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VIOLÊNCIA

Letalidade policial cresce em 16


estados no primeiro semestre de
2023
Em SP, alta vai na contramão da queda no Sudeste e
no país; OUTRO LADO: governos dizem que
intensificaram combate a criminosos e que ações são
legais

3.dez.2023 às 19h05
Atualizado: 4.dez.2023 às 17h03

Ouvir o texto

Lucas Lacerda
Carlos Petrocilo

SÃO PAULO As mortes causadas por policiais


aumentaram em 16 estados no primeiro semestre
de 2023, em comparação com o mesmo período
do ano passado. Os números vão na contramão
da média brasileira, onde houve queda de 3,7%.

Os maiores aumentos foram registrados em Mato


Grosso do Sul (340%), Santa Catarina (115%) e
Distrito Federal (114,3%). Em São Paulo, as
mortes causadas por agentes subiram 8,3%, sem
contar com ao menos 28 mortes na Operação
Escudo no litoral paulista, conduzida entre o fim
de julho e o começo de setembro. O estado foi
um dos que destoaram da média do Sudeste, que
teve redução de 8,7%.

Já as maiores quedas foram verificadas em


Maranhão (-48,8%), Paraná (-40,6%) e Amazonas
(-38,8%). Também houve reduções na Bahia e no
Rio de Janeiro, que lideraram a quantidade de
mortos em 2022.

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Movimentação de policiais militares em Guarujá, no litoral


paulista, durante Operação Escudo - Danilo Verpa -
31.jul.2023/Folhapress

A Folha teve acesso com exclusividade aos dados


recolhidos pelo Fórum Brasileiro de Segurança
Pública por meio de pedidos de Lei de Acesso à
Informação feitos aos estados e ao Distrito
Federal.

Variação da letalidade policial nos estados e no


Distrito Federal
Em %, comparação do 1º semestre de 2023 com 1º semestre de 2022

300

200

100
MG

AM

MA
RJ
PI
MS

DF

MT

AP

RO

PE

SP

ES

RN

Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Outro indicador usado para avaliar o uso da força


policial é a proporção das mortes por
intervenção do estado em comparação com
crimes violentos intencionais (CVLI). Esse índice
corresponde à soma de homicídios dolosos,
latrocínios e lesões corporais seguidas de morte.
Isso significa que, comparadas às 529 mortes por
crimes violentos intencionais em Goiás no
primeiro semestre do ano, as mortes por
intervenção policial representaram mais da
metade dessa quantidade (57,5%), com 304
vítimas.

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Essas proporções aumentaram no primeiro


semestre deste ano em quase todos os estados
que registraram alta de letalidade policial, com
exceção de Amapá e Espírito Santo. Goiás (57%),
Amapá (53,7%) e Sergipe (45,1%) lideram em
proporção neste ano.

Proporção de mortos pelas polícias em relação a


crimes violentos*
Em %, primeiro semestre de 2023

40

20
GO

SE

BA

PA

Brasil

SP

SC

RN

PB

CE

AL

AM

PI

MG

*O indicador de crimes violentos intencionais (CVLI) é a soma de


homicídios dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte

Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública

O número é considerado muito alto, segundo


Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública. "É um indicador
usado internacionalmente para medir o uso da
força. Alguns estudos apontam que, se esse
índice passa dos 10%, há uso excessivo dessa
força."

Outro indício de excessos, diz ela, é quando essa


proporção tem altas maiores do que as de crimes
violentos, ou quando crescem em meio a uma
queda desses crimes.

As variações da letalidade exigem análises


específicas sobre os contextos locais, diz a
especialista, que sugere hipóteses para os casos
de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso: os conflitos
entre CV (Comando Vermelho) e PCC (Primeiro
Comando da Capital) nas disputas por rotas de
tráfico de drogas.

Mato Grosso, governado por Mauro Mendes


(União Brasil), faz fronteira com a Bolívia,
importante produtor de cocaína; e Mato Grosso
do Sul, governado por Eduardo Riedel (PSDB),
com a Bolívia e o Paraguai, que também envia
maconha ao Brasil. "Parte da cocaína entra por
Mato Grosso e vai em direção ao Pará pela rota
do rio Solimões. Dali, vai para algum porto, no
Pará ou no Amapá, para o envio da droga para
fora do país."

Uma região mais conflagrada, afirma, poderia


indicar mais situações de confronto envolvendo a
polícia.

Ainda sobre a proporção, Samira afirma que o


caso de Minas Gerais ajuda a ilustrar
comportamentos históricos. "Um estado
gigantesco no Sudeste, em que essas mortes
representam 4% do total de assassinatos, tem
esse padrão histórico nas polícias."

Movimento negro faz ato contra violência policial

Estados com as polícias líderes em letalidade,


Bahia e Rio de Janeiro registraram queda. A
polícia baiana matou 743 pessoas de janeiro a
junho deste ano, o que representa uma redução
de 8,4% na comparação com o primeiro semestre
do ano passado.

Apesar disso, o número cresceu 13,6% em relação


ao segundo semestre de 2022, o que indica que a
tendência do ano pode ser de alta. O governo
Jerônimo Rodrigues (PT) enfrenta uma crise de
segurança com desdobramentos há anos e
episódios repetidos de violência policial e guerra
entre facções criminosas.

Os números no Rio ficaram abaixo dos dois


períodos anteriores. Foram 649 mortes, 12% a
menos em relação ao primeiro semestre de 2022
e 16,1% a menos do que no segundo.

