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VIÇOSA
MINAS GERAIS - BRASIL
DEZEMBRO - 1999
ROSÂNGELA COSTA ALVES
ii
AGRADECIMENTO
iii
BIOGRAFIA
iv
CONTEÚDO
Página
ABSTRACT ........................................................................................... ix
1. INTRODUÇÃO .................................................................................. 1
2. METODOLOGIA ............................................................................... 26
v
Página
vi
EXTRATO
vii
comunicação, para que ocorra mudança de comportamento e seja efetivada a
aprendizagem.
viii
ABSTRACT
ix
1. INTRODUÇÃO
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favorece a transformação e a expansão da atividade suinícola, assim como o
crescente desenvolvimento do setor industrial.
No Brasil, a partir da década de 70, houve expressivo desenvolvimento
das agroindústrias, seguido de transformações e alterações estruturais de toda
a matriz da cadeia produtiva. Da chamada “era da agricultura tradicional”
(dentro da fazenda) passou-se à “era do agribusiness ou complexo
agroindustrial” (fora da fazenda), marcada por profundas mudanças das
relações tecnológicas, produtivas, comerciais e financeiras.
Segundo ALVES (1996),
essas mudanças foram e serão irreversíveis, principalmente com relação à
modernização da agricultura, que cada vez mais demandará e absorverá
tecnologias modernas. Portanto, não mudará a interdependência entre
insumos, produção agropecuária, processamento/distribuição e ecologia, ou
seja, o “dentro da fazenda” está sendo e continuará influenciado diretamente
pelo “fora da fazenda”.
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presidem a valoração dos meios de produção e asseguram a articulação das
operações.
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KAGEYAMA (1990) afirmou que, no sistema de integração, pressupõe-
se que haja o relacionamento e a dependência direta entre produção familiar-
agropecuária e empresa integradora. Assim, o sistema de integração pode ser
definido como um conjunto formado de elementos ou subelementos em
interação, o qual se caracteriza pelas seguintes condições: estar localizado em
dado ambiente; cumprir uma função ou exercer uma atividade; ser dotado de
uma estrutura e evoluir no tempo; além de ter objetivos definidos.
Este trabalho analisa, especificamente, a relação de comunicação
entre técnicos da Sadia Concórdia S.A. e produtores especializados na
produção de leitões. Essa comunicação é um elemento fundamental da relação
integradora-integrado, visto que, por meio dela, são transmitidas, processadas
e retroalimentadas as mensagens de conteúdo técnico e econômico que
constituem o núcleo cimentador dos interesses entre um e outro agente.
A empresa integradora, com vistas em garantir a qualidade do sistema
de produção, em especial na suinocultura, exige que os integrados executem
todos os procedimentos orientados pela assistência técnica, tais como
construção de instalações; manejo adequado; cuidados sanitários;
melhoramento genético; e utilização de rações e, ou, de concentrados
recomendados, induzindo-os a adequarem seus produtos, serviços e
ambientes aos padrões preconizados.
Com o objetivo de levar aos suinocultores, produtores de leitões,
mensagens que possam permitir um progresso socioeconômico, utiliza-se o
Manual do Suinocultor Integrado, elaborado pela área agropecuária - setor de
fomento suinícola. Nesse documento, a integração de suínos implica
um acordo através do qual a empresa e o produtor fazem um esquema de
colaboração mútua, com a finalidade de produzir suínos, cabendo a cada uma
das partes, diferentes fases da produção”. Com essa troca de benefícios, a
Sadia fornece a assistência técnica, insumos e o mercado, enquanto o criador
se responsabiliza pela criação propriamente dita, para o bem comum. Iniciado
há mais de quinze anos, o Sistema de Integração de suínos da Sadia assumiu,
no decorrer dos anos, posição de destaque em função do grande trabalho
desenvolvido pelos suinocultores da região (MANUAL..., 1995).
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1.1. Da criação tradicional à suinocultura integrada
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essa tradição comercial dos seus antepassados europeus), principalmente de
seus derivados - lingüiça e banha.
Em razão dos avanços alcançados principalmente pela suinocultura do
Sul do País, pode-se caracterizar o rebanho suíno brasileiro em dois estratos
bem definidos quanto a sua composição genética, ou seja, o estrato de raças
especializadas na produção de carne (Duroc, Large White, Landrace e seus
cruzamentos) e aquele que utiliza animais das raças nativas ou nacionais
(Piau, Canastra, Nilo, etc.), destinados à produção de gordura.
Esses produtores familiares do Sul do Brasil foram os principais
responsáveis pela produção de suínos, visto que essa atividade necessitava de
algumas técnicas peculiares para desenvolver-se. A exigência de pouca área
de terra e o pequeno porte dos animais adaptavam-se, perfeitamente, às
exigências das pequenas propriedades, e a produção de matéria orgânica para
a lavoura permitia a transformação do suíno em subprodutos (a banha era um
dos subprodutos essenciais à dieta das famílias coloniais).
A evolução da suinocultura, conforme MIRANDA (1995), pode ser
evidenciada em quatro fases.
Na primeira fase (antes de 1935), houve a comercialização de
excedentes da produção para subsistência, o que possibilitou a acumulação de
pequeno excedente no setor comercial, além da reprodução da família. Nessa
fase, o relacionamento entre a agroindústria e produtor não teve grande
interferência no processo de trabalho agrícola, visto que a agroindústria se
limitava a adquirir a matéria-prima - o porco tipo banha.
Na segunda fase, de 1935 a 1945, a suinocultura ampliou-se
geograficamente e houve aumento da acumulação do capital comercial,
firmando-se como principal atividade comercial na região e integrando-se,
economicamente, ao cenário brasileiro.
Na terceira fase, de 1945 a 1965, iniciou-se a contratualização de
agricultores pelas indústrias agroalimentares. As agroindústrias adotaram,
como critério de seleção, a condição familiar da exploração, em razão da
disponibilidade dos agricultores e da dedicação destes à terra e ao seu
patrimônio - uma diferença que consideram fundamental em relação às
explorações operadas só por assalariados. Nos EUA e em vários países
europeus, essa situação ocorreu na década seguinte. Em meados da década
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de 60, raças exóticas foram introduzidas no Brasil, procedentes dos Estados
Unidos e da Europa.
No Brasil, surgiram grandes frigoríficos, o que consolidou,
definitivamente, a atividade suinícola como a principal atividade comercial. O
relacionamento entre indústrias agroalimentares e agricultores estreitou-se,
ocorrendo, nos frigoríficos, maior centralização no comércio de suínos via
intermediação.
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A introdução do porco tipo carne também estava relacionada com
novas exigências do mercado consumidor que demandava produtos menos
gordurosos, condição necessária para eventual exportação.
A história do desenvolvimento da suinocultura em Concórdia confunde-
se com o surgimento da Sadia Concórdia S.A., em 1944. Essa indústria
agroalimentar tinha como principal objetivo a aquisição de animais (tipo banha),
para processamento e comercialização. Posteriormente, importou animais
puros diretamente dos maiores países produtores (EUA, Dinamarca e
Alemanha) para realizar o melhoramento genético da atividade suinícola,
dando passos decisivos rumo à modernização.
A partir de 1954, foi criado o Serviço de Fomento da Sadia S.A., que,
por meio da divulgação de inovações tecnológicas, buscava introduzir técnicas
de produção que visavam atender à demanda crescente de matéria-prima para
o frigorífico em expansão. O objetivo básico era melhorar e assegurar a
qualidade genética e sanitária dos rebanhos.
A preocupação com o “fomento” da atividade suinícola estava
intimamente ligada à necessidade de se obter carne suína em quantidade e
qualidade adequada à sua capacidade de abate, durante todo o ano, bem
como de garantir a melhoria da qualidade mediante introdução de reprodutores
de raças mais especializadas (mais carne e menos gordura), a qual
assegurasse melhor rendimento no processamento do produto.
O “fomento” da atividade era realizado com o auxílio dos assistentes
técnicos que, em reuniões nas comunidades rurais, distribuíam folhetos com
informações sobre a atividade suinícola.
O sistema de integração na Sadia Concórdia S.A. foi implantado nos
anos 60, por Atílio Fontana, proprietário da empresa. Esse modelo visava obter
produtos de qualidade, mediante vantagens competitivas e decisivas no
mercado de carne e derivados de suínos, estratégia esta posteriormente
seguida por outras empresas agroalimentares brasileiras.
Com base nesse modelo, a Sadia Concórdia S.A. passaria a fornecer
matrizes de raça mais especializadas, medicamentos, ração balanceada e
assistência técnica direta aos produtores e a exigir a introdução de pocilgas
mais sofisticadas e de rações balanceadas e adoção de uma série de medidas
direcionadas ao controle sanitário. Esse novo padrão de produção agrícola
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dependeu de financiamento agrícola para ser implantado. Dessa forma,
lançava-se a base para uma futura relação contratual entre agroindústria e
produtor.
A ACARESC, nas décadas de 60 e 70, desempenhou papel decisivo
na modernização da atividade suinícola - integrada, contribuindo, em parceria
com diversas entidades e programas, para elevar a produtividade da
suinocultura catarinense, que passou de um índice de desfrute de 45%, nos
anos 60, para taxas superiores aos 150%, nos dias atuais.
Nessa época, a maior parte dos produtores assistidos pela extensão
rural oficial vinculava-se aos sistemas integrados, passando a receber
assistência técnica diretamente das empresas integradoras, o que acarretou o
esvaziamento do trabalho extensionista junto a esse segmento de produtores.
No entanto, a ACARESC continuou atuando junto aos produtores não-
integrados, aqueles menos modernizados e que não entraram na primeira
etapa da modernização. As agroindústrias recrutaram técnicos mais
experientes da ACARESC, para formarem seus quadros de assistência técnica
e fomentar os suinocultores.
A partir dos anos 50 até a década de 70, a orientação teórica que
norteou a pesquisa em comunicação agrícola enfatizou a transferência
tecnológica de países desenvolvidos para nações em desenvolvimento. As
premissas de comunicação para o desenvolvimento rural vão estar ligadas à
concepção sociológica de desenvolvimento, denominada difusionismo.
O difusionismo destaca-se por considerar a sociedade a partir de uma
visão dicotômica - um pólo valorado negativamente e outro positivamente. O
primeiro é denominado “atrasado”, e o segundo, “moderno”. Partindo dessa
concepção, os difusionistas defendem a existência de estágios diferenciados
entre as sociedades (subdesenvolvidas e desenvolvidas) e, ou, entre
subsistemas de uma mesma sociedade (meio rural e urbano). Para se alcançar
o desenvolvimento, devem-se superar tais diferenças mediante a introdução de
recursos oriundos do pólo valorado positivamente, os quais podem ser os mais
diversos possíveis - financeiros, tecnológicos, comportamentais, educacionais,
etc. A introdução de tais recursos permitia que as sociedades “atrasadas”
recuperassem o espaço histórico que as separava das sociedades “modernas”.
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A Sadia Concórdia S.A. utilizou-se desse modelo de comunicação da
extensão rural oficial como orientação teórico-metodológica para difundir e
transferir tecnologias.
A partir da década de 70, em razão do aumento das integrações
agroindustriais, as tecnologias difundidas passaram a não mais contemplar as
especificações individuais de cada estabelecimento agrícola, visto que
predominava a difusão de pacotes tecnológicos que impunham uma forma
preconizada de criar suínos. Com isso, houve ruptura na forma de produção de
suínos, pois os grupos agroindustriais necessitavam de matéria-prima em
maior quantidade e qualidade, enquanto os produtores não percebiam
vantagens imediatas nessa transformação tecnológica, pois a remuneração do
porco tipo banha era equivalente ao do tipo carne.
No Brasil, essa forma de articulação e intervenção via sistema
integrado, da indústria sobre a agricultura, teve seu grande surto de
desenvolvimento no início da década de 70 e início da de 80.
O contrato de produção, seja verbal ou escrito, foi o instrumento que
formalizou a relação suinocultor-agroindústria. Por meio dele, a agroindústria
controla a atividade do suinocultor, impondo índices de produtividade que
obedecem a padrões industriais da atividade, mediante a substituição
crescente de produtos in natura ou rústicos por produtos processados ou
produzidos industrialmente.
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Adquire, a preços de custo, mudas de árvores frutíferas e para
reflorestamento; e
Adquire sementes certificadas de milho, a preços de custo, com pagamento
em suínos.
Ao mesmo tempo, a integradora estabelece um conjunto de critérios,
variáveis em função da conjuntura e da região, para seleção dos produtores
integrados.
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c) Os contratos de produção exigem que as agroindústrias selecionem,
treinem e fiscalizem a mão-de-obra assalariada necessária à obtenção da
criação.
Os produtores, por meio da aquisição dos insumos, procuram adaptar-
se ao padrão tecnológico orientado pela assistência técnica da empresa, que
estabelece a garantia na aquisição do produto. O produtor deve ter lealdade
para com a empresa que lhe fornece as condições de produção,
comprometendo-se a entregar o seu produto unicamente àquela empresa,
mesmo que outra esteja classificando melhor seu produto.
Na década de 80, em razão do aumento expressivo de produtores que
participavam do sistema de integração, o serviço de extensão reduziu sua
participação no cenário da suinocultura catarinense. Na segunda metade dessa
década, houve retirada total do crédito rural, o que levou os suinocultores rurais
integrados a dependerem, basicamente, de financiamento feito diretamente
pela agroindústria. Com isso, o processo de integração consolidou-se e
aumentou-se o nível de exigência com as normas técnicas de produção.
Na década de 90, em razão da imposição da integradora, houve
tendência de transformação da suinocultura, de ciclo completo, em produtores
de leitões e de terminação.
Para WILKINSON (1997),
a agroindústria privada está se preparando para substituir o “ciclo completo” do
sistema produtivo com uma divisão mais especializada do trabalho, separando
a fase de criação da fase da engorda. Ao mesmo tempo, a ração está sendo
fornecida diretamente pela agroindústria (seguindo o modelo avícola) e não
mais produzida na fazenda. Neste processo, é possível que as economias de
escala empurrem a suinocultura para fora do setor da agricultura familiar
diversificada.
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milhões de proprietários rurais e constitui um excelente instrumento de
interiorização do desenvolvimento e de fixação da mão-de-obra no meio rural.
Além disso, fornece um produto de alta qualidade, rico em nutrientes e
produzido de forma higiênica e profissional pela maioria dos criadores
nacionais.
Em Santa Catarina, tem sido considerada uma atividade de extrema
importância socioeconômica, em razão, segundo GOMES et al. (1992), não
apenas do grande número de pequenos produtores envolvidos, mas também
da capacidade de se produzir grande quantidade de proteína de ótima
qualidade em pequeno espaço físico e em curto espaço de tempo. Essa
atividade está presente em 46,5% dos 5,8 milhões de propriedades do País,
empregando mão-de-obra tipicamente familiar e constituindo importante fonte
de renda e de estabilidade social.
Na década de 90, ocorreram profundas transformações não só na
base técnica da atividade produtiva, como também na relação das
agroindústrias com as unidades familiares de produção. Nesse período, houve
crescimento substancial no processo de integração vertical, principalmente pela
especialização dos produtores por fases do ciclo produtivo.
Segundo MIOR (1992), os grupos agroindustriais têm realizado ações
estratégicas que modificam a estrutura de produção da atividade suinícola, de
ciclo completo, para segmentos mais especializados. Essa especialização
facilita o controle do processo de produção por parte da agroindústria, que,
para alcançar seus objetivos, fornece material genético, alimentação e
prescrições do manejo e das instalações, mediante maior controle no
cronograma da produção.
A Sadia Concórdia S.A. tem incentivado seus integrados a se
especializarem na fase de produção de leitões ou de terminação, ajustando sua
matéria-prima, “carne suína”, às novas demandas do mercado consumidor.
Muitos dos produtores, de ciclo completo, são incentivados a segmentar a
atividade (separando a fase de criação da fase de engorda). Essa estratégia,
do ponto de vista da agroindústria, visa, basicamente, garantir o aumento da
produção, melhorar a qualidade do produto e manter um fluxo mais regular da
matéria-prima. Na segmentação incentivada, os produtores de leitões são
aqueles que possuem, geralmente, um plantel de fêmeas e machos de boa
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qualidade genética e usam os cruzamentos raciais para aproveitamento do
“vigor híbrido”. Os leitões são vendidos aos terminadores por intermédio do
integrador, quando atingem peso de 20 a 30 quilos, enquanto os produtores de
terminados dependem, exclusivamente, dos produtores de leitões, recebem os
leitões com peso que varia de 20 e 30 quilos e os entregam à integradora com,
aproximadamente, 100 kg.
