Tomás Antônio Gonzaga 16 
Pedro Henrique de Mello Rabelo  
 
Eixo 2: Memória e ensino de história 18 
Do Arquivo Eclesiástico ao Museu da Música de Mariana: a música como meio de   
memória e patrimônio local 18 
Mayra Souza Marques  
   
Eixo 3: Historiografia das sedições: debates e novas perspectivas 19 

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As sedições e o Império: experiências e transformações na trajetória de  


Resende Costa Filho 19 
Wederson Gomes  
Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Mariana: análise gráfica dos  
números de visitas (1999-2012) 21 
Júlia Ferreira Matos  
Monalisa Edwiges Nascimento da Silva  
 
Eixo 4: Festas e sedições 23 
Splendor Caeli:​ o calendário festivo dos Terceiros Carmelitas em Minas  
Gerais - séculos XVIII e XIX 23 
Leandro Gonçalves de Rezende  
Entre Fúrias e Eumênides: Justiça e Vingança nos processos criminais de  
Mariana, Minas Gerais, no século XVIII 24 
Douglas de Araujo Bernardes  
 
Eixo 5 : Temática livre 26 
Morfologia da primitiva vila de Ilhéus (séculos XVI-XVII): análise documental e   
georreferenciamento 26 
Iuri Andrade Dantas  
O manuscrito de André Álvares Almada: fonte cabo-verdiana para  
uma   história do comércio nos Rios da Guiné (século XVI) 27 
Lucas Aleixo Pires dos Reis  
Contabilidade colonial: as contas correntes da sociedade para muares de João  
Rodrigues de Macedo (1777-1790) 28 

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Cássio de Sá e Cabral 
Projetos divergentes e inimigos comuns: o debate político entre Bernardo  
Pereira de Vasconcelos e Marquês de Baependi 29 
Daiane de Souza Alves  
 
Artigos completos – Comunicações Livres 32 
Morfologia da primitiva vila de Ilhéus (séculos XVI-XVII): análise documental  
e  georreferenciamento 32 
Iuri Dantas da Silva Andrade  
O manuscrito de André Álvares Almada: fonte cabo-verdiana para uma história  
do  comércio nos Rios da Guiné (século XVI) 49 
Lucas Aleixo Pires dos Reis  
 

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Apresentação 

A  Oficina  de  Paleografia  da  UFOP  é  uma  iniciativa  discente,  que  conta  com  o  apoio  do 

Departamento  de  História  da  UFOP  e  do  Programa  de  Pós-Graduação  em  História  da  mesma 

instituição.  O  objetivo  desta  oficina  é  promover  um  curso  de  caráter  iniciante  sobre  transcrição 

documental  e  noções  básicas  de  arquivologia. Durante um período do semestre letivo, ministram-se 

aulas  teóricas  e  práticas  sobre  Paleografia,  além  de  conferências  que  visam  estabelecer  diálogos 

entre  pesquisadores  atuantes  e  alunos  da  Oficina.  O  público-alvo  das  atividades  geralmente  são os 

alunos  dos  primeiros  semestres  do  curso  de  História  da  UFOP,  porém,  mediante  divulgação  intensa 

da  Oficina,  tem-se  recebido  inscrições  da  comunidade  local  e  de  demais  estudantes,  promovendo 

interessante ampliação das discussões sobre Paleografia. 

Há  seis  anos,  a  Oficina  promove  um  evento  que  objetiva  divulgar  pesquisas  em andamento 

sobre  assuntos  que  tangenciam  a  prática  da  transcrição  documental  e  sobre  diversos  temas.  Além 

do  espaço  das  comunicações  livres,  os  minicursos  oferecidos  visam  o  aprofundamento  sobre 

determinadas  temáticas,  e  as  conferências  de  abertura  e  de  encerramento  possibilitam  o  contato 

com pesquisadores consolidados e suas trajetórias e estudos mais recentes. 

O  V  Seminário  da  Oficina, realizado em agosto de 2019, teve como tema geral os 230 anos da 

Inconfidência  Mineira  e  220  anos  da  Conjuração  Baiana.  A  partir  destas  datas  comemorativas, 

pensou-se  eixos  temáticos  que  versassem  sobre as dinâmicas constitutivas da América Portuguesa 

-  contexto em que ocorreram estes importantes eventos. Os presentes Anais reúnem os resumos das 

comunicações  livres  apresentadas  e  alguns  textos  completos,  a  fim  de  divulgar  as  discussões 

promovidas e preservar a memória do V Seminário da Oficina de Paleografia da UFOP. 

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Realização do Evento 

Andressa Antunes  Luciano Abade   

Carlos Osório  Luis Maiolini 

Erivelton Gregório  Luiz Gustavo Martins  

Júlia Matos  Monalisa Silva 

Apoio 

Grupo de Pesquisa Justiça, Administração e Luta Social (JALS) 

Núcleo de Pesquisa Impérios e Lugares no Brasil (ILB)  

Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Mariana (AHCMM) 

Arquivo Histórico da Casa Setecentista de Mariana (AHCSM) 

Profª Drª Anny Jackeline Torres Silveira (Coordenadora do AHCMM) 

Monitores e Monitoras 

Carla Aparecida Nunes Luana de Brito Nunes  

Mauro César de Castro Júnior  Ioná Rocha 

Jéssica Roberta Coelho de Novais Enia de Freitas Almeida 

Luana de Brito Nunes Maria Nascimento de Queiroz 

Mariana Cunha Fontes Raymara Santos 

Mariana, Minas Gerais 

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Dezembro de 2020 

Coordenação do V Seminário da Oficina de Paleografia da UFOP 


Programação 

Dia 29 de Agosto de 2019 

 
Credenciamento 

9h - 15h 

Sala Afonso Ávila 

Comunicações livres 

10h - 12h 

Eixos temáticos  

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1. Cultura escrita e circulação de ideias 

Mauro César Castro Junior  - “​Real Mesa Censória de Portugal e Ilustração 


setecentistas: tensionamentos entre colonização e independência” 
 
Christiane Benones de Oliveira - ​“Leitura e edição de documentos manuscritos 
setecentistas portugueses” 
 
Pedro Rabelo​ - O campo jurídico do Direito das Gentes em Tomás Antônio Gonzaga 

2. e 3. Memória e ensino de história; Historiografia das sedições: debates e novas perspectivas 

Mayra Souza Marques -​ “Do Arquivo Eclesiástico ao Museu da Música de Mariana: a 


música como meio de memória e patrimônio local.” 
 
Wederson de Souza Gomes -​ “As sedições e o Império: experiências e transformações 
na trajetória de Resende Costa Filho.” 

Mini-cursos 

13h - 16h 

MC1. Conservação de acervos históricos 

Carlos Osório Osório 


MC2. Discursos da mineiridade: a construção do barroco e da religiosidade mineiros 

Vanessa Cerqueira (Doutorado/UFOP) Andressa Antunes (Graduação/UFOP) 


Coffee-Break 

18h30 - 19h 

Conferência de Abertura 

Novas considerações historiográficas acerca das Inconfidências Mineira e Baiana 

Profa Dra Carla Anastasia 

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19h - 21h 

Dia 30 de Agosto de 2019 

Credenciamento 

9h - 15h 

Sala Afonso Ávila 

Comunicações livres 

10h - 12h 

Eixos temáticos  

4. Festas e sedições 

Leandro Gonçalves de Rezende​ - “​Splendor Caeli​: o calendário festivo dos Terceiros 


Carmelitas em Minas Gerais - séculos XVIII e XIX.” 
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Douglas de Araújo Bernardes - “​Entre Fúrias e Eumênides: Justiça e Vingança nos 
processos criminais de Mariana, Minas Gerais, no século XVIII” 

5. Temática livre 

Iuri Andrade Dantas -​ “Morfologia da primitiva vila de Ilhéus (séculos XVI-XVII): análise 
documental e georreferenciamento.” 
 
Lucas Aleixo Pires dos Reis​“​O manuscrito de André Álvares Almada: fonte 
cabo-verdiana para uma   história do comércio nos Rios da Guiné (século XVI)”  
 
Cássio de Sá e Cabral​ - “​ Contabilidade colonial: as contas correntes da sociedade para 
muares de João Rodrigues de Macedo (1777-1790).” 
 
Daiane de Souza Alves​ - “Projetos divergentes e inimigos comuns: o debate político 
entre Bernardo Pereira de Vasconcelos e Marquês de Baependi”

Mini-cursos 

13h - 16h 

MC1. Conservação de acervos históricos (continuação) 

Carlos Osório Osório 


MC3. Antiguidade, literatura e paleografia 

Prof. Dr. Artur Costrino (DELET/UFOP) 


Mesa redonda 

16h - 18h 

Inconfidência mineira e sedições: discursos museias e ensino de história 

Christine Azzi, Luciano Roza e Patrick Morengui 


Coffee-Break 
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18h30 - 19h 

Conferência de Encerramento 

"Entre Conjurações, Repúblicas e Cidadanias: fontes e temas para a História da escravidão e do 
Pós-abolição em Minas Gerais". 

Profa Dra Marileide Cassoli 


19h - 21h 

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Resumos 

Eixo 1: Cultura escrita e circulação de ideias 

Real Mesa Censória de Portugal e Ilustração setecentistas: 

tensionamentos entre colonização e independência​1 

Mauro Cesar de Castro 

Graduando em História  

UFOP 

O  presente  trabalho  propõe  a  reflexão  acerca  do  viver  em  sociedade  e  da  organização  do 

mando  português  na  América,  enfocando  as  ordenações  e  os  desvios,  a  partir  de  historiografias 

consolidadas  sobre  o  assunto.  Diante  do  exposto,  trataremos  das  razões  pelas  quais  a  Coroa 

portuguesa  criou  a  Mesa  Real  Censória  de  Portugal,  na  busca  pela  compreensão  da  importância  de 

controlar  os  sujeitos históricos coloniais e perdurar a dinâmica da colonização, ou seja, como ocorreu a 

imposição  de  uma  doutrina  determinada  e,  a  esse  fim,  se  promovia,  por  meio  da  censura,  uma 

mentalidade  adequada  ao  Antigo  Regime.  Desenvolveremos,  a  partir  dessa  óptica,  uma  argumentação 
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​Este trabalho foi realizado pelos alunos Amanda Marangoni Rodrigues, Ana Paula Saraiva Ferreira, André Gabriel Santos, 
Douglas  de  Araújo  Bernardes,  Maria  Clara  Fada,  Maria  Luísa  Miranda  Costa,  Mauro  César  de  Castro,  Mayara  Pacces 
Vicente,  Milena  Pereira  Macêdo  e  Rafaela  Oliveira  Areal  para  disciplina  de  História  do  Brasil  I,  ministrada  pelo  Prof.  Dr. 
Alvaro de Araujo Antunes, sob tutoria do douorando do PPGHIS UFOP Lucas Samuel Quadros. 

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voltada  para  a  problemática  da  influência  da  Ilustração  nos  movimentos  de  independência  e  de 

revoltas,  analisando,  também,  as  formas  de  burlar  e  resistir  a  tal  lei  escrita  em  1787,  atentando-se, 

inclusive,  para  as  práticas  de  leitura  e  a  sociedade  de  pensamento  das  Minas  setecentistas  –  tendo 

como marco movimentos sediciosos como a Inconfidência Mineira. 

Leitura e edição de documentos manuscritos setecentistas 

portugueses 

Christiane Benones de Oliveira 

Doutoranda em Estudos Linguísticos 

UFMG 

Nesta  apresentação  busca-se  compreender  a  importância  dos  estudos  Paleográficos  para 

compreensão  de  documentos  manuscritos  setecentistas.  Por  evidenciar  um  uso  pretérito  da  língua 

portuguesa,  contribuindo  para  o  avanço  do  conhecimento  desses  estados  de  língua,  os  textos  antigos 

assumem  uma  grande  importância  para  os  estudos  diacrônicos.  Tendo  em  vista  essa  riqueza,  a  maior 

parte  dos  pesquisadores  que  utilizam  documentos  manuscritos  como  corpora  de  pesquisa  devem  dar 

preferência  aos  textos  fidedignos,  criteriosamente  armazenados  segundo  normas  da  edição  crítica  de 

textos,  conforme  será  discutido.  Para  tanto,  serão  apresentados  dados  paleográficos  que  foram 

extraídos  do  manuscrito  Testamento  do  rei  Dom  Pedro  II,  de  Portugal,  ano  de  1704,  que  fez  parte  da 

pesquisa  de  mestrado  intitulada  “Estudo  comparativo  das  abreviaturas  em  documentos 

politestemunhais  do  testamento  do  rei  D.  Pedro  II,  de  Portugal”,  do  programa  de  pós-graduação  em 

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Estudos  da  Linguagem  da  Universidade  Federal  de  Ouro Preto. Procura-se discutir, nesta apresentação, 

a  importância  da  edição  fidedigna  dos  documentos  históricos,  na  qual  há  um  baixo  grau  de  mediação 

por  parte  do  editor,  conforme  CAMBRAIA  (2005).  Apresentar  estudos  sobre  os  documentos  de  épocas 

passadas  nos  permite  conhecer  mais  a  nossa  língua  e  compreender  alguns  aspectos  do  seu  uso. 

