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21/01/2021 11:44

BARBOSA JUNIOR
Conferência em www.tcees.tc.br

ODILSON SOUZA
Assinado por
Identificador: 080CE-5838B-37414

ACÓRDÃO TC-1607/2020 – PLENÁRIO

19/01/2021 21:50
Acórdão 01607/2020-6 - Plenário

RODRIGO FLAVIO
FREIRE FARIAS
Assinado por

CHAMOUN
Processo: 07450/2017-3
Classificação: Controle Externo - Fiscalização - Representação

CICILIOTTI DA CUNHA
UGs: PMVV - Prefeitura Municipal de Vila Velha, SEMOB - Secretaria Municipal de Obras de

19/01/2021 16:34
Vila Velha

Assinado por
LUIZ CARLOS
Relator: Domingos Augusto Taufner
Representante: POLIPAVI - SANEAMENTO E PISOS LTDA
Responsável: LUIZ OTAVIO MACHADO DE CARVALHO, ALBERTO JORGE DE MATOS
Procuradores: MONTALVANI DE SOUSA LIMA (OAB: 14499-ES)

DOMINGOS AUGUSTO

19/01/2021 16:17
Assinado por

TAUFNER
REPRESENTAÇÃO – SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO

RODRIGO COELHO DO

19/01/2021 15:45
DE PAVIMENTAÇÃO ASFÁLTICA DAS VIAS

Assinado por
URBANAS DE VILA VELHA – LICITAÇÃO –

CARMO
QUALIFICAÇÃO ECONÔMICO FINANCEIRA –
CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO –

ANASTACIO DA SILVA
19/01/2021 15:06
IMPROCEDÊNCIA.

LUIS HENRIQUE
Assinado por
1. Nos contratos por escopo, o percentual de
exigência de Capital Circulante Líquido deve ser
estabelecido caso a caso, conforme as peculiaridades
do objeto a ser licitado, tornando-se necessário que 19/01/2021 14:37
SERGIO ABOUDIB
FERREIRA PINTO
Assinado por

exista justificativa do percentual adotado nos autos do


procedimento licitatório, nos termos do Acórdão
592/2016 – Plenário – TCU.
SERGIO MANOEL NADER

2. É aceitável a exigência, em editais de licitação, de


19/01/2021 14:36
Assinado por

Capital Circulante Líquido de, no mínimo, o valor


correspondente a 2 (duas) vezes o valor mensal
BORGES

orçado, para honrar, no mínimo, dois meses de


contratação sem depender do pagamento por parte do
SEBASTIAO CARLOS

19/01/2021 14:35
RANNA DE MACEDO
Assinado por

Assinado digitalmente. Conferência em www.tcees.tc.br Identificador: 080CE-5838B-37414


ACÓRDÃO TC-1607/2020
lc/fbc

contratante, nos termos do Acórdão 1214/2013 –


Plenário – TCU.

O EXMO. SR. CONSELHEIRO DOMINGOS AUGUSTO TAUFNER:

RELATÓRIO

Trata-se de Representação em face da Prefeitura Municipal de Vila Velha,


protocolizada pela sociedade empresária Polipavi Saneamento e Pisos Ltda. EPP,
questionando possíveis irregularidades ocorridas no Edital de Concorrência Pública
nº 008/2017, cujo objeto é a "contratação de empresa para execução de serviços de
manutenção corretiva de pavimentação asfáltica das vias urbanas de Vila Velha".

Sustenta a Representante, em síntese, a ocorrência de possíveis ilegalidades no


que se refere à exigência de Capital Circulante Líquido, e, consequentemente, a
possível existência de corrupção e fraude nos processos licitatórios das regionais 1 a
5 do Município de Vila Velha, razão pela qual pleiteou a suspensão liminar do Edital
008/2017, bem como de todas as licitações que contenham a mesma exigência.

Em virtude das supostas irregularidades, o Conselheiro Relator, por intermédio da


Decisão Monocrática 01487/2017-1, determinou a notificação do Secretário de
Infraestrutura e Obras e do Presidente da Comissão Permanente de Licitações.

Apresentadas as justificativas, o feito foi remetido à Secex Engenharia, que elaborou


a Manifestação Técnica 01474/2017-2 sugerindo a perda superveniente do objeto,
ante o cancelamento do edital comprovado pelos responsáveis, entendimento este
que foi ratificado pelo Parecer Ministerial 06296-2017-2.

Na sequência, a pessoa jurídica representante acostou aos autos nova petição


(petição inicial 00379/2017-1), por meio da qual informou que a Administração
Municipal teria publicado novo Edital, sob o nº 013/2017, com conteúdo idêntico ao
Edital 008/2017 e, portanto, com os mesmos vícios. Requereu, por essa razão, a
suspensão liminar do novo edital e a correção das irregularidades apontadas.

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ACÓRDÃO TC-1607/2020
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Ato contínuo, restou confeccionada a Instrução Técnica Inicial 00042/2018-8, por


meio da qual o corpo técnico sugeriu a citação do responsável Alberto Jorge de
Matos – Presidente da CPL, para que apresentasse as alegações e os documentos
relacionados à possível irregularidade de “Exigência de Capital Circulante Líquido”.

Após, sobreveio a Decisão Plenária 00623/2018-1 que conheceu a Representação,


indeferiu a medida cautelar e determinou a citação do Sr. Alberto Jorge de Matos,
em razão do indicativo de irregularidade acima apontado.

O Núcleo de Controle de Documentos – NCD exarou o Despacho 29897/2018-9


informando a ausência de documentação protocolizada em nome do responsável, no
que se refere ao presente feito.

Em seguida, o Relator determinou a citação do Sr. Luiz Otavio Machado de Carvalho


– Secretário Municipal de Infraestrutura, Projetos e Obras, tendo em vista que
apenas o Presidente da CPL havia sido citado anteriormente, no que foi
acompanhada pela Decisão TC nº 778/2020-7.

Apresentadas as justificativas, os autos foram encaminhados ao Núcleo de Controle


Externo de Construção Civil Pesada – NCP, o qual, por meio de Instrução Técnica
Conclusiva 4511/2020-5, opinou pela procedência parcial da Representação,
sugerindo a manutenção da irregularidade apontada, sob responsabilidade do Sr.
Alberto Jorge de Matos.

O Ministério Público de Contas, por sua vez, através do Parecer 3654/2020-4, da


lavra do Excelentíssimo Procurador Dr. Heron Carlos Gomes de Oliveira, anuiu
integralmente o posicionamento técnico.

