Você está na página 1de 14

BRASIL ASSINE F J FRANCISCO

ESP AME MEX BRA CAT ENG

F J FRANCISCO
ASSINE

BRASIL

ATLAS DA VIOLÊNCIA 2020

Número de homicídios de pessoas negras cresce 11,5% em onze anos; o dos demais
cai 13%
Para não negros brasileiros, taxa de homicídios é semelhante à da Rússia, para os negros, Guatemala. Em 2018,
a violência contra população LGBT+ aumentou 19,8%; dados são do Atlas da Violência 2020
BRASIL ASSINE F J FRANCISCO
BRASIL ASSINE F J FRANCISCO

Ato contra o genocídio da população negra e a morte de Guilherme Guedes, 15 anos, em junho de 2020. ARTHUR STABILE/PONTE JORNALISMO

CAÊ VASCONCELOS (PONTE)

27 AGO 2020 - 17:01 BRT

Em 2018, 75,7% das vítimas de homicídio no Brasil eram negras. No contexto histórico, de 2008 a 2018, o número de
homicídios de pessoas negras no país aumentou 11,5%, já entre pessoas não negras caiu 12,9%.

Os dados são do Atlas da Violência, levantamento feito pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) em
parceria com o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), vinculado ao Ministério da Economia, lançado nesta A banalidade da
morte num
quinta-feira em coletiva de imprensa online.
supermercado

Diferentemente do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que compila e analisa dados de registros policiais sobre
criminalidade, o Atlas da Violência analisa os dados do SIM/MS (Sistema de Informação sobre Mortalidade, do
Ministério da Saúde), e as denúncias recebidas pelo Disque 100.

A cada hora
Em 2018, segundo SIM/MS, houve 57.956 homicídios no Brasil. Para cada 100.000 habitantes, a taxa é de 27,8 quatro meninas
com menos de
mortes. Esse é o menor nível de homicídios nos últimos quatros anos. A redução em relação a 2017 é de 12%. Em
13 anos são
2020, porém, os dados já apontam para uma nova crescente, principalmente durante a pandemia em Estados como estupradas no
São Paulo. Brasil
No contexto histórico, de 2008 a 2018, 628.595 pessoas foram BRASIL
assassinadas no país. O perfil das vítimas aponta que
ASSINE F J FRANCISCO

91,8% eram homens e 8% eram mulheres. Entre os homens, 77,1% foram mortos por arma de fogo, enquanto a taxa
das mulheres é de 53,7%. O risco de um homem negro ser assassinado é 74% maior e para as mulheres negras a
taxa é de 64,4%.

“Como os processos de racialização incidem sobre as violências? É sobre a falta de acesso que os homens negros (Atlas 2018) No
têm dos serviços e políticas públicos, enquanto a mulher negra é triplamente vulnerável. É sobre a falta de acesso e Brasil, dois
que principalmente ficam evidentes às imagens que o homem negro tem de bandido e da mulher negra sendo países: para
negros,
hipersexualizada”, explica a pesquisadora Amanda Pimentel, que participou do estudo. assassinatos
crescem 23%.
Para brancos,
A pesquisa ainda aponta uma disparidade racial em diferenças regionais. Em Alagoas, por exemplo, para cada
caem 6,8%
homicídio de uma pessoa não negra, 17 pessoas negras morreram. Na Paraíba, 8,9 negros morrem a cada pessoa
não negra morta.

Em Sergipe, o número é de 5,1 negros e no Ceará a taxa é de 4,7. No Brasil, para cada não negro assassinado, 2,7 negros são vítimas de
homicídio. Observando as taxas de mortes de negros e não negros, é como se quem não é negro vivesse na Rússia, e os negros na
Guatemala, México, Colômbia.

Para a socióloga Samira Bueno, diretora-executiva do FBSP, esses dados “nos ajudam a mostrar o abismo que existe entre a
população negra e a não negra, o quanto o racismo interfere na violência”. Segundo ela, “o debate antirracista é urgente, tem que ser
prioridade no Brasil”.

Os homicídios ocultos também ganham destaque no Atlas. Listados como MVCI (morte violenta com causa indeterminada), esses
homicídios registraram um aumento de 25,6%. Em São Paulo, aponta o estudo, a perda de qualidade das informações chega a ser
“escandalosa”: em 2018, o Estado registrou 4.265 MVCI, das quais 549 pessoas foram vitimadas por armas de fogo, 168 por
instrumentos cortantes e 1 428 por objetos contundentes
instrumentos cortantes e 1.428 por objetos contundentes.
BRASIL ASSINE F J FRANCISCO

Mulheres negras morrem mais


Em 2018, uma mulher foi assassinada no Brasil a cada duas horas, totalizando 4.519 vítimas. Dessas, 68% são mulheres negras. A taxa
de homicídios das mulheres negras é 5,2 para cada 100 mil, muito maior do que o dado de 2,8 por 100.000 para não negras.

Embora os homicídios de mulheres tenha caído 8,4% entre 2017 e 2018, a situação melhorou apenas para as mulheres não negras, o
que, como aponta o estudo, mostra ainda mais a desigualdade racial: enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras caiu
11,7%, a taxa entre as mulheres negras aumentou 12,4%.

“Que políticas públicas estamos implementando que protegem uma mulher não negra e não protege uma mulher negra?”, questiona
Samira Bueno.

Historicamente, de 2008 a 2018, a maioria dos assassinatos de mulheres aconteceram em casa. Do total, 30,4% dos homicídios de
mulheres ocorridos em 2018 no Brasil teriam sido feminicídios, o crescimento é de 6,6% em relação a 2017.

