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XXV Encontro de Geografia (ENGEO)

XIX Encontro de Geografia do Sudoeste do Paraná (ENGESOP)


29 de maio a 03 de junho de 2023
GEOGRAFIA DO CRIME: ANÁLISE DA REGIÃO SUDOESTE DO
PARANÁ ENTRE 2014 E 2019

André Luiz de Souza CELARINO


Instituto Federal do Paraná – IFPR (Quedas do Iguaçu) – andre.celarino@ifpr.edu.br
Silas Nogueira de MELO
Universidade Estadual do Maranhão – UEMA – silasmelo@professor.uema.br
INTRODUÇÃO
Segundo o relatório de desenvolvimento humano produzido pelo Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) para o ano de 2021/2022, o Brasil tem o
87º IDH (Índice de desenvolvimento humano) entre 189 países, já com relação ao índice
de Gini, que afere a desigualdade e distribuição de renda, o Brasil ocupa a 13ª posição.
O país está entre os 20 mais violentos do mundo e, em números absolutos, Brasil
e Nigéria possuem 5% da população mundial, mas respondem por 28% dos homicídios
globais (UNODC, 2019). Segundo Melo; Rocha; Masullo (2019), a América Latina é
bastante heterogênea quando analisamos a incidência de homicídios, países como
Argentina, Chile, Costa Rica e Uruguai possuem baixas taxas de mortalidade por
violência, no entanto, Brasil, México, Colômbia, El Salvador e Venezuela são países que
possuem taxas de mortalidade epidêmicas (BRICENO-LEON; VILLAVECES;
CONCHA-EASTMAN, 2008).
Segundo dados do Anuário Brasileiro de segurança pública (FBSP, 2022), as
regiões mais violentas do Brasil em 2021 foram as regiões Nordeste e Norte, com índice
de Mortes Violentas Intencionais (MVI) de 35,5 e 33,3, respectivamente, a cada 100 mil
habitantes. A região Sudeste aparece como a menos violenta, com uma taxa de 13,4, já o
estado do Paraná aparece com uma taxa de 20,8 por 100 mil habitantes, 37,2% menor que
a taxa referente ao ano de 2011.
Na região Sul o estado do Paraná é o mais violento (FBSP, 2022), nesse sentido,
investigar tais dados para a região Sudoeste do estado é de extrema relevância e pode,
através de metodologias estatísticas e de correlação espacial, revelar dinâmicas territoriais
intrínsecas para que a partir daí a Geografia possa mapear a evolução do quadro numa
perspectiva temporal e espacial.
Nessa perspectiva, o objetivo geral do trabalho é realizar uma análise dos fatores
relacionados às taxas de homicídios entre 2014 e 2019 para a região sudoeste do Paraná,
que abrange 43 municípios, bem como avaliar se há concentração de homicídios em
determinados municípios dentro do recorte geográfico escolhido.

Campus de Francisco Beltrão. Rua Maringá, 1200 – Bairro Vila Nova – Caixa Postal 371 Fone (46)
3520-4848 / 3520-4849 – CEP: 85605-010 – Francisco Beltrão – PR
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XIX Encontro de Geografia do Sudoeste do Paraná (ENGESOP)
29 de maio a 03 de junho de 2023

METODOLOGIA
A Mesorregião Geográfica do Sudoeste do Paraná conta com 42 municípios e foi
assim designada pela Lei Estadual no 15.825/08 (Figura 1).
Figura 1: Área de estudo

Fonte: Autoria própria.


A população da região é estimada em 625.238 habitantes, numa área territorial de
17.033 km2. As cidades mais populosas da região são Francisco Beltrão e Pato Branco,
com 91.093 e 82.881 habitantes, respectivamente (IBGE, 2019).
Os dados foram obtidos no sistema DATASUS, especificamente no Sistema de
Informações de Mortalidade (SIM), para o período entre 2014 e 2019. Os dados da
variável base são padronizadas com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10),
de acordo com as categorias X91, X92, X93, X94, X95, X99, Y00, Y04 e Y05.
Considerou-se a questão do consumo de drogas psicoativas como uma variável
independente, nesse sentido, a hipótese do trabalho considera que a maior presença desta
atividade pode influenciar na taxa de homicídios. As categorias pesquisadas no SIM são
F10, F12, F14, F16, F19, T40, T43, T51, X42, X44, X62, X65, Y12, Y15 e Y49.
Considerou-se a variável suicídio por esta apresentar alta correlação com
disponibilidade de armas de fogo, conforme foi verificado através dos códigos X60 a X84
(MELO; ROCHA; MASULLO, 2019). Também foram analisadas as variáveis IDEB
(Índice de desenvolvimento da educação básica) e o PIB per capita fornecido pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Os modelos estatísticos analisados através do pacote R (RStudio) foram feitos
através do Script Confins, disponibilizado por Melo, Rocha e Masullo (2019). O modelo

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Pooled realiza uma análise de regressão onde se avaliam as mudanças na distribuição dos
dados ao longo do tempo, o modelo de efeitos fixos controla efeitos de variáveis omitidas
que variam entre indivíduos e se mantém constantes ao longo do período, já o modelo de
efeitos aleatórios supõe que o intercepto varia de um indivíduo para outro, mas não ao
longo do tempo.
Para testar qual modelo melhor se aplica aos dados trabalhados, foram utilizados
o teste F para comparação entre o modelo Pooled e efeitos fixos, o teste do multiplicador
de Lagrange para a comparação entre o Pooled e efeitos aleatórios e o Teste de Hausman
para comparar os modelos de efeitos fixos e aleatórios (MELO, ROCHA E MASULLO,
2019).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A figura 1 apresenta o mapa com a média de homicídios por cem mil habitantes
para as cidades da região Sudoeste, considerando o período analisado entre 2014 e 2019.
Figura 1: Média de homicídios por cem mil habitantes na região Sudoeste no período
entre 2014 e 2019. Fonte: SIM/DATASUS.