FUNDAMENTAÇÃO

DA ADMISSIBILIDADE

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ACÓRDÃO TC-1607/2020
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Precipuamente, cumpre destacar que no artigo 94 da Lei Complementar Estadual


621/2013 estão retratados os requisitos de admissibilidade das denúncias, como se
vê:

Art. 94. São requisitos de admissibilidade de denúncia sobre matéria de


competência do Tribunal:

I - ser redigida com clareza;

II - conter informações sobre o fato, a autoria, as circunstâncias e os


elementos de convicção;

III - estar acompanhada de indício de prova;

IV - se pessoa natural, conter o nome completo, qualificação e endereço do


denunciante;

V - se pessoa jurídica, prova de sua existência e comprovação de que os


signatários têm habilitação para representá-la.

Não obstante, sabe-se que aplicam-se às Representações, no que couber, as


normas relativas à denúncia, nos termos dos artigos 177 e 182, parágrafo único do
Regimento Interno desta Corte de Contas:

Art. 177. São requisitos de admissibilidade de denúncia sobre matéria de


competência do Tribunal:

I – ser redigida com clareza;

II – conter informações sobre o fato, a autoria, as circunstâncias e os


elementos de convicção;

III - estar acompanhada de indício de prova;

IV – se pessoa natural, conter o nome completo, qualificação e endereço do


denunciante;

V – se pessoa jurídica, prova de sua existência, e comprovação de que os


signatários têm habilitação para representá-la.

§ 1º A denúncia não será conhecida quando não observados os requisitos


de admissibilidade previstos neste artigo.

§ 2º Caberá ao Relator o juízo de admissibilidade da denúncia.

§ 3º Na hipótese de não conhecimento, a decisão deverá ser submetida ao


Plenário.

[...]

Art. 182. São legitimados para representar ao Tribunal:

Parágrafo único. Aplicam-se às representações, no que couber, as


normas relativas à denúncia.

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ACÓRDÃO TC-1607/2020
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Após detida análise à presente Representação, verifico que restam preenchidos os


requisitos de admissibilidade, razão pela qual ratifico a Decisão Plenária
00623/2018-1 no tocante ao seu conhecimento.

Passo, então, à análise do indicativo de irregularidade.

2.1.1 – Exigência de capital circulante líquido – Critérios: Art. 31, § 5º, da Lei
8.666/1993

Precipuamente, antes de adentrar à análise meritória da presente irregularidade,


entendo por bem destacar a análise técnica realizada na MT 101/2018-1 a respeito
das alegações da Representante:

Alega o representante que a exigência de a licitante dispor de capital de giro


equivalente a duas vezes o valor mensal orçado pela administração seria
ilegal, haja vista que o Acórdão nº 1.214/2013 do Tribunal de Contas da
União que fundamenta a referida exigência não se aplicaria ao caso em
tela.

A exigência ora atacada consta do item 3.6.1.3 alínea e do edital que exige:

Capital Circulante Líquido – CCL (Capital de Giro)


Capital Circulante Líquido (CCL) (Capital de Giro) = (Ativo Circulante –
Passivo Circulante) de, no mínimo, o valor correspondente a 2 (duas)
vezes o valor mensal orçado deste edital, conforme Anexo XIII –
Planilha com estimativa de preços elaborada pela PMVV.

A exigência de Capital Circulante Líquido (CCL) se baseia no Acórdão


1214/2013 do TCU – Tribunal de Contas da União e está devidamente
justificada no processo que trata desta licitação.

Os cálculos dos itens acima descritos deverão ser entregues,


conforme modelo constante no ANEXO XVI deste documento.

O referido Acórdão 1.214 do TCU aborda o tema conforme se reproduz a


seguir:

2. Constatou-se que, nos últimos anos, passaram a ocorrer com maior


frequência problemas na execução desse tipo de contrato, com
interrupções na prestação dos serviços, ausência de pagamento aos
funcionários de salários e outras verbas trabalhistas, trazendo
prejuízos à administração e aos trabalhadores. Em razão disso, o
então Presidente deste Tribunal, Ministro Ubiratan Aguiar, determinou
à Administração do TCU que fossem realizados trabalhos conjuntos
com outros órgãos da Administração Pública com o objetivo de
formular propostas para ao menos mitigar tais problemas.

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3. Inicialmente, para cumprir essa determinação, realizou-se uma


primeira reunião com representantes do TCU, do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão – MP e da Advocacia-Geral da
União – AGU, que corroboraram as percepções do Tribunal,
reforçando a pertinência da realização do trabalho conjunto
determinado pelo ex-Presidente desta Corte.

4. Foi constituído, então, um grupo de estudos, composto inicialmente


por servidores do MP, da AGU e do TCU, passando a ser
posteriormente integrado também por representantes do Ministério da
Previdência Social, do Ministério da Fazenda, do Tribunal de Contas
do Estado de São Paulo e do Ministério Público Federal, que
discutiram aspectos relacionados aos procedimentos licitatórios, à
gestão e ao encerramento desses contratos. Destacam-se a seguir, os
tópicos abordados pelo referido grupo:

[...]

III.a –Qualificação econômico-financeira

84. De acordo com o art. 27, inciso III, da Lei nº 8.666/93, para a
habilitação nas licitações deverá ser exigida das licitantes a
qualificação econômico-financeira, que será composta por um
conjunto de dados e informações condizentes com a natureza e as
características/especificidades do objeto, capazes de aferir a
capacidade financeira da licitante com referência aos compromissos
que terá de assumir caso lhe seja adjudicado o contrato.

85. No intuito de conhecer a abrangência das exigências de


qualificação econômico-financeira nos processos licitatórios para
contratação de serviços terceirizados foram, consultados editais de
vários órgãos federais e percebeu-se que, embora a legislação
permita exigência maior, somente tem-se exigido a comprovação de
patrimônio líquido mínimo de 10% (dez por cento) do valor estimado
da contratação quando quaisquer dos índices de Liquidez Geral,
Liquidez Corrente e Solvência Geral são iguais ou inferiores a 1 (um).

86. Ocorre que, via de regra, as empresas não apresentam índices


inferiores a 1 (um), por consequência, também não se tem exigido a
comprovação do patrimônio líquido mínimo, índice que poderia melhor
aferir a capacidade econômica das licitantes.

87. Por certo, este aparente detalhe, tem sido o motivo de tantos
problemas com as empresas de terceirização contratadas que, no
curto, médio e longo prazos, não conseguem honrar os compromissos
assumidos com os contratantes.