Muitos desses produtores familiares integrados não conseguem
acompanhar a evolução dos índices de produção e produtividade almejados
pelas integradoras, razão pela qual são excluídos do sistema integrado, já que
os investimentos requeridos elevam os custos de produção e exigem
mudanças qualitativas principalmente na genética dos animais, na alimentação,
na sanidade e na forma de administrar a propriedade.
Em razão de crises cíclicas que atingiram a atividade por diversos
períodos, o setor suinícola está ficando descapitalizado e os suinocultores
integrados têm enfrentado inúmeras dificuldades para permanecer na
atividade, o que dificulta a relação entre eles e a integradora, principalmente
nas áreas técnica, comunicacional, técnico-metodológica, organizativa e no
controle no processo de trabalho. Aqueles que resistiram e, ou, optaram por
explorar sua parcela de terra buscaram a diversificação da atividade, embora
enfrentem ainda dificuldades, de ordem estrutural, para se manterem.
As modificações caracterizadas pela mudança de comportamento e por
inovações tecnológicas são devidas também à relação de comunicação, à
renda, ao risco e ao nível de instrução dos produtores. Em síntese, tais
investimentos demandarão mudanças nos procedimentos e nas rotinas do
sistema produtivo.
Este processo de concentração e especialização segue a tendência
internacional que tem se configurado desde os anos 80 e que apresenta
vantagens da produção em escala para a indústria, levando à diminuição do
número de propriedades rurais, enquanto estas aumentam no seu número de
hectares. Portanto, essa elitização da atividade provoca uma concentração da
produção na mão de poucos e retira a possibilidade de um modelo de produção
associativo que permite o envolvimento de maior número de famílias.
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SORJ et al. (1982), ao analisarem a questão da integração, em que o
conhecimento é subtraído do produtor e seu ritmo de trabalho passa a ser
determinado pelas prescrições técnicas da agroindústria, constataram que,
na medida em que a tecnificação se processa, os conhecimentos e práticas
tradicionais são desvalorizados, uma vez que o controle sobre o processo de
produção é ditado pelas normas dos capitais agroindustriais (SORJ et al.,
1982:68).
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a) Maior precocidade sexual e capacidade reprodutiva;
b) Maior taxa de crescimento ou menor idade de abate;
c) Maior eficiência de transformação do alimento consumido em carne de boa
qualidade; e
d) Maior rendimento de carne na carcaça.
Na suinocultura, obter produtividade implica produzir mais em menos
tempo, sem aumentar custos ou reduzir a qualidade dos produtos, enquanto a
melhoria da eficiência diz respeito à conversão alimentar e depende da
redução da taxa de mortalidade e do crescimento da taxa de desfrute. Essas
variáveis contribuem para a redução do custo total de produção de suínos.
A eficiência reprodutiva obtida em criações tecnificadas de pequeno e
médio porte, no Sul do Brasil, é da ordem de 9,5 leitões/leitegada e 1,9
parto/porca/ano. O potencial biológico da espécie suína é, consideravelmente,
mais elevado, visto que os valores estão estimados acima de 13
leitões/leitegada e até 2,6 partos/porca/ano. Os produtores que não atingem
esses índices têm prejuízos e correm o risco de serem excluídos do sistema
integrado, caso não aumentem a escala de produção.
Segundo o projeto do Programa de Apoio ao Desenvolvimento
Sustentável da Suinocultura no Sul do Brasil, da EMBRAPA/CNPSA, de 1998,
as análises prospectivas da cadeia suína indicam, no curto prazo, um aumento
da eficiência produtiva dos sistemas mediante o emprego de novas tecnologias
(genética, nutrição e sanidade) e de técnicas gerenciais, capazes de reduzir a
idade do abate (160 para 145 dias) e de elevar a capacidade reprodutiva do
rebanho (14 a 20 suínos/porca/ano) e o volume das dejeções produzidas.
Quanto ao aumento do volume de dejetos, este poderá agravar a situação de
contaminação na região oeste catarinense.
A meta da Sadia Concórdia S.A. para os produtores de leitões, em
relação à produtividade, é de que estes consigam melhorar a conversão
alimentar, obtenham produtividade ideal de 18 a 20 leitões/porca/ano e
executem os padrões para cobertura, nutrição, atendimento ao parto, ambiente
na maternidade e desmame. De um lado, a produção especializada, que
concentra a produção de suínos e seleciona os produtores e, de outro, a
exclusão dos suinocultores com menor escala de produção. Essa exclusão dos
produtores familiares traz conseqüências regionais negativas, como êxodo
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rural, subutilização dos investimentos rurais (escolas, estradas locais, serviços
de saúde e eletrificação), emergência de favelas urbanas e crescimento agudo
da taxa criminal, já que a rápida urbanização da região se baseia mais nos
impasses da produção familiar do que na atração do emprego industrial ou dos
serviços e na migração para fora da região.
O desenvolvimento da atividade suinícola constitui, portanto,
importante fator de crescimento econômico para os setores agroindustriais,
cujos efeitos se evidenciam na sua competitividade e na renda da produção
familiar integrada.
A competitividade no caso da suinocultura, seria um resultante das inter-
relações de uma ampla gama de fatores, onde estariam inseridos atores
agrícolas, industriais, comerciais e o governo interagindo de modo a criar um
sistema com relações dinâmicas interdependentes e mutuamente
influenciadoras denominado de cadeia produtiva (CANEVER, 1997).
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para se obter o desempenho almejado ressaltado pela importância dada à
tecnologia, agente indutor dessas mudanças pelo canal interpessoal.
Segundo MIRANDA (1995), essa diferença de racionalidade entre
suinocultor empresarial e produtor familiar acaba resultando em conflitos na
relação de comunicação entre produtores e técnicos. Ao analisar também o
processo de geração e difusão de tecnologias, em relação à tecnologia
agropecuária e aos produtores familiares da região oeste de Santa Catarina, à
luz da racionalidade formal e substantiva de Weber, esse autor constatou que,
muitas vezes, os integrados encontram resistência em adotar tecnologias,
pois, mesmo integrados ao mercado, agem segundo uma racionalidade
substantiva, valorizando, além da produtividade e eficiência, outros aspectos de
reprodução da família, como aversão ao risco, valores locais de solidariedade e
prestígio social. Segundo ainda esse autor, os produtores rurais da região
oeste perseguem um “modelo ideal” de exploração, o qual é resultante do
cruzamento dos objetivos individuais com os estabelecidos pela sociedade.
Assim, inestimável é o papel da comunicação humana nos destinos
tanto da empresa integradora quanto dos produtores integrados a ela. Em
decorrência disso, no plano organizacional, a utilização correta das técnicas de
comunicação, assim como dos auxílios instrucionais, constitui relevante
estratégia para interação de ambos.
O homem tem sido mensurado em termos econômico, funcional e
administrativo, numa configuração empírica de mera “coisa”. Muitas vezes,
permanece como um “desconhecido” nessa dinâmica, razão pela qual é
importante conhecer os elementos básicos que influenciam o comportamento
individual dos produtores, para adoção, ou não, de tecnologias preconizadas
pela empresa. Sabe-se que, para adoção destas, os produtores devem “querer,
saber e poder”, já que o comportamento de qualquer indivíduo não é algo que
ocorra casualmente, mas sempre com vistas em um propósito.
Esse conjunto de reflexões abre uma perspectiva de análise em que o
vínculo de integração entre integrados e integradora, embora tendo maior
visibilidade no campo econômico, expressa, de fato, uma relação social, em
que as estratégias e projetos dos agentes se adaptam e entram em confronto e
representações sociais e as práticas interagem. Ao mesmo tempo, é uma
relação em que o poder da integradora se expressa pela capacidade de
22
imposição de padrões tecnológicos e condições de comercialização à atividade
dos integrados, o que, ao mesmo tempo, se torna viável e é encoberto pelos
laços de clientelismo entre integradora e integrados.
Em virtude das condições técnicas à disposição do capital e das
condições naturais da produção agropecuária, o capital integrador possui uma
gama de alternativas estratégicas comunicacionais, metodológicas e
instrucionais para que esses objetivos sejam atingidos. Entretanto, alguns
agentes/agroindústrias ainda atribuem o insucesso da atividade a muitos
produtores rurais, considerados apáticos, ignorantes, incapazes de gerenciar o
negócio e sem perspectivas de desenvolvimento.
No entanto, sem um adequado processo de comunicação não é
possível ocorrer forte ligação entre os propósitos organizacionais e o
comprometimento dos seus membros, visto que não se podem atribuir
responsabilidades a quem não recebe informações. As pessoas geram idéias e
manifestam sentimentos por meio da comunicação, o que permite a verdadeira
integração ao ambiente empresarial.
A capacidade da empresa para orientar suas ações, segundo a
evolução do ciclo de vida de seus produtos, e para controlar os segmentos
equivalentes da cadeia de produção, segundo as fases de evolução, constitui
uma estratégia de manutenção da posição dominante.
No sistema de integração, os elementos constituintes desse processo
são vistos como atores econômicos, já que irão posicionar-se para obter o
máximo de margens de lucro em suas atividades, ao mesmo tempo que tentam
se apropriar das margens dos outros atores presentes. Esse parece ser o
principal fundamento das estratégias industriais em face da concorrência e do
objetivo de posicionar-se na melhor situação possível para se defender contra
as forças da concorrência ou transformá-las ao seu favor. Muitas dessas
estratégias e operações partem da necessidade de criar ambiente para
mudanças, decorrentes, basicamente, do conjuntos de fatores políticos,
econômicos, financeiros, tecnológicos, socioculturais, legais ou jurídicos.
A Sadia Concórdia S.A. viabiliza suas estratégias graças ao sistema de
comunicação, que é vital para as funções administrativas internas e para o
relacionamento da empresa com o meio externo, já que permite a efetivação
dos seus objetivos. A eficiência ou não dessa comunicação dependerá da
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percepção dos recebedores em graus variados, num processo de
aprendizagem.
Observa-se que, no discurso da empresa integradora, há elementos
que objetivam a melhoria dos processos, da produção, da produtividade e do
padrão de vida dos produtores integrados, embora nem sempre os resultados
sejam os desejados, o que, muitas vezes, frustra as expectativas de ambos.
Para melhor compreender esse problema, faz-se necessário
relativisar1, buscando identificar os fatores que estariam dificultando ou
impedindo a eficiência comunicacional entre a integradora Sadia Concórdia
S.A. e os agricultores integrados, já que, nessa dinâmica, há interesses
comuns e divergentes.
A integradora, em sua trajetória, vem utilizando métodos extensionistas
baseados no modelo de difusão/adoção para transferência dessas tecnologias,
mediante a comunicação interpessoal. Essa comunicação aparece também
como instrumento retórico utilizado pela integradora na “promoção de
mudanças”, relacionadas com implantação de novas estratégias e filosofias
empresariais.
Segundo ROGERS (1969), a comunicação interpessoal é a mais
eficiente para convencer os indivíduos a adotarem novas idéias, embora nem
sempre produza os efeitos esperados.
Para BORDENAVE (1988), é próprio da comunicação contribuir para a
modificação dos significados que as pessoas atribuem às coisas, visto que é
por meio dessa modificação que a comunicação colabora na transformação
das crenças, dos valores e dos comportamentos, daí, o seu imenso poder e o
uso que o poder faz dela. Dessa forma, torna-se importante compreender as
variáveis que determinam comportamentos e influenciam a modificação
desses comportamentos, desvendando as dificuldades e analisando as
percepções acerca dos significados que os suinocultores familiares dão a essa
comunicação.
Neste estudo, pretendeu-se analisar como se processa a comunicação
entre integradora-integrado, já que a percepção ocorre por meio de estímulos
que vêm de fora e o homem “sente” a realidade que o rodeia por meio dos
1
Relativisar é compreender o outro no contexto dos seus próprios valores.
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sentidos, percebendo, assim, palavras, gestos e outros signos que lhe são
apresentados e para os quais tem um significado específico.
1.3. Objetivos
25
2. METODOLOGIA
27
2.3. Coleta de dados
28
Quadro 1 - Número total de produtores de leitões, por estrato, segundo a meto-
dologia utilizada pela Sadia Concórdia S.A., no município de
Concórdia-SC, 1997
Cabeça – 25% 9
Média – 50% 18
Cola – 25% 9
TOTAL 36
29
A integradora treina seus técnicos mediante o curso de Administração
Rural, com base na metodologia de gestão agrícola, de HOLZ (1992). Durante
o curso, são veiculadas mensagens sobre adoção de tecnologias. Essa
metodologia segue os princípios básicos da educação de adultos, quais sejam:
1. Os adultos devem ter o desejo de aprender, o que pode ser estimulado por
influências externas, mas nunca imposto;
2. Os adultos aprenderão somente o que sentem necessidade de aprender, já
que as teorias só terão sentido quando puderem ser aplicadas;
3. Os adultos aprendem fazendo;
4. O aprendizado deve estar relacionado com situações reais;
5. Os adultos aprendem melhor em clima participativo e ausência de censura; e
6. Os adultos necessitam de feedback.
A técnica de gestão agrícola, vista como metodologia baseada nos
princípios acima, além da simplicidade, apresenta as vantagens de rapidez na
sua execução, além de elevado grau de receptividade por parte dos
produtores, uma vez que se propõem soluções simples e já experimentadas,
pois difunde o conceito de lucro e eficiência econômica como resultado dos
aumentos de produtividade e eficiência técnica das atividades agrícolas como
um todo. Facilita, ainda, o emprego de atividades pelos técnicos, visto que
permite a eles conhecer melhor a região agrícola em estudo e fornecer certos
valores de referência, além de responder à necessidade, fortemente sentida,
dos produtores de se situarem, em comparação com os outros. Sua limitação é
que ela não introduz nada de novo ao modo de produção da região. Além
disso, não se sabe se as “empresas” rurais melhores classificadas
desenvolvem realmente o melhor sistema de produção. Esse método mostrou-
se apropriado para produtores com baixo grau de instrução formal, mas que
participam do mercado e, portanto, manuseiam valores, números, notas fiscais,
contas bancárias, etc.
Segundo os técnicos, os produtores mal informados sentem-se
inseguros e assumem posições cautelosas, de forte aversão ao risco. O
método de gestão agrícola ajuda-os a entender a sua realidade e redimensiona
o risco pela sistematização das informações. Para tanto, faz-se necessário que
o produtor faça registros contábeis e entenda a razão pela qual a integradora
30
coleta os dados de todos os produtores. Além do mais, são necessários
critérios iguais para essa coleta de dados.
2
Processo é aqui definido como qualquer fenômeno que apresente contínua mudança no tempo.
31
esses modelos diferem um do outro; nenhum pode ser tido como “correto” ou
“verdadeiro”. Uns podem ser mais úteis que outros e alguns podem
corresponder mais que os outros ao presente estado de conhecimento sobre
comunicação.
A maioria dos modelos contemporâneos de comunicação mais
utilizados foi elaborada a partir do modelo criado em 1947 por Claude Shannon
e pelo engenheiro eletricista Warren Weaver, os quais desenvolveram um
modelo de comunicação eletrônica.
Segundo os cientistas do comportamento, o modelo de Shannon-
Weaver, cujos componentes se encontram nas Figuras 1 e 2, é útil na
descrição da comunicação humana.
Mensagem Mensagem
32
Pode-se dizer que toda comunicação humana tem alguma fonte, uma
pessoa ou um grupo de pessoas com objetivos e razões para comunicar-se.
Estabelecida uma origem, com idéias, necessidades, intenções, informações e
um objetivo, torna-se necessário o segundo ingrediente. O objetivo da fonte
tem de ser expresso em forma de mensagem. Na comunicação humana, a
mensagem existe em forma física - a tradução de idéias, objetivos e intenções
num código, num conjunto sistemático de símbolos.