Demonstraremos,  ainda,  alguns  aspectos  paleográficos  existentes  no  documento  que  causaram 

dificuldades  no  momento  da  edição.  Desse  modo  o  desenvolvimento  desta  pesquisa  de  mestrado 

buscou  contribuir  para  a  criação  de  um  corpus  cientificamente  preparado  que  venha  a  propiciar, 

simultaneamente,  corpora  para  estudos  no  âmbito  da  História  da  Língua  e  áreas  afins, da Linguística e 

para a divulgação de relevante tipologia documental respeitante à história da Língua Portuguesa. 

O campo jurídico do Direito das Gentes em Tomás Antônio Gonzaga 

Pedro Henrique de Mello Rabelo 

Doutorando em História 

UFOP 

Para  Kenneth  Maxwell,  o  comércio  externo  e  o  reconhecimento  exterior  da  “República  das 

Minas”  não  pareciam  importantes  a  alguns  dos  principais  partícipes  da  Inconfidência  Mineira.  Para 

Oliveira  Lopes  e  o  próprio  “Tiradentes”,  uma  aproximação  entre  Minas,  São  Paulo  e  Rio  seria  mais 

vantajosa  à  nova  república  que  um  acercamento  internacional.  A  tendência compunha muitos estratos 

da  administração  portuguesa  em  fins  do  século  XVIII.  As  reformas  pombalinas,  por  exemplo, 

incentivaram  uma  profunda  modificação  das  relações  político-mercantis  entre  Portugal  e  Inglaterra. 

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Por  meio  de um fortalecimento interno das classes mercantis portuguesas, Pombal conquistou a ira das 

feitorias  inglesas, acometidas por uma queda considerável de seu comércio com o Império português. O 

objetivo,  nos  dizeres  de  Maxwell,  seria  o  de  “nacionalizar  o  comércio  português”,  meta  que  apesar  de 

formalizada  por  Pombal  apenas  no  terceiro  quartel do Setecentos, já era frequentemente defendida por 

estadistas portugueses desde a última reaproximação anglo-lusa em 1703. 

Curiosamente,  o  incremento  do  comércio  externo  era  gradativamente  defendido  pelos 

principais  teóricos  do  Direito  das  Gentes,  campo  jurídico  que  originalmente  muito  próximo  ao  Direito 

Natural,  contava  com  uma  série  de  preceitos  que  intensificavam  as  aproximações  entre  as  nações  e 

rechaçava  isolamentos  como  os  que  pareceram  se  colocar  em  execução  pela  administração 

pombalina.  Entre  as  obras  do  jesuíta  espanhol,  Francisco  Suárez  (1548-1617),  e  as  do  jurista  de 

Neuchâtel,  Emer  de  Vattel  (1714-1767),  o  Direito  das  Gentes  migrou  progressivamente  de  sua  base 

jusnaturalista  rumo  a  um  forte  atrelamento  ao  Direito  Positivo,  o  que  compreendeu  um  aumento 

significativo  dos  Tratados  interestatais  de  paz,  aliança  e  comércio  enquanto  fontes  dos  direitos  e 

obrigações entre as gentes. 

No  espaço  luso-brasileiro,  poucos  anos  antes  de  seu  envolvimento  com  a  Inconfidência 

Mineira,  Tomás  A.  Gonzaga  (1744-1810)  publicou  um  Tratado  de  Direito  Natural,  obra  em que se afastou 

consideravelmente  das  vertentes  positivistas  do  Direito  das  Gentes.  Gonzaga  evitou  autonomizar  o 

campo  do  Direito  das  Gentes  em  seu  livro,  que  dedicado  a  Pombal,  parecia  encontrar-se  em  sintonia 

com  seu  projeto  de  “nacionalização”.  A  obra,  dentro  do  espectro  do  Direito  das  Gentes,  pode  trazer 

novas  compreensões  a  respeito  dos  conceitos  políticos  mobilizados  em  fins  do  XVIII,  como soberania, 

ligado  às  relações  externas,  e  república,  central para a compreensão institucional e social do almejado 

projeto político de 1788-9. 

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Eixo 2: Memória e ensino de história  

Do Arquivo Eclesiástico ao Museu da Música de Mariana: a música 

como meio de memória e patrimônio local 

Mayra Souza Marques 

Doutoranda em História  

UFOP 

Esta  comunicação,  baseada  no  segundo  capítulo  da  dissertação  de  mestrado  intitulada 

“Trajetórias  do  Museu  da  Música  de  Mariana:  mutação  e  pluralização  dos  meios  da  memória cultural”, 

busca  compreender  como  a  música  pode  se  tornar  objeto  de  museu  através  da  análise  da 

transformação  de  um  acúmulo  de  partituras  dos  séculos  XVIII  e  XIX  encontradas  na  Catedral  da  Sé 

naquilo que hoje é o Museu da Música de Mariana.  

O  Museu  da  Música  de  Mariana  (MMM)  foi  fundado  nos  anos  1970  por  Dom  Oscar  de  Oliveira, 

atuante  também  na  criação  do  Museu  de  Arte  Sacra  e  no  Museu  do  Livro  (Biblioteca  dos  Bispos).  Na 

década  de  1960,  D.  Oscar,  então  arcebispo  de  Mariana,  encontrou  alguns  manuscritos  musicais  nos 

porões  do  Arquivo  Eclesiástico,  durante  a  transferência  do  seu  acervo  da  Igreja  de  São  Pedro  dos 

Clérigos  para  a  sede  própria,  na rua Direita. Após recolher mais partituras musicais durante suas visitas 

pastorais  e  contar  com  a  colaboração  de  arquivistas  para  organizar  o  acervo, em 1973 D. Oscar funda o 

Museu da Música de Mariana como parte do Arquivo Eclesiástico. 

Em  2007  o Museu da Música foi transferido para um prédio próprio, o antigo Palácio dos Bispos, 

estruturando-se  verdadeiramente  como  museu  e  não  mais  como  parte  do Arquivo Eclesiástico, dotado 


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de  exposições  permanentes  e  temporárias.  Por  ser  um  museu que lida com partituras musicais, há, por 

parte desta instituição, uma preocupação em “fazer soar” a música que ali é preservada, mantendo uma 

comunicação  com  os  coros  locais,  afim  de  capacitá-los  para  a  execução  das  obras  ali  guardadas.  A 

relação  do  MMM  com  a  comunidade  se  dá  também  através  do  uso  do  espaço  do  museu  para  outros 

eventos, como cursos, concertos, festas e seminários. 

Através  da  análise  de  documentos  como  artigos  publicados  no  jornal  O  Arquidiocesano  e  de 

correspondências  de  D.  Oscar,  preservados  pelo  Arquivo  Eclesiástico,  tentaremos  compreender  os 

objetivos  do  arcebispo  ao  criar  o  MMM,  a  importância  da  preservação  do  patrimônio  marianense  (em 

especial,  a  música)  e  as  transformações  ocorridas  nesta  instituição  que  nasceu  como  arquivo  e  se 

transformou em museu. 

Eixo 3: Historiografia das sedições: debates e novas perspectivas 

As sedições e o Império: experiências e transformações na trajetória 

de Resende Costa Filho 

Wederson Gomes 

Doutorando em História 

UFOP 

A  transição  entre  os  séculos  XVIII  e  XIX  foi  um  espaço  de  profundas  e  significativas 

experiências  para  o  Império  luso-brasileiro.  Marcado  por  conflitos  e  transformações,  o  alvorecer  do 

século  XIX  foi  acompanhado  de  um  conjunto  de  experiências  plurais  em um curto espaço de tempo. Os 

homens  oitocentistas  estiveram  envolvidos  em  eventos  relevantes  e  que  demonstravam  as  mudanças 
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operadas  ao  longo  do  século  XVIII  e  cada  vez  mais  presentes  nas  primeiras  do  XIX.  Esse  é  o  caso  das 

inconfidências  que  aconteceram  no  decorrer  da  década  de  1790  e  que  modificaram  imaginário  dessa 

geração  de  políticos  e  intelectuais.  Conceituadas  como  sedições  a  partir  dos  trabalhos produzidos por 

István  Jancsó,  esses  acontecimentos  são  representativos  para  o  contexto  porque  explicitam  a  erosão 

nas  bases  estruturais do sistema colonial incidindo sobre as formas de organização do poder. Ou seja, o 

que se observa é um questionamento das práticas e elementos estruturantes do Antigo Regime.  

A  análise  acerca  dessas  sedições  é  relevante  uma  vez  que  permite  compreender  as 

singularidades, imaginário e transformações decorrentes daquela experiência de tempo. Dessa forma, a 

análise  dos  agentes  que  pensaram  e  operaram essas transformações tem uma relevância significativa, 

haja  vista  que  permite  alcançar uma geração e ver de que forma se davam suas articulações. Apesar da 

existência de uma substancial historiografia acerca das sedições que aconteceram no último quartel do 

século  XVIII,  a  análise  das  trajetórias  de  seus  partícipes  e  os  intentos  em  torno  das  sedições  merece 

uma  análise  pormenorizada,  pois  permite  entender  a  pluralidade  de  interesses  dos  diferentes 

segmentos envolvidos e o caráter multifacetado das sedições. 

Esse  é  o  intento  do  presente  trabalho,  visto  que  nos debruçaremos sobre a trajetória política e 

intelectual  de  José  de  Resende  Costa  Filho. Importante intelectual e político do período, Resende Costa 

Filho  esteve  envolvidos  em  marcos  relevantes  para  a  História  do  Império  luso-brasileiro  e, 

posteriormente,  no  Império  do  Brasil.  Chama  atenção  em  sua  trajetória  seu  envolvimento  em  duas 

sedições;  a  Inconfidência  Mineira  (1788-1792)  e  mais  tarde  a  sedição  da  Praça  do  Comércio  (1821).  O 

envolvimento  do  burocrata  em  ambos  os  acontecimentos  traz  consigo  informações  acerca  das 

constantes  e  distintas  mudanças às quais aqueles homens estavam envolvidos, assim como demonstra 

o  curto  espaço  de  experiência  que  eles  tinham  para  absorver  e  assimilar  tais  fatos.  Debater  esses 

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elementos  contribui  positivamente  para  a  compreensão  desse  contexto,  assim como demonstra novas 

nuanças historiográficas a respeito do tema. 

Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Mariana: análise gráfica dos 

números de visitas (1999-2012) 

Júlia Ferreira Matos 

Graduanda em História  

UFOP 

Monalisa Edwiges Nascimento da Silva 

Graduanda em História  

UFOP 

Ainda  em  andamento,  esta  pesquisa  compõe  um  esforço  de  compreensão  da  história  da 

frequência  no  Arquivo  Histórico  da  Câmara  Municipal  de  Mariana  a  partir  da  sistematização  e  análise 

gráfica  das  consultas  realizadas  no  mesmo  entre  os  anos  de  1999  a  2012.  Para  tal,  utilizamos  como 

fontes  os  cadernos  de  frequência  e  relatórios  digitais  disponibilizados  pela  instituição.  Os  dados 

possibilitam  compreender  em  grande  medida  o  alcance  do  Arquivo,  já  que  constam:  a  data,  o nome do 

visitante, instituição, residência/cidade, material consultado, número do registro geral (RG) - a partir de 

2009 - telefone e e-mail. 

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Apesar  do  objetivo  fim  desta  pesquisa  ser  bastante  amplo, inicialmente optamos por trabalhar 

apenas  com  o  número  de  registros  dos  visitantes  Nesse  sentido,  é  necessário  ressaltar  que  a  quantia 

trabalhada  até  então  inclui,  também,  consultas  feitas  por  uma  mesma  pessoa,  em  um  mesmo  dia, 

semana,  mês  e  ano.  Em  outras  palavras, trata-se de uma análise puramente quantitativa, e não procura 

abarcar  de  forma  individual  as  visitas  realizadas  ao  AHCMM.  Além  disso,  é  importante  salientar  que os 

números  analisados  não  abrangem  os  projetos  extensionistas  realizados  no  Arquivo  -  à  exemplo  do 

Arquivo  Aberto, desenvolvido em 2009, e Cidade e Cidadania: 300 anos da Câmara Municipal de Mariana, 

desenvolvido no ano de 2011.  

Dessa  forma,  esta  Comunicação  Livre,  procura,  além  de  apresentar  gráficos  que  relacionam 

ano  e  frequência,  associá-los  à  história da própria instituição e a outros possíveis fatores externos que 

podem ter influenciado no número de pessoas que frequentaram o espaço. 