88. O problema está no fato de que o cálculo de índices contábeis


pelo método dos quocientes, tal como disponibilizado no SICAF, por si
só, não tem demonstrado adequadamente a capacidade econômico-
financeira das licitantes, eis que não a evidenciam em termos de valor.
Assim, tem-se permitido que empresas em situação financeira
inadequada sejam contratadas.

89. Com o propósito de salvaguardar a administração de futuras


complicações, entendeu-se que há de se complementar as avaliações
econômico-financeiras dos licitantes por meio de critérios ou índices
que expressem valores como percentuais de outro valor, dentro do
limite legalmente autorizado. Por exemplo, patrimônio líquido mínimo
de 10% do valor estimado para a nova contratação ((ativo total –

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passivo) /10 > valor estimado da contratação), ou pelo método da


subtração, como no caso do cálculo do capital de giro ou capital
circulante líquido (ativo circulante – passivo circulante).

90. A título de exemplificação, em tese, na avaliação da liquidez


corrente, uma empresa com R$ 1,50 (um real e cinquenta centavos)
no ativo circulante e R$ 1,00 (um real) no passivo circulante terá o
mesmo índice de liquidez de outra empresa com R$ 1.500.000.000,00
(um bilhão e quinhentos mil reais) no ativo circulante e R$
1.000.000.000,00 (um bilhão) no passivo circulante, qual seja, liquidez
corrente igual a 1,5.

91. Observa-se que, embora tenham o mesmo índice, são empresas


com capacidades econômico-financeiras totalmente distintas. Todavia,
se não fosse conhecido o ativo e o passivo circulante em termos de
valor monetário, seriam elas, equivocadamente, consideradas como
equivalentes do ponto de vista econômico-financeiro. Daí a utilidade
do capital circulante líquido – CCL.

92. Em contratos de fornecimento de bens permanentes e de


consumo a diferença entre os capitais circulantes líquidos – CCL´s das
duas empresas hipotéticas citadas acima não seria tão relevante, pois
o licitante tem espaço para negociar preços e prazos de pagamento
com seu fornecedor e não carece, por exemplo, de liquidez ou
patrimônio, eis que figura como espécie de intermediário e sua
situação financeira não é determinante para o contratante, mas sim a
efetiva entrega do bem. Além disso, não há encargos previdenciários
e/ou trabalhistas vinculados diretamente ao objeto.

93. Ao contrário das empresas de fornecimento de bens, as de


terceirização de serviços são altamente demandantes de recursos
financeiros de curto prazo e de alta liquidez, como moeda corrente,
pois se faz necessário que disponham de recursos suficientes no ativo
circulante para suportar despesa com a folha de pagamento e outros
encargos a cada mês, independentemente do recebimento do
pagamento do órgão para o qual presta os serviços.

94. Cabe consignar que, no âmbito da administração pública, salvo


pequenas exceções, não há a figura do pagamento antecipado e nem
seria razoável, pois a administração funcionaria como financiadora a
custo zero de empresas de terceirização e não como contratante
propriamente dita. Além disso, se assim o fosse, as empresas
trabalhariam com risco zero, situação incompatível com as atividades
da iniciativa privada, que pressupõem sempre a existência do risco do
negócio.

95. O pagamento somente pode ocorrer após o ateste do serviço


realizado, normalmente no decorrer do mês posterior à prestação dos
serviços. Assim, faz sentido exigir das licitantes que tenham recursos
financeiros suficientes para honrar no mínimo 2 (dois) meses de
contratação sem depender do pagamento por parte do contratante.
Uma empresa que não tenha esta capacidade quando da realização
do processo licitatório, certamente terá dificuldades de cumprir todas
as obrigações até o fim do contrato.

[...]

102. Assim, com base nesses pressupostos, propõe-se as seguintes


condições de habilitação econômico-financeira para comporem os
editais destinados à contratação de serviços terceirizados:

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As licitantes deverão apresentar a seguinte documentação


complementar:

Capital Circulante Líquido – CCL:

1.1. Balanço patrimonial e demonstrações contábeis do exercício


social anterior ao da realização do processo licitatório, comprovando
índices de Liquidez Geral (LG), Liquidez Corrente (LC) e Solvência
Geral (SG) superiores a 1 (um), bem como Capital Circulante Líquido
(CCL) ou Capital de Giro (Ativo Circulante – Passivo Circulante) de, no
mínimo, 16,66% (dezesseis inteiros e sessenta e seis centésimos por
cento) do valor estimado para a contratação;

O mesmo assunto foi aprofundado e esmiuçado em discussão mais recente


no mesmo TCU que culminou no Acórdão 592/2016 nos seguintes termos
destacados a seguir:

Entretanto, é preciso ponderar que parte significativa da IN SLTI


2/2008 e de seu art. 19, inclusive, foi alterada pela IN SLTI 2/2013, de
23/12/2013, no contexto que se seguiu após a prolação do Acórdão
1.241/2013, em 22/5/2013.

Este acórdão foi exarado em processo que analisou e formulou


proposições de melhorias nos procedimentos relativos à contratação e
à execução de contratos de terceirização de serviços continuados na
Administração Pública Federal.

(...)

47. A então 3ª Secex, ao analisar esse ponto, entendeu que não


haveria autorização legal para a exigência de capital circulante
líquido mínimo de 16,66% do valor estimado da contratação.
Assevera que tais números “por serem limitadores do direito de
licitar dos administrados, não podem ser aleatoriamente fixados
pela administração”. Aduz aquela unidade técnica que o art. 31,
inciso I, da Lei 8.666/93 diz que as demonstrações contábeis têm
por objetivo comprovar a ‘boa situação financeira’ da empresa, “o
que, sem dúvida, explana conceito aberto, mas nem por isso
autorizador de limitações indevidas por parte do administrador,
daí por que, mesmo razoáveis os valores e índices declinados na
proposta, estes só podem ser adotados se estabelecidos por
meio de decreto regulamentador, visto que este tipo de normativo
existe justamente para explicitar a lei” (grifos do original).

48. Entendo não assistir razão à unidade técnica nesse aspecto.


A prevalecer o entendimento defendido pela então 3ª Secex, só
poderiam ser adotados critérios e índices expressamente
estabelecidos na própria Lei 8.666/93 ou em decreto
regulamentador. Nessa hipótese, as únicas exigências numéricas
possíveis, na ausência de decreto regulamentador sobre a
matéria, seriam o capital social ou patrimônio líquido de até 10%
do valor estimado da contratação (expressamente previsto no art.
31, §3º da Lei 8.666/93) e a garantia, limitada a 1% do valor
estimado (art. 31, inciso III). Nem mesmo o estabelecimento de
valores mínimos de índices poderia ser feito, uma vez que não há
previsão normativa expressa a respeito desses valores.

