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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

Um estudo do conceito de trabalho e da concepção do processo de


trabalho na Grécia Antiga e em Marx

Ana Paula Londe Silva

Belo Horizonte
2012
2

Ana Paula Londe Silva

Um estudo do conceito de trabalho e da concepção do


processo de trabalho na Grécia Antiga e em Marx

Monografia apresentada ao Departamento de


Ciências Econômicas da UFMG enquanto requisito
para participação no Programa de Educação
Tutorial (PET).

Orientador: Hugo Eduardo Araújo da Gama


Cerqueira

Belo Horizonte
2012
3

Sumário

Introdução..........................................................................................................................4
Capítulo 1: A concepção de trabalho entre os gregos antigos...........................................5
1.1 Trabalho na Grécia Antiga: aspectos gerais e a questão da valorização.................6
1.2 A delimitação das tarefas consideradas trabalho....................................................9
1.3 A concepção de Divisão do Trabalho na Grécia Antiga.......................................15
1.4 A inexistência do trabalho enquanto categoria genérica.......................................17
Capítulo 2: O conceito de trabalho em Marx..................................................................19
2.1 O trabalho alienado e suas determinações............................................................20
2.2 O Processo de trabalho..........................................................................................25
Conclusão........................................................................................................................33
Referências Bibliográficas...............................................................................................34
4

Introdução
O trabalho é tema recorrente em discussões, discursos políticos, teorias.
Categoria que ocupa papel de destaque na vida do homem, o trabalho atualmente é
apreendido enquanto forma de conduta unificada, enquanto expressão de uma
multiplicidade de profissões e atividades e distintas. O trabalho individual é apreendido
como trabalho em geral – cada indivíduo reconhece o trabalho que desempenha como
manifestação individual de uma categoria genérica que expressa inúmeras ocupações.
(VERNANT, 1973; AUSTIN & VIDAL-NAQUET, 1986).
Em português “trabalho”, em italiano lavoro, em inglês labour. As palavras
lavoro e labour, usadas hoje enquanto expressão do trabalho em geral, derivam do latim
labor e correspondem a atividade penosa, dor, sofrimento, esforço, fadiga, remetendo ao
significado da palavra grega ponos (GODELIER, 1986, p. 11).
Entretanto, dentre os vocábulos gregos antigos não há algum que expresse
exatamente “trabalho” no sentido moderno ao qual nos referimos. Existe um termo que
abrange aquilo que comanda esforço penoso – ponos, expressões que indicam ação,
outras que remetem à fabricação, existem ainda palavras que designam o lavrar da terra;
não há, contudo, um vocábulo ao mesmo tempo específico e geral que agrupe todas
essas funções (VERNANT, 1973, P. 219). A questão lexical é um bom indicativo de
que a concepção de trabalho na Grécia Antiga se distancia da perspectiva moderna.
Diante das questões apresentadas acima, o presente estudo procura delinear a
concepção dos gregos antigos acerca do trabalho. Não obstante, pretende apresentar a
concepção de Marx do trabalho, buscando elementos e aspectos que evidenciam em que
medida a apreensão do trabalho e do processo de trabalho (fabricação) mudou entre os
períodos. Estudar Marx é fundamental para apresentar um conceito de trabalho
moderno, que permite entender em que medida o trabalho passa a ser percebido
enquanto trabalho em geral.
Com o intuito de abranger os pontos considerados acima, esta monografia está
dividida em dois capítulos, a parte esta introdução e a conclusão.
O primeiro capítulo busca apresentar os aspectos gerais do trabalho na Grécia
Antiga, questionando a forma como o homem apreende o trabalho e, consequentemente,
o papel ocupado por esta categoria dentro da sociedade. Para tanto, é feita uma breve
discussão da valorização do trabalho entre os gregos. Contudo, estudar o desprezo ou
5

apreço ao trabalho apenas ajuda a delimitar o papel do trabalho na sociedade se


tivermos em mente quais ofícios são apreendidos como trabalho para os gregos.
A análise do que os gregos apreendem por trabalho será feita em seguida,
atentando para as condições e a finalidade do processo de fabricação. Para auxiliar a
compreensão dos termos nos quais se dá o processo produtivo uma breve pesquisa
acerca da divisão das tarefas entre os gregos será apresentada. Essa pesquisa
pormenorizada culmina na discussão da existência da categoria trabalho na Grécia
Antiga, analisando a visão do homem frente a produção. Ao longo do capítulo também
pautaremos a questão do trabalho enquanto função criadora de valor social e do sentido
social da ação do trabalhador. Para esse capítulo a base teórica principal são obras de
Vernant (1973), Austin & Vidal-Naquet (1986) e Mondolfo (1968).
O segundo capítulo procura apresentar a concepção de trabalho para Karl Marx,
procurando a definição de conceitos essenciais para delinear a diferença de apreensão
do conceito de trabalho entre as duas épocas. Os textos selecionados foram os
Manuscritos Econômico Filosóficos e O Capital, que tratam respectivamente da
alienação do trabalho e do processo de trabalho. A apresentação da concepção que Marx
tem do trabalho em dois momentos diferentes de sua trajetória intelectual é
imprescindível para traçar um contraponto com o capítulo anterior.
A primeira seção apresenta os aspectos do trabalho estranhado e seus
determinantes, analisando em que medida o operário perde o sentido social de sua ação.
Na segunda seção do capítulo, será tecida uma discussão acerca do processo de trabalho
e da capacidade do trabalho de cristalizar trabalho antigo, atentando para a existência de
duas esferas de consumo do produto do trabalho – consumo individual e consumo
produtivo.
Procuramos apresentar as diferenças básicas entre a concepção de trabalho na
Grécia Antiga e uma concepção de trabalho mais moderna, inserida no período
capitalista, procurando compreender os conceitos de trabalho e a evolução dessas
concepções a partir de uma análise que considere planos e aspectos variados.

Capítulo 1: A concepção de trabalho entre os gregos antigos


O capítulo trata da concepção de trabalho na Grécia Antiga, discutindo como
essa categoria se apresenta diante do homem e, consequentemente, da sociedade. Para
6

tanto é imprescindível analisar brevemente a valorização do trabalho na sociedade da


Grécia Antiga para, posteriormente, ponderar o que o grego apreende por trabalho 1,
atentando para a função desempenhada por esta atividade no seio da cidade.

1.1 Trabalho na Grécia Antiga: aspectos gerais e a questão da valorização


Uma observação do léxico grego constitui uma boa introdução à discussão. No
vocabulário grego antigo não é encontrado um termo para definir exatamente trabalho,
ou seja, uma palavra ao mesmo tempo específica e geral que expressa conjuntamente
toda sorte de atividades humanas produtoras de valores socialmente úteis. Essa questão
lexical sublinhada por Vernant (1973), Austin & Vidal-Naquet (1986), dentre outros
autores, não é suficiente para comprovar a inexistência de uma noção verdadeira de
trabalho entre os gregos antigos, mas incita uma investigação mais pormenorizada do
que o homem na Grécia Antiga apreende por trabalho.
Austin & Vidal-Naquet (1986), ao tratar das atividades econômicas 2 na Grécia
Antiga, defendem a existência de uma hierarquia de ocupações. Há um conjunto de
ocupações consideradas inferiores, indignas de um homem honrado e que cabem aos
escravos, aos estrangeiros e às classes mais pobres. Dentre essas ocupações inferiores
estão o comércio e as atividades consideradas banáusicas, como o artesanato.
Paralelamente à hierarquia das ocupações há uma hierarquia dos meios de
aquisição. Na Grécia Antiga, segundo Austin & Vidal-Naquet (1986), alguns meios de
aquisição são considerados legítimos e outros merecem reprovação moral. Dentre os
meios de aquisição inferiores o comércio possui lugar de destaque 3, sendo considerado o
pior de todos enquanto busca de lucro máximo. O comércio é censurável na medida em
que vende um determinado produto por um preço superior ao seu valor real, sendo
encarado pelos gregos antigos como atividade que pressupõe a mentira e a velhacaria.
Em contrapartida, a guerra e consiste em um meio de aquisição legítimo. O vencedor da
guerra possui o direito incontestável de apropriação dos bens dos vencidos e das pessoas
vencidas enquanto escravos.