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Eixo 4: Festas e sedições 

Splendor Caeli:​ o calendário festivo dos Terceiros Carmelitas em Minas 

Gerais - séculos XVIII e XIX 

Leandro Gonçalves de Rezende  

Mestre em História Social da Cultura 

UFMG 

Contrariando  a  proibição  do  estabelecimento  de  clérigos  regulares  nas  Minas,  os  ideais  das 

Ordens  Mendicantes  fizeram-se  presentes  nessa  região,  desde  meados  do  século  XVIII,  quando 

alvoreceram  as  associações  de leigos denominadas Ordens Terceiras. Uma Ordem Terceira constitui-se 

em  uma  associação  de  leigos  católicos,  que,  agregados  sob  a  devoção  de  um  patrono,  se  reúnem  em 

comunhão  espiritual,  fraterna  e social, tendo por referencial uma Ordem Religiosa. Almejam à perfeição 

cristã  praticando  sua  religiosidade  conforme  os  preceitos  de  um  estatuto,  todavia  não  professam  os 

votos  solenes  de  obediência,  castidade  e  pobreza,  típicos  de  ordens  primeiras  e segundas – as Ordens 

Regulares.  Esses sodalícios cultivavam uma espiritualidade depurada e, por conseguinte, apresentavam 

um  repertório  iconográfico  bem  específico,  de  acordo  com  valores  defendidos  por  cada  instituição 

fraternal.  

No  caso  das  Ordens  Terceiras  do  Carmo  mineiras  destacam-se  imagens  e  símbolos  que 

exaltam  a  vivência  contemplativa  carmelitana,  aludindo  a  acontecimentos  históricos,  míticos  e 

místicos,  para  tecer  sua  história  e  transmitir  sua  mensagem  de  fé. O culto à Nossa Senhora do Carmo é 

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antigo  e  nessa  região  tornou-se  uma  devoção  cara  à  sociedade,  compartilhada  por  vários  grupos 

sociais.  O  fruto  eminente  dessa  religiosidade  é  um  importante e rico acervo cultural que representa, de 

forma  significativa,  a  história  da  Ordem,  repleta  de  fatos  lendários  e  fabulosos.  Nessa  oportunidade, 

pretende-se  investigar  a  dinâmica religiosa e devocional que norteou o ideário dos terceiros carmelitas 

nas  Minas  Gerais,  da  segunda  metade  do  século  XVIII  até  meados  do  século  XIX,  a partir do calendário 

festivo  carmelitano,  tendo  em  vista  a  cultura material, artística e escrita desenvolvida nos seis templos 

erigidos  em  honra  a  Nossa  Senhora  do  Carmo,  a  saber:  São  João  Del  Rei,  Mariana,  Ouro  Preto, 

Diamantina, Sabará e Serro. 

Entre Fúrias e Eumênides: Justiça e Vingança nos processos criminais 

de Mariana, Minas Gerais, no século XVIII 

Douglas de Araujo Bernardes 

Graduando em História 

UFOP 

O  projeto  trata  da  relação  entre  a  vingança  e  a  justiça  manifesta  nos  processos  criminais  de 

Mariana  que  foram  abertos e se desenrolaram durante o século XVIII. A aproximação da vingança com a 

justiça  remete  a  um  momento  fundamental  e  mítico  que  está  narrado  na  tragédia  Oréstia,  de  Ésquilo. 

Nesta  obra,  as  Fúrias,  personagens  que  representam  a  vingança,  tornam-se  Eumênides pela influência 

de  Atena.  A  deusa  da  sabedoria, por meio da razão, limita a força punitiva e desregrada que conduzia as 

Fúrias,  transformando-as  em  justiça  (Eumênides).  Assim,  ao  aludir  a  esse  mito  fundamental  em  seu 

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título,  a  investigação  quer  evidenciar  as  relações  íntimas e imemoriais que aproximam e distanciam as 

noções  e  as  ações  da  justiça  e  da  vingança.  Seguindo  estas  considerações,  o  trabalho  se  inclina, 

sobretudo,  ao  conhecimento  e  questionamento  da  formação  do  Estado  moderno baseado na execução 

da  justiça – principalmente nas Minas Gerais do século XVIII, estabelecendo as possíveis relações entre 

a construção do Estado moderno sobre a realidade política, jurídica e social luso-brasileira. 

O  gerenciamento  da  punição  de  um  crime  revela  o  caráter  da  aplicação  da  justiça  oficial  e 

permite  distinguir  ou aproximar a prática judicial como virtude da justa e ponderada punição e as outras 

formas  de  punir,  associada  à  vingança  que  confere  a  cada  qual  o  seu  pelo  preceito  da  violência.  As 

especificidades  regionais  de  Minas  Gerais,  refletidas  através  de  outros  trabalhos,  iluminaram  as 

considerações  acerca  da  administração  da  justiça  em  um  território  amplo  e,  a  priori,  cheio de tensões 

pelo  governo  das  terras.  Além  da consulta dos processos criminais, parte fundamental da investigação, 

que  estão  presentes  no  Arquivo  da  Casa  Setecentista  de  Mariana, outras obras foram exploradas como 

apoio  às  reflexões  propostas,  como  o  "Epilogo  jurídico  "  e  "Pratica  judicial  ",  do  jurisconsulto  Antonio 

Vanguerve  Cabral  que  compõem  as  obras  investigadas  e  permitiram  a  identificação  das aproximações 

entre a justiça e vingança. 

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Eixo 5 : Temática livre 

Morfologia da primitiva vila de Ilhéus (séculos XVI-XVII): análise 

documental e georreferenciamento 

Iuri Andrade Dantas 

Mestrando em História 

UFOP 

Nesta  comunicação  serão  apresentados  os  objetivos,  a  metodologia  e  os  resultados  da 

pesquisa  que  visou  identificar,  descrever  e  analisar  a  configuração  da  morfologia  urbana  da  primeira 

vila  de  São  Jorge  dos  Ilhéus  (a  Vila  Velha),  instalada  no  alto  do  Outeiro  de  São  Sebastião,  e  de  seus 

referenciais  urbanísticos entre os séculos XVI a XVII. Objetivou-se reconstruir o traçado original de suas 

ruas,  assim  como  identificar  e  localizar  seus  principais  edifícios.  Almejou-se,  também, compreender o 

movimento  de  expansão  da  vila  para  a  planície  ao  longo  do  tempo.  Para  a  apreensão  da  gênese  do 

espaço  urbano  da  primeira  vila  de  Ilhéus  considerou-se  que  sua  origem  esteve  vinculada  à  tradição 

urbanística  portuguesa,  na  qual  o  traçado  respeitava os relevos das elevações, tirando proveito deles e 

com  um  foco  principal  nas  linhas  de  cumeadas. Nos topos, eram instalados os edifícios notáveis, como 

a  igreja  matriz,  a  casa  da  câmara,  a  Misericórdia.  O  traçado  dos  quarteirões  também  obedecia  a 

critérios  urbanísticos  de  matriz  medieval ou renascentista, assim como a presença de muralhas, fortins 

e  outros  elementos  de defesa. Fontes textuais e iconográficas forneceram pistas destas configurações, 

assim  como  um  banco  de  dados  das  escrituras  da  vila  de  Ilhéus  do  século  XVIII.  As  informações 

documentais  permitiram a produção de mapas e infográficos com ferramentas de georreferenciamento, 
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de  maneira  que  os  resultados  da  foram  apresentados  em  forma  de  narrativa  textual  e  de  conjunto  de 

mapas conjecturais de diferentes momentos da evolução urbana da antiga vila de Ilhéus. 

O manuscrito de André Álvares Almada: fonte cabo-verdiana para uma   

história do comércio nos Rios da Guiné (século XVI) 

Lucas Aleixo Pires dos Reis 

Graduando em História 

UFMG 

Esta  comunicação  tem  o  intuito  de  discutir  o  contexto  de  produção  dos  relatos  de  viagem 

cabo-verdianos  e  a  utilização  de  tal  tipologia  documental  para  uma  história  do  comércio  nos  Rios  da 

Guiné  no  final  do  século  XVI.  O  arquipélago  de  Cabo  Verde,  na  costa  ocidental  da  África,  foi  um  dos 

primeiros  pontos  de  estabelecimento  permanente  dos portugueses. O primeiro contato de navegadores 

com  o  arquipélago  se  deu  no  ano  de  1456.  Este  logo  se  tornou  um  importante local, funcionando como 

base  de  apoio  ao  comércio  desenvolvido  com  a  região  dos  Rios  da  Guiné,  localizada  na  costa.  O 

estabelecimento  da  União  Ibérica  (1580-1640)  representou  um  empecilho  para  o  pretenso  monopólio 

comercial  português  sobre  o  trato  da  Guiné.  Com  a  união  das  coroas,  o  interesse  sobre  a  região  se 

arrefeceu  e  Cabo  Verde  deixou  de  ter  um  papel  central  como  base  de  apoio,  o  que  impactou 

negativamente  os  moradores  e  a  elite  comercial das ilhas. Com a intenção de demonstrar as vantagens 

comerciais  da  região  e  reconquistar  o  apoio  da  Coroa,  alguns  relatos  foram  produzidos.  Dentre  estes, 

podemos  destacar  o  Tratado  Breve  dos  Rios  da  Guiné  do  Cabo  Verde  do  cabo-verdiano  André  Álvares 

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Almada,  produzido  no  ano de 1594. Morador da cidade portuária de Ribeira Grande, membro da Câmara e 

cavaleiro  da  Ordem  de  Cristo,  Almada  registrou  informações  pertinentes  ao  trato  comercial.  A  análise 

deste  trabalho  recairá  sobre  o  relato  de  viagem  produzido  por  Almada.  As  reflexões  e  conclusões  que 

esta  exposição  procura  levantar  englobam,  em  um  primeiro  momento,  a  análise  do  contexto  de 

produção  da  fonte  e  sua  relação com a construção discursiva apresentada por Almada. Em um segundo 

momento, procura-se estabelecer apontamentos acerca da dinâmica comercial presente na região. 

Contabilidade colonial: as contas correntes da sociedade para muares 

de João Rodrigues de Macedo (1777-1790) 

Cássio de Sá e Cabral 

Mestrando em História 

UFOP 

Esta  comunicação  é  fruto  do  projeto de mestrado apresentado ao Programa de Pós-graduação 

em  História  da  Universidade  Federal  de  Ouro  Preto  (PPGHIS-UFOP)  -  com  ingresso  em março de 2018 – 

que  foi  reformulado,  apresentado  e  aprovado  pela  banca  no  exame  de  qualificação ocorrido em março 

deste  ano.  Trata-se,  portando,  de  uma  pesquisa  em  andamento  com  prazo  de  conclusão  até  junho  de 

2020. 

O  objeto  da  pesquisa  é  a  figura  do  contratador  de  tributos  e  comerciante,  João  Rodrigues  de 

Macedo,  homem  de  grande  destaque  econômico,  social  e  político  na  capitania  de  Minas  Gerais  nas 

décadas  finais  do  século  XVIII.  Inicialmente,  tratar-se-ia  da  sua  atuação  como  contratador de tributos 

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da  Coroa  portuguesa,  no  entanto,  o  avanço  no  conhecimento  das fontes levou a uma mudança de foco. 

Desde  o exame de qualificação, ficou definido a pesquisa da participação de João Rodrigues de Macedo 

na compra, transporte e venda de muares e cavalos na dita capitania. 

Pretende-se elucidar qual a participação de João Rodrigues de Macedo no comércio de muares 

na  capitania  de  Minas  Gerais  no final do setecentos. Para isso, fez-se a transcrição e sistematização da 

conta  corrente  da  sociedade de Macedo com Antônio Teixeira Pena, disponível em microfilme no Centro 

de  Estudos  do  Ciclo  do  Ouro  da  Casa  dos  Contos  de  Ouro  Preto.  A  partir  deste  detalhado  documento 

contábil é possível identificar os vendedores, os compradores, os tipos de animais e os preços. 

Com  este  fundo  documental,  associado  a  outras  fontes  contábeis  e  correspondências,  é 

possível  identificar  as  origens  dos  animais  transacionados  e  seus  transportadores,  para,  ao  final, 

elucidar  o  objetivo  central  da  pesquisa,  que  é  de  grande  relevância  historiográfica  por  seu  impacto 

econômico, uma vez, que por meio de animais, como muares e cavalos, se fazia a logística colonial. 