49. A leitura do art. 31 da Lei de Licitações indica que o legislador


não estabeleceu de forma precisa quais critérios, índices e

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valores a serem requeridos. E nem deveria fazê-lo, julgo eu,


diante da diversidade de tipos e complexidades de objetos, que
podem requerer exigências distintas. A lei estabeleceu sim,
determinados limites para as exigências a serem feitas pela
administração, como valor máximo de patrimônio líquido,
vedação da imposição de faturamento anterior ou índices de
rentabilidade ou lucratividade, proibição da exigência de índices
e valores não usualmente adotados. A lei também requer, de
forma explícita, que a comprovação da boa situação financeira
seja feita de forma objetiva por meio de índices devidamente
justificados no processo administrativo da licitação.

50. Assim, se os critérios previstos pela administração estiverem


dentro desses parâmetros, entendo que é perfeitamente legal
exigi-los. E os critérios sugeridos pelo grupo de estudos situam-
se nos limites estabelecidos em lei, tendo-se apresentado
justificativas técnicas pertinentes que motivam sua adoção.

À vista do trabalho realizado pelo grupo de estudo, o TCU decidiu,


então, recomendar à Secretaria de Logística e Tecnologia da
Informação do Ministério do Planejamento que incorporasse diversos
aspectos à IN/MP 2/2008, dentre os quais a exigência relativa ao CCL
como critério de qualificação econômico-financeira para serviços
continuados (grifamos):

9.1 recomendar à Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação


do Ministério do Planejamento que incorpore os seguintes aspectos à
IN/MP 2/2008:

(...)

9.1.10 sejam fixadas em edital as exigências abaixo relacionadas


como condição de habilitação econômico-financeira para a
contratação de serviços continuados:

9.1.10.1 índices de Liquidez Geral (LG), Liquidez Corrente (LC) e


Solvência Geral (SG) superiores a 1 (um), bem como Capital
Circulante Líquido (CCL) ou Capital de Giro (Ativo Circulante –
Passivo Circulante) de, no mínimo, 16,66% (dezesseis inteiros e
sessenta e seis centésimos por cento) do valor estimado para a
contratação, índices calculados com base nas demonstrações
contábeis do exercício social anterior ao da licitação;

Como se vê, embora a recomendação do TCU relativa ao CCL


como critério de qualificação econômico-financeira tenha sido
feita em relação à contratação de serviços continuados, a sua
efetiva incorporação à IN SLTI 2/2008, por meio da IN SLTI 6/2013,
não distinguiu, neste caso, entre serviços continuados ou não,
como vimos no parágrafo 13 acima. Assim, não se pode
considerar desarrazoada a conduta do gestor ao adotar tal índice
em se tratando de serviços não continuados.

Ocorre que, como vimos no exame do item “b” da oitiva, o objeto


do pregão 205/2015 configura obra de engenharia, o que afasta de
forma inegável a aplicabilidade da IN SLTI 2/2008. Contudo, pelos
mesmos motivos expostos no parágrafo 25, deixamos igualmente de
propor a realização de audiência do gestor a respeito desta
ocorrência, haja vista que decorreu de seu entendimento de que o
objeto consistia em serviço não continuado.

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[...]

A Fiocruz realizou pregão eletrônico visando a contratação de objeto


que consiste em obra de engenharia, o que é vedado pelo é
expressamente vedado pelo art. 6º, do Decreto 5.450/2005. Em
decorrência do entendimento de que o objeto se tratava de serviço de
engenharia, a referida Fundação utilizou, indevidamente, como critério
de qualificação econômica, a exigência de comprovação de 16,66%
de capital circulante líquido, aplicável em casos de serviços,
continuados ou não. Além disso, tanto o edital do certame como a
respectiva minuta de contrato não previram critério de reajuste para a
contratação, o que infringe o disposto no art. 40, inciso XI, e o art. 55,
inciso III, da Lei 8.666/1993.

Não obstante, opinamos pela não realização da audiência do gestor


com vistas à apresentação de razões de justificativa em razão das
dificuldades indicadas no caso concreto para tal distinção, admitindo-
se que “há atividades em que será problemático a qualificação como
obra ou serviço”, nas palavras de Marçal Justen Filho. Em segundo
lugar, o gestor apresentou jurisprudência do TCU e precedentes de
editais que, embora não se amoldem ao objeto ora em exame,
sinalizam a boa-fé de sua conduta.

Ademais, ante a assinatura do contrato 104/2015, em 7/12/2015,


deixamos de propor a anulação do certame e todos os atos dele
decorrentes, com base no prejuízo maior que tal medida poderia
causar ao interesse público, uma vez que não há indícios de prejuízo
à competitividade ou à obtenção da proposta mais vantajosa para a
Administração.

Destarte, propomos que seja dada ciência ao órgão das


irregularidades constatadas na presente representação, bem como
que seja determinado ao órgão que promova que, no prazo de quinze
dias, providencie a assinatura de termo aditivo fixando o índice de
reajuste e envie cópia do referido termo a esta Corte de Contas.

[...]

8. Concluiu a unidade técnica, em pareceres uniformes, que os


argumentos carreados pelos manifestantes não elidiram as
irregularidades apontadas na licitação. Porém, não foi proposta a
anulação do contrato dela decorrente, haja vista que seria medida
contrária ao interesse público, uma vez que não restou demonstrado
prejuízo à competitividade ou a obtenção de proposta mais vantajosa
à Administração.

9. Outrossim, a Secex-RJ propôs a expedição de cientificações e de


determinação corretiva à Fiocruz, opinando pela não-realização das
audiências dos responsáveis, em vista da boa-fé observada em sua
conduta.

10. Acompanho na íntegra o exame realizado pela Secex-RJ, razão


pela qual incorporo às minhas razões de decidir as análises
empreendidas pela unidade técnica, transcritas no relatório que
fundamenta esta deliberação, sem prejuízo de tecer alguns
esclarecimentos adicionais que julgo pertinentes.

11. Manifesto-me, inicialmente, sobre o ponto suscitado pela


representante, alusivo à exigência desarrazoada de índices contábeis
para fins de habilitação econômico-financeira das licitantes.