Mais violência para LGBTs


A violência para população LGBT+ aumentou no último ano. Em 2017, foi a primeira vez na história do Atlas da Violência que os
recortes de LGBTfobia entraram na análise. Agora, em 2018, o texto direcionado para essa população contou com o apoio do autor
desta reportagem.

A escassez de indicadores oficiais de violência contra LGBT+, aponta o Atlas, permanece sendo um problema central. Um primeiro
passo para resolver a esse problema, continua o estudo, seria a inclusão de questões relativas a identidade de gênero e orientação
sexual no recenseamento que se aproxima.
BRASIL ASSINE F J FRANCISCO

Paralelamente, essas variáveis, de orientação sexual e identidade de gênero, devem ser colocadas nos registros de boletins de
ocorrência, para que pessoas LGBTs estejam contempladas também pelas estatísticas geradas a partir do sistema de segurança
pública.

O Atlas também aponta que, sem esses avanços, é difícil mensurar, de forma confiável, a prevalência da violência contra esse
segmento da população, o que também dificulta a intervenção do Estado por meio de políticas públicas.

A violência psicológica aumentou 7,4% entre LGBTs, de 1.693 em 2017 para 1.819 em 2018. Em relação à violência física, o aumento é
de 10,9%, de 4.566 em 2017 e 5.065 em 2018. Em outros tipos de violência o aumento é gigantesco: 76,8% a mais em 2018, de 1.192
para 2.108.

A única redução acontece em relação às torturas, que caiu 7,6%, de 250 para 231 em 2018. O total das violências contra LGBTs tem
um aumento de 19,8% em 2018, de 7.701 para 9.223. Os dados são do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), do
Ministério da Saúde.

Entre a população LGBT+, negros e negras são os mais atingidos pela violência, de acordo com os dados do Sinan: 49,4%, com a soma
de pretos e pardos, e 44,7% de brancos. Em relação ao gênero, 61% das violências foram contra mulheres e 38,9% contra homens.
Mais de 93% dos casos acontecem em áreas urbanas contra 5,8% em áreas rurais. No estudo, não foi possível determinar dados com
recortes de identidade gênero.

“Esse é um dado muito precário, não só da população LGBT+, mas do Sinan. O Sinan é um sistema que precisa de muitos esforços pra
ter abrangência nacional. Esses são os dados e nos mostram a ponta de um iceberg, embaixo haja muitas coisas que não conseguimos
olhar”, explica Samira.
BRASIL ASSINE F J FRANCISCO

Apesar de uma queda de 28% nos registros de homicídios contra a população LGBT+, o Atlas aponta um aumento de 88%, de 2017
para 2018, nas tentativas de homicídios, segundo os dados do Disque 100, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Reportagem originalmente publicada no site da Ponte Jornalismo em 27 de agosto de 2020.

Adere a Mais informações >

ARQUIVADO EM:

Brasil América Violência Racismo América Latina Mulheres Negros

MAIS INFORMAÇÕES
BRASIL ASSINE F J FRANCISCO
BRASIL ASSINE F J FRANCISCO

Polícia prende tio indiciado por estupro de menina de 10 anos. Antes de se entregar, gravou vídeos
BRASIL ASSINE F J FRANCISCO

Em menos de 6 horas, delegado conclui que policial que matou jovem negro desarmado agiu em legítima defesa

CONTENIDO PATROCINADO
BRASIL ASSINE F J FRANCISCO

[Fotos] Mulher decide compartilhar um ANVISA: Minoxidil natural cresce 4 mil Tem mais de 50? Você precisa destes
post sobre o seu relacionamento e algo fios nas entradas de calvície óculos ajustáveis revolucionários!
surpreendente…

DESAFIOMUNDIAL FOLIXIL | ANTI-CALVÍCIE ÓCULOS AUTOAJUSTÁVEIS

NEWSLETTERS
Receba o boletim diário do EL PAÍS Brasil
BRASIL ASSINE F J FRANCISCO

Repetir vídeo

PODE TE INTERESSAR

Sean Connery, o ícone masculino que não teria triunfado no século XXI

Morre Chadwick Boseman, protagonista de ‘Pantera Negra’, aos 43 anos

Na defesa dos ‘vilões’

Trump e Bolsonaro: semelhanças alarmantes frente à pandemia

Repetir vídeo

Top 50
O MAIS VISTO EM ...
EL PAÍS Brasil
BRASIL ASSINE F J FRANCISCO

As mulheres do poderoso clã Bolsonaro

A extraordinária visita de indígenas isolados a uma aldeia remota no Acre

Laboratório da volta às aulas, Amazonas detecta vírus em 10% dos professores e encara alta de mortes

Afastamento de Witzel abre precedente contra qualquer chefe de Executivo, dizem governadores

Na defesa dos ‘vilões’

Paulo Guedes tenta dar as cartas do orçamento enquanto é fritado por Bolsonaro

A trajetória de Chadwick Boseman, o rei T’Challa de Wakanda, em imagens

Os 89.000 reais pagos a Michelle Bolsonaro são a ponta do iceberg em esquema envolvendo dinheiro vivo

Abortos legais em hospitais referência no Brasil disparam na pandemia e expõem drama da violência sexual

Repetir vídeo
BRASIL ASSINE F J FRANCISCO

© EDICIONES EL PAÍS S.L.

Contato Venda de conteúdos Publicidade


Aviso legal Política de Privacidad
Política cookies
Configurações de cookies Mapa EL PAÍS en KIOSKOyMÁS Índice RSS

Você também pode gostar