Projetos divergentes e inimigos comuns: o debate político entre 

Bernardo Pereira de Vasconcelos e Marquês de Baependi 

Daiane de Souza Alves 

Doutoranda em História 

UFOP 

A  emancipação  política  do  Brasil  em  1822,  com  a  constituição  de um corpo político autônomo, 

revelou  em  seus  amálgamas  diversos  projetos  de  construção  para  o  Estado  que  se  formava.  Esta 
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apresentação  dedica-se  a  compreender  a  consolidação  da  Fazenda  Pública  imperial  em  meio  a  esses 

projetos  que  possibilitaram  a  maior  organização  das  finanças  e  que  fomentaram,  para  isso,  a 

preocupação  com  legislações  específicas  para  a  administração  financeira.  Das  propostas  sobre  a 

fiscalidade  defendidas  pelos  diversos  segmentos  políticos  durante  o  Primeiro  Reinado  atemo-nos  a 

duas  que  consideramos  fundamentais:  a  primeira,  conduzida  pelo  ministro  da  fazenda  Manuel  Jacinto 

Nogueira  da  Gama  defendia  um  modelo  de  organização  fiscal  que  presasse  pela  unidade  territorial  e 

administrativa  e,  consequentemente,  por  uma  maior  centralização  do  controle fiscal no Rio de Janeiro. 

A  segunda,  na  qual  destacou-se  a  figura  de  Bernardo  Pereira de Vasconcelos, representava os anseios 

da  elite  liberal  moderada,  se preocupava com a uniformização do aparelho fazendário e com uma maior 

autonomia para administração fazendária provincial.  

O  espaço  para  discussões  mais  específicas  sobre  a  organização  e  reestruturação  do  Estado 

vão  ocorrer  apenas  com  abertura  dos  trabalhos  legislativos  em  1826,  em  que  a oposição ao Imperador 

fortaleceu-se  e  propôs  pautas  específicas  para  questões  econômicas.  Os  liberais  vão  assumir 

centralidade  ao  longo  das  sessões  da  Câmara  dos  Deputados,  consolidar-se e possibilitar importantes 

debates  sobre  as  matérias  financeiras,  que  proporcionaram  a  implementação  de  legislações 

fundamentais para o Império do Brasil.  

Os  debates  proporcionados  pela  atmosfera  legislativa  extrapolaram  esse  ambiente, 

constituindo-se  de  forma  orgânica  nos  jornais  da  época,  essencialmente  O  Universal  da  província  de 

Minas  Gerais  editado  por  Bernardo  Pereira  de Vasconcelos e no Diário Fluminense editado na cidade do 

Rio  de  Janeiro  onde  foram  publicadas  uma  série  de  defesas  por  parte  de  Manoel  Jacinto  Nogueira  da 

Gama.  Ambos  os  estadistas  representavam,  em  alguma  medida,  grupos  proeminentes  na  política 

imperial.  Nossa  análise  nos  levou  a  colocá-los  em  lados  opostos,  na  medida  em  que  defendiam 

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interesses  de  grupos  distintos.  Manoel  Jacinto  Nogueira  da  Gama  –  Marquês  de  Baependi,  importante 

membro  da  política joanina havia estabelecido uma aliança com o Imperador d. Pedro I ainda em 1822; e 

Bernardo  Pereira  de  Vasconcelos  por  ter  se  destacado  como  um  dos  principais  líderes  dos  liberais 

moderados na Câmara dos Deputados. 

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Artigos completos – Comunicações Livres 

Morfologia da primitiva vila de Ilhéus (séculos XVI-XVII): análise 

documental e  georreferenciamento 

Iuri Dantas da Silva Andrade  

Mestrando em História  

UFOP 

Resumo 

Nesta  comunicação  serão  apresentados  os  objetivos,  a  metodologia  e  os  resultados  da   pesquisa  que 

visou  identificar,  descrever  e  analisar  a  configuração  da  morfologia  urbana  da   primeira  vila  de  São 

Jorge  dos  Ilhéus  (a  Vila  Velha),  instalada  no  alto  do  Outeiro  de  São   Sebastião,  e  de  seus  referenciais 

urbanísticos  entre  os séculos XVI a XVII. Objetivou-se  reconstruir o traçado original de suas ruas, assim 

como  identificar  e  localizar  seus  principais   edifícios.  Almejou-se,  também,  compreender o movimento 

de  expansão  da  vila  para  a   planície  ao  longo  do  tempo.  Para a apreensão da gênese do espaço urbano 

da  primeira  vila   de  Ilhéus  considerou-se  que  sua  origem  esteve  vinculada  à  tradição  urbanística 

portuguesa,   na  qual  o  traçado  respeitava  os  relevos  das  elevações,  tirando  proveito  deles  e  com  um 

foco   principal  nas  linhas  de cumeadas. Nos topos, eram instalados os edifícios notáveis, como a  igreja 

matriz,  a  casa  da  câmara,  a  Misericórdia.  O  traçado  dos  quarteirões  também  obedecia   a  critérios 

urbanísticos  de  matriz  medieval ou renascentista, assim como a presença de  muralhas, fortins e outros 

elementos  de  defesa.  Fontes  textuais  e  iconográficas  forneceram  pistas  destas  configurações,  assim 

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como  um  banco  de  dados  das  escrituras da vila de Ilhéus  do século XVIII. As informações documentais 

permitiram  a  produção  de  mapas  e   infográficos  com  ferramentas de georreferenciamento, de maneira 

que  os  resultados  da   foram  apresentados  em  forma  de  narrativa  textual  e  de  conjunto  de  mapas 

conjecturais de  diferentes momentos da evolução urbana da antiga vila de Ilhéus.  

Palavras-chave: ​Morfologia urbana, traçado original, georreferenciamento  

Este  trabalho  tem  por  objeto  a  antiga  vila  de  São  Jorge  dos  Ilhéus,  atual  bairro  de  São  

Sebastião.  Ao  considerar  os  saberes  que  configuram  as  culturas  territoriais  que  orientaram   suas 

formas  entre  os  séculos  XVI  e  XVII,  bem  como  ao  analisar  os  modelos  e  os  modos de  urbanização, ou 

seja,  o  urbanismo  de  matriz  lusa  e  suas  manifestações  na  primeira  rede   urbana  que  se  configurou no 

litoral  brasileiro,  pretendeu  analisar  as  expressões  destes  saberes   na  formação da morfologia urbana 

de  Ilhéus,  desde  o  ato  original  da escolha do sítio, até a  configuração de uma tessitura urbana durante 

o século XVII, considerando a extrema  

importância  da  articulação  entre  o  urbano  e  o  rural  como  elementos  estruturantes  e  decisivos   deste 

processo.  

Sabe-se  que o donatário da capitania de São Jorge dos Ilhéus, Jorge de Figueiredo Correia,  fidalgo, 

escrivão  da  Fazenda  e  historiador  da  Casa  Real,  nunca  esteve  nas  terras  doadas  pelo   rei  D.  João  III. 

Enviou  em  seu nome o castelhano Francisco Romero e deu a ele amplos  poderes para explorar e povoar 

os  novos  domínios.  Na  versão  “oficial”  sobre  a fundação de  Ilhéus, Francisco Romero teria chegado ao 

Morro  de  São  Paulo,  na  Ilha  de  Tinharé,  no  início   do  ano  de  1536,  onde  postulava  instalar  a  sede  da 

capitania, batizando-a com o nome de São  Jorge, em honra ao nome do santo do proprietário​1​.  

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Contudo,  uma  nova  inspeção  da  costa  do  continente  indicaria  um  lugar  mais   apropriado para 

fixação  permanente  da  vila,  no  atual  Outeiro  de  São  Sebastião,  no  chamado   sítio  dos  Ilhéus, 

denominação  que  fazia  referência  às  três  pequenas  ilhas  situadas  defronte  à   enseada,  próximo  à  foz 

dos  rios  que compõem a baía do Pontal​2​. Esta versão, cristalizada na  memória local, ampara-se, porém, 

em  bases  muito frágeis, como já apontara Silva Campos  nas suas “Crônicas”, nos anos de 1930. A única 

fonte  primária  desta  versão  consiste  no   Tratado  de  Gabriel  Soares  de  Sousa,  escrito  cinquenta  anos 

depois da chegada de Romero.   

Não  parece aceitável a ideia de que os navegadores que chegaram com o locotenente do  donatário 

desconhecessem  aquela  faixa  do  litoral,  uma  vez  que,  o  próprio  donatário,  pela  sua   função  de 

escriturar  todas  as  cargas  advindas  do  além-mar,  certamente  conhecia,  detalhes   sobre  as 

características  do  território,  dos  recursos  naturais  e  das  gentes  das  novas  conquistas.   Não  se 

caracteriza  como  coincidência,  portanto,  o  fato  de  ter  escolhido  um  quinhão  repleto   de  matas  de 

ocorrência  de  pau-brasil,  índios  Tupiniquim  mais  dispostos  a negociar a  cooperação com os europeus 

e  condições  naturais  (hidrografia,  topografia,  fertilidade  da  terra   etc.)  propícias  para  a  instalação  de 

sua  capitania​3​.  Assim,  conhecido  o  potencial  do  sítio  dos   Ilhéus  para  o  projeto  colonial  em  curso,  a 

escolha do lugar para a instalação da vila levou em  conta a necessidade de defesa.   

Localizado  em  uma  elevação  costeira,  à  margem  esquerda  do  estuário  constituído  pelos   rios 

Cachoeira,  Fundão  e  Santana,  o  Outeiro  de  São  Sebastião  configurava-se  em  local   protegido 

naturalmente,  tendo  na  contiguidade  da  planície  os  elementos  naturais  necessários   às  operações 

econômicas  que  dariam  o  sentido da empresa colonial. Formava-se, assim, o  modelo de “cidade alta – 

cidade baixa”, bem característico nas primeiras vilas e cidades  coloniais portuguesas.  

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A  partir  da  implementação,  o  insipiente  local  foi  tomando  forma  de  vila,  acompanhando   as 

necessidades de seus moradores. Naturalmente, as ruas começaram a surgir em uma  

espécie  de  traçado,  ligando  pontos  importantes  da  vila  através  da  linha  de  cumeada,  a  linha   natural 

que,  no  caso  do  Outeiro  de  São  Sebastião,  relacionava  os  dois  pontos  mais  elevados   do  morro.  Esse 

tipo  de  padrão  urbanísticos,  pensado  no  sítio  e  com  o  sítio,  atende  às   características  físicas  do 

território,  tirando  partido  e  se  construindo  com  ele,  adaptando  o  traçado à topografia ou à hidrografia, 

acomodando o terreno para um maior aproveitamento  funcional, formal ou simbólico​4​.  

Os  primeiros  lotes  na  parte  alta  da  vila  tiveram  suas  medidas,  dimensões  e  proporções  

condicionadas  às  circunstâncias  da  topografia.  As  estruturas  do  quarteirão  e  do  loteamento  

correspondiam  ao tipo luso medieval apontado por Manuel Teixeira​5​. A frente do lote, onde  se construía 

a  casa,  dava  para uma rua principal, no caso em foco, a atual rua Moniz Sodré,  enquanto a parte de trás 

do  quarteirão  dava  acesso  a  um  caminho de serviço, secundário, o  que nos remete ao traçado da atual 

rua Nossa Senhora de Lourdes.   

Seu  traçado  acompanha  a  topografia  do  morro,  indicando o provável limite da ocupação  urbana, a 

desenhar  o  recorte  das  linhas  de  defesa  que  se  completavam  com  muralhas  e   paliçadas,  como  foi 

regra  nas  primeiras  cidades  coloniais  brasileiras.  Nesse  tipo  de  modelo,   os  lotes  estavam  dispostos 

paralelamente,  de  forma  estreita  e  comprida.  Consequentemente,   as  ruas  transversais  foram  se 

formando,  dando  acesso  à  rua  principal  (a  exemplo  da  atual   travessa  de  Nossa  Senhora  de  Lourdes), 

formando o primeiro quarteirão da vila.  

Gândavo​6​dá  uma  informação  proveitosa  sobre  aspectos  gerais  da  vila  no  século  XVI:   diz  que  era 

“muito  formosa,  e  de  muitos vizinhos” e que estava “em cima de uma ladeira à  vista do mar, situada ao 

longo  de  um  rio  onde  entram  os  navios”.  Atualmente  tal  ladeira   ainda  pode  ser  identificada  como  a 

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“ladeira  da  frente”  (rua  Nossa  Senhora  de  Lourdes)  a  qual   antigamente  fazia  ligação  com  a  rua 

Fernando Leite Mendes, saindo atrás da extinta capela  de São Sebastião, na parte baixa da cidade.  

Os acidentes naturais, os limites e a exiguidade do sítio de Ilhéus, onde a vila foi instalada,  também 

podem  ter  contribuído  para  se  pensar  melhor  na  localização  das  edificações,  uma  vez que os espaços 

dos  centros  urbanos  antigos  eram  insuficientes e incongruentes​7​. De  acordo com o modelo urbanístico 

português,  as  linhas  naturais  e  os  pontos  fulcrais  do   território  serviam  de  lugares  para  a 

implementação  das  principais  funções  institucionais  da   cidade,  assumindo  um  caráter  de  poder 

simbólico e estruturante.   