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12. A Fiocruz adotou exigência de comprovação cumulativa de


capital circulante líquido (CCL) mínimo de 16,66% do valor
estimado da contratação, além de patrimônio líquido superior a
10% do orçamento-base do certame. Entendo que a segunda
exigência, expressamente prevista no art. 31, §3º, da Lei
8.666/1993, e corriqueiramente adotada nas licitações de obras
públicas, não tenha restringido o certame, motivo pelo qual é
desnecessário tecer comentários adicionais a respeito.

13. Por outro lado, a exigência de capital circulante líquido


mínimo ainda é um assunto que não está definitivamente
delineado pela jurisprudência desta Corte de Contas, pois tal
previsão decorre de alteração introduzida pela IN SLTI 6/2013, no
art. 19, inciso XXIV, da IN SLTI 2/2008. Tal modificação foi
originada a partir de trabalho apresentado pelo Grupo de Estudos
de Contratação e Gestão de Contratos de Terceirização de
Serviços Continuados na Administração Pública Federal,
constituído por servidores do MPOG, da AGU, do TCU e de outros
órgãos, o qual foi apreciado pelo Acórdão 1.214/2013-Plenário,
relatado pelo eminente Ministro Aroldo Cedraz.

14. As proposições decorrentes desse trabalho eram


direcionadas precipuamente aos contratos de prestação de
serviços de natureza contínua com cessão de mão de obra em
regime de dedicação exclusiva, tais como serviços de limpeza,
conservação, copeiragem e segurança, mas não a serviços em
geral, em particular ao objeto em exame, o qual, conforme tratarei
no tópico seguinte desta proposta de deliberação, não poderia
sequer ser enquadrado como um serviço de engenharia, e sim
como uma obra pública, tipo de objeto que não é abrangido pela
regulamentação prevista na IN SLTI 2/2008.

15. Em sede de cognição sumária, me manifestei no sentido de


que o percentual de 16,66% de CCL seria desproporcional às
reais exigências necessárias para a perfeita execução do objeto
em exame, pois tal percentual fora concebido para que a empresa
contratada tivesse capital de giro para custear dois meses de um
típico contrato de caráter continuado, que costuma ser celebrado
por um prazo de doze meses.

16. Ponderei a real necessidade de capital de giro em uma obra que


abrange serviços de terraplanagem, os quais são predominantemente
mecanizados, cujos custos têm uma parcela relevante com impacto
financeiro ao contratado diferido, tais como depreciação dos
equipamentos e outros custos de propriedade.

Embora as propostas das licitantes devam considerar tais custos na


formação dos preços propostos, eles não importam desembolsos
imediatos pela empresa contratada. Assim, o objeto em análise
conduz a uma situação fática muito distinta de um típico contrato de
cessão de mão de obra, em que parcela relevante dos gastos (salários
e encargos previdenciários) geram desembolsos mensais dos
contratados.

17. Além disso, ainda em exame preliminar, ressaltei que a exigência


de capital de giro, no montante de R$ 23.733.580,67, cobriria mais de
um quarto do valor total da obra, conforme proposta aceita pela
Administração, o que seria um forte indício de que o critério de
habilitação econômico-financeira adotado produziu um valor

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desproporcional às necessárias exigências para salvaguardar os


interesses da entidade contratante, na medida em que o item 7.1 do
edital tinha previsto o pagamento das faturas em até cinco dias úteis,
contados do atesto da nota fiscal emitida pela empresa, não
justificando tamanha exigência de capital de giro.

18. Passando ao exame do mérito da presente representação, de


plano, julgo improcedente o entendimento constante da inicial da
representante, a qual alegou que tal percentual de CCL deveria incidir
apenas sobre o valor da proposta ofertada, e não sobre o valor
estimado da contratação pela Administração. Afinal, se tal
entendimento prevalecesse, o critério de habilitação não seria
uniforme para todas as licitantes, derivando do valor efetivamente
proposto por cada uma delas, o que viola frontalmente o princípio da
igualdade das licitantes, insculpido no art. 3º da Lei 8.666/1993.

19. A manifestação da Fiocruz, dentre outros argumentos, aduziu que


o art. 31 da Lei de Licitações e Contratos permite que a Administração
Pública exija a demonstração da boa condição financeira e técnica dos
licitantes, bem como ser inquestionável a aplicação da IN SLTI 2/2008
ao caso em questão, enquadrado pela entidade como serviço comum
de engenharia.

20. Em que pese assistir razão à manifestante sobre a necessidade de


a Administração se cercar dos cuidados necessários para evitar
contratações com empresas incapazes de honrar os seus
compromissos, remansosa jurisprudência deste Tribunal é assente no
sentido de que os índices contábeis adotados no procedimento
licitatório devem ser justificados adequadamente no âmbito do
respectivo processo e que somente devem ser exigidos em nível
suficiente para assegurar o cumprimento das obrigações. Cito, nesse
sentido, os Acórdãos 2.135/2013, 932/2013 e 2.299/2011, todos do
Plenário.

21. Quanto à aplicabilidade da IN SLTI 2/2008 ao caso em questão,


conforme tratarei no tópico a seguir, enfatizo que o objeto licitado não
pode ser tratado como serviço de engenharia, e sim como obra. Não
obstante, é de se reconhecer que a referida Instrução Normativa
contém uma série de boas práticas, as quais também podem ser
utilizadas para a contratação de obras públicas, fazendo-se os ajustes
cabíveis.

22. Registro que a exigência de CCL mínimo, introduzida pela IN SLTI


6/2013, foi um grande avanço em matéria licitatória e que não se
discute aqui nestes autos a legalidade desta exigência, e sim a
adequação
do percentual estabelecido no caso em concreto.

23. O capital circulante líquido corresponde a diferença entre o ativo


circulante, ou seja, a soma do caixa, das contas a receber e estoques,
dentre outras rubricas, e o passivo circulante, composto pelas
obrigações de curto prazo da empresa (fornecedores, contas a pagar
etc.). O referido índice contábil representa o capital de giro líquido,
assim entendido como o total de recursos disponíveis para o
financiamento das atividades da empresa no curto prazo.

24. A importância do CCL na habilitação econômico-financeira foi bem


exemplificada no seguinte trecho do relatório que embasou o Acórdão
1.214/2013-Plenário, o qual foi rememorado pela manifestação

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apresentada pela empresa Carioca Cristiani Nielsen (destaque


acrescido):

24. Exatamente nesse sentido está a alegação mais importante


apresentada pela Carioca Christian Nielsen Engenharia. Entende a
empresa que, diferentemente do que ocorre com os contratos de
serviços continuados, nos quais a aferição da qualificação financeira é
realizada conforme cada período renovável da contratação, nos
contratos não continuados essa avaliação deve ser realizada de
acordo com o período total previsto para consecução dos objetivos
delineados no ajuste e, por consequência, com o valor total envolvido,
sob pena de distorção dos critérios disponíveis para averiguação da
saúde financeira dos particulares.