1 Entender em que medida existe, entre os gregos antigos, a apreensão do trabalho enquanto atividade em
geral, que agrupa múltiplos ofícios.
2 Austin & Vidal-Naquet (1986) ressaltam que as atividades econômicas na Grécia Antiga não possuem a
mesma conotação moderna, estando influenciadas consideravelmente por fatores não econômicos.
3 A atividade de comercializar em si não pressupõe algo positivo ou negativo a priori. O comércio
constitui um atentado à moral apenas na medida em que se torna um fim em si. (AUSTIN & VIDAL-
NAQUET, 1985, pp. 26-27)
7

Na Grécia Antiga o trabalho não possui um caráter positivo intrínseco, são raros
depoimentos que consistam em uma autêntica valorização do trabalho e vestígios de
uma verdadeira ideologia do trabalho não são observados na literatura grega. O trabalho
não carrega em si um estigma de bom ou ruim, sendo a valorização desta atividade
relacionada às condições nas quais se trabalha. Na concepção grega, trabalhar para outra
pessoa implica na subordinação ao empregador. Na medida em que a condição para um
homem ser livre é que não viva na sujeição a outrem, o trabalho que implica submissão
assume um caráter negativo (AUSTIN & VIDAL-NAQUET, 1985, pp. 28-29).
A definição de riqueza e pobreza no mundo grego, segundo Austin & Vidal-
Naquet (1985), corrobora para o argumento da inexistência de uma ideologia do
trabalho. O critério para diferenciar as duas categorias não é o acumulo de certa fortuna,
mas a necessidade do trabalho – as pessoas são ricas na medida em que tem posses
suficientes para viver sem trabalhar. Ademais, a riqueza é comumente considerada
requisito para o desenvolvimento das virtudes no homem. A partir dessas considerações,
os autores inferem que o ideal difundido entre os gregos é o da ociosidade.
Entretanto, Austin & Vidal-Naquet (1985), atentam que o ideal da ociosidade
não deve ser empregado sem considerar diferenças entre as épocas dentro do período
correspondente à Grécia Antiga. Tão menos deve ser negligenciada a distinção da
valorização do trabalho entre diferentes localidades no correspondente território.
O preconceito com o trabalho manual, fortemente notado na época clássica, não
constitui uma regra na literatura de períodos precedentes. Faz sentido pensar em uma
aparente evolução da valorização do trabalho ao longo da história grega quando são
consideradas as condições nas quais o trabalho se realiza, atentando para o critério de
autarcia e liberdade pessoal.
O trabalho possui conotação díspar também entre Atenas e Esparta, estados de
estrutura e mentalidade bastante distintos. Em Esparta existe uma recusa total da
atividade econômica sob qualquer forma, incluindo o trabalho. Atenas, em
contrapartida, constitui um estado de espírito diverso, no qual existe certa aceitação do
técnico (AUSTIN & VIDAL-NAQUET, 1986, p. 30).
O cuidado de não aplicar ideias genéricas a todas as épocas e localidades no
amplo período histórico correspondente à Grécia Antiga, contudo, não pode ser
transformado no extremo oposto de negar a influência real dessas concepções para a
8

história grega. Desconsiderar a inexistência de uma ideologia do trabalho ou considerá-


la enquanto fruto de preconceitos aristocráticos ou utopias dos filósofos gregos implica
na perda de elementos para a composição da realidade histórica (AUSTIN & VIDAL-
NAQUET, 1985, p. 31).
Mondolfo (1968), em contrapartida, salienta que o esforço de fundamentar uma
valorização eminentemente negativa do trabalho na Grécia Antiga, constituindo uma
oposição com a apreciação do trabalho moderna, carece de força probatória. Os termos
correspondentes a atividades que pressupõe sacrifício no vocabulário grego conferem ao
trabalho na Grécia Antiga um sentido primordial de esforço análogo ao sentido que as
palavras latinas, neolatinas e anglo-saxônicas conferem aos respectivos termos que
designam trabalho.
De acordo com Mondolfo (1968) é tradicional defender o menosprezo pelo
trabalho na Grécia Antiga, argumento pautado basicamente na separação entre trabalho
manual e intelectual e na perda da liberdade e da dignidade do homem4:

“Aos trabalhadores, carentes da dignidade de homens livres, opor-se-


iam na concepção clássica os homens livres, dignos de respeito, quer
dizer, os que não se dedicam às atividades das armas ou da política, ou
então gozam do otium necessário para entregar-se à contemplação
pura e desinteressada.” (MONDOLFO, 1968, p. 428)

Contudo, Mondolfo (1968) coloca que os estudiosos da Grécia Antiga têm


colocado em cheque essa tradição do desprezo ao trabalho e da separação entre trabalho
manual e trabalho intelectual. O conflito que concerne à valorização do trabalho,
transitando do apreço ao desprezo, tanto não é exclusivo da Grécia Antiga, como é
comum a todas as épocas históricas.
Mondolfo (1968), como Austin & Vidal-Naquet (1986), defende a existência de
uma distinção na valorização do trabalho entre épocas distintas. O caráter positivo do
trabalho encontra em Hesíodo, na época arcaica, sua primeira afirmação e tem respaldo
nas cidades democráticas até a época de Sócrates. A partir do século V o menosprezo ao
trabalho vai se propagando concomitantemente ao crescimento progressivo do uso de
escravos nos trabalhos manuais. Os escravos, inferiores socialmente, contribuem para
acentuar o desprezo ao trabalho ao desempenhar atividades manuais. Este processo
4 O homem perde o caráter de homem livre e se aproxima dos escravos, dos animais e dos intrumentos
mecânicos na medida em que está submisso às necessidades, ao interesse econômico e ao arbítrio alheio.
(MONDOLFO, 1968, p. 428)
9

atinge outras vertentes quando são consideradas as cidades oligárquicas e militaristas


como Esparta5 e escritores como Xenofonte e Platão (MONDOLFO, 1968, p. 430).
Mondolfo (1968) defende que Xenofonte e Platão, a despeito de suas
considerações eminentemente negativas acerca do trabalho, não corroboram com o
divórcio entre trabalho manual e intelectual. Mondolfo (1968) mostra que há um caráter
de dignidade do trabalho observado de Hesíodo aos pós-aristotélicos, passando
inclusive por Xenofonte e Platão, salientando que o trabalho manual não está
desprovido de intelectualidade.6 O trabalho técnico, iluminado pela inteligência e capaz
de desenvolvê-la, também está incluído no processo de conhecimento.
O não divórcio entre trabalho manual e intelectual, contudo, não consiste em
uma evidência acerca da existência de uma ideologia do trabalho entre os gregos. O
reconhecimento de que a técnica contribui para o processo de conhecimento e que o
trabalho manual é realizado à luz da intelectualidade não significa que o grego antigo
perceba sua ocupação a partir de uma ideologia que, por definição, congrega as
diferentes ocupações em uma categoria – o trabalho.
A concepção de trabalho entre os gregos antigos deve ser estudada levando em
conta que o trabalho, à luz da época, não consiste em uma categoria universalizante ou
forma de conduta única que tem por finalidade produzir valores úteis à sociedade
(VERNANT, 1973, p. 237). Na antiguidade grega, segundo Vernant (1973), o trabalho
não é encarado do ponto de vista do produtor, não expressa um esforço humano que
gera valor social.

1.2 A delimitação das tarefas consideradas trabalho


Analisar em que medida os gregos não apreendem o trabalho enquanto forma de
conduta única requer um estudo mais aprofundado de quais atividades são apreendidas
enquanto trabalho na Grécia Antiga. Esta seção terá como base a análise de Vernant
(1973) sobre o grupo de ocupações consideradas trabalho, que parte da análise das
atividades agrícolas e artesanais.
Como apresentado anteriormente, Austin & Vidal-Naquet (1986) defendem que
a atividade econômica na Grécia Antiga está marcada por um pensamento
5 Nesta ordem de estado, há uma recusa às atividades econômicas e, portanto, o trabalho adquire caráter
eminentemente negativo.
6 O argumento completo que apresenta evidências da não separação entre trabalho manual e intelectual,
bem como do caráter positivo assumido pelo trabalho pode ser visto em Mondolfo (1986).
10

hierarquizante das diferentes ocupações. Em outras palavras, alguns ofícios são dignos
de um “homem honrado” e superiores a um segundo bloco de ocupações – que convém
às classes mais baixas, aos estrangeiros ou aos escravos (Austin & Vidal-Naquet, 1986,
p. 24).
A agricultura está no ápice do que Austin & Vidal-Naquet (1986) chamam de
“hierarquia das ocupações”. A atividade agrícola é considerada entre os gregos, de
acordo com os autores, como um dos alicerces da “vida civilizada”, onde o sacrifício
gera o sustento e promove a “vida da família”. Ainda segundo Austin e Vidal-Naquet
(1986), o comércio e as atividades que envolvem o trabalho manual ocupam, em
contrapartida a agricultura, o lugar mais baixo na hierarquia das ocupações e são
consideradas hostis.
A alusão às considerações de Austin & Vidal-Naquet é fundamental para
introduzir uma oposição existente entre as atividades agrícola e artesanal e justifica uma
análise mais aprofundada acerca das duas ocupações. Para tanto, será utilizada a
descrição de Vernant (1973) da agricultura e do artesanato, respectivamente.
Vernant (1973), ao analisar a concepção de Hesíodo acerca das atividades
agrícolas, mostra que esta atividade possui um cunho religioso intrínseco. Para Hesíodo
7
(1996) o trabalho é uma forma de buscar a justiça divina; através do esforço e da
fadiga despendidos no cultivo da terra o homem entra em contato com os deuses.
Vernant (1973) salienta que o agricultor de Hesíodo segue rituais definidos de acordo
com uma “lei divina” com o intuito de garantir a recompensa dos deuses – uma boa
safra ao final do período de cultivo. Dessa forma, o lavrador em Hesíodo não se vê
desempenhando um ofício que exige técnicas específicas, de forma contrária, encara a
agricultura como uma experiência religiosa na qual o suor e a fadiga são despendidos
para garantir a contrapartida divina.
Em Hesíodo a lida com a terra não é sentida como uma conduta que visa
produzir valores úteis ao grupo, segundo Vernant (1973). A atividade agrícola está mais
próxima, em contrapartida, de um comportamento religioso que permite aos homens
desenvolver uma relação com a divindade:

“Deuses e homens se irritam com quem ocioso vive;


Na índole se parece aos zangões sem dardo,

7 Discussão feita em Os trabalhos e os dias.


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Que o esforço das abelhas, ociosamente destroem, comendo-o;


Que te seja caro prudentes obras ordenar,
Para que teus celeiros se encham do sustento sazonal.
Por trabalho os homens são ricos em rebanhos e recursos
E, trabalhando, muito mais caros serão aos imortais”. (HESÍODO,
1996, p. 45)

