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Ao abrir a reunião, Paim ressaltou que o problema não se refere somente às mulheres e
afeta toda a sociedade. Ele citou números fornecidos pela Secretaria da CDH, segundo
os quais, em 76% dos casos de feminicídios, os agressores são o atual ou o ex-
companheiro das vítimas, motivados pelo inconformismo com o fim do relacionamento.
— Os dados são alarmantes e até pedi confirmação da assessoria para saber se é isso
mesmo, porque é muito preocupante: a cada dois segundos, uma mulher é agredida no
país, e isso se refere a todo tipo de violência — disse.
Pesquisas
Autoridades
Reflexões
— Precisamos falar sobre isso: As mulheres estão morrendo neste país. Nós somos
ainda nomes em lápides, temos nossos corpos, mentes, psique e patrimônio maculados
pela violência e não é à toa que a Lei Maria da Penha fala nisso. Não é um problema
localizado, mas de uma nação toda — alertou.
Sara afirmou que mulheres vítimas de violência ouvidas por ela durante a elaboração de
sua tese de mestrado declararam acreditar nas autoridades, e isso pode ajudar a diminuir
os números de mortes. Outro instrumento capaz de ajudar a mudar as estatísticas,
segundo a especialista, é a Lei do Feminicídio, sancionada em 2015.
— Estamos em quinto lugar no ranking dos países que mais matam mulheres. O
feminicídio é a "ponta do iceberg", mas a maioria dos casos de violência acontece no
campo íntimo, e a gente precisa ter elementos e estratégias para mudar essa realidade no
nosso país.
Parlamentares
— É muito sério o que estamos vivendo e cada vez mais me sinto com sangue nos olhos
e vontade de lutar ao lado de vocês, em busca de soluções. É uma pauta de todos nós,
mulheres, homens, e do nosso país.
— É a Justiça que falha, é a punição que não serve? Vemos alguns casos pontuais em
que o próprio agente de segurança, que deveria proteger, é o causador da violência. E
essas razões, se são culturais, por exemplo, precisam ser localizadas — defendeu.
Opinião popular
Keila Cristiana, de Goiás, defendeu punição mais severa para os criminosos, além de
medidas educativas e de prevenção. Lucas Luan de Araujo Freitas, do Ceará, disse que
os guardas municipais poderiam ter uma atuação maior na proteção das vítimas, “por
estarem mais próximos da população”.
Yuri Ribeiro Sucupira, de São Paulo, disse que o maior número de vítimas de homicídio
no Brasil são homens e questionou por que a legislação ainda não endureceu a punição
para estes crimes. Sabrina Lage, do Rio de Janeiro, criticou a falta de estratégias de
proteção para mulheres surdas.
Os fatores que explicam essa situação são a convivência mais próxima dos agressores,
que, no novo contexto, podem mais facilmente impedi-las de se dirigir a uma delegacia
ou a outros locais que prestam socorro a vítimas, como centros de referência
especializados, ou, inclusive, de acessar canais alternativos de denúncia, como telefone
ou aplicativos. Por essa razão, especialistas consideram que a estatística se distancia da
realidade vivenciada pela população feminina quando o assunto é violência doméstica,
que, em condições normais, já é marcada pela subnotificação.
É o que diz a diretora executiva da organização, Samira Bueno, cuja avaliação assenta-
se no fato de que o quadro de violência contra meninas e mulheres no Brasil já é grave,
tendo somente piorado com a pandemia. Entre os fatores adicionais que as vítimas
precisam transpor, Samira cita a queda da renda e o desemprego, que podem atrapalhar
a mulher na hora em que cogita sair de casa para fugir do agressor.
Tais circunstâncias podem refletir a redução de casos de lesão corporal dolosa (quando
há intenção de cometer a agressão), que foi de 25,5%, nível semelhante ao de países
como Itália e Estados Unidos, em que as vítimas também enfrentam obstáculos para se
deslocar a postos policiais, conforme escreve o FBSP. Os estados que tiveram queda
mais significativa foram Maranhão (-97,3%), Rio de Janeiro (-48,5%), Pará (-47,8%) e
Amapá (-35%). O fórum destaca que, mesmo em São Paulo, que implementou o
boletim de ocorrência eletrônico para facilitar a oficialização de queixa contra os
agressores, houve queda de 21,8%.
Um indicativo que mostra que as mulheres continuam sofrendo agressões, embora não
procurem com tanta frequência as delegacias, é uma informação trazida pela primeira
compilação do relatório, publicada no fim de abril e que revelava, entre outros pontos,
que os chamados atendidos pela Polícia Militar no estado de São Paulo aumentaram
44,9% em março deste ano, em contraste com 2019.
No relatório mais atual, o FBSP menciona, ainda, o aumento de denúncias feitas por
telefone, que, na comparação entre os meses de março de 2019 e 2020, foi de 17,9%.
Em abril deste ano, a quarentena já havia sido decretada em todos os estados brasileiros,
e foi exatamente quando a procura pelo serviço cresceu 37,6%.
O relatório acrescenta que o único estado que puxou essa taxa para cima foi o Rio
Grande do Norte. Lá, o acréscimo na quantidade de casos reportados foi de 118%, que o
FBSP associa à ampliação na cobertura da informação, com a implantação do Sistema
Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp).
As medidas protetivas foram consolidadas como um direito das vítimas a partir da Lei
Maria da Penha (Lei nº 11.340), em vigor desde 2006, e podem ser concedidas por um
juiz mesmo que não tenha sido instaurado inquérito policial ou processo cível.