25. Assiste razão à manifestante, pois percentual exigido de CCL pode


ser restritivo em objetos de grande vulto e, ao contrário, se demonstrar
insuficiente nos objetos executados em menor prazo. A título de
exemplo, a exigência de 16,66% de CCL na licitação de uma usina
hidroelétrica, cujo prazo de execução contratual fora estabelecido em
72 meses, seria extremamente restritivo, pois corresponderia a uma
necessidade de comprovação de disponibilidades pela construtora
suficiente para assegurar a execução da obra por 12 meses, sem que
nenhum pagamento fosse efetivado pelo contratante.

26. Tal analogia, obviamente, considera que a obra tivesse um


desenvolvimento uniforme ao longo do cronograma de implantação.
Porém, o desempenho das atividades que compõem o
empreendimento não ocorre de forma linear, em vista de diversos
motivos. Via de regra, o trabalho executado, distribuído em um
determinado período, aumenta gradativamente até atingir um máximo
(que na maioria das vezes acontece entre 50% e 60% deste período),
tornando a baixar gradativamente, até o término do empreendimento.

Assim, a forma gráfica do somatório destas parcelas já executadas (o


valor acumulado), possui um traçado semelhante a um “S”, o que
origina o termo “curva S”. Portanto, no exemplo em questão, a
exigência de um capital circulante líquido mínimo de 16,66% acabaria
abarcando a execução de um prazo superior a 12 meses nas etapas
iniciais da obra.

26. Tomando-se agora outro exemplo, de uma pequena reforma com


prazo de execução de apenas dois meses, a exigência de CCL
mínimo de 16,66% seria insuficiente para garantir a execução
contratual e exporia o órgão contratante a risco de inadimplemento da
construtora. No aludido objeto, seria razoável uma exigência de um
CCL mínimo de 50%, o que demonstraria que a empresa contratada
teria capital de giro necessário para executar pelo menos um mês da
obra sem receber pagamentos do órgão contratante.

27. Reitero, então, que a regra de 16,66% de CCL disposta na IN SLTI


2/2008 é adequada apenas aos serviços continuados. Nos demais
contratos por escopo, o percentual de exigência de CCL deve ser
estabelecido caso a caso, conforme as peculiaridades do objeto a ser
licitado, tornando-se necessário que exista justificativa do percentual
adotado nos autos do procedimento licitatório.

28. Acolho, portanto, a proposta formulada pela Secex-RJ no sentido


de cientificar a Fiocruz acerca da exigência, para fins de habilitação
econômico-financeira, de capital circulante líquido de, no mínimo,
16,66% do valor estimado da contratação, demandando elevada

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liquidez das licitantes, podendo restringir indevidamente a participação


de interessados no certame, exigência que não é condizente com a
natureza e as características/especificidades do objeto a ser
contratado, contrariando o disposto no art. 31, § 5º, da Lei 8.666/1993,
e no art. 19, inciso XXIV, da IN SLTI 2/2008, o qual se insere no
contexto de serviços, e não de obras de engenharia.

Em suma, podem-se extrair as seguintes conclusões sobre o tema do


Acórdão do TCU supramencionado:

Apesar de a área técnica ter-se manifestado contrária à possibilidade de


exigência do CCL de 16,66%, o Plenário do TCU acompanhou o
posicionamento divergente do Ministro Relator quanto a possibilidade de
utilização deste parâmetro de 16,66% para contratação de serviços de
natureza contínua com cessão de mão de obra em regime de
dedicação exclusiva, tais como serviços de limpeza, conservação,
copeiragem e segurança (para os quais estavam direcionadas as
proposições do grupo de trabalho formado pelo TCU), mas não a serviços
em geral.

O próprio TCU ressalvou que a IN SLTI 2/2008 não se aplica à obra de


engenharia.

O Ministro Relator também conclui que o valor de 16,66% é muito alto


para a contratação em análise (naquela ocasião obra de engenharia),
haja vista englobar serviços de terraplanagem, os quais são
predominantemente mecanizados, cujos custos têm uma parcela
relevante com impacto financeiro ao contratado diferido, tais como
depreciação dos equipamentos e outros custos de propriedade, o que,
coincidentemente, se assemelha ao objeto do Edital ora analisado.

Em suma, a referida Decisão indica a possibilidade de exigência de CCL


mínimo, desde que devidamente justificado para cada caso concreto,
admitindo como restritivo o valor de 16,66%, conforme as peculiaridades do
objeto a ser licitado, tornando-se necessário que exista justificativa do
percentual adotado nos autos do procedimento licitatório, devendo-se
avaliar tanto a natureza dos serviços quanto o seu prazo.

Manifestaram-se àquela ocasião, tanto a área técnica quanto o Ministro


Relator por deixa de propor a anulação do certame e todos os atos dele
decorrentes, com base no prejuízo maior que tal medida poderia causar ao
interesso público, uma vez que já estando assinado o contrato, não
houveram indícios de prejuízo à competitividade ou à obtenção da proposta
mais vantajosa para a Administração.

Voltando-se para a contratação sob análise, percebe-se que a


administração municipal tomou como razão para a exigência do CCL que o
serviço configura-se de natureza continuada com cessão de mão de obra
em regime de dedicação exclusiva, o que não é o caso.

Nesse sentido, mesmo tendo a administração municipal fundamentado a


exigência do CCL mínimo no Acórdão 1214/2013 do TCU, e considerando
que as conclusões do referido Acórdão foram aprofundadas e melhor
definidas pelo mais recente Acórdão 592/2016 do mesmo TCU, não pode
ser aceita como razoável a utilização do valor de 16,66% (específico para o
caso de serviços de natureza contínua com cessão de mão de obra em
regime de dedicação exclusiva).

Deveria a administração municipal fundamentar eventual índice com base


em estudo que avaliasse as características específicas dos serviços de

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pavimentação asfáltica, bem como o prazo de duração do contrato, nos


termos já acima reproduzidos do Acórdão.

O Sr. Alberto Jorge de Matos – Presidente da CPL - foi considerado revel pela
Decisão Monocrática 422/2020-3 (peça 52), tendo em vista a não apresentação de
justificativas, razão pela qual será àquele aproveitada a defesa relativa às
circunstâncias objetivas apresentada pelo outro responsável, na forma do que prevê
o artigo 324 do Regimento Interno desta Corte de Contas.