A perspectiva de Xenofonte acerca do trabalho agrícola também ressalta que: “a


agricultura, tomada em seu conjunto, não aparece como uma atividade profissional”
(VERNANT, 1973, p. 221). Para Xenofonte a agricultura associa-se às atividades
guerreiras no conjunto das ocupações viris – consideradas virtudes na medida em que
não se teme o esforço ou a fadiga ao realizá-las. Segundo Mondolfo (1968), Xenofonte
incorpora à agricultura a ideia de dignidade moral do trabalho:

Xenofonte aplica por sua conta esta ideia de valorização da agricultura


no Econômico e da caça no Cinegético (XII, 1-5), considerando a
ambas em relação com a defesa da pátria, como preparação física e
espiritualmente adequada para as necessidades e situações bélicas, e
elevando-as assim igualmente à dignidade de trabalho. (MONDOLFO,
1968, p. 446, nota 13)

Ainda sobre o trabalho agrícola, vale ressaltar a posição de Xenofonte acerca da


técnica na agricultura. Vernant (1973) defende que Xenofonte tem a intenção de deixar
claro o caráter espontâneo e natural da agricultura em contraste com as técnicas
aprendidas. Para Xenofonte atividade agrícola não requer uma aprendizagem especial e
as regras da agricultura são ensinadas pelos deuses – os conhecimentos necessários para
o cultivo podem ser adquiridos “observando e refletindo”. Assim como na guerra, o
sucesso na agricultura depende do esforço do homem.
A agricultura e a guerra são, portanto, atividades em que a dependência do
homem para com os deuses se manifesta. Tanto a guerra quanto o cultivo da terra não
devem ser iniciados, de acordo com o pensamento grego antigo, sem uma consulta
prévia aos deuses. “O poder dos deuses é absoluto tanto para os trabalhos do campo
quanto para os trabalhos da guerra” (VERNANT, 1973, p. 223). O cultivo da terra,
como salientado anteriormente, é mais um comportamento religioso (que se submete
aos deuses por intermédio de sacrifícios e consulta a oráculos) que uma profissão.
Atentando para o aspecto do ardor do trabalho nas atividades agrícolas e na
guerra, Xenofonte confronta tais ofícios ao artesanato. A agricultura incita a coragem e
capacita os homens a suportar atividades laboriosas, diferentemente do artesanato, que
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desabilita os homens ao serviço (VERNANT, 1973, p. 222). Considerando uma


hierarquia das ocupações, para Xenofonte a agricultura ocupa uma posição de destaque
em detrimento das atividades artesanais.
Ainda a respeito do papel ocupado pelas atividades agrícolas dentro da
sociedade grega, Vernant (1973) mostra uma concepção contrastante com as ideias de
Xenofonte. O “pensamento político racional”, como descreve Vernant (1973), entende
a agricultura na mesma esfera dos outros ofícios – se a lida da terra for desprovida de
seu caráter religioso deixa de ser vista como um “mérito”. Percebe-se, então, que a
atividade agrícola pode fornecer status sociais diferentes no mundo grego, o que decorre
da existência de duas formas muito distintas de propriedade agrícola. O regime no qual
o lavrador é um cidadão livre que explora diretamente a sua pequena propriedade,
observado em Atenas, sugere que o agricultor forme uma classe completamente distinta
dos artesãos. No entanto, nas cidades dóricas (guerreiras), observa-se um sistema de
“rendeiros excluídos da cidadania”, sugerindo que os agricultores compõem o mesmo
grupo dos artesãos, por sua vez oposto aos magistrados e guerreiros.
Neste ponto, cabe analisar a posição do ofício de artesão na cidade. Para tanto, é
imprescindível notar que a cidade é constituída pela ligação entre os cidadãos por
vínculos pessoais de amizade e através do desempenho de suas respectivas ocupações
(VERNANT, 1973, p. 227). Vernant (1973), ainda sobre a atividade artesanal na época
clássica, ressalta que a profissão artesanal não se organiza de acordo com uma ordem
religiosa, o que acontece na agricultura, sendo vista apenas sob sua função política e
econômica.
Como elucidado acima a cidade tem como alicerce a união de homens de
diferentes ofícios, com especialidades diferentes. Estes indivíduos se agrupam em
função do que Vernant (1973) chama de “complementaridade recíproca”; em outras
palavras, a união dessas pessoas acontece para que as carências individuais sejam
supridas. O pensamento grego comum, expresso em mitos como o que narra a saga de
Prometeu, admite diferenças naturais entre as pessoas. Cada indivíduo recebe uma
habilidade específica dos deuses, o que possibilita que os homens trabalhem em
atividades distintas e que cada um se especialize naquela que possibilita o exercício da
sua habilidade natural.
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Vernant (1973, p. 228) afirma que “a cidade repousa na repartição de tarefas”. A


cidade, como definida acima, depende da junção de homens com diferentes
especialidades – e, portanto, com ofícios distintos – para o suprimento das carências
individuais. Austin e Vidal-Naquet (1986) apresentam um texto de Platão mostrando
como uma cidade primitiva passa ao estágio de cidade moderna 8. Neste trecho fica
evidente a importância da repartição de tarefas para a cidade, bem como pode ser
observada a diversidade de ofícios:

“(…) É preciso agora ampliá-la [a cidade] e enchê-la de uma multidão


de pessoas, que não estão presentes nas cidades para preencher
funções necessárias: caçadores de toda espécie e imitadores trabalham
as figuras e as cores ou dedicam-se à música (quer dizer, os poetas e
seus acompanhantes, rapsodos, atores, dançarinos, diretores de teatro),
acrescentemos os fabricantes de artigos de toda espécie e
particularmente de adereços femininos. Ter-se-á também a
necessidade de um maior número de servidores. Não achas também
que farão falta os pedagogos, amas de leite, governantas, lacaias,
cabelereiros, e ainda cozinheiros e magarefes?” (AUSTIN e VIDAL-
NAQUET, 1986, p. 166)

O fato da “complementaridade recíproca” ser fundamental para a formação da


cidade, como coloca Vernant (1973), não significa que o trabalho constitui o “elo entre
os cidadãos”. A profissão expressa uma especialidade do indivíduo – aquilo que o torna
naturalmente diferente dos demais – e, por isso, a unidade da cidade deve ser
fundamentada em um plano externo à atividade profissional, deve basear-se no que
Vernant (1973) chama de “comunidade política de cidadãos definidos como iguais”.
As relações de trabalho não podem constituir o elo entre os cidadãos, dado que
as atividades de profissão, limitadas à esfera do econômico, são exteriores à sociedade
política (VERNANT, 1973, p. 230). Assim, uma região composta por pessoas que
apenas desempenham seus ofícios não constitui uma cidade, uma vez que atividades
políticas – superiores às atividades puramente econômicas – não são exercidas. Vernant
(1973) ressalta que um profissional pode ou não participar da esfera superior da política.
Os favoráveis a um governo do demos acreditam que os profissionais podem tanto
exercer sua profissão quanto participar da política; os adeptos do “regime dos
melhores” defendem que exercer um ofício desqualifica imediatamente o indivíduo para
a esfera superior e vice-versa.
8 Cidade moderna, nesse sentido, refere-se a uma cidade tão desenvolvida quanto Atenas ao tempo de
Platão.
14

As considerações feitas sobre a organização das profissões na cidade indicam,


segundo Vernant (1973), que o trabalho não existe na forma de uma “conduta humana e
social única”, mas trata-se de uma multiplicidade de atividades profissionais que, ao
expressar a especialidade de cada indivíduo, acaba o diferenciando dos demais. Vernant
(1973, p. 232) ainda ressalta que: “Na organização das atividades no seio da cidade, não
aparece um plano em que o esforço humano seja considerado em sua função criadora de
valor social, como produção. Submetendo a capacidade do artesão à necessidade do
usuário, a profissão é serviço, não trabalho.”
Elucidar como o trabalho na antiguidade não aparece em sua função criadora de
valor social exige entender em que medida o trabalho artesanal tem caráter de serviço.
Para o pensamento antigo a utilização do objeto é mais relevante que o seu
processo de produção. Vernant (1973) explica que a obra do artesão é tão mais perfeita
quanto mais próxima está daquilo que o usuário deseja, ou seja, o artesão obedece a
uma espécie de modelo imposto pela vontade do usuário. Dessa forma, a finalidade da
obra apenas é perfeitamente entendida pelo usuário; o artesão, apesar de fabricar
efetivamente o objeto, desempenha esta função com conhecimento limitado acerca de
seu fim. Os artesãos “são os objetos pelos quais se realiza em um objeto um valor de
uso” (VERNANT, 1973, p. 235). O trabalho do artesão, nesse sentido, está a serviço da
satisfação das carências do usuário.
A apresentação das atividades agrícolas e artesanais na Grécia Antiga, como
observa Vernant (1973), sugere que o trabalho não é percebido como uma grande
função única que abarca todas as profissões. Observa-se, pelo contrário, uma
pluralidade de ofícios separados na medida de sua especialização. As atividades
agrícolas, entretanto, não são vistas como atividade profissional que pressupõe
habilidade técnica entre os gregos. Como apresentado acima, a agricultura possui um
componente religioso intrínseco, o desempenho da atividade está relacionado com um
intercâmbio entre deuses e homens. A agricultura é colocada, por alguns gregos como
Xenofonte, no mesmo patamar da guerra.
A guerra, bem como exercícios relacionados à política, não constituem ofícios.
A guerra, também considerada uma espécie de conduta religiosa entre os gregos antigos,
consiste em um meio de aquisição e não em uma atividade produtora. Os exercícios
relacionados à política pertencem a uma esfera superior às atividades econômicas como
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o trabalho. O trabalho está no âmbito da esfera privada enquanto a política pertence a


uma esfera superior – a pública. O comércio, também apreendido enquanto meio de
aquisição, não constitui um ofício que transforma a natureza em um valor capaz de
suprir carências. Ademais, o comércio entre os gregos é visto como um escândalo do
ponto de vista moral, como ressaltado anteriormente.
As atividades artesanais, no entanto, constituem ofícios. Por isso, reitera Vernant
(1973), o trabalho encontra-se restringido ao conjunto das profissões artesanais. As
próximas seções tratarão da especialização do artesão mediante a divisão de tarefas e da
influência desta divisão na definição do caráter de serviço da atividade artesanal, bem
como o reflexo das características do processo de fabricação artesanal no produto final.
Estudar as particularidades do artesanato na Grécia Antiga é imprescindível para a
análise do trabalho enquanto criador de valor social, uma vez que o trabalho limita-se ao
âmbito dos ofícios artesanais.

