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INTERPRETAÇÃO DE UMA ESCURIDÃO BONITA DE ONDJAKI

POR GIOVANNA PALAURO SILVA

A leitura de Uma Escuridão Bonita é, sem dúvida, uma leitura fluida e aconchegante.
Ao decorrer o texto, o leitor parece estar inserido na mesma escuridão que os personagens ao
sentir o abraço do sonho tão próximo a si. Essa narrativa sensorial será o objeto de
interpretação deste texto. São três os personagens que aparecem no conto: o menino, a
menina e a avó. Suas histórias se entrelaçam na varanda da casa da terceira, enquanto, sob a
falta de luz, o menino tenta conquistar um beijo da menina que o acompanha. De tempos em
tempos, a avó interrompe as histórias do primeiro a fim de conferir se tudo está bem com os
amantes. E são estas histórias contadas e inventadas pelo menino que abrem as portas para o
imaginário do leitor.
Em primeiro lugar, é importante analisar o fenômeno que dá título à obra: a escuridão.
Esta, por sua vez, aparece de repente mas cria uma ambientação de aconchego e intimidade.
É perceptível que as histórias contadas pelo menino o aproximam da menina encorajado pelo
silêncio que a escuridão proporciona. Ainda, a obra deixa claro que o silêncio é quebrado por
outras maneiras que não a fala, como é o caso do toque das mãos e o cheiro de abacate que o
cabelo da menina exala. Isso nos leva ao segundo ponto: os elementos de materialidade no
conto. Mesmo uma leitura desatenta é capaz de captar cheiros, cores e sensações transmitidas
na obra, fazendo com que a imersão nesta seja muito mais completa e que a obra provova
múltiplos olhares para o texto trabalhado, recurso este que acredito ser intensificado com a
presença das ilustrações originais da obra.
Assim, a junção destes elementos permite o prestígio da oralidade marcada na
história, como um ato de manifestação do imaginário dos personagens revelado através das
histórias de infância. Por mais que muitas histórias sejam inventadas, é interessante perceber
que a menina continua sendo atraída por elas, sem se importar de fato com sua veracidade,
nos fazendo pensar que a escuridão se torna bela com a criação de intimidade desenvolvida
pelos dois personagens jovens. Desta forma, um romance é construído com pequenas
interrupções da avó que faz com que a leitura também seja interrompida de súbto, como um
leitor que acabou de despertar de um sonho.

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