O Sr. Luiz Otavio Machado de Carvalho – Secretário Municipal de Infraestrutura,


Projetos e Obras, por sua vez, assim argumentou:

3. DO MÉRITO.
3.1. Capital Circulante Líquido.
A Lei n.° 8.666/93, a doutrina e a jurisprudência convergem para a
legalidade da estipulação contida no item 3.6.1.3 cláusula 8.4 "e", do edital,
cujo teor reproduzimos:

"Capital Circulante Líquido - CCL (Capital de Giro)


Capital Circulante Líquido (CCL)
(Capital de Giro) = (Ativo Circulante - Passivo Circulante) de, no
mínimo, o valor correspondente a 2 (duas) vezes o valor mensal
orçado para a obra objeto deste Edital, conforme Anexo XII - Planilha
com estimativa de preços elaborada pela PMVV.
A exigência de Capital Circulante Líquido (CCL) se baseia no Acórdão
1214/2013 do TCU - Tribunal de Contas da União e está devidamente
justificada no processo que trata desta licitação.

A administração pública tem o direito de estipular critérios de habilitação


econômico-financeira com requisitos diferenciados de CCL,
estabelecidos conforme as peculiaridades do objeto a ser licitado,
BASTANDO APENAS que exista justificativa do percentual adotado
nos autos do procedimento licitatório.

Inclusive é a esteira percorrida pelo E. Tribunal de Contas da União e do


Estado do Espírito Santo. Colhe-se os seguintes precedentes:

• TCU.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em
sessão Plenária, ante as razões expostas pelo Relator, em: (...) 9.2.2.
em futuros certames licitatórios, observe que a exigência capital
circulante mínimo (CCL) de 16,66% é adequada apenas aos serviços
continuados com cessão de mão de obra em regime de dedicação
exclusiva, sendo cabível, nos demais contratos por escopo, a adoção
de critérios de habilitação econômico-financeira com requisitos
diferenciados de CCL, estabelecidos conforme as peculiaridades do
objeto a ser licitado, tornando-se necessário que exista justificativa do
percentual adotado nos autos do procedimento licitatório. (Acordão
592/2019 - TCU)

• TCEES.

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(... ) O mesmo assunto foi aprofundado e esmiuçado em discussão


mais recente no mesmo TCU, culminando no Acórdão 592/2016.
Importa retratar os termos deste Acórdão, visto que a exigência do
Edital, em verdade, não se amolda ao prescrito naquele documento: 4
O Apêndice 4 apresenta trechos dos Acórdãos 1214/2013 e 592/2016
abordados neste item. ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas
da União, reunidos em sessão Plenária, ante as razões expostas pelo
Relator, em: (... )

9.2.2. em futuros certames licitatórios, observe que a exigência capital


circulante mínimo (CCL) de 16,66% é adequada apenas aos serviços
continuados com cessão de mão de obra em regime de dedicação
exclusiva, sendo cabível, nos demais contratos por escopo, a adoção
de critérios de habilitação econômico-financeira com requisitos
diferenciados de CCL, estabelecidos conforme as peculiaridades do
objeto a ser licitado, tornando-se necessário que exista justificativa do
percentual adotado nos autos do procedimento licitatório; [grifo nosso]

Assim, a referida Decisão indica a possibilidade de exigência de CCL


mínimo, desde que devidamente justificado para cada caso concreto,
tornando-se necessário que exista justificativa do percentual adotado
nos autos do procedimento licitatório, devendo-se avaliar tanto a
natureza dos serviços quanto o seu prazo(...) (Processo: 02232/2018-
9 - TCEES)

Assim, a referida Decisão indica a possibilidade de exigência de CCL


mínimo, desde que devidamente justificado para cada caso concreto,
tornando-se necessário que exista justificativa do percentual adotado nos
autos do procedimento licitatório, devendo-se avaliar tanto a natureza dos
serviços quanto o seu prazo.

No caso da contratação pretendida pelo município de Vila Velha, a


administração pública se incumbiu desse ônus, proferindo a seguinte
manifestação técnica de fls.207/209, pelo Ilmo. Presidente da Comissão de
Licitação, cujo inteiro teor se reproduz

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a
baixo.

Observa-se que o Secretário Municipal pautou-se nas informações


prestadas pelo setor técnico responsável pelo certame devendo ser
observada as disposições do art. 22, da Lei de Introdução às normas do
Direito Brasileiro, considerando as dificuldade do gestor de pasta e as
exigências do cargos, aliada a segregação de funções, culminam com a
visível regularidade dos atos do Secretário Municipal de Obras.

Assim, desde já, requerer improcedência da Representação


apresentada, considerando a conduta do Secretário Municipal de
Obras foi pautada nos princípios, normas e orientações
jurisprudenciais, exigíveis ao homem médio.

A equipe técnica entendeu irregular a exigência de capital circulante líquido, motivo


pelo qual sugeriu a procedência parcial da Representação, ante a inobservância, por
parte do Presidente da CPL, do disposto no art. 31, § 5º, da Lei 8.666/1993.

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Pois bem. A administração Municipal pauta suas justificativas em relação ao item


3.6.1.3, alínea “e”, que prevê a exigência de Capital Circulante Líquido mínimo, no
Acórdão 1214/2013 do Egrégio Tribunal de Contas da União, o qual, segundo
entende o responsável, possibilita a mencionada previsão editalícia, nos seguintes
termos:

Capital Circulante Líquido – CCL (Capital de Giro)

Capital Circulante Líquido (CCL) (Capital de Giro)·= (Ativo Circulante-


Passivo Circulante) de, no mínimo, o valor correspondente a 2 (duas)
vezes o valor mensal orçado deste edital, conforme Anexo XIII-Planilha
com estimativa de preços elaborada pela PMW. A exigência de Capital
Circulante Líquido (CCL) se baseia no Acórdão 1214/2013 do TCU –
Tribunal de Contas da União e está devidamente justificada no processo
que trata desta licitação.

Em análise aos Acórdãos citados pelos responsáveis, os quais serviram como


parâmetro para o índice exigido como Capital Circulante Líquido, percebo que
assiste razão aos justificantes. Pois, nos casos de contratos por escopo 1, o que é o
caso que se apresenta, o percentual de exigência de CCL deve ser estabelecido
caso a caso, conforme as peculiaridades do objeto:

1. A exigência de capital circulante líquido (CCL) mínimo de 16,66% do valor


estimado da contratação, prevista no art. 19, inciso XXIV, alínea b, da IN
SLTI 2/2008, é adequada apenas nas licitações destinadas a serviços
continuados com cessão de mão de obra em regime de dedicação
exclusiva. As licitações para contratos por escopo devem adotar
critérios de habilitação econômico-financeira com requisitos
diferenciados de CCL, estabelecidos conforme as peculiaridades do
objeto a ser licitado, devendo constar justificativa do percentual
adotado nos autos do procedimento licitatório. (Grifei)

(...)