33
mensagens aos indivíduos por diferentes meios, para que eles percebam, com
facilidade, as vantagens dessas mensagens, modificando, assim, sua maneira
de realizar suas ações com um mínimo de esforço, ou seja, sendo capazes de
inovar e modernizar. Posteriormente, constatou-se que os destinatários não
adotaram, de forma automática, as mensagens emitidas e transmitidas pela
fonte, pois fatores intervenientes teriam afetado o processo de comunicação e,
conseqüentemente, a adoção.
34
Os significados surgem a partir da interação social, e o significado
dentro de uma mensagem é influenciado tanto pela própria informação como
pelo contexto da mensagem. Diante desses fatos, torna-se necessário
considerar uma série de fatores, a saber:
1) Os papéis que essas pessoas desempenham - quem está comunicando;
2) A linguagem ou o(s) símbolo(s) usado(s) na comunicação e a respectiva
capacidade de levar a informação e esta ser entendida por ambas as partes;
3) O canal de comunicação ou o meio empregado, e como essas informações
são recebidas por meio dos diversos canais (tais como comunicação falada
ou escrita);
4) O conteúdo da comunicação (relevante ou irrelevante, familiar ou estranho);
5) As características interpessoais do transmissor e as relações interpessoais
entre o transmissor e o receptor (confiança e influência, etc.)
6) O contexto no qual a comunicação ocorre, em relação a estrutura, espaço
físico e ambiente social. Esses diversos fatores e o modelo básico de
comunicação proporcionam uma base para se analisar e compreender a
comunicação.
35
2) Atitudes - a atitude de uma fonte de comunicação influencia os meios pelos
quais ela se comunica. Essas atitudes influenciam, pelo menos, de três
formas:
a) A atitude para consigo - tem a ver com a auto-avaliação que afeta tanto
positivamente como negativamente o tipo de mensagem;
b) A atitude para com o receptor - se essas atitudes forem positivas, este
estará mais propenso a aceitar o que ela diz e pode-se dizer que é
determinante para a sua efetividade. Quando os ouvintes percebem que o
autor ou o orador gosta realmente deles, mostram-se muito menos
críticos;
c) A atitude para com o assunto - a atitude da fonte para com o receptor,
tanto “positiva como negativa”, costuma aparecer, freqüentemente, nas
mensagens.
3) Nível de conhecimento da fonte sobre o assunto - influencia a mensagem,
pois ninguém é capaz de comunicar aquilo que não sabe; ninguém informa,
com a máxima efetividade, sobre algo que não conhece. Por outro lado, se a
fonte sabe “demais”, se for “ultra-especializada”, poderá errar, pelo fato de
suas habilidades comunicadoras serem empregadas de maneira tão técnica
que o receptor acabe não entendendo as mensagens.
4) Posição dentro do sistema sociocultural - nenhuma fonte comunica sem ser
influenciada por sua posição no sistema sociocultural. É necessário levar em
conta suas habilidades comunicadoras, suas atitudes e seus conhecimentos;
é preciso saber mais, ou seja, conhecer o tipo de sistema social em que ela
opera, o papel que desempenha, as funções a que é chamada a executar, o
prestígio que ela própria e outras pessoas lhe atribuem. É imprescindível
conhecer o contexto cultural no qual se comunica, as crenças e os valores
culturais que lhe parecem dominantes, as formas de comportamento
aceitáveis ou não-aceitáveis, exigidas ou não-exigidas em sua cultura.
Precisa-se conhecer tanto suas expectativas quanto às dos outros.
36
para comunicar-se, os canais que usam para esta ou aquela espécie de
mensagem, etc.
A posição da fonte no contexto social e cultural influencia o seu
comportamento geral de comunicação, pois ela cumpre papéis e tem
percepções ou imagens variáveis sobre a posição social e cultural do receptor.
Fala-se, separadamente, da fonte e do receptor para fins analíticos,
mas não faz sentido supor que se trate de funções independentes, de tipos
independentes de comportamento. Quando se denomina “fonte”, paralisa-se a
dinâmica do processo em determinado ponto, quando se denomina “receptor”,
corta-se também o processo de comunicação, pois aquele que é fonte, num
instante, já foi receptor e vice-versa.
Se o receptor-decodificador não tiver a capacidade de ouvir, de ler, de
pensar, não será capaz de receber e decodificar as mensagens que o
codificador lhe transmitiu. Pode-se falar em receptor em relação às atitudes, e
o modo como decodifica a mensagem é determinado, em parte, por suas
atitudes para consigo mesmo, para com a fonte e para com o conteúdo da
mensagem. Tudo o que se aplica à fonte aplica-se também ao receptor.
Se o receptor, em termos de conhecimento, não conhecer o código,
não entenderá a mensagem. Se nada sabe sobre o conteúdo da mensagem,
provavelmente não poderá entendê-la. Se não compreender a natureza do
processo de comunicação em si, são grandes as perspectivas de que entenda
mal as mensagens, tire conclusões sobre os objetivos ou intenções da fonte e
falhe na consecução do que pode ser do seu próprio interesse.
A mensagem é o produto físico real do codificador - fonte, enquanto o
discurso é a mensagem. Três fatores devem ser levados em conta na
mensagem: o código, o conteúdo e o tratamento.
O código pode ser definido como qualquer grupo de símbolos capaz de
ser estruturado de maneira a ter significação para alguém. Pode ser por meio
de sons, letras, palavras, idiomas, etc.
O conteúdo pode ser definido como o material da mensagem,
escolhido pela fonte para exprimir o seu objetivo.
O tratamento da mensagem pode ser definido como as decisões que a
fonte de comunicação toma para selecionar e dispor tanto o código como o
conteúdo.
37
O veículo que transporta a mensagem dependerá de para quem se
quer transmitir (nível de instrução, conhecimento, estilo de vida, etc.), o quê
será transmitido (conteúdo da mensagem), o quanto será transmitido (de
quantidade e de recursos disponíveis para ser transmitido), preferência da
fonte, abrangência em termos de número de pessoas e localização, canais de
maior impacto e mais adaptáveis ao tipo de objetivo da fonte.
A comunicação, nesse contexto, faz parte do processo de mudança
comportamental individual que envolve uma modificação na relação estável
estímulo-resposta.
A partir do reconhecimento de que a aprendizagem é um processo,
pode-se falar dos seus ingredientes e das relações entre eles - conservando
todas as hesitações e qualificações necessárias a qualquer discussão.
Berlo preocupou-se em esclarecer melhor o que se passaria além
dessa relação simples de estímulo-resposta. Segundo ele, os componentes do
modelo clássico de comunicação, em vez de promover uma verdadeira
integração humana entre fonte e destinatário, visa apenas ao melhor ajuste das
mensagens, tornando-as mais adequadas aos objetivos da fonte. O principal
objetivo é o desejo de influenciar - de ter influência sobre si mesmo, sobre os
outros e sobre o ambiente físico. Para iniciar o processo de aprendizagem, é
necessário que as pessoas sejam estimuladas.
O estímulo pode ser definido como qualquer evento que o indivíduo
seja capaz de perceber ou qualquer coisa que uma pessoa pode receber
através de um dos sentidos, qualquer coisa que produza sensação no
organismo humano.
O organismo pode receber e recebe grande variedade de estímulos,
mas, como resultado da exposição a eles, produzirá uma variedade igualmente
grande de respostas.
Há diferentes tipos de respostas - as “descobertas e as encobertas”; as
“descobertas” são observáveis, perceptíveis e públicas, enquanto as
“encobertas” são as que ocorrem dentro do organismo, não são prontamente
observáveis ou perceptíveis, são íntimas. Tanto as repostas “descobertas”
como as “encobertas” tampouco são fixas ou permanentes. É de grande
utilidade distinguir as duas classes de respostas, quando se discutem
aprendizagem e comunicação.
38
A aprendizagem pode ser definida como uma mudança na relação
estável entre: a) um estímulo que o organismo individual percebe; e b) uma
resposta que o organismo formula, “descoberta ou encobertamente”.
Se o estímulo se destina a influenciar o organismo, ele deve ser
realmente percebido. O segundo passo no processo de aprendizagem é a
percepção do estímulo pelo organismo. É preciso haver resposta para haver
aprendizagem, mas isso não é condição suficiente. O organismo é capaz de
produzir respostas a estímulos, sem que precise aprender (respostas
reflexivas); quando o organismo muda suas respostas a um estímulo
conhecido, ou dá uma velha resposta a um estímulo diferente, a permanência
não está ainda caracterizada. O organismo tem de decidir se continuará a dar
esta resposta nova ou atribuir uma resposta a este estímulo novo. O que o
organismo faz é observar as conseqüências da resposta. Ele confere, para ver
o que lhe acontece em resultado a este estímulo novo. A primeira resposta
dada pelo organismo é, geralmente, tentativa, hesitante, cautelosa. Podem-se
considerar as primeiras respostas como experimentais.
A resposta experimental é mantida se o organismo percebe que as
conseqüências são compensadoras; é abandonada se o organismo não
percebe as conseqüências como compensadoras. A aprendizagem não terá
ocorrido enquanto a resposta não se tornar habitual, enquanto não for repetida
quando ocorrer o estímulo. O que determina a aprendizagem, a criação do
hábito, é a recompensa. A repetição ocorre se as respostas forem
recompensadas. Em cada caso, observam-se as conseqüências das respostas
e decide-se se beneficiam ou prejudicam. Por vezes, deseja-se apenas utilizar
um padrão de hábito existente; outras vezes, deseja-se fortalecer um padrão
de hábito existente mas que não está fortemente desenvolvido. Toda a
comunicação está relacionada com os hábitos do receptor e com os modos
como ele responde a certos estímulos.
O hábito é uma relação estável entre um estímulo e a resposta que o
indivíduo dá a esse estimulo e pela qual foi recompensado. Cinco princípios
fortalecem as relações E-R, quais sejam:
1) Freqüência de repetição da relação E-R - A freqüência em
comunicação pode ser representada pelas conexões estímulo-resposta, as
quais podem ser fortalecidas pelo emprego do princípio da repetição. Ao
39
recompensar uma resposta, estar-se-á fortalecendo o hábito. Se não houver a
recompensa, estar-se-á enfraquecendo o hábito, que poderá ser extinto.
2) Isolamento das relações E-R de outras conexões E-R concorrentes -
Se uma fonte de comunicação for capaz de isolar o receptor e de restringir as
mensagens à disposição do receptor, esta fonte pode aumentar as
possibilidades de que o receptor atenda a sua mensagem, em lugar de atender
a outras mensagens, pois a redução dos estímulos disponíveis aumenta a
efetividade dos estímulos que permanecem.
3) Quantidade de recompensa: nível de recompensa é capital em
matéria de comunicação - A recompensa determina, em grande parte, o
desenvolvimento e o fortalecimento de hábitos de comunicação, assim como o
ritmo e o volume da aprendizagem. Para que as respostas sejam mantidas, há
necessidade de que sejam recompensadas em quantidade e qualidade, pois o
conceito de recompensa deve ser visto como o resultado da combinação de
todas as possibilidades de influenciar o receptor, como conseqüência de
determinada resposta. Algumas dessas conseqüências são imediatas e
evidentes; outras, demoradas e menos aparentes. A necessidade de influenciar
resulta da necessidade do organismo de reduzir sua tensão interna pela
criação de uma estrutura consistente para o ambiente em que opera.
Deve-se lembrar que as pessoas e a sociedade diferem no volume de
aprendizagem e de modificação de comportamento que podem tolerar. Em
qualquer situação, todavia, a modificação de conduta é determinada pela
recompensa esperada versus energia necessária. Os indivíduos não
respondem, se não esperam que suas respostas resultem em conseqüências
compensadoras.
A recompensa deve ser definida no contexto da pessoa que dá a
resposta. Pode ser definida como “alguma coisa dada em retribuição”. O que é
compensador para a fonte pode ser ou não compensador para o receptor. A
recompensa determina a força de hábitos, a rapidez e a extensão da
aprendizagem. A seleção e a interpretação de um estímulo têm relação com a
expectativa de recompensa. Os estímulos são percebidos e interpretados
quando se acredita que as respostas sejam compensadoras. Se não houver
expectativa de recompensa, com freqüência, há recusa em selecionar e
interpretar um estímulo. A ação só irá acontecer quando o indivíduo, após ter
40
sido estimulado pela mensagem, for capaz de interpretá-la como algo que lhe
traga, com pequeno esforço, algum retorno (recompensa), seja físico, social ou
econômico.
No ato de comunicação, a recompensa dá maior poder ao ato de
influenciar. Os comunicadores devem lembrar que a resposta que esperam do
receptor deve ser compensadora para ele, ou não haverá aprendizagem. Pode-
se dizer que a recompensa é o resultado da soma de todos os fatores positivos
e negativos compreendidos na resposta que se espera. Na comunicação
eficiente, quando se aumentam os fatores considerados “mais”, em termos de
recompensa, e diminuem-se os fatores “menos”, a comunicação torna-se mais
eficiente.
4) A rapidez ou demora de recompensa é vital para a comunicação
efetiva, bem como para a sua quantidade - Quando um receptor de
comunicação obtém recompensa imediata por sua resposta, é provável que
mantenha essa resposta. Se as recompensas tardam, a força da resposta tem
menor probabilidade de aumentar. Sabe-se que as respostas precisam ser
mantidas; quanto mais depressa se percebem as conseqüências
compensadoras da resposta, maior a probabilidade de que essa resposta seja
mantida. A recompensa deve ser dada o mais breve possível.
5) Quanto ao esforço exigido para a resposta; sendo iguais os demais
fatores, o organismo formula respostas que exigem pequeno esforço e evita as
que exigem muito esforço - Para que a mensagem seja efetivada ou
apreendida, deve-se reduzir o esforço do receptor na formulação da resposta
desejada, pois ele despende energia, trabalho e tempo. Quanto maior a
energia necessária para uma resposta, é menos provável que essa resposta
seja dada; nesse caso, a energia exigida atua como repressora da
aprendizagem. A redução do esforço aumenta as possibilidades de que seja
dada a resposta “certa” (esperada pela fonte).
Na relação de comunicação, a restrita capacidade de as pessoas
envolvidas processarem informações poderá causar certas limitações
perceptivas. As primeiras percepções do mundo pelo homem são vagas,
imprecisas, sem forma. Desde o começo, ele procura impor uma estrutura ao
que percebe; tenta formalizar suas percepções. Grande parte da teoria sobre o
comportamento humano baseia-se na suposição de que o homem, em
41
presença da ambigüidade, da ausência de forma, age sob tensões fisiológicas.
Aparentemente, o seu desejo de influir é o desejo de reduzir a própria tensão
pela redução da incerteza a respeito da natureza do meio ambiente.
A aprendizagem incita um paradoxo, já que, enquanto o receptor luta
para reduzir a tensão, a aprendizagem exige pequeno aumento de tensão
(redução da certeza). No entanto, a tensão deve ser criadora, para que o
receptor perceba a possibilidade de posterior redução dessa tensão pela
criação de um padrão de certeza mais consistente de uma estrutura mais útil
da realidade.
Scharamm definiu a fração de seleção de uma mensagem, do ponto de
vista do receptor, como
Recompensa Esperada
Fração de Seleção =
Energia Necessária Esperada
Este conceito pode ser ampliado para abranger mais que a seleção da
mensagem. É aplicado, igualmente, à interpretação e à aprendizagem. Decide-
se optar por certos comportamentos que, espera-se, “valham o esforço”.
Decide-se não optar por determinado comportamento quando se acredita que
“não valha esforço”. Pode-se definir a fração de decisão como:
Recompensa Esperada
Fração de Decisão =
Energia Necessária Esperada
42
retribuições dadas pela empresa em troca das contribuições aos seus
membros podem ser de natureza econômico-financeira ou podem estar
associadas ao ambiente e ao conteúdo da tarefa. Essas últimas são
denominadas recompensas intrínsecas e referem-se a um estado de ânimo
positivo que a pessoa experimenta por estar em certa empresa e por realizar
determinado trabalho, que, por si mesmo, é considerado gratificante e
proporciona sentimento de orgulho.
As recompensas extrínsecas, por outro lado, estão ligadas a incentivos
e estímulos concedidos pela empresa em forma de salários, gratificações,
abonos, distribuição de ganhos, participação nos lucros, promoções, benefícios
adicionais diversos (diretos ou indiretos).