O estado, contudo, tem uma média de três


chacinas policiais por mês, segundo
levantamento recente do Instituto Fogo Cruzado.
Embora não haja definição legal sobre o termo,
há consenso entre especialistas para considerar
chacinas as ações com três ou mais mortos.

Ainda, as forças policiais da gestão Cláudio


Castro (PL) diminuíram a proporção em relação
às mortes por CVLI, caindo de 42,5% para 31,9%.
A marca continua na casa de um terço das mortes
violentas ocorridas na região metropolitana da
capital entre 2007 e 2022, segundo estudo do
Geni (Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos) da
UFF (Universidade Federal Fluminense).

As câmeras corporais em uso, medida apontada


como parte importante de programas de redução
de letalidade, haviam chegado a cerca de 9.500
unidades até setembro, e o governo enviou ao
Supremo Tribunal Federal no começo do ano um
plano para reduzir as mortes causadas por
agentes.

Em São Paulo, o crescimento de 8,3% das mortes


causadas por policiais no primeiro semestre foi
acrescido de novos aumentos já no mês seguinte,
com ao menos 28 mortos em ações da Operação
Escudo no litoral paulista.

O episódio foi um dos marcos da gestão Tarcísio


de Freitas (Republicanos) na segurança pública,
chefiada por Guilherme Derrite. O governo já
retirou recursos do programa de câmeras em
mais de uma ocasião sob a justificativa de pagar
despesas urgentes e declarou que não haveria
prejuízos aos contratos vigentes de câmeras.

O governador também afirmou, no fim de


outubro, que não tinha planos de comprar mais
câmeras para a Polícia Militar. Ainda, o governo
descontinuou a segunda edição de um estudo
científico que tinha avaliado o impacto das
câmeras corporais no comportamento de
policiais militares em São Paulo.

Para Bueno, do Fórum, as ações indicam o


posicionamento do governo sobre programas de
redução da letalidade.

"Não vejo incoerência em relação a essa política.


Ainda existem as câmeras, mas a Operação
Escudo mostrou a fragilidade de como isso vem
sendo implementado. Uma operação com tantos
policiais não ter imagens ou filmagens em
metade das mortes?"

O QUE DIZEM OS ESTADOS

A reportagem entrou na última sexta (1º) em


contato com os 16 estados que registraram
aumento na letalidade policial no primeiro
semestre para saber os motivos possíveis para a
alta e as medidas para redução. Recebeu, até a
atualização deste texto, a resposta de sete.

Em nota enviada nesta segunda (4), o governo de


Mato Grosso do Sul disse que, com a fronteira e o
corredor para o tráfico de drogas e armas,
"requer uma atuação mais enérgica e efetiva das
forças policiais".

A Secretaria da Segurança Pública de Santa


Catarina afirmou, em nota, que suas polícias são
doutrinadas para uso moderado e progressivo da
força. A pasta da gestão Jorginho Mello (PL)
ainda que registrou confrontos de facções,
concentrados no norte do estado, no começo do
ano.

Já a secretaria do Distrito Federal destacou que


registrou a menor taxa de letalidade policial do
país em 2022. Neste ano, foram 15 mortos entre
janeiro e junho, contra 7 no mesmo período de
2022, segundo o governo Ibaneis Rocha (MDB).

Em Mato Grosso, o governo Mauro Mendes


(União Brasil) afirma que as forças de segurança
reforçaram as atividades ostensivas e repressivas
para combater organizações criminosas, o que
gerou mais confronto em razão da resistência dos
criminosos à ação policial. Também diz que os
policiais cumprem procedimentos operacionais
padronizados e passam por cursos de
capacitação.

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo


diz investir no treinamento das forças de
segurança e em políticas públicas para reduzir as
mortes em confronto, com o aprimoramento nos
cursos e aquisição de equipamentos de menor
potencial ofensivo, entre outras ações. "Os
números de mortes decorrente de intervenção
policial (MDIP) indicam que a causa não é a
atuação da polícia, mas sim a ação dos
criminosos que optam pelo confronto, colocando
em risco tanto a população quanto os
participantes da ação", declara a gestão Tarcísio
de Freitas.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social


do Espírito Santo declara que as operações
policiais são feitas dentro da legalidade.
"Entretanto, quando há agressão contra os
policiais, estes respondem proporcionalmente",
afirma. O governo Renato Casagrande (PSB)
ressalta que o estado apresenta um índice de
letalidade policial abaixo da média nacional.

O governo do Ceará disse, em nota, que os


profissionais de segurança pública participam de
formações com protocolos humanizados de
atendimento a ocorrências, e que são orientados
a atuar seguindo portaria de 2010 do Ministério
de Justiça e da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República que disciplina o uso
progressivo da força. A gestão Elmano de Freitas
(PT) afirma contar, ainda, com uma
corregedoria-geral para segurança pública e
sistema penitenciário.

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MAURO TADEU ALMEIDA MORAES Há 5 horas

E a fsp aplaude Tarcísio..

RESPONDA 1 DENUNCIE

EMILIO BAZZANI Há 13 horas

Os amigos do Luis sabem que não terão problemas.


Façam o L.

RESPONDA 0 DENUNCIE

RENATO LIMA Há 19 horas

É o salve geral milico-bolsomarista.

RESPONDA 1 DENUNCIE

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