Elaboração: Autoria própria.

Observa-se que as quatro cidades mais violentas, são, respectivamente, Coronel


Domingos Soares (33,4), São Jorge d'Oeste (29,3), Clevelândia (26,7) e Mangueirinha
(25,7). Considerando que a média brasileira da taxa de mortes violentas intencionais
(MVI) publicada no Anuário Brasileiro de Segurança Pública do ano de 2020, para o
mesmo período, foi de 28,2, é possível afirmar que apenas 2 cidades da região ultrapassam
a média do país (23,6), enquanto no estado do Paraná foi de 21,6.

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Estatística descritiva e modelos aplicados

A tabela 1 apresenta as estatísticas básicas de todas as variáveis.

Tabela 1: Estatística descritiva da região Sudoeste no período entre 2014 e 2019.

Desvio
Variáveis Min Max Média Mediana
Padrão
Taxa de Homicídio 0,00 110,68 13,77 12,52 15,79
Taxa de suicídio 0,00 75,79 13,47 10,99 14,51
PIB per capita 14.603 165.130 32.610 26.808 20.539
Nota IDEB 3,85 6,55 5,37 5,43 0,49
Taxa de óbitos relacionados ao
0,00 46,05 3,51 0,00 7,08
consumo de drogas
Fonte: Autoria própria

Comparando aos dados referentes às capitais brasileiras para o período de 2012 a


2016 publicados por Melo, Rocha e Masullo (2019), observa-se que o desvio padrão são
maiores em relação à taxa de suicídio, PIB per capita e taxa de óbitos por drogas, enquanto
as variáveis IDEB e taxa de homicídio tiveram desvio menor.
Em relação aos dados de Melo, Rocha e Masullo (2019), embora a série temporal
seja diferente, é possível observar que a média de homicídios para a região Sudoeste é
menor do que nas capitais brasileiras (38,76), bem como a média da nota do IDEB é
superior, porém, a variável taxa de suicídio mostra uma tendência regional. Enquanto as
capitais brasileiras apresentaram uma média de suicídios na ordem de 5,39 (DP=1,86), a
região Sudoeste apresentou média de 13,47 (DP=14,51), embora o desvio padrão seja
maior.
A tabela 2 apresenta os fatores associados às taxas de homicídios na área de estudo
e os testes de avaliação dos modelos.
Tabela 2: Fatores associados às taxas de homicídios na área de estudo no período entre
2014 e 2019. Significâncias: (*) = p < 0,05 e (.) = p < 0,1.

Modelo
Variáveis
Pooled Efeitos fixos Efeitos aleatórios
Suicídio 0,039 0,050 0,040
Drogas -0,099 0,0002 0,084
IDEB -4,458(*) 0,601 -4,207(.)
PIB per capita 0,00005 0,0002 0,00005
R2 0,025027 0,005994 0,020666
Teste F 1,1908
Teste Breusch e Pagan 0,28845
Teste de Hausman 2,9145
Fonte: Autoria própria

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Observando o teste F e de Breusch e Pagan, os resultados apontam para uma
hipótese em que há influências não observáveis constantes ao longo do período temporal
analisado, nesse sentido, o teste de Hausman detectou que o modelo de efeitos aleatórios
é o mais indicado, possuindo valor R maior (embora ainda baixo). Importante observar
que, no modelo Pooled, houve significância estatística (p<0,05) quando observamos a
variável IDEB como um fator negativo em relação à taxa de homicídio, conforme outros
estudos encontraram (MELO, ROCHA e MASULLO, 2019), ou seja, há uma associação
possível entre permanência na escola e qualidade de ensino com a diminuição da
violência.
Com relação às variáveis disponibilidade de drogas e PIB per capita, não houve
significância estatística e os coeficientes não foram expressivos, sobretudo o PIB,
portanto, para esse arranjo espacial e temporal dos dados, não foram encontradas
correlações entre a taxa de homicídios e essas duas variáveis.
Portanto, foi identificada apenas a correlação negativa entre homicídios e a média
do IDEB, ou seja, para este recorte espacial e temporal, os valores de mortes por
homicídio variam de maneira inversa aos valores do IDEB, o que expõe uma relação
muito clara entre os investimentos em educação e permanência do aluno nas instituições
como um fator para diminuição da violência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRICENO-LEON, R.; VILLAVECES, A.; CONCHA-EASTMAN, A. Understanding


the uneven distribution of the incidence of homicide in Latin America. International
Journal of Epidemiology, v. 37, n. 4, p. 751–757, 1 ago. 2008.

FBSP. FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário brasileiro de


segurança pública 2022. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-
content/uploads/2022/06/anuario-2022.pdf?v=15. Acesso em: 18 mai. 2023.

IBGE. Produto Interno Bruto do Brasil - PIB, 2017. Disponível em:


<https://www.ibge.gov.br/explica/pib.php>. Acesso em: 14 maio. 2020.

IBGE. Pesquisa de Informações Básicas Municipais - MUNIC. Disponível em:


<https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados.html?view=municipio>. Acesso em: 18
mai. 2023.

MELO, S. N. DE; ROCHA, J.; MASULLO, Y. A. G. Análise Longitudinal dos Fatores


Associados a Epidemia/Endemia de Homicídios nas Capitais Brasileiras. Confins, n. 42,
2019.

UNODC. Global Study on Homicide 2019. Vienna: ONU - Organização das Nações
Unidas, 2019. Disponível em: https://www.unodc.org/documents/data-and-
analysis/gsh/Booklet2.pdf. Acesso em: 18 mai. 2023.

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