A recompensa é de capital importância para retroalimentar a
manutenção ou a modificação de hábitos. Em grande parte, é ela quem
determina o desenvolvimento e o fortalecimento dos hábitos de comunicação,
assim como o ritmo e o volume de aprendizagem.
Para BOWDITCH (1992), a comunicação eficaz pressupõe o
entendimento, embora existam barreiras à comunicação. Entretanto,
considerando-se o modo complexo como se usam os meios verbais, os
simbólicos e os meios não-verbais para transmitir mensagens, nem sempre se
chega a esse entendimento, mesmo em interações relativamente simples, face
a face, por exemplo. Nesse processo, o ouvinte, em vez de estar formulando
uma resposta, deverá realmente ouvir o que a primeira diz. Assim, por não
ouvir nem prestar atenção em todas as facetas da mensagem, as pessoas
envolvidas não estão efetivamente se comunicando, mas cada uma está
falando para outra. Para esse autor, um bom sistema de comunicação distribui
informações que atuam nas orientações cognitivas e afetam o nível de
concordância sobre os procedimentos e condutas da empresa (comunicação
instrumental), ou cria, modifica e reforça atitudes, normas e valores
(comunicação expressiva). As empresas que apresentam um bom
desempenho possuem vasta e intensa rede de comunicações, reforçada pela
atuação daqueles que procuram assegurar que as pessoas certas recebam as
informações certas, no momento certo. São muitos os problemas e obstáculos
da comunicação que precisam ser enfrentados para que se consolide uma
relação comunicacional.
43
A carência de alguns aspectos ou de partes relevantes da informação
dificulta a sua exata apreensão pelo receptor. Essa difícil apreensão ocorre
com mais freqüência nas comunicações verticais, em razão das filtragens que
se verificam, e pode ser minimizada pela redundância ou pela ratificação.
A distorção do sentido correto da informação ocorre quando o
transmissor e o receptor compartilham diferentes crenças e valores. Excesso
ou sobrecarga de informações, que acarreta efeitos cumulativos, pressupõe
adoção de critérios claros de prioridades que minimizem esses efeitos, para
que haja filtragem das informações.
A interpretação equivocada da essência da informação (ouvir o que se
espera ou o que se quer ouvir) e a avaliação prévia (des)favorável que é feita
da fonte de informação, por parte do receptor, podem alterar a intenção básica
da comunicação. O uso de jargões e de certas expressões, próprios de certas
profissões e especialidades, pode alterar as percepções de verdadeiros
significados, visto que incoerências provocadas por sinais não-verbais ou
gestuais antagonizam-se com a comunicação original.
Efeitos dos sentimentos afetivo-emocionais, favoráveis ou não, alteram
o processo de decodificação e modificam o sentido exato da comunicação.
As comunicações mais efetivas são as objetivas, simples e diretas,
uma vez que ajudam a estabelecer metas que todos compreendam e buscam
alcançar. Entretanto, o processo comunicativo precisa ter forma e conteúdo
adequados às circunstâncias ou à natureza do trabalho.
Para que a comunicação seja eficaz, devem-se evitar os diversos tipos
de falhas vistos anteriormente e utilizar duas habilidades básicas:
1) Habilidade de transmissão, que é a capacidade de se fazer compreender
por outras pessoas (por exemplo, mediante o uso da linguagem e de outros
símbolos importantes da comunicação); e
2) Habilidade de escutar, que é a capacidade de entender os outros (por
exemplo, ter empatia, prestar atenção e ler a linguagem corporal e os sinais
não-verbais). Essa habilidade de escutar não significa uma atividade
passiva, mas uma capacidade de escutar a mensagem inteira (verbal,
simbólica e não-verbal) e responder, apropriadamente, ao conteúdo e à
intenção (sentimentos, emoções, etc.) da mensagem.
44
A empatia significa colocar-se na posição ou na situação da outra
pessoa, num esforço para entendê-la. É o processo pelo qual se projetam os
estados internos ou as personalidades de outros, a fim de predizer o
comportamento destes. Esses estados internos são vislumbrados quando se
comparam atitudes próprias com predisposições. As expectativas da fonte e do
receptor são interdependentes; cada uma é, em parte, criada pela outra. Se
dois indivíduos tiram inferências sobre os próprios papéis e assumem o papel
um do outro ao mesmo tempo, e se a comunicação depende da adoção
recíproca de papéis, então eles estão em comunicação por interagirem um com
outro. A empatia também é uma forma útil de dar efetividade à comunicação.
Quando a empatia é recíproca, quando há interação, chega-se à situação ideal
de comunicação. A exatidão da empatia diminui quando o grupo aumenta,
quando a comunicação prévia é mínima, e quando não se está motivado numa
situação de comunicação.
A análise da comunicação envolve uma interdependência física, isto é,
fonte e receptor são conceitos diáticos, já que cada qual depende do outro para
a própria existência.
Num segundo nível de complexidade, a interdependência pode ser
analisada como uma seqüência de ação e reação.
A reação interdepende da ação e reação do feedback. O feedback
proporciona à fonte a informação sobre o sucesso na realização de um
objetivo; quando esse processo se realiza, há controle sobre futuras
mensagens que a fonte possa codificar, ou seja, cada um influencia o outro.
A mensagem inicial influencia a resposta subseqüente, porque é
utilizada pelos comunicadores como feedback - como informação que ajuda a
determinar se estão obtendo o efeito desejado. Num terceiro nível de
complexidade, a análise da comunicação preocupa-se com as habilidades de
empatia e com a interdependência produzida pelas expectativas de como os
outros responderão às mensagens.
A adoção de um papel ou a interação exige grande quantidade de
energia, é uma operação que consome muito tempo, é uma contínua
interpretação do mundo conforme o ponto de vista da outra pessoa. Ao
deparar-se com situações sociais desconhecidas, o indivíduo sente-se
fisicamente cansado, em conseqüência dessa espécie de esforço. Mesmo
45
quando há condições ideais de comunicação, constata-se que alguns
destinatários não adotam, de forma automática, as mensagens emitidas pela
fonte. A compreensão de que deve ser valorizada a cultura dos destinatários
leva ao melhor ajuste dessas mensagens, por meio de melhor conhecimento
prévio destas.
ALVES (1997) considerou a cultura como um complexo de padrões de
comportamentos, hábitos sociais, significados, crenças, normas e valores
selecionados historicamente, os quais são transmitidos coletivamente e
constituem o modo de vida e as realizações de determinado grupo humano.
Por outro lado, a cultura da empresa, para ele, também agrega um conjunto
complexo de crenças, valores, pressupostos, símbolos, artefatos,
conhecimentos e normas, freqüentemente personificados em heróis que são
difundidos na empresa pelos sistemas de comunicação e pela utilização de
mitos, estórias e rituais, além de processos de endoculturação. Essa coleção
de elementos culturais reflete as escolhas ou preferências da liderança
empresarial e é compartilhada pelos demais membros da empresa, com o
propósito de orientar o comportamento desejado, tanto quanto a integração
interna como a adaptação ao ambiente. Para ele, a cultura pode ser entendida
como uma espécie de lente, por meio da qual as pessoas ou as empresas
vêem o mundo e passam a considerar o modo de vida de cada um como o
mais natural. Ela atua como fator de diferenciação social, já que traz
informações sobre o que o grupo é, pensa e faz, para que ele possa melhor
lidar com o ambiente em que vive. A cultura humana orienta e constrói as
alternativas humanas de ser e de estar, proporcionando as categorias pelas
quais é visto o mundo e explicando as condições em que ele é percebido.
Cada realidade cultural tem a sua própria lógica interna que deve ser
conhecida para que façam sentido as práticas, as concepções e as
transformações pelas quais o mundo passa. O estudo dessa lógica focaliza as
maneiras pelas quais a realidade cultural é codificada, seja pela linguagem,
costumes, idéias e doutrinas, seja pelas crenças, valores, rituais, lendas e
tradições. Esses fenômenos, no entanto, pouco significam fora do universo
cultural do qual são integrantes. Dentro dessa ótica, a empresa pode ser
enfocada como um código de significados que são vivenciados por seus
participantes em sua experiência organizacional comum.
46
A empresa pode ser abordada como uma estrutura de
responsabilidades e deveres, em que as tarefas são distribuídas entre os seus
participantes. Nela há relações de papéis e de poder que regulam os seus
diversos subsistemas constituintes que estão articulados entre si, tendo em
vista os seus objetivos.
Por meio da mobilização da energia humana e de recursos materiais,
financeiros e tecnológicos, a empresa devota-se à consecução de suas metas.
Para a coordenação de suas atividades, ela utiliza a divisão do trabalho, a
hierarquia e os processos de comunicação que definem as posições e as
interações entre as pessoas e os grupos no espaço organizacional. Esse autor
considera que a empresa seja formada por subsistemas (subculturas) que
interagem sinergeticamente, executam tarefas de naturezas distintas e podem
exigir subtipos de gerenciamento, desde que se baseiem em uma filosofia
administrativa comum e fundamentada numa cultura empresarial integradora.
A cultura da empresa molda-se, com o passar do tempo, a partir dos
problemas, dos questionamentos e das demandas que ela enfrenta, os quais
resultam em respostas e soluções que são testadas, avaliadas, selecionadas,
assimiladas e memorizadas, coletivamente, pelos seus membros. Assim, ela é
difundida pelos sistemas de comunicação, numa relação estímulo-resposta.
Ao longo da história, o comportamento humano e as relações
interpessoais têm sido investigados e explicados sob muitas perspectivas, mas
o processo de comunicação é demais complexo para ser inteiramente
abordado de forma simplista e mecanicista.
Segundo CREMA (1984), o enfoque centrado na técnica é mecanicista
e reducionista, visto que leva à demasiada compartimentalização e rigidez.
Muitas vezes, dá-se status de especialização ao processo de rigidez e
unilateralidade de visão, o que leva o homem a considerar-se demasiadamente
seguro, em vez de audacioso, repetitivo, em vez de criativo, numa ilusão de
objetividade e negação de valores, ou seja, leva as pessoas a ajustarem seus
problemas à técnica.
Para estimular a adoção de novas idéias e práticas, faz-se necessário
conhecer conceitos e elementos da difusão. A difusão é um tipo especial de
comunicação que se refere a idéias novas, enquanto a comunicação abarca
todos os tipos de mensagens. No caso da difusão, como as mensagens são
47
novas, há grande risco para o receptor. Por isso, quando se recebem
inovações, a conduta é diferente de quando se recebem mensagens com
idéias rotineiras, pois pode-se alterar a forma da fonte, da mensagem, dos
canais e dos receptores dentro do processo de comunicação.
Descobriu-se que os canais de massa são mais importantes para criar
a consciência do conhecimento de uma nova idéia, enquanto os canais
interpessoais servem melhor para promover a mudança de atitudes diante das
inovações. Com base nos princípios da “homofilia” e da heterofilia, os
indivíduos comunicam-se de forma mais eficiente ou menos eficientes, assim
como modificam atitudes.
A “homofilia” é uma medida de semelhança a respeito de certos
atributos em interação, os quais podem ser crenças, valores, educação, status
social, etc. O princípio da “homofilia” baseia-se em muitas causas; os
indivíduos semelhantes sentem-se atraídos por interesses comuns.
A comunicação mais efetiva ocorre quando a fonte e o receptor são
homofílicos e tende a ter maiores efeitos em termos de conhecimento obtido,
formação e mudança de atitude.
A heterofilia é o reflexo simétrico da “homofilia”. Com base na
heterofilia, os indivíduos diferem em conhecimentos, valores, status sociais,
educação e crença; diferem em empatia, que é a capacidade individual de
projetar-se no papel do outro. É importante que a fonte e o receptor sejam
homofílicos, a menos que possam ter alto grau de empatia.
A boa comunicação entre fonte e receptor conduz ao aumento da
“homofilia” em conhecimento, crenças e condutas manifestas.
A difusão do conhecimento e de seus benefícios econômicos requer
muito tempo até este ser internalizado.
A inovação é comunicada por meio de canais, em determinado tempo,
aos membros do sistema social. Seus efeitos podem produzir mudanças de
conhecimento, de atitudes e de conduta manifesta (rejeita ou adota). A adoção
de inovações tecnológicas é um processo de tomada de decisão, por meio da
qual um indivíduo passa de um primeiro contato com a inovação até a decisão
final de um completo e contínuo uso desta.
De acordo com estudos de ROGERS e SHOEMAKER (1974), sobre
as etapas relativas ao processo decisório do indivíduo para adoção de
48
tecnologias, observa-se que a tomada de decisão dos produtores irá depender,
significativamente, das seguintes variáveis:
1. Vantagem relativa, que está relacionada com o grau de superioridade de
uma inovação em relação à idéia que se pretende superar, podendo estar
relacionada com vantagens econômicas ou com outros parâmetros, como
nível de custo inicial, facilitação do trabalho, economia do tempo e esforço,
prestígio social, conveniência e satisfação.
2. Compatibilidade, que é o grau percebido de consistência entre inovação e
valores existentes, experiências anteriores e necessidades dos receptores,
pois não se adota com rapidez uma idéia incompatível com os valores
predominantes em relação às normas sociais do sistema.
3. Complexidade, que se refere ao grau percebido de dificuldade relativa para
compreensão e utilização da inovação.
4. Experimentabilidade, que é o grau de experimentação, pois uma idéia já
experimentada apresenta menos riscos aos indivíduos.
5. Observabilidade, que é o grau de visibilidade observada pelos indivíduos;
quanto mais fácil for para o indivíduo ver os resultados de uma inovação,
tanto será maior a probabilidade de adotá-la.
50
A mudança planejada nem sempre oferece resultados satisfatórios. O
desejo de produzir mudanças rápidas tem impedido a aplicação de
conhecimentos científicos na introdução de inovações.
Muitas mudanças são de nível individual; o indivíduo adota ou rejeita a
inovação, disseminada adoção, modernização, aculturação, aprendizagem e
socialização. Outras mudanças ocorrem no sistema social e recebem o nome
de mudança para o desenvolvimento.
A mudança social é um processo que modifica a estrutura do sistema
social; ao se analisarem as mudanças sociais, deve-se conferir atenção
especial à comunicação. Todas as explicações do comportamento humano
nascem diretamente do estudo da aquisição e da modificação do
comportamento dos indivíduos por intermédio da comunicação uns com outros.
Com facilidade, visualizam-se muitos aspectos dos processos de
decisão que se unem para dar a sustentação à mudança social.
A percepção seria então a porta de entrada do sistema, isso porque os
estímulos ao comportamento resultam, de alguma forma, deste mecanismo
interativo básico. A percepção recebe, de um lado, a inovação e, do outro, os
incentivos e obstáculos e, por retroalimentação, os conhecimentos conceituais
e instrumentais.
O ingrediente retroalimentação em comunicação resulta da
possibilidade da fonte em conduzir o destinatário ao comportamento desejado;
longe de promover uma verdadeira integração humana entre a fonte e o
destinatário, visa apenas ao melhor ajuste das mensagens, tornando-as mais
adequadas aos objetivos da fonte.
Deve-se submeter o destinatário às mesmas mensagens, por meio de
diferentes métodos.
A ênfase desse modelo está concentrada na mensagem a ser
comunicada, que deve ser a mais atrativa possível. As campanhas para
adoção de tecnologias baseiam-se nesse método básico de atuação e
persuasão.
Segundo ARAÚJO (1981), para entender o processo de adoção de
novas tecnologias por parte dos agricultores, devem-se examinar suas
características pessoais, bem como suas estruturas socioeconômicas ligadas a
eles, considerando-se as várias situações em que se encontram. Ambas as
51
pressuposições estão integradas a uma idêntica visão conceitual que as
consideram como partes complementares do mesmo processo de adoção
tecnológica. Para ele, a mudança comportamental ou o processo de
aprendizagem individual são conceituados como uma modificação na relação
estável estímulo-resposta. Acredita que, à medida que os estímulos vão sendo
percebidos, ou seja, à medida que a atenção e o interesse vão sendo
aguçados, vai-se reagindo e modificando o comportamento e a maneira de ver,
de pensar e de agir.