A  hierarquização  do  espaço  urbano  –  no  traçado  urbano  de  origem  vernácula  ou  no   traçado  urbano 

erudito  –,  sempre  reservou os cumes vistosos para os edifícios notáveis (igrejas, câmaras, conventos), 

os  quais  demandavam  maior  apuro  arquitetônico  do  que  o   usual,  servindo,  também,  como  elementos 

de referência basilar para o desenvolvimento da  

malha  urbana.​8  ​Na vila de Ilhéus, nos séculos XVI e XVII, os edifícios notáveis também  foram essenciais 

para  a  consolidação  da  hierarquia  urbana.  A  primitiva  Igreja  Matriz, no alto  do morro, já dava o caráter 

do  poderio  simbólico  que  deveria  ser  empregado.  Nas  cartas  do   padre  Anchieta,  se vê o empenho dos 

jesuítas  em  ensinar  os  meninos  portugueses  a  ler  e   escrever  e  em  pregar  na  igreja  matriz.​9  ​Assim,  a 

partir  do  modelo  de  urbanização,  tendo  a   topografia  como  aspecto  dominante  que  irá  influenciar  o 

traçado  da  vila,  é  provável  que  a   Primitiva  Igreja  Matriz  e  o  cemitério  ocupassem  o  patamar  mais 

elevado  do  Outeiro,  ou  seja,   estariam  próximos  à  junção  das  atuais ruas Moniz Sodré e Nossa Senhora 

de Lourdes.  

Com  a  gradual  deterioração  da  igreja  ao  longo  dos  anos,  além  do  contínuo  abandono  da   “vila 

velha”  no  decorrer  do  século  XVII,  os  oficiais  decidiram  desmanchá-la  para  fazer  em   lugar  mais 

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conveniente​10  ​ou  seja,  na  parte  baixa  da  vila,  uma  vez  que  ela  representaria  o   acompanhamento  da 

evolução urbana. No entanto, uma escritura do notariado da vila de  

Ilhéus atesta que o edifício da matriz velha ainda estava de pé na primeira década do século  XVIII.​11​  

A  Santa Casa de Misericórdia também aparece como edifício singular do período colonial  da vila de 

Ilhéus.  Em  1546,  o  donatário da capitania da Bahia, Francisco Pereira Coutinho, esteve na vila de Ilhéus, 

tendo  sua  família  sido  recolhida  no  já  existente  hospital​12​.  A  Santa   Casa  de  Misericórdia  também 

aparece  nos  relatos  do  padre  Simão  de  Vasconcelos  como   sendo  feita  de  grande  cedro  que  sozinho 

possibilitou a construção de um novo edifício.​13​  

Considerando  a  topografia  do  Outeiro  de  São  Sebastião  e  os  exemplos  das morfologias de  outras vilas 

coloniais, como a de Porto Seguro, da qual ainda se conserva o sítio colonial, a  hipótese que nos parece 

mais  provável  é  de  que  a  Santa  Casa  de  Misericórdia  tenha  sido   elevada  no  patamar  mais  baixo  do 

Outeiro,  na  junção  da  rua  Teresa  Cristina com a atual rua  Fernando Leite Mendes, fazendo frente para o 

largo e, posteriormente, à capela de São  Sebastião.   

Sobre  a  casa  da  câmara  e cadeia há poucos relatos de seus primórdios. Sabe-se que o  vigário Luiz 

Soares  de  Araújo,  na  relação  das  povoações,  lugares,  rios  e  distâncias  da   Freguesia  da  Invenção  de 

Santa  Cruz  da  Vila  dos  Ilhéus,  em  1757,  indicou  uma  “rua  da   cadeya”.​14 ​Luiz dos Santos Vilhena, por sua 

vez,  disse  que,  no  século  XVI,  havia  na  vila  “boas   Casas  de  Câmara  e  Misericórdia”.​15  ​Com  base  nos 

estudos  morfológicos  de  cidades  coloniais   brasileiras,  e  seguindo  o  sentido  das  demais  edificações 

(igreja  Matriz  e  igreja  da   Misericórdia),  sugerimos  que  a  Cadeia  se  encontrava  onde  hoje se localiza a 

Praça  do  Cadete.   Topograficamente,  aquele  local  se  configura  como  um intermédio natural para quem 

sobe a  ladeira, vindo da vila baixa. Também se adequava a função de feira, por onde tudo que subia  

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tinha  que  passar.  Assim,  a Santa Casa de Misericórdia (no patamar menos elevado), a casa de  cadeia e 

câmara  (na  parte  intermediária)  e  a  primitiva  Igreja  Matriz  (no  patamar  mais  elevado),   formariam  os 

primeiros  edifícios  a  reproduzirem  a  gênese  do  urbanismo  lusitano  na  vila  de   Ilhéus:  cadeia,  igreja 

Matriz  e  Santa  Casa  de  Misericórdia  normalmente  despontaram  nos   primeiros  núcleos  urbanos  do 

Brasil.  

Salienta-se  –  ainda  sobre  o  século  XVI  – a pertinência dos aspectos defensivos ou  militares, visto 

que  era  importantíssimo  que  os  portugueses  resguardassem seus territórios  por conta dos ataques de 

nações  rivais  europeias  ou  dos  povos  nativos.​16  ​O  fator  defesa  foi   colocado  à  prova  na  invasão  dos 

huguenotes  franceses  à  vila,  em  1595,  e  no  ataque  holandês,  em  1637.​17 ​As narrativas desses episódios 

também  revelam  a  presença  de  muralhas  ou   paliçadas  resguardando  a  vila  alta,  assim  como  de  uma 

porta principal que, tudo indica,  deveria se localizar na subida da ladeira da frente.   

É  necessário,  também,  pontuar  o  processo  de  expansão  para  a  planície  e  mostrar  como   esse 

crescimento  afetou  a  morfologia  da  vila  durante  os  séculos  XVI  e  XVII.  As   características  da  planície 

faziam  parte  do  modelo  urbanístico  português.  Nesse  território  as   funções  portuárias  e comerciais se 

fomentaram,  bem  como  a  necessidade  de  defesa  que  se   apresentava  através  das  trincheiras  e  dos 

fortins.   

A  segunda  metade do século XVI é compreendida como um período importante para a  economia da 

vila,  uma  vez  que  a  produção  de  açúcar  atinge  seu  auge.  Por  conta  dessa   pertinência  comercial,  a 

alfândega  foi  construída  nas  imediações  da  atual  rua  Marquês  de   Paranaguá,  antiga  Rua  do  Porto. 

Localizada  na  desembocadura  dos  rios  que  confluem  para   a  baía  do  Pontal,  a  alfândega  também 

recebia  pau-brasil  que  já  despontava  no  século  XVII   como  o  “principal  artigo  econômico  para  a 

população  da vila de São Jorge, depois da  estagnação da produção açucareira”.​18 ​De lá, as mercadorias 

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seguiam  por  terra,  ou  seja, por  dentro da vila, até o desembarcadouro do Tambepe, o porto marítimo da 

Vila,  localizado  no   mesmo  local  onde  foi  instalado  o  atual  porto  do  Malhado,  para,  então,  serem 

exportadas.  

Dentre  as  marcações  presentes  no  mapa  de  João Teixeira de Albernaz, uma aponta o  caminho que 

vai  da  vila  até  o  desembarcadouro do Tambepe.​19 ​O caminho, que partia das  portas da vila alta, atingia a 

praia  aproximadamente  onde  hoje  se  localiza  a  Praça  Castro   Alves.  Esse  caminho  até  hoje  se  faz 

presente  no  arruamento  do  centro da cidade: trata-se da  rua Dom Valfred Tepe e sua continuação rumo 

ao  Outeiro,  ou  seja,  a  rua  General  Câmara.   O  seu  formato  arqueado  em  direção  à  Praça  Castro  Alves, 

pode  explicitar  uma  necessidade   colonial  de  contornar  as  restingas  alagadas  ou os brejos em direção 

ao antigo  desembarcadouro. 

Uma  construção  também  aparece  no  referido  mapa  de  Albernaz,  trata-se  da  Igreja  de   Nossa 

Senhora  da  Vitória.  No  século  XVI,  uma  igreja  existia  sob  o  nome  de  Nossa  Senhora   das  Neves  e  se 

localizava  aos  pés  do  atual alto do Teresópolis, no final de uma rua então  chamada de São Bento. Ainda 

no  século  XVI,  em  um  segundo  momento,  na  conjuntura das  lutas contra os nativos aimorés, a igreja já 

havia  servido  como  local  de  refúgio  e  proteção​20​,   mas  agora,  no  alto  do  morro. A igreja também serviu 

de  acolhimento,  inclusive,  no  ataque  dos huguenotes franceses no fim do século XVI. Percebe-se que a 

localização  da  igreja  de   Nossa  Senhora  da  Vitória  remete  ao  caráter  de  dominação  religiosa  trazida 

pelos  colonos,   bem  como  se  firma  como  ponto  de  delimitação  do  crescimento  da  vila  de  São  Jorge, 

conforme o modelo de urbanização portuguesa.  

A  posição  da  igreja de São Sebastião e da praça Dom Eduardo, por sua vez, indicam um  papel muito 

interessante  para  a  estrutura  da  vila.  A  igreja  foi  citada  no  século  XVII  por   Gaspar  Barléu,  quando  da 

invasão  holandesa  na  vila  de  São  Jorge,  e  incluída  nos  quatro   templos  que  existiam  na  vila  à  época.​21 

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Barléu  também  diz  que,  à  época  da  invasão, os  holandeses investiram contra trincheiras. Agostinho de 

Santa Maria diz que a ermida de São  Sebastião se encontrava “extramuros da povoação”.​22​  

A  disposição  de  uma  trincheira,  por  sua vez, dá maiores indícios sobre a funcionalidade  do espaço 

da  vila. Quando os holandeses invadiram a vila de São Jorge depararam-se com  uma trincheira próxima 

ao  desembarcadouro  do  Tambepe,  como  atestam  os  escritos de  Diogo de Campos Moreno​23 ​e o próprio 

Barléu​24​.  Um  mapa  francês,  do  início  do  século   XIX,  também  evidencia  a  existência  de  trincheiras  na 

praia,  na  contiguidade  da  Pedra  Grande,   no  atual  porto  do  Malhado.​25  ​Foi  Diogo  de  Campos  Moreno, 

também,  que  ordenou  que  se   fizesse  uma  trincheira  “de  mar  a  mar”,  próximo  ao  Outeiro  de  São 

Sebastião,  com  capacidade   para  recolher  igrejas,  gados  e  tudo  mais,  contra  as investidas dos gentios 

no  início  do  século   XVII.  26​   ​Contudo,  essa  outra  trincheira  não  foi  feita,  mas  a  intenção  da  sua 

construção   indicou  a  necessidade  de  proteção  da  parte  alta  da  vila,  da  igreja  de  São  Sebastião,  bem 

como  do espaço em que se desenvolvia o comércio.  

Gândavo​27  ​e  Gabriel  Soares  de  Sousa​28  ​demonstram  que  desde  a  segunda  metade do  século XVI os 

jesuítas  já  estavam  presentes  na  vila.  Talvez  os  jesuítas  tenham  sido  os   precursores  da  instalação de 

edifícios  na  parte  baixa  da  vila,  o  que  não  seria  estranho,  uma   vez  que  representavam  um  relevante 

poder  político  e  religioso.  É  ponderável,  portanto,  que   em  um primeiro momento os jesuítas tenham se 

instalado  no  alto  do  Outeiro  de  São   Sebastião,  onde  se  localizava  a  Cadeia  e,  após  a  pacificação  dos 

indígenas no início do século  

XVII, tenham descido para a parte baixa da vila​29​, onde permanecerem até a expulsão da vila  em 1760 no 

contexto das reformas pombalinas.   