“Nos contratos por escopo, prosseguiu, “o percentual de exigência de CCL


deve ser estabelecido caso a caso, conforme as peculiaridades do objeto a
ser licitado, tornando-se necessário que exista justificativa do percentual
adotado nos autos do procedimento licitatório”.

1
Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais – TCEMG. Contrato por Escopo é aquele cujo prazo
de execução somente se extingue quando o contratado entrega para a Administração o objeto ou o
resultado final pactuado. Para esse tipo de contrato o tempo não implica, necessariamente, no
encerramento das obrigações contratuais assumidas pelas partes contratantes. Disponível em: <
file:///C:/Users/t203442/Downloads/PARECER_DA_CONSULTORIA_TECNICA_153451_2015_01.pdf
>. Acesso em: 17 de novembro de 2020.

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27. Reitero, então, que a regra de 16,66% de CCL disposta na IN SLTI


2/2008 é adequada apenas aos serviços continuados. Nos demais contratos
por escopo, o percentual de exigência de CCL deve ser estabelecido caso a
caso, conforme as peculiaridades do objeto a ser licitado, tornando-se
necessário que exista justificativa do percentual adotado nos autos do
2
procedimento licitatório.

E:

100. Nos termos do artigo 31, parágrafos 1º e 5º, da Lei nº 8.666/93, no


que diz respeito aos índices, somente é vedada a exigência de valores
mínimos de faturamento anterior, índices de rentabilidade ou lucratividade,
bem como índices e valores não usualmente adotados para a correta
avaliação de situação financeira suficiente ao cumprimento das obrigações
decorrentes da licitação.

“Art. 31. A documentação relativa à qualificação econômico-financeira


limitar-se-á a:
....
§ 1º A exigência de índices limitar-se-á à demonstração da capacidade
financeira do licitante com vistas aos compromissos que terá que assumir
caso lhe seja adjudicado o contrato, vedada a exigência de valores mínimos
de faturamento anterior, índices de rentabilidade ou lucratividade.

(...)

101. No mesmo sentido, a fixação do limite mínimo de 10% (dez por cento)
do patrimônio líquido em relação ao valor da contratação está literalmente
autorizada no art. 31, § 3º, da Lei nº 8.666/93, sem quaisquer exigências de
justificativas ou outras restrições; bem assim a relação de compromissos, a
qual deve ser calculada em função do patrimônio líquido atualizado,
conforme dispõe o art. 31, § 4º, da Lei nº 8.666/93.

(...)

45. O grupo entende que deve ser sempre exigido que a empresa tenha
patrimônio líquido mínimo de 10% do valor estimado da contratação,
independentemente dos índices de liquidez geral, liquidez corrente e
solvência geral. O grupo ressalta que empresas de prestação de serviço são
altamente demandantes de recursos financeiros de curto prazo para honrar
seus compromissos, sendo necessário que elas tenham recursos
suficientes para honrar no mínimo dois meses de contratação sem
depender do pagamento por parte do contratante. Assim, propõe que se
exija dos licitantes que eles tenham capital circulante líquido de no mínimo
16,66% (equivalente a 2/12) do valor estimado para a contratação (período
3
de um ano). (Grifei)

Ademais, em análise à parte do edital que foi colacionada pelo representante, não
consta em parte alguma o percentual de 16,66%, o que consta como exigência é

2
Brasília. Tribunal de Contas da União – TCU. Acórdão 592/2016 – Plenário. Relator: Min. Benjamin
Zymler. Data da sessão: 16/03/2016.
3
______.______. Acórdão 1214/2013 – Plenário. Relator: Min. Aroldo Cedraz. Data da Sessão: 22 de
maio de 2013.

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que o contratado possua em seu CCL o valor correspondente a 2 (duas) vezes o


valor mensal orçado no edital, nos exatos termos do Acórdão 1214/2013 – Plenário
– TCU.

Ante o exposto, divergindo do entendimento da Área Técnica e do Ministério Público


de Contas, VOTO por que seja adotada a deliberação que ora submeto à apreciação
deste Colegiado.

DOMINGOS AUGUSTO TAUFNER


Relator

1. ACÓRDÃO TC-1607/2020 – PLENÁRIO

VISTOS, relatados e discutidos os autos, ACORDAM os Conselheiros do Tribunal


de Contas do Estado do Espírito Santo, reunidos em Sessão do Plenário, ante as
razões expostas pelo Relator, em:

1.1. Conhecer a presente Representação, tendo em vista a presença dos requisitos


de admissibilidade previstos nos artigos 184 e 177 c/c 186 do Regimento Interno
desta Corte de Contas;

1;2. No mérito, considerá-la improcedente, nos termos do art. 95, inc. I c/c art. 99,
§2º, ambos da Lei Orgânica desta Corte;

1.3. Dar ciência aos interessados.

1.4. Após os trâmites regimentais, arquivar os presentes autos.

2. Unânime.

3. Data da Sessão: 10/12/2020 - 48ª Sessão do Plenário

4. Especificação do quórum:

4.1. Conselheiros: Rodrigo Flávio Freire Farias Chamoun (Presidente), Domingos


Augusto Taufner (relator), Sebastião Carlos Ranna de Macedo, Sérgio Aboudib

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Ferreira Pinto, Sérgio Manoel Nader Borges, Rodrigo Coelho do Carmo e Luiz Carlos
Ciciliotti da Cunha.

CONSELHEIRO RODRIGO FLÁVIO FREIRE FARIAS CHAMOUN

Presidente

CONSELHEIRO DOMINGOS AUGUSTO TAUFNER

Relator

CONSELHEIRO SEBASTIÃO CARLOS RANNA DE MACEDO

CONSELHEIRO SÉRGIO ABOUDIB FERREIRA PINTO

CONSELHEIRO SÉRGIO MANOEL NADER BORGES

CONSELHEIRO RODRIGO COELHO DO CARMO

CONSELHEIRO LUIZ CARLOS CICILIOTTI DA CUNHA

Fui presente:

PROCURADOR DE CONTAS LUIS HENRIQUE ANASTÁCIO DA SILVA

Procurador-geral

ODILSON SOUZA BARBOSA JUNIOR

Secretário-geral das Sessões

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