Para BORDENAVE e PEREIRA (1977), pode-se atuar decisivamente
na formação da mentalidade do indivíduo mediante estimulação de sua
percepção e interpretação das mensagens. Devem-se utilizar metodologias
adequadas para estimular o indivíduo, de acordo com seu sistema de valores,
seu modo de viver e sua formação mental. Então, a metodologia utilizada
poderá contribuir para gerar uma consciência crítica ou uma memória fiel, uma
visão universalista ou uma visão estreita e unilateral, e para estimular a sede
de aprender pelo prazer de aprender a resolver problemas, ou pela angústia de
aprender apenas para receber um prêmio e evitar um castigo.
Para ALVES (1997), a correta utilização da comunicação possibilita o
esclarecimento das razões e da finalidade das mudanças; ajuda a divulgar os
resultados que indicam se os fins pretendidos estão sendo ou não alcançados;
serve para informar sobre os riscos e ameaças; corrige eventuais desvios e
interpretações equivocadas; reduz a ansiedade própria dos processos de
mudança; sustenta a motivação e o comprometimento; e ajuda a superar
momentos conflitantes do processo.
ROGERS e SHOEMAKER (1974) consideraram o agente de mudança
como o elo entre o indivíduo e os sistemas sociais que atuam na criação da
necessidade de mudança, na relação de troca entre seus clientes, devendo
diagnosticar problemas e catalisar suas necessidades, avaliá-las e criá-las por
meio de conselhos e trabalhos de motivação e persuasão, traduzindo suas
intenções para as ações, impedindo a descontinuidade. Para eles, o agente de
mudança é o indivíduo capaz de provocar essas transformações, uma vez que
deve ser um “expert” em saber articular e criar necessidades nos agricultores.
52
Esse modelo conceitual foi considerado o mais adequado para analisar
as relações de comunicação entre integradora, via técnico como agente de
mudanças, e produtores, como recebedores dessas mensagens.
53
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Procedência
Do total dos produtores de leitões integrados entrevistados (36),
100% eram procedentes do meio rural.
Origem étnica
Havia preponderância da cultura italiana em todos os estratos (cabeça,
média e cola).
54
Ciclo anterior de produção
Em relação ao ciclo anterior de produção desenvolvida por esses
integrados, 100% do estrato cabeça, 90,0% do média e 100% do cola eram
criadores de ciclo completo; 5,0% do média eram criadores de reprodutores,
enquanto os outros 5% do média desenvolviam outras atividades (Quadro 3).
As variáveis etnia, procedência e ciclo anterior de produção (Quadros 2
e 3) indicam semelhanças culturais entre esses produtores.
Criador de
Estrato Ciclo completo Outras atividades
reprodutores
I – cabeça 100,0 - -
II – média 90,0 5,0 5,0
III – cola 100,0 - -
Idade
A idade consiste na etapa da vida em que os produtores se encontram
declarados no ato da entrevista e está relacionada com “vivências” e
“experiências”. A idade é fator limitante para alguns produtores, quando
pensam na hipótese de mudar de atividade produtiva ou de continuar na
atividade como produtor independente. Observa-se uma distribuição variada de
idade entre os produtores entrevistados, já que um número maior de
produtores encontrava-se na faixa de 29 e 44 anos, idade mínima de 17 e
máxima de 67 anos. O Quadro 4 mostra que a idade média mais elevada era
do estrato cola.
Sexo
Dos produtores entrevistados, 100% eram do sexo masculino, razão
por que todos os questionários foram respondidos pelos homens, visto que, na
estrutura interna das unidades familiares entrevistadas, concentra a figura do
pai, autoridade e tomador de decisão, o que configura assim o espaço
masculino nas decisões e no mando da casa.
56
Quadro 4 - Idade média dos produtores, por estrato, no município de Concór-
dia-SC, 1998
I – cabeça 40
II – média 41
III – cola 46
Estado civil
Conforme Quadro 5, dos produtores entrevistados, 88,9% eram
casados. Quanto aos solteiros, observa-se que nessas unidades familiares
havia participação desse membro da família nas atividades da unidade
produtiva (pai, tio, mãe, etc.), o que não descaracteriza a propriedade como
familiar.
57
Número de filhos
Quanto ao número médio de filhos por estrato (Quadro 6), observa-se
que não havia muita diferença entre os estratos.
I – cabeça 3
II – média 2
III – cola 3
Plano de saúde
A preocupação com a saúde é constatada pelo interesse dos
produtores em adquirir plano privado de saúde. Os resultados indicam que os
produtores que tinham nível socioeconômico mais elevado apresentavam maior
interesse em adquiri-lo (Quadro 7). Constata-se que, em média, 44,43% dos
produtores entrevistados possuíam plano privado de saúde, variável que reflete
a preocupação constante com a saúde física, necessária e importante para o
desempenho do trabalho familiar, já que, nessa atividade, os produtores são
vulneráveis às intempéries.
Nível de escolaridade
Nota-se que a maioria dos produtores (79,6% era a média geral dos
três estratos) estava cursando ou havia cursado o 1. o grau.
58
Quadro 7 - Número de produtores que tinham, ou não, plano de saúde privado,
por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998
Posse da terra
Quanto à posse da terra, verifica-se que 100% dos produtores, em
todos os estratos, eram proprietários de terra, 11,1% dos quais arrendavam
terras para cultivo do milho. O interesse pelo arrendamento da terra para
plantação do milho pode ser devido à tentativa de diminuir custos e evitar a
dependência de insumos externos à propriedade. Dentre os pré-requisitos
exigidos pela integradora, citam-se a propriedade da terra, a capacidade de
alojar lotes de 300 ou 450 suínos, a existência de esterqueiras para
armazenamento de dejetos e de silo para depósito de ração e a localização da
propriedade a uma distância inferior a 60 quilômetros da indústria.
60
Quadro 9 - Distância média (km) das propriedades até a sede do município de
Concórdia-SC, por estrato, 1998
Estrato km
I – cabeça 16,00
II – média 12,00
III – cola 14,55
Estrato ha
I – cabeça 40
II – média 27
III – cola 25
61
A maioria das propriedades apresentava relevo com morros e muitas
áreas impróprias para o cultivo, o que não favorecia a mecanização. O plantio
era realizado em terrenos menos inclinados, o que fazia com que muitos
produtores arrendassem terras para expansão da cultura do milho, uma das
exigências da integradora.
Tipo de moradia
No estrato considerado cabeça não foram encontradas moradias feitas
de madeira, o que implica que, quanto mais alto o nível socioeconômico,
melhor o tipo de material de construção utilizado (Quadro 11).
62
Estados Unidos, plantas de construções para suínos juntamente com os
animais para a formação de plantéis geneticamente melhorados.
Mista (alvenaria e
Estrato Alvenaria Madeira
madeira)
63
produtiva, adequando-se às exigências da integradora. Os outros que não
pretendiam investir sentiam-se desmotivados, pois estavam descapitalizados.
Estrato ha
I – cabeça 9
II – média 12
III – cola 10
64
desempenhavam outras atividades agrícolas, 11,1% plantavam grãos, erva-
mate e frutas, e 88,9%, grãos, erva-mate, frutas e outros.
No estrato média, 5,6% criavam suínos, exclusivamente; 50,0%, além
da suinocultura, desenvolviam mais uma atividade agrícola; 11,0%, além da
atividade suinícola, desenvolviam outras atividades não-agrícolas; e 33,4%
criavam suínos e desenvolviam duas atividades agrícolas. Desses 94,4% que
desempenhavam outras atividades agrícolas, 13% plantavam grãos e frutas;
6,0%, grãos, erva-mate e outros; 6,0%, grãos, fumo e frutas; 75,0%, grãos,
erva-mate, frutas e outros; e 11,0% desempenhavam atividade não-agrícola.
No estrato cola, 22,2% criavam suínos e aves; 11,1%, além da
suinocultura, desempenhavam outra atividade não-agrícola (indústria); 66,7%
criavam suínos e desenvolviam outras atividades agrícolas (lavoura, avicultura,
bovinocultura de leite). Dos cola, 66,7% eram suinocultores e realizavam
outras atividades agrícolas (grãos, erva-mate, frutas e outros).
Embora as transformações capitalistas na agricultura tenham causado
modificações na pequena produção, em razão da vinculação crescente ao
mercado e da subordinação ao capital com ênfase em determinado produto, a
base econômica principal desses produtores era a suinocultura. Muitos destes
diversificavam suas atividades, utilizando-se desse recurso como forma de
prover as necessidades da família e garantir os itens básicos do regime
alimentar.
Dos produtores entrevistados, 16,66% atuavam, exclusivamente, na
atividade, enquanto os demais exploravam agricultura diversificada para
subsistência. Mediante esses produtos, muitos sazonais, havia entrada de
algum recurso ao longo do ano, o que permitia melhor equilíbrio financeiro da
família, principalmente quando o preço dos suínos estava instável.
Entre as atividades para exploração comercial encontravam-se o
plantio da erva-mate, a avicultura, a fumicultura e a bovinocultura de leite (que
estão sendo fomentadas na região). Além dessas, o sistema de produção
abrangia lavoura, piscicultura (também em fase de implantação) e explorações
consideradas atividades de subsistência3.
1
Atividade de subsistência inclui animais de pequeno porte e produção de pomar (freqüentemente,
encontram-se atividades adicionais, como mel e vinho), juntamente com cereais e legumes básicos,
sobretudo lavoura de feijão, batata-doce, milho, aipim e batatinha e hortaliças.
65
Embora esses produtos citados representassem uma fonte importante
de renda, também eram utilizados sob a forma de autoconsumo e rações.
Vale destacar a importância dada à exploração do milho, como
fundamental na participação da composição da ração porcina. De modo geral,
as unidades de produção familiar estavam organizadas em seis tipos de
explorações, aproximadamente.
66
Quadro 14 - Tempo de vinculação comercial da família produtora à integradora,
por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998
67
dominical (católico) envolve praticamente todas as famílias assim como as
festas nos centros comunitários.
...os dias santos, os casamentos e batizados motivam as festas, os bailes e as
cantorias. O sentimento cristão justifica a união, o desenvolvimento de práticas
de ajuda mútua, e a colaboração ...
O convívio se dá também em outras esferas, nos momentos de descanso
“mateadas”, feriados e domingos, através de visitas aos vizinhos e parentes
para a troca de afeto e informações.
68
cuidados ininterruptos), razão por que havia sempre alguém de plantão. A
responsabilidade do manejo, geralmente, era dos homens, embora muitas
mulheres também o fizessem, trabalhando, excessivamente, nas lidas
domésticas e na atividade suinícola.
A introdução de novas técnicas e a substituição de animais por raça
mais especializada com maior volume de carcaça e menor espessura de
toucinho facilitava, expressivamente, o manejo dessa atividade.
I – cabeça - - 100,00
II – média 6,0 - 94,00
III – cola 22,0 12,0 66,00
69
A impossibilidade de mecanização, devido à topografia da propriedade,
intensificava a necessidade de mão-de-obra externa à propriedade.
Em uma das famílias entrevistadas, constatou-se a existência de três
gerações de produtores que exerciam as mesmas atividades.
A vida cotidiana desses produtores estava estruturada em torno da
família e do trabalho. A família era a principal unidade de produção e de
consumo, visto que ela fornecia a base da organização da produção e estava
entrelaçada num espaço privilegiado do cotidiano desses produtores e na sua
conformação de mundo.
I – cabeça 100,0 -
II – média 94,4 5,6
III – cola 77,8 22,2
70
O horário de estudo dos filhos era no período matutino, principalmente
os que estudavam da 1. a a 4.a série. As tarefas domésticas eram tipicamente
femininas, e as filhas que haviam concluído a 4. a série acompanhavam a mãe
nos afazeres domésticos, na lavoura, no pomar e no trato dos animais.
Os homens realizavam atividades “fora de casa”, faziam o manejo dos
animais, tratavam os porcos, limpavam as instalações (muitas vezes, as
mulheres também o faziam), vistoriavam os bebedouros e os comedouros e
resolviam assuntos bancários.
A agricultura familiar seguia um planejamento segundo o qual as
tarefas agrícolas, desde o preparo do solo até a colheita, eram reguladas de
forma a permitir a ocupação de todos os membros do grupo familiar também na
execução das atividades. A organização orientava-se pela produção de
produtos direcionados e contratados pela agroindústria, sustento financeiro da
propriedade, e pela necessidade cotidiana de prover os alimentos para a
subsistência familiar.
A divisão do trabalho atribuía aos elementos masculinos as atividades
consideradas como significantes economicamente, assim como aquelas que
requeriam esforço físico, alterando-se na lavoura, na criação, no manejo de
maquinários e implementos e na manutenção das instalações e benfeitorias. Às
mulheres cabiam as tarefas domésticas diárias, o trato e o cuidado dos animais
(lavoura, horta, gado leiteiro, aves, etc.), como também a ajuda na limpeza das
instalações e na fabricação artesanal de produtos caseiros. Ainda crianças, os
filhos começavam a participar das atividades, realizando capina e ajudando na
época da colheita.
No estrato cabeça, a participação da família no planejamento das
atividades era de 100%, o que comprova o elevado grau de comprometimento
e eficiência desses produtores.
71
Quadro 17 - Alocação da mão-de-obra permanente na suinocultura, por estrato,
no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
72
Quadro 18 - Alocação da mão-de-obra temporária na lavoura, por estrato de
produtores, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcenta-
gem)
73
Número de produtores que pretendiam continuar na atividade
Apesar das dificuldades encontradas na suinocultura, a maioria dos
produtores demonstrava interesse em continuar na atividade, já que o
abandono da atividade implicava assumir riscos e incertezas. Tendo em vista
que esses produtores tinham aversão ao risco, preferiam, então, caminhos
seguros, em razão da experiência, do passado e da tradição, além de terem
investido muito em instalações.
74
Quadro 21 - Produtores que utilizavam crédito agrícola, por estrato, no municí-
pio de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
75
seria necessário que a integradora elevasse o preço pago pelo produto, de
modo a permitir que a exploração apresente resultados econômicos positivos.
Sempre temos que aumentar a produtividade e diminuir custos.
76
Segundo MIRANDA (1995), as estruturas organizativas possuem
pouco ou nenhum espaço de negociação no âmbito da relação contratual. Essa
situação de fragilidade é devida ao tipo de atividade que é a criação de suínos
(ciclo biológico). O endividamento dos integrados junto à integradora é outra
dificuldade a ser contestada, assim como a estrutura oligopolizada da empresa
e a ausência de atuação do Estado mediante políticas agrícolas para a
pequena produção. O próprio sindicato de trabalhadores rurais, que reúne
apenas os pequenos produtores, reconhece que as reivindicações dos
suinocultores integrados são secundarizadas por eles, porque, de certa forma,
são vistos como elite entre os pequenos produtores, distantes das camadas
mais desprovidas de agricultores.
O sindicato reconhece que muitos integrados à suinocultura estão à
beira da exclusão, embora toda a mobilização seja destinada à pequena
produção.
O poder de reivindicação implica coesão, autoconfiança e habilidade
em expor-se, além do apoio para argumentar e persuadir a opinião pública.
Todas essas capacidades são baseadas em comunicação.
O descrédito às instituições resulta na falta de coesão ou de
participação dos produtores nessas entidades representativas. As experiências
negativas vivenciadas anteriormente fazem com que esses produtores
familiares demonstrem dificuldades em reivindicar os seus direitos.
Os produtores informaram que participavam, efetivamente, da
associação de produtores de leitões, visto que os técnicos da integradora e os
técnicos das empresas vendedoras de insumos proferiam palestras.
A crise da agricultura familiar nos últimos anos, causada por
obstáculos institucionais, tecnológicos, econômicos e políticos, tem sido
ressaltada, em muitos estudos, por vários autores. O reconhecimento desses
produtores em creditar ao conjunto de atores (agroindústria, cooperativa,
sindicato e, ou, associação e órgãos governamentais) o apoio desejado deve-
se, principalmente, à crise atual do “movimento sindical”, que encontra
dificuldades para mobilizar os produtores em torno de suas reivindicações para
solução de seus problemas.
O sindicalismo rural, que representaria uma alternativa para a luta de
classes, segundo MIRANDA (1995), ... enfrenta uma conjuntura de profunda
77
crise, principalmente num contexto onde a ação mediadora do Estado não se
faz presente.
A pouca credibilidade das organizações associativas advém dos
resultados das negociações, muitas vezes manipuladas pelos interesses da
integradora. O Estado, por sua vez, também não dispõe de políticas agrícolas
que beneficiem os pequenos produtores.