Monges  beneditinos  também  edificaram  um  mosteiro  na  vila  de  Ilhéus.  Foi  permitida  à   Ordem 

Beneditina  enviar  monges  ao  Brasil  em  1575  e,  em  1584,  o  Mosteiro  de  Salvador  já   aparecia  nas  atas 

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monásticas​30​.  Gabriel  Soares  de  Sousa​31  ​assevera  sobre  a  construção  do   mosteiro  dos  beneditinos  na 

vila  de  Ilhéus  e,  num  manuscrito  de  Antônio  Simões  para  Dom   João  de  Castro,  de  6  de  dezembro  de 

1626,  se  diz  que:  “tem  Esta  vila  Em  si os padres da  Companhia teve os de são bento que despejarão con 

a  gerra”​32​.  O  manuscrito  ainda  diz  que   “cazas  de  morada  na  vila  Podemse  fazer  no  sitio  que  foi  dos 

padre  de  sam bemto com seu  quintal serrado onde ficara Comfonte dentro E aguoa de mare Pera fazer E 

conservar  ho   tamque  de  pei  xe  vesinho  aos  Padres  da Companhia”​33​. A construção do mosteiro deu-se 

em   torno  das  décadas  de  80  e  90  do  século  XVI  e  se  chamava  Casa  do  Espírito  Santo  da   Capitania de 

Ilhéus.​34​  

Vê-se  que  os  ataques  dos  aimorés contribuíram para que os beneditinos se apartassem  da vila – o 

que  teria  acontecido  no  início do século XVII – sem deixar nenhum vestígio  material que confirmasse a 

localização  do  mosteiro.  Acredita-se,  porém,  que  o  mosteiro  se   localizava  na  subida  da  ladeira  da 

Vitória  (talvez  onde  se  encontrava  a  antiga  igreja  de  Nossa   Senhora  das  Neves)  o  que  possibilitaria  o 

quintal.  

A  vinculação  entre  parte  alta  e  parte  baixa,  portanto,  não parece proceder de mera  causalidade. A 

parte  baixa  possuía  uma  finalidade  comercial  representada  pelo  porto e sua  alfândega e também pelo 

desembarcadouro  do  Tambepe,  e  já  mostrava  sinais  de  expansão  com a descida dos jesuítas para sua 

nova  residência  (onde  fica  atualmente  o  Palácio  de  Paranaguá no centro da cidade). A igreja de Nossa 

Senhora  das  Neves,  também,  já  demarcava   os  limites  da vila, antes mesmo da construção da Igreja de 

Nossa  Senhora  da  Vitória  no  alto   do Teresópolis, e a presença do mosteiro dos beneditinos só ratificou 

as possibilidades de  crescimento da vila.  

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43
 

NOTAS  

BARROS,  F.  B.  ​Memória  sobre  o  município  de  Ilhéus.  ​2.  ed.  Ilhéus:  Prefeitura  
1​

Municipal de Ilhéus, 1981, p. 49.  


2  ​
CAMPOS,  J.  S.  ​Crônica  da  Capitania  de  São  Jorge  dos  Ilhéus​.  Editus:  Ilhéus,  3.ed.,  

2006, p. 35.  
3​
DIAS,  M. H. O pau-brasil na Bahia colonial: zonas de ocorrência, condições de  exploração e impactos 

ambientais.  In:  CABRAL,  Diogo  de  Carvalho;  BUSTAMANTE,   Ana  Goulart.  ​Metamorfoses 

florestais​: culturas, ecologias e as transformações históricas  da Mata Atlântica. Curitiba: Prismas, 

2016, p. 156. 
4  ​
TEIXEIRA,  M.  C.  ​A  forma  da  cidade  de  origem  portuguesa​.  São  Paulo,  Editora  

Unesp, 2012, p. 14.  


5​
Ibidem, p. 87.  
6  ​
GÂNDAVO,  P.  de  M.  ​Tratado  da  Terra  do  Brasil  (1576)​:  história  da província Santa  Cruz, a 

que vulgarmente chamamos Brasil. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial,  2008, p. 102.  
7  ​
REIS  FILHO,  N.  G.  ​Contribuição  ao  estudo  da  evolução  urbana do Brasil (1500- 

1720)​. São Paulo: Pioneira, 1968, p. 117.  


8​
TEIXEIRA, op. cit., p. 69-72.  
9  ​
ANCHIETA,  J.  ​Cartas​:  informações,  fragmentos  históricos  e  sermões  do  Padre  José  de   Anchieta 

(1554-1594). Rio de Janeiro: Oficina Industrial Gráfica, 1933, p. 416. 10​ BARROS,

op. cit. p. 42.  
11  ​
Livros  de  notas  da  vila  de  Ilhéus,  1703-1824,  números  1-7,  Arquivo  Público  do  Estado  ​ ​da  Bahia 

(APEB),  Seção  Judiciário.  Acessado  a  partir  do  ​Banco  de  Dados  de  Escrituras  ​ d​ o 

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44
 

Notariado  da  Vila  de  Ilhéus  (séculos  XVIII  e  XIX)​.  Disponível  em: 

 ​https://suportenepabuesc.wixsite.com/nepab. Acesso em: 30 jul. 2019.​ ​12 CAMPOS,



op. cit., p. 106.  
13  ​
VASCONCELOS,  S.  ​Chronica  da  Companhia de Jesus do Estado do Brasil (1663)  ​– 

Volume II. A. J. Fernandes Lopes: Lisboa, 1865, p. 31.  


14  ​
ACCIOLI,  I.  ​Memórias  históricas  e  políticas  da  província  da  Bahia​.  Anotações  de  

Braz  do  Amaral.  ed.  of.  Do  Estado  da  Bahia,  Volume V, 1937, p. 376-377. 15​  ​VILHENA, L. S. ​A Bahia no 

Século XVIII​. Salvador: Itapuã, 1969. v.2, p. 492. 16​ ​REIS FILHO, op. cit., p. 166.  
17 ​
CAMPOS, op. cit., p. 178.  
18  ​
DIAS,  M.  H.  ​Economia,  Sociedade  e  Paisagens  da  Capitania  e  Comarca  de 

Ilhéus   no  Período  Colonial​.  2​ 007.  424 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal  

Fluminense, Niterói. 2007, p. 142.  


19  ​
ALBERNAZ,  J.  T.  ​Livro  em  que  se mostra a descripçao de toda a costa do Estado  

do  Brasil  e  seus  portos,  barras  e  sondas  delas​.  L​ isboa,  1627,  fls.  46.  Disponível  em:  < 

http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b55002487b/f1.item>.  Acesso  em:  30  jul.  2019, f. 24. 20​  ​JABOATÃO, 

F.A.  S.  M.  ​Novo  orbe  serafico  brasilico  ou  chronica  dos  frades   menores  da 

Provincia  do Brasil (1761)​. ​Rio de Janeiro, 1858, p. 88-89. 21​  ​BARLÉU, G. ​Historia dos feitos 

recentemente  praticados  durante  oito  anos  no   Brasil  (1647)​.  Rio  de  Janeiro: 

Serviço Gráfico do Ministério da Educação, 1940, p. 55. 22​ ​CAMPOS, op. cit. p. 210.  
23  ​
MORENO,  D.  C.  ​Livro  que  dá  razão  do  Estado  do  Brasil  (1612).  ​Recife:  Arquivo  

Público Estadual, 1955, p. 135.  


24 ​
BARLÉU, op. cit.  

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45
 
25  ​
MOUCHEZ,  E.  A.  B.  (1821-1892).  ​Plan  Du  Mouvillage  des  Ilhéos  ​[Cartográfico].   Biblioteca 

Nacional  Digital,  Crt  525802,  [S.l:  s.n],  1859.  Disponível  em:  

http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart525802/cart525802.j  p. 

Acesso em: 30 jul. 2019.  


26  ​
RIHGB,  IV  Congresso  de  História  Nacional,  Tomo  11  (1951)  –  ​Inspeções  do  capitão   e 

sargento-mor  Diogo  de  Campos  Moreno  e  aventuras  do  pau-brasil  em  Ilhéus 

(com   4  documentos).  Comunicação  apresentada  no  IV  Congresso  de  História  Nacional​,  p​ or   Eduardo 

Dias, p. 15-16.  
27 ​
GÂNDAVO, op. cit. p. 39.  
28  ​
SOUSA,  G.  S.  ​Tratado  descritivo  do  Brasil  em  1587​.  Rio  de  Janeiro:  Typographia  

Universal de Laemmert, 1851, p. 56-57. 


29  ​
CARRARA,  A.;  MORALES,  W.  F.;  DIAS,  M.  H.  (Orgs.).  ​Paisagens  e​  

Georreferenciamento​:  História  Agrária  e  Arqueologia.  São  Paulo/Ilhéus: 

 A​nnablume/NEPAB/UESC, 2015, p. 72-73.​  


30  ​
DIAS,  G.  J.  A.  C.  ​Quando  os  Monges  Eram  uma  Civilização...  Beneditinos​:  

Espírito,  Alma  e  Corpo.  ​Porto:  CITCEM/Edições  Afrontamento,  2012,  p.  232-236.  31​   ​SOUSA,  op. 

cit.  
32  ​
RIHGB,  volume  110  (2015)  –  ​A  Capitania  de  Ilhéus  em  um  manuscrito  de  1626​,  ​por  

Pablo Antonio Iglesias Magalhães e Rosara Durval Lopes de Brito, p. 68. ​33 ​Ibidem, p. 72-73.  
34 ​
DIAS, op. cit., p. 237.  

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46
 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  

Documento manuscrito:  

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Seção  Judiciário.  Acessado  a  partir  do  ​Banco  de  Dados  de  Escrituras  do ​ N
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Vila  de  Ilhéus  (séculos  XVIII  e  XIX)​.  Disponível  em: 

 ​<https://suportenepabuesc.wixsite.com/nepab>. Acesso em: 30 jul. 2019.​  

Documentos cartográficos:  

Biblioteca Digital Nacional da França  

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http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b55002487b/f1.item>. Acesso em: 30 jul. 2019, f. 24.  

Biblioteca Digital Luso-Brasileira  

MOUCHEZ,  E.  Amédée  Barthélemy.  ​Plan  du  mouillage  des  Ilhéos​.  1859.  Disponível   em: 

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Documentos publicados:  

RIHGB, IV Congresso de História Nacional, Tomo 11 (1951)​  

ISSN 2595-8941 Seminário da Oficina de Paleografia 


47
 

–  ​Inspeções  do  capitão  e sargento-mor Diogo de Campos Moreno e aventuras 

do   pau-brasil  em  Ilhéus  (com  4  documentos)​.  Comunicação  apresentada  no  IV 

Congresso  de História Nacional​, p​ or Eduardo Dias, p. 10-24.  

RIHGB, volume 110 (2015)​  

–  ​A  Capitania  de  Ilhéus  em  um manuscrito de 1626​, ​por Pablo Antonio Iglesias  

Magalhães e Rosara Durval Lopes de Brito, p. 49-75.  

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no  Brasil (1647)​. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Ministério da Educação, 1940.  

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que  vulgarmente  chamamos  Brasil  (1576)​.  Brasília:  Senado  Federal,  Conselho  Editorial,  

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 ​Universal de Laemmert, 1851.​  

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48
 

VASCONCELOS,  S.  ​Chronica  da  Companhia  de  Jesus  do  Estado  do  Brasil  (1663)  ​– 

V​olume II. A. J. Fernandes Lopes: Lisboa, 1865.​  

Bibliografia  

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3.ed.  

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 ​Georreferenciamento​:  História  Agrária  e  Arqueologia.  São  Paulo/Ilhéus: 

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Ilhéus  no Período Colonial​. 2​ 007. 424 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal  

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TEIXEIRA,  M.  C.  ​A  forma  da  cidade  de  origem  portuguesa​.  São  Paulo,  Editora  

Unesp, 2012.  

VILHENA, L. S. ​A Bahia no Século XVIII​. Salvador: Itapuã, 1969. v.2. 


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50
 

O manuscrito de André Álvares Almada: fonte cabo-verdiana para uma 

história do  comércio nos Rios da Guiné (século XVI)  

Lucas Aleixo Pires dos Reis  

Graduando em História  

UFMG 

Resumo  

Esta  comunicação  tem  o  intuito  de  discutir  o  contexto  de  produção  dos  relatos  de  viagem  cabo 

verdianos  e  a  utilização  de tal tipologia documental para uma história do comércio nos Rios da  Guiné 

no  final  do  século  XVI.  O  arquipélago  de  Cabo  Verde,  na  costa  ocidental  da  África,  foi   um  dos 

primeiros  pontos  de  estabelecimento  permanente  dos  portugueses.  O  primeiro  contato   de 

navegadores  com  o  arquipélago  se  deu  no  ano  de  1456.  Este  logo  se  tornou  um  importante   local, 

funcionando  como  base  de  apoio  ao  comércio  desenvolvido  com  a  região  dos  Rios  da   Guiné, 

localizada  na costa. O estabelecimento da União Ibérica (1580-1640) representou um  empecilho para 

o  pretenso  monopólio  comercial  português  sobre  o  trato  da  Guiné.  Com  a  união   das  coroas,  o 

interesse  sobre  a  região  se  arrefeceu  e  Cabo  Verde  deixou  de  ter  um  papel  central   como  base  de 

apoio,  o  que  impactou  negativamente  os  moradores  e  a elite comercial das ilhas.  Com a intenção de 

demonstrar  as  vantagens comerciais da região e reconquistar o apoio da  Coroa, alguns relatos foram 

produzidos.  Dentre  estes,  podemos  destacar  o  T​ ratado  Breve  dos  Rios   da  Guiné  do  Cabo  Verde  ​do 

cabo-verdiano  André  Álvares  Almada,  produzido  no  ano  de  1594.   Morador  da  cidade  portuária  de 

Ribeira  Grande,  membro  da  Câmara  e  cavaleiro  da  Ordem  de   Cristo,  Almada  registrou  informações 

pertinentes  ao  trato  comercial.  A  análise  deste  trabalho   recairá  sobre  o  relato  de  viagem  produzido 

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51
 

por  Almada.  As  reflexões  e  conclusões  que  esta   exposição  procura  levantar  englobam,  em  um 

primeiro  momento,  a  análise  do  contexto  de   produção  da  fonte  e  sua  relação  com  a  construção 

discursiva  apresentada  por  Almada.  Em  um   segundo  momento,  procura-se  estabelecer 

apontamentos acerca da dinâmica comercial presente  na região.  