1.3 A concepção de Divisão do Trabalho na Grécia Antiga


Nesta seção convém analisar o verdadeiro significado da divisão do trabalho ou
divisão das tarefas para os gregos. Vernant (1973) e Austin & Vidal-Naquet (1986)
salientam que é cometido um anacronismo ao empregar a “fórmula da divisão do
trabalho” à Grécia Antiga, pois comumente esta fórmula é considerada no sentido
moderno – onde o ofício é visto sob a perspectiva da produção em geral, possibilitando
que a divisão do trabalho seja encarada como forma de aumentar a produção.
Vernant (1973) mostra que a profissão na Grécia Antiga deve ser encarada a
partir da contraposição entre o grande número de necessidades e a limitação individual
de cada artífice. Nesse sentido, a divisão do trabalho entre os gregos, considerada
especialmente no sentido de divisão de tarefas, decorre da contradição apresentada
acima. A divisão das tarefas para os gregos não consiste, então, em uma forma de “dar
ao trabalho o máximo de eficácia produtiva” (VERNANT, 1973, p. 230).
A divisão das tarefas na Grécia Antiga, diferentemente da concepção moderna
de divisão do trabalho, tem como finalidade aumentar a qualidade do produto final ao
possibilitar que o artífice se especialize em uma tarefa (Austin & Vidal-Naquet, 1986,
p.29). Através da divisão de tarefas, segundo Vernant (1973), cada indivíduo pode
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exercer a atividade para a qual está mais capacitado e os produtos resultantes


aproximar-se-ão da perfeição.
Com o intuito de reforçar a concepção apresentada por Vernant (1973) e Austin
& Vidal-Naquet (1986) acerca da divisão de tarefas na Grécia Antiga – fórmula a partir
da qual as capacidades técnicas são levadas à perfeição, vale apresentar observações de
pensadores gregos sobre o tema. Xenofonte, na Ciropédia, defende a divisão das tarefas
também para a organização do palácio imaginário de Ciro 9, uma vez que esta
organização deve atingir um elevado grau de excelência. Os aspectos destacados acima
ficam evidentes quando Xenofonte discute o funcionamento da cozinha do palácio:

“(...) But where there is employment enough for one man to boil meat, for
another to roast it, for one other to boil fish, for another to broil it, and for
another to make bread, (and that not of every sort either, but is enough for him
to furnish one sort good,) each man, in my opinion, must of necessity bring the
things that are thus made to very great perfection.” (Sun, 2005, p. 38)

Platão discute o papel dos ofícios e da divisão de ofícios no seio da cidade.


Neste contexto, segundo Vernant (1973), Platão defende a existência de uma capacidade
natural em cada indivíduo que determina sua especialização. Dessa forma, a divisão de
tarefas tem o papel tanto de possibilitar que essas capacidades naturais sejam afloradas,
quanto de garantir um produto de melhor qualidade: “The result, then, is that more
pleniful and better-quality goods are more easily produced if each person does one
thing for which he is naturally suited, does it at the right time, and is released from
having to any of the others.” (Sun, 2005, p. 44)
Retomando a discussão da seção anterior, a divisão das tarefas da forma como é
concebida na Grécia, reforça o caráter de serviço assumido pelas atividades artesanais.
Segundo Vernant (1973), artesãos especializados podem ser demandados para a
produção de uma única obra e, dessa forma, podem exercitar suas capacidades naturais
na fabricação de uma obra tão perfeita quanto possível para liquidar uma necessidade do
usuário. Na medida em que a especialização permite a produção de uma obra tão
perfeita quanto possível o artesão chega mais próximo de satisfazer o usuário, único que
possui conhecimento ilimitado da finalidade da obra. O artesão não conhece a finalidade
de sua obra, que é apenas entendida na esfera do consumo individual.

9 A divisão de tarefas é comumente associada à organização da cidade.


17

Vernant (1973, p. 236) reitera que, “socialmente, o artesão não é um produtor”.


Ele não reconhece seu trabalho como algo produtor de valores úteis à coletividade, mas
como uma forma de fabricar tão perfeitamente quanto possível algo que se extingue na
esfera do consumo individual. O artesão, ao desempenhar seu ofício, entra em uma
relação de dependência na qual todas suas forças físicas, instrumentos materiais e
técnica estão submetidos ao usuário e suas necessidades.

1.4 A inexistência do trabalho enquanto categoria genérica


As considerações feitas até aqui sugerem que o trabalho está limitado ao âmbito
das profissões artesanais. As atividades artesanais, por sua vez, são caracterizadas por
um alto grau de especialização advindo da divisão de tarefas. Entretanto, como
referenciado anteriormente, a divisão de tarefas é entendida a partir da perspectiva do
valor de uso do produto fabricado, tendo como finalidade a aproximação deste produto
da perfeição.
Estas reflexões acerca do trabalho artesanal, de acordo com Vernant (1973),
sugerem que não existe a ideia de um processo produtivo de conjunto, cuja divisão de
tarefas em seu seio possibilite obter do trabalho em geral uma maior eficácia produtiva.
Em contraste com a ideia de um processo produtivo de conjunto, cada profissão na
Grécia Antiga é vista como um “sistema fechado” no qual o objetivo primordial é
atingir a perfeição do objeto fabricado. Vernant (1973) afirma que nas atividades
artesanais o trabalho, que permeia a relação entre produtor e usuário, estabelece um
vínculo de serviço entre ambos. Em outras palavras, o artesão desempenha seu trabalho
de acordo com as regras impostas pelas necessidades do usuário. A extinção do produto
proveniente da fabricação artesanal no consumo individual evidencia o caráter de
serviço assumido pelo trabalho na Grécia Antiga:

“(…) O produto não é visto em função do trabalho humano que o


criou, como trabalho cristalizado; pelo contrário, é o trabalho que é
visto em função do produto, o trabalho institui, pois, entre o artesão e
o usuário uma relação econômica de servidão, uma relação
irreversível de meio a fim.” (VERNANT, 1973, pp. 239-240)

De acordo com a análise de Vernant (1973), as atividades profissionais


compõem a categoria trabalho entre os gregos antigos. Percebido no referido sentido de
profissão o trabalho não constitui uma “função social de base”. Para que o trabalho
18

desponte como “função social de base” é imprescindível que seja considerado enquanto
categoria abstrata e geral.
Segundo Vernant (1973), o pensamento comum moderno considera o trabalho
como uma categoria que agrupa diferentes tarefas profissionais em uma espécie de
conduta única. Nesta forma de conduta o indivíduo apreende seu próprio ofício como
trabalho em geral com uma finalidade intrínseca de produzir valores úteis ao grupo, de
criar um valor socialmente necessário. Vernant (1973) coloca que a emergência da
concepção de trabalho em geral se dá na medida em que todas as formas de trabalho
produzem visando o mercado, quando o produto do trabalho passa a ser designado a
operações de venda e compra e não mais a um indivíduo específico.
Vernant (1973) coloca ainda que os trabalhos realizados no seio da sociedade
são confrontados através destas operações de venda e compra. Ao serem confrontados
em um mercado, os produtos do trabalho adquirem uma grande capacidade de
circulação dentro da totalidade do corpo social: o trabalho passa a constituir o laço entre
os agentes sociais ao permitir a troca generalizada. Ademais, quando os produtos
fabricados são destinados a uma troca generalizada no mercado, o trabalho deixa de ser
determinado em função do produto final que se deseja obter e passa a constituir uma
atividade genérica.
Entretanto, como exemplifica Vernant (1973), o sapateiro na Grécia Antiga
define sua tarefa em relação ao sapato, não apreendendo seu trabalho enquanto trabalho
geral e não tendo consciência do trabalho enquanto categoria que agrupa toda sorte de
ofícios. O artesão não percebe no produto de seu trabalho a manifestação de um esforço
humano comum que cria valor social, mas o percebe enquanto forma de satisfazer a
necessidade do usuário, de acordo com o serviço que presta ao consumidor. A discussão
acerca da concepção do trabalho na Grécia Antiga passa, então, pelos seguintes
aspectos:

“Onde nós reconhecemos, através de múltiplas formas da atividade


humana, uma única grande função produtiva de valores sociais, o
trabalho, os gregos não viam mais que uma pluralidade de ocupações
diferentes (…) e não estabeleciam uma ligação única entre todas essas
ocupações.” (AUSTIN & VIDAL-NAQUET, 1986, p. 28)

As evidências acerca da inexistência da apreensão do trabalho enquanto trabalho


em geral implica na não apreensão da atividade de produção (fabricação) como
19

produção em geral. O trabalho não visa a coletividade, não busca produzir valores úteis
ao grupo. O produto, por sua vez, não é concebido enquanto trabalho cristalizado – é
fabricado visando exclusivamente atender tão bem quanto possível as carências de um
usuário específico, extingue-se na esfera do consumo individual. As considerações
tecidas até aqui evidenciam diferenças consideráveis na concepção de trabalho da
Grécia Antiga em relação a concepções modernas. Cabe, dessa forma, estudar o
trabalho sob uma perspectiva mais moderna, inserida na lógica capitalista. O próximo
capítulo tratará do conceito de trabalho em Marx, buscando elementos que permitam
explicar as diferenças dos conceitos de trabalho e seus reflexos na produção (fabricação)
entre duas épocas.