A média dos três estratos de produtores que creditavam à integradora
a responsabilidade por melhorias era de 13%, em relação ao conjunto de
atores. Isso demonstra que a maioria dos produtores esperava que a solução
para os seus problemas resultasse de medidas tomadas pelo conjunto de
atores, que deveriam se articular na busca de alternativas.
78
Constata-se que o estrato cabeça era o mais receptivo a treinamentos,
enquanto o cola era o menos receptivo em relação aos outros.
Dos produtores que pretendiam participar de treinamentos, no estrato
cabeça, 37,5% tinham interesse pela área de administração; 25,0%, pela área
tecnológica; 12,5%, tanto pela área de administração como pela tecnológica; e
12,5%, tanto pela área de administração quanto pela tecnológica e outras.
Esse interesse por treinamentos explica, parcialmente, a situação privilegiada
em que estes se encontravam em relação aos outros.
Do estrato média, 20,0% pretendiam participar de treinamentos em
administração; 40,0%, na área tecnológica; 13,3%, tanto na área de
administração como na tecnológica; e 6,7%, em outras.
Do estrato cola, 44,4% pretendiam participar de treinamentos em
administração; 11,1%, na área tecnológica; e 22,3%, tanto na área de
administração como na tecnológica.
79
O treinamento da integradora (Quadro 23) deu-se por meio do curso
“Produção de Suínos”, ocorrido no município Faxinal dos Guedes-SC, em
1994, segundo os integrados entrevistados.
Observa-se que os estratos cola e cabeça apresentaram menor índice
de produtores com interesse em participar de treinamentos por meio da
integradora, atitude que pode ser explicada pela falta de “recompensa” e
motivação.
Quadro 24 - Produtores que receberam algum curso promovido por outras insti-
tuições, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em por-
centagem)
80
Por outro lado, havia grande demanda de treinamentos que não tinha
sido suprida pela integradora, o que levava os produtores a buscar outras
instituições.
Mediante comparação dos três estratos no Quadro 24, pode-se
verificar que o estrato cola era o que havia recebido mais treinamentos de
outras instituições.
No estrato média, havia produtores com diferentes níveis de instrução.
No Quadro 24, observa-se que 50% desses produtores não apresentavam
interesse em realizar treinamentos, o que poderia dificultar a situação, já que
estavam numa faixa de “transição” entre o estrato cabeça e o cola. Nesse
estrato (média), os produtores tentavam combinar as informações tanto da
integradora quanto de outras instituições. No estrato cabeça, os produtores, na
sua maioria, não realizavam cursos em outras instituições e procuravam seguir,
fielmente, o que o técnico da integradora havia transmitido.
Variável econômica
A variável econômica observada, por estrato, é a margem bruta. Esses
dados foram obtidos a partir do resultado da análise das unidades de produção
de leitões fornecida pela integradora, na região de Concórdia (36 unidades de
produção de leitões - UPLs), calculados a partir do relatório de
acompanhamento técnico-econômico fornecido pela Sadia Concórdia S.A.
81
A avaliação econômica dos produtores integrados (UPLs), em relação
à Margem Bruta de Produção, foi elaborada a partir do produto, conforme
apostila da Sadia Concórdia S.A. Essa apostila tem sido utilizada no
treinamento, em Administração Rural, dos técnicos da empresa, e em seu
conteúdo consta como medir resultados econômicos na propriedade.
A integradora oferecia treinamento aos técnicos por meio do curso de
administração rural com conteúdos relativos à Análise Econômica da Empresa
Rural. A margem bruta da produção (Quadro 25) era utilizada na classificação
desses produtores em cabeça, média e cola.
Margem bruta/porca/ano
Estrato
Média* US$
I – cabeça 189,57
II – média 128,74
III – cola 76,89
82
dados aos recursos produtivos em cada exploração. A análise das atividades
desenvolvidas na propriedade rural era importante, pois, por meio delas, o
produtor poderia conhecer os fatores de produção (terra, capital e mão-de-
obra) e a utilizá-los racionalmente. A partir desta análise, o produtor poderia
localizar os pontos de estrangulamento (os problemas) da atividade e
concentrar seus esforços gerenciais para atingir os objetivos.
Total de
Estrato Excelente Boa Regular
produtores
83
Situação percebida pelos produtores de leitões, integrados na época da
entrevista, em face às facilidades e dificuldades encontradas
Os suinocultores do estrato cola avaliaram a situação como regular a
péssima, quando comparados com os outros estratos, que não diferiram
substancialmente. Essa insatisfação generalizada advinha da bonificação que
recebiam na atividade e da falta de crédito rural a preços subsidiados para
investimento. Era comum ouvir esses produtores enfatizarem que estavam
pagando para criar porco.
Quando questionados sobre a bonificação dada pela integradora, os
produtores afirmaram que
são bonificados pela tabela da Integradora, ou seja, o preço do suíno vivo hoje
é R$ 1,00. Então, pelo leitão de 18 kg a 22 kg a Integradora paga 1.6 x o preço
do suíno vivo; pelo de 22 até 26 kg, paga o preço do suíno vivo; e acima de 26
kg até 28 kg, paga menos de 30% do preço do suíno vivo.
84
Quadro 27 - Situação dos produtores de leitões na região oeste, por estrato, no
município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
86
Na percepção dos técnicos, os produtores integrados
... esperam ganhar em conhecimento e financeiramente.
Os produtores vem sofrendo constantemente ameaças pela oscilação do
mercado, dos preços dos insumos, do aumento do custo de produção e da
legislação ambiental.
87
3.3. A comunicação da integradora e a percepção dos produtores
89
O aspecto moral refere-se à disposição e à motivação que os
empregados da empresa manifestam. Para que isto aconteça, “a empresa deve
esforçar-se para pagar-lhes bem, respeitando-os como ser humano e dando-
lhes a oportunidade de crescer como pessoa e no trabalho, vivendo uma vida
feliz”.
A visão ecossistêmica da qualidade total implica uma forma diferente
de a empresa relacionar-se com o resto da sociedade, ou seja, muda-se do
conceito de empresa “ilha” ou “fortaleza” para “empresa-componente do
ecossistema social”, no qual, para que o equilíbrio se mantenha, é necessária
uma troca equilibrada de contribuições e recompensas. Essa visão
ecossistêmica tem um horizonte de logo prazo, dado que, em lugar de
maximizar os lucros, o enfoque é de “otimizar o bem-estar social”. Dessa
forma, por meio da ênfase na qualidade e na interação positiva com os outros
parceiros, o lucro acabará, conseqüentemente, sendo maximizado.
Os outros parceiros da empresa, que também são componentes do
ecossistema social, formam parte essencial do conceito de Qualidade Total,
pois é pela fecunda interação deles que os objetivos serão atingidos. Eles são,
fundamentalmente, os seguintes:
1) Os consumidores - a empresa deve despender esforços para
identificar as necessidades dos consumidores e atendê-los;
2) Os empregados - aqui, a ênfase é na gestão participativa, na
remuneração adequada e no crescimento do ser humano na empresa;
3) A comunidade - precisa ser atendida pelo exercício da
responsabilidade social, traduzida na forma de proteção ambiental, entre outras
alternativas;
4) Os fornecedores - devem ser muito bem selecionados e auxiliados
no processo de desenvolvimento - a confiança deve substituir a desconfiança.
Sem dúvida, nesse marco referencial devem ser incluídos os acionistas, que,
integrados harmonicamente a outros parceiros, terão mais a ganhar, porque o
sistema - tomado como conjunto - terá sido otimizado, assim como os setores
do subsistema representado pela empresa.
90
Os conceitos básicos da qualidade total
A palavra controle tem vários sentidos que, geralmente, estão
centrados na idéia de dominar, inspecionar ou supervisar e são, geralmente,
acompanhados de uma visão coercitiva. Qualidade total significa gerenciar ou
administrar. De acordo com Bonilla, o controle da qualidade total implica duas
ações fundamentais: “Rotina” e “Melhorias”.
“Rotina” implica a conservação do modo atual de fazer as coisas,
depois de estas passarem por um processo de padronização. Isso significa que
não é qualquer “modo atual” que será uma rotina, mas um processo estável;
portanto, se ele for de natureza instável, será necessário primeiramente colocá-
lo sob controle estatístico e, só a partir daí, a Rotina poderá ser instalada.
Aqui, o processo é visto como algo que está em permanente
movimento, que está se transformando gradualmente de um estado a outro.
Isto indica uma sucessão de tarefas realizadas com certa finalidade .
Há um método geral de modelo gerencial em Qualidade Total, que é o
ciclo PDCA, cujas iniciais P, de “plan”, corresponde planejar; D, de “do”, fazer,
executar; C, de “check”, conferir; e A, de “action”, ação corretiva.
No caso em que o padrão não foi obedecido, a ação corretiva é o
treinamento. Se ele foi obedecido e não foi atingida a meta, tem-se um
problema, cuja causa fundamental tem de ser identificada.
A correção da falha é eliminar o problema.
Enquanto o TQC utiliza conceitos, o programa 5s (cinco sensos) não os
utiliza; ele é apenas uma questão de execução, já que não envolve teorias,
mas ferramentas práticas para revolucionar a gerência de rotinas diárias.
Na pesquisa, questionou-se sobre a utilização dos produtores com
relação aos cinco sensos divulgados pela Integradora: 1) Utilização; 2)
Ordenação; 3) Limpeza; 4) Saúde; e 5) Auto-disciplina.
91
Quadro 28 - Adoção ou não dos procedimentos e propostas de qualidade total
pelos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC,
1998 (em porcentagem)
92
Quadro 29 - Avaliação dos procedimentos e das rotinas de qualidade total pe-
los agricultores, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998
Não tem
Estrato Excelente Boa Regular
opinião
necessária, não é suficiente, pois vive-se num mundo dinâmico, ou seja, tanto
um concorrente pode desenvolver um processo mais adequado (“melhor”),
como o próprio cliente pode tornar-se mais exigente. Nesses casos, a “Rotina”
apresenta-se como insuficiente. Assim, um novo patamar deve ser erigido,
denominado “Melhorias”, que envolvem níveis de desempenho nunca antes
atingidos na empresa.
A gama de ações que pode envolver o gerenciamento das “Melhorias”
é quase infinito, quais sejam, criação de novos produtos, serviços e mercados;
aumento da produtividade e da lucratividade; redução de custos; aumento do
moral dos empregados para redução do absenteísmo, rotatividade, etc;
aumento da durabilidade e confiança dos produtos; e aumento do nível de
atendimento dos clientes, fazendo cair o número de reclamações e devoluções,
etc.
93
3.3.1. Mensagens sobre administração rural
Cultura A mudança
Valores Adoção de Novas Práticas
Objetivos
Aversão ao Risco
Motivação
Comunicação
FACILITADORES /TÉCNICOS
Estoque de Informações
Estoque de Administração (Qual o resultado?)
Estoque de Extensão (Como mostrar?)
(Eu posso fazer melhor do que estou fazendo?)
REALIDADE
95
Quadro 31 - Avaliação dos procedimentos e das propostas de administração
rural pelos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC,
1998 (em porcentagem)
96
Quadro 33 - Número de produtores que esclarecem ou não dúvidas com o téc-
nico, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em
porcentagem)
I – cabeça 100,00 -
II – média 94,44 5,56
III – cola 100,00 -
97
Quadro 34 - Número de produtores que receberam visita do técnico, por estra-
to, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Modificação da visita
Conforme Quadro 35, o estrato média demonstrou interesse em
modificar a visita mensal para quinzenal e semanal, pois, assim, os produtores
teriam presença constante do técnico e maiores possibilidades de êxito na
compreensão das tecnologias e dos procedimentos. Os estratos cabeça e cola
demonstraram satisfação com a freqüência das visitas.
Auxílio instrucional
A principal forma de comunicação utilizada pelo técnico, segundo a
percepção dos produtores, era a fala. Todos os produtores afirmaram que a
linguagem utilizada por ele era bem acessível. Quanto ao material escrito, os
produtores recebiam, mensalmente, o Relatório ou Acompanhamento Técnico
Econômico de Suínos - produção de leitões, para situá-los e compará-los com
outros (Quadro 37).
98
Quadro 35 - Interesse dos produtores pela mudança de freqüência da visita
realizada pelo técnico, por estrato, no município de Concórdia-
SC, 1998
99
Quadro 37 - Auxílio instrucional utilizado pelos técnicos na percepção dos pro-
dutores entrevistados, por estrato, no município de Concórdia-SC,
1998
O rádio
O rádio foi considerado o segundo meio de informação preferido pelos
produtores, depois do técnico. Dos entrevistados, 100% ouviam a Rádio Rural
AM, que transmitia o “Informativo da Sadia”, às 11h40minutos, cuja
apresentação era da assessoria de comunicação da empresa, Gilmar
Monticelli, responsável pela locução, de 2. a a 6.a feira, com duração de 5 a 6
minutos. O público-alvo deste programa eram produtores rurais integrados de
suínos e aves e o objetivo era prestar serviço de informação sobre o dia e a
hora em que seria feito o transporte dos animais para o abate, assim como
para fornecer instruções sobre o manejo, antes do transporte.
A programação das duas rádios (Rural e Aliança) estava assim
distribuída: Rádio Aliança - AM: Programa Musical “Bom dia trabalhador“, com
músicas variadas (a maior ênfase é dada ao estilo tradicionalista gaúcho e
sertanejo), e algumas inserções de informações/recados. Embora não fosse
um programa agrícola, fornecia algumas informações sobre política e mercado.
100
Rádio Rural - AM: Programa Musical “Amanhecer cantando”, com o
locutor Alemão Gordo, das 5 às 6h30minutos, com notícias policiais e algumas
informações ao público rural e urbano.
Na época da entrevista, a rádio Rural ainda pertencia ao grupo da
integradora; poucos meses depois, foi vendida a um grupo de empresários da
cidade, e o programa continua sendo veiculado semanalmente.
Rádio Rural
Rádio Rural e Rádio Rural e
Estrato Rádio Rural Aliança e
Aliança outras
outras
101
O “Globo Rural” era o programa de televisão mais assistido pelos
produtores, que, muitas vezes, tinham de optar pelo programa agrícola ou pela
missa (Quadro 39).
Manchete Rural e
Estrato Globo Rural Outros Programas
Globo Rural
102
Quadro 40 - Percepção dos produtores quanto aos conteúdos veiculados pelo
técnico, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em
porcentagem)
103
Percepção dos produtores entrevistados quanto à ajuda do técnico
Segundo os produtores, os técnicos (...) não têm muito o que fazer,
pois trabalham para a empresa. “Puxa” para o lado dela”. No entanto, de
maneira geral, crêem que eles fazem o que podem, dentro da sua limitação.
Segundo os entrevistados, a integradora tinha feito pouco ou poderia
fazer mais para torná-los mais satisfeitos, conforme relatos:
Facilita na resolução dos problemas. Ex.: problema de desmame.
Desenvolveram uma ração para resolver o problema.
Não faz nada, ainda baixou o preço do porco.
Nada, abandona os produtores.
Nada só procuram o lado deles.
Nada, não se tem como se sair do chão, o custo da atividade é muito alto.
Atendem bem na assistência técnica.
Ela teria muita coisa para fazer mas ela não faz.
Proporcionou o curso para a produção de leitões.
Promessas que vai melhorar, vai ficar bom.
Nada, não tem feito nada, antigamente eles premiavam a gente.
104
Os equipamentos disponíveis, por estrato de produtores, que
auxiliavam na busca por informações, são apresentados no Quadro 42.
Equipamentos
Estrato Equipamentos completos
incompletos
105
Freqüência de leitura
Quanto ao hábito de leitura, o estrato cabeça era o que mais lia,
embora houvesse pouca diferença entre os estratos. Nos estratos cabeça,
média e cola, a leitura diária regular aparecia com pouca diferença entre eles.
O estrato cola tinha o maior índice dos produtores que nunca liam, razão por
que a atualização destes era dificultada.
Com relação à freqüência de leitura, 22,2% dos produtores do estrato
cabeça não liam nenhuma publicação; 44,4% liam jornais; 22,2%, revistas;
11,1%, jornais e folhetos. Do média; 5,6% não liam nenhuma publicação;
38,9% liam jornais; 11,1%, revistas; 11,1%, folhetos; 11,1%, jornais e revistas;
5,6%, revistas e livros; 5,6%, jornais, revistas e folhetos; 5,6%, jornais, revistas
e livros; 5,6%, jornais, folhetos, revistas e livros. Do cola; 22,2% não liam
nenhuma publicação; 44,4% liam jornais; 22,2%, revistas; 11,1%, jornais e
folhetos (Quadro 43).