Palavras-chave: ​História da África, Relatos de viagem, Rios da Guiné.  

Introdução  

Relatos  sobre a Guiné já tinham sido feitos muito antes do estabelecimento dos  portugueses 

nas  ilhas  de  Cabo  Verde.  Conhecida  anteriormente  como  ​Ethiopia​,  várias  lendas  e   estórias  eram 

divulgadas pelas pessoas que desenvolviam o trato comercial no norte do deserto  

do  Saara.  Boa  parte  das  informações  sobre  ​Ethiopia  c​ hagavam  aos  ouvidos  europeus  devido  ao  

contato  ao  norte  da  África  com  os  berberes,  que,  anterior  ao  estabelecimento  de  rotas  comerciais  

pelo  atlântico, conectavam a margem norte do deserto do Saara com a região do Sahel ao sul – quase 

chegando  as  grandes  florestas.​1  ​Por  meio  do  contato  com  as  rotas  de  comércio   transaarianas, 

europeus tinham informações sobre o interior da África e relatos sobre ouro no  Mali.  

O  arquipélago  de  Cabo  Verde,  na  costa  ocidental  da  África,  foi  um  dos  primeiros  pontos   de 

estabelecimento  dos  portugueses.  O  primeiro  contato  de  navegadores  portugueses  com  o  

arquipélago  foi  no  ano  de  1456.  Aparentemente,  as  ilhas  sempre  foram  desabitadas  e  logo  se  

tornaram  um  importante  local  para  o  reino  de  Portugal. Acabaram funcionando como um  entreposto 

comercial  no  atlântico,  junto  da  ilha  da  Madeira,  mas  Cabo  Verde  era um caso  especial, pois a partir 

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delas  era  possível  estabelecer  um  entreposto  comercial  que  conseguisse   estabelecer  comércio  de 

bom trato com a Guiné.  

De acordo com Antônio Correia e Silva,   

são as relações econômicas, sociais, demográficas e políticas com os outros   

espaços, alguns deles geograficamente distantes, uma preciosa fonte de   

explicação do percurso histórico cabo-verdiano. Não tendo riquezas 

naturais  abundantes e significativas, o maior trunfo deste pequeno 

arquipélago foi a sua   

capacidade em desempenhar um papel ático nas redes de troca e de circulação   

entre diferentes espaços, climas e civilizações (SILVA, 2001, p. 1).  

Ainda sobre as transformações ocorridas em Cabo Verde devido a sua posição geográfica,  

Correa e Silva afirma que   

um espaço desinteressante, pouco solicitado ontem, pode converter-se, 

quase  de um dia para o outro, num efervescente centro de confluência 

par, de   

seguida, anos, décadas ou mesmo séculos depois, tornar-se num espaço   

decadente, em perda progressiva e acelerada de vitalidade econômica 

(SILVA,  2001, p. 1).  

Ao  longo  dos  anos,  a  região  da  costa  ocidental  africana  localizada  próxima  as  Ilhas  

atlânticas  de  Cabo  Verde  foi  denominada  de  várias  formas.  De  acordo  com  Walter  Rodney,  “os  

roteiros  ou  mapas  portugueses  dos  séculos  XV  e  XVI,  apesar  de  seus  objetivos  limitados,  são  

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introduções  extremamente  úteis  à  geografia  e  à  história  da  Costa  da  Alta  Guiné”  (RODNEY,   1970,  p. 

1).²  

Nas fontes estabelecidas para o século XV, o Rio Senegal, no norte do atual Senegal,  marca o 

inicio da chamada “terra dos negros”. De acordo com Cadamosto,   

Depois que passámos o Cabo branco, navegámos á vista delle por nossas  

jornadas até ao rio chamado do Senegal, que he o primeiro rio tia terra 

dos   

Negros , entrando por aquella Costa; o qual estrema os Negros dos 

Pardos  chamados Azenegues; e parte tambem a terra seca e arida, que 

he o deserto   

sobredito, da terra fertil, que he paiz de Negros. (CADAMOSTO, 1812, p.27) 

Outro  exemplo  pode  ser  retirado  de  um  relato  do  final  do  século  XVI.  No  relato   intitulado 

Tratado  Breve  dos  Rios  da Guiné do Cabo Verde​, de 1594, o comerciante cabo-verdiano  André Álvares 

Almada  nos  informa  que:  “Quis  escrever  algumas  coisas  dos  Rios  de  Guiné  Cabo   Verde, começando 

do  Rio  Sanagá  [Senegal],  até  Serra Leoa, que é o limite da Ilha de Santiago,  porque dessas partes sei 

honestamente.”  (ALMADA,  1841,  p.  21-22).  Neste  relato,  temos  uma  melhor delimitação da região dos 

Rios  da  Guiné do Cabo Verde, pois fica explícito que esta se  estende do rio Senegal até Serra Leoa. Na 

construção  historiográfica  realizada  pelo  historiador   português  José  da  Silva  Horta,  essa  mesma 

região é denominada de Senegâmbia.  

Os  marcadores  geográficos  mais  utilizados  nas  fontes  para  denominar  a  região são pontos  

físicos  ao  longo  da  costa  –  em  sua  predominância  rios,  cabos  e  ilhas.  Além  de  serem  os   principais 
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marcadores  geográficos,  os  rios  da  região desempenharam essencial função no  comércio, seja este 

o  interno  dos  povos  ou  aquele  originário  do  atlântico  devido  à  presença   europeia.  Formam 

verdadeiras hidrovias para o desenvolvimento do comércio.  

Mapa  1  –  Arquipélago  de  Cabo  Verde  e  Costa  da  Senegâmbia  e  Rios  da  Guiné.  

Fonte: MENDES, António de Almeida, 2013, p. 23. 

O uso de relatos de viagem  

Dos contatos e relações estabelecidos na costa ocidental da África, vários relatos de  viagem 

foram  produzidos  por  europeus  e,  no  caso  deste  trabalho,  por  cabo-verdianos   interessados  em 

registrar informações de seu interesse sobre aquelas terras.   

Por  muitos  anos,  tal  tipologia  documental  teve  o  seu  uso  desencorajado  para  se  realizar  

uma  História  da  África,  pois  se  argumentava  que  a  partir  de  fontes  europeias,  só seria possível  uma 

história  do  europeu  na  África  ou  da  visão  europeia  sobre  a  África.  Os  documentos   começaram  a 

serem  utilizados  a  parir  da  tomada  de  consciência  acerca  do  “olhar  e  visão  de   mundo  empregado 

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pelo  autor  ao  registrar  aquilo  que  viu,  ou  seja,  o  desconhecido.  Para  tanto,   utilizamos  o  relato  de 

viagem  enquanto  representação  de  uma  realidade  traduzida  pelo   observador  para  a  sua  cultura” 

(REIS,  2019,  p.  302),  ou  seja,  ao  lidar  com  tal  tipologia   documental,  deve-se  considerar  a 

“emergência de filtros culturais” (MOTA, 2014, p.3).  

Sobre a representação, José da Silva Horta nos diz que deve ser considerada como a   

tradução  mental  de  uma  realidade  exterior  que  se  percepcionou  e  que, 

vai  ser   evocada-oralmente,  por  escrito,  por  um  ícone –estando ausente. 

Dando-se   natural  primazia  ao  que  mais  interesse,  poderá  despertar  no 

eventual leitor –  

aquilo que aos seus olhos é novo, estranho à sua realidade vivencial –a 

tarefa de  transmitir torna-se difícil. (...) Realiza-se, desde logo, pelo ato 

de classificar, cujo   

ponto de partida mais geral é uma matriz civilizacional de base ocidental 

cristã,  com que o africano é confrontado, num jogo de semelhanças e   

diferenças(HORTA, 1995; p.190).  

Ao  se  utilizar  documentos europeus, busca-se superar a barreira linguística e dificuldade  de 

acesso  à  documentação  produzida  por  africanos.  O  cuidado  da  perspectiva  metodológica  da  

representação nos fornece as ferramentas e possiblidades para tanto.  

O advento da União Ibérica e o comércio entre Cabo Verde e os Rios da 

Guiné  

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Os moradores das ilhas de Cabo Verde, nos primeiros anos composta por uma maioria de  

portugueses, possuíam certas prerrogativas, estes,  

instalados em Cabo Verde, sob o estatuto de “moradores” e “vizinhos”,  

puderam exportar, ao abrigo das prerrogativas das cartas régias de 1466 e 

de   

1472, as suas produções para um vasto mercado africano, delimitado a norte   

pelo rio Senegal e a sul pela Serra Leoa. A contenção da concorrência 

dentro de  certos limites, assegurada pelos dispositivos legais, acordos 

diplomáticos, ações   

militares, etc., permite-lhes manter favoráveis os termos de troca com a 

Guiné  (SILVA, 2001, p. 3).  

Como  dito  anteriormente,  a importância da localidade pode variar ao longo do tempo.  Vários 

fatores  ao  longo da história da Península Ibérica e da Europa como um todo contribuíram  para que as 

ilhas  de  Cabo  Verde  deixassem  de  ter  um  papel  central  e  foco de preocupação da  Corte portuguesa. 

Um desses fatores foi a Cisma que dividiu a comunidade latina. As  

movimentações  postas  por  Lutero  e  Calvino  causaram  rupturas  no  tecido  político  europeu,  pois,   “a 

partir  dela,  o  poder  do  Papado,  enquanto  instância  de  legitimação  dos  direitos  internacionais,  

torna-se  substancialmente  diminuído  e  com  ele  o  exclusivo  ibérico  sobre  o  Atlântico  que,  como  

vimos, contou vitalmente com a caução papal” (SILVA, 2001, p. 8).  

Além  da  ruptura  religiosa,  a  complicada  relação  da  dinastia  dos  Habsburgo  com  o  restante  

da  Europa  e  as  relações  de  Espanha  com  o  restante  da  Europa  -  marcada  por  conflitos  com  

Inglaterra, França e Províncias Unidas, futuramente Holanda.  

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Por  último,  o  estabelecimento  da  União  Ibérica  foi  o  responsável  pelo  acirramento  da  

competição  comercial  entre  as  potências  europeia  e  o  que  levou a situação do arquipélago de  Cabo 

Verde  ao  seu  pior  estado,  pois  as  demais  potências  europeias  não  respeitavam  seu  alegado  

“monopólio” do trato da Guiné.  

Os  documentos  utilizados  para  a  nossa  análise  se  encontram  em  uma  coleção  intitulada  

Monumenta  Missionário  Africana.  ​Tal  compilação  foi  organizada  pelo  padre  Antônio  Brásio.  

Desenvolveu  um  grande  esforço  para  conseguir  coletar, paleografar, catalogar e publicar um  grande 

número de documentos relacionados à presença europeia na África atlântica.  

Para  a  análise  dos  primeiros  anos  após  a  conformação  da  União  Ibérica,  ou  seja,  ainda  no  

reinado  de  Filipe  II  de  Espanha,  I  de  Portugal,  foram  utilizados  dois  relatos  de  viagem.  Os  relatos  

foram  produzidos  por  dois  cabo-verdianos:  André  Alvares  Almada  e  André  Donelha.  Ambos   eram 

moradores  da  cidade  portuária  de  Ribeira  Grande,  localidade  da  ilha  de  Santiago,  e   ocupavam 

posições  importantes  naquela  sociedade.  André  Álvares  Almada  fazia  parte  da  Câmara,  tornou-se 

cavaleiro  da  ordem  de  Cristo e foi eleito pelo povo de Santiago para ir a Portugal tratar  com a Coroa o 

modo  para  se  povoar a Serra Leoa. Escreveu o T​ ratado breve dos rios da Guiné do  Cabo Verde desde o 

rio  Sanagá  até  aos  baixos  de  Sant’Ana​,  publicado  no  ano  de  1594,  onde  registrou,  a   pedido  do 

governador de Cabo Verde, a situação em que o trato da Guiné se encontrava.  