Capítulo 2: O conceito de trabalho em Marx


O capítulo procura apresentar a concepção de trabalho em Marx, que define
conceitos essenciais para entender em que medida a concepção trabalho na modernidade
se distancia daquela apresentada no capítulo anterior. A definição de trabalho alienado
nos Manuscritos Econômico-Filosófico e a apresentação do processo de trabalho feita
em O Capital constituem a base teórica para que o paralelo seja traçado.
A importância de estudar os Manuscritos e O Capital, para além de definir
conceitos que permitam traçar um contraponto com o capítulo anterior, consiste em
apresentar a concepção do trabalho em momentos distintos da trajetória intelectual de
Marx, captando – ainda que não pormenorizadamente – o enfoque dado à análise do
trabalho pelo autor nesses momentos distintos.
Giannotti (1985) coloca que ambas as obras têm como ponto de partida a análise
produto para chegar à determinação das relações sociais constituintes. No entanto,
sintetiza Giannotti (1985, p. 144), há uma diferença radical entre os Manuscritos
Econômico Filosóficos e O Capital:

“O primeiro texto procura na coisa os comportamentos constituintes


que esclarecem tanto o seu caráter alienado como a alienação das
épocas históricas que sucederam à desintegração da sociabilidade
primitiva; o segundo busca no produto as determinações objetivas e as
relações sociais ocultas que o transformaram de objeto de desfrute
numa mercadoria, num objeto que, em vez de satisfazer uma
necessidade imediata, é produzido para a troca. Em suma, a
mercadoria é a categoria básica para a compreensão da sociedade
burguesa, o trabalho alienado para a compreensão da sociedade civil”.
20

As duas obras partem do estudo produto e desdobram-se em conceitos que


permitem chegar de maneiras distintas às relações sociais. Essa discussão, contudo, não
será pormenorizada, uma vez que haveria um afastamento do objetivo central do
presente estudo. As determinações do trabalho em Marx são imprescindíveis para
entender sob quais aspectos o processo de trabalho muda comparativamente ao
observado na Grécia Antiga.

2.1 O trabalho alienado e suas determinações


Compreender o trabalho estranhado requer um estudo acerca do que constitui o
trabalho vivo10 para Marx. Uma consideração inicial concerne à existência de forças
genéricas que objetivam a humanização da natureza pelo trabalho. Ademais, o trabalho
é visto sob um prisma fisiológico na medida em que o trabalhador precisa despender
energia para cumprir a tarefa (GIANNOTTI, 1985, p. 125).
Contudo, salienta Giannotti (1985), as forças que intentam humanizar a natureza
através do trabalho possuem caráter universal em si, uma vez que estão subordinadas à
determinação do gênero. Contudo, o sentido fisiológico considerado por Marx não
corresponde a um mero dispêndio de força bruta, mas à exteriorização de um impulso
definido.

“O homem acha-se dotado de forças naturais e vivas que, como tais,


se expandem numa atividade orientada, situada em relação a um fim
exterior ao indivíduo e interior à espécie. Por esses motivos, as forças
genéricas existem ‘como disposições e capacidades, como instintos’,
isto é, como virtualidades prontas a serem despertadas pela presença
de estímulo adequado, de sorte que sua existência em si somente se
define pelo poder criador do ser-outro”. (GIANNOTTI, 1985, p. 125)

Giannotti (1985) coloca que as forças genéricas e o mundo se relacionam de


forma que exista a qualificação do ser-outro em ser-em-si. Em outras palavras, a ação
do homem está condicionada ao carecimento de todos os congêneres, revelando o
caráter passivo da atividade em relação ao carecimento. O homem trabalha para si e
para o seu semelhante, visando sempre a coletividade.

10 Trabalho vivo é uma expressão usada por Giannotti (1985) para designar o trabalho que ainda não está
estranhado.
21

As breves considerações acerca do trabalho vivo são imprescindíveis para


desvendar o trabalho estranhado. Marx (2010), para enunciar o conceito de trabalho
estranhado ou exteriorizado, utiliza os “pressupostos da economia nacional”, a qual
pretende criticar: “Supusemos a propriedade privada, a separação de trabalho, capital e
terra, da mesma forma que a divisão do trabalho, a concorrência, o conceito de valor de
troca etc” (MARX, 2010, p. 79).
Marx (2010) trata de um contexto no qual o trabalhador baixa à condição de
mais miserável mercadoria e no qual a sociedade se vê dividida em duas classes – a dos
proprietários e a dos trabalhadores expropriados.
Visando criticar algumas concepções do que ele chama de Economia Nacional,
Marx começa a definir um conceito de trabalho dentro de uma elaboração que tenta
perceber a interconexão entre trabalho estranhado e propriedade privada.
Tecidas as considerações, Marx (2010) principia a apresentação do conceito de
trabalho alienado11, partindo de um ponto diferente daquele comum ao “economista
nacional”, que busca mitologicamente em um acontecimento pretérito a explicação para
a estrutura do presente. Marx (2010), então, parte de um fato constado no presente: o
trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais gera riqueza, em outras palavras, o
operário se torna uma mercadoria mais barata na medida em que aumenta sua
produtividade, evidenciando que a valorização do mundo das coisas concerne na
desvalorização proporcional do mundo dos homens. (GIANNOTTI, 1985, p. 137)
Partindo do princípio descrito acima, Marx (2010) começa a traçar o conceito de
trabalho estranhado ou alienado apresentando os quatro aspectos deste estranhamento da
atividade humana prática.
Ao final do processo produtivo, primeiramente, o produto aparece como um
objeto estranho e poderoso sobre o trabalhador, que escapa de seu controle. Como
ressaltado anteriormente, Marx (2010) começa constatando a existência de uma relação
inversa entre o valor do trabalhador enquanto mercadoria e a quantidade de mercadorias
que ele produz, a sua produtividade. Entretanto, o trabalho mercantiliza a si próprio e ao
trabalhador na medida em que produz outras mercadorias.
Segundo Marx (2010), o trabalhador enquanto mercadoria miserável se defronta
com o produto de seu trabalho como um ser estranho. O produto aparece como

11 Trabalho alienado e trabalho estranhado são sinônimos


22

objetivação do trabalho, consiste no trabalho fixado em um objeto. Contudo: “A


efetivação do trabalho é sua objetivação. Esta efetivação do trabalho aparece como
desefetivação do trabalhador, a objetivação como perda do objeto e servidão ao objeto,
a apropriação como estranhamento, como alienação” (MARX, 2010, p. 80).
O trabalhador encara o produto de seu trabalho como um poder autônomo e
ameaçador, uma potência que existe fora dele, independente dele e estranha a ele. Nesse
sentido, a objetivação do trabalho consiste em um processo no qual o trabalhador perde
substância e se sujeita ao mundo criado por ele próprio (mundo das coisas), uma vez
privado tanto dos objetos imprescindíveis ao seu trabalho quanto daqueles necessários à
sua subsistência (MARX, 2010, p. 81; GIANNOTTI, 1985, p.137).
Quando a relação imediata entre o trabalhador e a produção é considerada,
como reitera Marx (2010), não é possível ocultar um estranhamento na essência do
trabalho. Dessa forma, a relação essencial do trabalho deve ser entendida a partir da
relação do trabalhador com a produção. Ao destrinchar esta relação, contudo, escancara-
se a segunda determinação do trabalho estranhado, que acontece paralelamente ao
estranhamento do produto e concerne à alienação do sujeito no ato de produzir.
Segundo Marx (2010), o produto do trabalho enquanto exteriorização constitui
o resumo da atividade de produção. Contudo, para que o produto se apresente ao
trabalhador enquanto exterioridade a produção deve ser atividade de exteriorização. Não
só o produto, mas o próprio trabalho é externo ao trabalhador.
O trabalho é uma atividade que não pertence ao ser do trabalhador – independe
do trabalhador e não possibilita a sua afirmação enquanto tal. O trabalhador só se sente
junto a si quando fora do trabalho e fora de si quando no trabalho. Dessa forma, o
trabalho no qual o homem se exterioriza é trabalho forçado, sacrifício, mortificação. O
homem não se sente proprietário do seu trabalho e, ao trabalhar, o homem sente como
se não fosse dono de si mesmo. A atividade do trabalhador pertence a outro, é a perda
de si mesmo (MARX, 2010, p. 83). Dessa forma, o trabalhador apenas se sente livre e
ativo em ações que estão fora do contexto do trabalho – comer, beber, procriar, por
exemplo. Durante a atividade produtiva o trabalhador estranha a si mesmo 12, bem como
estranha o objeto produzido pelo seu trabalho.