Liam todos os
Estrato Regularmente Raramente Nunca
dias
106
Rural, Informativo da Embrapa, Diário Catarinense, O Jornal (jornal de
Concórdia) e Folha de S. Paulo.
Outros impressos
Os produtores preferiam Globo Rural, Avicultura da Sadia, Veja,
Imagem Rural e A Granja, além de folhetos do culto, folders e livros sobre
Administração e Gerenciamento.
107
Conteúdos veiculados pelo Jornal Fomento
O Jornal Fomento é uma publicação produzida pela Parole
Comunicações Ltda., sob a coordenação da Assessoria de Comunicação
Social da Sadia Concórdia S.A. e colaboração dos técnicos da área
agropecuária.
A distribuição era gratuita aos produtores integrados da suinocultura e
avicultura. Sua edição tinha freqüência mensal, bimestral e trimestral e não
havia constância na freqüência de sua publicação. A equipe técnica da Sadia
colaborava com seu conteúdo, sendo composta por técnicos de Concórdia,
Chapecó, Três Passos e Frederico Westphalen. Sua tiragem era de 8.000
exemplares. Além de ser distribuído aos produtores de suínos e aves, era
encartado, em anexo, ao “O jornal” de Concórdia (jornal de circulação
semanal).
Observa-se, no Quadro 45, que os assuntos veiculados no Jornal
Fomento, na percepção dos produtores, estavam relacionados com
informações sobre tecnologia, gestão empresarial (administração rural,
qualidade total e meio ambiente), marketing institucional e promoção social
(inclusive entretenimento).
108
Segundo os entrevistados, o Jornal Fomento deveria ser distribuído
com maior freqüência e utilizado para reforçar mensagens sobre administração
rural, tecnologia e promoção social, transmitidas pelo técnico.
Verifica-se que o conteúdo das mensagens do Jornal Fomento
privilegiava assuntos mais diversificados que os da relação interpessoal.
Na avaliação dos produtores, o conteúdo era considerado bom e
regular (Quadro 46).
109
Quadro 47 - Avaliação da atuação dos técnicos pelos produtores, por estrato
(em porcentagem)
111
Dentre as mensagens veiculadas pelo técnico, constata-se que a
maioria estava relacionada com tecnologias voltadas para produção e
produtividade e com gestão empresarial na área econômico-financeira. Com
relação à preservação ambiental, verifica-se que apenas um, dentre os 36
produtores, respondeu que o técnico abordava o assunto, conforme Quadros
48, 49 e 50.
112
Quadro 50 - Número de produtores que tinham problemas relativos à prolifera-
ção de borrachudos, no município de Concórdia-SC, 1998
114
4. RESUMO E CONCLUSÕES
115
Dos produtores analisados, 46,29% estavam vinculados,
comercialmente, à integradora, num período de 20 a 35 anos (tempo contado
desde que a família de origem se vinculou à integradora).
Quanto às características internas de produção, observa-se que o
contrato existente entre integradora-integrado era oral, e a principal razão que
levou esses produtores a participarem do sistema integrado era a facilidade de
comercialização, de transporte dos produtos e de assistência técnica.
Com relação ao trabalho na atividade, os produtores trabalhavam, em
média, cerca de 15 horas/dia. A média dos estratos de produtores que
possuíam plano de saúde era de 44,43%. Desses produtores, 100% eram
proprietários e 11,11% ainda arrendavam terra para o cultivo do milho, pois o
relevo acidentado e pedregoso não favorecia a mecanização dessas
propriedades.
As propriedades localizavam-se a uma distância média de 14 km tanto
da sede do município de Concórdia como da integradora. A área média das
propriedades era de 30,6 ha.
A posse da terra, a distância e a área estavam dentro do limite imposto
pela integradora para vinculação ao sistema de integração. A área média
exclusiva para a suinocultura, nos estratos, era de 10,33 ha.
Constata-se que 52,77% dos produtores pretendiam ampliar a
suinocultura, mediante crédito agrícola, enquanto 52,73% não o utilizavam. O
estrato cabeça era o que mais evitava utilizar crédito agrícola, enquanto os
média e cola eram os que mais o utilizavam, com vistas em melhorar suas
condições técnicas e produtivas e em adequar-se ao padrão tecnológico
exigido.
Comparando-se as moradias com as instalações suinícolas, observa-
se que estas últimas tinham bom padrão, o que demonstra a preocupação
desses produtores com a manutenção do padrão estabelecido e com o
atendimento às exigências da integradora. Embora estivessem vinculados ao
sistema de produção suinícola integrado e subordinados ao capital, buscavam
diversificar a unidade produtiva por meio de explorações consideradas como
fundamentais para o auto-consumo da propriedade, além da exploração
comercial. Para isso, 90,7% era a média dos estratos de produtores que
116
contavam com o apoio da família no planejamento geral das atividades na
propriedade.
Quanto à atuação exclusiva da mão-de-obra familiar, esta ocorria em
86,66% dos estratos. No estrato cabeça, a participação da família era de
100%, eficiência explicada, parcialmente, pelo comprometimento da produção
familiar. A alocação média de mão-de-obra, nos estratos, estava distribuída em
permanente (55,53%) e temporária (25,53%).
O “sobretrabalho” da produção familiar, em todos estratos, era feito
pela mão-de-obra familiar, enquanto inserida no sistema de integração para
sua reprodução. A confirmação dessa apropriação torna-se evidente quando se
verifica, na planilha de gestão agrícola da atividade, o item mão-de-obra
familiar, considerando-se como custo de produção somente a mão-de-obra
externa à propriedade, o que implica que o principal papel desses produtores
era o fornecimento de mão-de-obra para a integradora.
Dentre outras constatações, observa-se que, com a passagem da
forma tradicional de produção, ou seja, de ciclo completo para a especialização
do processo produtivo, novos atributos passaram a ser considerados, o que
dificultava a assimilação de tais conteúdos veiculados pelos produtores,
sobretudo por não perceberem vantagens imediatas. Sendo assim, as ações
da integradora deveriam contemplar tanto os elementos tecnológicos e
estruturais como os pessoais, considerando-os como sua base de
funcionamento.
Os atributos desses produtores, considerados pela integradora, eram
inovação, maiores possibilidades de investimentos e maior qualificação.
Os produtores de leitões selecionados demonstraram capacidade de
assegurar a reprodução da qualidade genética das matrizes. Essa seleção, na
prática, era uma forma sutil de excluir os produtores de ciclo completo que não
possuíam meios para aumentar a sua escala de produção e não tinham
interesse em especializar-se na terminação. Essa especialização pressupunha
uma rotinização dos processos de produção na suinocultura, tornava a
atividade estável e previsível, além de salvaguardar a qualidade dos produtos e
serviços, assim como custos, quantidade ou prazo de produção. Mesmo assim,
40,74% dos produtores não adotavam todas as recomendações e
procedimentos preconizados sobre qualidade total e administração rural.
117
A constante desmotivação desses produtores era motivo de entrave da
adoção desses procedimentos e rotinas. A motivação era uma tarefa de
responsabilidade única e total dos produtores. A integradora esperava que eles
se sintissem motivados; no entanto, o fenômeno motivação não era tão
simples, já que era um processo psicológico, cuja compreensão e abordagem
dependiam da concepção que se tem da complexidade da natureza humana e
das condições que a influenciam.
Os produtores, apesar do empenho na atividade, não percebiam a
relação vantajosa entre custo e benefício que os estimulasse, ou seja,
esperavam alguma recompensa financeira mais satisfatória. A participação dos
produtores em treinamentos era fundamental para a especialização destes.
Constata-se que o estrato cabeça era o mais receptivo a treinamentos (87,5%),
sendo o cola o menos receptivo (77,8%). Do total de produtores que
receberam treinamento pela integradora, verifica-se que a média dos estratos
era de 83,33%. As áreas de interesse, de acordo com a prioridade desses
produtores, eram de Administração Rural, Tecnologia e Promoção Social. Os
estratos cabeça e cola apresentaram maior interesse em treinamento nas área
de Administração Rural.
Quanto à participação em cursos por meio de outras instituições,
verifica-se que 50% dos produtores recebiam treinamentos, sendo o estrato
cola o que mais participava destes. Os produtores entrevistados não estavam
expostos a outros programas de assistência técnica concorrente nessa
atividade, o que aumentava as possibilidades de que dessem a resposta
esperada pela integradora, pois a redução dos estímulos disponíveis
aumentava a efetividade dos estímulos que permaneciam. A busca de
informações externas revela que esses produtores não estavam isolados de
outros estímulos.
Ao analisar-se o perfil dos dois técnicos, observa-se que eles tinham a
mesma etnia e procedência dos produtores, ou seja, eram do sexo masculino e
possuíam semelhanças culturais.
O tempo de vinculação profissional à integradora era de 5 e 10 anos, o
que demonstra certa experiência e conhecimento na atividade. Quanto ao nível
de instrução, os dois técnicos tinham formação média (técnico-agropecuário), e
um deles era formado em Biologia. Mediante a leitura de teses, artigos
118
científicos, revistas especializadas e participação em eventos, tentavam
manter-se informados.
A relação de comunicação efetiva era realizada pelos técnicos por meio
de visitas individuais aos produtores, ocasião em que transmitiam tecnologias,
procedimentos e padrões sobre qualidade total e administração rural.
O modelo de comunicação utilizado por eles era o estímulo-resposta.
Apesar de ser uma representação um tanto simplificada da realidade, era uma
ferramenta de trabalho utilizada pela integradora para transmitir procedimentos
e inovações. Entre os canais disponíveis para transmissão de mensagens, o
interpessoal era o mais utilizado pela assistência técnica. Para os técnicos, o
objetivo da comunicação era a mudança de comportamentos, ou seja, fazer
com que o indivíduo aprendesse. Servia também para informá-los, orientá-los,
motivá-los e para coletar e divulgar dados sobre tecnologias, produção e
produtividade.
As mensagens veiculadas durante as visitas eram facilmente
compreendidas por 100% dos produtores, por meio de linguagem acessível
(palavras do dia-a-dia). Os produtores afirmaram que o técnico tinha habilidade
para comunicar-se. Essa “habilidade” era compatível com a similaridade
cultural que os produtores tinham com os técnicos, visto que pertenciam a
mesma origem étnica e procedência, o que, conseqüentemente, aumentava a
possibilidade de empatia na relação de comunicação. A posição exercida pelos
técnicos dentro do sistema social influenciava a comunicação, que, na maioria
das vezes, era “dirigida”.
A comunicação interpessoal, mediante visita individual na propriedade,
era o método mais utilizado pela assistência técnica, por ser o mais eficiente na
consecução de seu objetivo, que era convencer os suinocultores a modificarem
comportamentos. Esse método individual exercia influência direta, de caráter
pessoal, nesses produtores, facilitando a introdução de novas práticas e
conhecimentos e permitindo a realização do contato mais íntimo com o
indivíduo. Dessa forma, o produtor era convenientemente informado sobre os
benefícios dessa nova tecnologia.
Observa-se que os produtores, na sua maioria, recebiam expressiva
carga de estímulos, razão por que buscavam informações. Segundo os
técnicos, eles sofriam ameaças decorrentes da oscilação do mercado, dos
119
altos custos de produção, dos preços de insumos e do rigor da legislação
ambiental.
Para os produtores, os técnicos eram tidos ora como representantes da
integradora, ora como aqueles que compartilhavam, mutuamente, os objetivos.
Segundo eles, a situação dos técnicos não era muito confortável e a empatia
estabelecida entre eles minimizava a situação de “conflito vivido”.
O êxito dos agentes de mudança tinha relação positiva com sua
empatia, embora estes tivessem, na maioria das vezes, tanta empatia com os
agricultores que acabavam assumindo o papel da clientela, perdendo o desejo
de transformá-los. A semelhança, muitas vezes, fazia com que os produtores
não percebessem a diferenciação de papéis nesse processo, assim como a
hierarquia e a intenção dos técnicos. Sugere-se que o técnico, como agente de
mudança, exerça mais influência nas decisões de inovar, esteja atento às
tecnologias de ponta, busque mais conhecimentos sobre as ciências do
comportamento para combinar ciência e pessoas, tecnologia e humanismo, e
conheça metodologias mais participativas.
Os técnicos reconheceram que não estavam habilitados em áreas de
desenvolvimento humano e de comunicação e não utilizavam recursos
instrucionais atrativos, ou seja, apenas usavam a fala para repassar as
informações aos produtores.
Os técnicos deveriam conscientizar os produtores da importância da
mudança, no sentido de levá-los a buscar o próprio desenvolvimento, pois eles
são o elo na relação de comunicação-mudança; auxiliá-los no diagnóstico de
problemas, traduzindo intenções em ações; e preveni-los contra a
descontinuação.
Os conteúdos (mensagens tecnológicas e de gestão empresarial) eram
predefinidos e veiculados por ocasião da visita, que ocorria com determinada
freqüência, ou seja, semanal, quinzenal ou mensalmente. Enfatizavam
mensagens tecnológicas e de gestão empresarial como um dos principais
elementos que afetam o funcionamento das economias da produção familiar.
Muitas vezes, eram responsáveis pelas transformações profundas da unidade
produtiva e eram determinantes na relação com a integradora. Esses
conteúdos estavam voltados para a importância da especialização e da
realização dos procedimentos, vistos como instrumentos que possibilitavam a
120
difusão de tecnologias, a melhoria da eficiência produtiva e o maior
desempenho dessas unidades de produção, embora não estivessem
desvinculados da intenção ou do propósito para a qual ela é comunicada.
O discurso renovado da integradora, embora estivesse permeado de
conceitos de administração rural, gestão agrícola e qualidade total, baseava-se
na especialização de determinada fase produtiva, o que traduzia o nítido
interesse na seleção dos suinocultores.
Verifica-se que, no conteúdo das mensagens veiculadas por meio da
comunicação interpessoal, a integradora não privilegiava, efetivamente,
mensagens educativas sobre questão ambiental. Percebe-se, também, que
não havia incentivos também por parte de órgãos públicos competentes (via
políticas públicas), no que diz respeito à viabilização de incentivos para a
construção de esterqueiras e ao tratamento de dejetos de suínos. O ônus da
questão ambiental continuava sendo creditada à população circunvizinha e aos
produtores rurais. A exigência de construção de esterqueiras e a fiscalização
refletiam, necessariamente, o correto manejo desses dejetos.
Inicialmente, os produtores preferiam solicitar informações do técnico, e
o estrato que mais procurava essas mensagens era o cola. A segunda fonte de
informação preferida era o rádio (100% dos entrevistados ouviam rádio e o
informativo da Sadia). Não havia programas locais específicos a esse público,
com enfoque na área de promoção social, os quais atendessem à necessidade
de informação desses produtores. Dos produtores estudados, 53,73% liam
regularmente, o que facilitava a aprendizagem.
A integradora tentou minimizar o esforço de aprendizagem desses
produtores por meio da implementação de procedimentos e rotinas
padronizados por tarefas na atividade suinícola, com base nos padrões da
qualidade total. Esse método objetiva simplificar o processo de aprendizagem,
para que haja resposta rápida. Mesmo assim, muitos não se adequavam às
exigências da integradora, pois a seleção e a interpretação dos estímulos
relacionavam-se com suas expectativas de recompensa.
A integradora deixou a desejar no que diz respeito ao valor da
recompensa e ao tempo de entrega desta. De acordo com os produtores, a
recompensa oferecida pela integradora não era satisfatória, seja física, social
ou economicamente, ou seja, eles não tinham tido o retorno pelo investimento
121
que vinham realizando na atividade. A inexistência da “recompensa”
desestimulava o hábito de melhorar, ou seja, gerava o seu enfraquecimento.
Esses produtores afirmaram que não estavam recebendo nenhum tipo de
recompensa relacionadas com as que tinham no início da vinculação comercial
com a empresa.