Por  sua  vez,  André  Donelha  era  um  capitão  de  navio  e  realizava  trato  na  região   conhecida 

como  Rios  da  Guiné.  A  pedido  do  governador  de  Cabo  Vede,  Francisco  de   Vasconcelos  da  Cunha, 

Donelha  foi  até  a  região  dos Rios da Guiné e também registrou um relato  sobre a situação do trato na 

região denominado D​ escrição da Serra Leoa e dos Rios de Guiné do Cabo  Verde.  

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Para  a  análise  dos  anos  seguintes  ao  reinado  de  Filipe  II,  ou  seja,  nos  primeiros  anos  do  

reinado  de  Filipe  III,  foram  utilizadas correspondências oficiais, cartas da Câmara De Santiago,  entre 

representantes de Cabo Verde e a Coroa.  

Ao  falar  sobre  o  contexto  vivido  por  Cabo  Verde  durante  a  União  Ibérica,  devemos   lembrar 

como  essa  união  entre  as  duas  Coroas  se  iniciou.  Com  a  crise  de  sucessão  de  1580​3​,   Filipe  II  de 

Espanha  se torna também Rei de Portugal e, através das Cortes de Tomar (1581)​4​,  fica estabelecido as 

condições  para  a  entrada  de  Portugal  na  monarquia  compósita  (ELLIOT,   1992,  p.  48-71)  dos 

Habsburgo.   

As P​ atentes das mercês, graças, e privilégios, de que elrei Dom Philippe nosso senhor fez ​é o  

documento referente às Cortes de Tomar​. ​De acordo com Pedro Carmin,  

as condições estabelecidas na Patente representavam como que um contrato   

entre o monarca e o seu novo reino, no qual se definia a modalidade de   

integração de Portugal na Monarquia Hispânica. Esse contrato era regulado,   

sobretudo, por imperativos morais, ou seja, estabelecia uma obrigação de   

obediência que pesava na consciência quer dos vassalos que do rei. (CARDIM,   

2001, p. 279).  

No capítulo VII da P​ atente das mercês, graças, e privilégios, de que elrei Dom Philippe nosso 

senhor  fez​, está estabelecido   

que os tratos da India, e de Guiné, e de outras partes pertencentes a este reino,   

assi descubertas, como por descobrir, não se tirem deles, nem aja mudança do   

qao presente se usa. E q os officiaes, que andarem nos ditos tratos, e nauios   

delles, sejão Portugueses, e nauegue em nauios Portugueses (PATENTE DAS   


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59
 

MERCÊS, 1583, p. 87).  

Como estabelecido na Patente, o comércio na Guiné, que influenciava a qualidade de vida  

dos moradores das ilhas de Cabo Verde, teria seu monopólio assegurado para o reino de Portugal, ou 

seja, teoricamente, apenas navios portugueses deveriam se estabelecer na costa da  Guiné e, além 

disso, deveriam respeitar o papel de entreposto comercial estabelecido por Cabo  Verde.  

O  respeito  a  este  “monopólio”  não  foi  concretizado  nos  anos  seguintes  a  unificação  das  

Coroas.  Considera-se  o  espaço  atlântico  como  projeção  dos  conflitos  internos da Europa e por  isso, 

“a  união  ibérica,  ao  colocar,  em  1580,  as  coroas  portuguesas  e  espanholas  sob  a  autoridade   do 

mesmo  rei,  D.  Filipe  II  de  Espanha,  I  de Portugal, vai aprofundar, até ao extremo do  confronto aberto, 

o antagonismo” (SILVA, 2001, p. 15).  

A  Inglaterra  estava  em  guerra  aberta  com  a  Espanha.  O  conflito  com  os  “holandeses”  

advinha  da  situação  em  que  se  encontravam  as  Províncias  Unidas  na  luta  contra  a  dominação  dos  

Habsburgo.  Já  o  conflito  com  a  França,  vinha  da  disputa  criada  nos  anos  anteriores  pelo  Carlos   V, 

imperador do Sacro Império Romano-Germânico e rei de Espanha.  

É importante ressaltar que   

o espaço comercial africano [...], apesar de ostensivamente reivindicado pelos   

portugueses como área de domínio político (repara-se que desde o século XV  

os reis de Portugal se auto intitulam “senhor de Guiné”), não estava no entanto   

ligado à coroa portuguesa por nenhum laço real e efetivo de dependência  

política (SILVA, 2001, p. 11).  

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60
 

A  brecha  criada  entre  atuação  política  e  econômica  é  que  permite  a  entrada  dos  ingleses  

franceses  e  holandeses  no  espaço  guineense.  Tal  presença  é  apontada  pelos  relatos  de  viagem  de  

Almada e Donelha.  

Ao descrever sobre as relações entre os moradores se Santiago e as chefaturas da costa  

africana, Almada diz que  

antigamente o maior trato que tinham os moradores da Ilha de Santiago era   

para  este  terra  do  Budumel​5​,  no  tempo  que  nela  reinava um rei chamado  

Nhogor,  muito  amigo  dos  nossos,  no  tempo do qual houve tamanha fome  

naquela  costa  [...].  E da Ilha de Cabo Verde [Santiago] iam todos os anos  

carregados  de  cavalos  e  de  outras  mercadorias  a  este  resgate.  Sucedeu 

neste   

Reino o Rei chamado Budumel, Bixirim, o qual não bebia vinho nem 

comia  carne de porco; este residia na sua corte am Lambaia, longe do 

mar, e fazia   

maus  pagamentos  aos nossos, e recolhia nos seus portos os Franceses, e 

folgava   com  eles.  E  por  essa  causa  deixaram  os  moradores  da  Ilha  este 

regate;  o  qual   está  ocupado  hoje  mais  de  Ingleses  que  de  Franceses 

(ALMADA, 1841, p. 250-  

251).  

Como  os  portugueses  não  detinham  o  controle  político  da  costa,  o  comércio  era  

estabelecido  em  comum  acordo  com  as  lideranças  locais  africanas.  Os  chefes  da  costa  escolhiam  

livremente com que iriam estabelecer comércio.   

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61
 

A  União  Ibérica  representou  a  intensificação  das  violações  do  “monopólio”  comercial  dos  

cabo-verdianos  na  região  da  Guiné.  Através  do  relato  de  Almada,  somos  informados  sobre  a  

presença dos lançados e de gente oriunda das nações inimigas da coroa de Espanha. Relata que  

andam estes nossos Portugueses lançados muito mimosos destes imigos. E o   

dia de eles receberem as pagas e entregarem as suas mercadorias, lhes dao os   

Ingleses  em  terra  banquetes,  com  muita  música  de  violas  de  arco  e 

outros   instrumentos  músicos.  E  por  esta  causa  estão  estes  resgates  de 

toda  esta  costa   do  Cabo  Verde  até  o  Rio  de  Gâmbia  perdidos  (ALMADA, 

1841, p. 251).  

Percebe-se a falta de controle sobre quem e com quem se realiza o comércio.   

Ao descrever sobre a região de Serra Leoa, localizada ao sul da Guiné, André Donelha diz  que 

“ho primsipal lugar e que se pode pouar hé e duas a saber, na augoada omde auerá muj groso  trato 

por mar he terra, mas hé nesesarjo fortaleza por causa dos ymjgos ho pirotas hollamdezes” 

(DONELHA, 1977, p. ).  

Ainda sobre o sul da região, especificamente o rio Cacheu, Almada escreve que   

Este  rio.  De  que  imos  tratando, era o melhor que havia em Guiné, de mais  

resgate  que  todos;  fazia-se  nele  com  cinco  e  seis  cousas  diferentes  um 

escravo,   que  não  saía  comprado  por  cinco  cruzados  de  bom  dinheiro. 

Hoje  está  perdido,   devassado  dos  lançados,  que  andam  adquirindo  os 

despachos para os Ingleses e  Franceses (ALMADA, 1841, p. 286). 

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62
 

Vemos  então  a  violação  do  pretendido  exclusivo  português  de  norte  a  sul  da  Guiné.   Como 

relatam  Almada  e  Donelha, o resgate na região está totalmente perdido, de norte a sul, pela  ação dos 

lançados,  que  fazem  comercio  com  quaisquer  agentes  europeus  que  ali  se  estabeleceram   - 

principalmente ingleses, franceses e holandeses.   

Considerações finais  

Esta  comunicação  teve  o  objetivo  de  tecer  considerações  inicias  acerca  da  dinâmica  

comercial  estabelecida  entre  a  costa  africana  (Rios  da  Guiné) e o arquipélago de Cabo Verde.  Com a 

análise  da  situação  enfrentada  pelos  habitantes  do  arquipélago  de  Cabo  Verde,   perceberam-se  as 

preocupações que levaram a produção do relato de viagem escrito por André  Álvares de Almada.   

Ao  ler  as  fontes  a  contrapelo,  o  ponto  chave  da  análise  está  no  fato  de  percebermos  quem  

controlava  o  comércio  da  região.  A  dinâmica  comercial  explorada  no  trabalho  evidência  a  

competição  estabelecida  entre  os  europeus  para  conseguir  o  melhor  ponto  de  comércio  na  região 

dos  Rios  da  Guiné.  Perde-se  a  ideia  de  um  monopólio  da  Coroa  ibérica  na região. A competição  só é 

possível  se  partirmos  do  fato  de  que  quem  realmente  controla  as  opções comerciais na costa  são a 

lideranças  africanas  locais,  que  escolhiam  com  que  iriam  comerciar.  A  principal  evidência  é   o 

próprio  objetivo  de  concepção  do  relato  de  Almada.  O  fim  do  relato  é  a  proposta  de   colonização  da 

região  de  Serra  Leoa,  onde,  segundo  o  relato,  não  iriam  enfrentar  a  concorrência   pela  preferência 

comercial africana com outras nações europeias.  

Notas  

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63
 

BOVILL, E. W. The Golden Trade of the Moors. Oxford: Oxford University Press, 1978. ² Tradução nossa: 
1​

“Fifteenth- and sixteenth-century Portuguese ​roteiros​, or charts, in spite of their  limited objectives, 

are extremely useful introductions to the geography and the history of the  Upper Guinea Coast”  
3  ​
A  morte  de  D.  Sebastião  na  batalha  de  Alcácer-Quibir  em  1578  resultou  numa  crise  sucessória   em 

Portugal.  Seu  tio,  Cardeal  Henrique,  assumiu  o  trono,  mas  acabou  morrendo  por  causa  da   idade 

avançada  em  1580.  Via-se  então  o  fim  da  Dinastia  de  Avis.  Como  D. Sebastião não deixou  herdeiros, 

três  netos  de  D.  Manuel  I  de  Portugal  reivindicaram  o trono: Antônio, Prior do Crato,  Catarina, infanta 

de Portugal e Filipe II de Espanha.  


4  ​
As  Cortes  de  Tomar  de  16  de  Abril  de  1581  ocorreram  no  Convento  de  Cristo,  com  a  presença   de 

representantes  dos  três  cortes  do  Reino  de  Portugal:  povo,  clero  e  nobreza.  Nessas  cortes   foram 

estabelecidas  as  negociações  de  entrada  de  Portugal  na Monarquia compósita dos  Habsburgo sob o 

reinado de Filipe II.  


5​
Budomel refere-se, na verdade, ao título do governante no reino de Kajoor. Por falta de  

conhecimento mais profundo das lógicas políticas internas, Almada não consegue perceber bem as 

conformações políticas costeiras. 

Fontes  

ALMADA, André Álvares. ​Tratado breve dos rios de Guiné do Cabo Verde dês do Rio Sanagá até os  

Baixos de Santa Ana. P​ orto: Tipografia Comercial Portuguesa, 1841.  

BRÁSIO, António. M
​ onumenta Missionária Africana: ​edição digital. Organização de Miguel Jasmins  

Rodrigues. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical, 2011. CD-ROM. Série 2. v. 2-5.   

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64
 

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Contra,   capitão  portuguez​.  In:  Notícias  para  a  história  e  geografia  das  nações  ultramarinas.  Lisboa: 

Academia  Real das Sciencias, 1812.  

DONELHA, André. ​Descrição da Serra Leoa e dos rios da Guiné do Cabo Verde (​ 1625). Edição,  

introdução, notas e apêndice de Avelino Teixeira da Mota. Lisboa: Junta de Investigações Científicas 

do Ultramar, 1977.  

Patente  das  mercês,  graças  e  privilégios  de  que  el-rei  Dom  Philippe nosso senhor fez mercê a  estes 

seus  Reinos  e  a  diante  vai  outra  Patente  das  respostas  das  Cortes  de  Tomar.  Lisboa:  per   Antonio 

Ribeiro, 1583, p. 87. Biblioteca Nacional de Portugal: h​ ttp://purl.pt/14680​  

Bibliografia  

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66
 

2019  [recurso  eletrônico]  -  História  em  Tempos  Sombrios:  estudar,  pesquisar,   ensinar.  / 

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