12 Giannotti (1985) esclarece que a alienação (estranhamento) no ato da produção, durante o desempenho
do trabalho, se dá enquanto auto-alienação do sujeito – estranhamento de si mesmo.
23

Considerando os aspectos apresentados anteriormente, Marx (2010) extrai um


terceiro aspecto do trabalho estranhado: a capacidade de estranhar o homem de seu ser
genérico. A vida genérica do homem, para Marx (2010), fica impressa na dependência
do homem da natureza inorgânica – o homem se torna tão mais universal quanto maior
o domínio da natureza inorgânica que o circunda. A universalidade do homem é
plenamente manifestada quando este homem faz da totalidade da natureza seu corpo
inorgânico. A natureza é corpo inorgânico do homem por constituir, além de seu meio
de vida (subsistência), o objeto e o instrumento que possibilitam sua atividade vital (o
trabalho).
O caráter genérico do homem se expressa na medida em que sua atividade vital é
consciente e livre, em outras palavras, a atividade vital se faz objeto da vontade do
homem – dono de sua própria vida. Entretanto, é na produção que se comprova o caráter
do homem como ser genérico consciente, “ser que se relaciona com o gênero enquanto
sua própria essência ou se relaciona consigo enquanto ser genérico” (MARX, 2010, p.
84). O animal, entretanto, também produz. Contudo, a diferença fundamental entre a
produção humana e a animal concerne ao fato de os animais apenas produzirem de
acordo com as necessidades das suas respectivas espécies e o homem ser capaz de
produzir para suprir as carências de qualquer espécie. O homem se confirma enquanto
ser genérico na medida em que cria operativamente um mundo objetivo. O objeto de
trabalho, enquanto parte da natureza que se efetiva no processo de produção, passa a ser
a objetivação da vida genérica do homem.
Contudo, coloca Marx (2010, p. 84), o trabalho alienado, ao estranhar do homem
a natureza e o homem da sua atividade vital, aliena o homem do gênero humano. O
trabalho estranhado reduz a atividade livre do homem a uma mera forma de manutenção
da sua existência física; sua vida passa a figurar apenas como meio de vida. Ademais,
ao arrancar do homem o meio de produção, o trabalho alienado também o priva de sua
vida genérica, lhe retira seu corpo inorgânico – a natureza.
A quarta determinação do trabalho alienado é uma consequência imediata das
determinações apresentadas anteriormente: o estranhamento do homem pelo próprio
homem.

Quando o homem está frente a si mesmo, defronta-se com outro


homem. O que é produto da relação do homem com o seu trabalho,
24

produto de seu trabalho e consigo mesmo, vale como relação do


homem com outro homem, como o trabalho e o objeto do trabalho de
outro homem. (MARX, 2010, p. 86)

O homem está estranhado do outro na medida em que se encontra estranhado do


seu ser genérico, da essência humana. O trabalho estranhado faz com que o homem
encare o outro sob a perspectiva na qual ele próprio se enquadra enquanto trabalhador.
O homem, então, está alienado enquanto homem.
O trabalho estranhado enquanto expressão de uma atividade que não pertence e é
estranha ao trabalhador em todas suas dimensões, deve ser propriedade de alguém. De
acordo com Marx (2010) os senhores do trabalho não são os deuses ou a natureza, mas
os homens. Entretanto, não se trata de qualquer homem, mas daquele que não está na
condição de trabalhador. O homem que se apresenta diante do trabalho como um ser
estranho é o proprietário tanto do trabalho quanto do resultado deste trabalho – consiste
no ser estranho para o qual o trabalho está a serviço e para o usufruto do qual está o
produto do trabalho (MARX, 2010, p. 86). A atividade forçosa, laboriosa do trabalhador
deve servir para o desfrute e alegria do outro homem fora dessa condição.
Sinteticamente, em um contexto no qual o trabalho está estranhado:

“O operário perde o sentido social de sua ação, esquece-se da sua qualidade


de ser genérico e passa a operar isoladamente, escravo das vicissitudes
naturais e sociais. Apagando a dimensão consciente da produção humana, o
trabalho alienado inverte o sentido da atividade vital: transforma-a num
instrumento de garantia da existência de cada um, seja ela qual for, ao invés
de fazer dela a manifestação de sua essência.” (GIANNOTTI, 1985, p. 138)

Segundo Giannotti (1985), o trabalho estranhado oprime a autêntica


universalidade do homem na medida em que o trabalhador perde o sentido social de sua
13
ação na atividade produtiva. Socialmente, o artesão não é um produtor na Grécia
antiga. O artesão não percebe uma função social em sua atividade produtiva na medida
em que essa atividade está inteiramente condicionada às necessidades de um usuário.
Contudo, a determinação do trabalho estranhado em Marx (2010) parte do pressuposto
que o trabalhador está rebaixado à condição de mais miserável mercadoria, ou seja,
pressupõe a mercantilização da força de trabalho – o que requer certo grau de
desenvolvimento do mercado.

13 Vernant (1973).
25

Em Marx (2010) o operário perde o sentido social de sua ação em meio às


determinações do trabalho alienado, partindo do fato de o trabalhador se tornar uma
mercadoria tão mais barata quanto mais produz mercadorias e de que os trabalhadores
estão expropriados dos meios de produção. Ainda que a atividade de fabricação na
Grécia Antiga não possua um sentido social evidente para o artesão, o contexto é muito
diverso. O usuário é dono do produto de trabalho do artesão grego e dita as regras para a
sua produção, contudo, não é proprietário da força de trabalho e dos meios de produção
desse mesmo artesão – seu trabalho ainda lhe pertence.

2.2 O Processo de trabalho


Esta seção pretende apresentar a descrição do processo de trabalho feita por
Marx no quinto capítulo de O Capital, atentando para o conceito de trabalho exposto
pelo autor e em que medida esse processo de trabalho se distancia daquele observado
entre os antigos.
Uma primeira consideração concerne ao fato de o processo de trabalho ser
considerado inicialmente “independente de qualquer forma social determinada”
(MARX, 1988, p. 142). Marx (1988) argumenta que a “natureza geral” do processo de
trabalho enquanto produção de valores de uso independe de uma forma de gestão
específica da produção (por exemplo, a capitalista).
Giannotti (1983) atenta para a forma como o processo de trabalho aparece, no
capítulo V de O Capital, enquanto abstração que apenas se concretiza quando inserida
em um modo de produção específico. Nas condições capitalistas, por exemplo, a
“utilização da força de trabalho é o próprio trabalho” (MARX, 1988, p. 142). Em outras
palavras, o processo de trabalho apenas se efetiva em um contexto de mercantilização
da força de trabalho14.
A despeito do processo de trabalho ser uma construção abstrata, a análise de
seus “momentos essenciais” é imprescindível para entender em que medida o processo
permite uma ligação direta entre homem e natureza (GIANNOTTI, 1983, p. 85).
Expressando esta ligação, Marx (1988) coloca que o homem direciona sua ação no
14 A força de trabalho se apresenta como mercadoria apenas quando seu detentor a coloca à venda no
mercado. Para que a força de trabalho se torne mercadoria dois requisitos são fundamentais: i) o
trabalhador deve ser livre, senhor da sua força de trabalho; ii) o trabalhador deve optar por vender sua
força de trabalho, uma vez não detentor de outras mercadorias passíveis de venda. O dono dos meios de
produção, dessa forma, apenas encontra trabalhadores livres no mercado em condições sociais específicas
– dentro do modo de produção capitalista. (MARX, 1988, p. 136)
26

sentido de apoderar-se dos produtos oferecidos pela natureza – tomando consciência de


suas forças físicas e as exercitando – e utilizá-los proveitosamente para sua vida,
desenvolvendo potências da natureza até então adormecidas.
Marx (1988), para definir o conceito de trabalho, não trata das “primeiras formas
instintivas de trabalho” e considera o trabalho em uma configuração exclusivamente
humana. Existe uma diferença crucial entre o trabalho humano e o animal:

“Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha


envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos
de suas colmeias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da
melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de
construí-lo em cera.” (MARX, 1988, p. 142)