As velhas práticas de premiação por produtividade, utilizadas pela
integradora (geladeiras, fogões, freezers, eletrodomésticos, móveis,
automóveis, máquinas, implementos agrícolas e tratores), foram substituídas
por novas exigências (rendimento da carcaça, conversão alimentar e
produtividade) e por pouco retorno financeiro. A comparação entre o passado e
o presente gerava certa nostalgia aos produtores, que falavam, com certo
saudosismo, de tempos passados, em que o retorno econômico era maior e a
empresa proporcionava maiores recompensas.
Os produtores estavam conscientes de que possuíam tradição na
atividade, muita experiência e gostavam de desempenhá-la, além de já terem
investido muito em instalações. Por ocasião da pesquisa, estavam
desestimulados, pois sentimentos de insegurança e medo estavam presentes,
concomitantemente com a aversão a riscos.
Os técnicos possuíam simbolismos assim como os produtores, embora
o nível de instrução e o papel desempenhado os diferenciassem. Como
representantes da integradora, os técnicos ocupavam posição privilegiada
(dominante) na relação de comunicação e cada qual, na sua relação de
comunicação, lutava continuamente, conforme suas reservas e instrumentos,
sem, no entanto, constituírem relação antagônica.
Quanto ao hábito de leitura, os produtores, em sua maioria, liam, mas
não tinham tempo para se dedicar à leitura e ao lazer e os poucos que liam
assinavam revistas e jornais. O Jornal Fomento, mesmo não tendo
periodicidade certa, transmitia, segundo 79,63% dos produtores, informações
adequadas, embora fosse importante que também transmitisse informações
sobre saúde, educação e mercado.
Segundo os produtores, as mensagens veiculadas no Jornal Fomento
eram relacionadas com tecnologias, administração da propriedade (gestão
agrícola e qualidade total) e promoção social (entretenimento e meio
ambiente), razão por que a maioria deles não tinha dificuldades de entendê-lo.
122
A integradora dispunha, por ocasião da pesquisa, de meios como rádio,
jornal, revistas e folhetos para veiculação de comunicação; no entanto, poderia
veicular a informação principalmente por meio de uma programação no rádio, a
qual enfocasse temas tecnológicos, de gestão e de promoção social, com
maior tempo de veiculação.
Os técnicos não estavam utilizando outros recursos instrucionais
atrativos, como vídeos, fotografias, cartazes, figuras, etc., embora estes
constituíssem um código de comunicação concreto e objetivo que poderia
receber atenção dos agricultores.
Os produtores apresentaram interesse em adquirir equipamentos que
facilitassem sua aprendizagem, com o objetivo de tornar a unidade produtiva
mais eficiente. Para isso, queriam adquirir computadores e vídeos. Dos
produtores entrevistados, nove possuíam computador, enquanto seis
pretendiam adquiri-lo. Esse interesse em adquirir computador revela a
necessidade de se adequarem a mais uma exigência da integradora, já que
esta pretendia implantar o projeto “Desenvolvimento de Fornecedores do
Programa de Qualidade - TQS”, partindo da necessidade de aumentar a
eficiência de Gestão da Qualidade nas propriedades rurais.
A tentativa da integradora de profissionalizar esses produtores
mediante treinamentos é constatada na promoção de curso sobre produção de
suínos (leitões).
Quanto aos treinamentos e à busca de informações, observa-se que a
grande maioria dos entrevistados recebia algum tipo de treinamento efetivado
pela integradora, enquanto a metade dos produtores realizava treinamento
também em outras instituições. A busca de informações em outras instituições
revela que esses produtores não aceitavam, passivamente, somente as
informações fornecidas pela integradora.
Constata-se, de forma análoga a outros estudos, que há um ponto
comum entre os integrados, ou seja, apesar das dificuldades, eles não queriam
deixar de ser integrados; o que desejavam era melhorar seu poder de
barganha junto à empresa integradora.
A integração social desses produtores era feita por meio do vínculo
com o trabalho, com a família e com a comunidade, e por meio de eventos
(festividades religiosas e missas).
123
A Associação dos Produtores de Leitões poderia oportunizar maior
espaço para interação, organização e fortalecimento dessa categoria (maior
poder de barganha junto à integradora). Do total de produtores entrevistados,
46,3% creditavam ao conjunto de estruturas organizativas (agroindústria,
cooperativa, sindicato, associações e instituições governamentais) a
responsabilidade de auxiliá-los na busca de alternativas para superação de
problemas.
Sugere-se que a integradora planeje, participativamente com técnicos e
produtores, a promoção de cursos e treinamentos nas áreas de
desenvolvimento humano, comunicação e gestão ambiental, e busque formas
alternativas de incentivar esses produtores a melhorar a auto-estima. Essa
programação poderia ser realizada mediante parcerias, pois, no modelo atual,
a participação ativa do produtor só é levada em consideração na fase final,
razão pela qual se sentem desmotivados e mesmo desobrigados a dar a
devida importância ao planejamento prescrito.
Neste estudo, a comunicação interpessoal revelou que este
procedimento de comunicação é uma forma de tratar tecnicamente a atividade
de interesse da empresa e dar assessoria gerencial à propriedade.
A integradora exerce, por meio da assistência técnica, uma espécie de
controle (do produtor e das condições ambientais), fiscalizando-os e realizando
auditoria na unidade produtiva como meio de otimizar os resultados.
A comunicação interpessoal é considerada pela integradora, muitas
vezes, como um instrumento efetivo e suficiente, em si mesmo, para assegurar
a eficiência e a eficácia do sistema de integração e do próprio processo de
aprendizagem. A comunicação dos técnicos é percebida como parte integrante
de uma superestrutura ideológica destinada a reforçar atitudes necessárias à
perpetuação da produção capitalista e a legitimar sua dominação. Nesse
modelo, a comunicação, que é paternalista, unilinear e vertical, objetiva
encurtar o tempo entre o lançamento das inovações tecnológicas mediante
procedimentos e das rotinas. Sua prática leva os produtores à dependência
cada vez maior da assistência técnica da empresa.
Do ponto de vista do integrado, embora a relação fosse amistosa, havia
certa desconfiança e até mesmo descrédito por parte destes, conforme se
124
percebe nesta fala: ... o técnico é mais um contador de leitões e vendedor de
ração.
A prioridade dada à veiculação de mensagens tecnológicas e de
gestão empresarial revela a lógica da integradora em construir mecanismos
que permitam respostas às expectativas da empresa, o que comprova a sua
grande preocupação com a lógica produtivista.
A “assistência técnica”, como o nome já diz, considerava os produtores
apenas nas fases finais do processo, razão pela qual estes sentiam
desmotivados e, ao mesmo tempo, desobrigados a dar a devida importância ao
planejamento executado. Esse enfoque voltado para o produtivismo tem
caráter imediatista e não toma o indivíduo como agente no processo, mas
como instrumento de persuasão, incapaz de agir e refletir sobre o mundo para
transformá-lo.
O estado de constante preocupação desses produtores servia de
bloqueio para que alguns atingissem determinadas exigências, o que,
conseqüentemente, dificultava a aprendizagem. Esses fatores precisam ser
considerados, pois, sob condições de tensão (de “stress”), ocasionam um
“fechamento”, já que, quando os produtores verificavam que suas
necessidades não coincidiam com a disponibilidade da recompensa oferecida,
eles se fechavam e não adotavam, de forma eficiente, essas tecnologias e
esses métodos de gestão.
As recompensas econômicas, aliadas às de motivação, podem
satisfazer às necessidades reais e à efetivação das adoções das implantações
de rotinas e procedimentos.
Alguns autores, como BORDENAVE e PEREIRA (1977), consideraram
essa abordagem de comunicação verticalizada como “anti-educativa”, já que
era incapaz de desenvolver nos indivíduos a habilidade de identificar seus
próprios problemas, entendê-los e buscar soluções apropriadas. Isto torna
relevante os programas de educação e capacitação dos suinocultores, uma vez
que, sem a adequada preparação da mão-de-obra, não serão alcançadas as
metas de produtividade que tornam a empresa competitiva. Defenderam a
utilização de estratégias de ação em grupos cujos interesses são comuns, pois
essas categorias sociais têm diferentes interesses que podem mesmo ser
conflitantes, podem ter visões distintas, diferentes problemas, acesso
125
diferenciado aos benefícios institucionais da sociedade, diferentes níveis de
facilidades ou dificuldades e diferentes dimensões de poder.
Na empresa estudada, por meio dos questionamentos e dos
depoimentos informais dos produtores integrados aos técnicos, pôde-se
perceber a tensão vivida por ambos. Por um lado, os produtores eram
excessivamente cobrados pela integradora; por outro, os técnicos também o
eram. O técnico veiculava mensagens ao produtor com a intenção de que estes
aprendessem e melhorassem suas condições socioeconômicas, no entanto,
não compreendiam o motivo pelo qual os produtores não adotavam essas
tecnologias.
A introdução de novas tecnologias e procedimentos, embora
considerada necessária, muitas vezes originava resistências. Esses técnicos
desconheciam a racionalidade que permeava as ações desses produtores, pois
não estavam familiarizados com teorias de comunicação, de aprendizagem e
de psicologia, em resumo, desconheciam a questão complexa que envolvia a
modificação de comportamentos.
Os produtores, embora percebessem que os técnicos impunham
procedimentos e rotinas, sentiam amizade por eles, visto que compreendiam a
situação desses técnicos, pois sabiam que eles não tinham autonomia e
condições de fazer mais do que faziam, já que estavam numa posição
intermediária na relação de comunicação.
Os conteúdos veiculados e os procedimentos da assistência técnica
revelavam uma ação de tutoria, fiscalização e auditoria, pois as mensagens
que visavam à produção, à produtividade via tecnologia e ao gerenciamento da
unidade produtiva eram exigentes e impositivas, dado que controlava e
perpetuava a relação de dependência.
Nesse sentido, o planejamento e a seleção de conteúdos a serem
trabalhados, bem como a forma de exploração metodológica desses
conteúdos, deveriam sofrer alterações, uma vez que a inovação não pode se
reduzir apenas a mudanças no que se ensina e no que se aprende, o ideal é
como se ensina e como se aprende. Alguns produtores integrados
apresentaram, mediante atitudes, formas de resistência que se refletiam na
não-utilização da tecnologia prescrita pelo técnico.
126
Acredita-se que a integradora deveria usar modelos alternativos de
comunicação dialógica, cognitivos, morais e motivacionais, principalmente para
que os produtores pudessem ser capazes de, por meio do bem-estar físico,
promover o auto-desenvolvimento socioeconômico.
127
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
132
MIOR, L.C. Empresas agroalimentares, produção agrícola familiar e
competitividade no complexo de carnes. Rio de Janeiro: UFRJ, 1992.
394 p. Dissertação (Mestrado em Sociologia Rural) - Universidade Federal
do Rio de Janeiro, 1992.
SAS user’s guide: statistics, version 6.10 edition. Cary, NC: SAS institute Inc.,
1995. 956 p.
133
APÊNDICES
APÊNDICE A
TAREFA
Desmamar leitões.
ATIVIDADE CRÍTICA
1) Preparar a baia para o desmame;
2) Tirar a porca da baia e levá-la até as baias da cobertura;
3) Colocar os leitões nas baias de desmame, separando os machinhos das
fêmeas; e
4) Oferecer ração como descrito na tabela.
RESULTADOS ESPERADOS
Leitão desmamado, sem diarréia ou outras doenças.
AÇÕES CORRETIVAS
Caso apareçam leitões com diarréia, edema ou outra doença, deve-se
avisar o técnico e rever o padrão.
132
TAREFA
Proporcionar ambiente confortável para o leitão. Cuidados com o
escamoteador.
ATIVIDADE CRÍTICA
1) Inicialmente, colocar cama no escamoteador;
2) Ver se a temperatura dentro do escamoteador está boa, observando a forma
como os leitões estão deitados, comparando-os com as figuras;
3) Trocar a cama, quando estiver suja ou molhada;
4) Limpar, lavar e desinfetar a baia e o escamoteador, quando as porcas forem
retiradas e os leitões desmamados; e
5) Pintar a baia e o escamoteador.
RESULTADOS ESPERADOS
Contribuir para que o local onde fica o leitão quando este não estiver
mamando tenha cama seca, limpa e temperatura no ponto certo.
AÇÕES CORRETIVAS
Se os leitões não usarem o escamoteador, ou ficarem todos
amontoados dentro do escamoteador, verificar atividades críticas e avisar o
técnico.
133
TAREFA
Adaptar reprodutores.
ATIVIDADE CRÍTICA
1) Preparar o local para colocar os reprodutores;
2) Colocar uma leitoa a cada um metro e meio da baia. Colocar, no máximo,
seis leitoas por baia;
3) Deixar o macho sozinho na baia, que deve ter de 8 a 10 m2;
4) Oferecer aos reprodutores a mesma ração da porca em lactação, ou seja,
2 kg por dia, dado meio a meio;
5) Colocar medicamento na ração durante 30 dias;
6) Seguir o esquema de vacinação da propriedade, quando necessário;
7) Evitar que ocorram problemas de saúde com os reprodutores; e
8) Realizar o desafio sanitário, oito dias após o recebimento sanitário.
RESULTADOS ESPERADOS
Evitar que os reprodutores tenham problemas de adaptação na
propriedade e que não fiquem doentes.
AÇÕES CORRETIVAS
Quando os reprodutores não respondem ao tratamento, deve-se
chamar o técnico.
134
TAREFA
Atender ao parto.
ATIVIDADE CRÍTICA
1) Ficar atento para os sinais de parto da porca;
2) Acompanhar o parto todo o tempo;
3) Realizar toque vaginal, quando a porca fizer força e os leitões não
nascerem. Desinfetar o local, lavar e desinfetar as mãos e os braços; usar
luva plástica; passar azeite na luva; colocar a luva na mão e introduzi-la na
porca;
4) Limpar a boca e o focinho do leitão recém-nascido;
5) Secar o leitão com pano seco;
6) Amarrar e cortar o umbigo dois dedos abaixo da barriga;
7) Cortar os dentes rente à gengiva e não machucá-la;
8) Cortar duas partes das três partes do rabo; e
9) Desinfetar o umbigo e o rabo cortados.
RESULTADOS ESPERADOS
Contribuir para que o leitão fique com os dentes bem cortados; para
que a gengiva não fique machucada; para que o rabo fique bem cortado; e para
que o umbigo fique bem cortado e amarrado.
AÇÕES CORRETIVAS
Aplicar medicamento na porca sempre que for feito o toque com a mão;
Chamar o técnico, caso tenha dúvida a respeito do amarrio do
umbigo; e
Requisitar o técnico, caso tenha dúvida a respeito do corte do rabo do
leitão.
135
TAREFA
Alojar leitões na creche. Cuidados que se deve ter ao levar os leitões
para a creche.
ATIVIDADE CRÍTICA
1) Limpar a baia;
2) Desinfetar a baia, após a limpeza desta;
3) Colocar a cama, após a baia ser seca;
4) Verificar se o bebedouro está funcionando;
5) Verificar se o comedouro funciona;
6) Tirar os leitões da maternidade e formar lotes com leitões de mesmo
tamanho; e
7) Colocar na creche três leitões por metro quadrado.
RESULTADOS ESPERADOS
Obtenção de três leitões por metro quadrado da creche.
AÇÕES CORRETIVAS
Toda vez que tiver mais de três leitões por metro quadrado na creche,
deve-se observar se há atividades críticas e contactar o técnico.
136
APÊNDICE B
140
quadro geral de comparação; para analisar o grupo comparativamente; e para
comparar a eficiência entre atividades e produtos diferentes. Pode-se
determinar a MB por unidade de produção (por hectare, por porca, por aviário,
etc.), o que possibilita a comparação entre atividades semelhantes ou entre
produtores ou, ainda, entre regiões, etc. Pode-se, também, prever a MB futura,
para fazer a programação das atividades a serem desenvolvidas na
propriedade ou para fins de orçamentação.
A margem bruta não representa o lucro líquido da atividade.
As propriedades rurais observadas constituem-se de recursos
escassos e procuram alcançar determinados objetivos. A forma de alocação
dos recursos escassos e todo o processo de tomada de decisão derivam dessa
administração rural.
A comparação de resultados, como técnica de gestão da propriedade,
é também uma das técnicas de gestão da propriedade utilizadas na
classificação dos produtores em cabeça, média e cola.
141
APÊNDICE C
142