Giannotti (1983) reitera que a anteposição ideal do objeto não é apenas uma
construção psicológica. Antes de iniciar o processo de trabalho o homem constrói no
plano das ideias o objeto a ser produzido, durante a produção age de maneira orientada
no intuito de “adequar o resultado ao início pressuposto”, obtendo, ao final do processo,
um produto que permaneceu em sua imaginação desde o princípio (GIANNOTTI, 1983,
p. 86). O trabalhador tanto transforma a natureza quanto subordina sua vontade a um
fim conhecido pelo trabalhador e determinante do modo de seu fazer. (MARX, 1988, p.
143). O trabalho constitui, então, uma ação teleológica.
Giannotti (1983) coloca a necessidade de compreender a natureza ontológica de
um processo cujo resultado emerge da subordinação de um sistema mecânico a um fim.
Para tanto é indispensável a definição dos elementos simples do processo de trabalho: a
atividade orientada ou o próprio trabalho, seu objeto e seus meios (MARX, 1988, p.
143).
Para Marx (1988, p. 143) a terra constitui o “objeto geral do trabalho humano”
ao ser “fonte original de víveres e meios já prontos de subsistência”. Para uma parte dos
objetos o papel do trabalho consiste apenas desprendê-los da paisagem natural – a pesca
do peixe, a extração da madeira virgem, entre outros exemplos. Entretanto, quando o
objeto foi transformado por um trabalho anterior consiste em matéria-prima para o atual
processo de trabalho.
O início do processo de trabalho consiste, então, na “extração da coisa de seu
contexto mecânico, na sua colocação como ponto de partida de um novo ciclo”
(GIANNOTTI, 1983, p. 86). Giannotti (1983) salienta que, para constituir o ponto de
27

partida do processo de trabalho, o objeto deve possuir características que possibilitem a


realização deste trabalho – características essas que determinam o modo de agir do
trabalhador. Ainda de acordo com o autor a “coisa”, enquanto parte de um ambiente
natural no qual não há interferência humana, adquire dimensões específicas quando
inserida no ciclo do trabalho. Há uma espécie de “cristalização da coisa em objeto
humanizado” (Giannotti, 1983, p. 87), que é evidenciada quando analisamos o
instrumento de trabalho.
Os meios de trabalho, segundo Marx (1988), tem o papel de mediar o
desempenho do trabalho sobre o objeto. Como completa Giannotti (1983), o
instrumento de trabalho consiste em um elemento capaz de canalizar a atividade
orientada, possibilitando que um fim determinado seja impresso no objeto a ser
trabalhado. Marx (1988) mostra que a introdução do instrumento no ciclo do trabalho
amplia em larga escala a potência do trabalhador, que passa a dispor das propriedades
físicas e químicas dos elementos naturais enquanto meio de poder sobre o objeto a ser
trabalhado, diminuindo a resistência deste. No limite, o trabalhador se apropria de uma
parte da natureza como instrumento de trabalho e a transforma no prolongamento de seu
próprio corpo. “Assim, mesmo o natural se torna órgão de sua atividade, um órgão que
ele acrescenta a seus próprios órgãos corporais, prolongando sua figura natural”
(MARX, 1988, p. 143). Entretanto, ressalta Giannotti (1983, p. 88), ao mesmo tempo
que o instrumento de trabalho incorpora a força da natureza ao organismo humano e
expande a capacidade do trabalhador, limita a habilidade dos membros à execução de
movimentos específicos.
Giannotti (1983) explicita a importância do instrumento no processo de trabalho
ao utilizar o exemplo da pedra. Supondo que a pedra enquanto instrumento de trabalho
tem a finalidade de percutir um instrumento, ela direciona o trabalho a um fim
determinado – percutir. A pedra, entretanto, carrega múltiplas potencialidades naturais e
pode assumir funções que não percutir. Assim, a utilização da pedra como instrumento
de trabalho que possibilita a percussão, coloca de lado todas as outras potencialidades
naturais da pedra. O instrumento de trabalho constitui, então, “o ponto de encontro entre
a finalidade do trabalho e o determinismo da natureza, o lugar de sua determinação
recíproca” (GIANNOTTI, 1983, p. 88). Em outras palavras, o instrumento tanto conduz
28

o trabalho a um fim determinado, quanto determina na natureza a parte a ser aproveitada


no processo de trabalho tomado em sua totalidade.
Ainda sobre os meios, Marx (1988) coloca que quando o processo de trabalho
apresenta algum grau de desenvolvimento exige instrumentos trabalhados previamente.
As ferramentas, desenvolvidas pelo trabalho humano, utilizadas na produção são
indicadores do nível de desenvolvimento da força de trabalho e da situação social na
qual se trabalha, sendo capazes de distinguir épocas econômicas.
Para Marx (1988), meios e instrumentos de trabalho constituem os meios de
produção. Ainda que pareça paradoxal o peixe que ainda não foi pescado – enquanto
objeto de trabalho – ser visto como meio de produção, não se descobriu uma maneira de
pescar em águas nas quais não há peixes (MARX, 1988, p. 144).
A combinação dos meios de produção e da atividade orientada (ou trabalho) no
processo de trabalho, segundo Marx (1988), coincide no produto. Através dos
instrumentos de trabalho o homem promove uma transformação no objeto que se almeja
desde o início do processo de trabalho, culminando na produção de um valor de uso. O
produto enquanto valor de uso resulta do amoldamento da “matéria natural” de acordo
com as carências humanas. O produto constitui, portanto, a objetivação do trabalho: “O
que ao lado do trabalhador aparecia na forma de mobilidade, aparece agora como
propriedade imóvel na forma do ser, do lado do produto. Ele fiou e o produto é um fio”
(MARX, 1988, p. 144).
De acordo com Marx (1988), quando o processo descrito acima é tomado sob o
enfoque do produto, o trabalho é trabalho produtivo. Marx (1988) coloca que na
indústria (com exceção da extrativa) e na agricultura (excluindo o caso de
desbravamento de terras virgens) o objeto a ser trabalhado é matéria-prima. No tocante
aos instrumentos de trabalho, a grande maioria deles apresenta indícios de trabalho
prévio. Dessa forma, o produto resultante de um processo de trabalho pode figurar como
meio de produção em outro processo. O mesmo valor de uso que é produto neste
processo pode constituir tanto a matéria-prima como o instrumento naquele.
Um valor de uso constitui objeto, meio ou produto de acordo com sua função
determinada no processo de trabalho, com a posição que nele ocupa. Quando a posição
é alterada, altera-se também a determinação das funções (MARX, 1988, p. 145). Nas
palavras de Giannotti (1983, p. 91):
29

“O que determina o mesmo [papel ocupado pela coisa natural no


processo de trabalho], o caráter de valor de uso de cada um dos
momentos, é apenas sua função para o carecimento humano, que
ilumina o sentido geral da produção pré-mercante: a utilidade do
objeto recebendo o trabalho, a do instrumento que o conduz e a do
produto dirigindo-se de imediato ao consumo individual.”

Para Marx (1988), quando o produto passa a figurar como meio de produção em
outro processo de trabalho perde sua qualidade de produto. O produto, ao se tornar meio
de produção, importa ao novo processo de trabalho apenas enquanto valor de uso. No
âmbito deste novo processo de trabalho não interessa se o meio de produção é resultado
de trabalho passado – desde que os defeitos decorrentes do trabalho anterior não se
mostrem visíveis, permitindo a perfeita manifestação do valor de uso. “No produto bem
elaborado, extinguiu-se a aquisição de suas propriedades úteis” (MARX, 1988, p. 146).
Em contrapartida, Marx (1988) reitera que a inserção do produto em um novo
processo de trabalho possibilita o contato com o trabalho vivo e apenas assim as
propriedades úteis do produto de trabalho passado podem ser conservadas. Um grão é
cultivado e depois moído; na passagem para o segundo ato um novo trabalho (a
moedura) é desempenhado sobre a matéria-prima (grão de trigo), conservando o
trabalho preexistente nela (o cultivo) e impedindo que este seja perdido ou destruído
pelas forças naturais. A conservação como citada acima depende de condições
determinadas, o que não altera o caráter do trabalho de conservar e cristalizar trabalho
prévio e de estabelecer “entre o homem e a natureza brutos o intermediário constituído
por sistemas de forças domadas, abrindo dessa maneira o intervalo em que se localizam
as forças produtivas” (GIANNOTTI, 1983, p. 92).
A conservação do trabalho no processo de trabalho se torna mais clara na
medida em que o consumo produtivo é analisado. O trabalho gasta os meios de
produção (objeto e instrumento) na geração do produto e, dessa forma, o processo de
trabalho é processo de consumo. Quando, no processo de trabalho, os produtos são
consumidos “como meios de subsistência do indivíduo vivo” e os meios de produção
são consumidos “como meio de subsistência do trabalho, da força ativa do indivíduo”,
observa-se um consumo produtivo. Na medida em que os meios de produção são frutos
de trabalho anterior, estes se apresentam sob a forma de produto e o trabalho passa a
consumir produtos para criar produtos (MARX, 1988, p. 146).
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O consumo produtivo dos meios de produção, entretanto, não se confunde com o


consumo individual. Como ressalta Giannotti (1988), no consumo individual o produto
é apropriado pelo consumidor e integrado ao seu organismo; o produto perde a sua
identidade enquanto produto e há “subjetivação da coisa”. Entretanto, no caso do
consumo produtivo dos meios de produção, o produto constitui a objetivação do
trabalho, o ponto de chegada do processo produtivo.
Durante o processo de trabalho, segundo Giannotti (1983) o instrumento é
aplicado ao objeto para extrair um valor de uso pretendido desde o começo do processo.
Entretanto, a ação descrita acima não acontece sem uma ínfima destruição dos meios de
trabalho – o objeto é retirado de seu ciclo natural e o instrumento é desgastado. O
instrumento extrai o objeto de seu ciclo natural e estampa nele uma forma artificial. Esta
forma artificial, entretanto, é conservada apenas enquanto participa do processo de
trabalho como meio de produção.
Giannotti (1973) salienta que o resultado do processo de trabalho enquanto valor
de uso pode tanto desaparecer no consumo individual quanto ser retomado e conservado
por meio do consumo produtivo. Para entender em que medida o produto do processo
de trabalho pode pertencer a uma das formas de consumo, o exemplo tecido por
Giannotti (1983, p. 97) é elucidativo. O algodão enquanto matéria-prima é fiado e
depois tecido. Considerando que a única potencialidade do algodão é vir a ser fio, o
algodão existe em função desta potencialidade. Ao ser fiado o algodão transforma-se na
potencialidade (fio) em vista da qual existia e encontra o alcance para o qual estava
determinado. Entretanto, enquanto momento do processo de trabalho, o fio pode ser
usado tanto para o consumo individual quanto para o produtivo. Ao ser consumido para
empinar uma pipa, o fio apenas participa da repetição processo em termos estritamente
naturais, é gasto e extinto na esfera do consumo individual. Ao ser tecido, entretanto, o
fio entra novamente na esfera do consumo produtivo, conservando a determinação
anterior. Uma nova fronteira aparece ao processo de trabalho e um novo produto é
obtido, produto este que adentra uma das esferas de consumo e assim sucessivamente.
Um objeto, transitório e finito enquanto inserido no ciclo natural, pode ser
utilizado de forma produtiva por apresentar potências capazes de suprir um carecimento
determinado (vir a ser um valor de uso) no início do processo de trabalho. É o que
Giannotti (1983) chama de antepresença do produto em forma de carecimento. O
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trabalho, sob esse prisma, tem o papel de extrair das propriedades físicas do objeto,
mediante a existência de uma potência desejada, a possibilidade de vir a constituir o
valor de uso esperado. Ao ser inserido no processo de trabalho o objeto adquire uma
nova forma, forma esta que viabiliza a transformação da potência em uma potência de
novo tipo. “A forma do fio dá ao algodão a possibilidade de vir a ser tecido”
(GIANNOTTI, 1983, p. 98).
Giannotti (1983) reitera que a condição prévia para a realização do processo de
trabalho constitui o resultado deste processo, ou seja, a antepresença do uso enquanto
carecimento fica evidente no valor de uso. Entretanto, a antepresença do uso apenas
fundamenta a aparição do objeto, do instrumento ou do produto (valores de uso), na
medida em que esses estão relacionados dentro de um processo, enquanto são postos em
movimento. A partir dessas considerações, Giannotti (1983) coloca que é possível
assinalar o terreno que delimita o trabalho: “Deslocando o trabalho para o universo do
processo, retirando-o da esfera da emersão e do surgimento da coisa para situá-lo na
circularidade da interiorização e da exteriorização, Marx faz dele práxis ao invés de
poíesis”.
Neste ponto cabe mencionar a discussão feita por Giannotti (1983) do esquema
técnico entre os antigos, para entender em que medida um trabalho é poíesis.
Giannotti (1983) apresenta a concepção aristotélica do esquema técnico.
Aristóteles trata do artesão esculpindo a estátua para entender a relação entre matéria e
forma enquanto paradigma que permite o entendimento até mesmo das produções
naturais. Ainda nesse exemplo as quatro causas aristotélicas são elucidadas. Entender o
lugar central da causa no pensamento aristotélico é imprescindível para delimitar uma
noção de esquema técnico na Grécia Antiga.
Para Aristóteles, a causa não constitui uma variável independente. Em outras
palavras, as diferentes causas formam uma unidade que se efetiva em torno da poiésis
(produção, ostentação de uma coisa exterior). Definir produção (poiésis) para
Aristóteles é um passo essencial. A produção artificial se dá em duas etapas – a etapa
mental e a etapa da realização exterior. A etapa mental comanda a produção na medida
em que, para que determinado resultado seja alcançado, a pessoa que executa a tarefa
tem em mente o resultado final que deseja alcançar. O médico, para curar um doente,
deve ter antes no espírito a ideia de saúde e só depois passar a realizar aquilo que
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garantirá essa saúde. Na etapa da realização exterior ou processo de execução,


entretanto, o médico inicia pelas fricções necessárias para garantir, ao final do processo,
a saúde do paciente (GIANNOTTI, 1983, p. 81).
Apesar da importância dada à forma – “A medicina e a arte de construir são a
forma da saúde e da casa”, Aristóteles não deixa de buscar uma causa motriz que
constitua o motor do processo produtivo. A causa motriz, segundo Aristóteles, consiste
em uma potência, um inacabamento atuante, um modo de carecimento (GIANNOTTI,
1983, p. 82). No entanto, essa potência de poder ser isto ou aquilo é indefinida, em
outras palavras, a carência da coisa é indeterminada. Nesse ponto o artífice se faz de
grande importância: o espaço aberto pela potência indefinida do objeto permite que o
artífice imprima-lhe uma forma artificial de acordo com os seus carecimentos.
Partindo dessas considerações, Giannotti (1983) salienta a importância de
investigar o que acontece com o produto artificial após o processo produtivo,
concluindo que a concepção de Aristóteles do processo de trabalho é feita em seu
sentido mais simples. Em outras palavras, a produção é encarada como o agrupamento
de atos individuais isolados e a questão da manutenção do produto nem é colocada.
A conclusão de Giannotti (1983) acerca do esquema técnico entre os gregos
antigos corrobora com a argumentação feita no capítulo anterior. A produção é poiésis
na medida em que não existe uma apreensão da produção enquanto produção em geral
na Grécia Antiga. Os atos produtivos (fabricação) não estão interligados e se desdobram
em função do serviço prestado a consumidores com necessidades específicas e distintas.
O trabalho não constitui um elo entre os homens, definindo, pelo contrário, as
especialidades que os diferenciam.
A questão da manutenção do produto não é discutida no esquema técnico antigo,
uma vez que a utilização do produto é mais importante que seu processo de fabricação
entre os gregos. Isso implica em um processo de trabalho que se extingue na esfera do
consumo individual e em um produto que não é visto como trabalho cristalizado. A
capacidade do trabalho de cristalizar trabalho anterior não é levada em conta – a
atividade de fabricação artesanal está a serviço do carecimento individual na medida em
que busca produzir obras tão perfeitas quanto possível para o consumo imediato do
usuário.
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Conclusão
Foram apresentados neste estudo os aspectos gerais do trabalho na Grécia Antiga
e a concepção de Marx acerca do trabalho. Atentamos, no primeiro capítulo, para a
definição do que o homem apreende por trabalho, para o papel das atividades
consideradas trabalho na sociedade e para o processo de fabricação artesanal. Após
delinear alguns aspectos gerais do trabalho e apresentar as controvérsias acerca da sua
valorização, atentamos para o fato de que uma análise do papel do trabalho na sociedade
requer um estudo mais aprofundado das atividades que realmente são consideradas
trabalho.
Em um contexto de análise do relacionamento do trabalho com a natureza,
algumas diferenças essenciais entre as atividades manuais agrícolas e artesanais são
delimitadas. Partindo desta análise, conclui-se que o lavrar a terra não é considerado
trabalho entre os gregos, estando bastante próximo de uma conduta religiosa que
permite o contato com os deuses. Da discussão dos ofícios no interior da cidade, em
contrapartida, apreendemos que os exercícios relacionados com a política não
constituem atividades profissionais, uma vez que compõem uma esfera superior às
atividades puramente econômicas. O comércio e a guerra consistem em meios de
aquisição, não constituindo ocupações profissionais. O primeiro meio de aquisição é
considerado indigno e um escândalo do ponto de vista moral, enquanto o segundo é
considerado um meio de aquisição justo e que pressupõe uma conduta também
religiosa.
O trabalho fica, portanto, restrito às profissões artesanais, definidas por sua
especialização e por um caráter de serviço. Este caráter de serviço fica evidente quando
consideramos o processo de fabricação e a divisão das tarefas, que tem por finalidade
satisfazer as necessidades do usuário, suprir suas carências. O artesão não apreende seu
trabalho enquanto trabalho geral, não entende o trabalho enquanto categoria que agrupa
toda sorte de ofícios, uma vez que define sua tarefa em relação ao objeto demandado
pelo consumidor. Não percebe no produto de seu trabalho a manifestação de um esforço
humano comum que cria valor social; o percebe, pelo contrário, enquanto forma de
satisfazer a necessidade do usuário. Socialmente o artesão não desempenha papel de
produtor, uma vez que se encontra em uma relação de dependência na qual todas suas
forças físicas, instrumentos materiais e técnica estão submetidos ao usuário.
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O segundo capítulo, que trata da concepção de Marx acerca do trabalho,


contribui bastante para entender os aspectos da produção (ou fabricação) na Grécia
Antiga. A primeira seção permite delinear a mudança na relação do homem com a
natureza quando o trabalho é estranhado. O contexto no qual o trabalho está alienado do
trabalho é importante para determinar em que medida o homem está estranhado do
produto de seu trabalho, do próprio ato de trabalhar e de si mesmo enquanto ser
genérico, ou seja, para entender em que medida o trabalhador perde o sentido social de
sua ação.
Em relação ao processo de trabalho, foram observados os seus momentos
essenciais e como há perpetuação do produto no processo de produção. O consumo
produtivo dos meios de produção, analisado dentro da lógica do processo de trabalho
por Marx, permite que o trabalho empregado para fabricar um produto se perpetue na
medida em que esse produto é utilizado em um novo processo produtivo como
expressão de um valor de uso. Contudo, o processo de trabalho entre os gregos antigos
é considerado em um sentido simplificado, não levando em conta o consumo produtivo,
não atentando para a questão da perpetuação do produto do trabalho. A concepção de
consumo produtivo não tem lugar central no pensamento grego antigo uma vez que o
trabalho é visto como poiésis, não práxis. Em outras palavras, o trabalho imprimido ao
produto se extingue na esfera do consumo individual devido ao caráter do trabalho de
prestar sempre um serviço ao consumidor direto e não ser percebido na sua função
criadora de valor social.

Referências Bibliográficas
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histórica. São Paulo: Difusão Europeia do Livro: Editora da Universidade de São Paulo,
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